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FARMACOGNOSIA APLICADA João Fhilype Andrade Souto Maior Anatomia interna e externa das plantas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Reconhecer a estrutura física de plantas medicinais. � Identificar diferentes estruturas, descrevendo a sua relação com a produção de princípios ativos. � Descrever as estruturas e funções anatômicas de plantas medicinais. Introdução Atualmente, por meio de pesquisas e da disponibilidade de novos me- dicamentos no mercado, sabemos que as plantas medicinais envolvem muitos outros aspectos importantes, e não só receitas caseiras ou co- nhecimento popular. Por isso, o conhecimento sobre a biodiversidade e a utilização de certas espécies vegetais para o tratamento de doenças é fundamental para melhor aproveitarmos todo o potencial dos vegetais na busca da prevenção e da promoção da saúde. Como se sabe, o Brasil é o país que detém a maior parte de toda a biodiversidade do nosso planeta e, como consequência, é a maior fonte de espécies vegetais, ou seja, de raízes, caules, folhas, flores, frutos e sementes ricas em matérias-primas com elevado potencial para o de- senvolvimento de produtos médicos e farmacêuticos. Além disso, muitas pessoas ainda utilizam partes das plantas, como as folhas, por exemplo, para preparar um chá ou algum outro remédio caseiro. Neste capítulo você vai estudar as principais partes das plantas me- dicinais. Vai ler sobre algumas das indicações terapêuticas das partes das plantas medicinais, suas respectivas funções anatômicas e sua relação com a produção de princípios ativos e processos fisiológicos essenciais, como a fotossíntese, por exemplo. 1 Partes das plantas As plantas necessitam captar a luz do sol e obter água e nutrientes minerais da atmosfera e do solo. Como esses recursos, em geral, podem ser limitados para as plantas, principalmente porque elas não conseguem se locomover para outros locais, elas se adaptaram ao longo do tempo para captar tais recursos acima e abaixo do solo. Assim, o plano corporal da planta consegue contornar esses desafios de duas maneiras (SADAVA et al., 2019): 1. Por meio dos caules, folhas e raízes a planta pode capturar, com efici- ência, os recursos escassos, tanto acima quanto abaixo do solo. 2. As plantas podem responder a estímulos ambientais durante o seu cres- cimento e desenvolvimento para explorar as oportunidades do ambiente ao seu redor, como, por exemplo, estender suas raízes em direção a um suprimento de água ou seus ramos em direção aos raios de sol. Segundo Sadava et al. (2019), apesar da grande variedade de tamanho e forma, todas as plantas vasculares têm, basicamente, a mesma organização estrutural. Porém, as principais características distintivas entre cerca de 250 mil espécies de angiospermas são as suas flores, que consistem em folhas e caules modificados, com órgãos especializados para reprodução sexuada. Durante o desenvolvimento de uma espécie animal, apenas as células embrionárias são totipotentes, ou seja, podem se diferenciar em qualquer tipo de célula do seu corpo. Por outro lado, algumas células vegetais diferenciadas podem se desdiferenciar e se tornar totipotentes, o que significa que uma planta pode, prontamente, reparar danos causados pelo meio ambiente ou por herbívoros (SADAVA et al., 2019). As angiospermas têm três tipos de órgãos vegetativos (não sexuados): raízes, caules e folhas. Cada um desses órgãos apresenta uma estrutura própria (morfologia e anatomia), organizada em dois sistemas bem definidos, que você pode visualizar na Figura 1 (SADAVA et al., 2019): Anatomia interna e externa das plantas2 � Sistema de raízes: fixa a planta ao substrato, absorve água e minerais do solo, bem como armazena os produtos gerados pela fotossíntese do sistema aéreo. A ramificação extrema das raízes e suas altas razões entre área de superfície e volume permitem que as plantas absorvam água e nutrientes do solo de maneira eficiente. � Sistema aéreo: consiste em caules, folhas e flores. Em geral, as fo- lhas são responsáveis pela fotossíntese, enquanto os caules mantêm e expõem as folhas ao sol e proporcionam as conexões para o transporte de substâncias entre as raízes e as folhas. Figura 1. Estrutura básica das angiospermas, com seus principais órgãos vegetativos (assexuados), organizados em sistema de raízes e sistema aéreo. Fonte: Sadava et al. (2019, documento on-line). 3Anatomia interna e externa das plantas Raiz A raiz é um dos três principais órgãos vegetativos que compõem um vegetal e o primeiro a se desenvolver (logo após a germinação da semente). De acordo com Monteiro e Brandeli (2017) e Stein et al. (2018), a raiz tem importantes funções no desenvolvimento de uma planta: é responsável por sua nutrição, incluindo o suporte mecânico, a absorção de água e sais minerais e a condução de matéria orgânica até o caule, além da reserva dos nutrientes essenciais à vida do vegetal. Além das principais funções de fixação e absorção de água e minerais, a raiz pode assumir outras funções secundárias importantes para o desenvol- vimento das plantas, como, por exemplo (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018): � reserva energética; � exclusão de substâncias tóxicas; � transporte de água, outros nutrientes e produtos da fotossíntese; � trocas gasosas com a atmosfera do solo; � síntese de reguladores de crescimento, como citocianina e gliberdina; � assimilação e incorporação de nutrientes, como nitrogênio e fósforo. Em geral, as raízes são formadas por tecidos distintos e, por isso, são classificadas como raízes primárias e raízes laterais. A raiz primária típica é delimitada por uma epiderme, sob a qual fica o córtex, que tem uma ou várias camadas e é delimitado internamente por uma endoderme. Em seguida, há o pecíolo, com o sistema vascular na parte central (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018) As raízes se apresentam de forma bastante variada, principalmente devido a influencias das condições ambientais, pela adaptação ecológica e pelo genótipo. Além disso, as raízes apresentam geotropismo positivo e, de modo geral, permanecem ocultas durante o tempo de vida da planta. O termo tropismo se refere a movimentos que alguns órgãos das plantas realizam por influência de determinado fator. Assim, o geotropismo positivo permite que as raízes cresçam em direção ao solo. Já o geotropismo negativo acontece em relação aos caules (crescimento para cima) (STEIN et al., 2018). Anatomia interna e externa das plantas4 Anatomicamente, a raiz é constituída por cinco regiões, conforme a Figura 2: coifa, zona lisa (de crescimento), zona polífera (pelos absorventes), zona suberosa (ramificação) e colo. Figura 2. Principais partes da raiz. Fonte: Monteiro e Brandeli (2017, documento on-line). 5Anatomia interna e externa das plantas Dependendo da função que uma raiz exerce, ela pode ser classificada da seguinte maneira (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018): � Tuberosas: função de reservar nutrientes energéticos, como o amido ou açúcares. Tais raízes são importantes para a agricultura e a alimentação humana, como a beterraba, a cenoura, o aipim e a batata-doce. � Escoras: raízes adventícias originadas nos ramos e que seguem na direção do solo, contribuindo para a sustentação da planta, como pal- meiras, figueiras, milho e outras. � Tabulares: raízes que se encontram junto ao tronco, rente ao solo e visíveis, como as raízes da figueira. � Pneumatóforos: raízes típicas de solos pantanosos e manguezais, cuja função é realizar trocas gasosas, como as raízes da siribeira. � Estranguladoras: são raízes aéreas que se fixam no tronco, enrolando- -se a ele até atingir o solo. Em alguns casos, tais raízes podem estrangular os vasos de floema da planta hospedeira e causar sua morte. � Sugadoras: raízes aéreas ou subterrâneas típicas de plantas parasitas, que extraem água e nutrientes do hospedeiro, comocipó-chumbo, por exemplo. � Grampiformes: raízes que surgem em grupos nos caules rastejantes e escalam em outras plantas, muros ou rochas, como a trepadeira hera. Algumas raízes não são raízes propriamente ditas, e sim rizomas, que são considerados um tipo de caule subterrâneo que pode ter partes aéreas e cresce horizontalmente. Além disso, os rizomas acumulam substâncias nutritivas e possuem gemas laterais, ao contrário das raízes. Eles são importantes como órgãos de reprodução vegetativa ou assexuada de diversas plantas (MON- TEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018). Existem rizomas que são verdadeiras fontes medicinais e que, inclusive, podem enriquecer ou diversificar a alimentação humana. Existem muitos relatos de que elas eliminam dores e inflamações e reduzem os níveis de gordura no sangue, além de terem poderes antioxidantes. Alguns exemplos de rizomas com potencial medicinal são: gengibre, cúrcuma; zedoária, galanga e pacová. Outro exemplo de raiz medicinal é a raiz-vermelha (Ceanothus americanus), também conhecida como “arbusto-lilás”, que pertence à família Rhamnaceae e possui várias indicações, como tratamento de amigdalite, bronquite, febre e asma (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018). Anatomia interna e externa das plantas6 Existe uma adaptação associativa curiosa das raízes conhecida como micorrizas. Essa associação simbiótica entre raízes e fungos do solo é benéfica para ambos os organismos, já que, nessa ocasião, as hifas do fungo funcionam como uma extensão das raízes, atuando na absorção de água e de nutrientes, em especial o fósforo. Entre os principais hospedeiros desses fungos, podemos destacar o algodão, o gergelim, a mamona, o sisal e o amendoim. Esse tipo de associação vem sendo também utilizada para a recuperação de áreas degradadas, onde o solo é pobre em nutrientes (STEIN et al., 2018). Caule O caule é o órgão central da planta, um verdadeiro eixo de sustentação que, além de servir como estrutura de inserção, serve de ligação entre as diferentes partes da planta (raízes, folhas, flores e frutos), exercendo várias funções im- portantes para a sua sobrevivência, como a condução de água e sais minerais das raízes para as folhas e de matéria orgânica das folhas para as raízes. Além da condução de substâncias importantes para as plantas, o caule desempenha outras funções, listadas a seguir (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018): � produção e suporte de folhas e demais estruturas (flores e frutos); � armazenamento de reserva energética (tubérculos); � exposição das folhas à luz e das flores aos polinizadores; � realização de fotossíntese, em caules dotados com clorofila; � proteção das plantas; � crescimento vegetativo; � síntese de reguladores de crescimento. 7Anatomia interna e externa das plantas Os caules apresentam diferenciações morfológicas específicas, próprias de cada grupo botânico, que, em geral, estão relacionadas com o ambiente no qual a planta se desenvolve. Assim, podemos classificar os caules da seguinte maneira (STEIN et al., 2018): � Caules terrestres: desenvolvem-se sob um substrato, acima do solo. São subdivididos em rizomas (gengibre, orquídea), tubérculo (batata, inhame) e bulbo (tulipa, cebola). � Caules aquáticos: desenvolvem-se dentro da água. São herbáceos, maleáveis, verdes ou coloridos (vitória-régia). � Caules aéreos: desenvolvem-se expostos ao ar e são subdivididos em tronco (eucalipto), haste (tomateiro), estipe (palmeira), colmo (milho), rastejantes (chuchu) e trepadores (maracujá). Os caules são formados por cinco tipos de tecidos: � epiderme; � hipoderme; � córtex; � endoderme; � tecido vascular e de sustentação; � tecido fundamental central ou medula. Cada um desses tecidos apresenta grande diversidade de estrutura histo- lógica (células específicas), típica de cada espécie, gênero ou família. Sobre o potencial medicinal dos caules, um bom exemplo é a cavalinha (Equisetum giganteum L.), rica em minerais. Com suas longas hastes, a ca- valinha apresenta propriedades diuréticas, anti-infecciosas e antiprostáticas (MONTEIRO; BRANDELI, 2017). Anatomia interna e externa das plantas8 Folha As folhas são estruturas laterais que crescem sobre os caules, a partir dos primórdios foliares, e desempenham funções primordiais para o desenvol- vimento das plantas, por meio de processos fisiológicos, como os listados a seguir (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018): � Fotossíntese: processo pelo qual as plantas convertem a energia solar em energia química. Nesse processo as plantas retiram sais minerais e a seiva bruta (água) do solo e o gás carbônico (CO2) do ar para trans- formar em seiva elaborada e, ao mesmo tempo, liberar oxigênio (O2) para a atmosfera. � Transpiração: eliminação de água pela planta sob a forma de vapor. � Respiração: absorção do oxigênio e liberação de gás carbônico pela planta na ausência de luz. � Gutação: eliminação de água pela planta no estado líquido. As folhas são constituídas por diferentes tipos de tecidos especiais, que são os verdadeiros responsáveis por suas funções básicas. Entre eles temos: � tecido de revestimento (epiderme); � tecido fundamental (mesófilo); � tecido vascular (xilema e floema). A organização dos componentes dos respectivos tecidos sofre influência direta do meio ambiente (presença de água ou luminosidade), do nicho ecoló- gico e da presença de herbívoros. Além disso, dependo da espécie vegetal, a epiderme pode apresentar diversas formas de células, estruturas, morfologias e até células especializadas (STEIN et al., 2018). No tecido de revestimento, por exemplo, é possível observar a existência de estômatos e tricomas (Figura 3). Os estômatos encontram-se em abundância na superfície inferior das folhas e são responsáveis pelas trocas gasosas (CO2 e O2) e transpiração (vapor de água) das plantas. Já os tricomas são estruturas responsáveis por facilitar a absorção de água e minerais, dissipam a luz solar e ajudam a reduzir a temperatura das folhas, secretam substâncias salinas e protegem as plantas (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018). 9Anatomia interna e externa das plantas Figura 3. Epiderme de uma folha, com indicação de tricomas e estômatos. Fonte: Sadava et al. (2019, documento on-line). Os estômatos atuam facilitando as trocas gasosas e a transpiração das plantas, assim, quanto maior for o número de estômatos, maior será a perda de água. Podemos dizer que os estômatos são uma adaptação das plantas para evitar a sua dessecação, afinal, os estômatos se fecham quando a água é um fator limitante e se abrem quando as condições para a fotossíntese são mais favoráveis (STEIN et al., 2018). Anatomia interna e externa das plantas10 Outras estruturas que merecem destaque são os cloroplastos (Figura 4), que possuem um pigmento verde chamado clorofila e, por isso, são capazes de absorver a energia da luz do sol e transformar em energia química por meio de um processo conhecido como fotossíntese. Eles se localizam em grande quantidade no parênquima de plantas e algas, e podem ter formas e tamanhos diferentes, que variam conforme o tipo celular (STEIN et al., 2018). Figura 4. Principais estruturas que compõem um cloroplasto. Fonte: Stein et al. (2018, p. 23). A folha pode ser simples, contendo uma única lâmina, ou composta, com a divisão do limbo em folíolos. Ela é constituída de limbo, bainha, estípula e pecíolo, que une a folha ao caule, e possui uma distribuição alternada, composta ou verticulada (Figura 5). Em algumas espécies, muitas vezes a folha assume a forma de espinho para proteger a planta (JUDD et al., 2009). 11Anatomia interna e externa das plantas Figura 5. Principais partes que compõem a estrutura de uma folha de angiosperma. Fonte: Judd et al. (2009, p. 56). As folhas compostas ainda podem ser classificadas de acordo com as seguintes variedades de formas (JUDD et al., 2009): � unifoliada (limoeiro); � bifoliada(pata-de-vaca); � trifoliada (morango); � palmada (ipê amarelo); � pinada (jacarandá); � bipinada ( flamboyant). Em geral, as nervuras foliadas presentes nas folhas consistem nas estruturas de vasos condutores para o transporte da seiva elaborada. Assim, as folhas podem ser classificadas conforme o número de nervuras em sua superfície da seguinte maneira (JUDD et al., 2009): � Uninérveas: nervura principal. � Peninérveas: semelhante a uma pena. � Trinérveas: três nervuras principais. � Curvinérveas: formato de curva. � Palminérveas: nervuras se origina do mesmo ponto laminar foliar. � Paralelinérveas: duas ou mais nervuras seguem em paralelo. � Enervadas: quando as nervuras não são visíveis. Anatomia interna e externa das plantas12 De acordo com Stein et al. (2018), outro modo de classificar as folhas é com relação à sua disposição no caule, o que é denominado filotaxia. Na Figura 6 é possível observar os principais arranjos: alternada, oposta, verticilada e fasciculada. Figura 6. Filotaxia vegetal: a) alternada dística; b) alternada espiralada; c) oposta dística; d) oposta cruzada; e) verticilada; f) fasciculada. Fonte: Stein et al. (2018, p. 125). As folhas também apresentam algumas adaptações interessantes, cujas funções são vitais para sua sobrevivência e perpetuação da espécie, como (STEIN et al., 2018): � Espinhos: proteção contra predadores e perda de água (cactos). � Brácteas: atração de polinizadores (buganvília). � Catafilos: proteção das gemas (cebola). � Cotilédones: armazenamento de substâncias nutritivas (feijão). � Gavinhas: suporte às folhas (ervilha). 13Anatomia interna e externa das plantas Um bom exemplo sobre o potencial medicinal de folhas vegetais é a catinga- -de-mulata (Tanacetum vulgare), uma erva perene e robusta, com folhas pinadas com numerosos folíolos profundamente dentados. Tem cor verde-escura e suas flores são pequenas e amareladas. Tanto suas flores quanto suas folhas podem ser utilizadas para tratar contusões, dores articulares, entorses e, até mesmo, epilepsia (MONTEIRO; BRANDELI, 2017). Outro bom exemplo do uso de folhas com potencial medicinal é o sumo da folha da babosa (Aloe vera), que pode ser usado como xampu anticaspa, no combate à queda de cabelos e para a higiene de hemorroidas, eczemas e úlceras (MONTEIRO; BRANDELI, 2017). Flor A flor, provavelmente, é a parte mais importante das plantas. Morfologica- mente, a flor consiste em um ramo curto de crescimento determinado, com entrenós curtos e folhas extremamente modificadas. É o local onde acontece a reprodução sexuada das angiospermas, com o posterior desenvolvimento de frutas e sementes. Assim, podemos dizer que a flor é o órgão responsável pela perpetuação das espécies vegetais e, de forma indireta, por meio dos seus frutos, de várias outras espécies animais (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018). Em geral, a flor é bastante atrativa, com cores vibrantes e fragrâncias exóticas, com o objetivo específico de aproximar polinizadores e/ou afastar predadores. Assim, quando uma planta floresce, significa que ela está apta a se reproduzir e toda sua energia está direcionada para essa atividade vital. Nas plantas, o androceu é o órgão reprodutor masculino, formado por um conjunto de estames. Já o gineceu é o órgão reprodutor feminino, composto por folhas modificadas, denominadas pistilos ou carpelos (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018). Anatomia interna e externa das plantas14 Para a maioria das pessoas, as flores chamam atenção devido a três carac- terísticas marcantes: o tamanho, a cor e o perfume. Na Figura 7 e no Quadro 1 podemos observar que muitas partes das flores são folhas modificadas, que, durante o desenvolvimento dos vegetais superiores, adaptaram-se para exercer funções específicas para a reprodução (JUDD et al., 2009). Figura 7. Principais partes de uma flor de angiosperma. Fonte: Judd et al. (2009, p. 62). De acordo com a sua estrutura, as flores podem ser classificadas quanto aos verticilos florais. Assim temos (STEIN et al., 2018): � Completas: com cálice, corola, androceu e gineceu (pessegueiro). � Incompletas: com ausência de um dos verticilos florais (salgueiro). � Perfeitas: com androceu e gineceu (rosa). � Imperfeitas: com apenas um verticilo (violeta). 15Anatomia interna e externa das plantas Por sua vez, as flores incompletas podem ser classificadas como: � Flor nua (sem perianto): pimenta-do-reino. � Flor estéril (não funcional): couve-flor. � Flor apétala (sem pétalas): freixo. � Flor séssil (sem pedúnculo): jabuticaba. Com relação às peças florais, as flores podem ser classificadas como: � Trímeras: com três peças ou seus múltiplos (lírio). � Tetrâmera: com quatro peças ou seus múltiplos (hortência). � Pentâmera: com cinco peças ou seus múltiplos (laranjeira) Fonte: Adaptado de Judd et al. (2009). Parte da flor Descrição Gineceu Parte feminina, composta de ovário, estilete e estigma. Estigma Estrutura receptora de pólen. Estilete Tubo de ligação entre ovário e estigma. Ovário Estrutura localizada na base do carpelo, onde são gerados e desenvolvidos os gametas femininos. Óvulo Estrutura pluricelular que contém, no seu interior, a oosfera (gameta feminino). Androceu Parte masculina, refere-se ao conjunto de estames. Estame Estrutura masculina onde se localizam o filete e a antera. Antera Estrutura que contém dois pares de sacos polínicos. Filete Estrutura na forma de haste. Pétala Folha modificada e colorida, tendo a função de atrair polinizadores; o conjunto de pétalas constitui a corola. Sépala Estrutura localizada logo abaixo das pétalas, com coloração verde, de forma geral; o conjunto de sépalas forma o cálice. Receptáculo Estrutura em formato de disco, localizada acima do pedúnculo floral. Quadro 1. Descrição das principais partes de uma flor de angiosperma Anatomia interna e externa das plantas16 Segundo Monteiro e Brandeli (2017), apesar de as flores terem grande importância botânica e nutricional, devido à reprodução das plantas e à ali- mentação de outras espécies, apenas um pequeno número delas tem potencial para fins medicinais em fitoterapia ou farmácia. Podemos citar como exemplos a camomila (Matricaria recutita L.) e a calêndula (Calendula officinalis L.). Fruto Do ponto de vista botânico, os frutos são estruturas presentes apenas em plantas angiospermas. Após a polinização, o grão de pólen germina dentro do carpelo e, por meio de um tubo polínico, chega ao ovário, local onde ocorrerá a fecundação. A seguir, de acordo com Monteiro e Brandeli (2017) e Stein et al. (2018), o óvulo forma uma semente e o ovário se desenvolve até formar o seu fruto. Dessa forma, podemos dizer que os frutos consistem em ovários fecun- dados, cuja função principal é proteger as sementes enquanto amadurecem. Assim, quando os frutos secam e se abrem durante a maturação, eles podem simplesmente liberar suas sementes sobre o solo ou expeli-las de forma explo- siva para que alcancem grandes distâncias e assim otimizar a sua dispersão no meio ambiente. Para Monteiro e Brandeli (2017) e Sadava et al. (2019), os serem humanos e outros animais, quando se alimentas de frutas, também colaboram de forma indireta para a dispersão das sementes e perpetuação as espécies. Inclusive, algumas plantas podem ser prejudicadas com relação à dispersão de suas sementes quando a população de alguma espécie animal se reduz ou entra em extinção. Em geral, os frutos carnosos, bastante hidratados e suculentos, como o abacate, dependem de certos mamíferos para transportar suas sementes para outro local. Já alguns frutos espinhosos ou providos de pelos podem ser transportados a longas distâncias na superfície externa de alguns animais (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; SADAVA et al., 2019). De modo geral, a estrutura dos frutos é constituída por semente e pericarpo. Este último, considerado como a parede do fruto, é formado por três camadas bem definidas, listadasa seguir (STEIN et al., 2017): � Externa (exocarpo): consiste na casca do fruto. � Central (mesocarpo): parte rica em substâncias nutritivas. � Interna (endocarpo): parte que envolve a semente. 17Anatomia interna e externa das plantas Todos os frutos se originam de um sistema básico de três camadas, porém, cada um deriva de uma maneira ou de outra em direção a características próprias. Por isso existem muitas variações na aparência e na consistência dessas camadas (MONTEIRO; BRANDELI, 2017). Monteiro e Brandeli (2017) destacam que em frutos secos, por exemplo, é comum o mesocarpo ou o epicarpo estarem suprimidos, enquanto a camada restante assume uma consistência lenhosa. Já em frutas como a melancia, o mesocarpo é uma camada espessa e resistente, e o endocarpo corresponde à polpa vermelha, a parte comestível. Segundo os autores, outros tipos de frutos têm pequenas estruturas em sua superfície com características que facilitam sua identificação (por exemplo, a presença de células pegajosas e tricomas pegajosos). Assim, a distribuição das células pegajosas da epiderme, ocorrendo separadamente ou em grupos, pode ser utilizada para identificar com precisão algumas espécies vegetais. Em relação ao potencial medicinal dos frutos, podemos citar o figo (Ficus carica), que é indicado como laxante. Inclusive pode ser encontrado em far- mácias em forma de xarope (MONTEIRO; BRANDELI, 2017). Semente A semente de uma planta consiste em um óvulo desenvolvido (maduro) após a fecundação da flor, o qual apresenta uma camada de células mortas (tegumento), parcialmente rígido, com a função de proteger. Além disso, possui um embrião inativo e uma reserva alimentar chamada de endosperma (ou albúmen), que a envolve. Será o desenvolvimento desse embrião que dará origem a uma nova planta, por isso a semente é a parte da planta responsável pela preservação e perpetuação das espécies vegetais (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018). As sementes contêm reservas de alimento para garantir que o vegetal possa germinar e se desenvolver até estar apto a realizar a fotossíntese. Du- rante a germinação, algumas sementes se dividem em duas, como o feijão (dicotiledônea), por exemplo, enquanto outras se mantêm inteiras, como as sementes do milho (monocotiledônea) (MONTEIRO; BRANDELI, 2017; STEIN et al., 2018). Anatomia interna e externa das plantas18 Em geral, os envoltórios das sementes são compostos pelos tegumentos internos e externos dos óvulos. Assim, em uma semente, quando amassada, é possível observar duas substâncias (MONTEIRO; BRANDELI, 2017): � Suco: a planta crescerá a partir dele quando encontrar as condições desejadas. � Suprimento de reserva: servirá para o primeiro estágio de desenvolvi- mento do vegetal, até a formação completa dos seus órgãos responsáveis pela sua nutrição. O suprimento de reserva tem origem a partir de um embrião denominado fixosperma, proveniente da planta-mãe. O endosperma torna-se, então, rico em óleo ou amido e proteínas, dependendo da espécie de semente. Em algumas espécies, o embrião da semente está envolvido pelo endos- perma, o qual será usado pela semente durante a germinação. Em outras, o endosperma é absorvido pelo embrião durante a formação da semente, e seus cotilédones passam a armazenar o alimento. As sementes dessas espécies, quando maduras, passam a não ter mais endosperma. O embrião da semente se divide em duas principais partes, veja (MONTEIRO; BRANDELI, 2017): � Radícula: é a primeira parte da semente a emergir durante a germinação, constituindo a parte do embrião da semente que se transformará em raiz. � Gêmula: é a parte do embrião que originará as primeiras folhas da planta. As sementes da abóbora (Cucurbita pepo L.) é um bom exemplo do potencial medicinal dessa planta. Tais sementes possuem esteroides, fitoesteróis, ácidos graxos, vitamina E. De acordo com Monteiro e Brandeli (2017), elas têm ação sobre a próstata, na hiperplasia benigna dessa glândula nos estágios I e II. Em resumo, para melhor utilizarmos todo o potencial dos vegetais para a prevenção e promoção da saúde, é fundamental conhecermos as peculiaridades da nossa biodiversidade, principalmente com relação à utilização de partes específicas de determinadas espécies vegetais. Nesse sentido, a identificação das principais partes das plantas medicinais (raiz, caule, folhas, flores, frutos e sementes), bem como o conhecimento de suas respectivas funções, sua relação com os processos bioquímicos e fisiológicos essenciais à vida dos vegetais, é de extrema importância não só para o setor farmacêutico, como também para facilitar e garantir a segurança de remédios caseiros usados pela população. 19Anatomia interna e externa das plantas JUDD, W. S. et al. Sistemática vegetal: um enfoque filogenético. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. MONTEIRO, S. da C.; BRANDELLI, C. L. C. (org.). Farmacobotânica: aspectos teóricos e aplicação. Porto Alegre:, Artmed, 2017. E-book. SADAVA, D., et al. Vida: a ciência da biologia. 11. ed. Porto Alegre: Artmed, 11 ed., 2019. 3 v. E-book. STEIN, R. T. et al. Morfologia vegetal. Porto Alegre:, SAGAH, 2018. Anatomia interna e externa das plantas20
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