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Dialogando com o Direito Penal

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PARTE ESPECIAL DO CÓDIGO PENAL
TÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
CAPÍTULO I
DOS CRIMES CONTRA A VIDA
ART. 121. Matar alguém:
Pena – reclusão, de seis a vinte anos.
Caso de diminuição de pena
Parágrafo 1° - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Homicídio qualificado
Parágrafo 2° - Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II – por motivo fútil;
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena: reclusão, de doze a trinta anos.
Feminicídio (incluído pela Lei n° 13.104/2015)
VI – contra a mulher por razões da condição de sexo feminino: (Incluído pela Lei n° 13.104, de 2015)
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: (Incluído pela Lei n° 13.142 de 2015)
VIII – (VETADO): (Incluído pela Lei n° 13.964, de 2019)
Pena - reclusão, de doze a trinta anos.
Parágrafo 2°-A – Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: (Incluído pela Lei n° 13.104, de 2015)
I. violência doméstica ou familiar; (Incluído pela Lei n° 13.104, de 2015)
 
II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher. (Incluído pela Lei n° 13.104, de 2015)
Homicídio culposo
Parágrafo 3° - Se o homicídio é culposo: (Vide Lei n° 4.611, de 1965)
Pena – detenção, de um a três anos.
Aumento de pena
Parágrafo 4° - No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (catorze) ou maior de 60 (sessenta) anos. (Redação dada pela Lei n° 10.741, de 2003)
Parágrafo 5° - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. (Incluído pela Lei n° 6.416, de 24.5.1977)
Parágrafo 6° - A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviços de segurança, ou por grupo de extermínio. (Incluído pela Lei n° 12.720, de 2012)
Parágrafo 7° - A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: (Incluído pela Lei n° 13.104/2015)
I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; (Incluído pela Lei n° 13.104, de 2015)
II – contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou portadora de doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental; (Redação dada pela Lei n° 13.771, de 2018)
III – na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima; (Redação dada pela Lei n° 13.771, de 2018)
IV – em descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas nos incisos I, II e III do caput do art. 22 da Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. (Incluído pela Lei n° 13.771, de 2018)
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1. Conceito: Homicídio (do latim “hominis excidium” – queda, destruição de um homem por outro homem). “É a injusta morte de uma pessoa (vida extrauterina) praticada por outrem (destruição da vida humana, por outro homem)”. – (CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial (arts. 121 ao 361) / Rogério Sanches Cunha – 9. Ed. Rev. Ampliada e Atual. – Salvador: Juspodivm, 2017, p. 49).
“Homicídio é a destruição da vida de um homem praticada por outro”. – (JESUS, Damásio de. Parte Especial: Crimes contra a pessoa e crimes contra o patrimônio – arts. 121 a 183 do CP / Damásio de Jesus; atualização André Estefam. – Direito penal vol. 2 – 36. Ed – São Paulo; Saraiva Educação, 2020, p. 52).
“É a supressão da vida de um ser humano causada por outro”. – (Nucci, Guilherme de Souza - Curso de Direito Penal: parte especial: arts. 121 a 212 do Código Penal / Guilherme de Souza Nucci. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 78).
“Homicídio é a supressão da vida humana extrauterina praticada por outra pessoa”. – (Masson, Cleber -Código Penal comentado / Cleber Masson. 2. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014, p. 492). 
“Homicídio é a morte de um ser humano provocada por outro ser humano. É a eliminação da vida de uma pessoa praticada por outra. O homicídio é o crime por excelência”. - (CAPEZ, Fernando Curso de direito penal, volume 2, parte especial : arts. 121 a 212 / Fernando Capez. — 18. ed. atual. — São Paulo : Saraiva Educação, 2018, p. 66).
2. Objetividade jurídica / Bem jurídico tutelado: A vida humana extrauterina (pacífico). A vida é a contraposição à morte. Viver é respirar. Morrer acarreta a cessação das funções respiratória e circulatória decorrentes da paralisação total das atividades cerebrais. 
3. Objeto material: “O objeto material é a pessoa que sofre a conduta criminosa, enquanto o objeto jurídico é o interesse protegido pela norma, ou seja, a vida humana” - (Nucci, Guilherme de Souza - Curso de Direito Penal: parte especial: arts. 121 a 212 do Código Penal / Guilherme de Souza Nucci. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2019, p. 89).
“Objeto material do delito é a pessoa contra a qual recai a conduta praticada pelo agente. Bem juridicamente protegido é a vida e, num sentido mais amplo, a pessoa” - (Greco, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017, p. 476).
“É o ser humano que suporta a conduta criminosa. Exemplo: “A” efetua disparos de arma de fogo contra “B”, matando-o. A objetividade jurídica é a vida humana sacrificada com a conduta homicida, ao passo que “B” é o objeto material” – (Masson, Cleber - Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212 / Cleber Masson. – 11. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 51).
“Genericamente, objeto material de um crime é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta. É o objeto da ação. Não se deve confundi-lo com o objeto jurídico, que é o interesse protegido pela lei penal. Assim, o objeto material do homicídio é a pessoa sobre quem recai a ação ou omissão. O objeto jurídico é o direito à vida” – (Capez, Fernando - Curso de direito penal, volume 2, parte especial : arts. 121 a 212 / Fernando Capez. —
18. ed. atual. — São Paulo : Saraiva Educação, 2018, p.67).
4. Elemento objetivo ou conduta(s): “É o verbo matar. Trata-se de crime de forma livre. Pode ser praticado por ação ou por omissão, desde que presente o dever de agir (hipóteses previstas no art. 13, § 2º, do CP); pode ser praticado de forma direta (meio de execução manuseado diretamente pelo agente) ou indireta (meio de execução manipulado indiretamente pelo homicida)” – (Masson, Cleber -Código Penal comentado / Cleber Masson. 2. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2014, p. 492).
“A conduta típica consiste em tirar a vida de alguém (universo dos humanos)”. - (CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial (arts. 121 ao 361) / Rogério Sanches Cunha – 9. Ed. Rev. Ampliada e Atual. – Salvador: Juspodivm, 2017, p. 50).
“O homicídio não é um crime de forma vinculada, como, por exemplo, o curandeirismo(CP, art. 284), em que o legislador pormenoriza as formas de comportamento. No crime de homicídio admite-se qualquer meio de execução. Pode ser cometido por intermédio de conduta comissiva, como desfechar tiros na vítima, como no caso de deixar de alimentar uma pessoa para matá-la”. - (JESUS, Damásio de. Parte Especial: Crimes contra a pessoa e crimes contra o patrimônio – arts. 121 a 183 do CP / Damásio de Jesus; atualização André Estefam. – Direito penal vol. 2 – 36. Ed – São Paulo; Saraiva Educação, 2020, p. 55).
“A ação nuclear da figura típica refere-se a um dos elementos objetivos do tipo penal. É expressa pelo verbo, que exprime uma conduta (ação ou omissão) que a distingue dos demais delitos. O delito de homicídio tem por ação nuclear o verbo “matar”, que significa destruir ou eliminar, no caso, a vida humana, utilizando-se de qualquer meio capaz de execução” – (CAPEZ, Fernando Curso de direito penal, volume 2, parte especial : arts. 121 a 212 / Fernando Capez. — 18. ed. atual. — São Paulo : Saraiva Educação, 2018, p. 69).
Assim, temos os meios de execução: a) diretos (exs.: facada, tiro); b) indiretos (exs: instigar um doente mental a matar a vítima; fechar a vítima em ambiente cujo ar seja impossível de respirar); por omissão (ex.: mãe que não alimenta o recém-nascido, causando-lhe a morte por inanição); d) psíquicos (exs.: susto, emoção violenta que cause infarto na vítima); e) patogênicos (exs.: contaminação dolosa pelo HIV, COVID-19).
5. Elemento subjetivo : De regra a conduta é dolosa (vontade livre e consciente de eliminar a vida humana), mas é prevista a figura culposa no parágrafo 3° do art. 121 CP, quando não há a intenção de matar a vítima, em que o ofensor age com imprudência, imperícia ou negligência chegando ao resultado morte da vítima por ele não pretendido.
6. Sujeito ativo: É crime comum, pois pacífico que pode ser praticado por qualquer pessoa física. Quanto à pessoa jurídica ser o sujeito ativo, ressaltamos a possibilidade tratando-se dos crimes ambientais, conforme disposições contidas no art. 225, parágrafo 3° da CF e na Lei n° 9.605/98 – art. 3°.
7. Sujeito passivo: De regra, qualquer pessoa física viva. O indivíduo sobre o qual recai a conduta homicida que lhe tira o direito de gozar ou de desfrutar a própria vida. 
Observação:
“A Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015, especializou o homicídio, criando a figura do feminicídio, quando alguém, de acordo com o disposto no inciso VI do § 2º do art. 121 do Código Penal, causa a morte de uma mulher por razões da condição de sexo feminino. Da mesma forma, a Lei nº 13.142, de 6 de julho de 2015, inserindo o inciso VII no § 2º do art. 121 do Código Penal também o especializou, quando o qualificou tendo em vista a especial condição do sujeito passivo, vale dizer, quando o homicídio tiver como sujeito passivo autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição. Assim, nesses casos, sujeitos passivos somente serão aqueles arrolados nos incisos VI e VII do § 2º do art. 121 do Código Penal” – (Greco, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017.p. 476).
“Tratando-se, entretanto, de fato cometido contra o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou do Supremo Tribunal, o delito é contra a Segurança Nacional (art. 7.170, de 14-12-1983, art. 29)” - (JESUS, Damásio de. Parte Especial: Crimes contra a pessoa e crimes contra o patrimônio – arts. 121 a 183 do CP / Damásio de Jesus; atualização André Estefam. – Direito penal vol. 2 – 36. Ed – São Paulo; Saraiva Educação, 2020, p. 55).
Acrescentamos que o Estado também figura como Sujeito Passivo, pois cabe-lhe garantir condições de vida às pessoas. Agride-se ao Estado quando violentado pela morte de um cidadão que está sob sua proteção, e cujo bem jurídico “a vida” é indisponível. Portanto, assim, o próprio Estado, toma a frente da ação penal pública incondicionada, através de denúncia oferecida pelo Ministério Público contra o autor do delito. 
8. Consumação: O momento consumativo ocorre com a morte da vítima (morte encefálica). Trata-se de crime material que depende de resultado. O agente para chegar ao resultado final, segue um caminho ou fases que se compõem de atos cogitatórios, preparatórios e de execução (“iter criminis”). “O crime atinge a sua consumação com a morte da vítima (crime material)” - (CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial (arts. 121 ao 361) / Rogério Sanches Cunha – 9. Ed. Rev. Ampliada e Atual. – Salvador: juspodivm, 2017, p. 54).
“No caso dos crimes materiais, como o homicídio, a consumação se dá com a produção do resultado naturalístico morte. Trata-se de crime instantâneo de efeitos permanentes. É instantâneo porque a consumação se opera em um dado momento, e de efeitos permanentes na medida em que, uma vez consumado, não há como fazer desaparecer os seus efeitos. Em que momento é possível dizer que ocorreu o evento morte, e, portanto, a consumação do crime de homicídio? A morte é decorrente da cessação do funcionamento cerebral, circulatório e respiratório” - (CAPEZ, Fernando Curso de direito penal, volume 2, parte especial : arts. 121 a 212 / Fernando Capez. — 18. ed. atual. — São Paulo : Saraiva Educação, 2018, p. 80).
“Dá-se com a morte (crime material), a qual se verifica com a cessação da atividade encefálica, como determina o art. 3.º, caput, da Lei 9.434/1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento” – (Masson, Cleber - Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212 / Cleber Masson. – 11. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2018, p.54).
“A consumação do delito de homicídio ocorre com o resultado morte. Admite-se a tentativa na modalidade dolosa” – (Greco, Rogério. Código Penal: comentado / Rogério Greco. – 11. ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2017, p. 478).
9. Tentativa (do latim “conatus”): É admissível. O sujeito não atinge o resultado morte por circunstâncias alheias à sua vontade, respondendo pelo crime na forma tentada (a pena é diminuída de 1/3 a 2/3 - art. 14, inc. II e p.ú CP). Ex.: “A” ao constringir o pescoço de “B” para asfixiá-lo é interrompido pela polícia que chega ao local naquele momento, evitando a morte da vítima. No exemplo, o sujeito estava no início da fase executória do crime quando foi interrompido. Destaca-se que a interrupção da conduta pode ocorrer nos atos preparatórios ou nos de execução. A conduta, afinal, se desmembra em vários atos, por isso plurissubsistente. “Podendo a execução do crime ser fracionada em vários atos (delito plurissubsistente), a tentativa mostra-se perfeitamente possível quando o resultado morte não sobrevém por circunstâncias alheias à vontade do agente. Admite-se a forma tentada, inclusive, no crime cometido com dolo eventual, já que equiparado, por lei, ao dolo direto (art. 18, I, do CP)” - (CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial (arts. 121 ao 361) / Rogério Sanches Cunha – 9. Ed. Rev. Ampliada e Atual. – Salvador: juspodivm, 2017, p. 54).
“Considera-se tentado o crime quando, iniciada a sua execução, não se verifica o resultado naturalístico por circunstâncias alheias à vontade do agente (CP, art. 14, II). Tratando-se de crime material, o homicídio admite tentativa, que ocorrerá quando, iniciada a execução do homicídio, este não se consumar por circunstâncias alheias à vontade do agente. Para a tentativa, é necessário que o crime saia de sua fase preparatória e comece a ser executado, pois somente quando se inicia a execução é que haverá início de fato típico” - (CAPEZ, Fernando Curso de direito penal, volume 2, parte especial : arts. 121 a 212 / Fernando Capez. — 18. ed. atual. — São Paulo : Saraiva Educação, 2018, p. 82).Ressaltamos a possibilidade de o sujeito não acertar a vítima com sua conduta, não chegando a lesá-la efetivamente; mas mesmo assim, se circunstâncias alheias à sua vontade obstarem ao resultado por ele pretendido, responderá pelo crime tentado. Nesse caso, há tentativa branca ou incruenta.
 “É possível a tentativa (conatus) de homicídio. Na tentativa branca ou incruenta a vítima não é atingida,16 enquanto na tentativa vermelha ou cruenta a vítima é alcançada pela conduta criminosa e sofre ferimentos” – (Masson, Cleber - Direito penal: parte especial: arts. 121 a 212 / Cleber Masson. – 11. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2018, p.54).
10. Homicídio simples (“caput” art. 121 CP): É o homicídio doloso simples, sobre o qual não incide circunstâncias qualificadoras e cuja pena é de 6 (seis) a 20 (vinte) anos de reclusão. Porém, é considerado crime hediondo quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que por uma só pessoa, conforme o disposto no art. 1°, inc. I da Lei n° 8.072/90. Ex.: agentes que se intitulam justiceiros de uma sociedade ou comunidade, exterminando vidas humanas que consideram perniciosas a todos, tais como os traficantes de drogas. Destaca-se que a pena por crime hediondo ou assemelhado será cumprida inicialmente em regime fechado. Lembrando que a Lei n° 13.964/19 (Pacote anticrime) alterou significativamente a Lei de Execução Penal (Lei n° 7.210/1984), sendo que, a transferência do condenado para regime prisional menos rigoroso nos crimes hediondos passa a exigir o cumprimento de 40% se réu primário; 50% para réu primário, se com resultado morte; 60% se réu reincidente em crime hediondo e 70% se réu reincidente em crime hediondo com resultado morte (art. 112, incs. V, VI, VII, VIII da LEP).
11. Homicídio privilegiado (art. 121, par. 1° CP): Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3.
- Relevante valor social (grande, importante valor social): Justifica-se a redução da pena do agente que pratica o homicídio por motivo de relevante valor social quando representa uma censura, uma reprovabilidade menor perante a moralidade média dentro dos padrões de entendimento da sociedade. No caso, o homicida é impelido a ceifar a vida de outrem por interesses coletivos que acabam por justificar o motivo determinante de sua conduta. Ex.: o agente mata o estuprador de mulheres de uma comunidade. 
- Relevante valor moral: Na visão moral, o agente é impelido a matar alguém por um interesse particular ou específico e que acaba envolvendo valores que perante a sociedade criam um juízo de reprovabilidade menor e aceitável diante de padrões éticos e morais dos indivíduos. Ex.: o pai que mata o estuprador da própria filha.
- Sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima: Trata-se do homicídio emocional, em que o agente mata quando dominado por uma forte emoção que lhe causa uma perturbação do psiquismo e perda do autocontrole. Essa emoção deve ser provocada ou estimulada pela vítima e a reação do homicida deve ser imediata à essa provocação. Em verdade a injusta provocação da vítima é aquela sem razão de ser, que não se justifica. Ex.: A vítima cospe na cara do agente por questões raciais levando-o a matá-la com facadas.
Ressaltamos que, se o agente não estiver sob o domínio de violenta emoção, mas estiver sob influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima, poderá incidir em sua pena uma circunstância atenuante (art. 65, III, “c” CP). O que caracteriza essa hipótese é o fato de o agente não ter uma reação imediata à provocação. Consegue manter o autocontrole no momento da provocação, porém, sua conduta é influenciada por um estado de ânimo alterado que consequentemente à provocação da vítima o faz pensar na providência tomada que o satisfaria em seus instintos, cujo nervosismo faz parte, enquanto ser humano passível de vicissitudes na vida.
Outro ponto importante é que o privilégio não se comunica entre os agentes conforme a regra do art. 30 do CP. Assim, no concurso de pessoas não se comunicam as condições pessoais do agente, salvo quando elementares do tipo penal. Ex.: O autor do crime é motivado por relevante valor moral a matar a vítima, porém obtém auxílio de um partícipe que lhe empresta a arma de fogo. O autor responde por homicídio privilegiado pelo relevante valor moral e o partícipe responde pela participação no homicídio sem redução da sua pena; exceto se emprestasse a arma de fogo impelido por algum daqueles motivos do privilégio.
12. Homicídio qualificado (art. 121, par. 2° CP, incisos I a VII): É aquele cuja pena é de 12 a 30 anos, demonstrando maior periculosidade do agente e menor possibilidade de defesa da vítima, diante das hipóteses dispostas na lei, levando-se em consideração os motivos determinantes do crime ( fútil, torpe); os meios de execução (veneno, asfixia, fogo); os modos de execução (emboscada, dissimulação) e a finalidade do agente (assegurar a execução, ocultação, impunidade ou vantagem de outro crime).
Passemos a analisar as hipóteses qualificadoras dispostas entre os incisos I a VII do par. 2° do at. 121. 
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe: trata-se de homicídio mercenário a recompensa ou pagamento que o sujeito mandante realiza a um sujeito matador (mandatário) para que execute a vítima. Ambos, mandante e mandatário respondem pela qualificadora. A paga antecede à execução da vítima e a promessa é do pagamento após a execução do crime. A paga ou promessa de recompensa é considerado motivo torpe ou desprezível, porém o legislador, neste inciso realça que a qualificadora recai sobre qualquer outro motivo torpe. O agente que mata por motivo torpe age por motivo abjeto, vil, ignóbil, repugnante, baixo, nojento, asqueroso que provoca repulsa, asco. Assim considerado crime hediondo (inspira horror do ponto de vista moral, perversidade). Ex.: matar os próprios pais para adiantar a herança.
II – por motivo fútil: é aquele insignificante, desproporcional, irrisório, à toa, descartável, desimportante, egoísta, mesquinho, por discussões banais. Exs.: por brigas futebolísticas, por cobrança de dívida, por rompimento de namoro, em discussões de trânsito.
III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum: o veneno é toda a substância mineral (exs.: arsênio, estricnina), vegetal (plantas venenosas, ex.: planta popularmente conhecida como “comigo-ninguém-pode”), animal (ex.: veneno de serpentes) e artificial (ex.: monóxido de carbono do escapamento dos automóveis) que introduzida no organismo é capaz de destruir a vida. O envenenamento deve ser constatado por perícia técnica legista através de autópsia ou necrópsia que consiste em examinar um cadáver para determinar a causa e modo da morte. De regra, o autor do crime age de forma maléfica sem que a vítima saiba do emprego da substância venenosa e da sua eficácia.
O emprego de fogo também qualifica o homicídio, pois caracteriza-se como meio cruel ou praticado com frieza em que o agente ao atear fogo no corpo humano vivo, em chamas, também pode provocar um perigo comum a outras pessoas. Ex.: incendiar um consultório médico onde estejam várias pessoas, mesmo almejando o homicida atear fogo em uma só vítima. 
Outro meio qualificador é o uso de explosivo para cometer o crime, a exemplo de armas químicas ou corpo (substância) capaz de produzir em temperaturas altas detonação que também oferece perigo comum quanto a atingir um número indeterminado de pessoas. Ex.: uso de coquetel molotov (arma química, bomba incendiária de fabricação caseira).
A execução do crime por meio da asfixia também qualifica o homicídio que por derradeiro impõe à vítima farto sofrimento pela interrupção da função respiratória tanto tóxica como mecânica. Exs.: esganadura,estrangulamento, enforcamento, afogamento, soterramento, sufocação, confinamento.
O emprego da tortura também caracteriza meio qualificador, visto impor à vítima todo um sofrimento atroz, desumano, horripilante, lancinante, desesperador, de angústia profunda à vítima e intolerável. Ex.: empalamento ou empalação cujo método de tortura consiste na inserção de uma estaca que atravesse o corpo do torturado pelo ânus ou vagina até a morte. Observação: importante não confundir o crime de homicídio praticado com o emprego de tortura e o crime de tortura seguida de morte (Lei n° 9.455/97 – art. 1°, par. 3°), em que a vontade do agente é de torturar e não de matar a vítima, mas em virtude da violência empregada na tortura o resultado é a morte da vítima (conduta preterdolosa, que ocorre quando há dolo na conduta antecedente com resultado culposo não pretendido). Se da tortura resulta morte, a pena é de 8 (oito) a 16 (dezesseis anos).
O legislador avança neste inciso para alcançar a qualificação do crime através de outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum. Meio insidioso é aquele enganador, pérfido; quem age por meio insidioso prepara ciladas às vítimas. Outros meios cruéis podem abranger todas as condutas que expressam tirania e maldade, que causem dores físicas e morais à vítima.
 IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido: de regra, a traição ocorre principalmente quando há vínculos de confiança entre o autor do crime e a vítima. O agente se vale dessa confiança que a vítima tem para com ele para a pratica do crime. Existe na traição a “quebra de confiança”. Ex.: o patrão que confia em sua serviçal doméstica há anos sendo morto pela mesma em sua própria casa. 
De emboscada é o ato de o agente esperar pela vítima às escondidas, de atalaia, de tocaia para matá-la. Ex.: o matador fica de sentinela, de vigia na porta da garagem onde a vítima estaciona o carro todos os dias, pegando-a de surpresa, sem que possa oferecer qualquer resistência. 
Mediante dissimulação, é o disfarce, fingimento, hipocrisia, ocultação por um indivíduo de suas verdadeiras intenções. Ex.: disfarçar-se o criminoso de agente credenciado de serviços de telefonia para adentrar à casa da vítima com a intenção de matá-la. 
Ainda qualifica por, “ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”: o legislador quis abarcar outras atitudes passíveis de serem qualificadas, visto que o homicídio é crime de forma livre e inúmeras estratégias podem ser criadas para o fim de matar alguém. Dá-se a possibilidade de uma interpretação analógica à lei. Ex.: jogar spray de pimenta nos olhos da vítima para atingi-la com um canivete.
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: o homicídio é qualificado pela conexão de crimes. Para assegurar a execução de outro crime a finalidade é matar alguém para a pratica de outra conduta criminosa (conexão teleológica ou lógica). Ex.: Matar o pai para estuprar a filha.
Ou então, para assegurar a ocultação de outro crime (conexão consequencial ou causal). Ex.: o agente mata a testemunha de um crime de roubo impedindo que seja desvendado. Se ocultar cadáver, deverá responder também pelo crime do art. 211 do CP (Destruição, subtração ou ocultação de cadáver)
Ainda, para a impunidade de outro crime (conexão consequencial ou causal), para não ser reconhecido como autor do delito. Nesse caso, o crime já foi desvendado, não há como ocultá-lo, mas o autor busca a impunidade, através da eliminação de provas contra ele no inquérito policial ou no processo crime. Ex.: matar o perito que está apurando o crime de peculato no processo.
Enfim, para obter a vantagem de outro crime (conexão consequencial ou causal). Ex.: matar o coautor de crime de furto para ficar com todo o produto do crime.
VI - contra a mulher por razões da condição de sexo feminino (incluído pela Lei n° 13.104/2015): Denominado feminicídio, que é a eliminação da vida da mulher pelo ângulo de ser inferiorizada em razão de costumes, tradições ou mesmo culturalmente na história do mundo. No Brasil, constitucionalmente todos são iguais perante a lei, porém, inúmeras formas de violência contra a mulher são empregadas, desde às físicas, morais, psicológicas, patrimoniais às sexuais, ao longo dos anos, e atualmente. Em 2006, adveio a Lei Maria da Penha (Lei n° 11.340), contendo normas explicativas, programáticas e de tutela à mulher vítima de violência doméstica. Porém, o número de mulheres mortas em razão de ódio, raiva, ciúme, desprezo e outras circunstâncias aumentou sobremaneira nos últimos tempos. Assim, sobreveio a qualificadora do homicídio qualificado contra a mulher por razões de condição de sexo feminino. Lembrando que o agente pode ser outra mulher em um relacionamento afetivo. Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: I. violência doméstica e familiar; II. menosprezo ou discriminação à condição de mulher (parágrafo 2°-A – art. 121 - incluído pela Lei n° 13.104/2015).
VII – contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição (incluído pela Lei n° 13.142/2015): tutela a vida dos agentes públicos estatais que lidam com a segurança do país (integrantes das Forças Armadas, integrantes das polícias federal, rodoviária, ferroviária, civis, militar, corpo de bombeiros e integrantes do sistema prisional e da Força Nacional da Segurança Pública. O crime deve estar ligado com o exercício de sua função. 
 
13. Homicídio culposo (art. 121, par. 3° CP)
14. Causas de aumento de pena (art. 121, par. 4° CP)
15. Ação penal: Ação penal pública incondicionada.
_______________________________________________________
1. Quanto ao sujeito ativo
- comum, próprio ou crime de mão própria 
2. Quanto ao resultado
- formal, material, de mera conduta 
3. Quanto ao meio de execução
- de forma livre, de forma vinculada
4. Quanto à conduta
- comissivo, omissivo (próprio ou impróprio), omissivo por comissão 
5. Quanto ao tempo da consumação
- instantâneo, permanente, instantâneo de efeitos permanentes
6. Quanto ao bem jurídico (necessidade de lesão ao bem jurídico pra consumação)
- crime de dano ou de perigo
7. Quanto ao número de atos exigidos pra consumação
- unissubsistente, pluri...
8. Quanto à necessidade de mais de um sujeito ativo
- uniasubjetivo, pluri...

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