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GABARITO CONCLUIDO EM DIREITO PENAL III

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GABARITO EM DIREITO PENAL III – NOITE -ESTÁCIO PROF. JORGE DÓRIA 
 
1)ANITA JACKSON, 39 anos, corpulenta, trabalhava como striper na boate Batom 
Vermelho e saiu com seu garotão noite passada que lhe acompanhava na condição 
de “noivo” o qual teria prometido intenso prazer depois do show. Levada para um 
motel na Av. Brasil, entraram no quarto, beberam muitas cervejas, depois ele a 
deixou nua e como sempre fazia algemou ANITA na cabeceira da cama. Sem que ela 
percebesse logo em seguida pegou numa bolsa para usar uma máquina de choque, 
pois queria arrancar gritos de pavor até que ela morresse eletrocutada sem que 
houvesse penetração. Pessoas do motel desconfiaram daquela gritaria e chamaram a 
polícia mas já era tarde. O jovem foi preso quando dormia sobre o cadáver lambuzado 
de batom, e não reagiu. Ele alegou que odiava prostitutas porque sua mãe havia se 
transformado numa, e confessou outras cinco mortes praticadas em motéis da mesma 
região da Avenida Brasil, ao longo do ano passado – seguramente uma a cada quatro 
meses, envolvendo prostitutas jovens e bonitas, todas ex-noivas também usando a 
mesma forma de execução. Podemos dizer que houve tortura seguida de morte? (SIM 
ou NÃO) Justifique uma tipificação adequada à espécie e a pertinência de concurso 
de crimes (crime formal, concurso material ou crime continuado) ou feminicídio. 
 
Sugestão de RESPOSTA: NÃO. Trata-se de crime de homicídio qualificado pela 
motivação subjetiva indiciária de depravação espiritual - torpe, que é o motivo vil, 
ignóbil, repugnante e abjeto a ponto de ficar “noivo” da vítima stripper engendrando 
sua morte por ser prostituta, utilizando-se de meio cruel (objetiva), porque aumentou 
inutilmente o sofrimento da vítima; de recurso que dificultou ou impossibilitou a 
defesa da vítima (objetiva) quando algemou a vítima na cama para fins de carícias 
sexuais e, por fim o feminicídio (objetiva) entendido como a morte da mulher em 
razão da sua condição do sexo feminino (violência de gênero quanto ao sexo frágil), no 
contexto de violência doméstica por causa da relação íntima de afeto mesmo não 
convivendo com a vítima, etiquetado assim pela lei Maria da Penha como sendo 
violência doméstica qualquer agressão inserida em um relacionamento estreito entre 
duas pessoas fundado em confiança e amor. Ex vi do art. 121 § 2º, I,III,IV e VI do Código 
Penal. Não se trata de tortura seguida de morte porque o animus necandi se faz 
evidente e não o animus torturandi apenas e tão somente pelo prazer de fazer a vítima 
sofrer intensamente, até lhe ocasionar morte não querida ou sequer assumida. Aliás, a 
tortura seguida de morte reflete um resultado mais grave punido culposamente e 
pressupõe crime preterdoloso, o que não foi o caso. 
De outro giro, verificamos que na hipótese não ocorreu em tese a chamada 
continuidade delitiva em face do espaçamento entre um crime e outro de homicídio 
ainda sob a mesma forma de execução, motivação, etc... São crimes autônomos e deve 
ser encarada tal situação como uma reiteração criminosa. Inexiste qualquer tese 
concursal delitiva plausível na hipótese. 
 
 
 
 
 
2) Doutor FERDINANDO é um delegado de polícia e nas horas vagas atua como um 
simpático professor de história - “gordinho”, de um famoso cursinho preparatório de 
vestibular comunitário aonde estudava JOSELITO. Semana passada, JOSELITO chegou 
muito atrasado na aula e começou a causar um transtorno porque queria sentar no 
seu lugar preferido que já estava tomado. FERDINANDO ponderou que ele fizesse 
silêncio e não perturbasse a aula, ficando com cara abichornada, ocasião em que 
JOSELITO com ânimos de ofender proferiu: “AH BALEIA VAI TOMAR NO C......”, e 
foi embora fazendo gestos injuriosos na frente de 182 alunos PRESENCIAIS e porque 
não dizer, na frente de milhares de pessoas que estavam online via internet. Trata-
se de crime de INJÚRIA praticado contra funcionário público? (SIM ou NÃO). Justifique 
a real tipificação do delito, possível causa de aumento de pena e a pertinente ação 
penal (pública ou privada). 
 
 ➔ Sugestão de RESPOSTA: NÃO. Ele não injuriou funcionário público no exercício de 
suas funções. Ele ofendeu a um professor de história fora de sua incumbência estatal, 
lecionando de graça para uma comunidade desafortunada. Por se tratar de injúria que 
consiste em ofender (insultar) pessoa determinada, por ação (palavras ofensivas, gestos 
ou sinais), ofendendo-se a dignidade ou o decoro, praticada na presença de várias 
pessoas (entende a doutrina no mínimo três), potencializando o dano, fundamenta-se 
a majorante prevista no art. 141, III do CP. Se o agente virasse para a turma e chamasse 
a todos de “babacas” também estaria injuriando um grande número de pessoas, 
inclusive aquelas on line, que se sentissem ofendidas (em concurso formal imperfeito). 
A conduta fica assim definida: Art. 140 c/c art. 141, III do Código Penal. Trata-se de 
crime que comporta ação penal privada mediante queixa do ofendido a ser proposta 
no prazo do art. 103 do Código Penal, sob pena de decadência. FERDINANDO não se 
encontrava em sala de aula na condição de Delegado, tampouco poderia prender pelo 
crime de desacato a autoridade. 
 
 
3)O MC CATRONHO é namorado de BETINHA que estava grávida e ele sabia, tanto que 
cuidava dela com muito carinho, pois pretendia assumir a moça e o filho. Sucede que 
BETINHA era muito ciumenta e viu uma postagem no Face do amor de sua vida 
agarrado aos abraços com uma fã. Quando ele chegou do baile ela avançou nele com 
um taco de baseball e ele se defendeu tendo de dar alguns murros na garota que caiu 
no chão desequilibrada e perdeu o bebê. Ficou constatado que as agressões mútuas 
foram iniciadas por BETINHA que ficou muito triste por abortar o feto, indo à polícia 
noticiar o crime de aborto sem consentimento da gestante (CP, art. 125). Procede 
essa tipificação? (SIM ou NÃO). Justifique a real adequação típica que o caso merece. 
 
 ➔ Sugestão de RESPOSTA: NÃO. De fato houve crime de lesão corporal recíproca e a 
consequencia abortiva não pode ser tomada como DOLOSA. No caso ocorreu o crime 
capitulado no art. 129,§ 2º inciso V do CP – natureza gravíssima. Trata-se de crime 
preterdoloso, havendo dolo na lesão e culpa na interrupção da gravidez (abortamento), 
não podendo ser confundida com os arts. 125 ou 127 do CP, pois retratam situações 
diametralmente opostas (que causam o abortamento – um doloso e outro culposo); 
 
 
Ainda que você enverede sua resposta pela dialética da LEGÍTIMA DEFESA , 
McCatronho não se utilizou moderadamente dos meios para repelir injusta agressão 
atual em direito seu, tendo desferido murros (não apenas um murro), ocorrendo 
excesso de legitima defesa presente no fato, deixando assim de considerar a excludente 
de ilicitude. Não se olvidando que, Catronho sabia da situação de gravidez da vítima, 
podendo desta forma, sair do local, correr ou utilizar-se de outro meio para cessar a 
injusta agressão e não desferindo socos ao ponto de desmaiar Betinha. Dito isso, a 
tipificação no caso em tela seria o Art. 129 § 2º, inciso V, do Código Penal e não o Art. 
125, CP, uma vez que a intenção era apenas se defender, o agente não possuía o dolo 
de abortar sem consentimento da gestante, independentemente da prática do excesso 
de legitima defesa. 
 
4)HERCILIO LUIZ era porteiro diurno e lavava carros de madrugada no condomínio 
aonde trabalhava para fazer um extra. Uma bela noite, ele lavou um veículo BMW 
zerado e lindo. Não se contentou de tirar fotos, e com a chave na mão saiu do 
condomínio e passou em casa para dar uma volta no veículo com sua mulher e 
doméstica VANDALICE. Os dois ficaram tão apaixonados pelo carro que toda noite 
eles curtiam na praia da barra andando no veículo conversível e caríssimo. Até que 
numa dessas madrugadas o dono foi pegar seu veículo e não o encontrou, indo à 
polícia comunicar o furto. Ele chegou e a polícia o levou preso. ELE ALEGOU FURTO 
DE USO porquenão tinha o ânimo de assenhoreamento definitivo e o veículo 
estava intacto. Uma pena que o proprietário chegou antes da devolução. Procede a 
alegação de HERCÍLIO? (SIM ou NÃO) Justifique. 
 
 ➔ Sugestão de RESPOSTA: NÃO. O crime em estudo protege não apenas a 
propriedade, mas também a posse e a detenção legítima de coisa alheia móvel. Assim, 
percebe-se que o crime de furto consiste em subtrair, retirar de alguém um bem móvel 
para si ou para terceiros. Portanto, para a caracterização do crime em si se faz 
necessário que o agente ativo do crime se aproprie da coisa subtraída da vítima. 
HERCÍLIO PODERÁ SER CONDENADO POR FURTO CONSUMADO COM A 
MOJORANTE NOTURNA. 
 
A conduta de um agente que subtrai provisoriamente o bem, mas que o devolve com 
eficiência após um “curto período de tempo”, voluntariamente, seria denominada 
SIM como furto de uso por parte da doutrina e da jurisprudência, frisando que esta 
figura não se confunde com o roubo. 
Infere-se do exemplo e dos ensinamentos dos tribunais e da doutrina que são dois 
os requisitos necessários para a constatação do furto de uso: o objetivo de fazer uso 
momentâneo da coisa e a devolução voluntária da res em sua integralidade. 
Destarte, como a conduta do furto de uso não se enquadra no que determina o 
art. 155 do Código Penal, o ato é considerado atípico e não passível de pena na esfera 
criminal. Faltaria ao agente o animus furandi, configurando-se um indiferente penal. 
Ademais, na ausência de vontade, por parte do agente, de se apropriar da coisa, por 
mais que existam questões divergentes na doutrina e na jurisprudência, tal conduta 
vem sendo considerada como atípica pelos Tribunais. 
Um exemplo clássico do "furto para uso" é aquela pessoa que furta o carro de uma 
vítima apenas para dar um passeio, devolvendo-o voluntariamente no mesmo exato 
lugar que o encontrou, com o mesmo tanto de combustível, sem nenhum dano no 
veículo. 
No caso em tela HERCILIO criou um hábito perigoso de usufruir da mesma coisa 
alheia como se dono fosse – curtindo a praia de BMW, e isso lhe custará responder 
pelo crime de furto, eis que para a caracterização do FURTO DE USO seria necessária 
a configuração conjunta da seguinte trilogia: INTENÇÃO, desde o início, de uso 
momentâneo da coisa subtraída (jamais habitual); COISA não consumível; SUA 
RESTITUIÇÃO imediata e integral ao lesado. Ele foi dando sorte até que o lesado o 
flagrou. UMA NOTA: Muito embora atípico no Código Penal, o furto de uso é crime 
no Código Penal Militar (CPM, art. 241) 
Note-se que apesar da ausência do animus furandi do agente, entende-se que para a 
caracterização do furto de uso é necessário o preenchimento de alguns 
requisitos fundamentais, como por exemplo a devolução do bem antes que o 
proprietário constate a subtração. No caso em tela, percebemos que apesar de o bem 
ter sido restituído integralmente e sem danos, o objeto não foi devolvido de forma 
rápida e imediata, tendo o proprietário do veículo constatado a subtração antes da 
devolução espontânea do agente. 
Afivelamos nosso entendimento no ARESTO descrito, porque no caso julgado o 
veículo “subtraído provisoriamente” só foi devolvido ao dono com a intervenção 
policial, apesar da insurgência defensiva pleitear o reconhecimento do “FURTO DE 
USO”, vejamos: 
JURISPRUDÊNCIA: APELAÇÃO -1ª Ementa Des(a). ANTONIO CARLOS 
NASCIMENTO AMADO -Julgamento: 30/01/2018TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL 
APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO. ART. 155, § 1º, DUAS VEZES, NA FORMA 
DO ART. 71, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. RECURSO DEFENSIVO 
PLEITEANDO A ABSOLVIÇÃO QUANTO AO FURTO DA MOTOCICLETA 
POR INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA, POIS O PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO NÃO 
COMPARECEU EM JUÍZO PARA PRESTAR DEPOIMENTO, E O 
https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10619836/artigo-155-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940
https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40
RECONHECIMENTO DO FURTO DE USO EM RELAÇÃO AO AUTOMÓVEL, POIS 
O ACUSADO RETIROU O VEÍCULO DA GARAGEM COM A INTENÇÃO DE 
UTILIZÁ-LO BREVEMENTE. APRESENTA PLEITO SUBSIDIÁRIO PARA 
RECONHECER A TENTATIVA EM SEU MAIOR GRAU DE DIMINUIÇÃO. 
Apelante flagrado por policiais dentro do veículo de uma das vítimas, vizinho do 
acusado, depois de retirar o carro da garagem e bater em outro que estava parado do 
outro lado da rua. Indagado pelos policiais sobre o fato, na presença da vítima, 
respondeu que iria pegar o carro para procurar uma motocicleta que furtou 
anteriormente para ir à comunidade do Mandela, pois o veículo tinha sumido. 
Autoria e materialidade dos crimes de furto devidamente comprovadas pelas 
provas produzidas nos autos. O fato de o proprietário da motocicleta não ter 
comparecido para prestar depoimento em Juízo não afasta a existência de provas da 
autoria do furto, considerando que os policiais militares e a outra vítima 
confirmaram ter ouvido do próprio réu que o mesmo subtraiu a motocicleta, o 
que ratifica as declarações prestadas em sede policial pelo dono da motocicleta. 
Furto de uso. Não ocorrência. O furto de uso se configura pela ausência do ânimo 
do agente em obter a coisa para si ou para outrem, porém, faz-se necessário que 
a coisa seja restituída no mesmo estado em que foi retirada e no mesmo lugar 
de onde foi retirada. No caso dos autos, o veículo foi danificado e não foi 
devolvido ao seu dono voluntariamente, mas recuperado pelos policiais, no 
meio da rua. Reconhecimento de crime tentado. Impossibilidade. Crime que se 
consuma com a inversão da posse do bem. Automóvel que foi encontrado fora da 
garagem da casa da vítima. Súmula 582 do STJ. Desprovimento do recurso 
defensivo. Unânime Íntegra do Acórdão -Data de Julgamento: 30/01/2018” 
Todavia, é imperioso destacar que um dos requisitos para que o caso concreto 
se adeque a tipificação de furto de uso, é que o bem furtado provisoriamente seja 
devolvido antes da percepção da vítima, pois caso a vítima vá até o lugar onde se 
encontra seu bem, e verifique que ele ali não se encontra, o ato de furto provisório 
praticado pelo autor (que seria atípico), transformar-se-ia em crime de furto, previsto 
no art. 155 §1º do Código Penal Brasileiro, como é o caso debatido em questão, posto 
que o dono da BMW foi procurar o seu carro e não o encontrou, ou seja, o porteiro 
não devolveu a tempo de eliminar a tipicidade do delito. E o mais importante, O 
DESGASTE DO VEÍCULO a toda evidência DESVALORIZA O BEM. Esse folgado 
porteiro criou hábito de desfilar com o carro na orla acompanhado da esposa como 
demonstra o enunciado. 
 
 
 
 
 
5) TOINHO JUBARTI é um pobre mas digno cortador de cana e semana passada ao 
voltar de tardinha para sua casinha humilde, viu sua mulher chorando muito 
acompanhada de sua filha de oito (8) anos que havia acabado de ser estuprada por 
um candango forasteiro que fugiu embrenhando-se na mata minutos antes de Toinho 
chegar cansado da lavoura. Sem pestanejar, ele foi atrás do sujeito descrito pela 
filha, e depois de mais de duas horas de procura o matou, cortou sua cabeça com a 
foice e a levou pelos cabelos para a delegacia dizendo que gostaria de ficar preso por 
ter “defendido a honra da única filha”. O resto do corpo foi encontrado todo 
esquartejado. ATENÇÃO: ELE NÃO FLAGROU O SUJEITO ESTUPRANDO A FILHA. Na 
condição de advogado de defesa, o que você alegaria na defesa de TOINHO JUBARTI? 
Pode ser considerado hediondo o crime cometido? 
 
 ➔ Sugestão de RESPOSTA: Alegaria prática de homicídio privilegiado movido pelo 
relevante e forte valor moral de cunho pessoal. Aqui o agente devia estar dominado 
pela excitação dos seus sentimentos (ódio, vingança, amor exacerbado, ciúme intenso) 
e foi injustamente provocado pela vítima, momentos antes de tirar-lhe a vida.Não se confunde com a legítima defesa, eis que neste caso utiliza-se dos meios 
necessários para repelir injusta agressão, sendo hipótese de excludente de ilicitude. 
Mas o que vem a ser homicídio privilegiado? 
Quando uma pessoa mata a outra impelida por um motivo de relevante valor social ou 
moral, ou sobre o domínio de violenta emoção, logo após a injusta provocação da 
vítima, diz-se que ela cometeu um homicídio privilegiado. Portanto, a pessoa 
certamente poderá ter sua pena diminuída – um poder dever do juiz. Ele precisa fazer 
a quesitação aos jurados. 
Logo, o homicídio privilegiado não é exatamente uma espécie de homicídio, mas uma 
possibilidade de redução da pena do réu quando este comete um homicídio doloso. 
Além disso, este homicídio não é considerado um crime hediondo. 
O que caracteriza o homicídio privilegiado? 
Como já foi dito, para que o homicídio doloso seja considerado privilegiado, ele precisa 
seguir as seguintes diretrizes: 
1. O agente precisa estar impelido por motivo de relevante valor social ou moral? 
Neste caso, a pessoa precisa matar a outra levando em conta o interesse coletivo (o 
assassinato de um traidor da pátria ou de um criminoso que assombra a população, 
por exemplo) ou, ainda, o interesse moral de cunho pessoal. 
 
 
2. O agente precisa estar sob o domínio de violenta emoção, logo após injusta 
provocação da vítima? 
Nesta hipótese, a pessoa está dominada por uma emoção muito forte, como a ira, e 
recebe uma injusta provocação da vítima, que a faz perder o controle e tirar sua vida. 
Por exemplo, um pai é sequestrado e o sequestrador o obriga a assistí-lo estuprando a 
filha. Ao ser preso, o sequestrador provoca a pessoa, sorrindo ou piscando. Este pai, se 
matar o sequestrador neste momento, estará claramente sob o domínio de violenta 
emoção e foi provocado injustamente pela vítima. 
Na hipótese de interesse pessoal, entretanto, é necessário que haja um forte valor 
moral atribuído pela sociedade, por exemplo, um pai que mata o estuprador da filha. 
Cortar a cabeça da vítima e depois picar o seu corpo é meio cruel. 
No caso do homicídio “privilegiado”, a conduta é ilícita, o que ocorre é uma 
diminuição da pena. A “Injusta provocação” não precisa ser um ato físico, pode ser 
moral/verbal. No caso a vítima estuprou a filha de Toinho. 
A explicação é mais simples do que parece. O homicídio será considerado como 
“privilegiado” se os motivos que levaram a pessoa a praticá-lo forem relevantes, o que 
afasta as qualificadores relacionadas aos motivos (qualificados) que impulsionaram o 
agente a delinquir. 
Assim, é possível reconhecer o homicídio privilegiado apenas no caso das 
qualificadoras objetivas, relacionadas aos meios e modos, como no caso dos incisos: 
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso 
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; e... 
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte 
ou... 
Reconhecido o homicídio privilegiado-qualificado, o crime deixa de ser hediondo. 
Apesar da existência desse entendimento que considera possível o homicídio 
privilegiado-qualificado apenas se forem qualificadoras objetivas (inerentes a maneira 
de execução), há quem diga que é impossível tal figura, pois o privilégio afastaria a 
qualificadora, tanto que vem (topicamente) antes no Código, melhor dizendo, o 
privilégio está no § 1º enquanto as qualificadoras no § 2º, e que se fosse de interesse do 
legislador possibilitar que homicídios qualificados fossem considerados privilegiados, 
teria invertido a ordem dos parágrafos. Mas essa corrente é minoritária. O homicídio 
dito como privilegiado é uma causa de diminuição de pena. Não leve a palavra 
privilegiado ao pé-da-letra. Na verdade, o privilégio não é uma vantagem pessoal no 
que toca à conduta do agente do crime. 
 
Mas, como pode um homicídio ser ao mesmo tempo privilegiado e qualificado? É 
assim: se uma circunstância subjetiva do crime de homicídio privilegiado COMBINAR 
com uma circunstância objetiva do crime privilegiado, 
então, esse crime será, ao mesmo tempo privilegiado-qualificado, deixando de ser 
hediondo. Por exemplo, imaginemos uma conduta em que o agente (criminoso) 
pratique o crime de homicídio com emprego de asfixia, por motivo de relevante valor 
social. É crime qualificado-privilegiado. Deixa de ser hediondo. Segundo Cezar 
Bittencourt: “O concurso entre causa especial de diminuição de pena (privilegiadora) 
121 §1 e as qualificadoras objetivas, que se referem aos meios e modos de execução do 
homicídio, a despeito de ser admitido pela doutrina e jurisprudência, apresenta graus 
de complexidade que demandam alguma reflexão. 
Em algumas oportunidades o Supremo Tribunal manifestou-se afirmando que as 
privilegiadoras e as qualificadoras objetivas podem coexistir pacificamente; mas o 
fundamento desta interpretação residia na prevalência da privilegiadora subjetivas 
sobre as qualificadoras objetivas, seguindo por analogia, a orientação contida no artigo 
67 do Código Penal, que assegura a preponderância dos motivos determinantes do 
crime.” 
Ao fazer a analogia com este artigo podemos classificar o homicídio privilegiado 
qualificado como não hediondo, já que a privilegiadora é a característica subjetiva e 
predominaria sobre a qualificadora. 
Segundo a lição de Damásio de Jesus: 
“Se no caso concreto, são mesmo reconhecidas ao mesmo tempo a circunstância do 
privilégio e outra a forma qualificada do homicídio, de forma objetiva, aquela 
sobrepõe-se sobre esta, uma vez que o motivo determinante do crime tem 
preferência sobre a outra. De qualquer forma que, para efeito de qualificação legal 
do crime, o reconhecimento do privilégio descaracteriza o homicídio qualificado”. 
O objetivo do presente estudo também foi identificar e defender a existência do 
homicídio qualificado privilegiado que deve ser considerado como um crime não 
hediondo. Parafraseando Alberto Silva Franco, seria um absurdo termos um crime de 
relevante valor social tratado como hediondo. É necessário não acionar a lei mais 
severa quando possível, pois o direito tem o objetivo de proteger, de zelar e não de 
punir. Encerramos esta exposição defendendo a não hediondez de um crime, ou seja, 
a não interferência do da Lei 8072/90 com uma frase de Luiz Regis Prado, que sempre 
protege a atuação do direito penal: “que o Direito Penal continue a ser um 
arquipélago de pequenas ilhas no grande mar do penalmente indiferente.” 
CONCLUIMOS QUE, para que ele exista é necessário que haja uma qualificadora 
objetiva, ou seja, aquelas que não levam em consideração o estado anímico do agente, 
mas geralmente o modo de execução do delito em concurso com uma privilegiadora, 
que sempre é subjetiva. Seria impossível pensar em um concurso de uma 
privilegiadora subjetiva com uma qualificadora objetiva, assim, imaginemos: concurso 
de motivo fútil com motivo de relevante valor social ou moral.

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