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TCC organização criminosa

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CRIME ORGANIZADO: DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA À LUZ DA LEI 12.850/13
Maceió/AL
Outubro/2018
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CRIME ORGANIZADO: DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA À LUZ DA LEI 12.850/13
Maceió/AL
Outubro/2018
Resumo: O trabalho em questão traz em análise o crime organizado em todas as suas vertentes. Atenta-se aos meios de obtenção de prova que auxiliam os órgãos de persecução penal durante a investigação, meios estes que necessitam ser equivalentes em força à atuação das organizações criminosas, tendo em vista o caráter estruturado e hierarquizado destas empresas, o que dificulta a atuação estatal. Ocorre que até meados do ano de 2013, a legislação brasileira era carente neste sentido, sendo falha principalmente na conceituação do que seria uma organização criminosa e também na definição procedimental dos meios de obtenção de prova. Com o advento da Lei 12.850/2013, esta situação foi contornada, pois ela deu uma definição concreta ao que seria crime organizado e resolveu as falhas no que diz respeito aos meios investigativos, facilitando a atuação dos órgãos de persecução penal e contribuindo, assim, para a diminuição da criminalidade organizada, que atinge níveis preocupantes. Para tanto, utilizamo-nos de diversas fontes bibliográficas e estudos científicos realizados por diversos doutrinadores. Leva em conta a presente monografia disposições da legislação anterior e da legislação vigente no que diz respeito ao crime organizado.
Palavras-chave: Crime Organizado; Organizações Criminosas; Lei 12.850/2013; Persecução Penal; Colaboração Premiada.
Abstract: The work in question brings in analysis the organised crime in all its aspects. Pay attention to the means of obtaining evidence to help the organs of prosecution during the course of the investigation, means these that need to be equivalent in strength to the actions of criminal organizations, in view of the character structured and hierarchical of these companies, which makes it difficult to state action. What happens is that by the middle of the year of 2013, the Brazilian legislation was lacking in this sense, being failed mainly in conceptualization of what a criminal organization and also the definition of procedural means of obtaining evidence. With the advent of the Law 12,850 /2013, this situation has been circumvented, because it gave a concrete definition of what would be organised crime and solved the failures with respect to investigative resources, facilitating the work of the organs of prosecution and thus contributing to the reduction of organised crime, which has reached worrying levels. For both, we make use of several bibliographic sources and scientific studies carried out by various doutrinadores. It takes into account the present monograph provisions of previous legislation and legislation in respect of the organised crime. 
Keywords: Organised Crime; Criminal Organizations; Law 12.850 / 2013; Prosecution; Collaboration Award. 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	9
2 DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA	26
2.1 DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA: CONTEXTO GERAL	19
2.2 DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA EM FACE AO CRIME ORGANIZADO	32
2.2.1 Da investigação e dos meios de obtenção de prova	32
2.2.1.1 Da colaboração premiada	33
2.2.1.2 Da ação controlada......................................................................................................	43
2.2.1.3 Da infiltração de agentes............................................................................................	34
2.2.1.4 Do acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações......................	37
2.2.1.5 Da interceptação de comunicações telefônicas ou telemáticas e do afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos das legislações específicas................	39
2.3.1.6 Dos crimes ocorridos na investigação e na obtenção de prova 	40
CONSIDERAÇÕES FINAIS	59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS	61
INTRODUÇÃO
	É cediço que as organizações criminosas constituem uma tendência ao mundo do crime, como também é verdade que tais grupos diferem das demais associações ilícitas devido ao grau de complexidade que lhes é inerente, sobretudo em sua estrutura hierarquizada e sua organização.
	Neste âmbito, e vislumbrando-se o potencial lesivo cada vez mais alto das ações destes grupos, o que vem se agravando com as benesses advindas da tecnologia, é necessário que o Estado lance mão de aparatos legislativos e meios de investigação cuja complexidade seja compatível àquela que se pretende combater. 
	O presente trabalho tem como escopo a análise, dentro do Direito Penal Brasileiro, da atuação das organizações criminosas e visa, neste aspecto, navegar através da Lei 12.850/2013 que foi criada com o intuito de definir o que seria a organização criminosa, como também, estabelecer parâmetros e procedimentos mais eficazes e rígidos, no que diz respeito à repressão ao crime organizado, na tentativa de facilitar a atuação dos órgãos responsáveis pela persecução penal.
	O texto pretende inserir o leitor no contexto da organização criminosa, lhe apresentando as características comumente apontadas pela doutrina, já que a esta acabou por ser atribuída a tarefa de buscar uma definição para tanto. 
	A propósito, aqui também se concentra na, talvez, mais notável inovação trazida pela Lei 12.850/2013, qual seja: a definição de crime organizado, pelo que se procede a um breve histórico acerca dos problemas antes havidos em decorrência da anterior omissão legislativa sobre o tema, sobretudo em sede da Lei n. 9.034/95, revogada expressamente por esta que é objeto deste estudo. “Por muito tempo, a lacuna legal fez com que o Ministério Público, com intuito de proteção social e maior abrangência relacionada à tipificação do delito em questão, se valesse da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional,”1 DE MIRANDA, Eliana Cristina Fernandes; PANHOZZA, João Victor Serra Netto. Nova lei de Organização Criminosa. In: Conjur. São Paulo, 2014. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2014-jun-25/lei-organizacao-criminosa-trouxe-ferramentas-crime> Acesso em: 02 mai 2015. a conhecida Convenção de Palermo. Deste modo, o presente capítulo buscará, ainda, fazer uma breve análise acerca da referida Convenção, como também demonstrar qual a sua importância no que diz respeito aos avanços concernentes à repressão ao crime organizado no Brasil.
	Pretende, ainda, demonstrar, a importância dos meios de obtenção de provas nesta esfera, como também o seu procedimento, sobretudo em razão da complexidade sobre a qual se estruturam as organizações criminosas, somada a preceitos cravejados em suas próprias leis. “As atividades desenvolvidas por organizações criminosas cada vez mais ganham vulto em nossa sociedade, agindo como verdadeiro fator de poder a ser considerado sob o ponto de vista jurídico e social na tomada de decisões dentro de uma perspectiva de política criminal.”2 DA ROSA, Emanuel Motta. A lei 12.850/13 e a repressão ao crime organizado. 2014. Disponível em: <http://emanuelmotta.jusbrasil.com.br/artigos/121943614/a-lei-12850-2013-e-a-repressao-ao-crime-organizado> Acesso em: 02 mai 2015. 	Em sede das considerações finais, procede-se ao arremate conclusivo acerca dos elementos colacionados ao longo da pesquisa, após análise do conceito e estrutura das organizações criminosas, bem como dos meios de obtenção de prova e repressão ao crime organizado.
1.1.3 Da organização criminosa: contexto geral
	A primeira lei a tratar do crime organizado no Brasil foi a lei 9034/1995, que dispunha sobre os meios para repressão e prevenção de ações praticadas por organizações criminosas. Ocorre que o legislador ao editar tal lei, falhou em diversos aspectos, principalmente no que diz respeito à conceituação do que seria efetivamente uma organização criminosa. Neste sentido:
No ano de1995 o Brasil editou a lei 9.034 dispondo sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. Apesar de louvável, a iniciativa veio acompanhada de falhas, chamando a atenção a ausência de definição do próprio objeto da Lei: organização criminosa”3 Idem. Ibidem. 
	Em breve leitura da referida Lei, pode-se concluir que possuía caráter eminentemente processual, e devido à lacuna deixada pela não conceituação do objeto da lei, necessário se fez o estudo e criação de uma nova lei que preenchesse todas as falhas.
	Na tentativa de conceituar o termo organização criminosa, percebe-se que “não é possível definir com absoluta exatidão o que seja 'organização criminosa' através de conceitos estritos ou mesmo exemplos de condutas criminosas4 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Combate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013, p. 1. , isso ocorre porque estas organizações possuem um enorme poder variante, ou seja, têm a capacidade de alternar suas atividades visando alcançar mais lucros, dificultando a atividade do legislador, que ao tentar acompanhar as variações da empresa criminosa, estará sempre em atraso. 
	Em 2012, a lei 12.694/12, na tentativa de preencher a lacuna deixada pela lei 9.034/95, trouxe para o ordenamento jurídico brasileiro uma definição do que seria organização criminosa: 
Art. 2º- Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional.5 BRASIL, Lei 12.850/13, de 02 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm> Acesso em: 25 abr 2014. 
	Na sua definição, a Lei 12.964/2012 começa a dirimir os requisitos para a configuração de uma organização criminosa, apresentando suas características e objetivos. Todavia, mesmo preenchendo a lacuna deixada pela lei anterior, no ano seguinte à edição da Lei 12.694/12 fora editada a lei 12.850/13 que define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal.
	A nova lei, em seu parágrafo primeiro do seu artigo primeiro, afirma que se considera organização criminosa a associação de quatro)ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a quatro anos, ou que sejam de caráter transnacional. Desta feita, percebem-se pequenas alterações com relação ao conceito trazido pela lei revogada. Neste sentido, Ribeiro da Costa afirma que:
A distinção do conceito atual é o número mínimo de pessoas integrantes da organização e o mínimo penal deve ser maior que 4 anos quando a infração penal for nacional, este termo “infração penal” expande para atividades consideradas contravenções penais, não apenas a prática de crimes como previsto na legislação do ano anterior.6 Idem. Ibidem. 
	Importante salientar que a nova Lei também tipificou o crime de organização criminosa, em seu artigo segundo. Deste modo, quem promove, constitui, financia ou integra uma organização, pode ter uma pena cominada entre quatro e oito anos, mais multa, sem prejuízo de outras infrações penais e não levando em conta nenhuma qualificadora.
	Desta forma, conclui-se que para que se configure uma organização criminosa, é necessária a formação de uma verdadeira empresa. É visível que deve haver uma certa hierarquia, como também divisão de tarefas, com o objetivo de obter vantagem de qualquer natureza. O crime definido pelo artigo segundo da Lei 12.850/2013, é também um crime formal, ou seja, “consuma-se com a simples prática dos verbos (“convergência de vontades”), não sendo necessário que se efetivem os crimes.7 ISHIDA, Válter Kenji. O crime de Organização Criminosa. In: Jornal Carta Forense. São Paulo, 2013. Disponível em: <http://www.cartaforense.com.br/conteudo/artigos/o-crime-de-organizacao-criminosa-art-2%C2%BA-da-lei-n%C2%BA-128502013/12020> Acesso em 20 mar 2015. ”
		DISTINÇÃO E PUNIBILIDADE
	Como demonstrado anteriormente, apesar da pluralidade de agentes na prática delituosa, e da existência de liames psicológicos subjetivos entre os autores, o crime de associação criminosa e o de organização criminosa, que são de concurso necessário, não se confundem com o instituto de concurso de pessoas, que é de concurso eventual e temporário 	
	Desta feita, o crime de associação criminosa, como sendo uma infração autônoma, configura-se quando os componentes do grupo formam uma associação estável, permanente e organizada, devendo haver a adesão de todos os indivíduos. Já no caso do concurso eventual de pessoas é a consciente e voluntária participação duas ou mais pessoas na prática da mesma infração penal. A associação de forma estável e permanente, com o objetivo de praticar vários crimes, é o que diferencia o crime de associação criminosa do concurso eventual de pessoas. 
	Inobstante, não se pode confundir o concurso eventual, que é associação ocasional para a prática de um ou mais crimes determinados, com associação para delinquir, tipificadora do crime de associação criminosa, definida no artigo 288 do Código Penal Brasileiro. Para a configuração deste crime, então, exige-se estabilidade e o fim especial de praticar crimes indeterminadamente. 
	Estabelecendo-se a distinção entre um concurso eventual de pessoas e um concurso necessário de pessoas, percebe-se que este último consuma-se apenas com a associação para fins ilícitos, não necessitando a prática de crime algum. Isso também ocorre com o crime tipificado no artigo segundo da Lei 12.850/2013, qual seja, organização criminosa, que também é um concurso necessário e merece ser diferenciado.
	Entende-se que, basicamente, a diferença entre organização criminosa e associação criminosa está no modo de constituição do grupo criminoso, no grau de requinte na formação da associação criminosa.
	Nesta senda, a Lei que define as organizações criminosas, qual seja, a Lei 12.850/2013, tem-se que a organização criminosa exige a reunião de, pelo menos, quatro pessoas, estruturalmente ordenado e caracterizado pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, sob um comando individual ou coletivo, com o fim de cometimento de infrações penais que tenham penas máximas superiores a quatro anos. Por sua vez, a associação criminosa (art. 288 do CP) é menos sofisticada, bastando três pessoas e não exigindo estrutura ordenada, nem divisão de tarefas, como também prescinde de um líder. Neste sentido, Marcelo Batlouni Mendroni elucida:
quatro pessoas se reúnem e combinam assaltar bancos. Acertam dia, local e horário, em que se encontrarão para o assalto. Decidem funções de vigilância e execução entre eles e partem. Executam o crime em agência bancária eleita às vésperas. Repetem a operação em dias quaisquer subsequentes. Formaram “associação criminosa”. Se, ao contrário, as pessoas reunidas planejam – de forma organizada – os assaltos, buscando informações privilegiadas preliminares – como por exemplo estudar dias e horários em que determinada agência bancária contará com mais dinheiro em caixa, a sua localização na agência, a estrutura da vigilância e dos alarmes, planejar rotas de fuga, infiltrar agentes de segurança, neutralizar as câmeras filmadoras internas etc.-, esse grupo poderá ser caracterizado como uma organização criminosa voltada para a prática de roubo a bancos. Enquanto a primeira inexiste prévia organização para a prática,os integrantes executam as suas ações de forma improvisada ou desorganizada, na segunda sempre haverá mínima atividade organizacional prévia de forma a tornar os resultados mais seguros.8 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Comnbate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013, pag. 6. 
	Neste diapasão, organização criminosa deve haver o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais com penas máximas superiores a quatro anos. Na associação criminosa, a reunião de pessoas para o cometimento de infrações não exige o objetivo de obtenção de uma vantagem, podendo ocorrer com o simples fim de emulação, perversidade.
	Importante perceber que o instituto do concurso de pessoas está longe de confundir-se com a associação criminosa e a organização criminosa. E em se tratando destes tipos penais de concurso necessário, devemos analisar seus modos de constituição, ou seja, sua estrutura e organização, observando se há hierarquia, ordenação, divisão de tarefas, e só assim é possível estabelecer a distinção entre os tipos.
	Além da distinção, mister se faz demonstrar como se opera a punibilidade em cada espécie ora estudada. Cada instituto penal é punido de forma diferente, de acordo com a culpabilidade do agente.
	O artigo 29 do Código Penal Brasileiro, ao definir o concurso de pessoas, faz também sua divisão, in verbis:
Art. 29 -Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. § 1º- Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço. § 2º- Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.9 BRASIL, Lei 2.848, de 7 de Dezembro de 1940 – Código Penal. Brasília: Congresso Nacional, 1940. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848.htm> Acesso em: 25 abr 2015. 
	Resta claro, então, que o agente será punido na medida de sua culpabilidade, ou seja, “o julgador deverá realizar um juízo de censura sobre cada comportamento praticado pelos agentes, individualmente”.10 GRECO, Rogério. Código Penal Comentado. 5ª ed. Rio de Janeiro: Impetus Ltda., 2011, p. 58. Em outras palavras, como define o próprio artigo, se houver participação de menor importância, a pena poderá ser diminuída, como também ocorre, no caso do parágrafo segundo deste mesmo artigo, se a colaboração for dolosamente distinta. Vejamos: 
No ordenamento penal em vigor, não há obrigatoriedade de redução de pena para o partícipe, em relação a pena do autor, considerada a participação em si mesma, ou seja; como forma de concorrência diferente da autoria (ou coautoria). A redução obrigatória da pena para o partícipe se dá apenas em face daquela que a Lei chama de 'menor importância' - o que já está a revelar que nem toda participação é de menor importância e que, a princípio, a punição do partícipe é igual a do autor; A diferenciação está 'na medida da culpabilidade.11 MASSON , Cleber. Direito Penal Esquematizado. 4ª ed. São Paulo: Método. 2011. 
	Ainda neste mesmo pensamento, o artigo 31 do Código Penal nos apresenta a possibilidade de, tendo alguém auxiliado outrem a praticar um delito e este delito não chegou à fase de execução, não há que se falar em concurso de pessoas, e essa participação será impunível. Senão, vejamos: “Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado".
	Insta destacar que o artigo 288, ao definir o crime de associação criminosa, determina a punição para quem incorrer nas sanções penais deste artigo de reclusão de um a três anos. Parece intuitivo que o legislador foi branco ao determinar a punibilidade em limites tão baixos. Neste sentido:
Lamentavelmente, a Casa das Leis preferiu manter a pena de reclusão variando de 1 a 3 anos, admitindo, na forma básica, suspensão condicional do processo, ficando, inclusive, inviável a preventiva quando o associado for primário. Ora, não enxergamos crime mais condizente com a necessidade de prisão para a manutenção da ordem pública do que a associação de pessoas para a prática de crimes. 12 CUNHA, Rogério Sanches;PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2a Ed. São Paulo: JusPodium. 2014, p 147. 
	O parágrafo único deste artigo, após a alteração advinda da lei 12.850/13, determina que a pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver participação de criança ou adolescente. Ora, vejamos:
A Lei 12.850/13 alterou também o parágrafo único do art. 288 do CP. Optou o legislador por diminuir o 'quantum' da majorante. Antes, a associação armada tinha pena dobrada. Agora, aumenta-se a reprimenda de ½, mudança benéfica, que deve retroagir para alcançar os fatos pretéritos (art. 2o, parágrafo único do CP). Criou, ainda, mais uma circunstância majorante: quando o crime envolver a participação de criança ou adolescente, devendo o agente, obviamente, conhecer a condição etária do menor, evitando-se responsabilidade penal objetiva.13 CUNHA, Rogério Sanches;PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2a Ed. São Paulo: JusPodium. 2014. p. 148. 
	Já com relação ao crime de organização criminosa, que encontrou definição na Lei 12.850/2013, há que se falar que, de acordo com o artigo segundo da mesma Lei, aquele que integrar, promover, constituir ou financiar, por si ou por terceira pessoa, uma organização criminosa, irá incidir nas sanções penais deste artigo, quais sejam, reclusão de três a oito anos e multa. Tratando-se de delito autônomo, a punição da organização independe da prática de qualquer crime pela associação, o qual, ocorrendo, gera o concurso material.14 Idem. Ibidem, p. 18. 
	Além da pena integradora do próprio tipo penal, em parágrafos subsequentes o legislador estabelece situações em que a pena pode ser agravada ou aumentando o alcance das sanções penais, como é o caso do parágrafo primeiro, que determina que irá incidir nas mesmas penas quem impedir ou embaraçar, de qualquer forma, a investigação de uma infração penal que possa envolver organização criminosa.
	Como no delito de associação criminosa, que tem sua pena agravada por uso de arma de fogo, não se faz distinção deste ora estudado. Em seu parágrafo segundo do artigo segundo, o legislador estabelece que as penas irão aumentar-se até a metade se houver uso de arma de fogo. Neste sentido:
Há possibilidade de configuração de organização criminosa 'desarmada', ou seja, que, a princípio, não pratica os crimes mediante uso e necessidade de uso de armas de fogo, como por exemplo para praticar crimes de estelionatos e crimes contra a administração pública. A lei, entretanto, decidiu graduar a pena daquelas que empregam armas de fogo, exatamente em função de periculosidade dos agentes e do potencial dano às vítimas.15 Idem. Ibidem., p. 14. 
	Quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, tem sua pena agravada. O parágrafo terceiro pune mais severamente quem possui o domínio da organização.
	Já no parágrafo quarto, a pena aumenta-se de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços) em situações diversas, como no caso da participação de criança ou adolescente, ou quando há concurso com funcionário público que, valendo-se de sua condição, pratica a infração penal. A pena poderá também ser agravada quando o produto do crime destinar-se, no todo ou em parte, para o exterior. E se a organização criminosa mantiver conexão com outras, como também no caso de transnacionalidade.
	Em linhas gerais, possível se faz estabelecer a distinção entre estes três institutos penais que se configuram com a atuação de mais de um agente. É possível estabelecer as nuances e minúcias em cada caso e demonstrar que a punição é dada de acordo com o entendimento do julgador em cada situaçãofática.
CAPÍTULO II: DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
	2.3 LEI 12.850/2013: DAS MEDIDAS DE OBTENÇÃO DE PROVA EM FACE AO AO CRIME ORGANIZADO	 
	A Lei 12.850/13 veio trazer o conceito do que seria organização criminosa, bem como definir os meios de obtenção de prova em face ao crime organizado que podem ser utilizados pelos agentes responsáveis pela sua investigação e combate, conforme será analisado nos tópicos subsequentes.
2.3.1 Da investigação e dos meios de obtenção de prova:
	O capítulo II da Lei 12.850/2013 discorre sobre a investigação e os meios de obtenção de prova no curso da persecução penal em se tratando de crime organizado, e apresenta necessariamente as possibilidades que tem o agente público para reprimir e combater a atuação das organizações criminosas. Neste sentido:
As medidas de combate ao crime organizado, em qualquer País, devem ser fortes, enérgicas, na exata medida da sua necessidade, na medida da prevenção e da repressão requeridas pela própria sociedade na recuperação da ordem pública, nem mais, nem menor, já que as organizações criminosas são realidades existentes e infiltradas em vários setores da vida cotidiana, com alto potencial destrutivo e desestabilizador, não havendo mais espaço para aqueles discursos, no mais das vezes demagógicos, realçados, derivados e trazidos a reboque das expressões de 'estigmatização do investigado/acusado', 'garantismo' ou 'aplicação do Direito Penal mínimo' etc. Devem ser decorrentes de uma específica criação legislativa derivada de firme vontade política no sentido de promover eficiente defesa social.16 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Combate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013, p. 21. 
	Dentre estes meios de repressão vislumbrados no referido capítulo, podemos destacar: a) a colaboração premiada, b) a ação controlada, c) o acesso a registros e ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais, d) interceptação de comunicações telefônicas ou telemáticas, nos termos da legislação específica, e) afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica e f) infiltração por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11. da Lei 12.850/2013. Alguns meios como a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos e cooperação entre instituições e órgão federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal, possuem relevância em algumas situações investigativas, mas optamos por destrinchar os meios de repressão que consideramos de maior abrangência.
2.3.1.1 Da colaboração premiada
	A colaboração, também conhecida como “delação”, nas palavras de Rodrigo Murad do Prado é a responsabilização de terceiro pela participação em crime, feita por um suspeito, investigado ou réu, realizada no bojo de seu interrogatório ou outro ato. A “Colaboração Premiada” é a incriminação incentivada pelo próprio legislador, que tem por objetivo premiar o delator, concedendo-lhe benefícios diversos no processo penal, tais como: redução de pena, perdão judicial, dentre outros, de forma a incentivar o indivíduo a delatar os autores, coautores e partícipes dos crimes17 DO PRADO, Rodrigo Murad. A delação Premiada e as recentes modificações oriundas da Lei 12.850/13. Minas Gerais, 2013. Disponível em: <http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/8288/A-delacao-premiada-e-as-recentes-modificacoes-oriundas-da-Lei-12850-13> Acesso em: 25 março 2015. . Para Andrey Borges de Mendonça, “deve-se relembrar, ainda, que em determinados tipos de criminalidade não há testemunhas presenciais e as únicas pessoas que podem fornecer informações são os próprios envolvidos. Justamente por isto, a colaboração premiada surge como instrumento que permite o enfrentamento eficaz destas novas formas de criminalidade.”18 DE MENDONÇA, Andrey Borges. A colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado. In: Custus Legis.2013. Disponível em: < http://goo.gl/8yuvX0.> Acesso em: 10 abr 2015. 
	No ordenamento jurídico brasileiro existem diversas leis que preveem a colaboração premiada, as divergências entre elas consistem apenas na forma de aplicação e no seu alcance. No caso da Lei 12.850/13, ela revogou a antiga concepção existente na Lei 9.034/95 de que a colaboração deveria ser feita de forma espontânea pelo agente e a partir daí haveria uma redução de pena proporcionalmente à ajuda obtida. A nova lei de combate ao crime organizado possibilitou uma nova visão do que seria a colaboração premiada, dando mais ênfase e benefícios àqueles que se propõem a contribuir de forma eficaz. Neste sentido, Emanuel Motta da Rosa:
A colaboração premiada é modalidade meio de prova disponibilizada às partes envolvidas na persecução criminal, tanto em sua fase investigativa quanto em sua fase processual, possibilitando a negociação entre os agentes públicos encarregados da atividade de persecução e os integrantes de organização criminosa, com vistas ao fornecimento de informações que se prestem ao desmantelamento da organização, a identificação de seus integrantes e a repressão e punição das atividades ilícitas por ela desenvolvidas.19 DA ROSA, Emanuel Motta. A lei 12850/2013 e a repressão ao crime organizado. São Paulo, 2014. Disponível em:<http://emanuelmotta.jusbrasil.com.br/artigos/121943614/a-lei-12850-2013-e-a-repressao-ao-crime-organizado> Acesso em: 25 mar 2015. 	
	Insta destacar que “a colaboração premiada é um procedimento formal composto pelas negociações entre os agentes públicos encarregados da persecução penal e o integrante de organização criminosa que tenha interesse em, voluntária e efetivamente, prestar auxílio nas investigações com vistas apuração da autoria e materialidade das condutas advindas das práticas realizadas pela organização criminosa”20 DA ROSA, Emanuel Motta. A lei 12850/2013 e a repressão ao crime organizado. São Paulo, 2014. Disponível em:<http://emanuelmotta.jusbrasil.com.br/artigos/121943614/a-lei-12850-2013-e-a-repressao-ao-crime-organizado> Acesso em: 25 mar 2015. , ou seja, o integrante prestará auxílio às autoridades e em troca receberá benefícios. Assim sendo, as autoridades competentes para propor a colaboração premiada são o Delegado de Polícia, na fase do Inquérito Policial e o Promotor de Justiça após instaurada a ação penal. “Embora a Lei tenha feito menção à possibilidade de o Delegado de Polícia realizar a colaboração,esta somente deve ser admitida se com a participação ativa do membro do Ministério Público.”21 DE MENDONÇA, Audrey Borges. A colaboração premiada e a nova Lei do Crime Organizado. In: Custus Legis. 2013. Disponível em: < http://goo.gl/8yuvX0.> Acesso em: 10 abr 2015. O Juiz não tem poder de participar das negociações de colaboração premiada. O Judiciário atuará de modo a firmar o acordo posteriormente, sendo este reduzido a termo e instruído com as declarações que presta o interessado e cópias das peças investigativas, para que seja remetido ao Juízo competente e aí seja homologado. Neste sentido:
A homologação do acordo de colaboração premiada é ato privativo do Juiz de Direito no qual este analisará a regularidade, legalidade e voluntariedade da manifestação de vontade das partes envolvidas, podendo, inclusive, se entender pertinente, realizar de forma sigilosa a oitiva do interessado (investigado ou acusado) acompanhado de seu defensor, para formação de sua convicção. Não atendendo aos requisitos da lei poderá o Juiz recusar a homologação do acordo, ou requerer sua adequação ao caso concreto, havendo essa possibilidade.22 DA ROSA, Emanuel Motta. A lei 12.850/13 e a repressão ao crime organizado. 2014. Disponível em: <http://emanuelmotta.jusbrasil.com.br/artigos/121943614/a-lei-12850-2013-e-a-repressao-ao-crime-organizado> Acesso em: 10 abr 2015. 
	Observa-se, então, que a Lei disciplinou o procedimento da colaboração premiada, que busca assegurar os interesses da parte (garantismo) e da persecuçãopenal (eficiência) ao mesmo tempo.
2.3.1.2 Da ação controlada
	Afirma-se que a criminalidade organizada atingiu, de fato, um elevado grau de desenvolvimento, seja do ponto de vista pessoal, logístico ou até mesmo tecnológico, e em decorrência disto, os meios tradicionais de repressão vão se tornando cada vez mais obsoletos. 
	Torna-se necessário, então, investir em possibilidades que irão auxiliar qualitativamente os agentes responsáveis pelo controle dos crimes praticados por organizações criminosas. Então, podemos citar como uma delas, a ação controlada.
	O artigo oitavo da Lei 12.850/2013 preceitua: “Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.”23 BRASIL, Lei 12.850/13, de 02 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm> Acesso em: 15 abr 2015. Em breve análise, percebe-se que se trata de espécie de flagrante postergado, acolhido pela doutrina. Senão, vejamos :
Trata-se da hipótese que a doutrina denomina flagrante postergado, hipótese na qual a intervenção policial, no decorrer da investigação de atividades de crime organizado, ainda que diante da hipótese de situação flagrancial, permanece suspensa, mantendo as atividades do grupo criminoso sob observação e acompanhamento, aguardando o momento mais oportuno para atuação com vistas à uma melhor e mais eficaz produção de provas e coleta de informação.24 DA ROSA, Emanuel Motta. A lei 12.850/13 e a repressão ao crime organizado. 2014. Disponível em: <http://emanuelmotta.jusbrasil.com.br/artigos/121943614/a-lei-12850-2013-e-a-repressao-ao-crime-organizado> Acesso em: 10 abr 2015. 
	A ação controlada, como forma de flagrante postergado surge, então, como uma tentativa de reunir as provas necessárias e suficientes e evitar que a investigação seja frustrada em decorrência de atividades que são apenas utilizadas como meio pelas organizações criminosas e possuem menor relevância. Neste sentido, Mendroni:
O objetivo da criação da medida cautelar de ação controlada, especificamente para casos que conclusivamente envolvem ou podem envolver criminalidade organizada, é viabilizar a obtenção de indícios, elementos de provas em melhor qualidade e maior quantidade. Isso porque nestes casos – de organizações criminosas – no plano ideal, deve-se buscar essas provas em relação aos chefes (cabeças) ou ao menos o superior dos executores das ações criminosas. Sempre que se atua prisão em flagrante dos “soldados” (executores), de baixo ou menor escalão da organização, dificilmente e a análise empírica o demonstra, será possível obter uma confissão ou elementos de provas em relação a eles, os superiores ou chefes.25 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Comnbate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas, 2011. p. 70. 
	Deste modo, por se tratar de uma espécie de flagrante, “enquanto houver sequência de acompanhamento da situação de flagrante nos termos dos incisos do artigo 302 do Código de Processo Penal, existirá a possibilidade da execução dentro dos critérios da prisão em flagrante.”26 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime organizado: aspectos gerais e mecanismos legais. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 115. 
	Importante ressaltar que a Lei 9.034/1995 previa a possibilidade da ação controlada, porém, entre outros aspectos, era lacunosa no que diz respeito aos procedimentos a serem utilizados para a realização deste meio de obtenção de prova. A Lei 12.850/2013 “supriu essa omissão ao prever a possibilidade do juiz estabelecer os limites do retardamento da ação policial, o sigilo da diligência e a possibilidade de acesso, a todo tempo, do magistrado, do Ministério Público e do delegado de polícia nos autos.”27 CUNHA, Rogério Sanches;PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. 2011. p. 90 
	Em tese, o agente público tem o dever de agir prontamente em situações flagranciais. Na ação controlada, ele aguarda o momento oportuno para atuar, buscando a obtenção de um resultado mais eficaz, porém, “deverão ser adotadas todas as medidas cabíveis de modo a garantir o monitoramento das atividades criminosas, que deverão ser mantidas sob observação e acompanhamento para evitar os riscos de fuga dos agentes envolvidos e o extravio dos produtos, objetos, instrumentos ou proveitos da atividade criminosa.”28 DA ROSA, Emanuel Motta. A lei 12.850/13 e a repressão ao crime organizado. 2014. Disponível em: <http://emanuelmotta.jusbrasil.com.br/artigos/121943614/a-lei-12850-2013-e-a-repressao-ao-crime-organizado> Acesso em: 10 abr 2015. 
	A ação controlada pode ser deferida sempre que houverem fundadas suspeitas da criminalidade organizada, devendo haver fundamentação da autoridade policial ou do Ministério Público, essa possibilidade se estende também à esfera administrativa. Além do que, conforme preceitua o parágrafo primeiro do citado artigo, o retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá seus limites e comunicará ao Ministério Público. Vale lembrar que “o dispositivo em análise não cogita de autorização para que se concretize a ação controlada. Veja-se que a lei faz menção à mera comunicação ao juiz competente, quando este poderá estabelecer os limites da diligência. Mas não exige, em nenhum momento, ordem judicial que a autorize.”29 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. 2011. p. 94. 
	Em se tratando do momento considerado mais eficaz à formação e obtenção de informações, há que se falar que já que consiste em ação de retardamento de intervenção policial ou administrativa, os policiais e agentes incumbidos da observação que ficarão responsáveis pela ação, porém, o Ministério Público será o responsável por avaliar o contexto probatório eventualmente suficiente ou não e terá a palavra final acerca do momento para que a medida se concretize. 
	Vale ressaltar que a ação controlada não é medida que deve ser realizada por si só, para garantir uma melhor eficiência, deverá pressupor outras medidas cautelares, conforme preceitua Mendroni:
“A ação controlada deverá pressupor medidas cautelares outras, a ela somadas, para a obtenção de melhor eficiência, como por exemplo, interceptações telefônicas, escuta ambiental, quebra de sigilo de operações com cartões de crédito, campana e outras. Pois bem, em relação a medidas que atinjam os direitos e garantias individuais, previstas nos dispositivos do artigo 5º da CF, parece evidente que deverão ser requeridos ao Juízo, separadamente ou juntamente com o próprio requerimento de ação controlada, fundamentando-se cada uma delas e também fundamentadamente decididas.”30 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Combate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013, p. 71. 
	Desta feita, cabe salientar que os parágrafos do artigo oitavo da Lei 12.850/2013 juntamente com o artigo nono da mesma lei, estabelecem os limites da realização da ação controlada, como por exemplo o já citado sigilo absoluto, necessário para a eficácia da medida. 
2.3.1.3 Da infiltração de agentes
	Dentre os meios de obtenção de prova para apuração de infrações penais realizadas por organizações criminosas, encontra-se a infiltração de agentes. Nos dizeres de Nucci, ela “destina-se justamente a garantir que agentes da polícia, em tarefas de investigação, possam, ingressar, legalmente, no âmbito da organização criminosa como integrantes, mantendo identidades falsas, acompanhando as suas atividades e conhecendo sua estrutura,divisão de tarefas e hierarquia interna”.31 NUCCI, Guilherme de Souza. Organização Criminosa. 1. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p.75. Esta atividade é mais facilmente desenvolvida em conjunto com a ação controlada, conforme formato exposto anteriormente.
	A lei 12.850/2013, traz, em seu artigo 10 e seguintes, o procedimento ideal para que se proceda a infiltração de agentes, determinando suas possibilidades e seus limites, situação que não era facilmente concebida com a revogada Lei 9.034/1995. 
	Da mesma forma que ocorre com a ação controlada, a infiltração de agentes pode ser requerida tanto pela Autoridade Policial, com a oitiva do Ministério Público, quanto pelo próprio Ministério Público. “À polícia incumbe analisar das condições técnicas da infiltração, sua viabilidade no âmbito operacional, incumbindo-se, especialmente, a segurança do agente. Já o Ministério Público corresponde analisar e decidir sob o aspecto probatório, se a medida pode trazer importantes provas.”32 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Combate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013, p. 76. A infiltração é autorizada pelo Judiciário e deve ser mantida em sigilo absoluto. Vale lembrar que o juiz, ao decidir, pode estabelecer seus limites, com o intuito de impedir a atuação abusiva das autoridades. Com relação ao sigilo, preceitua Mendroni:
O sigilo da distribuição do requerimento ou da representação será sigiloso, garantindo, assim, o máximo possível, a segurança do Agente Policial que será infiltrado, e as provas e evidências que se pretende sejam coletadas. Nesse contexto de extrema necessidade de proteção, quanto menos pessoas souberem de dados, melhor. Ao contrário, quanto mais pessoas têm acesso às informações, maiores as chances de vazamento das informações.33 Idem. Ibidem. p. 81. 
	O artigo 10, parágrafo segundo da referida lei, expõe que será admitida a infiltração se a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis, “restrita aos casos de verificação de atuação de organização criminosa e desde que não se verificar que por outros meios probatórios seja possível obter evidências”34 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Combate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013. p. 77. . Isso ocorre por ser medida extrema e pelo alto risco tanto para o agente, quanto para a investigação.
	Cabe esclarecer um aspecto muito importante no que concerne à infiltração de agentes: a situação criminal da atuação do agente infiltrado. Criterioso demonstrar que o agente infiltrado é protegido pela lei em alguns aspectos e lhe é permitido que pratique algumas infrações penais, seja para conseguir confiança ou acompanhar os demais e manter o sigilo das investigações.
	Ocorre que, em seu artigo 13, a Lei 12.850/2013 prevê que o agente deve agir com proporcionalidade, buscando apenas a finalidade da investigação, devendo ser devidamente responsabilizado caso opere com excessos. A referida lei, inclusive, em seu parágrafo único, expressamente afirma que não é punível a conduta do agente infiltrado quando inexigível conduta diversa: “trata-se de excludente de culpabilidade, demonstrando não haver censura ou reprovação social ao autor do injusto penal (fato típico e antijurídico), porque se compreende estar ele envolvido por circunstâncias especiais e raras.”35 NUCCI, Guilherme de Souza. Organização Criminosa. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013. p.82. Em se tratando da possibilidade de prática de infrações penais de forma proporcional, Cunha e Pinto elucidam, senão, vejamos:
imagine-se o agente que, infiltrado em uma organização criminosa especializada no roubo de veículos, em dado momento dá cobertura à ação dos “comparsas”, permanecendo atento à eventual aproximação da polícia. Ou que transporta um desses veículos roibados. Ou mesmo que aponta sua arma para uma das vítimas com o objetivo de tomar-lhe um automóvel. Nesse primeiro exemplo, o policial infiltrado comete ações que são próprias da criminalidade na qual se encontra imerso e sua negativa em auxiliar os demais autores poderia mesmo denunciar sua condição de infiltrado. É dizer: somente estará devidamente infiltrado, em condição de não levantar suspeitas e de obter valioso dado probatório, quando fizer as vezes dos delinquentes, agindo como eles e adotando suas práticas. Em um segundo exemplo, após se infiltrar em associação criminosa dedicada ao tráfico de drogas, o agente se apodera de certa quantidade de droga e passa a vendê-la, em ação que não guarda qualquer liame com a infiltração e que nem mesmo é conhecida pelos demais integrantes do grupo. Ora, enquanto no primeiro exemplo o agente infiltrado age dentro do que lhe autoriza a lei de forma a obter sucesso em sua empreitada, no segundo sua ação é abusiva e, por isso, deverá responder pelo excesso.”36 CUNHA, Rogério Sanches;PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. 2011, p. 113. 
	Deste modo, o parágrafo primeiro do artigo 13 da Lei 12.850/13, afirma que não é punível a prática de crime pelo agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa, sendo este parágrafo devidamente ilustrado em linhas anteriores. 
	Cabe salientar, por fim, que o agente infiltrado possui uma série de direitos, sendo estes apresentados no artigo 14 da referida Lei, dentre eles, o agente pode se recusar ou fazer cessar a atuação infiltrada, o que é natural em se tratando da condição em que o agente irá atuar.
2.3.1.4 Do acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações
	Outra ferramenta de grande valia que teve sua extensão ampliada em se tratando de crime organizado foi justamente o acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações.
	Em seu artigo 15, a Lei 12.850/2013 deixa claro que o delegado de Polícia e o Ministério Público terão acesso, independentemente de autorização judicial, apenas aos dados cadastrais do investigado que informem exclusivamente a qualificação pessoal, filiação e endereço, mantidos pela Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito. É de se observar que as informações prestadas devem se restringir única e exclusivamente aos dados cadastrais. Neste sentido:
Isso porque o mero acesso a dados cadastrais não implica em quebra de sigilo pessoal, quer de ordem fiscal, quer mesmo de comunicação. Avançar, porém, da mera informação cadastral para atingir dados protegidos pelo sigilo importaria na necessidade de prévia autorização judicial, sob pena de configurar evidente inconstitucionalidade, dada à notória ilicitude da prova, por violação ao postulado do inc. XII, do art. 5o da CF.37 CUNHA, Rogério Sanches;PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. p. 122. 
	Salientamos que anteriormente, o entendimento predominante tendia no sentido de que o acesso à informações - inclusive informações meramente cadastrais, tais como qualificação pessoal, endereço, telefone, entre outros - estaria abarcada pela garantia constitucional do art. 5º, XII”38 DA ROSA, Emanuel Motta. A lei 12.850/13 e a repressão ao crime organizado. 2014. Disponível em: <http://emanuelmotta.jusbrasil.com.br/artigos/121943614/a-lei-12850-2013-e-a-repressao-ao-crime-organizado> Acesso em: 10 abr 2015. , ou seja, estas informações estariam protegidas por dispositivo constitucional e, por isso, vinculadas necessariamente a uma decisão judicial. Entende-se, portanto, que na tentativa de ampliar os efeitos destas ferramentas investigativas, o legislador entendeu por não reconhecer estes dados como sendo protegidos pela Constituição Federal, facilitando a atuação dos agentes envolvidos na investigação e repressão ao crime organizado. 
	Diferente dispositivo que merece destaque é o artigo 16 da mesma lei, que determina que as empresas de transporte deverão possibilitar, pelo prazo de cinco anos, acesso direto e permanentedo juiz, do Ministério Público ou do delegado de polícia aos bancos de dados de reservas e registros de viagens. “No compasso do dispositivo anterior, interessam às investigações criminais as movimentações físicas dos agentes criminosos suspeitos investigados.”39 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Combate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013, p. 88. Também as empresas de telefonia fixa ou móvel manterão, pelo prazo de 5 anos à disposição das mesmas autoridades, registros de identificação de números dos terminais de origem e destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais, conforme preceitua o artigo 16. Resta esclarecer:
Esses, os números pesquisados, - números de origem e destino das ligações, também se incluem em dados cadastrais, já que não atingem o sigilo do teor das conversas, que são, esses sim por princípio, da intimidade da pessoa física. A mera chamada para outro número é apenas indício ou um elemento de prova, que pode se converter em parte de um contexto probatório (sentido amplo).40 Idem. Ibidem. (grifo do autor)
	Deste modo, conclui-se que o acesso a meros dados, registros e informações pela autoridade policial, Juiz ou Ministério Público não carece de autorização, muito embora o que diga respeito a sigilo bancário ou comunicações telefônicas, por exemplo, prescinde de autorização, conforme disciplinado em leis específicas.
2.3.1.5 Da interceptação de comunicações telefônicas ou telemáticas e do afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos das legislações específicas
	Em que pese a lei 12.850/13 não tenha reservado capítulo específico para tratar da interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas e tampouco do afastamento do sigilo financeiro, bancário e fiscal, nos cabe tecer alguns comentários, tendo em vista que se tratam de meios de obtenção de prova bastante eficazes. É de se esclarecer que a Lei em comento não adentrou neste mérito, tendo em vista estes meios de repressão possuírem legislação específica. 
	No que tange às interceptações telefônicas e telemáticas, há que se falar que a sua disciplina consta na Lei 9.296/1996. De início frisa-se que o sigilo das comunicações telefônicas é protegido pela nossa Carta Magna, em seu artigo quinto, inciso XII, que prevê, in verbis: “é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.” “O direito à intimidade, que foi tão cuidadosamente preservado pelo constituinte, cede, porém, a outros interesses. De tal sorte que, no cotejo entre o interesse privado e o interesse público, se admite a quebra do sigilo, conforme ressalva formulada pela própria Constituição.”41 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. 2011, p. 29. Deste modo, em caráter excepcional, a medida pode ser decretada, se deferida pela Autoridade judicial competente. 
	Deve ser apontada a razoabilidade da medida para que se conceda a quebra do sigilo telefônico e telemático, isto é, devem ser apresentados pela autoridade representante ao menos indícios suficientes de materialidade e autoria. Neste sentido, Cunha e Pinto:
Exige a Lei, ainda a indicar a excepcionalidade da medida, que se demonstre a imprescindibilidade da interceptação telefônica, ou seja, que o fim colimado não possa ser obtido senão por aquele meio de prova. Se, por exemplo, a oitiva de testemunhas é suficiente para a comprovação de determinado fato, não há porque se determinar, em acréscimo, a quebra de sigilo telefônico.42 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. 2011,, p. 30. 
	Sabendo-se da dificuldade de encontrar provas contra os membros do crime organizado, a interceptação telefônica mostra-se muitas vezes como o único meio possível de prova contra tais organizações. A lei 9.296/1996 apresenta os requisitos e o procedimento para que se autorize a interceptação telefônica e telemática, que serve de meio estritamente útil para que se alcance o cerne probatório das organizações criminosas.
	De outra banda, o sigilo bancário, em decorrência do princípio da inviolabilidade, também preexistente na Constituição Federal, é assegurado, e somente pode ser quebrado mediante autorização judicial.
	A legislação infraconstitucional protege o sigilo bancário, sendo previsto na Lei Complementar n. 105/2001, que aduz em seu artigo primeiro, in verbis: “as instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços prestados.”, do mesmo modo, merecem tutela os sigilos fiscal e financeiro, protegidos pelo Código Tributário Nacional. “A quebra, portanto, dessas espécies de sigilo, além de importarem em exceção à regra geral, somente podem ser decretadas por ordem judicial, em questão sobre a qual não perdura nenhuma dúvida e cuja menção na lei em exame, a rigor, nem mesmo seria necessária.”43 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. 2011, p. 32. 
	Ocorre que a atuação de organizações criminosas, como já visto anteriormente, busca gerar lucros inimagináveis, e os vultosos ganhos ilícitos acabam por desaguar em diversas contas bancárias e aplicações financeiras geralmente localizadas em “paraísos fiscais”. No curso da atividade estatal de apuração das infrações penais, em não raras hipóteses, o sigilo financeiro apresenta-se como insuperável obstáculo ao sucesso da instrução processual penal. 
	Desta maneira, observa-se que a lei 12.850/2013 teve êxito ao prever a possibilidade da quebra tanto do sigilo bancário e fiscal, quanto do sigilo telefônico, tendo em vista que as organizações criminosas buscam lucros, e necessitam de tal modo dos meios de comunicação para continuar em funcionamento. Vê-se, então, a necessidade do agente público, quando vislumbrados indícios suficientes de materialidade e autoria, poder intervir e buscar o rompimento das barreiras da intimidade e da inviolabilidade, contribuindo assim para o desbarate das organizações criminosas.
2.3.1.6 Dos crimes ocorridos na investigação e na obtenção de prova
	A lei 12.850/2013 trouxe quatro novos crimes para o ordenamento jurídico pátrio, que merecem destaque. Na seção V da referida lei, ela estabelece sanções penais àqueles que cometerem determinados crimes durante a investigação e obtenção de prova.
	No caso do artigo 18, ficou estabelecido que haverá pena de reclusão de um a três anos e multa para aqueles que revelarem a identidade do colaborador no caso da colaboração premiada, incluindo fotografia e filmagem sem a prévia autorização deste. O artigo 5º, II da mesma Lei assegura ao agente colaborador o sigilo quanto ao seu nome, imagem e demais informações pessoais. O inciso V, determina como direito do colaborador não ter sua identidade revelada por meios de comunicação. Entende-se que “a finalidade de tais segredos não é apenas garantir a eficácia do meio de obtenção de prova, mas também a intimidade (segurança, incolumidade) do colaborador, interesse tutelado pelo artigo em comento.”44 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. 2011, p. 131. 
	O crime definido pelo artigo 18 da Lei 12.850/2013 é comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa e figuram como vítimas o Estado e o agente colaborador. Pune-se apenas a forma dolosa da conduta, sendo possível a configuração do dolo eventual. Admite-se a tentativa.
	De outra banda, o artigo 19 da mesma lei, impõe a pena de um a quatro anos de reclusão , mais multa, àqueles que imputarem falsamente, sob o pretexto de colaboração, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente,ou revelar informações sobre a organização criminosa que sabe ser inverídicas. Pois, “dessa maneira, pode-se entender que o sujeito estaria embaraçando investigação de infração penal que envolvesse organização criminosa.”45 DA COSTA, Thalison Clóvis Ribeiro. Criminalidade Organizada. In: Jus Navigandi. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/27821/criminalidade-organizada> Acesso em: 10 abr 2015. 
	Cabe salientar que este delito diferencia-se da denunciação caluniosa, prevista no artigo 339 do Código Penal, pois o crime da Lei 12.850/13 diz respeito à prática pelo agente colaborador e, diferentemente o artigo do Código Penal, dispensa que da falsa imputação ocorra a instauração de procedimento oficial em face do inocente. 
	Pune-se a conduta dolosa, apenas, e “é indispensável que, na primeira condita, o sujeito ativo tenha consciência de que a imputação é falsa, ou seja, que o imputado é inocente da acusação que lhe faz.”46 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. 2011 p. 133. O mesmo ocorre no caso da segunda parte do artigo, ou seja, o agente deve saber que as informações reveladas sobre o funcionamento da organização criminosa são inverídicas. De outra banda, “se o agente colaborador, imbuído de boa-fé, está convencido da veracidade da imputação ou das revelações, não responde pelo crime, havendo, no caso, um erro de tipo essencial, excluindo sempre, seja evitável ou inevitável, o dolo.”47 Idem, Ibidem. 
	Nesta esteira, no artigo 20 desta lei, pune-se com pena de reclusão de um a quatro anos e multa o descumprimento de determinação de sigilo nas investigações que envolvam a ação controlada e a infiltração de agentes. Este dispositivo tem o objetivo de garantir que seja cumprida a determinação visando garantir o êxito na investigação, sem falar da necessidade de preservar o agente que se infiltrou em uma organização criminosa. Nos dizeres de Mendroni:
Trata-se de imposição de sanção àqueles que, por dever de ofício, devam manter sob sigilo e proteção dos dados de ação controlada, de infiltração de agentes e seus dados. Embora entendamos que os funcionários de cartórios judiciais, do Ministério Público e da Polícia não devam ter acesso aos dados do pedido e do agente infiltrado, entretanto, se isso acontecer, o dever de sigilo lhes alcança, devendo mantê-lo de forma incondicional, sob as penas de responsabilização penal, prevista neste artigo.48 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Combate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013, p. 90. 
	O crime pode se dar por ação ou omissão. Serão punidos aqueles que revelarem o segredo, ou apenas permitirem que terceiros não autorizados tenham acesso aos dados. “Havendo justa causa para a revelação, pode excluir a ilicitude do fato.”49 Idem. Ibidem, p. 91. 
	A lei inovou o ordenamento jurídico, também, ao punir com reclusão de seis meses a dois anos e multa, aqueles que recusarem a emitir dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitadas pelo Juiz, Delegado ou membro do Ministério Público no curso da investigação ou do processo, devendo incorrer nas mesmas penas quem, de forma indevida, se apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que trata a Lei. “O que busca assegurar no presente artigo incriminador é o regular cumprimento das requisições emanadas do juiz, órgão do Ministério Público ou delegado de Polícia, que agem em nome do Estado na repressão ao crime organizado.”50 CUNHA, Rogério Sanches; PINTO, Ronaldo Batista. Crime Organizado: Comentários à nova Lei sobre o crime organizado. 2ª ed. São Paulo: JusPodium. 2011, p. 137. 
	Cumpre ressaltar que, como garantia constitucional, não existe crime quando a negativa de permitir o acesso aos dados configure a não produção de prova contra si mesmo, devido ao direito ao silêncio. O crime se consuma com a recusa ou omissão e trata-se de crime omissivo próprio.
	Conforme estabelece o parágrafo único, também incide na tipificação legal criminal a pessoa que se apossar indevidamente, propalar, divulgar ou fizer uso de dados cadastrais. Estes são apenas acessíveis às autoridades incumbidas das tarefas legais, no âmbito de exercício de suas funções. “Seria abusar e extrapolar do uso de funções legais divulgar livremente dados, ainda que meramente cadastrais, de pessoas que não o desejem. São dados que pertencem à intimidade das pessoas.”51 MENDRONI, Marcelo Batlouni. Comentários à Lei de Combate ao Crime Organizado. São Paulo: Atlas. 2013, p. 91. 
ponderado para valer os sacrifícios que seguirão após a colaboração prestada.”52 Idem. Ibidem. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	À título de arremate, cabe-nos concluir que as organizações criminosas são estruturas complexas, hierarquizadas e estruturadas, que se distanciam das demais associações ilícitas e necessitam de uma estruturação equivalente em se tratando dos meios de prevenção e repressão que o Estado pode usufruir. 
	Os meios de obtenção de prova trazidos à baila através da Lei n. 12.850/2013, receberam um tratamento adequado na legislação pertinente, afastando as lacunas existentes nas leis anteriores e estabelecendo melhores condições de atuação dos órgãos de persecução penal, tendo em vista que havia evidente desproporcionalidade no que diz respeito à ação do crime organizado em detrimento da atuação dos responsáveis pelo seu combate. 
	Cabe-nos esclarecer que a ideia que cercou o presente trabalho foi justamente navegar através da Lei n. 12.850/13 e demonstrar quais são os meios de obtenção de prova em face ao crime organizado, defendendo a delação premiada como meio mais eficaz em se tratando de política criminal. 
	Conforme Nucci, delação premiada “é a denúncia que tem como objeto narrar às autoridades o cometimento do delito e, quando existente, os co-autores e partícipes, com ou sem resultado concreto, conforme o caso, recebendo, em troca, do Estado, um benefício qualquer, consistente em diminuição de pena ou, até mesmo, em perdão judicial”.53 NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal comentado. 8ª ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 433. Essa denúncia, para se considerar delação premiada, é feita por um dos membros da organização que já foi capturado, facilitando a ação dos órgãos de combate e a posterior investigação.
	Deste modo, e atentando-se ao papel que pode desempenhar em uma investigação desta espécie, o legislador não tratou somente de descrever o procedimento a ser adotado, mas cuidou de dispor acerca de todos os benefícios que o colaborador pode vir a obter, bem como das medidas de proteção com que poderá contar durante toda a persecução penal.
	Neste sentido, a colaboração premiada voltada à investigação de crimes organizados, regulada através da recente Lei, é medida extraordinária de persecução a esta espécie de criminalidade, que impõe ao Estado a necessidade de aprimoramento de suas técnicas investigativas, sob pena de não dar conta da realidade que a demanda.
	Da leitura dos dispositivos trazidos pela nova Lei, depreende-se a ânsia do legislador em compensar sua omissão legislativa anterior. Nota-se o esforço da lei em conciliar, de um lado, o interesse estatal e da sociedade em desmantelar as organizações criminosas, bem como desvelar seus membros, e, por outro lado, a garantia do indivíduo, tendo em vista que a partir deste ponto, ele será visto como traidor, podendo sofrer represálias.
	Claramente o Estado abre mão de parte de seu poder punitivo ao aceitar negociar a própria culpabilidade e punibilidade daquele sujeito que, embora tenha cometido crimes e, inclusive, os confessado, presta-se a colaborar com a persecução penal, de maneira a fazer jus a benefícios quando de seu apenamento, se o processo chegar a esta etapa em relação à sua pessoa.
	Com efeito, trata-se de uma nítida negociação entre Estado e criminoso, porém admite-se em prol de um objetivo “de força maior”, qual seja: o controle da criminalidade organizada. Assim, esta verdadeiratroca de favores, que é a colaboração premiada, mostra-se plenamente válida e legítima, tendo em vista ser medida que se mostra eficaz no âmbito da investigação de grupos criminosos cuja complexidade alcança tal patamar que constitui óbice intransponível se utilizados meios ordinários de investigação.
	É possível dizer, em suma, que após um longo período de obscuridade acerca do tratamento dispensado ao crime organizado devido às legislações omissas, o ordenamento jurídico brasileiro e, sobretudo, a política criminal do país possui condições de enfrentar a criminalidade organizada de maneira, no mínimo, decente. A delação premiada é, então, um mal necessário, pois que, como já colocado, apesar de o Estado renunciar à parcela de sua face punitiva, o faz em prol de bens maiores a serem tutelados que, em última instância, convergem para o próprio Estado Democrático de Direito.
	
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