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Livro de Revisão 2 Filosofia Fernanda Tavares Paulino ©Editora Positivo Ltda., 2017 Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio, sem autorização da Editora. Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil) P328 Paulino, Fernanda Tavares. Filosofia : livro de revisão / Fernanda Tavares Paulino – Curitiba : Positivo, 2017. v. 2 : il. ISBN 978-85-467-1708-8 (aluno) ISBN 978-85-467-1697-5 (professor) 1. Ensino médio. 2. Filosofia – Estudo e ensino. I. Título. CDD 373.33 Livro do ProfessorLivro do Professor Ensino Médio 1. Ética: da Antiguidade à Modernidade Ética é a área da Filosofia responsável pelo estudo dos princípios que norteiam a moral. Ela promove a reflexão crítica sobre normas, virtudes e valores que orientam as atitudes e a convivência humanas. Faz parte das discussões promovidas no campo da Ética a busca pela definição de conceitos como certo e errado, bem e mal, justiça e injustiça, entre outros, que dizem respeito à conduta individual e também à atuação pública das pessoas. Virtude, bem, justiça e autocontrole No século V a.C., Sócrates afirmava que a essência humana era racional e que o ser humano deveria agir conforme as virtudes, buscando o bem. Platão, por sua vez, concordava com Sócrates sobre a natureza racional do ser humano. Ele afirmava que as paixões deveriam ser submetidas à razão e dividia a alma humana em três dimensões: • concupiscível – responsável pelos desejos do corpo; • irascível – responsável pela autopreservação; • racional – superior às anteriores e responsável pelo controle de ambas. Além disso, Platão atribuía à alma racional quatro capacidades, denominadas virtudes cardeais. São elas: temperança, prudência, justiça e coragem. Eudaimonia e mediania No século IV a.C., Aristóteles defendia a tese de que a virtude era adquirida por meio do hábito de praticar ações virtuosas. Estas, por sua vez, caracterizavam-se pela mediania, ou seja, pelo meio-termo entre o excesso e a falta. De acordo com o pensamento aristotélico, a vida ética, pautada pela busca da virtude e pelo exercício da razão, tinha como finalidade conquistar a eudaimonia, ou seja, a felicidade, considerada o sumo bem, desejável por si mesma, e não como um meio para alcançar outros bens. Autarquia e ataraxia ou apatia No período helenístico, diversas correntes filosóficas ocuparam-se da Ética. Entre elas, o cinismo, fundado por Antístenes e que teve Diógenes com um de seus principais representantes. Para os cínicos, o maior objetivo do ser humano era a felicidade, possibilitada por uma vida simples, sem apegos e orientada pelas virtudes. Consideravam o domínio de si, ou autarquia, uma virtude a ser conquistada por meio da apatia, a capacidade de manter-se imperturbável diante das circunstâncias. Os estoicos, por sua vez, acreditavam que a sabedoria era proveniente da harmonia do ser humano com a ordem divina do mundo. Para eles, a natureza humana era constituída pela razão e pelas paixões, e estas deveriam ser controladas pela razão, em busca de um estado de apatia, mesmo diante do sofrimento. Já os epicuristas defendiam a busca do prazer e o afastamento das dores e dos sofrimentos. Entendiam o prazer como ausência de dores no corpo (aponia) e de perturbações na alma (ataraxia). Para eles, a felicidade era uma realização racio- nal possível a todos. Além disso, a filosofia poderia garantir a tranquilidade do indivíduo por meio de três princípios: • sensacionismo – sensação como critério de verdade e bem; • atomismo – tudo se forma e se transforma pela união ou separação de átomos; • semiateísmo – os deuses existem, mas não interferem no mundo. © Sh ut te rs to ck /H om eS tu di o Na ética socrático-platônica, deve-se agir de acordo com as ideias de bem e justiça. A ética aristotélica destaca a importância de agir com mediania. 2 Livro de Revisão 2 Filosofia Vontade, livre-arbítrio e graça Na Idade Média, durante a patrística, Agostinho de Hipona converteu-se ao cristianismo, considerando Deus como o ser perfeito, sumamente bom e criador de todas as coisas. Sendo assim, o filósofo refletiu sobre a origem do mal, julgando que este não poderia ser obra divina. Con- cluiu que sua origem estava nas escolhas humanas e que o mal resultava de um desvio da vontade em relação ao bem. Segundo Agostinho, Deus concedeu aos seres humanos o livre-arbítrio, ou seja, a liberdade de escolher suas ações em busca do bem. Porém, o mau uso do livre-arbítrio levou- -os ao pecado, como exemplifica o pecado original come- tido por Adão e Eva. Nessa condição, os seres humanos passaram a necessitar da graça divina para se redimirem. Porém, Deus, em sua bondade infinita, poderia conceder- -lhes a graça, como meio de salvação. Afinal, a graça direcio- naria a vontade corrompida para o verdadeiro bem. Beatitude Principal representante da escolástica, Tomás de Aquino acreditava que não era possível aos seres humanos se sen- tirem plenamente realizados e felizes na vida terrena, em razão de sua finitude. Nessa condição, eles seriam movidos por inquietações, mas poderiam, e deveriam, viver de acordo com a virtude, em busca da beatitude, a felicidade tranquila e duradoura, decorrente da contemplação de Deus. Moral provisória No século XVII, René Descartes afirmou que, apesar de necessárias para a autopreservação humana, as paixões deveriam ser controladas pela razão, na busca pelo conhe- cimento. Ele se dedicou à elaboração de um método capaz de conduzir a um conhecimento seguro. Acreditava que, uma vez alcançado, esse conhecimento poderia orien- tar uma moral definitiva, fundada na razão. Antes disso, porém, os seres humanos precisariam de alguma referên- cia para decidir entre o bem e o mal na hora de agir. Sendo assim, Descartes propôs uma moral provisória constituída por quatro regras: obedecer às leis e aos costumes; ser firme e decidido nas ações; vencer a si mesmo; cultivar a razão para alcançar o verdadeiro conhecimento, por meio do método cartesiano. Conatus e paixões Para o filósofo do século XVII Baruch Espinosa, as pai- xões humanas eram impulsos naturais e, portanto, não deveriam ser consideradas boas ou más. Ao abordar essa temática, ele citava a alegria, a tristeza e o desejo como sendo as paixões originais, responsáveis pelo surgimento de todas as outras. Afirmava ainda que as paixões alegres aumentavam e as paixões tristes diminuíam o conatus, ou seja, a capacidade humana de ser, agir e se preservar. Na ética de Espinosa, o vício era definido como a fraqueza de quem se deixa governar por causas externas, e a virtude, como a força de quem age conforme a razão, sendo a causa interna de suas próprias ações. Sentimento moral No século XVIII, Jean-Jacques Rousseau afirmou que o sentimento, e não a razão, levaria os indivíduos a ter consciência de sua liberdade e também de sua unidade com a natureza e com os outros seres humanos. Ele des- creveu um estado humano hipotético, anterior à civiliza- ção, marcado pela presença de dois sentimentos naturais: o amor-próprio, responsável pela autopreservação dos indivíduos, e a compaixão, ou seja, a preocupação com o sofrimento alheio. Ainda no século XVIII, influenciado por esse pensa- mento, David Hume defendeu a tese de que o agir humano é comandado pelos sentimentos, e não pela razão. Para ele, a avaliação moral das atitudes, assim como a distin- ção entre vícios e virtudes, fundamentava-se na ausência ou na presença dos sentimentos de desaprovação e culpa ligados a cada ação. Descartes comparou a moral provisória com uma moradia temporária, a ser ocupada durante a construção da definitiva. © Sh ut te rs to ck /L M sp en ce r 3 1. (UEL – PR) “– Mas a cidade pareceu-nos justa, quando existiam dentro dela três espécies de naturezas, que executavam cada uma a tarefa que lhe era própria; e, por sua vez, temperante, corajosa esábia, devido a outras disposições e qualidades dessas mesmas espécies. – É verdade. – Logo, meu amigo, entenderemos que o indivíduo, que tiver na sua alma estas mesmas espécies, merece bem, devido a essas mesmas qualidades, ser tratado pelos mesmos nomes que a cidade”. PLATÃO. A República. Trad. de Maria Helena da Rocha Pereira. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1993. p. 190. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a justiça em Platão, é correto afirmar: a) As pessoas justas agem movidas por interesses ou por benefícios pessoais, havendo a possibilidade de ficarem invisíveis aos olhos dos outros. b) A justiça consiste em dar a cada indivíduo aquilo que lhe é de direito, conforme o princípio universal de igualdade entre todos os seres humanos, homens e mulheres. c) A verdadeira justiça corresponde ao poder do mais forte, o qual, quando ocupa cargos políticos, faz as leis de acordo com os seus interesses e pune a quem lhe desobedece. X d) A justiça deve ser vista como uma virtude que tem sua origem na alma, isto é, deve habitar o interior do homem, sendo independente das circunstâncias externas. e) Ser justo equivale a pagar dívidas contraídas e res- tituir aos demais aquilo que se tomou emprestado, atitudes que garantem uma velhice feliz. 2. (UEM – PR) “[...] quanto à excelência moral, ela é o produto do hábito. [...] É evidente, portanto, que nenhuma das várias formas de excelência moral se constitui em nós por natureza, pois nada que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito. [...] Portanto, nem por natureza nem contrariamente à natureza a excelência moral é engendrada em nós, mas a natureza nos dá a capacidade de recebê-la, e esta capacidade se aperfeiçoa com o hábito”. ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco. In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 53. A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) Segundo Aristóteles, alguém que nasce com falta de moralidade não poderá alterar essa condição de sua personalidade. X 02) Segundo Aristóteles, o hábito significa a repetição de ações morais, com vista a seu aperfeiçoamento. 04) Segundo Aristóteles, as pessoas já nascem com excelências morais, isso é algo inato. X 08) Segundo Aristóteles, a excelência moral é algo que os indivíduos podem ou não adquirir. X 16) Segundo Aristóteles, todos os seres humanos pos- suem a capacidade de se aperfeiçoar moralmente. Somatório: 26 (02 + 08 + 16) 3. (UEM – PR) “A virtude é, pois, uma disposição de caráter relacionada com a escolha e consistente numa mediania, isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. E é um meio-termo entre dois vícios, um por excesso e outro por falta; pois que, enquanto os vícios ou vão muito longe ou ficam aquém do que é conveniente no tocante às ações e paixões, a virtude encontra e escolhe o meio-termo.” ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, Livro II, cap. 6. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 73. A partir do trecho citado, assinale o que for correto. X 01) A virtude é uma disposição decorrente de um racio- cínio que busca um agir equilibrado ou moderado. X 02) Os vícios são disposições que fogem à moderação, seja porque não atingem esse equilíbrio, seja porque o ultrapassam. X 04) O meio-termo da ação virtuosa não é uma regra única e absoluta, mas deve ser considerada em rela- ção ao indivíduo que age, por isso é uma mediania e não uma média. 4 Livro de Revisão 2 Filosofia X 08) A coragem é uma ação virtuosa que está a meio- -termo entre os vícios da covardia e do destemor. 16) O meio-termo da ação virtuosa implica a conces- são de algo e impede que o agente defenda, com contundência, seu ponto de vista. Somatório: 15 (01 + 02 + 04 + 08) 4. (UFU – MG) Uma parte importante da doutrina de Aristóteles sobre a ética foi registrada em seu livro Ética Nicomaqueia. Nele, encontra-se o seguinte trecho: Com relação ao temor, ao ardor, ao desejo, à ira, à piedade e, em geral, ao gozo e à dor, há um excesso e uma falta, e ambos não são bons; mas se experimentamos aquelas paixões [...] com a finalidade e do modo como se deve, então estaremos no meio e na excelência, que são próprios da virtude [...]. Portanto, a virtude é certa mediania, que tem por escopo o justo meio. Aristóteles, Ética Nicomaqueia, B 6, 1106 b. p. 18-28. Com base no texto citado e em seus conhecimentos, responda: a) Em que consiste a virtude, de acordo com Aristóteles? A virtude aristotélica consiste no justo meio entre o excesso e a falta, em relação a sentimentos, paixões e ações. Trata-se da mediania entre dois extremos, considerados vícios. Sendo assim, Aristóteles define a virtude da coragem como o justo meio entre os vícios da temeridade e da covardia; a virtude da justiça como o justo meio entre a desigualdade por ganho (praticar injustiça) e a desigualdade por perda (sofrer injustiça). b) Segundo Aristóteles, qual é o papel da prudência na busca pelo justo meio do qual se fala a propósito da virtude ética? A prudência é a disposição prática do indivíduo para orientar sua vida corretamente. Ela permite deliberar sobre o que é o bem ou o mal, em qualquer circunstância de sua existência no mundo. A prudência é, portanto, a condição necessária para a escolha do justo meio e, consequentemente, para agir de acordo com a virtude. 5. Considerando os conceitos de autarquia, ataraxia e apatia, empregados por cínicos e estoicos, indique com V as definições verdadeiras e com F as falsas. ( F ) Autarquia significa uma atitude de desprezo pelos demais indivíduos, em busca do próprio bem. ( F ) Ataraxia é a condição de quem se afeta apenas pelo prazer, não se deixando perturbar por qualquer tipo de sofrimento. ( V ) Apatia é a ausência de paixões e perturbações pe- rante as circunstâncias, sejam elas agradáveis ou desagradáveis. ( F ) A autarquia, ou autossuficiência, é incompatível com a condição do sábio. ( V ) A ataraxia e a apatia correspondem à condição de quem se mantém imperturbável. 6. (UEM – PR) “O prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos com o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor. Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.” (EPICURO. Carta sobre a felicidade. In: ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 2009. p. 251). A partir desta citação de Epicuro, assinale o que for correto. X 01) Felicidade e infelicidade são estabelecidas pelos efeitos do prazer e da dor. X 02) O sentimento de prazer é inato à natureza humana. 04) Epicuro defende o prazer sem medidas. 08) O prazer corporal é um mal causado pelo pecado original. X 16) O hedonismo de Epicuro não é imediatista, mas moderado. Somatório: 19 (01 + 02 + 16) 5 7. (UFF – RJ) Filosofia O mundo me condena, e ninguém tem pena Falando sempre mal do meu nome Deixando de saber se eu vou morrer de sede Ou se vou morrer de fome Mas a filosofia hoje me auxilia A viver indiferente assim Nesta prontidão sem fim Vou fingindo que sou rico Pra ninguém zombar de mim Não me incomodo que você me diga Que a sociedade é minha inimiga Pois cantando neste mundo Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo Quanto a você da aristocracia Que tem dinheiro, mas não compra alegria Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente Que cultiva hipocrisia Noel Rosa Assinale a sentença do filósofo grego Epicurocujo sig- nificado é o mais próximo da letra da canção “Filosofia”, composta em 1933 por Noel Rosa, em parceria com André Filho. a) É verdadeiro tanto o que vemos com os olhos como aquilo que apreendemos pela intuição mental. X b) Para sermos felizes, o essencial é o que se passa em nosso interior, pois é deste que nós somos donos. c) Para se explicar os fenômenos naturais, não se deve recorrer nunca à divindade, mas se deve deixá-la livre de todo encargo, em sua completa felicidade. d) As leis existem para os sábios, não para impedir que cometam injustiças, mas para impedir que as sofram. e) A natureza é a mesma para todos os seres, por isso ela não fez os seres humanos nobres ou ignóbeis, e, sim, suas intenções e ações. 8. (UEM – PR) “Vi claramente que todas as coisas boas podem, entretanto, se corromper, e não se poderiam corromper se fossem sumamente boas, nem tampouco se não fossem boas. Se fossem absolutamente boas seriam incorruptíveis, e se não houvesse nada de bom nelas, não poderiam se corromper. [...] Portanto, todas as coisas que existem são boas, e o Mal que eu procurava não é uma substância, pois se fosse substância seria um bem. Na verdade, ou seria uma substância incorruptível e então seria um grande bem, ou seria corruptível e, neste caso, a menos que fosse boa, não poderia se corromper. Percebi, portanto, e isto pareceu-me evidente, que criastes todas as coisas boas e não existe nenhuma substância que Vós [Deus] não criastes.” AGOSTINHO. O problema do mal. In: MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Ed. Zahar, 2007. p. 63. A partir do exposto, assinale o que for correto. X 01) Em todas as coisas existe algum bem. 02) Se tudo que existe foi Deus quem criou e o mal existe, logo Deus criou coisas más. 04) O mal existe no mundo e é um algo, uma substância. X 08) Mal e bem, para Agostinho, não são juízos que os homens emitem sobre as coisas. X 16) Para Agostinho, é impossível que Deus criasse algo que não fosse bom. Somatório: 25 (01 + 08 + 16) 9. Considerando a ética de Tomás de Aquino, explique o conceito de beatitude e apresente as razões pelas quais ela não pode ser atingida plenamente na vida terrena. Na ética tomista, a beatitude é definida como a felicidade tranquila e eterna, decorrente da contemplação de Deus. Nesse contexto, a verdadeira e perfeita beatitude pressupõe a ausência do mal e a visão da essência divina, o que a torna impossível na vida terrena, marcada pela finitude (morte) e pelas inquietações humanas. Porém, Tomás de Aquino acreditava que ela poderia ser experimentada, em certa medida, por aqueles que vivessem de acordo com a virtude, aproximando-se de Deus. 6 Livro de Revisão 2 Filosofia 10. (UFF – RJ) Descartes tinha plena consciência do seu papel inovador na filosofia e na ciência. No Discurso sobre o Método ele diz “Percebi que era necessário, no curso de minha vida, destruir tudo integralmente e começar de novo, dos fundamentos, se era meu desejo estabe- lecer nas ciências qualquer coisa de permanente e com chances de durar”. Ele considerava que o coroamento da recons- trução da filosofia seria o mais perfeito e defi- nitivo sistema moral. Mas, até que alcançasse o conhecimento completo de todas as ciências, era preciso contentar-se com o que ele denominou de “moral provisória”, que lhe permitisse ao menos se guiar em suas ações da vida quotidiana. A ter- ceira regra desta “moral provisória” é: “procurar sempre antes vencer a mim próprio do que à fortuna [ou destino], e de antes modificar os meus desejos do que a ordem do mundo; e, em geral, a de acostumar-me a crer que nada há que es- teja inteiramente em nosso poder, exceto os nossos pensamentos, de sorte que, depois de termos feito o melhor possível no tocante às coisas que nos são exteriores, tudo em que deixamos de nos sair bem é, em relação a nós, absolutamente impossível. E só isso me parecia suficiente para impedir-me, no futu- ro, de desejar algo que eu não pudesse adquirir, e, assim, para me tornar contente”. Comente esta concepção e discorra sobre seu signifi- cado no mundo contemporâneo. A questão permite diferentes interpretações do texto e de suas relações com a atualidade, sendo a argumentação coerente o aspecto de maior relevância na resposta. É possível abordar, por exemplo, as ideias de moral provisória e moral definitiva, refletindo sobre a tendência, ou não, do mundo contemporâneo em buscar um sistema moral definitivo, diante da pluralidade e das mudanças de comportamento que se evidenciam. Pode-se optar ainda por uma reflexão sobre as condições e os obstáculos atuais para mudar a si mesmo ou a ordem do mundo, considerando as influências do meio e as possibilidades de participação social dos indivíduos. 11. (UFPA) No contexto da cultura ocidental e na história do pensamento político e filosófico, as considerações sobre a necessidade de valores morais prévios na organização do Estado e das instituições sociais sempre foram um tema fundamental devido à importância, para esse tipo de questão, dos conceitos de bem e de mal, indispensáveis à vida em comum. Diante desse fato da história do pensamento político e filosófico, a afirmação de Espinosa, segundo a qual “Se os homens nascessem livres, não formariam nenhum conceito de bem e de mal, enquanto permanecessem livres” (ESPINOSA, 1983, p. 264), quer dizer o seguinte: a) O homem é, por instinto, moralmente livre, fato que condiciona sua ideia de ética social. b) Assim como o indivíduo é anterior à sociedade, a liberdade moral antecede noções como bem e mal. c) Os valores morais que servem de base para nossa socialização são tão naturais quanto nossos direitos. X d) Não poderíamos falar de bem e de mal se não nos colocássemos além da liberdade natural. e) Não há nenhum vínculo necessário entre viver livre e saber o que são bem e mal. 12. Para Jean-Jacques Rousseau, “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. Assinale a assertiva que está de acordo com a visão de Rousseau sobre o sentimento moral, característico do ser humano em seu estado de natureza, anterior à civilização. a) O homem é lobo do próprio homem. b) O ser humano é naturalmente dotado de apatia. c) O egoísmo é o sentimento natural dos seres humanos. X d) Os sentimentos naturais do ser humano são amor- -próprio e compaixão. 13. David Hume defendeu a tese de que a moralidade provém do sentimento, e não da razão. Assinale a alternativa que está de acordo com o pensamento dele sobre a moral. a) O sentimento moral, denominado conatus, pode ser alegre ou triste. b) A virtude consiste na apatia, a ausência de emoções positivas ou negativas. X c) O sentimento de culpa indica que uma ação é imoral. d) A ação moral é definida pelo hábito, a prática cons- tante das virtudes. 7 2. Ética: da Modernidade à atualidade Da Modernidade ao pensamento contemporâneo, a Ética incorporou novos conceitos e problemas relacionados à moral. Houve também críticas ao caráter absoluto da moral e à criação de um ramo específico de estudos para tratar de questões polêmicas, relativas à vida: a Bioética. Dever e lei moral: imperativo categórico No século XVIII, Immanuel Kant afirmou que a moralidade deveria se orientar por princípios universais, que serviriam de referência para as ações de qualquer indivíduo, em qualquer circunstância. Ele julgava a razão fundamental para a escolha do agir correto, por motivar o indivíduo com base em causas internas. Já as ações movidas por inclinações externas, como paixões, impulsos, apetites e fúrias, eram por ele consideradas irracionais e, portanto, não morais. Para Kant, o dever era o fundamento da ação moral. Ele destacou a existência de imperativos hipotéticos, leis obrigatórias para se atingirem determinados fins, e de imperativos categóricos, leis definidas como fins em si mesmas. Segundo o filósofo, o imperativo categórico da moralidade consistia em agirsempre de modo que sua ação possa ser universalizada e tomando o ser humano como fim, jamais como um meio para a satisfação de interesses pessoais. Utilitarismo e cálculo ético A ética utilitarista surgiu no século XVIII. Para seus representantes, a avaliação da moralidade das ações humanas deveria se basear em suas consequências práticas. Seria moral a ação que pudesse trazer a felicidade geral, ou seja, o bem-estar do maior número possível de pessoas. Logo, a infelicidade da minoria seria aceitável, desde que resultasse na felicidade geral. Sendo assim, foram propostos cálculos para mensurar os benefícios que as ações poderiam gerar. Um dos principais utilitaristas, Jeremy Bentham acreditava que a felicidade geral dependia da obediência dos cidadãos ao Estado. Por isso, propôs o pan-optismo, que consistia na construção de edifícios cuja arquitetura possibilitasse a vigilância constante dos indivíduos para inibir ações contrárias às leis e regras. Transvaloração No século XIX, Friedrich Nietzsche criticou de forma bastante severa as correntes éticas de influências racionalista e cristã. Dedicou-se a empreender uma genealogia da moral, ou seja, buscou a origem histórica dos valores morais tradi- cionalmente aceitos. Então, propôs a transvaloração, ou seja, a inversão dos valores vigentes, a fim de submeter a moral à vida e à natureza. Para Nietzsche, a força vital, impulso criador denomi- nado vontade de potência, era o único valor absoluto. Logo, de acordo com esse princípio, o filósofo defendeu o que denominou a moral dos fortes, ou seja, daqueles que agem com nobreza, excelência e força, aceitando com alegria a transitoriedade da vida. Em contraposição, Nietzsche se referiu à moral vigente como a moral dos fracos – também chamada por ele de moral de rebanho ou de escravos. Criticou-a por nivelar os seres humanos, ignorando a diferença de forças entre eles, e também por considerar que as ações devem ser movidas pelo dever e pela obediência. Descartes propôs a moral provisória, até alcançar um sistema moral definitivo. Séculos mais tarde, Nietzsche propôs a inversão dos valores da moral ocidental (transvaloração). © Cr ea tiv e Co m m on s/ Fl ic kr /A nd y Ny st ro m 8 Livro de Revisão 2 Filosofia Existencialismo O existencialismo é uma corrente filosófica do século XX que surgiu diante das incertezas de um momento his- tórico marcado por circunstâncias como a expansão do capitalismo, as grandes guerras, o holocausto, a Guerra Fria. Existencialistas cristãos e ateus refletiram sobre dife- rentes aspectos da existência humana, tais como a finitude, a liberdade, a angústia. Nesse contexto, o ser humano foi definido como um projeto inacabado, que se constrói a cada instante por meio de suas escolhas, sendo responsá- vel por elas diante de si mesmo e da humanidade. Jean-Paul Sartre Jean-Paul Sartre foi um dos principais representantes do existencialismo ateu. Ele afirmava que a “existência precede a essência”, o que equivale a dizer que somente depois de exis- tir é que o ser humano pode definir a própria essência. Ele é livre para fazer suas escolhas e definir-se como indivíduo; é um projeto aberto à possibilidade de se inventar a cada instante. No entanto, é irremediavelmente responsável por seus atos. Afinal, para Sartre, o ser humano é delimitado pela condição humana – estar no mundo, trabalhar, conviver e ser mortal –, mas está condenado a ser livre, ou seja, a construir sua própria essência por meio das escolhas que faz. Simone de Beauvoir Dedicando-se a reflexões de caráter existencialista, a filó- sofa Simone de Beauvoir problematizou a condição feminina na sociedade. Concluiu que “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Isso significa dizer que os padrões estabelecidos sobre o que define a mulher são construções culturais, que resultam em estereótipos. No entanto, a mulher não deve se sujeitar aos padrões culturais impostos a ela, mas, sim, assu- mir a liberdade de fazer suas próprias escolhas. Martin Heidegger Martin Heidegger, filósofo do século XX, não se con- siderava existencialista, mas empreendeu uma analítica existencial, ou seja, uma investigação rigorosa em busca de compreender o significado da existência humana. Afirmou que o dasein ou ser-aí (ser humano) é um projeto aberto às possibilidades, num contínuo fazer-se a si mesmo. Estando no mundo, o dasein é o único ente capaz de construir e assimilar diferentes significações do mundo. Além disso, existindo, compreende-se, assume-se e questiona a imposição de forças exteriores. No entanto, Heidegger alertou sobre a fuga do pensamento, crescente desde a Modernidade. Banalidade do mal Ainda no século XX, a pensadora alemã de origem judaica Hannah Arendt questionou o que gera situações como o genocídio ocorrido na Segunda Guerra Mundial. Ao testemunhar o julgamento de Adolf Otto Eichmann, res- ponsável pela morte de milhares de judeus em campos de concentração, observou que, em vez de um monstro, ele se mostrava um homem comum, que cumpria as ordens do Partido Nazista, sem questioná-las. A falta de reflexão e senso crítico de Eichmann inspirou a criação do conceito de bana- lidade do mal. Por meio dele, Arendt ressaltou que, ao abrir mão do pensamento crítico, ignorando as consequências de suas ações, qualquer um pode cometer atrocidades. Ética discursiva Jürgen Habermas, também alemão de origem judaica, trouxe uma nova perspectiva para a Ética racionalista, com o conceito de razão comunicativa. Assim como Kant, ele acre- ditava que o ser humano deve ser visto como um fim, e não como meio, para a satisfação de interesses pessoais. Assim, propôs uma Ética discursiva, ou seja, fundamentada no bem da coletividade e no diálogo argumentativo, capaz de ava- liar, problematizar e legitimar as ações e as normas humanas. Segundo Habermas, o diálogo, orientado pela Ética discur- siva, deve levar em conta a igualdade de todos quanto ao direito e à liberdade de se expressar e de problematizar a convicção dos outros, sem sofrer nenhuma forma de coação. Cuidado de si Michel Foucault propôs uma ética pautada pelo cuidado de si, retomando esse conceito da Antiguidade grega e o ressignificando. Segundo Foucault, o sujeito deve se dedicar constantemente à prática do cuidado de si, em busca do autoconhecimento, por meio do exame de suas atitudes e pensamentos. Nesse processo, poderá distinguir os próprios desejos e aqueles que lhe são impostos. Portanto, o cuidado de si é um modo de libertar-se das formas de dominação e alcançar o poder sobre si mesmo. 9 Direitos humanos A reflexão sobre os direitos humanos tem grande relevância na Ética contemporânea. Entre os filósofos que se dedicam a essa reflexão, encontra-se Fernando Savater. De acordo com ele, o fundamento da Ética é o amor-próprio, a busca do ser humano por conservar-se, potencializar suas capacidades e perpetuar-se, resistindo à certeza da morte e entregando-se à vida. Além disso, Savater apresenta uma visão positiva do individualismo, por considerar que a virtude é praticada individualmente. No entanto, destaca a importância de que todos vejam a si e aos demais como sujeitos de direitos referentes às necessidades e às liberdades humanas. Princípio de igualdade Bioética é o ramo da Ética que investiga as consequên- cias da intervenção humana nos diversos âmbitos da vida. Também promove reflexões relacionadas aos direitos das minorias, de pessoas com autonomia limitada e de seres vivos não humanos. Um de seus representantes, o filósofo Peter Singer, defende a ideia de que todos os indivíduos têm os mesmos direitos, independentemente das diferenças entre eles. Considera que o princípio da igualdade diz respeito à forma como devemos tratar os outros, humanos e não humanos, sejam quais forem suas capacidades individuais. 1. (UEM – PR) “Todo ser humano tem um direito legítimo ao respeito de seus semelhantes e está, por sua vez, obrigadoa respeitar todos os demais. A humanidade ela mesma é uma dignidade, pois o ser humano não pode ser usado meramente como um meio por qualquer outro ser humano (quer por outros, quer, inclusive, por si mesmo), mas deve sempre ser usado ao mesmo tempo como um fim. [...] não posso negar todo respeito sequer a um homem corrupto como um ser humano, não posso suprimir ao menos o respeito que lhe cabe em sua qualidade como ser humano, ainda que através de seus atos ele se torne indigno desse respeito.” KANT, I. A metafísica dos costumes. In: ARANHA, M. Filosofar com textos: temas e história da filosofia. São Paulo: Moderna, 2012. p. 261. A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) Humilhar, agredir ou não tratar bem um criminoso não fere sua humanidade nem é uma usurpação dos direitos humanos. 02) Ao afirmar que o ser humano deve ser usado com um fim, o filósofo destaca o utilitarismo inerente à doutrina dos direitos humanos. X 04) Respeitar a dignidade de todo ser humano é algo que não precisa, necessariamente, estar escrito em lei, pois é princípio inerente à convivência humana. 08) Os diversos tipos de criminosos, particularmente os corruptos, não merecem o respeito humano em função das consequências de seus atos para a sociedade. X 16) A dignidade própria da condição humana não se anula com um crime, donde o respeito a essa condi- ção mínima para todos os seres humanos. Somatório: 20 (04 + 16) Bioética é um ramo da Ética responsável por investigar os diversos aspectos ligados à vida. © Sh ut te rs to ck /J oh an S w an ep oe l 10 Livro de Revisão 2 Filosofia 2. (UFPA) “Em minha opinião, o voto livre deve ser defendido por razões filosóficas. [...] Ao tornar o voto obrigatório, de algum modo é reduzido o grau de liberdade que existe por trás da decisão espontânea do cidadão de ir à seção eleitoral e escolher um candidato. Podemos afirmar que o voto obrigatório, constrangido pela lei, não é moral se comparado ao sufrágio livre, resultado da deliberação de um sujeito autônomo. E, para Kant, há uma identidade entre ser livre e ser moral.” Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ helioschwartsman/ult510u356288.shtml. (Texto adaptado) O autor do texto se manifesta contrário ao voto obriga- tório e justifica sua posição tendo por base a Ética kan- tiana. Do ponto de vista de Kant, o indivíduo ao votar constrangido pela lei não age moralmente porque a) a ação praticada não foi livre, na medida em que uma ação verdadeiramente livre deve visar à felicidade do indivíduo e não ao interesse do Estado. X b) é forçado, sem aprovação de sua vontade, a praticar um ato cujo móbil não é o princípio do dever moral. c) o seu voto não foi fruto de uma escolha consciente, mas sim motivado por ideologias partidárias. d) sua ação foi praticada por imposições do Estado e favorece candidatos desonestos, que podem comprar votos. e) agiu por imposição da lei jurídica e não da lei moral, que requer que sua escolha esteja comprometida com interesses externos ao sujeito. 3. Explique em que consistia o princípio de utilidade, que fundamentava o utilitarismo, representado por Jeremy Bentham. O princípio de utilidade previa que o critério para aprovar ou rejeitar uma ação fosse sua tendência a aumentar ou diminuir o bem-estar das pessoas afetadas por ela. Portanto, ele fundamentava a avaliação da moralidade de uma ação no conceito de felicidade geral, equivalente ao bem-estar do maior número possível de pessoas. 4. Leia o texto a seguir. [...] Nietzsche não vê outra saída para o futuro do homem a não ser a transvaloração dos valores, o que implica uma transmutação da maneira que o homem vive – uma nova maneira de viver que se alimenta de todo acontecer para diferenciar- -se, não pela representação da diferença, mas por uma potência da vida que, a cada retorno, não nos permite que sejamos o mesmo. [...] FERREIRA, Amauri. Culpa, ressentimento e a inversão dos valores em Nietzsche. Revista Filosofia. Disponível em: <http:// filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/36/artigo141682-4. asp>. Acesso em: 18 fev. 2016. Sobre o conceito de transvaloração, presente no pensa- mento de Nietzsche e citado no texto, assinale a asser- tiva correta: a) Trata-se da negação de todo e qualquer valor moral em prol de uma vida plena de liberdade. X b) A transvaloração é a negação da moralidade raciona- lista e cristã, em favor da força vital do ser humano, liberada pelos aspectos dionisíacos da existência. c) Nietzsche afirmou que o ser humano deve controlar os impulsos vitais para adquirir e praticar os valores morais legados pela tradição. d) A transvaloração é a inversão dos valores morais tra- dicionais, empreendida pela moral de rebanho, em busca da perfeição do ser humano. 5. Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Martin Heidegger são pensadores do século XX que exerceram grande influência na filosofia contemporânea. Com base em seus conhecimentos, assinale a assertiva que apresenta o que há em comum entre os pensamentos deles. a) Influenciados pelo marxismo, defendiam a luta de classes para promover a revolução comunista contra a opressão do capitalismo. b) Representando a Escola de Frankfurt, afirmavam que a ideologia capitalista do consumo era difundida por meio da indústria cultural. X c) Tidos como representantes do existencialismo, consi- deravam o ser humano um projeto aberto à existência e responsável por suas escolhas. d) Alertavam que a falta de reflexão e de senso crítico leva o ser humano a banalizar o mal em suas ações. móbil: aquilo que gera movimento. 11 6. O texto a seguir refere-se a um conceito de Hannah Arendt apresentado no livro Eichmann em Jerusalém. Ao evidenciar no livro a “mediocridade” do réu, a autora formula o conceito de “banalidade do mal”. Ao depor, Adolf Eichmann disse que apenas cumpria ordens superiores e que achava uma desonestidade não cumprir a tarefa que lhe foi atribuída, ou seja, o extermínio sistemático dos judeus, na chamada “Solução Final”. Segundo Arendt, havia verdade naquela fala do oficial nazista condenado à morte por crimes contra a humanidade, em sentença proclamada no dia 15 de dezembro de 1961: sem ser um desalmado ou paranoico, como acreditavam os ativistas judeus, tratava-se de um homem comum, porém desprovido da capacidade, presente na maioria dos indivíduos, de raciocinar por si próprio. SILVA, Sérgio Amaral. Hannah Arendt, pensadora da política e da liberdade. Revista Filosofia, São Paulo: Escala, 2014. Disponível em: <http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/28/ artigo210008-3.asp>. Acesso em: 18 fev. 2016. Sobre o conceito de “banalidade do mal”, no pensamento de Hannah Arendt, assinale a assertiva correta. X a) Um ser humano comum pode cometer atrocidades como se fossem atitudes banais, caso abra mão do seu senso crítico. b) O mal tornou-se banalizado por causa dos meios de comunicação de massas, que sistematicamente vei- culam cenas de violência. c) O mal torna-se banalizado quando um indivíduo passa a agir de forma violenta e agressiva. d) A expressão “banalidade do mal” refere-se a uma situação específica da história da humanidade, que é a Guerra Fria. 7. Leia o texto a seguir. Na Ética do Discurso, Habermas substitui o imperativo categórico kantiano por um método de argumentação moral que considera que uma norma somente é válida se ela foi formulada por meio de um discurso moral em que todos aqueles que forem afetados por ela tiveram participação. Esse filósofo garante assim que a universalização das normas seja alcançada por meio de um processo histórico e dialético. O princípio do discurso dá por resultado, contudo, que nenhum enunciado normativo é válido se não pode ser fundamentado por meio de um processo racional e argumentativo, de tal modo que as pretensões de validade devem consistir dos seguintes elementos: • verdade – o enunciadodeve ter relação com a realidade exterior da experiência; • retitude – o enunciado deve estar de acordo com as normas intersubjetivas em vigor e que surgiram a partir da interação entre os sujeitos; e • veracidade – a intenção expressa externamente deve estar de acordo com a realidade intersubjetiva do mundo interior daquela que a expressa.” JESUS, Cristiano de. A comunicação para o bem social. Revista Filosofia, São Paulo: Escala. Disponível em: <http:// filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/71/artigo265284-3. asp>. Acesso em: 18 fev. 2016. Sobre a ética discursiva de Jürgen Habermas, assinale a alternativa correta. a) A ética discursiva trata da capacidade que um indiví- duo tem de falar em público e expressar suas opiniões. b) Para Habermas, uma pessoa só tem conduta moral se ela se expressar por meio do diálogo. X c) A ética discursiva se realiza por meio de ações comu- nicativas entre indivíduos e grupos na busca de cons- truir e efetivar as normas e as regras que regem a conduta humana em prol da maioria. d) Habermas afirmou que a ética discursiva é um método de convencimento da população para aceitar as nor- mas e as regras da sociedade. 8. (UEM – PR) “Foucault chamou a atenção para a dificuldade de construir uma ‘ética do eu’ em nossos dias, marcados pelo consumismo exacerbado, pelo culto do corpo nas academias e pela exaltação das imagens como propaganda, que poderiam levar a um hedonismo muito diferente daquele de Epicuro, preocupado apenas com os prazeres materiais e imediatos. Mas, ao mesmo tempo, afirmou que essa seria uma tarefa urgente, pois a única possibilidade de construir uma autonomia nos dias de hoje, resistindo aos poderes políticos, estaria numa relação consigo mesmo. [...] Em outras palavras: não viver submetido às regras morais que são impostas de fora, mas assumir-se sujeito de suas próprias escolhas, criar e construir sua vida. [...] É conhecendo a si mesmo e cuidando de si mesmo que cada um pode construir sua vida na relação com os outros. Uma ética do cuidado de si não implica, portanto, isolamento ou egoísmo.” GALLO, S. Filosofia: experiência do pensamento. São Paulo: Scipione, 2013. p. 165. 12 Livro de Revisão 2 Filosofia Segundo a afirmação [...], assinale o que for correto: 01) As éticas de Foucault e de Epicuro são equivalentes, pois valorizam o prazer material e o prazer sensível. 02) O cuidado de si está caracterizado pelo surgimento das academias de ginástica e de centros de estética. X 04) Em nome da autonomia do indivíduo, Foucault afirma a necessidade de resistência ao poder do Estado. 08) A ética de Foucault, ao privilegiar o cuidado de si, desvaloriza o aspecto social, coletivo. X 16) A autonomia do indivíduo frente aos mecanismos de controle é uma responsabilidade pessoal e intransferível. Somatório: 20 (04 + 16) 9. Leia o fragmento a seguir, da obra do filósofo contempo- râneo Fernando Savater. Como toda ideia moralmente relevante, os direitos humanos partem de um pressuposto [...], o pressuposto de que o que aproxima [...] todos os homens como indivíduos é mais digno de estima e perpetuação do que o que os diferencia como membros de diferentes comunidades políticas ou culturais. SAVATER, Fernando. Ética como amor-próprio. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 301. Explicite o que há em comum entre a justificativa do texto para a defesa dos direitos humanos e a Ética kantiana. O imperativo categórico kantiano previa que todo ser humano fosse tratado como um fim, e jamais como um meio, levando-se em conta que a humanidade é um traço comum entre indivíduos distintos. O mesmo princípio se revela no texto de Savater, que dá maior importância ao que aproxima os indivíduos, e não àquilo que os distingue. 10. (UFSM – RS) Nós, seres humanos, geralmente nos tratamos uns aos outros como pessoas. Entre outras coisas, isso significa que nos consideramos portadores de direitos e não propriedade de alguém. Nas últimas décadas, diversos filósofos têm argumentado que alguns animais não humanos também devem ser tratados como pessoas, uma vez que, como nós, podem se comunicar, possuem algum grau de inteligência e são capazes de sentir sensações e emoções. Agora, coloque verdadeira (V) ou falsa (F) em cada afir- mativa a seguir. ( F ) O fato de alguém ser tratado como uma pessoa im- plica que ninguém mais pode ser responsabilizado pelo que ela faz. ( V ) O fato de um animal não humano poder ser portador de direitos não implica que ele necessariamente te- nha obrigações morais ou jurídicas perante os seres humanos. ( F ) Entre os seres humanos, apenas consideramos como portadores de direito aqueles que são capazes de se comunicar, exibir algum grau de inteligência e manifestar sensações e emoções. A sequência correta é: a) F – F – F b) F – V – V c) V – V – F X d) F – V – F e) V – F – V 11. (UFSM – RS) Revoltas e movimentos sociais, como os ocorridos recentemente no Brasil, estão frequentemente envolvidos no aperfeiçoamento da vida social e podem ter papel adaptativo. Na história da filosofia política moderna, alguns filósofos conceberam seres humanos como átomos individuais movidos por apetites ou desejos guiados pelo prazer e dor, sendo o apetite fundamental do homem a autopreservação. Numa situação de escassez de bens, com pessoas guiadas exclusivamente por desejos antecipadores de prazer e voltados à autopreservação, haverá, inevitavelmente, conflito social. Que alternativa(s) racional(is) soluciona(m) o conflito? I. Uso da força e violência. II. Uso da ideologia e controle da informação. III. Acordo e deliberação coletiva. IV. Apelo à tradição e costume. Está(ão) correta(s) a(s) alternativa(s) a) I e II apenas. b) I, II e III apenas. X c) III apenas. d) III e IV apenas. e) IV apenas. 13 3. Filosofia Política: da Antiguidade ao Renascimento Pólis ideal Na Antiguidade, Platão escreveu A República, obra em que apresentou sua concepção de pólis (cidade) ideal. Segundo ele, a política ideal deveria fundamentar-se na dialética, método de raciocínio e diálogo que confrontava conceitos opostos em busca da verdade. Além disso, deve- ria se orientar pelas ideias de bem e justiça para alcançar o bem comum. A forma de governo indicada para a pólis platônica era a monarquia (ou a aristocracia, o governo dos melhores), e o governante deveria ser o filósofo, o único capaz de alcançar os ideais de bem e justiça. Na pólis ideal, os indivíduos teriam papéis sociais fixos, conforme sua natureza. Haveria três classes sociais distin- tas: governantes, guerreiros e produtores. A classe ade- quada para cada indivíduo seria determinada por meio de um processo educativo conhecido como paideia. Pla- tão relacionava as classes sociais com as partes da alma humana: a alma apetitiva (desejos) representava os produ- tores; a irascível (coragem), os guerreiros; e a concupiscível (razão), os governantes. Assim como no autogoverno dos indivíduos, na pólis ideal, deveria ser respeitada a hierar- quia entre as classes: os governantes deveriam orientar a atividade dos guardiões, e ambos, a dos produtores. Animal político Aristóteles definiu o ser humano como animal político, por sua capacidade natural de se associar aos semelhantes e pela posse da linguagem. Essa tendência natural à polí- tica teria levado o ser humano a fundar o Estado, definido como o conjunto de indivíduos e atos do governo, regidos por uma constituição que fosse capaz de promover a vir- tude e o bem comum. Segundo Aristóteles, o Estado deve- ria estar acima da família e do indivíduo. Além disso, ele tratou da justiça, classificando-a como: distributiva (relativa à divisão dos bens) e participativa (relativa à participação dos cidadãos no governo). Ao contrário de Platão, Aristóteles aceitava a democra- cia, julgando que, nessa forma de governo, os cidadãos, “os iguais”, poderiam contribuir com suas virtudes individuais para o bem comum. Eledesignava os cidadãos como “iguais”, pois, na democracia grega, a cidadania não era a condição de todos os membros da pólis, excluindo os menores de idade, as mulheres, as pessoas pobres e as escravizadas. Cidade de Deus e Cidade dos homens Durante a Idade Média, prevaleceu no Ocidente o poder teocrático, caracterizado pela associação entre política e reli- gião. Nesse contexto, Agostinho de Hipona afirmou que a história da humanidade era marcada pela oposição entre a Cidade de Deus e a Cidade dos homens. De acordo com ele, a Cidade de Deus, fundamentada no amor e representada pela Igreja, consistia na associação de pessoas voltadas aos fins divinos, cujo desejo era a paz celestial. Já a Cidade dos homens, fundamentada na concupiscência e representada pelos reinados terrenos, era a associação de pessoas volta- das aos fins materiais, cujo desejo era a paz terrena. Para Agostinho, a virtude individual significava a correta ordenação do amor com relação ao valor de cada objeto digno dele: a menor parte deveria se destinar aos elemen- tos essenciais à sobrevivência; em seguida, viria o amor aos seres humanos e a maior parte deveria se destinar a Deus. Filosofia Política é a área da Filosofia que investiga a vida humana em sociedade. Trata de questões como: formas de governar e de agir coletivamente, leis e obediência a elas, direitos humanos e justiça social, refletindo sobre os critérios para garantir a legitimidade das ações individuais e coletivas, bem como a efetivação dos direitos dos cidadãos. Aristóteles definia o ser humano como “animal político”, um ser racional, dotado de linguagem e sociabilidade. © iS to ck ph ot o. co m /V LA DG RI N 14 Livro de Revisão 2 Filosofia Direito divino de governar Durante a Idade Média, acreditava-se que o direito de governar era instituído por Deus. Assim, o poder dos gover- nantes era transmitido de forma hereditária, garantindo sua legitimidade. No Período Medieval, os papéis sociais eram fixos e a hierarquia entre eles deveria ser respeitada, por representar a ordem divina. Assim, a comunidade política era comparada simbolicamente ao corpo: a cabeça representava o governo (rei); o peito, as leis (magistrados e conselheiros); os membros superiores, a defesa (exército); os membros inferiores, o trabalho (camponeses e artesãos). Nesse período, Tomás de Aquino, influenciado por Aristóteles, defendeu a participação popular para o êxito do governo e a ideia de que os governantes deveriam praticar as virtudes para governar melhor. Segundo ele, as punições e as recompensas pelos atos dos indivíduos eram naturais. As leis, por sua vez, deveriam conduzir os seres humanos à beatitude. Por isso, ele as organizava de forma hierárquica, de acordo com a importância decrescente dos seus objetivos: lei divina, para a salvação; lei natural, para a conservação da vida; e leis humanas, para a utilidade comum. Além disso, Tomás de Aquino defendia o equilíbrio entre o poder temporal e o espiritual. Afirmava que o Estado não deveria neces- sariamente se subordinar à Igreja, mas deveria inspirar-se nela para se aperfeiçoar. Ética X política Durante o Renascimento, houve, na Europa, a retomada de obras filosóficas da Antiguidade e, nesse período, surgi- ram muitas críticas ao modelo político medieval. Isso se deu especialmente no que diz respeito à predestinação divina dos governantes, embora a defesa da obediência às leis divinas ainda preponderasse. Nesse contexto, Nicolau Maquiavel escreveu O príncipe, obra que expôs como se deveria governar, ressaltando que o Estado nasce do conflito de forças entre os que querem dominar e os que não querem ser dominados. Ele considerava legítimos os principados que estivessem a serviço do povo, fossem religiosos ou laicos, hereditários ou conquistados. De acordo com Maquiavel, a virtú, capacidade de aprovei- tar a fortuna (sorte) em favor da conquista e da manutenção do poder, era indispensável ao governo. Além disso, conside- rava a virtú, ou virtude política, independente da ética. Sendo assim, o príncipe poderia usar a força, a fraude ou a mentira, se isso fosse necessário para governar. Deveria agir com a “força do leão” e a “astúcia da raposa”, porém dissimulando as ações reprováveis, para não incitar o ódio do povo. Para Maquiavel, o governo era um fim em si mesmo, o que justificava os meios empregados para conquistar e manter o poder. Essa ideia ficou sintetizada na máxima “os fins justificam os meios”. 1. Leia o texto a seguir. O que Platão propõe é, assim, aquilo que o professor de Nova York Nickolas Pappas insiste em seu livro sobre A República: o filósofo como um homem utópico, aquele que reúne o saber teórico de um scholar com o discernimento ético de um sábio. Ele estuda em direção a um campo abstrato, mas o seu saber é um saber para voltar ao mundo, ao cotidiano da cidade, para lidar com as questões mundanas e comezinhas da administração da polis. O rei-filósofo deverá fazer política. GHIRALDELLI JR., Paulo. Platão e o rei-filósofo. 21 jun. 2008. Disponível em: <https://ghiraldelli.wordpress.com/2008/06/21/fran-foto/>. Acesso em: 25 fev. 2016. Segundo Maquiavel, para conquistar e manter o governo, o príncipe deveria agir com a “força do leão” e a “astúcia da raposa”. © Sh ut te rs to ck /n ut ria aa 15 é representada pelos reinados seculares, por ser uma associação de pessoas que amam a si mesmas, ao ponto de desprezarem a Deus, e porque seus membros desejam a paz terrena, meramente em razão de seu apego aos bens terrenos. Segundo Agostinho, essas duas cidades coexistem, porém se distinguem por seus fins. 4. Leia o texto a seguir. Ora, a ordem da justiça exige que os inferiores obedeçam aos superiores, pois, do contrário, a sociedade humana não poderia subsistir. Por onde, a fé de Cristo não dispensa os Cristãos de obedecerem ao poder secular. [...] Estamos obrigados a obedecer ao poder secular na medida em que a ordem da justiça o exige. Portanto, aos que o detêm injustamente ou usurpado, ou mandam o que é injusto, não estamos, como súditos, obrigados a lhes obedecer; a não ser talvez por acidente, para evitar escândalo ou perigo. [...] Com base no texto e em seus conhecimentos, explique o posicionamento de Tomás de Aquino quanto à obediên- cia e à desobediência dos súditos ao governante. Para Tomás de Aquino, a obediência dos cristãos ao poder secular, representado pelo governante, era instituída pela lei divina. Porém, ele previa o direito de desobediência aos governos degenerados e tirânicos, por sua desarmonia em relação a essa mesma lei. Afirmava que, nos casos em que o governante fosse eleito pelo povo, este poderia, inclusive, destituí-lo do poder. 5. (UEM – PR) “Resta agora ver quais devem ser os modos e os atos de governo de um príncipe para com os súditos ou para com os amigos. E porque sei que muitos escreveram sobre isso, temo, escrevendo eu também, ser considerado presunçoso, sobretudo porque, poder secular: poder laico, independente da Igreja. usurpado: adquirido por fraude. Na pólis ideal, Platão acreditava que o governante deve- ria ser o rei filósofo. Qual é a justificativa para isso? Segundo Platão, apenas os filósofos teriam condições de governar, por sua disposição a buscar o conhecimento verdadeiro e a praticar a virtude. O conhecimento da realidade inteligível, constituída por ideias como o belo, o bem e a justiça, distingue o filósofo dos demais cidadãos e faz dele o mais apto a buscar o bem comum. 2. Sobre a Filosofia Política de Aristóteles, assinale a alter- nativa correta: a) Aristóteles defendia a ideia de que os filósofos deve- riam governar, uma vez que somente eles seriam capazes de praticar a justiça e as virtudes. X b) Aristóteles era a favor da democracia, pois acreditava que a soma das virtudes individuais era mais impor- tante do que a virtude de um único representante. c) Aristóteles defendia a teocracia, pois acreditava que os deuses do Olimpotinham o direito de governar as cidades-estados por intermédio dos governantes. d) Aristóteles comparava o corpo político com o corpo humano: a cabeça representa o governante; o peito, os magistrados; os braços, o exército; as pernas, os trabalhadores e artesãos. 3. Leia o texto a seguir. A célebre fórmula do Livro XIV [da obra Cidade de Deus] resume essa teologia da história: “Dois amores construíram duas cidades. O amor a si até o desprezo de Deus, a cidade terrestre. O amor a Deus até o desprezo de si, a cidade celeste. Uma se glorifica em si mesma, a outra no Senhor”. SANTO AGOSTINHO. Cidade de Deus, L. XIV, 28. In: BARAQUIN, Noela; LAFITTE, Jacqueline. Dicionário dos filósofos. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 6. De acordo com Santo Agostinho, quais são as caracterís- ticas da Cidade de Deus e da Cidade dos homens? A Cidade de Deus tem como fundamento o amor, e a Cidade dos homens, a concupiscência. A Cidade de Deus é representada pela Igreja, por ser uma comunidade formada por pessoas que amam e glorificam a Deus, ao ponto de desprezarem a si mesmas, e por seus membros aspirarem à paz eterna. Já a Cidade dos homens 16 Livro de Revisão 2 Filosofia ao debater esta matéria, afasto-me do modo de raciocinar dos outros. Mas, sendo a minha intenção escrever coisa útil a quem a escute, pareceu-me mais convincente ir direto à verdade efetiva da coisa do que à imaginação dessa. E muitos imaginaram repúblicas e principados que nunca foram vistos, nem conhecidos de verdade.” MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Hedra, 2009. p. 159. A partir do texto citado, assinale o que for correto. 01) Maquiavel defende uma teoria imaginária de governo, e não uma proposta real e factível. 02) Maquiavel afirma que as repúblicas e os principados nunca foram conhecidos de verdade. 04) Maquiavel se considera presunçoso por conhecer demais o tema. X 08) Maquiavel propõe um discurso político que trate de coisas reais e possíveis no mundo da política. X 16) Maquiavel propõe um discurso político que se volte para o comportamento do governante, para sua atuação e para o modo como ele deve se comportar no governo. Somatório: 24 (08 + 16) 6. (UFU – MG) Maquiavel esteve empenhado na renovação da política em um período ainda dominado pela teologia cristã com os seus valores que atribuíam ao poder divino a responsabilidade sobre os propósitos humanos. Em sua obra mestra, O príncipe, escreveu: “Deus não quer fazer tudo, para não nos tolher o livre-arbítrio e parte da glória que nos cabe”. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Tradução de Lívio Xavier. São Paulo: Nova Cultural, 1987. Coleção Os Pensadores. p. 108. Assinale a alternativa que fundamenta essa afirmação de Maquiavel. a) Deus faz o mais importante, conduz o príncipe até o trono, garantindo-lhe a conquista e a posse. Depois, cabe ao soberano fazer um bom governo subme- tendo-se aos dogmas da fé. X b) A conquista e a posse do poder político não é uma dádiva de Deus. É preciso que o príncipe saiba agir, valendo-se das oportunidades que lhe são favoráveis, e com firmeza alcance a sua finalidade. c) Os milagres de Deus sempre socorreram os homens piedosos. Para ser digno do auxílio divino e alcançar a glória terrena, é preciso ser obediente à fé cristã e submeter-se à autoridade do papa. d) Nem Deus nem o soberano são capazes de conquistar o Estado. Tudo que ocorre na História é obra do capri- cho, do acaso cego, que não distingue nem o cristão nem o gentio. 7. (UFU – MG) A Itália do tempo de Nicolau Maquiavel (1469- -1527) não era um Estado unificado como hoje, mas fragmentada em reinos e repúblicas. Na obra O Príncipe, declara seu sonho de ver a península unificada. Para tanto, entre outros conceitos, forjou as concepções de virtú e de fortuna. A primeira representa a capacidade de governar, agir para conquistar e manter o poder; a segunda é relativa aos “acasos da sorte” aos quais todos estão submetidos, inclusive os governantes. Afinal, como registrado na famosa ópera de Carl Orff: Fortuna imperatrix mundi (A Fortuna governa o mundo). Por isso, um príncipe prudente não pode nem deve guardar a palavra dada quando isso se lhe torne prejudicial e quando as causas que o determinaram cessem de existir. MAQUIAVEL, N. O príncipe. Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 79-80. Com base nas informações acima, assinale a alternativa que melhor interpreta o pensamento de Maquiavel. X a) Trata-se da fortuna, quando Maquiavel diz que “as cau- sas que o determinaram cessem de existir”; e de virtú, quando Maquiavel diz que o príncipe deve ser “prudente”. b) Trata-se da virtú, quando Maquiavel diz que as “causas mudaram”; e de fortuna, quando se refere ao príncipe prudente, pois um príncipe com tal qualidade saberia acumular grande quantidade de riquezas. c) Apesar de ser uma frase de Maquiavel, conforme o texto introdutório, ela não guarda qualquer relação com as noções de virtú e fortuna. d) O fragmento de Maquiavel expressa bem a noção de virtú, ao dizer que o príncipe deve ser prudente, mas não se relaciona com a noção de fortuna, pois em nenhum momento afirma que as “circunstâncias” podem mudar. e) A fortuna, para Maquiavel, representa os acasos da sorte que, se bem aproveitados, se tornam virtú. Portanto, trata-se de fortuna quando o texto diz “as causas que o determinaram cessem de existir” e de virtú, quando se trata da conduta prudente do príncipe. 17 4. Filosofia Política Moderna e Contemporânea Pacto social e jusnaturalismo No início da Modernidade, as Grandes Navegações possibilitaram o contato com povos e culturas do Novo Mundo, cujos modos de vida provocaram curiosidade e perplexidade entre os europeus, o que contribuiu para que questionassem como se deu a passagem do estado de natureza para o estado civil. Nesse contexto, surgiu o jusna- turalismo, corrente filosófica que abordou os conceitos de estado de natureza, direito natural e leis naturais. Para explicar a passagem do estado de natureza ao estado civil, os pensadores jusnaturalistas recorreram à hipótese do pacto social (ou contrato social). Por meio dele, os indivíduos teriam renunciado à liberdade individual em favor de sua autopreservação, passando a fazer parte de um corpo social, regido por um governo. Essa linha de pen- samento ficou conhecida como contratualismo. Thomas Hobbes No século XVII, Thomas Hobbes afirmou que, no estado de natureza, não haveria lei, nem justiça, nem direito à pro- priedade, o que ocasionaria medo e insegurança. Ele des- creveu o estado de natureza como uma “guerra de todos contra todos”, condição em que imperavam a violência e a disputa em nome de interesses particulares. Segundo Hobbes, para superar a instabilidade do estado de natureza e garantir a autopreservação, os seres humanos teriam celebrado o pacto social, por meio do qual renuncia- ram igualmente à liberdade individual em prol de um sobe- rano conhecido e respeitado por todos. O soberano passou a ser responsável por governar e estabelecer leis civis para assegurar aos indivíduos o direito de preservar sua vida, a justiça e a propriedade. E, para defender o cumprimento do pacto, ele poderia empregar a força e a coerção. Estudiosos do pensamento de Hobbes resumiram sua visão do estado de natureza por meio da máxima “o homem é lobo do próprio homem”. John Locke Ao contrário de Hobbes, John Locke descrevia o estado de natureza como uma condição de liberdade e igualdade entre os indivíduos, protegidos pelo direito natural (direito de preservar a vida, a liberdade e a propriedade) e pela lei natural (o dever de preservar-se). Os conflitos entre eles teriam iniciado com a acumulação de riquezas, levando à instituição do pacto social e do estado civil, para garantir a efetivação do direito natural. Segundo Locke, caberia ao Estado garantir a preservação dos indivíduos, bem como sua própria manutenção, além de punir crimes cometidos contraas leis naturais e civis. Ademais, o filósofo propôs a divisão do poder em Legislativo (responsável pela criação das leis) e Executivo (responsável por assegurar o cumprimento das leis). Ele é considerado o fundador do liberalismo, doutrina que defende o direito à liberdade política e econômica, bem como a independência da economia com relação ao Estado. Montesquieu Entre os séculos XVII e XVIII, o Barão de Montesquieu afirmou que o estado de natureza era marcado pela fra- queza e pelo medo dos indivíduos, o que os levou a se unir A transição da Idade Média para a Moderna foi marcada por profundas transformações sociais, econômicas e políticas na Europa. O declínio do sistema feudal, o enfraquecimento do poder da Igreja e a formação dos Estados Nacionais foram algumas dessas mudanças, que contribuíram para o surgimento de novas formas de pensar a política. Nesse contexto, diversos pensadores apresentaram reflexões sobre a origem e a legitimidade do poder. © iS to ck ph ot o. co m /h ak oa r 18 Livro de Revisão 2 Filosofia em sociedade, adquirindo força para disputar interesses entre si e com outros grupos. Para ele, as leis naturais eram harmô- nicas e de origem divina, mas nem sempre respeitadas. Por isso, houve a necessidade de instaurar o pacto social, garan- tindo, inclusive, punições para o não cumprimento das leis. Montesquieu descreveu três tipos de governo: a república (o povo ou parte dele tem poder soberano), a monarquia (governo de um homem só, regido por leis fixas) e o despo- tismo (governo de um homem só, sem lei nem regras). Ele considerava a república e a monarquia governos moderados, mas alertava para a possibilidade de se tornarem despóticos. Para evitar esse risco, Montesquieu defendia a instituição de três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Jean-Jacques Rousseau No século XVIII, Jean-Jacques Rousseau afirmou que o estado de natureza era marcado pela liberdade, pela inocência e pela predisposição natural dos indivíduos à autopreservação e à compaixão. Essa visão otimista ficou conhecida como o “mito do bom selvagem”. Para Rousseau, o surgimento da propriedade privada gerou conflitos que levaram à instituição de um estado de sociedade marcado por insegurança, violência e corrupção. Esse contexto induziu os indivíduos a renunciar ao seu poder pessoal em favor da vontade geral, por meio do contrato social, o que resultou em uma associação de cidadãos capaz de exercer o poder em prol do corpo político, o estado civil. Immanuel Kant No século XVIII, Immanuel Kant refletiu sobre o contra- tualismo. Afirmou que o estado civil deveria garantir as liber- dades individuais de acordo com as leis civis para um bom convívio em comunidade. Além disso, abordou a questão do conflito entre os Estados. Para solucioná-lo, Kant propôs o cosmopolitismo, ou seja, o estabelecimento de uma liga ou federação que unisse os Estados numa “república mundial”. Estado soberano Para Georg Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo do século XIX, os indivíduos só atingiam a liberdade quando inseridos no Estado, como membros de um organismo político e ético. Para o filósofo, essa liberdade era a realização da ética e da razão. De acordo com ele, a origem do Estado estaria na dialética, e não no contrato social, já que as contradições sociais geravam sínteses, que formavam novas contradições e novas sínteses. Sendo assim, Hegel via o Estado como a maior realização do espírito humano e, por isso, afirmava que ele deveria ser soberano. Afirmava ainda que a monarquia constitucional era a melhor forma de governo, uma vez que ele considerava o monarca e a Constituição como manifestações do Estado. Luta de classes, ideologia e revolução Karl Marx e Friedrich Engels fizeram uma crítica severa ao capitalismo do século XIX. Eles definiam o ser humano como um ser histórico, que produz suas próprias condições de vida por meio do trabalho. A história, por sua vez, seria uma cons- trução dialética, resultante das lutas entre classes sociais com interesses opostos. Na era do capitalismo industrial, essas classes eram a burguesia (proprietária dos meios de produ- ção) e o proletariado (os trabalhadores operários). Analisando criticamente a sociedade capitalista, esses filó- sofos verificaram que o operário produzia a mercadoria, à qual era atribuído um valor de troca considerando as horas traba- lhadas para produzi-la. Porém, o operário recebia apenas uma parte desse valor, e o restante, a mais-valia, constituía o lucro dos industriais. Assim, ocorria a alienação, pois o operário não podia obter a mercadoria que ele mesmo produziu. Para aca- bar com a opressão da burguesia sobre o proletariado, Marx e Engels propuseram a revolução comunista, por meio da qual os trabalhadores desmontariam o poder jurídico, burocrático, policial e militar do Estado, para, em seguida, instaurar a dita- dura do proletariado. Só então seria possível a construção de uma sociedade comunista, justa e igualitária. Cidadania No século XX, Hannah Arendt afirmou que o sentido da política estava na liberdade. Ao investigar regimes totalitá- rios do século XX, como nazismo, fascismo e comunismo, verificou neles a ausência de liberdade. Ela também anali- sou a condição humana, identificando três formas de ativi- dades exercidas pelos seres humanos: • labor – ligado aos processos biológicos do corpo para a sobrevivência; • trabalho ou fabricação – processo de produção de bens duráveis por meio do trabalho; • ação – atuação política do ser humano na esfera pública para fundar e manter as instituições. 19 Arendt observou que, na Antiguidade grega, a ação tinha destaque e se realizava no espaço público, enquanto o labor e a fabricação ocorriam no espaço privado. Na Idade Média, a valorização da vida contemplativa manteve as três atividades em segundo plano. Por fim, desde a Modernidade, a ação deixou de fazer parte do espaço público, o qual passou a ser ocupado pelo trabalho e pelo labor. Poder disciplinador e biopoder No século XX, o filósofo Michel Foucault investigou o poder, em busca de sua genealogia. Essa investigação resultou na descrição de duas formas de poder exercidas desde a Modernidade: • poder disciplinador – controla os desejos e o corpo dos indivíduos, com base em uma noção preestabelecida de normalidade. Aqueles que não se encaixam nesse padrão de normalidade devem ser tratados clinica- mente, como exemplifica o tratamento dado à loucura, a qual afronta a concepção moderna de razão. • biopoder – exercido com base na relação saber-poder, controla as popu- lações quanto aos nascimentos, às mortes e à saúde de seus membros. Segundo Foucault, o poder encontra-se diluído nas sociedades, em forma de micropoderes voltados à normalização dos comportamentos. Porém, deve- riam ser minados por meio da resistência a eles. Essa resistência possibilitaria aos indivíduos o exercício da liberdade e, consequentemente, a construção de suas próprias subjetividades. 1. (UFSM – RS) Analise e complete o esquema filosófico correspondente ao caráter natural ou artificial da socie- dade humana. Assinale a sequência correta. a) Platão – Hobbes b) Aristóteles – Rousseau X c) Aristóteles – Hobbes d) Aristóteles – Spinoza e) Platão – Rousseau 2. (UFU – MG) Com base em seus conhecimentos e no texto abaixo, assinale a alternativa correta, segundo Hobbes. [...] a condição dos homens fora da sociedade civil (condição esta que podemos adequadamente chamar de estado de natureza) nada mais é do que uma simples guerra de todos contra todos na qual todos os homens têm igual direito a todas as coisas; [...] e que todos os homens, tão cedo chegam a compreender essa odiosa condição, desejam [...] libertar-se de tal miséria. HOBBES, Thomas, Do Cidadão, Ed. Martins Fontes, 1992. Segundo Foucault, o poder disciplinador atua sobre o corpo, a fim de “normalizar” os indivíduos. © Sh ut te rs to ck /O lly y 20 Livro de Revisão 2Filosofia a) O estado de natureza não se confunde com o estado de guerra, pois este é apenas circunstancial, ao passo que o estado de natureza é uma condição da existên- cia humana. X b) A condição de miséria a que se refere o texto é o estado de natureza ou, tal como se pode compreen- der, o estado de guerra. c) O direito dos homens a todas as coisas não tem como consequência necessária a guerra de todos contra todos. d) A origem do poder nada tem a ver com as noções de estado de guerra e estado de natureza. 3. (UFU – MG) Ser vítima de bala perdida é o maior medo atual dos cariocas e moradores da região metropolitana do Rio. Foi o que responderam 57% dos 4.500 entrevistados em levantamento do ISP (Instituto de Segurança Pública), órgão ligado à Secretaria de Segurança do Rio, divulgado na tarde desta terça-feira. [...] um quinto dos entrevistados (21,7%) foi vítima de um dos 21 tipos de crimes elencados na pesquisa (agressão, furto...). BELCHIOR, L. Mais da metade dos moradores do RJ não confia na PM. In: Folha Online, 19/08/2008. Estatísticas como essas retratam a situação de medo e de insegurança geral vivenciada nas metrópoles brasi- leiras e conferem atualidade a teorias como a do filó- sofo Thomas Hobbes. Para ele, a função do Estado e do corpo político é a de garantir a paz e o direito de cada um à vida, impedindo o desencadeamento natural da guerra de todos contra todos. A partir da leitura das informações acima, responda às seguintes perguntas. a) De acordo com Hobbes, os seres humanos são natu- ralmente sociáveis? Justifique sua resposta. Para Thomas Hobbes, os seres humanos não são naturalmente sociáveis. No estado de natureza, eles detêm um poder ilimitado e o direito a tudo, de modo que só passam a viver em sociedade por meio de um artifício. Em decorrência de constantes conflitos, o medo e o desejo de paz levam-nos a fundar um estado social e a autoridade política, abdicando de seus direitos individuais em favor do soberano. b) Quais seriam, para esse filósofo, as principais carac- terísticas do homem em estado de natureza? Segundo Hobbes, no estado de natureza, os indivíduos viveriam isolados e em luta constante, prevalecendo os interesses egoístas e vigorando a guerra de todos contra todos. A situação dos seres humanos entregues a si próprios seria a anarquia, geradora de insegurança, angústia e medo, tornando cada homem um “lobo” para outro homem. c) Tendo em vista o fragmento da reportagem publicada pelo jornal Folha Online, é correto dizer que o Estado, hoje, do ponto de vista hobbesiano, cumpre sua obri- gação em relação aos cidadãos? O Estado não cumpre suas obrigações em relação aos cidadãos, porque, entre os motivos que levam os seres humanos a realizar o pacto social, está o desejo de garantir sua vida e seus bens, superando os conflitos típicos do estado de natureza. Nas regiões em que domina a violência urbana, a vida dos cidadãos está em constante perigo (como exemplificam as agressões e balas perdidas) e seus bens não são garantidos pelo Estado (ocorrendo, por exemplo, furtos, roubos e cobranças de “taxas” realizadas por traficantes ou milícias). 4. (UFU – MG) John Locke (1632-1704) elaborou algumas teorias sobre filosofia política que permitem colocá-lo entre o grupo dos “contratualistas”, ainda que esta defi- nição não seja suficiente para classificar corretamente estes filósofos. Leia o texto abaixo e, com base nele e em seus conhecimentos sobre a filosofia de John Locke, responda às questões que se seguem. A única maneira pela qual uma pessoa qualquer pode abdicar de sua liberdade natural e revestir- -se dos elos da sociedade civil é concordando com outros homens em juntar-se e unir-se em uma comunidade, para viverem confortável, segura e pacificamente uns com outros, num gozo seguro de suas propriedades e com maior segurança contra aqueles que dela não fazem parte. LOCKE, Dois tratados sobre o governo. Tradução de Julio Fischer. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 468. 21 Sobre o contratualismo de Locke, responda: a) Qual é o instrumento que opera a passagem desse estado de natureza para o estado civil? Explique sua característica principal. O instrumento é denominado contrato social ou pacto social. Sua principal característica é a existência de um acordo entre os participantes que se reúnem para criar um poder comum que defenda sua vida e suas propriedades. b) Essa passagem para o estado civil ocorre pela vontade dos mais fortes que obrigam os mais fracos, ou por livre consentimento de cada um para formar o corpo político? A passagem do estado de natureza para o estado civil ocorre por livre consentimento. Uma vez realizado o pacto, seus membros devem ser obrigados a cumprir a palavra dada e a obedecer às leis civis. No entanto, o limite dessa obediência é dado pela proteção da vida e dos bens de cada um. Logo, o Estado deve contar com um aparato jurídico, que assegure proteção aos participantes. c) Qual trecho do texto citado pode fundamentar sua resposta? O trecho que fundamenta a resposta é: “[...] concordando com outros homens em juntar-se e unir-se em uma comunidade”. 5. (UFU – MG) Leia o texto abaixo. “Locke vai estabelecer a distinção entre a socie- dade política e a sociedade civil, entre o público e o privado, que devem ser regidos por leis diferen- tes. Assim o poder político não deve, em tese, ser determinado pelas condições de nascimento, bem como o Estado não deve intervir, mas sim garantir e tutelar o livre exercício da propriedade, da pala- vra e da iniciativa econômica.” ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 1986. p. 248. Marque a alternativa que interpreta esse texto corretamente. a) As leis que regem a sociedade civil e a sociedade polí- tica devem ser, rigorosamente, as mesmas. X b) A distinção entre a sociedade política e a sociedade civil fundamenta o direito à liberdade dos indivíduos, pois mesmo que pertençam a um corpo político per- manecem livres. c) O poder político deve ser determinado pelo nasci- mento dos cidadãos. d) Quando adentra a sociedade, o indivíduo abre mão de sua liberdade, de seus bens e de suas propriedades, que passam a ser controlados somente pelo Estado. 6. (ENEM) É verdade que nas democracias o povo pare- ce fazer o que quer; mas a liberdade política não consiste nisso. Deve-se ter sempre presente em mente o que é independência e o que é liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem; se um cidadão pudesse fazer tudo o que elas proíbem, não teria mais liberdade, por- que os outros também teriam tal poder. MONTESQUIEU. Do espírito das leis. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1997 (adaptado). A característica de democracia ressaltada por Montesquieu diz respeito a) ao status de cidadania que o indivíduo adquire ao tomar as decisões por si mesmo. X b) ao condicionamento da liberdade dos cidadãos à con- formidade às leis. c) à possibilidade de o cidadão participar no poder e, nesse caso, livre da submissão às leis. d) ao livre-arbítrio do cidadão em relação àquilo que é proibido, desde que ciente das consequências. e) ao direito de o cidadão exercer sua vontade de acordo com seus valores pessoais. 7. (UEM – PR) “Suponho os homens chegados ao ponto em que os obstáculos prejudiciais à sua conservação no estado natural os arrastam, por sua resistência, sobre as forças que cada indivíduo pode empregar para se manter em tal estado. Então esse estado primitivo não pode mais subsistir, e o gênero humano pereceria se não mudasse sua maneira de ser. Ora, como é impossível aos homens engendrar novas forças, mas apenas unir e dirigir as existentes, não lhes resta 22 Livro de Revisão 2 Filosofia outro meio para se conservarem senão formar, por agregação, uma soma de forças que possa vencer a resistência, pô-los em movimento por um único móbil e fazê-los agir em concerto. [...] ‘Encontrar uma
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