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2018 Fundamentos de agropecuária Profª. Carla Saraiva Gonçalves Prof. Diego Antonio França de Freitas Prof. Lucas Massote de Melo Leite Prof. Saulo Saturnino de Sousa Copyright © UNIASSELVI 2018 Elaboração: Profª. Carla Saraiva Gonçalves Prof. Diego Antonio França de Freitas Prof. Lucas Massote de Melo Leite Prof. Saulo Saturnino de Sousa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. F866f Freitas, Diego Antonio França de Fundamentos de Agropecuária. / Diego Antonio França de Freitas (Org.); Saulo Saturnino de Sousa; Lucas Massote de Melo Leite; Carla Saraiva Gonçalves – Indaial: UNIASSELVI, 2018. 170 p.; il. ISBN 978-85-515-0189-4 1.Agropecuária – Estudo e ensino – Brasil. I. Sousa, Saulo Saturnino de. II. Leite, Lucas Massote de Melo. III. Gonçalves, Carla Saraiva. IV. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 630.7 III apresentação Olá, caro acadêmico! A disciplina Fundamentos da Agropecuária apresenta, neste livro de estudos, os principais aspectos relacionados à administração de um empreendimento agropecuário com vistas à responsabilidade ambiental, à criação de um novo negócio, aos aspectos econômicos e financeiros relacionados à empresa. Serão abordados temas fundamentais e de grande importância para o administrador rural. Sua principal importância se faz na ampliação do conhecimento do administrador, apresentando a você temas que aparentemente pareçam secundários, mas que compõem e afetam diretamente o dia a dia das empresas. Conhecer o impacto e ações a serem tomadas quanto à sustentabilidade, se preparar de modo adequado para a fundação e consolidação de uma empresa, bem como entender a dinâmica dos mercados e a forma de controle por meio da contabilidade são os objetivos gerais desta disciplina. Bons estudos! IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI VII UNIDADE 1 – ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS .................................. 1 TÓPICO 1 – ADMINISTRAÇÃO GERAL .......................................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 BREVE HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO .................................................................................. 3 3 ADMINISTRAÇÃO COMO ATIVIDADE ...................................................................................... 6 4 FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS DE UMA EMPRESA RURAL ................................................ 9 4.1 PLANEJAR ........................................................................................................................................ 11 4.2 ORGANIZAR ................................................................................................................................... 13 4.3 DIRIGIR ............................................................................................................................................. 14 4.4 CONTROLAR ................................................................................................................................... 16 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 18 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 20 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 21 TÓPICO 2 – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO .............................................................................. 23 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 23 2 ETAPAS DO PLANEJAMENTO ........................................................................................................ 24 3 IDENTIFICANDO O NEGÓCIO DA EMPRESA .......................................................................... 25 4 FAZENDO A ANÁLISE DO AMBIENTE ........................................................................................ 27 5 OBJETIVOS E METAS ......................................................................................................................... 28 6 A AÇÃO ESTRATÉGICA .................................................................................................................... 29 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 30 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 33 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 – DEMANDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS ................................................... 35 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 35 2 DEMANDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS ....................................................................... 35 3 OFERTA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS ............................................................................. 39 4 O EQUILÍBRIO NO MERCADO AGROPECUÁRIO .................................................................... 42 4.1 ESTRUTURA DE MERCADO ....................................................................................................... 44 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 48 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 49 UNIDADE 2 – SUSTENTABILIDADE, EMPREENDEDORISMO E ECONOMIA ................... 51 TÓPICO 1 – SUSTENTABILIDADE .................................................................................................... 53 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53 2 CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE ..........................................................................................53 2.1 ASPECTOS GERAIS DA SUSTENTABILIDADE ....................................................................... 54 2.2 SUSTENTABILIDADE EM UM AGRONEGÓCIO .................................................................... 56 3 SUSTENTABILIDADE DO SOLO .................................................................................................... 58 3.1 OCUPAÇÃO DE TERRAS NO BRASIL ...................................................................................... 59 sumário VIII 3.2 CONSERVAÇÃO DO SOLO .........................................................................................................59 4 SUSTENTABILIDADE HÍDRICA ....................................................................................................60 RESUMO DO TÓPICO 1.......................................................................................................................63 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................64 TÓPICO 2 – EMPREENDEDORISMO ...............................................................................................65 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................65 2 O EMPREENDEDOR ..........................................................................................................................66 2.1 PERFIL DO EMPREENDEDOR ....................................................................................................67 3 PLANO DE NEGÓCIOS DE UMA EMPRESA RURAL ..............................................................69 LEITURA COMPLEMENTAR ..............................................................................................................73 RESUMO DO TÓPICO 2.......................................................................................................................76 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................77 TÓPICO 3 – ECONOMIA .....................................................................................................................79 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................79 2 ECONOMIA COMO CIÊNCIA SOCIAL........................................................................................80 3 ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE ECONÔMICA .....................................................................82 4 DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO ..............................................................85 LEITURA COMPLEMENTAR ..............................................................................................................89 RESUMO DO TÓPICO 3.......................................................................................................................92 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................93 TÓPICO 4 – CONTABILIDADE ..........................................................................................................95 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................95 2 ELEMENTOS PATRIMONIAIS E INTRODUÇÃO AOS DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS .........................................................................................................................................96 3 REALIZANDO O BALANÇO PATRIMONIAL ............................................................................99 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................101 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................104 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105 UNIDADE 3 – ADMINISTRAÇÃO DA EMPRESA RURAL ........................................................107 TÓPICO 1 – ADMINISTRAÇÃO AGROPECUÁRIA ....................................................................109 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109 2 ADMINISTRAÇÃO RURAL ............................................................................................................109 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................116 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................117 TÓPICO 2 – A EMPRESA RURAL .....................................................................................................119 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................119 2 TIPOS DE EMPRESA RURAL .........................................................................................................119 3 ELABORAÇÕES DE PROJETOS E ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA ..............122 4 CONTABILIDADE DE CUSTOS ....................................................................................................123 4.1 ANÁLISE DA LUCRATIVIDADE ..............................................................................................125 5 TEORIA DA PRODUÇÃO ................................................................................................................127 5.1 FUNÇÃO PRODUÇÃO ...............................................................................................................128 5.2 ANÁLISE DE CURTO PRAZO ...................................................................................................129 5.3 LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES ...........................................................................131 5.4 ANÁLISE DE LONGO PRAZO ..................................................................................................132 5.5 TEORIA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO ..................................................................................133 IX 5.6 FUNÇÕES GERENCIAIS DE CUSTOS E EQUILÍBRIO DA EMPRESA RURAL ................136 5.7 CUSTOS DE PRODUÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO, MERCADO E O MARKETING RURAL ..................................................................................................................139 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................144 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................145 TÓPICO 3 – INVENTÁRIO .................................................................................................................147 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147 2 INVENTÁRIO NO BRASIL ..............................................................................................................147 3 ESTOCAGEM DE PRODUTOS .......................................................................................................150 4 BOAS PRÁTICAS DE ARMAZENAMENTO ...............................................................................156 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................158 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................161 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................163 X 1 UNIDADE 1 ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir desta unidade, você será capaz de: • conhecer a história e o surgimento da administração; • conhecer as principais habilidades e funções de um administrador rural; • aprender o processo de planejamento estratégico; • conhecer e planejar um empreendimento a partir da visão empreendedora; • revisar os principais tópicos de economia e contabilidade. Esta unidade de estudos está dividida em três tópicos. Ao longo de cada um deles você encontrará sugestões e dicas que visam potencializar os temas abordados, e ao final de cada um estão disponíveis resumos e autoatividades para fixar os temas estudados. TÓPICO 1 – ADMINISTRAÇÃO GERAL TÓPICO 2 – PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO TÓPICO 3 – DEMANDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 ADMINISTRAÇÃO GERAL 1 INTRODUÇÃO Olá, caro acadêmico! Nesta unidade, conheceremos um pouco da história da administração, como ela surgiu e as principais atividades que a compõem. Serão abordadas as principais atividades desenvolvidas pela administração e as habilidades necessárias ao administrador. Em seguida, iremos verificar as principais funções administrativas na empresa rural. No tópico posterior, falaremos sobre o planejamento estratégico das empresas e como utilizá-lo de forma prática em seu dia a dia. Por fim, abordaremos sobre o empreendedorismo e sua importância para a inovação no meio rural. 2 BREVE HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO Pare um pouco e pense: O que significa “administrar”? Primeiramente, vamos ao sentido da palavra administrar. Ela surgiu do latim e é composta de duas partes: ad, que significa direção ou tendência, e minister, que significa subordinação ou obediência. Isto significa dizer que quem administra é responsável ou tem a direção de uma determinada tarefa, com recursos humanos e materiais subordinados a ele. De forma ampla, administrar pode ser definida como uma ação que busca gerir, governar e alocar recursos para a obtenção de um fim. Este conceito pode parecer amplo demais, mas é utilizado por você todos os dias, mesmo sem saber. Imagine-se em sua casa. Agora imagine que você convidou alguns amigos para almoçar com você. Mesmo de forma intuitiva, algumas perguntas são realizadas, como: O que irei cozinhar? Quais utensílios são necessários? O que tenho em minha dispensa e o que necessito comprar? Isso tudo é administrar! É planejar, organizar e realizar ações para conseguir reunir os amigos em um simples, mas prazeroso almoço de domingo. Alguns autores, como Maximiano (2012), afirmam que administrar é o processo de tomar, realizar e alcançar ações que utilizam recursos para alcançar objetivos. Chiavenato (2000) complementa que a administração é responsável por fazer as coisas por meio de pessoas, de modo eficiente e eficaz. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 4 IMPORTANT E “Administração é a arte de fazer coisas através de pessoas” (Mary Parker Follet). Antes de pensarmos nas grandes empresas existentes atualmente, a administração já se fazia presente há muitos séculos. Desde seus primórdios, a humanidade adota práticas de administração. Há muitos séculos, por volta do ano 5.000 a.C., surgiu na Suméria, atual Iraque, os primeiros indícios da arte e do exercício de administrar, quando seus habitantes procuravam uma forma para melhorar a resolução de seus problemas práticos. Posteriormente, os egípcios construíram gigantescas estruturas graças ao planejamento, obtenção e distribuição de seus recursos. Aproximadamente 500 a.C., a China encontrou grande necessidade de adotar um sistema de governo para o império, levando ao surgimento da Constituição de Chow e as Regras de Administração Pública de Confúcio. Paralelamente, a história militar de alguns reinos, como a Roma Antiga, apresenta traços de gerenciamento de recursos e pessoas, indicando o uso maciço da administração. Já na Idade Média, os senhores feudais utilizavam-se dos princípios administrativos para gerenciar suas terras e seus exércitos. A Igreja Católica, que teve forte atuação na Idade Média, pode ser considerada a organização formal mais eficiente da civilização ocidental. No final da Idade Média, um grande acontecimento faz com que a administração se tornasse ainda mais importante. Após anos e anos de trabalho artesanal, o avanço da ciência e o uso de máquinas levaram a uma grande evolução no modo como os bens eram produzidos. Todas essas mudanças foram denominadas Revolução Industrial. A Revolução Industrial modificou o modo como as pessoas produziam seus bens e como estas também os consumiam. Havia uma necessidade forte de consumo, pois muitas pessoas tinham disponível capital para realizar compras. Por consequência, esta grande demanda por produtos exigiu um grande esforço na produção de bens. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO GERAL 5 IMPORTANT E A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, entre 1760 e 1840. Ela se constituiu de uma série de mudanças ocorridas na Europa, principalmente, a substituição do trabalho artesanal pelo trabalho em grande escala, com a implantação do trabalho assalariado e grande uso de máquinas na produção de bens. Outras duas revoluções industriais ainda ocorreram. A segunda, entre 1760 a 1860, com a utilização da energia elétrica e dos motores à explosão, utilizando os combustíveis fósseis. A terceira, já nos séculos XX e XXI, com os avanços tecnológicos como o computador, celular e a engenharia elétrica. Com o avanço da produção, por meio da Revolução Industrial as manufaturas passaram a necessitar cada vez mais da administração. Esta se tornou essencial, uma vez que era necessário um grande esforço para organizar os recursos, funcionários e estrutura para a produção dos bens de maneira rápida, contínua e em grande volume. Mais recentemente, as produções em grande escala foram sendo aprimoradas. Não era possível mais pensar somente em produzir, mas produzir com qualidade, com responsabilidade e, principalmente, com foco no futuro, visando ao bem-estar das pessoas e baixo impacto no meio ambiente. Todas as atividades ocorridas, desde os primórdios da humanidade, passando pelos grandes impérios, a Revolução Industrial até a mais recente revolução tecnológica, demonstram a importância da administração. A administração como ciência é bem recente, ela tem um pouco menos de 100 anos. No entanto, sua importância, como já falamos, foi e é fundamental para a evolução da humanidade. Conforme afirma Chiavenato (2004), a administração foi a responsável direta e indireta pelo espetacular aumento da riqueza ocorrido no decorrer do século passado e pela incrível melhoria da qualidade de vida dos povos, principalmente, dos países mais avançados. Por ser tão recente nos dias de hoje, a Administração revela-se como uma área do conhecimento humano repleta de complexidades e desafios, mas também se traduz em grandes oportunidades. O profissional que utiliza a administração como meio de vida pode atuar nos mais variados níveis de uma organização: desde o nível hierárquico de supervisão elementar até o nível de dirigente máximo da organização. “Pode atuar nas diversas especializações da Administração: seja em Administração da Produção (de bens ou serviços prestados pela organização), ou Administração Financeira, ou Administração de Recursos Humanos, ou Administração Mercadológica, ou ainda a Administração Geral” (CHIAVENATO, 2004, p. 2). Tudo dependerá dos objetivos que se pretende alcançar. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 6 De forma geral, a administração está perfeitamente adequada ao contexto da administração rural. Técnicas e conhecimentos administrativos são utilizados todos os dias em grandes fazendas, indústrias de processamento e até pequenosempreendimentos e propriedades. Em um mercado altamente competitivo e ávido por produtos de qualidade e preços acessíveis, a administração rural é fundamental para se conseguir alcançar estes objetivos. Nesse contexto, o responsável pela administração rural é ator principal, sendo ele o responsável pelo bom andamento do negócio. 3 ADMINISTRAÇÃO COMO ATIVIDADE Pense o seguinte: Existe um modo correto de administrar uma empresa? As pessoas nascem com este talento ou é possível aprender a administrar? Como já foi abordado no início deste tópico, a administração envolve três fatores: Objetivos – aquilo que se deseja alcançar, conseguir; Recursos – aquilo que podemos utilizar, como tempo, dinheiro, instalações, máquinas e até mesmo pessoas, e; Decisões – que é o processo administrativo em si, definido por Fayol (1990) como o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar. FIGURA 1 – O PROCESSO ADMINISTRATIVO FONTE: Adaptado de Fayol (1990) Administrar é muito mais uma forma de pensar do que a simples utilização de técnicas. É entender quais fatores a empresa ou organização dispõe e utilizá-las da maneira mais efetiva possível. Dentro do contexto do agronegócio, é entender quais recursos temos em uma propriedade, o que se necessita para produzir mais e melhor e quais ações devem ser tomadas para que essa produção ocorra de maneira eficiente e eficaz. Podemos definir que a administração, em vez de se preocupar somente em ensinar a fazer certas coisas – o como – ensina que coisas devem ser feitas em determinada situações – o porquê. Como evidenciado, mesmo sendo um processo de pensamento, ou de planejamento, administrar é também uma ação. Maximiano (2000, p. 26) afirma que “a administração é um processo de tomar decisões e realizar ações”. Assim, é preciso entender o contexto em que se encontra a organização, pois isso determinará como será realizada sua administração. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO GERAL 7 Cada negócio ou empresa apresenta características diferentes. “Não há duas propriedades ou empresas iguais, assim como não existem duas pessoas idênticas. Cada organização tem seus objetivos, seu ramo de atividade, seus dirigentes e seu pessoal, seus problemas internos e externos, seu mercado, sua situação financeira, sua tecnologia, seus recursos básicos, sua ideologia e política de negócios” (CHIAVENATO, 2004, p. 2). NOTA O que são empresas? Empresa é uma associação de pessoas com um objetivo comum, que exploram um negócio que produz bens ou serviços no intuito da obtenção de lucros. Neste universo, as empresas podem atuar em diversos ramos, dentre eles, o agronegócio. Segundo o Estatuto da Terra, Lei nº 4.504/64, Art. 4, § 4º “Empresa Rural é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore econômica e racionalmente imóvel rural, dentro de condição de rendimento econômico. Suas atividades podem ser classificadas em agrícola, zootécnica e agroindustrial”. FIGURA 2 – AUMENTO DE RENDA NA EMPRESA RURAL FONTE: Disponível em: <http://ead.senargo.org.br/blog/ importancia-da-gestao-financeira-na-empresa-rural>. Acesso em: 14 jul. 2018. O sucesso de uma empresa, seja urbana ou rural, é determinado, principalmente, pelo modo como atua o seu gestor, ou seja, seu modo de agir, pensar e tomar decisões, o que chamamos de habilidades gerenciais. Como em qualquer cargo de liderança, particularmente na administração, habilidades básicas são necessárias para que sejam obtidos resultados e os objetivos estabelecidos alcançados. Conforme Meyer Jr. (2003), tendo em mente que administrar uma organização refere-se a uma mescla de processos, e que o trabalho da administração tem profunda influência no desempenho das organizações, é decisivo o conhecimento de habilidades gerenciais necessárias aos gestores. As habilidades podem existir previamente, mas elas também podem ser adquiridas, tanto pelo estudo quanto pela experiência do dia a dia. Katz (1974) classifica as habilidades gerenciais em três tipos básicos, denominados: técnicas, humanas e conceituais. Elas variam em função do nível hierárquico do administrador na organização. Quanto maior o nível hierárquico, maior será a necessidade de todas as habilidades ao administrador. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 8 FIGURA 3 – NECESSIDADE DE HABILIDADES X NÍVEL HIERÁRQUICO Necessidade Nível Hierárquico Habilidades Conceituais Habilidades Gerenciais Habilidades Técnicas FONTE: Lacombe e Heilborn (2003, p. 11) A habilidade técnica compreende o entendimento, a proficiência em um tipo específico ou particular de atividade, especialmente, envolvendo métodos, processos, procedimentos ou técnicas. Desse modo, essa habilidade está ligada à realização de tarefas e está intimamente posicionada junto à profissão do indivíduo, como marceneiro, advogado, contador e outros. Muitos gestores começam em uma determinada organização como operários ou técnicos, tendo domínio sobre essas habilidades, que vão perdendo importância à medida que sobem de nível, dando lugar a habilidades humanas e conceituais (PETERSON; FLEET, 2004). Eles continuam a ter domínio sobre as habilidades técnicas, mas precisam, aos poucos, desenvolver habilidades de gestão, que abrangem mais do que somente o saber fazer. A habilidade humana é definida por Katz (1974) como a capacidade de trabalhar com outras pessoas e construir cooperativamente um esforço do grupo que lidera. É entender como as pessoas se comportam e ajudá-las, no dia a dia, a conseguirem o máximo de si. O gestor da empresa deve ter em mente que o resultado que pretende alcançar para a organização depende, em máxima instância, dos resultados individuais e coletivos de seus subordinados, ou seja, o sucesso de um depende, antes de qualquer coisa, do sucesso de todos. Por fim, em níveis hierárquicos mais elevados (diretores, supervisores gerais), a habilidade conceitual é a mais necessária. Ela é importante, pois é o que dá ao gerente a visão do todo, compreendendo a capacidade de síntese e domínio sobre todas as áreas da organização. Katz (1974) define a habilidade conceitual como a capacidade de enxergar a organização como um todo e ter visão sistêmica. É com base nessa visão que a organização é dirigida, tendo um impacto muito elevado as decisões tomadas pela alta gerência. A capacidade de conhecer o ambiente em que se encontra a organização, bem como compreender com clareza os pontos fortes e fracos são necessários nesta habilidade. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO GERAL 9 Para alcançar o sucesso, os administradores enfrentam a necessidade do desenvolvimento das habilidades gerenciais, como as descritas nos parágrafos anteriores. Em resumo, em todos os níveis hierárquicos, as três habilidades são requeridas. No entanto, a utilização de cada uma será mais intensa, ou não, à medida que se avalia o posicionamento do gestor na organização. Não se pode também limitar todas as habilidades necessárias a apenas três tipos, no entanto, todas as habilidades necessárias derivam ou estão inseridas nessas categorias. Katz (1974) afirma que é possível notar que as habilidades por vezes se sobrepõem, já que estão muito inter-relacionadas, sendo difícil determinar onde uma termina e outra começa. De forma geral, as habilidades enunciadas por Katz (1974) servem de base para o entendimento da atuação dos gestores na organização, atuando como premissas para a ação de liderança. Elas não são garantias de sucesso de uma organização, mas permitem adequar a atuação dos gestores às diversas necessidades das organizações. Até aqui, entendemos que a administração surgiu muito antes das empresas modernas. Entendemos também que ela pode ser definida como uma forma de pensar. Aprendemos que para ser um bom gestor é necessário ter e buscar determinadas habilidades. No entanto, quais são as funções que ele exerce dentro de uma organização? 4 FUNÇÕES ADMINISTRATIVAS DE UMA EMPRESA RURAL Como já vimos anteriormente, nofinal do século XIX e início do século XX, em virtude da grande transformação ocorrida pela Revolução Industrial, as indústrias se fortaleciam e alcançavam tamanhos infinitamente maiores do que os simples ateliês. Cada uma dessas indústrias necessitava de pessoas que comandassem e organizassem todo o seu funcionamento. Nesse cenário, surgiram as primeiras teorias da administração e sobre a atuação do gestor nas empresas. Fayol (1841-1925) foi o primeiro autor a classificar de forma sistemática o trabalho do administrador e suas funções dentro das organizações. Segundo ele, os gestores das empresas são responsáveis por cinco funções: prever, organizar, comandar, coordenar e controlar (FAYOL, 1990). Segundo Chiavenato (2004, p. 12), as funções são descritas como: • Prever: visualizar o futuro e traçar o programa de ação. • Organizar: constituir o duplo organismo material e social da empresa. • Comandar: dirigir e orientar o pessoal. • Coordenar: ligar, unir, harmonizar todos os atos e esforços coletivos. • Controlar: verificar que tudo ocorra de acordo com as regras estabelecidas e as ordens dadas. Com o tempo, os conceitos lançados por Fayol foram sendo adaptados. Comandar e coordenar foram substituídos por liderar. Alguns autores, por outro lado, substituem liderar por dirigir, já que envolve os elementos liderar e UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 10 executar. No entanto, esses conceitos estão presentes até hoje na administração das empresas e são fundamentais para se entender a atuação do administrador. Hoje em dia, eles são classificados em quatro funções básicas: Planejar, Organizar, Dirigir e Controlar. FIGURA 4 – AS QUATRO ETAPAS DO PROCESSO ADMINISTRATIVO FONTE: Adaptado de Chiavenato (2012) As funções que exerce o gestor, no entanto, ocorrem de maneira conjunta em uma organização. Não é possível apenas planejar ou comandar em momentos distintos. Em virtude disso, quando consideradas de maneira integrada, as funções administrativas formam o que denominamos processo administrativo. O processo administrativo pode ser entendido como o conjunto de ações que o administrador exerce em todas as áreas da empresa. Estas ações, por sinal, são orientadas pelos objetivos que se pretende alcançar no curto, médio e longo prazos, o que envolve planejamento e atitude empreendedora. IMPORTANT E Objetivos são os resultados esperados para a empresa, como lucro, crescimento, sobrevivência, segurança e prestígio. São os resultados específicos ou metas que se deseja atingir. As funções gerenciais, ainda que tenham sido estabelecidas em um contexto industrial, são a base para a atuação de qualquer gestor, em qualquer organização. Elas possibilitam ao administrador determinar como será o seu trabalho na empresa e como avaliar o que está sendo realizado. Veremos a seguir, cada uma dessas funções. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO GERAL 11 4.1 PLANEJAR Planejar é o primeiro passo no processo de administrar. É ele que irá desenhar o caminho que as pessoas na empresa deverão seguir para alcançar os objetivos. É determinar onde a empresa se encontra hoje e onde ela pretende chegar. “Planejar significa que os gestores pensam antecipadamente em seus objetivos e ações, e que seus atos são baseados em algum método, plano ou lógica, e não em palpites. São os planos que dão à organização seus objetivos e que definem o melhor procedimento para alcançá-lo” (STONER, 1999, p. 5). Ao elaborar o plano de ações, os administradores devem ter em mente as metas, os recursos que serão necessários para alcançá-las, bem como a descrição das tarefas que serão realizadas. Todo este processo é constituído de seis passos básicos: • Definir objetivos: é preciso primeiro definir os objetivos, o que se pretende alcançar. Estabelecidos os objetivos, eles servirão de guia para o restante do planejamento. Eles devem conter claramente onde se pretende chegar, o que se espera daqui um, cinco, dez ou mais anos. • Verificar qual a situação em relação aos objetivos: como ponto de partida é necessário determinar qual é a situação da empresa atualmente em relação aos objetivos estabelecidos. Isso se faz extremamente importante, pois é necessário saber onde “eu estou agora”, para saber onde quero ir. É preciso primeiro se localizar, para depois começar a caminhar. • Desenvolver premissas quanto às condições futuras: esta etapa refere-se a estabelecer, de forma clara, o cenário em que se encontra a organização se ela tomar determinada ação. É analisar o que pode ajudar ou prejudicar o progresso em direção aos objetivos. • Analisar as alternativas de ação: determinados os objetivos e os possíveis cenários que podem ocorrer, é preciso, em seguida, descrever quais ações serão tomadas. É relacionar quais as ações disponíveis para se alcançar as metas. • Escolher um curso de ação entre as várias alternativas: o penúltimo passo é determinar, entre as várias ações possíveis, qual ou quais são mais adequadas para se conseguir alcançar os objetivos. É tomar a decisão do que será feito, escolhendo uma alternativa e abandonando as demais. • Implementar o plano e avaliar os resultados: a última etapa é começar a agir. Colocar as ações em prática e verificar, após um determinado tempo, se estas ações estão levando aos objetivos que se pretendia. Nesta etapa, também se determina se serão necessárias ações corretivas. De forma simplificada, Chiavenato (2000) traz a elaboração dessas etapas em forma de perguntas a serem respondidas: UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 12 FIGURA 5 – PERGUNTAS PARA A FORMULAÇÃO DO PLANO DE AÇÃO ADMINISTRATIVO FONTE: Chiavenato (2000, p. 344) Apesar de parecer algo extremamente técnico, o planejamento nem sempre é realizado somente por administradores ou especialistas. A participação de todas as pessoas envolvidas na organização enriquece o planejamento, pois amplia o conhecimento da organização, uma vez que permite que todas as suas áreas sejam exploradas. É vital, para o bom planejamento, conhecer o contexto em que a organização está inserida, seu microambiente, sua missão e quais são os seus objetivos. Em uma empresa rural, o planejamento é crucial para o sucesso desta. Fatores ambientais que interferem no manejo do solo, como a falta de chuvas ou o aumento de um insumo, já constituem situações de grande estresse para a gestão rural. O planejamento, por outro lado, contrabalanceia esses fatores, permitindo previsibilidade e tomada de ações de forma antecipada, o que não elimina os riscos, mas possibilita aos empreendimentos rurais se prepararem melhor às adversidades. O planejamento deve ser abrangente a toda organização, porém ele é subdividido em níveis. Isso ocorre, pois é estabelecido um plano geral ou estratégico, que é repassado aos níveis intermediários, os quais repassam seus planos ao nível operacional. Os níveis de planejamento são classificados em: a) Planejamento estratégico O planejamento estratégico se faz definindo os objetivos pretendidos para a organização e a forma de se alcançar tais objetivos. Ele reflete a visão de longo prazo da organização, busca estabelecer os produtos e serviços que a organização pretende oferecer e os mercados e clientes a quem pretende atender. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO GERAL 13 b) Planejamento tático Ele tem foco em unidades, departamentos ou áreas da organização. Eles são elaborados visando alcançar o que foi estabelecido pelo planejamento estratégico. Seu foco é voltado para os responsáveis intermediários nas empresas, como gerentes ou supervisores. c) Planejamento operacional Este planejamento define os procedimentos e processos que serão adotados no dia a dia da organização para se alcançar os objetivos do planejamento estratégico e operacional. Ele abrange as atividades e os recursos necessários para se obter os objetivos. Embora o planejamento se refira ao futuro e ao que se pretende alcançar, ele deve ser contínuo epermanente, sendo renovado à medida que a organização avança no tempo. Ele também não deve ser estático. O fazer acontecer, ou a ação do gestor, deve se sobrepor ao planejamento sempre que necessário. Conforme afirma Maximiano (2000, p. 191), “o planejamento prepara a ação, mas não a substitui”. A atitude de fazer a ação predominar sobre o planejamento evita a síndrome da paralisia, que acontece quando o gestor se preocupa tanto em planejar ou fazer previsões, que termina por não fazer nada. Um dos fatores principais ao se fazer o planejamento é seu alcance no tempo. Cada empresa, em seu ramo, pode determinar o alcance de datas e prazos para obtenção dos resultados. Em média, as empresas elaboram seu plano estratégico para 10 anos, seu plano tático para um ano e seu plano operacional mensal ou trimestralmente. Ao término desses prazos, as empresas analisam e revisam cada plano, levando sempre em consideração os seus objetivos. 4.2 ORGANIZAR A segunda função administrativa nas empresas é denominada organizar. Ela complementa e inicia o processo de implantação do plano da empresa (SENAR, 2012), consistindo em buscar a melhor forma para colocar em prática o que foi planejado. É a função que coloca em ordem os recursos físicos, financeiros e humanos das empresas, prontos para serem utilizados. Chiavenato (2000, p. 202) afirma que o processo de organizar consiste em três etapas: • Determinar as atividades específicas necessárias ao alcance dos objetivos planejados (especialização). • Agrupar as atividades em uma estrutura lógica (departamentalização). • Designar as atividades às específicas posições e pessoas (cargos e tarefas). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 14 De forma simplificada, a organização se traduz por designar tarefas e agrupá-las em departamentos, em delegar autoridade e distribuir os recursos para toda a organização (DAFT, 2010). Em uma empresa rural, esta função é responsável por preparar a produção, organizar os recursos humanos, as finanças e a comercialização. Ao se organizar a empresa rural, um dos principais tópicos se refere à produção. Um levantamento detalhado de todos os itens que compõem a empresa rural, também denominado inventário, proporciona ao administrador uma visão ampla do que ele tem disponível. A organização destes recursos pode ser realizada pela localização, em um mapa, por exemplo, das construções, culturas, benfeitorias, áreas de pastagens (SENAR, 2012). A organização de galpões, ordenando os implementos e máquinas de acordo com sua utilização, bem como de utensílios e insumos, permite rápida utilização e otimiza o tempo necessário para se realizar determinadas tarefas. A correta manutenção dos equipamentos e construções, em tempo hábil, reduz significativamente o custo de manutenção e aumenta consideravelmente a vida útil desses itens. Um aspecto importante na organização se refere ao planejamento da mão de obra. Estabelecer uma matriz de disponibilidade, descrita em detalhes sobre as habilidades e competências de cada empregado permite direcionar o serviço e evitar desgastes pessoais. Estar atento às normas de segurança, higiene e legislação trabalhista também fazem parte do processo de organizar. Como pode ser verificado, a função organizar antecede o agir das empresas. Administradores que prezam por organizar suas empresas evitam desperdícios e utilizam de forma potencial os recursos, tanto físicos quanto humanos, alcançando de maneira mais ágil seus objetivos. 4.3 DIRIGIR Após estabelecer o planejamento e organizar os recursos para a obtenção dos resultados, a função direção entra em cena. Conforme afirma Chiavenato (2000, p. 368), “dirigir significa interpretar os planos para as pessoas e dar as instruções e orientação sobre como executá-los e garantir o alcance dos objetivos”. De forma simplificada, é atribuir a cada pessoa, ou funcionário, suas responsabilidades. Nesta função, o gestor é responsável por estabelecer as linhas de comando, as funções de cada um e as tarefas que cada um executará em seu trabalho. Uma das principais ferramentas administrativas da direção é a utilização de um organograma. Ele permite aos gestores e aos funcionários da empresa verificar de forma objetiva quem são os responsáveis por cada área, bem como de permitir identificar quem são as pessoas abaixo e acima de cada cargo. Isso se faz importante no sentido de organizar as linhas de comando, evitando atropelos e desmandos, demonstrando também as atividades que competem a cada setor. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO GERAL 15 O organograma é uma representação gráfica da estrutura da empresa. Ele especifica os órgãos, os níveis hierárquicos e as principais relações entre eles. Sua finalidade principal é definir, de forma clara e objetiva, como a empresa está organizada (LACOMBE; HEILBORN, 2003). FIGURA 6 – EXEMPLO DE ORGANOGRAMA DE UMA EMPRESA RURAL FONTE: Os autores No entanto, esta função não trata somente de direcionar o trabalho, ela também é denominada liderança. Liderar, no entanto, vai além, pois exige mais do que somente direcionamento do trabalho. Liderar é utilizar de influência, de forma positiva, para motivar os empregados a alcançarem as metas da empresa (DAFT, 2010). Dessa forma, a função dirigir é composta, também, por acompanhar os empregados em suas atividades, por compartilhar cultura e valores, e por conhecer cada pessoa e a área onde atua. É se comunicar de forma clara e objetiva, respeitando as características de cada um e desenvolver nos empregados um forte desejo de participar de forma ativa das atividades na organização. Também é motivar o funcionário, demonstrando sua importância, capacidades e, principalmente, reconhecendo seu trabalho. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 16 NOTA “Motivar é uma questão muito pessoal e nem sempre o salário é o principal elemento motivador. Levar à motivação significa despertar o interesse e o entusiasmo da pessoa para a execução do trabalho” (SENAR, 2012, p. 87). 4.4 CONTROLAR A função controlar verifica se o que foi planejado e implantado está sendo alcançado. Lacombe e Heilborn (2003) definem que controlar compreende acompanhar ou medir determinada coisa, analisar e avaliar os resultados obtidos com o que foi previsto e tomar as medidas corretivas cabíveis. Ela significa monitorar as atividades da empresa, determinando se a organização está na direção correta de suas metas, fazendo correções, caso seja necessário (DAFT, 2010). Controlar significa, portanto, comparar. A comparação, requerida pelo controle, é realizada com base nos diferentes planejamentos estabelecidos para a empresa. Ele é classificado conforme seu tipo, baseado nos níveis estratégico, tático e operacional (CHIAVENATO, 2012). O controle estratégico, ligado ao planejamento estratégico, controla o desempenho e os resultados que a empresa obteve como um todo. Ele é composto por balanço e relatórios financeiros, controle de lucros e perdas, e análise sobre os investimentos realizados. Em uma empresa rural é importante ressaltar a área financeira, analisando-se o fluxo de caixa e a variação do patrimônio líquido. O controle tático é voltado para os níveis intermediários ou departamentos de cada empresa. Em geral, ele é realizado anualmente, sendo composto por controle orçamentário e contabilidade de custos. Ele avalia os diversos setores e permite determinar quais áreas são mais lucrativas ou quais departamentos exigem maior investimento. O controle operacional é realizado no curto prazo, realizado muitas vezes de maneira contínua na organização. Ele pode ser composto, em uma empresa rural, pelo controle da quantidade produzida de determinado bem, bem como de sua qualidade. No entanto, em todos os tipos de controle são encontradas quatro etapas fundamentais. Em um primeiro momento, devem-se determinar os padrões de desempenho, em seguida, realizar medidas, interpretar e, por fim, tomar medidas corretivas.TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO GERAL 17 • Os padrões de desempenho são valores válidos, mensuráveis, compreensíveis e realistas, que têm por objetivo servir de base para a medição do progresso ou resultado desejado (LACOMBE; HEILBORN, 2003). Eles podem ser traduzidos por medidas, como volume de produção, o custo unitário de algum produto, bem como o nível de qualidade exigido. Eles são os termos, ou padrões que serão avaliados. • Medidas podem ser traduzidas como o registro do trabalho efetuado. Elas são expressas em unidades e faz-se importante ressaltar que o registro dessas unidades deve ser realizado de maneira contínua, à medida que o processo ocorre, e não ao final. • Interpretação dos resultados ocorre da comparação dos padrões estabelecidos com o que de fato ocorreu ou o que foi alcançado. • Ações corretivas são etapas do controle voltadas para o futuro. Ela se refere a tomar ações, no tempo correto e de intensidade correta. Pequenos erros ou distorções não podem ser tratados com mudanças radicais e desnecessárias. Em suma, o controle deve ser realizado com bom senso, buscando sempre avaliar as situações de forma particular. Ele não deve ser utilizado como forma de penalizar determinados funcionários ou setores. Do mesmo modo, as ações a serem tomadas devem direcionar a empresa ao centro de seus objetivos, porém não devem engessar as atividades das empresas. É possível, conforme afirma Chiavenato (2010), após estudar cada uma das funções, determinar que o planejamento serve para definir os objetivos, traçar as estratégias e caminhos. A organização elenca o potencial e capacidade de cada pessoa na organização e traça um panorama geral dos recursos disponíveis, efetivando a ação dos administradores. A direção ultrapassa o sentido de atribuição, mas mostra os rumos e dinamiza as pessoas para que aproveitem os recursos da melhor maneira possível e utilizem todo o seu potencial. Enfim, o controle possibilita que todas as coisas funcionem da maneira correta e no tempo certo. A atuação dos administradores na vida das pessoas não é recente. Desde os primórdios é possível verificar a atuação de líderes e grandes gestores, porém, apenas recentemente sua atuação foi evidenciada, especialmente, por meio da descrição de suas habilidades e funções. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 18 LEITURA COMPLEMENTAR ADMINISTRAÇÃO RURAL: O AGRONEGÓCIO NO BRASIL Fabrícia Araújo A Administração Rural é um conjunto de atividades envolvidas que se relacionam ao controle e gerenciamento dentro de um setor agrícola. O administrador com foco no agronegócio tem tido um espaço grande no mercado brasileiro A Administração trata das atividades necessárias para a realização do planejamento (estratégias), da supervisão e da coordenação de uma organização. O mercado exige do administrador habilidades e competências que venham agregar valor ao ambiente corporativo, como a capacidade de coordenar e supervisionar equipes, ser organizado, ter espírito de liderança, entre outras. Ele deve estar apto a desenvolver as quatro funções administrativas, que são: planejar, organizar, dirigir e controlar. A Administração Rural é considerada o ramo da Administração e é definida como o conjunto de atividades que ajuda o produtor rural na tomada de decisões relacionadas a sua unidade produtiva, tendo como objetivo chegar ao melhor resultado econômico sem que a produtividade da terra seja prejudicada. Segundo Heleno (2009, p. 22), “qualquer que seja o empreendimento, não importando se produz flores, milho, hortaliças, pequenos animais ou derivados de leite, exige-se hoje que princípios da administração sejam postos em prática”. Dessa forma, o administrador rural deve desempenhar as funções administrativas no ambiente rural e ter conhecimento dos fatores externos e internos (preços dos produtos, disponibilidade e eficiência de mão de obra na região, existência de mercado para o produto e o clima). A partir de culturas como café, soja e cana-de-açúcar, houve a construção da economia. Com isso, as espécies agrícolas passaram a atender não apenas ao mercado interno nacional, mas também ao mercado externo, o que fez com que impulsionasse ainda mais a economia do país. O Agronegócio no Brasil é o setor de maior movimentação de bens do país. Além disso, contribui para o crescimento de empregos diretos e indiretos. De acordo com Heleno (2009, p. 24), “o Brasil é um país que vem se consolidando no setor do agropecuário desde sua descoberta, graças ao que oferece, em termos de riquezas naturais, aos empreendedores rurais”. A extensão do país, suas riquezas naturais e o clima (tropical) são responsáveis por favorecer o desenvolvimento agrícola. Hoje, o Brasil tem uma grande tradição agrária, seu surgimento deu início desde sua colonização, e esse legado tem se estendido com o passar dos séculos. TÓPICO 1 | ADMINISTRAÇÃO GERAL 19 O termo agribusiness (significa agronegócio, em português) engloba toda a atividade econômica envolvida com a produção, estocagem, transformação, distribuição e comercialização de alimentos, fibras industriais, biomassa, fertilizantes e defensivos (SEBRAE.com). Em outras palavras, pode ser entendido como o conjunto de diversas atividades produtivas relacionadas à agricultura e pecuária dentro de um ponto de vista econômico. É um termo que faz com que ultrapassem as fronteiras da propriedade rural, seja ela agrícola ou pecuária. Ele está articulado dentro dos três setores de atividade econômica: primário, secundário e terciário, envolvendo a participação de todos de forma direta ou indiretamente no processo até chegar ao consumidor final. Hoje, o Brasil é considerado uma potência mundial no aumento de exportações de produtos (alimentícios e energéticos) do agronegócio. O processo administrativo é composto por quatro etapas, a saber: planejamento, organização, direção e controle. No agronegócio, a presença das quatro atividades não seria algo a ser considerado diferente. Pelo contrário, nesse sistema produtivo existe uma necessidade maior do planejamento, muitas vezes por conta da incerteza que existe nesse ambiente. Com isso, pode-se entender que qualquer que seja a produção é importante que se tenha uma atenção para essas quatro etapas. Embora hoje muitos produtores tenham a noção da importância da aplicação da administração no meio rural, a sua ausência ainda é um dos maiores entraves no cenário agrícola, pois a maior parte dos esforços ainda é focada na produção em si. Isso vem diminuindo com o passar dos anos, em decorrência das constantes mudanças que vêm ocorrendo no ambiente econômico, existindo hoje a percepção de que a falta de administração em relação ao que se produz no meio rural, pode gerar prejuízos irreversíveis. FONTE: ARAÚJO, Fabrícia. Administração Rural: O agronegócio do Brasil. 2014. Disponível em: <http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/administracao-rural-o-agronegocio-no- brasil/81695/>. Acesso em: 14 jun. 2018. 20 Nesse tópico, você aprendeu que: • Administrar é o processo de tomar, realizar e alcançar ações que utilizam recursos para alcançar objetivos. • A administração envolve três fatores: Objetivos – aquilo que se deseja alcançar, conseguir; Recursos – aquilo que podemos utilizar, como tempo, dinheiro, instalações, máquinas e até mesmo pessoas, e; Decisões – que é o processo administrativo em si. • Cada negócio ou empresa apresenta características diferentes. Não há duas propriedades ou empresas iguais, assim como não existem duas pessoas idênticas. • A habilidade técnica compreende o entendimento, a proficiência em um tipo específico ou particular de atividade. • A habilidade humana é definida como a capacidade de trabalhar com outras pessoas e construir cooperativamente um esforço do grupo que lidera. • A habilidade conceitual é a capacidade de enxergar a organização como um todo e ter visão sistêmica. • As quatro funções básicas gerenciais são: planejar,organizar, dirigir e controlar. • Objetivos são os resultados esperados para a empresa, como lucro, crescimento, sobrevivência, segurança e prestígio. São os resultados específicos ou metas que se deseja atingir. • Planejar significa que os gestores pensam antecipadamente em seus objetivos e ações, e que seus atos são baseados em algum método, plano ou lógica e não em palpites. • As funções exercidas pelo administrador são amplas e extravasam o planejamento, organização, direção e controle, porém elas servem de guia às ações e atitudes dos gestores. RESUMO DO TÓPICO 1 21 1 Cite e descreva, resumidamente, as três habilidades necessárias ao administrador rural. 2 Quais são as funções gerenciais presentes em uma empresa rural? 3 Quais são os três níveis de planejamento existentes na gestão das empresas? AUTOATIVIDADE 22 23 TÓPICO 2 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Imagine um grupo de pessoas à margem de um rio e este precisa acessar a outra margem a fim de conseguir um caminho mais curto até a cidade. FIGURA 7 – UMA PONTE A SER CONSTRUÍDA FONTE: Disponível em: <https://pixnio.com/pt/paisagens/rio/rio-ceu-azul- panorama-colina-paisagem-natureza-ceu-montanha-ao-ar-livre>. Acesso em: 14 jul. 2018. O grupo obviamente precisa de um acesso à outra margem, que de forma mais eficiente é realizado por uma ponte. Para conseguir tal objetivo é necessário que este grupo se organize e trabalhe em conjunto, objetivando a construção da ponte. Mas, de onde virão os recursos? Quem será o responsável? Existe material disponível? Estas perguntas fazem parte do planejamento estratégico para a construção da ponte e da solução do problema de acesso dessas pessoas. Desta forma, podemos definir que este grupo de pessoas tem uma meta, ou seja, um estado futuro desejado. No entanto, precisam de um plano ou um roteiro que especifica como os recursos serão alocados, a programação da construção e as ações necessárias para se conseguir construir a ponte. Todo esse processo é chamado de planejamento. Em uma empresa, o planejamento estratégico é aquele que define o rumo dela, ele compreende as ações que serão tomadas no futuro, levando em consideração as condições da empresa e do mercado em que ela está inserida, identificando em paralelo as oportunidades e ameaças, os pontos fortes e os pontos fracos. É, em suma, mentalizar os objetivos que a empresa pretende alcançar e determinar, em seu contexto interno e externo, as forças que atuam UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 24 contra e a favor de suas ações. Maximiano (2012) afirma que para uma empresa, a estratégia é o caminho para garantir seu desempenho e sobrevivência, ela abrange os objetivos da organização e os caminhos para chegar até eles. 2 ETAPAS DO PLANEJAMENTO O planejamento estratégico se faz por meio de um processo. Este processo, conforme determina Maximiano (2012), é uma série de análises e decisões composta por: • Análise da situação estratégica da organização – Onde estamos? • Análise do ambiente – Quais são as ameaças e oportunidades do ambiente? • Análise interna – Quais são os pontos fortes e fracos dos sistemas internos? • Elaboração do plano estratégico da organização – Para onde devemos ir? O que devemos fazer para chegar até lá? Todas essas etapas ajudam a estabelecer as ações que os administradores tomarão para alcançar suas metas. Elas devem ocorrer de maneira contínua, ou seja, a todo o momento o administrador deve revisar estas etapas, pois cada situação analisada é diferente do momento anterior. FIGURA 8 – PROCESSO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO FONTE: Maximiano (2012, p. 103) Realizar o planejamento estratégico exige, portanto, um processo dinâmico. Em uma empresa rural, o planejamento estratégico é fundamental para o sucesso do empreendimento e não se diferencia das empresas industriais urbanas. Bastos (2006) identifica que planejar estrategicamente uma empresa implica em: • possibilitar a identificação das oportunidades e ameaças que possam surgir no meio ambiente; • assegurar a necessária preparação às mudanças identificadas; • melhorar a exploração dos pontos fortes, das oportunidades, neutralizar os pontos fracos e as ameaças à empresa rural; • visualizar os problemas internos, externos e as prioridades de solução. TÓPICO 2 | PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 25 De forma geral, as empresas rurais, ao estabelecerem seu planejamento estratégico, devem idealizá-lo contendo claramente: o negócio da empresa; sua missão, sua visão; a análise do ambiente; seus objetivos e metas; e suas ações estratégicas. 3 IDENTIFICANDO O NEGÓCIO DA EMPRESA Identificar o negócio da empresa é determinar o seu âmbito de atuação. Bastos (2006, p. 1) afirma que “na definição do negócio, o empresário rural deve indicar que mercado atende, tipo de cliente atual ou em potencial, e não se limitando apenas aos produtos que produz, a fim de não limitar a visão do seu negócio, mas torná-la mais abrangente, visando à possibilidade de ampliação de suas atividades afins”. Esta identificação é denominada visão ampliada de negócio, pois abrange toda a organização rural. O administrador rural deve, em um primeiro momento, definir quais são as atividades básicas na propriedade. Ele deve fazer um levantamento geral do imóvel, conhecer seu capital físico, financeiro, natural e humano. Com esses dados em mãos, o produtor consegue ter uma visão global da empresa, pois conseguirá, de forma clara, saber o que é possível ou não realizar dentro da organização. QUADRO 1 – TIPOS DE CAPITAL Tipos Exemplos Capital físico Máquinas, construções, benfeitorias e equipamentos. Capital financeiro Dinheiro em caixa, contas a receber, produtos acabados, estoques de insumo. Capital natural Fertilidade do solo, recursos hídricos, florestas. Capital humano Administradores, gerentes, inseminadores, cozinheiros, tratoristas. FONTE: Adaptado de Senar (2012) Realizado o diagnóstico e levantamento do que há disponível na propriedade, o administrador deve, conforma afirma Maximiano (2012), definir com clareza qual é a missão ou negócio da empresa. IMPORTANT E Missão pode ser definida como a razão da existência da empresa. Ela deve definir, de maneira ampla e explícita, o escopo básico do negócio da organização (DAFT, 2010). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 26 Maximiano (2012) afirma que a missão esclarece o propósito ou razão de ser da organização, ou sua utilidade para os clientes. A missão vai além de descrever somente o produto ou serviço de uma empresa, ela deve ir além, contendo aspirações e valores daquela empresa. Exemplo: Missão da empresa Mundo Verde: Oferecer qualidade de vida, consumo responsável e sustentabilidade. Bastos (2006) demonstra que, ao definir a missão da empresa rural, o administrador deve buscar responder a algumas questões: • O que a empresa rural deve fazer? • Para quem a empresa rural deve fazer? • Por que a empresa rural deve fazer? • Como a empresa rural deve fazer? • Onde a empresa rural deve fazer? Não é necessário responder a todas, porém elas ajudam no processo de formulação da missão da empresa rural. De forma intuitiva, muitos produtores já têm em mente qual é sua missão. Ela só precisa ser definida e colocada em prática por meio do planejamento estratégico. O estabelecimento da missão permite dar um norte às atividades da empresa em seu dia a dia, direcionando, em qualquer lugar, tempo ou situação, a direção que deve ser seguida por seus administradores e funcionários. Estabelecida a missão, é preciso buscar a visão da empresa. A visão da empresa é enxergar como ela estará no futuro, o que a empresa deseja alcançar. Ao determinar a visão, é necessário ter em mente como queremos que essa seja vista e reconhecida (SEBRAE, s.d.). Para facilitar este processo, o administrador deve buscar responder às seguintes perguntas: • O que queremos ser no futuro? • Em que direção a empresa pretende seguir? • Comoa empresa deseja ser reconhecida no futuro? Exemplo: Visão da empresa Arcor: Ser a empresa nº 1 de guloseimas e biscoitos da América Latina e consolidar a participação no mercado internacional. TÓPICO 2 | PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 27 Conhecidos e estabelecidos o negócio da empresa, sua missão e visão, o administrador rural deve conhecer o ambiente em que atuará. 4 FAZENDO A ANÁLISE DO AMBIENTE Entender o ambiente em que se encontra a organização é fundamental, pois permite identificar os diversos fatores que influenciam a gestão dos negócios. Analisar o ambiente é determinar quais os fatores internos e externos influenciam as atividades das empresas e quais as forças que auxiliam ou impedem uma resposta adequada às ameaças. O ambiente das empresas é dividido em ambiente interno e externo. No ambiente interno, existem condições controladas pelo empresário que favorecem o alcance de bons resultados (pontos fortes) e outras que dificultam (pontos fracos). "No ambiente externo, de forma análoga, existem condições favoráveis (oportunidades) e desfavoráveis (ameaças) nas quais o produtor não exerce influência direta" (SENAR, 2012, p. 21). Analisar o ambiente interno das empresas é verificar quais são suas vantagens e desvantagens frente aos concorrentes. É conhecer de forma detalhada o ambiente operacional da empresa, composto por fatores limitantes ou de potencialidades, ou seja, é conhecer a fundo o que a empresa consegue ou não realizar em termos financeiros, produtivos e administrativos. NOTA Pontos fortes são fatores internos que deixam a empresa em vantagem em relação a seus concorrentes. Pontos fracos são fatores internos que deixam a empresa em desvantagem em relação a seus concorrentes. No ambiente externo, por outro lado, são analisadas as oportunidades e ameaças vivenciadas pela empresa. “Ele é composto por condições e fatores externos que influenciam a empresa, no seu negócio, e no qual ela tem pouco ou nenhum poder de influência” (BASTOS, 2006, p. 1). UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 28 IMPORTANT E Oportunidades são circunstâncias que o ambiente externo proporciona e que o produtor pode aproveitar quando lhe convier. “Ameaças são circunstâncias que o ambiente externo apresenta e que podem dificultar ou inviabilizar as atividades da empresa rural” (SENAR, 2012, p. 23). Ao contrário do ambiente interno, onde o administrador rural tem controle sobre seus pontos fortes ou fracos, no ambiente externo não há qualquer controle por parte dele. Novas leis, linhas de crédito, uma praga ou doença e alta no preço de algum insumo podem ocorrer a qualquer momento, sem previsão ou controle. QUADRO 2 – ANÁLISE DO AMBIENTE INTERNO E EXTERNO Ambiente Interno Ambiente Externo Pontos fortes: Solo com alta fertilidade. Mão de obra qualificada. Bom potencial genético do rebanho. Disponibilidade de água. Oportunidades: Linhas de crédito com juros atrativos. Proximidade de centros consumidores. Malha rodoviária em bom estado. Treinamentos e cursos realizados. Pontos fracos: Baixo capital de giro. Áreas degradadas. Ausência de controles produtivos e financeiros. Pouco conhecimento em administração rural. Ameaças: Instabilidades climáticas. Novas pragas e doenças. Grande oferta e pouca procura. Alto custo dos insumos. FONTE: SENAR (2012, p. 24) O administrador da empresa rural pode listar, como apresentados no quadro, os diversos pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades. Esta visão global da empresa garante previsão e possibilita planejamento das ações. De forma geral, é interessante que o administrador fortaleça os pontos fortes e aproveite as oportunidades. De modo distinto, deve-se eliminar pontos fracos e estar atento às ameaças, suas causas e possíveis soluções para elas. 5 OBJETIVOS E METAS Após ter estabelecido o negócio da empresa, seus valores, e ter conhecido o ambiente em que atua, é possível ao administrador elaborar os objetivos que pretende alcançar, ou seja, determinar quais resultados a empresa rural pretende alcançar em um determinado período de tempo. TÓPICO 2 | PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 29 IMPORTANT E Objetivos são resultados esperados a serem alcançados pela empresa. Metas são definições específicas do que se pretende alcançar, de forma quantitativa e com prazo determinado. Bastos (2006) define que os objetivos e metas devem: • Ser coerentes com os recursos e o ambiente da empresa. • Ser viáveis e desafiadores. • Ser desafiadores. • Ser mensuráveis. • Possuir prazos definidos. • Ser em número reduzido. “As metas existem para monitorar o progresso da empresa. Para cada meta existe, normalmente, um plano operacional, que é o conjunto de ações necessárias para atingi-la. Toda meta, ao ser definida, deve conter a unidade de medida e onde pretende chegar” (SEBRAE, s.d., p. 4). Um dos principais aspectos a serem considerados, ao se elaborar objetivos e metas, é estabelecer o prazo para que ocorram. É necessário informar, no plano estratégico, se as metas devem ser alcançadas em 1, 5, 10 ou mais anos. Isso permitirá, no futuro, fazer o acompanhamento do que está ocorrendo com o que foi planejado. 6 A AÇÃO ESTRATÉGICA Definidos os objetivos, metas e prazos, o administrador rural deve estabelecer tarefas que serão distribuídas aos setores e funcionários de modo a estabelecer quais ações serão tomadas e como serão realizadas. Essa etapa do processo é denominada ação estratégica. É definir como a empresa alcançará seus resultados. Um dos principais meios de se estabelecer a ação estratégica é realizar o planejamento operacional. Ele consiste na programação das tarefas e operações de rotina das empresas rurais. São ações contínuas e que ocorrem em todos os setores da empresa. Nesta etapa final, deverão ser planejados, baseados nos diversos itens descritos anteriormente, a produção, a área econômico-financeira e o fluxo de caixa. Deverão ainda ser analisados os resultados econômicos da empresa em relação as suas diversas atividades. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 30 LEITURA COMPLEMENTAR VISÃO E AÇÃO ESTRATÉGICA Cristian Menezes A visão está na mente do administrador e a ação está nos resultados concretos obtidos ao longo do tempo pelo seu trabalho. A gestão de negócios com eficácia implica compatibilizar o conhecimento adquirido com as exigências do mercado. Conhecimento e mercado dão origem e fundamentam o planejamento, que se relacionará com: cenários – como referências, e realidade de futuro. Os autores afirmam que não adianta ter estratégia sem possuir visão estratégica, que por sua vez não existe sem pensamento estratégico. Há quatro elementos essenciais para formação do planejamento estratégico: missão, cenários, objetivos e metas. Toda estratégia visa à qualidade, pois não há qualidade sem estratégia. A ação tem que ser dividida com seus colaboradores, cada meta tem seu titular responsável e corresponsáveis envolvidos no seu cumprimento. A necessidade destes colaboradores renovarem neste sentido é fundamental. As empresas consideram alguns conceitos como: cultura organizacional, clima, filosofia, políticas, gestores participativos, educadores. Para isso é muito importante a figura do líder renovador que necessita reunir em seu perfil: visão estratégica, capacidade integradora, sinergia de equipes e foco no cliente. Tudo isso sem esquecer da missão da empresa que é sua razão de ser. A estratégia dentro de uma empresa consiste em mudanças competitivas e abordagens comercias que os gerentes executam para atingir o melhor desempenho da empresa, a estratégia é planejamento do jogo em gerenciar para reforçar a posição da organização no mercado. As estratégias gerenciais moldam a maneira de condução dos negócios da empresa, além de proporcionar um meio de ligar as ações que podem decidir uma determinada rota. Sem estratégia, um gerente não tem um rumo previamente considerado para seguir, e nem um programa de ação unificado paraproduzir os resultados desejados. Planejar o jogo gerencial com sucesso envolve as principais funções e departamentos dentro da organização. O grande desafio da implementação estratégica é moldar todas as decisões. Na realidade, uma boa estratégia é uma boa execução da mesma, são os sinais mais confiáveis de uma boa gerência, mas fica uma indagação de quem seria a responsabilidade pela elaboração e implementação da estratégia da empresa. A responsabilidade seria do diretor executivo, que é comparado com um capitão de navio, pois ele tem o encargo maior de elaborar e implementar a estratégia da empresa. O título de diretor executivo carrega consigo o manto de principal estabelecedor de estratégias e principal criador das mesmas para empresa como um todo. O vice-presidente de produção, comercialização, finanças, recursos humanos, entre outros departamentos funcionais, exercem importe influência na implementação da estratégia. TÓPICO 2 | PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 31 Os gerentes têm um papel de colocar em prática as estratégias, é falha idealizar que a responsabilidade é somente da alta gerência. A elaboração e implantação consiste em cinco passos: • Primeiro: decidir em que negócio a empresa precisa ser direcionada, fornecendo orientação a longo prazo e estabelecendo uma missão clara a ser cumprida. • Segundo: transformar a visão e a missão estratégica em objetivos de desempenho que podem ser atingidos. • Terceiro: elaborar estratégia para atingir os resultados desejados. • Quarto: executar e implementar a estratégia escolhida, com eficiência e eficácia. • Quinto: avaliar o desempenho, revisar os novos desenvolvimentos, ajustando o rumo a longo prazo, experimentando novas ideias e oportunidades. Em um mundo marcado pela incerteza, o planejamento torna-se indispensável. Superar problemas, aproveitar oportunidades, prevenir ameaças e navegar por tendências não é um caminho fácil. O certo, no entanto, é que a empresa, a organização e as pessoas que traçam metas, se comprometem com elas, criam uma visão do futuro, um conjunto de objetivos, crenças e valores que orientam a ação em direção ao futuro, possuem mais chances de sucesso que os outros que não programam suas ações. Assim, na empresa, o Plano de Ação Estratégica é um documento que deve existir sinalizando a direção, as intenções e as ações que devem ser executadas, tendo em vista o cenário presente, as oportunidades e as ameaças para poder construir o cenário futuro desejado. Toda empresa, por menor que seja, deve ter uma visão de futuro, um olhar para frente onde deseja chegar, pois quem não sabe onde deseja ir, tende a ter muito mais dificuldades na medida em que não planeja, não se antecipa aos problemas nem visualiza as oportunidades. É incomum também que pessoas de sucesso não tenham metas, que não façam seu planejamento estratégico pessoal. Quem precisa alcançar um porto, deve antes de mais nada traçar os planos da viagem e procurar verificar os riscos. Planejar estrategicamente é fazer isto a longo prazo. Vejamos então alguns conceitos de planejamento: Transformar a realidade em uma direção escolhida, organizar a própria ação, implantar processo de intervenção sobre a realidade, agir racionalmente, dar precisão à própria ação, explicar os fundamentos da ação do grupo, pôr em ação as técnicas para racionalizar a ação. Para desenvolver um planejamento com sucesso é necessária uma racionalização do mesmo, ou seja, utilizá-lo como processo mental. É um processo dinâmico, contínuo e complexo, desenvolvido antes, durante e após a realização de intervenções sistematizadas e orientadas para a consecução de resultados. Envolve operações mentais dentre as quais se destacam: identificação, análise, previsão e decisão a respeito do que, por que, como, quando, onde, (com) quem e para quem se quer promover, em relação a uma dada realidade. UNIDADE 1 | ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS AGROPECUÁRIAS 32 É necessário operar o planejamento a partir de uma estratégia. Planejar não é apenas uma tarefa de planejadores, mas de todos os envolvidos no processo. Não é mera declaração de intenções e sim o enunciado de objetivos reais e atingíveis. Exige a ousadia de visualizar um futuro melhor, planejamento é instrumento de gestão, processo técnico envolvendo diferentes momentos que interagem de forma dinâmica no movimento contínuo de conhecimento da realidade, requerendo permanente negociação. Também se relaciona ao detalhamento das atividades necessárias à efetivação das decisões tomadas em planos, programas e projetos. Analisando o tema, concluímos que visão e ação estratégica dentro das organizações se fazem necessárias como ferramentas fundamentais para o sucesso e crescimento das organizações, pois é impossível alcançar objetivos sem planejamento e definição de metas, sejam elas de curto ou longo prazo. Podemos observar ainda que para a eficácia da implantação da estratégia é fundamental o comprometimento de toda equipe e é imprescindível ter profissionais qualificados para planejar com eficiência e agir de forma estratégica. “Uma visão sem ação é somente um sonho. Uma ação sem visão é somente um passatempo. Uma visão com ação pode transformar o mundo”. FONTE: MENEZES, Cristian. Visão e ação estratégica. 2008. Disponível em: <http://www. administradores.com.br/artigos/carreira/visao-e-acao-estrategica/27061/>. Acesso em: 14 jun. 2018. 33 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Em uma empresa, o planejamento estratégico é aquele que define o rumo da empresa, ele compreende as ações que serão tomadas no futuro, levando em consideração as condições da empresa e do mercado em que ela está inserida, identificando em paralelo as oportunidades e ameaças, os pontos fortes e fracos. • Ao estabelecerem seu planejamento estratégico, os administradores devem idealizá-lo contendo claramente: o negócio da empresa; sua missão, sua visão; a análise do ambiente; seus objetivos e metas; e suas ações estratégicas. • Identificar o negócio da empresa é determinar o seu âmbito de atuação. • Missão pode ser definida como a razão da existência da empresa. • O ambiente das empresas é dividido em ambiente interno e externo. • Pontos fortes são fatores internos que deixam a empresa em vantagem em relação a seus concorrentes. • Pontos fracos são fatores internos que deixam a empresa em desvantagem em relação a seus concorrentes. • Objetivos são resultados esperados a serem alcançados pela empresa. • Metas são definições específicas do que se pretende alcançar, de forma quantitativa e com prazo determinado. 34 1 O que é planejamento estratégico e qual sua principal utilização? 2 Defina o que é missão e escreva, com suas palavras, a missão de uma empresa de plantio de soja. 3 O que é o ambiente interno e externo das empresas? AUTOATIVIDADE 35 TÓPICO 3 DEMANDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO O setor agrícola brasileiro cresce exponencialmente ano a ano. Contudo, as dinâmicas de mercado devem ser bem entendidas. A demanda interna por alimentos e a necessidade de novas commodities faz com que haja uma disputa entre os mercados interno e externo. Cada vez mais a produção tem de agregar volume, bem como a qualidade. O produtor se vê na obrigação de investir em tecnologia para conseguir competir no mercado. Tecnologias de produção, colheita, transgenia, entre outros, são a base da produção frente ao mercado competitivo em que se encontra. Têm- se comprador, contudo este é cada vez mais exigente em qualidade agregada a volume de produção. Assim exige-se uma melhor especialização da produção, junto à mão de obra dos profissionais que compõem esse ramo de atividade. 2 DEMANDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS A agropecuária envolve tanto as atividades de cultura da terra (agricultura) quanto as de criação de animais (pecuária). Toda produção destinada à alimentação humana e/ou animal, matéria-prima de fomento da indústria para produção industrial,
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