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1 ARTICULAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO Aline Cristina de Jesus Karen Boostel dos Santos Lilian Claudia Martins Felipe Lorena Mandelli Raquel Amaral Drumond Taisnara de Jesus RESUMO O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre o papel da teoria e da prática na formação do alfabetizador indagando assim seus desafios nessa articulação e sua importância. Alfabetizar vai muito além de ensinar a ler e escrever exige o professor comprometimento impossibilitar os seus alunos vivencias de mundo a fim de que estes saibam o que se lê e o que se escreve. Alfabetização e letramento são palavras conectadas, é pela alfabetização e o letramento que as crianças começam a participar diretamente do mundo, exercitando suas funções sociais, como cidadão consciente, dominando a escrita e a leitura convencional nas suas práticas sociais. O desafio que se coloca para os primeiros anos da Educação Fundamental é o de conciliar esses dois processos. PALAVRAS CHAVES: Alfabetização, Letramento, Desafios ABSTRACT This paper aims to reflect on the role of theory and practice in the formation of the literacy teacher, thus inquiring about its challenges in this articulation and its importance. Literacy goes far beyond teaching how to read and write. The teacher requires commitment to make his students' experiences of the world impossible so that they know what is read and what is written. Literacy and literacy are connected words, it is through literacy and literacy that children begin to participate directly in the world, exercising their social functions, as a conscious 2 citizen, dominating conventional writing and reading in their social practices. The challenge for the first years of elementary education is to reconcile these two processes. KEY WORDS: Literacy, Literacy, Challenges INTRODUÇÃO O processo de alfabetização é a base para uma educação construtiva e significativa para o educando. Durante a alfabetização se desenvolve a leitura, a escrita e se auxilia no processo de comunicação. Para que o processo de alfabetização ocorra da eficaz, é necessário que o professor responsável por esse processo tenha domínio teoria e principalmente que a ponha em prática da forma mais espontânea, levando sempre em consideração as necessidades e interesse da classe. O processo de alfabetização vai muito além da memorização de códigos, tais como BA, BE, BI, entre outros, é necessário dar sentido para esses códigos e assim fazer com os alunos entendam o quão importante é a leitura e a escrita nas práticas sociais, e partir desse entendimento é que as crianças criarão o gosto e prazer na leitura. O presente trabalho visa mostrar que para que o processo de alfabetização ocorra de forma satisfatória é necessário que o professor saiba conciliar a teoria com a prática, tornando esse processo o mais dinâmico possível construindo assim o processo de entendimento da criança através da prática. 1. ALFABETIZAR E LETRAR Alfabetização é o processo de aprendizado da leitura e da escrita. Letramento é o desenvolvimento do uso qualificado da leitura e escrita nas práticas sociais. Já dizia Paulo Freire (2001) que aprender a ler e a escrever é aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto numa relação dinâmica vinculando linguagem e realidade e ser alfabetizado é tornar-se capaz de usar a leitura e a escrita como meio de tomar consciência da realidade e de transformá-la. 1.1. ENTENDENDO O CONCEITO TÉCNICO DO QUE É ALFABETIZAR E LETRAR: 3 Alfabetização – Ação de alfabetizar, de propagar o ensino da leitura; conjunto de conhecimentos adquiridos na escola. Letramento- Conjunto de conhecimentos de escrita e leitura adquiridos na escola; capacidade de ler e de escrever ou de interpretar o que escreve. Ambas as definições mostram a importância do papel da escola no processo de ensino e aprendizagem da escrita e da leitura. Alfabetizar e letrar são duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário: o ideal seria alfabetizar letrando, ou seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura da escrita. Magda Soares (1998) A alfabetização é o processo onde a criança aprende a decifrar os elementos que compõe a escrita. Essa decifração passa pela memorização do alfabeto, reconhecimento das letras e ligação entre sílabas. Mas o que muitos não sabem é que esta alfabetização por si só, não prepara o indivíduo para o mundo letrado. O letramento é um pouco mais amplo do que a alfabetização. Ele corresponde à interpretação e a clareza da língua e, não apenas à decifração dela. Quando a criança é capaz de entender um texto, falar com clareza interpretar uma história e se expressar de forma eficaz por meio das palavras empregadas por ele, torna- se então um aluno letrado. Apesar de ambas terem o conceito semelhante, alfabetização e letramento tem diferenças, que são muito importantes para o processo de ensino e aprendizagem de uma criança. Uma criança alfabetizada não é necessariamente uma criança letrada, e vice-versa. [...] um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que saber ler e escrever, já o indivíduo letrado, indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita. (SOARES 1998, P.39,40) A autora é bem objetiva sobre os dois conceitos e deixa uma noção metódica do que cada um representa, tornando assim possível entender o que se se refere cada processo no seu âmbito escolar. Compreende-se que o letramento torna o indivíduo seguro para organizar discursos, interpretar e compreender textos e a 4 refletir sobre eles. Já a alfabetização deixa o indivíduo seguro para desenvolver os mais diversos métodos de aprendizado da língua. De acordo com Magda Soares (2003), “Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno.” Para tanto, cuidados serão necessários ao conduzir a alfabetização. De acordo com a autora apenas ensinar a ler e a escrever é insuficiente. Para uma pessoa se tornar letrada, ela precisa ter experiências culturais com práticas de leitura e escrita, práticas estas que são adquiridas antes da educação formal. Porque se uma convive em ambiente letrado, com pessoas que leem, que tem contato com revistas, livros, gibis, qualquer coisa que a leve a pensar em leitura, certamente ela se motivará para ler e escrever, começando desde cedo a poder, refletir sobre as características dos diferentes textos os quais tem acesso. Segundo o PCN de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, “Leitura e escrita são práticas complementares, fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no processo de letramento — a escrita transforma a fala (a constituição da “fala letrada”) e a fala influencia a escrita (o aparecimento de “traços da oralidade” nos textos escritos). São práticas que permitem ao aluno construir seu conhecimento sobre os diferentes gêneros, sobre os procedimentos mais adequados para lê-los e escrevê-los e sobre as circunstâncias de uso da escrita.” (PCN,1997, p.35) De acordo com o Parâmetro Curricular Nacional que a criança deve dominar o uso da escrita e leitura e fazer uso desse processo, por meio de práticas sociais em situações da vida cotidiana e escolar, onde se entende-se por esse processo como letramento. 2. O PAPEL DA TEORIA E DA PRÁTICA NA FORMAÇÃO DO ALFABETIZADOR Alfabetizar vai muito além de ensinar a ler e a escrever, exige do professor o comprometimento em possibilitar aos alunosvivências do mundo letrado, a fim de que estes saibam compreender o que se lê e se escreve, bem como fazer uso dessas habilidades em seu cotidiano. Ou seja, o papel do professor é de intervir, criticar e assim transformando conhecimento dos seus alunos. O 5 professor tem a função de mediador desse conhecimento, através de práticas de alfabetização que estimulem a leitura e a escrita, de maneira que aconteça a aprendizagem efetiva na vida dos alunos. O professor tem como objetivo junto a criança construir seu conhecimento, saber que para se alfabetizar ela precisa refletir sobre a construção do sistema escrita alfabético. A escola precisa dar condições materiais, e suporte de profissionais que auxiliem o professor nas horas de maiores dificuldades. Porém, o professor hoje não é mais o único responsável pela alfabetização dos alunos, mais continua tendo um papel essencial neste processo, segundo Moll, (2009 p.50). “O professor pode desempenha um papel de facilitador que, colocando a disposição o material de leitura e escrita, não intervém no ritmo de aprendizagem dos alunos”. Pode também agir ao contrário, continuando a tratar como se todos tivessem o mesmo nível de conhecimento, sendo o professor a única fonte de saber que deposita todo o conhecimento no aluno. Sabemos que nas salas de aulas das escolas públicas há grande concentração de alunos e, portanto, o professor tem muitas dificuldades de atender as necessidades individuais, por isso que é importante o planejamento das aulas, abordando metodologias que proporcione uma melhor interação entre os alunos, para que um aluno auxilie o outro em suas aprendizagens. 3. ARTICULAÇÃO TEORIA-PRÁTICA NA ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO PARA O CICLO DE ALFABETIZAÇÃO. Ainda existem professores alfabetizadores que não dão muita importância para o planejamento de suas aulas e talvez seja essa negligência que resulta no avanço de crianças sem saberes construídos ao final de cada ano do ciclo de alfabetização. Regular a prática pedagógica e diagnosticar necessidades dos alunos é um dever de todo professor e é somente através do cumprimento deste dever que o direito do aluno poderá ser garantido. O planejamento docente alfabetizador deve ter como objetivo principal: A alfabetização da criança. É preciso que o docente questione e reavalie as estratégias a serem aplicadas para melhorar o tempo e o espaço, tanto o seu 6 próprio, que atua como mediador dos conhecimentos, quanto do aluno, que anseia pelo saber. O professor, no ciclo de alfabetização, precisa estar compromissado com a tarefa de alfabetizar e, para isso, precisa prever e rever sua prática. O aluno que chega ao 1º ano do ciclo de alfabetização está ali para ser alfabetizado, e cabe ao professor oportunizar condições para esse processo. Cada aluno tem seu tempo e seu ritmo, mas é direito dele ser alfabetizado no 1º ano do ciclo de alfabetização. O planejamento marca a intencionalidade do processo educativo e é um instrumento orientador do trabalho docente. Portanto, este documento deve ser assumido no cotidiano como um processo de reflexão, pois, mais do que ser um papel preenchido, é atitude e envolve todas as ações e situações do educador no cotidiano do seu trabalho pedagógico. (OSTETTO,2008). O planejamento não serve apenas para atender uma exigência legislativa, ele serve também como um instrumento que possibilita ao professor prever ações de ensino voltadas para a realidade dos estudantes, tornando a ação de ensinar mais prazerosa e o aprendizado mais eficaz. Há possibilidades a serem ofertadas num planejamento sistemático que atenda à diversidade no espaço de alfabetização. Se o docente planejou sua prática e previu estratégias que atendem à diversidade da sua turma, certamente, ele terá êxito em seu trabalho. Porém, se ele esteva presente em seu local de trabalho, mas não cumpriu com sua missão, não atendeu aos objetivos daquela aula, pois sua aula não tinha objetivo, não tinha planejamento. O professor alfabetizador precisa estar ciente das atribuições da sua prática e da responsabilidade que assume ao atuar no ciclo de alfabetização. Por mais diversas que sejam suas estratégias de ação, ele tem um compromisso público com a alfabetização das crianças. Seu planejamento concebido deve atender aos alunos que o esperam diariamente, mas, não pode ser um planejamento que apenas lista conteúdos para o decorrer do período letivo. Ele faz parte de uma escola, e toda escola tem seu projeto político-pedagógico. E é deste que derivam as ideias de sociedade que a instituição passa à aquele pequeno cidadão que ela intenciona formar. 7 Portanto, o planejamento docente também precisa considerar isso, pois é a meta da instituição. Queixas e justificativas não são motivos para restringir o aluno do seu direito de estar alfabetizado ao final de um período/ano/ciclo. Observar os direitos de aprendizagem e listá-los como um ornamento do mural da sala de aula ou do seu diário de classe não faz com que o aluno construa conhecimentos e desenvolva-se academicamente. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), concede a criança, Seis Direitos de Aprendizagem, que foram elaborados a partir de valores éticos, políticos e estéticos, representando os direitos de todas as crianças que fazem parte de uma Educação Infantil, e a maneira como elas aprendem. Os professores devem se guiar por esses direitos para elaboração do seu planejamento escolar. São Direitos de Aprendizagem: Conviver- As crianças têm o direito de conviver com outros indivíduos, usando diferentes linguagens e aumentando o conhecimento; Brincar- Elas têm o direito de brincar diariamente, em diferentes formas e espaços, ampliando as produções culturais; Participar- Toda a criança tem o direito de participar com adultos e outras crianças, na realização de atividades familiares e escolares; Explorar- Elas devem explorar todos os movimentos, desde gestos, sons, formas cores, palavras, entre outros, ampliando assim os seus saberes sobre a cultura; Expressar- Todas as crianças têm o direito de expressarem as suas emoções e necessidades em qualquer patamar; Conhecer-se- Elas devem construir a sua identidade pessoal, social e cultura. 3.1. COMO DESENVOLVER ESSES DIREITOS NO AMBIENTE ESCOLAR? Esses 06 direitos devem guiar todos em uma instituição de Educação Infantil, e fazer uso deles para que as crianças possam se desenvolver. Eles podem ser explorados através de brincadeiras, interações, e contação de histórias para que as crianças conheçam um novo universo da leitura, da imaginação, e da 8 interpretação. Utilizando conversas sobre um determinado assunto como uma leitura, por exemplo, com momentos de danças e músicas, para que elas possam se expressar através dos movimentos e gestos. Não tem uma regra específica para cumprir esses direitos, mas através das atividades que o professor possa fazer, eles serão garantidos, pensando nos campos que estruturam as formas de interação dentro da escola. É necessário que o professor faça uso constante destes direitos em seu planejamento, para que assim construa progressivamente estratégias que assegurem a alfabetização de cada aluno de sua turma. Por que não explorar com aquele aluno que assimila com facilidade os conhecimentos abordados enquanto os retoma com os demais? Uma atividade pode ser adaptada a diferentes níveis da alfabetização, e, para isso, a intervenção do professor é fundamental. É preciso instigar o conhecimento, lançar desafios que motivem a rotina da sala de aula e promovam o alcance dos objetivos propostos. 3.2. FORMAÇÃO DOCENTE CONTINUADA A formação continuada proposta pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade certa (PNAIC), foi desenvolvida por meio de planejamento sistemático. A ideia foi lançada; muito conhecimentofoi transmitido; estratégias foram abordadas; métodos foram revistos; experiências foram trocadas. PNAIC é um compromisso formal e solidário assumido pelos governos Federal, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios, desde 2012, para atender à Meta 5 do Plano Nacional da Educação (PNE), que estabelece a obrigatoriedade de “Alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do ensino fundamental. Faz-se necessário acreditar e querer comprometer-se com a tarefa de alfabetizar. O planejamento é a chave-mestra do sucesso da prática docente no ciclo de alfabetização. Para isso, há necessidade da vigília constante do docente alfabetizador sobre sua tarefa de planejar, pois, assim agindo, sua ação docente será qualificada e estará adequada às necessidades de aprendizagem das crianças, garantindo, desse modo, o seu direito de aprender. 9 Um dos maiores desafios na formação docente é propiciar, ao longo de seu desenvolvimento, experiências práticas capazes de construir sujeitos conscientes de sua atuação social, críticos e reflexivos. Uma formação docente sólida não está ligada apenas a uma formação teórica sobre conhecimentos específicos, mas no desenvolvimento de conhecimentos práticos, em procedimentos de ensino e de aprendizagem que permitam uma boa relação entre essas dimensões. Essas dimensões devem estar bem articuladas, principalmente na formação do professor alfabetizador, pois, o planejamento de atividades para o ciclo de alfabetização deve ser contextualizado e as particularidades da turma como um todo devem ser consideradas. A ação docente no ciclo de alfabetização precisa assumir o compromisso da plena alfabetização. Esse compromisso se dá quando a aprendizagem passa a ser vista como um direito do aluno. Para isso, é necessário que o professor organize sua prática e efetive seu trabalho, preveja ações e condições, fuja do improviso e da rotina, assegurando a unidade e continuidade, dando sentido ao que realiza em sala de aula. É um processo extenso que se conclui com a apropriação das relações entre fonemas e letras – que, no entanto, é por onde começa o método fônico. Ou seja, um método onde a alfabetização começa pelo fim do processo, a aprendizagem das relações fonema-letra, considerando como “evidência científica” apenas a psicologia cognitiva da leitura. Por outro lado, há os que optam por preceder essa aprendizagem das relações fonema-letra, que é a natureza do princípio alfabético, orientando a criança para a progressiva compreensão da língua escrita como um sistema de representação dos sons da língua, considerando: o desenvolvimento cognitivo com base nas “evidências científicas” da Psicologia cognitiva e da Psicogênese; o desenvolvimento linguístico, com base nas “evidências científicas” da Fonologia; o desenvolvimento motor – a aprendizagem da grafia das letras e manipulação dos instrumentos de escrita – pelas “evidências científicas” 10 das teorias e pesquisas sobre o desenvolvimento motor fino e da coordenação motora. Ao Considerarmos isso não geramos um método, mas procedimentos adequados a cada uma dessas facetas do desenvolvimento da criança. O fundamental é o alfabetizador ou alfabetizadora conhecer esse complexo e multifacetado processo de aprendizagem da língua escrita pela criança, de modo a orientar adequadamente sua aprendizagem. Não se trata de optar por um método de alfabetização, mas de alfabetizar com método. Isto é, compreendendo o processo e assim sabendo como agir e como intervir para a aprendizagem da criança. Infelizmente os cursos que formam alfabetizadores não os tem preparado para essa compreensão do processo de aprendizagem inicial da língua escrita pela criança. “A política prioritária na área da alfabetização deveria ser a formação de professores para a educação infantil e as séries iniciais, para que dominem as teorias e as práticas que os orientem à introdução da criança ao mundo da escrita – alfabetização e letramento.” (SOARES,2019) A tarefa de planejar é de responsabilidade do professor, e a execução do planejamento deve envolver todos que atuam na escola e formam a realidade escolar. Nesse sentido, possui dimensão coletiva, e a participação de todos define metas e meios para se alcançar objetivos pré-estabelecidos. Em cada espaço escolar é possível perceber a diversidade de contextos. Famílias conturbadas, realidades financeiras precárias, problemas de aprendizagem, diagnósticos e laudos não podem justificar o não planejamento do trabalho docente. A função do professor, como mediador do conhecimento no espaço escolar, está em buscar os meios necessários para ensinar as crianças, independentemente das condições que ela apresenta ao chegar à escola. O processo de organização e planejamento das atividades de alfabetização e letramento, varia de acordo com a concepção que se tem do termo, ultrapassando o universo da escrita enquanto objeto de ensino e aprendizagem da forma que se constitui nos contextos responsáveis pelo ensino formal, isto é, nas escolas. O trabalho com diferentes práticas de letramento varia de acordo com a concepção teórica de 11 cada profissional independentemente das condições que o meio oferece, dos objetivos docentes. Tanto no campo das teorias, quanto nos contextos das práticas alfabetizadoras existe a presença da heterogeneidade de níveis de alfabetização e letramento dos educandos, o que exige dos professores, uma adaptação curricular continua em suas práticas alfabetizadoras, pois “atuar nas séries iniciais significa conviver e trabalhar, a cada ano, com crianças dos mais diversos níveis de alfabetização e letramento”. (ABREU,2012,p.122). 4. DESAFIOS DA ARTICULAÇÃO ENTRE TEORIA E PRÁTICA Não é raro observarmos professores que considerem necessária a interação com diferentes gêneros textuais na formação do leitor/ escritor competente, mas que, na sala de aula, recorram basicamente a pseudotextos no trabalho de alfabetização. Esse tipo de prática não possibilita aos estudantes interagir com os materiais escritos fora do espaço escolar nem refletir sobre as funções sociais desses textos e sobre as relações que se estabelecem entre as pessoas por meio desses textos. Daí a importância de se perceber a sala de aula como um espaço que possa promover tanto o domínio de capacidades específicas da alfabetização, quanto o domínio de conhecimentos e atitudes fundamentais envolvidos nos diversos usos sociais da leitura e da escrita. Para que isso ocorra, é preciso o conhecimento da teoria relativa a esses domínios e sua articulação da pratica de ensino: é preciso que haja um equilíbrio entre ambos, e estabelecer esse equilíbrio tem sido um grande desafio, tanto para os acadêmicos quanto para os professores que atuam nas turmas de alfabetização. Esse equilíbrio poderá ser alcançado, se, para além do discurso-denúncia, tão presente nas pesquisas sobre alfabetização no Brasil, formos capazes de produzir pesquisas empíricas e estudos comparativos que propiciem a produção 12 de alternativas pedagógicas que possam subsidiar a prática dos professores alfabetizadores. Uma melhor compreensão dos limites e possibilidades dos processos escolares de alfabetização e letramento e a construção de alternativas pedagógicas que possam superar esses limites serão decorrentes desse diálogo. Buscando superar a perspectiva da denuncia daquilo que não funciona no processo de ensino da alfabetização em sala de aula, refletiremos sobre alguns impasses e dificuldades que os professores têm encontrado no processo de alfabetizar. 4.1. O PAPEL DA TEORIA E DA PRÁTICA NA FORMAÇÃO DO (A) ALFABETIZADOR (A) Defendemos a ideia de que o papel da teoria é oferecer aos (as) professores (as) a compreensão dos contextos históricos, organizacionais,culturais, sociais e de si mesmos como profissionais, nos quais realizam suas atividades docentes, para intervir, criticar, transformando-os, defende que os professores que atuam nas escolas também são produtores de conhecimento no seu trabalho cotidiano e o que os mesmos produzem em sua aplicação não convém de saberes Didática e Prática de Ensino na relação com a Formação de Professores EdUECE- Livro 2 01484 4 produzido por outros, “mas também um espaço de produção, de transformação e de mobilização de saberes que lhe são próprios”. É a partir dos estudos desses autores que compreendemos que a formação do (a) alfabetizador (a) não pode prescindir de estudos específicos sobre Linguística aplicada à educação, tanto a Psicolinguística, quanto a Sociolinguística, além das teorias sobre aprendizagem e desenvolvimento das crianças e dos estudos que visam compreender o processo de alfabetização e letramento na infância. A ausência de estudos específicos sobre alfabetização/letramento na licenciatura ficou ainda mais evidente com as dificuldades encontradas no trabalho pedagógico nos três primeiros anos do ensino fundamental: crianças em diferentes fases do processo de aquisição da leitura e da escrita: como lidar? 13 Percebemos, dessa forma, que ainda que a formação teórica não resolva as demandas da prática, e mesmo constatando que há saberes que só são gestados na prática, principalmente aqueles ligados à escolha, a gestão das informações, a tomada de decisão, a relação com os alunos, entre outros, há uma lacuna no que se refere aos saberes específicos da alfabetização no curso de Pedagogia. Esse trabalho nos conduz à constatação de que os (as) professores (as) são sujeitos caracterizados por uma determinada cultura, clima organizacional, que pensam e articulam seus saberes com os saberes teóricos, com novas construções e sentidos, e na proposição das transformações necessárias às práticas alfabetizadoras. Por fim, essa reflexão dá pistas de que o diálogo entre teoria e prática precisa ser fortalecido na formação em Pedagogia, para atender ao objetivo de equilibrar saberes disciplinares e saberes pedagógicos na formação específica, nesse caso, para atuação na alfabetização. CONSIDERAÇÕES FINAIS Alfabetizar com qualidade é um grande e complexo desafio, porém, possível. Pensar e planejar uma rotina alfabetizadora em que todos os alunos tenham os seus direitos garantidos, inclusive o de acesso a uma alfabetização libertadora, nos termos de FREIRE (1996) se limita para os que estão envolvidos neste processo, muitas vezes, de forma complexa. Sendo assim, é necessário que os processos de planejamento e organização das ações alfabetizadoras sejam fundamentadas em princípios que contemplem aspectos que conduzam as reflexões das diversas dimensões do processo de alfabetização, de maneira contínua e para além da simples codificação e decodificação de símbolos. Uma aula sem preparação, sem planejamento e sem uma proposta pedagógica, não cumpre o seu papel, que é o de ensinar. A formação continuada docente contribui efetivamente com as mudanças conceituais e metodológicas sobre os processos de alfabetização e de letramento. A formação continuada proposta pelo Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, alcançou seus objetivos, 14 porque foi desenvolvida por meio de um planejamento sistemático. A ideia foi lançada; muito conhecimento foi transmitido; estratégias foram abordadas; métodos foram revistos; experiências foram trocadas. No entanto, faz-se necessário acreditar e querer comprometer-se com a tarefa de alfabetizar. O planejamento é a chave-mestra do sucesso da prática docente no ciclo de alfabetização. Para isso, há necessidade da vigília constante do docente alfabetizador sobre sua tarefa de planejar, pois, assim agindo, sua ação docente será qualificada e estará adequada às necessidades de aprendizagem das crianças, garantindo, desse modo, o seu direito de aprender. Entender os conceitos de alfabetização e letramento como se fossem dois métodos de alfabetização, é uma concepção erronia, pois se trata de dois processos distintos. Alfabetização é o processo de aprender o sistema alfabético, de aprender a ler e a escrever, verbos sem complemento. Letramento é o processo de aprender a fazer uso desse sistema, atribuindo complementos a esses verbos: ler e interpretar textos de diferentes gêneros, escrever textos de diferentes gêneros, para diferentes objetivos, respondendo aos usos sociais da escrita no contexto em que vivemos. Claro que são dois processos distintos, mas indissociáveis: aprende-se a ler e escrever para a prática da leitura e da escrita no contexto sociocultural. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Guimarães, Amanda. Letramento e Alfabetização: Entenda a diferença. Superautor 2020. Disponível em: https://superautor.com.br/letramento-e- alfabetizacao-entenda-as-diferencas/ Acesso: 01/11/2020 Soares, Magda. Letramento: Um tema em três gêneros/ Belo Horizonte: Autêntica, 1998. Oliveira, Adriana Paula. Alfabetizar e letrar nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Passei Direto 2020. Disponível em: https://www.passeidireto.com/arquivo/61840319?utm_campaign=android- arquivo&utm_medium=mobile Acesso: 01/11/2020 TREVISAN, Camila. A prática pedagógica do professor alfabetizador. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/26136_12883.pdf Acesso: 08/11/2020 15 BRASIL. Diretrizes Curriculares nacionais: Conselho Nacional de Educação - Conselho Pleno. Resolução CNE/CP 1/2006. 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