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Prova Recurso de Apelação

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____VARA CRIMINAL DA COMARCA DE SANTA FÉ DO SUL/SP
Processo nº ________________________
JOÃO HENRIQUE, devidamente qualificado nos autos da Ação Penal, processo em epígrafe, que lhe move a Justiça Pública, através de sua procuradora e advogada que subscreve, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, apresentar RAZÕES DE APELAÇÃO, contra a respeitável sentença condenatória, com fulcro no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal.
Requer seja recebida e processada a presente razões de apelação e remetida, com as inclusas razões ao Egrégio Tribunal de Justiça.
Termos em que.
Requer deferimento.
Santa Fé do Sul/SP, 13 de Outubro de 2020.
Gabriela Lima Braguini
OAB/SP nº _____
	
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO.
Apelante: João Henrique
Apelado: Ministério Público
Processo Crime nº _________________
RAZÕES DE APELAÇÃO
Egrégio Tribunal de Justiça;
Colenda Câmara;
SÍNTESE PROCESSUAL
O Apelante foi denunciado como incurso no artigo 155, caput c.c o artigo 14, inciso II, ambos do Código penal, pelos seguintes fatos:
No dia 10 de junho de 2020, por volta das 14:00 horas, na Praça Matriz, da cidade de Santa Fé do Sul, teria tentado furtar a carteira da vítima, Mauro Gomes, porém, não estava com a carteira no momento do crime, tendo em vista que havia esquecido em casa.
Após o devido processo, o apelante foi condenado a uma pena restritiva de direito equivalente a 4 (quatro) anos de reclusão, em regime inicial fechado.
Inconformado com a respeitável sentença condenatória, o Apelante manifesta interesse em recorrer, pelo que se passa a elencar as razões que entende necessária a fim de reformar a sentença.
É a síntese processual.
DO DIREITO
- Ausência de justa causa
Cumpre destacar a ocorrência da ausência da justa causa para o exercício da ação penal, razão pela qual a denúncia sequer deveria ter sido recebida, nos termos do artigo 395, III do Código de Processo Penal.
Para configurar a justa causa são necessários dois requisitos, a prova da materialidade do fato e indícios de autoria suficientes para a condenação. A prova é a certeza da ocorrência do fato e os indícios da autoria, é a certeza que o acusado participou do crime. 
No caso concreto, está claro que não há provas da materialidade e nem indícios suficientes da autoria, pois existe apenas a palavra da vítima, contra a palavra do réu, além de não haver o objeto do furto. 
Portanto, não há que se falar em justa causa para o exercício da ação penal, pois, para a sua configuração, é necessário e imprescindível a prova da materialidade do fato mais os indícios suficientes de autoria. A ausência de qualquer um deles descaracteriza a justa causa, o que deveria ter causado a rejeição da inicial acusatória. 
- Ausência de provas
Conforme observa-se nos fatos narrados, a condenação foi totalmente embasada unicamente na palavra da vítima, sem qualquer prova robusta sobre a autoria do fato.
Ocorre que no atual Estado Democrático de Direito, em especial em nosso sistema processual penal acusatório, cabe ao Ministério Público comprovar a real existência do delito e a relação direta com a sua autoria, não podendo basear-se apenas no depoimento da vítima.
No direito penal brasileiro, para que haja a condenação é necessária a real comprovação da autoria e da materialidade do fato, conforme preceitua o código de processo penal ao prever expressamente o art. 386, inciso VII: “Art. 386.  O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça: VII – não existir prova suficiente para a condenação.”
O que deve ocorrer no presente caso, pois não há elementos suficientes para comprovar a relação do réu com os fatos narrados. Dessa forma, o processo deve ser resolvido em favor do acusado, ocorrendo sua absolvição. 
Fato é que de forma leviana instaurou-se o presente processo, desprovido de provas cabais a demonstrar a gravidade do ato, consubstanciadas unicamente em indícios que maculam a finalidade da ação proposta.
- Do crime impossível
 
O fato narrado evidentemente não constitui crime, pois de acordo com o art. 17, do CP: “não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime”.
Pode ser notado que trata-se de aplicação do instituto do crime impossível, onde se valoriza mais a vertente objetiva em detrimento da subjetiva. No crime impossível o agente age com dolo na prática do crime e efetivamente este não se consuma por circunstancia alheias à sua vontade. Porém, a tentativa não é púnica pelo fato de ser impossível a consumação, logo o bem jurídico não seria colocado em risco suficiente para justificar a intervenção do Direito Penal.
Nessa situação podemos verificar que João tentou praticar o crime de furto retirando a carteira da vítima, porém não existia tal objeto para ser subtraído, tendo em vista que a vítima havia esquecido a carteira em casa. Portanto houve a ineficácia absoluta da tentativa, diante da inexistência do objeto, impedindo assim sua punição.
O reconhecimento do crime impossível gera a atipicidade da conduta e, consequentemente, cabível a absolvição pelo fato evidentemente não constituir crime, com fulcro no art. 386, inciso III, do CPP.
-Fixação do mínimo legal
 
O apelante foi condenado a pena privativa de liberdade de 4 (quatro) anos, por infração ao artigo 155 c.c art. 14, inciso II, ambos do CP, tendo de cumprir a pena aplicada em regime fechado, sendo-lhe vedado o apelo em liberdade. Data vênia, a reforma da respeitável sentença se impõe, uma vez que o quantum da pena fixado na sentença se mostra excessivo diante das peculiaridades do caso concreto em análise. 
O ordenamento jurídico brasileiro adotou o sistema trifásico de aplicação da pena. Em todas as fases o réu não apresenta circunstâncias negativas. Diante disso, conclui-se por exagerada a condenação do apelante a pena privativa de liberdade de 4 (quatro) anos, vez que não existem fundamentos para que tal pena se afaste do mínimo legal de 1 (um) ano, devendo ser modificado o regime de cumprimento de pena para o regime aberto, nos termos do art. 33, §2°, c do Código Penal. Diante do exposto, requer-se seja julgado procedente o presente recurso de apelação, para reduzir a condenação para 1 (um) ano de reclusão, com a consequente modificação do regime inicial de cumprimento de pena para o regime aberto.
- Suspensão condicional do processo
De acordo com o art. 89, da Lei nº 9.099/95, nos crimes em que a pena mínima for igual ou inferior a 1 (um) ano, o Ministério Público poderá propor a suspensão condicional do processo. No caso em tela não houve essa proposta do apelado, devendo o processo ser anulado, conforme o art. 564, inciso IV, do CPP e remetido ao Ministério Público para apresentação da suspensão condicional do processo.
- Tentativa
O apelante foi condenado a pena de 4 (quatro) anos em regime inicial fechado, pelo incurso no art. 155 c.c art. 14, inciso II, ambos do CP, contudo, o Nobre Magistrado ao prolatar a sentença, não utilizou na dosimetria de pena a diminuição de pena, que consta no artigo referente a tentativa, condenando o réu no máximo permitido. 
Conforme o art. 14, parágrafo único, do CP: “Art. 14 - Diz-se o crime: Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.”. Logo, o apelante a pena do apelante deverá ser diminuída conforme o referido artigo.
- Regime inicial e substituição da pena
Importante destacar que, o apelante foi condenado pelo crime de furto, cuja pena é de detenção, de 01 a 04 anos, e multa, desta forma, imperioso mencionar que, crime como este, jamais pode ser iniciado em regime fechado, como previsto no art. 33, §2º, alínea ‘c’, do CP, devendo o apelante iniciar o regime no aberto. 
Além disso, diante da razoabilidade e proporcionalidade, o suposto crime, poderá ter comopena, uma restritiva de direito e multa ou duas restritivas de direito, conforme o art. 44, inciso I e § 2º, do CP.
Tendo em vista que todos os requisitos estão presentes, não será proporcional aplicar a pena restritiva de liberdade, que só poderá ser aplicada pelo Estado, quando não houver outra medida menos lesiva ao direito de liberdade do indivíduo. 
Nesse sentido, tem-se taxativamente, as penas restritivas de direitos, que podem ser fixadas da forma que melhor julgar o r. Juízo.
DO PEDIDO
Diante do exposto, requer:
a) Seja conhecido e provido o presente recurso;
b) Absolvição do réu, com fulcro no artigo 386, inciso II e IV, do CPP, tendo em vista a inexistência de prova da materialidade do crime e indícios suficientes de autoria;
c) Absolvição do réu, com fulcro no artigo 386, inciso VII, do CPP, pela ausência de provas;
d) Absolvição do réu, com fulcro no artigo 386 inciso III, do CPP e art. 17, do CP, pela ocorrência do crime impossível; 
e) Caso não entenda pela absolvição do acusado, requer a fixação da pena no mínimo legal, anulação do processo, conforme art. 564, inciso IV do CPP, e remessa dos autos ao Ministério Público para apresentação da suspensão condicional do processo, de acordo com o art. 89, da Lei nº 9.099/95;
f) Diminuição de um a dois terços da pena fixada, conforme art. 14, parágrafo único, do CP;
g) Se mesmo assim, permanecer na pena fixada, que altere o regime inicial para aberto e seja concedida a substituição da pena, conforme art. art. 33, §2º, alínea ‘c’ e art. 44, inciso I e § 2º, ambos do CP;
h) Por fim, requer que o apelante aguarde o julgamento em liberdade até o trânsito em julgado da sentença.
Termos em que.
Requer deferimento.
Santa Fé do Sul/SP, 13 de Outubro de 2020.
Gabriela Lima Braguini
OAB/SP nº ______

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