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Pratica Trabalhista

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DA __ª 
VARA DO TRABALHO DA CAPITAL DO ESTADO DE SÃO PAULO. TRT 2ª 
 
 
 
 
 
Mariana... , nacionalidade... , estado civil... , assistente administrativo, 
portadora da Cédula de Identidade RG nº... , inscrita no Cadastro de Pessoa Física sob o 
nº... , CTPS nº... série n°... , com Programa de Integração Social n°... , nascido em... , filho 
de... e ... , residente e domiciliado na... , por sua advogada e bastante procuradora que 
esta subscreve, (instrumento de mandato incluso), com escritório profissional sito à... , com 
endereço eletrônico e-mail... , vem, respeitosamente à presença de Vossa Excelência, 
propor a presente RECLAMAÇÃO TRABALHISTA a ser processada pelo rito ordinário, 
em face da Empresa Alpha, inscrita no CNPJ sob nº... , com sede ... , pelos motivos de fato 
e de direito a seguir expostos: 
 
DA RELAÇÃO DE TRABALHO 
Trata-se de contrato de trabalho no qual a Sra. Mariana, ora 
Reclamante no dia... foi admitida pela Reclamada-Empresa Alpha, para o cargo de 
assistente administrativo, com a remuneração contratada de R$ 1.200,00 (um mil e 
duzentos reais). 
 Ocorre que a Sra. Ana, a proprietária da Empresa Alpha, em diversas 
situações, ofende a Reclamante, Sra. Mariana a tachando como incapaz, chamando-a de 
burra e incompetente. Tais agressões são feitas na presença dos outros empregados e de 
clientes da empresa, a alto e bom tom, para não dizer “aos gritos”, que é a realidade. 
 Inicialmente a Reclamante, temendo perder o emprego em meio a 
dura crise de econômica e de desemprego que assola nosso país, desconsiderou as 
humilhações. Contudo, elas se intensificaram, motivo pelo qual vem em busca da tutela 
jurisdicional para presente! Trabalhista 
 
PRELIMINARMENTE 
Justiça Gratuita 
Considerando que a renda da Reclamante de R$1.200,00 00 (um mil 
e duzentos reais) tem-se por insuficiente para cumprir todas as suas necessidades e para 
a subsistência de sua família, devendo ser concedida a gratuidade da justiça. 
Assim, a concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, 
apresentando para tanto declaração de que seu salário é inferior a 40% do limite máximo 
dos benefícios do Regime Geral da Previdência (§4º, do artigo 790, da CLT), bem como de 
que não detém condições de arcar com as custas do processo sem prejuízo do sustento 
próprio e de sua família. 
Por tais razões, com fulcro no artigo 5°, LXXV ver da Constituição 
Federal, pelo art. 96 do CPC e 790 parágrafo quarto da CLT a Reclamante requer que seja 
deferida a justiça gratuita a Requerente 
 
DO ASSÉDIO MORAL 
Nossa Constituição Federal, seu artigo 3°, IV, elenca como um dos 
objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil a erradicação do preconceito e 
de quaisquer outras formas de discriminação, conforme se verifica: 
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da 
República Federativa do Brasil: 
 I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; 
 II - garantir o desenvolvimento nacional; 
 III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir 
as desigualdades sociais e regionais; 
 IV - promover o bem de todos, sem preconceitos 
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação. 
Ao regulamentar referido princípio constitucional, a Lei 9029/95 previu 
expressamente 
Art. 1° É proibida a adoção de qualquer prática 
discriminatória e limitativa para efeito de acesso à 
relação de trabalho, ou de sua manutenção, por motivo 
de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação 
familiar, deficiência, reabilitação profissional, idade, 
entre outros, ressalvadas, nesse caso, as hipóteses de 
proteção à criança e ao adolescente previstas no inciso 
XXXIII do art. 7o da Constituição Federal. (Redação dada 
pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) 
Ao conceituar Assédio Moral, a jurisprudência descreve 
“O assédio moral pode ser conceituado como o abuso 
praticado no ambiente de trabalho, de forma antiética, 
intencional e maliciosa, retirado no tempo, desvinculado 
da conotação sexual ou racial (que configuram hipóteses 
com definições específicas, quais sejam, assédio sexual e 
racismo, respectivamente), com intuito de constranger o 
trabalhador, através de ações hostis praticadas por 
empregador, superior hierárquico ou colega de trabalho, 
que cause intimidações, humilhações, descrédito 
isolamento, provocando na vítima um quadro de dano 
físico, psicológico e social. Sua natureza é 
predominantemente psicológica, atentando sempre 
contra a dignidade da pessoa humana.” (TRT-2, 
1001119-20.2017.5.02.0028, Rel. Ricardo Artur Costa e 
Trigueiros - 4 Turma - DOE 05/06/2018). (Grifo nosso) 
A caracterização do ASSÉDIO MORAL VERTICAL se dá pela 
exposição ao constrangimento pelo seu superior hierárquico, mediante a exposição 
humilhação pública, caracterizado em inúmeras situações que o reclamante foi 
amplamente chamada incapaz, burra e incompetente aos gritos. 
É de clareza meridiana a caracterização do assédio moral sofrido 
pela Reclamante, como se nota diante dos fatos elencados e dos depoimentos que serão 
trazidos pelas testemunhas a serem arroladas. 
 
DOS DANOS MORAIS 
Recentemente foi publicada uma pesquisa internacional no Journal of 
Business and Psychology, que aponta que ter gestores abusivos faz com que os 
funcionários se sintam desumanizados por suas empresas 
A pesquisa aponta que uma chefia abusiva, ou seja, a 
desumanização organizacional tem consequências negativas, por vezes 
irreversíveis, para o bem-estar dos indivíduos. E até mesmo para a própria eficiência da 
empresa, uma vez que faz com que os funcionários se sintam insatisfeitos, produzam 
menos e, saiam da organização. 
Os psicólogos sociais descreveram o fenômeno da 
desumanização como a negação da humanidade plena ao outro indivíduo. Trata-se de ter 
a humanidade negada por outras pessoas. 
Segundo os psicólogos o fenômeno ocorre quando: 
 o indivíduo é tratado com desrespeito; 
 seu superior o declara inapto para atividade que exerce; 
 quando o superior não compreende a sua individualidade; 
 quando não faz esforços para ter uma boa relação de 
convivência com o funcionário; 
 quando o empregado é impedido de aprender coisas novas, 
 o superior não permite que ele faça aquilo que é certo; 
 o empregado se sente tratado como um objeto. 
 
Conforme exposto, o presente caso trata-se de inegável caso de 
abalo a dignidade do trabalhador. A conduta da Reclamada foi arbitrária, abusiva e 
inconveniente submetendo a Reclamante a situações intolerável, desumanizando a 
Reclamante e gerando o dever de indenizar. 
A redação dada pela reforma trabalhista é perfeita aplicação: 
‘Art. 223-B. Causa dano de natureza extrapatrimonial a 
ação ou omissão que ofenda a esfera moral ou 
existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as 
titulares exclusivas do direito à reparação.’ 
‘Art. 223-C. A honra, a imagem, a intimidade, a 
liberdade de ação, a autoestima, a sexualidade, a 
saúde, o lazer e a integridade física são os bens 
juridicamente tutelados inerentes à pessoa física. 
Afinal, diante da conduta lesiva à honra objetiva da Reclamante, resta 
perfeitamente caracterizado o dano extra patrimonial indenizáveis. 
Não há que se falar, portanto, em obrigação da Reclamante de 
comprovar o efeito do dano moral que lhe foi causado. Tratar-se-ia de tarefa 
inalcançável a necessidade de demonstração de existência de um dano psíquico. 
A exposição da Reclamante a situação humilhante por parte da 
reclamada, e para agravar a situação, na frente de seus colegas de trabalho e clientes, 
extrapolou no exercício do poder diretivo caracteriza abuso de direito do qual resulta 
em dano à honra e à integridade psíquica da Reclamante, com violação aos direitos 
básicos da personalidade, tutelados por lei. 
Qualquer tratamento discriminatório deve ser indenizado e 
punido, para fins de que não se perpetue no ambiente de trabalho. 
 
Da Naturezada Ofensa 
No que tange o valor da indenização a título de Danos Morais. O art. 
223-G, § 1° da CLT trata do valor a ser fixado pelo juízo ao julgar procedente o pedido, 
com base na natureza da ofensa, ou seja, em sua gravidade e no último salário 
contratual do ofendido. 
A Reclamante-Mariana foi submetida a humilhações perante seus 
colegas e clientes, trabalhando diariamente abalada pelo sentimento de derrota, 
inferioridade e sofrimento, ultrapassando os limites da dignidade humana. Não 
podendo-se eximir a Reclamada da responsabilidade 
Evidentemente que tal situação configura uma ofensa é 
gravíssima, passível de indenização 50 vezes último salário contratual do ofendido. 
Logo, considerando que o salário da Reclamante é de R$1.200,00 
(um mil e duzentos reais), nos parâmetros definidos pelo Art. 223-G, § 1°, IV da CL, o valor 
dos danos morais devem corresponder a R$ 60.000,00 (sessenta mil reais). 
Destarte, requer que a Reclamada- Empresa Alpha seja condenada a 
reparar os danos morais no qual submeteu a Reclamante-Sra. Mariana. 
 
DA RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO 
A relação contratual que deve sempre ser pautada pelo respeito 
mútuo entre as partes. Casos em que o empregado sofre agressão verbal em decorrência 
do trabalho, desferida pelo próprio empregador, torna a questão ainda mais grave. 
Certamente, o ato da Reclamada agredir verbalmente uma 
funcionária, no caso a Reclamante, consubstancia-se em falta das mais graves que pode 
ser realizada durante o contrato de trabalho, sendo este o entendimento da jurisprudência 
pátria, com fulcro no artigo 483, alínea 'f', da CLT: 
Há obrigações que se violadas pelo empregador, são graves o 
suficiente para gerar a rescisão indireta/extinção contratual, conforme determina o art. 483 
da CLT. 
E uma vez reconhecida a rescisão indireta, são devidas todas as 
verbas rescisórias cabíveis. 
Além disso, tamanha é a gravidade dos fatos, que foram atingidos os 
direitos de personalidade da Reclamante, sendo cabível uma indenização por danos 
morais, nos termos do que indica a lei, leciona a doutrina e recomenda a jurisprudência. 
RECURSO DE REVISTA - DANOS MORAIS - ASSÉDIO 
MORAL - TRATAMENTO DESRESPEITOSO - 
AGRESSÕES VERBAIS - LESÃO À DIREITO DA 
PERSONALIDADE DO EMPREGADO Para o 
deferimento de indenização por danos morais é 
necessária a violação de algum dos valores imateriais 
do cidadão, como a honra, a imagem, o nome, a 
intimidade e a privacidade, que englobam os 
chamados direitos da personalidade. A referida 
indenização justifica-se nos casos em que há patente 
ofensa a direitos personalíssimos do trabalhador, no curso 
da relação empregatícia ou dela decorrente. [...] (Processo: 
AIRR 13546020105020024 Relator(a): Luiz Philippe Vieira 
de Mello Filho - Julgamento: 03/09/2014 - Órgão Julgador: 
7ª Turma - Publicação: DEJT 12/09/2014) (grifos nossos) 
Isso posto, a Reclamante requer a Vossa Excelência a rescisão 
indireta de seu contrato de trabalho, com fundamento no art. 483, alíneas D e E da CLT, 
bem como, a condenação ao pagamento das verbas rescisórias daí decorrentes, bem como 
a promover as devidas atualizações na CTPS da Reclamante. 
E, com a declaração transitada da rescisão indireta, deve a reclamada 
ser condenada ao pagamento das verbas rescisórias decorrentes da extinção do contrato 
de trabalho, a saber: saldo de salário, aviso prévio (com sua projeção do artigo 487 da CLT) 
13° salário, gratificação natalina e férias, FGTS, mais 40% sobre as rescisórias e multa de 
40% sobre o FGTS de todo o período. 
 
DOS HONORARIOS SUCUMBENCIAS 
A Reclamada deverá arcar com os honorários sucumbenciais do 
patrono da Reclamante, conforme previsão do artigo 791-A, caput, CLT (com redação 
dada pela Lei n° 13.467/2017), in verbis: 
Art. 791-A: Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão 
devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 
5% (cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre 
o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito 
econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o 
valor atualizado da causa. 
 
DOS PEDIDOS 
Diante do exposto, a Reclamante-Mariana requer a Vossa Excelência, 
que a presente Reclamação Trabalhista seja julgada totalmente procedente, diante da 
robustez dos argumentos apresentados, requerendo ainda, que Vossa Excelência se digne 
de: 
A) Citar a Reclamada para, querendo, comparecer à audiência, 
posteriormente, querendo ofereça resposta no prazo legal, sob pena dos 
efeitos da revelia (CLT, art. 844, caput); 
B) Que sejam todos os pedidos julgados totalmente procedentes a fim de 
condenar a Reclamada ao pagamento: 
 Dos Danos Morais - requer a V. Exa. que seja a Reclamada condenada 
em Dano Moral em decorrência do assédio moral no qual, de maneira 
reiterada submeteu a Reclamante, e que o valor de tal título, seja arbitrado 
nos parâmetros definidos pelo Art. 223-G, § 1°, IV da CL, haja vista a 
natureza gravíssima das ofensas conforme foi demonstrado. 
 
 Da Rescisão Indireta do Contrato de Trabalho - requer a V. Exa que a 
seja reconhecida a caracterização da Rescisão Indireta, e por conseguinte, 
que seja a Reclamada condenada ao pagamento das verbas rescisórias 
decorrentes da extinção contratual, bem como a promover as devidas 
atualizações na CTPS da Reclamante. 
 
 Das Verbas Rescisórias - requer a V. Exa que seja a Reclamada 
condenada ao pagamento das verbas rescisórias, a saber: saldo de salário, 
aviso prévio (com sua projeção do artigo 487 da CLT) 13° salário, 
gratificação natalina e férias, FGTS, mais 40% sobre as rescisórias e multa 
de 40% sobre o FGTS de todo o período. 
C) honorários advocatícios previstos no art. 791-A, da CLT.; 
D) os benefícios da Justiça gratuita. 
E) O Reclamante protesta pela produção de todas as provas admitidas em 
direito. Em especial, juntada de documentos, depoimento pessoal das 
reclamadas, sob pena de confissão, oitiva de testemunhas que deverão ser 
intimadas para prestar os depoimentos, perícias técnicas e exibição, para 
conferência, dos originais das cópias que acompanham a presente inicial e 
que tenham sido impugnadas 
F) Requer, que todos os valores porventura apurados sejam devidamente 
atualizados à época do efetivo pagamento, de juros, correção monetária, 
honorários de sucumbência e demais cominações de lei, a serem 
devidamente apuradas na fase de liquidação de sentença. 
Em tempo, requer que todas as publicações e notificações sejam 
expedidas e encaminhadas exclusivamente em nome desta patrona, Dra. Ana Carolina 
Garcia, OAB/SP 230.308-E, sob pena de nulidade. 
Dá-se à presente reclamação trabalhista o valor de R$ 60.000,00 
(sessenta mil reais), para efeito de custas e alçada. 
 
Termos em que, 
Pede deferimento. 
 
São Paulo, 24 de outubro de 2.020. 
 
Ana Carolina Garcia 
OAB/SP 230.308-E

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