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Dê um pé na bunda do seu banco e ganhe mais dinheiro. Conheça (e entenda) todas as formas de investimento ao seu alcance. 1.000% em um dia: o mundo insano dos derivativos. Tesouro Direto: como ganhar 300% do CDI com títulos públicos. Ações: entenda de uma vez esse jogo entre malandros e otários. CARTA Q uando saí da faculdade, eu queria muito fazer mestrado na Inglaterra. Mas tinha um problema: eu não tinha di-nheiro para viver em libras. Começo de carreira, salário de iniciante. Pedir à família não era opção. Meus pais pagavam a escola das minhas irmãs. A vida tinha ou- tras urgências. Com esse plano na cabeça, eu conseguia guardar até 60% do que eu recebia na poupança – ao custo de dividir um apartamento minúsculo com outros três marmanjos. Mesmo assim, o mestrado parecia distante... Até que uma amiga me disse: e se você inves- tisse em fundos? Quase fiz o sinal da cruz. Fundos são a personi- ficação do capeta bancário. Ela riu, e me indicou o gerente dela. Santa dica. Em meados dos anos 2000, fundos rendiam bem. Quanto mais colocava dinheiro, mais rendia. Pouco tempo depois, eu já tinha dinheiro para viver na terra da rainha tranquilo. E, naquele mes- mo ano, descobri que poderia perder dinheiro. Fui para a Ingla- terra logo após a crise de 2008. Meus fundos derraparam. Mas aí eu já conhecia outros investimentos... Bancos são complicados, mas não são os vilões do mundo. Eles podem fazer seu dinheiro trabalhar para você. Esse é o objetivo desta edição especial: fazer com que você possa usar as ferramen- tas financeiras para realizar seus sonhos. Simples assim. COMO FAZER SEU DINHEIRO TRABALHAR PARA VOCÊ LEANDRO BEGUOCI EDITOR SUMÁRIO R ISCO CAPÍTULO I A BASE DOS INVESTIMENTOS DICIONÁRIO DE FINANÇAS E INVESTIMENTOS SUMÁRIO CAPÍTULO II RISCO BAIXO CAPÍTULO III RISCO MÉDIO CAPÍTULO IV RISCO ALTO CAPÍTULO V RISCO ALTÍSSIMO Títulos Públicos e Tesouro Direto CDB Renda Fixa e Previdência Privada Poupança Fundos: das ações aos imóveis Debêntures Ouro Derivativos Ações Vamos falar deles várias vezes ao longo desta edição. Então, saiba o que cada um significa. INVESTIMENTOS PEQUENO DICIONÁRIO DO MUNDO DOS M U D A R D E C A P Í T U L O [ 02/06 ] DICIONÁRIO O Certificado de Depósito Bancário (CDB) é um empréstimo que você faz ao banco. Sempre que você deixa um dinheiro no banco, é como se fizesse um empréstimo para ele. O certificado é exatamente isso: uma espécie de comprovante de que você emprestou um tanto para o banco e que ele se compromete a pagar de volta em um determinado período. CDB É a parcela do lucro distribuído pelas empresas aos acionistas depois dos descontos de imposto de renda e contribuição social. A distribuição de dividendos depende da decisão da assembleia geral da sociedade e é feita uma vez por ano, em geral. Os donos de ações preferenciais têm direito a um percentual fixo do lucro e são os primeiros a receber. Logo atrás vêm os investidores de ações ordinárias. Na maior parte das vezes, esse valor é pago direto na conta do acionista. No Brasil, e só no Brasil, existe a figura do “juro sobre capital próprio”, o JCP. É dividendo do mesmo jeito. A diferença é que, no caso do JCP, quem paga o imposto não é a empresa. É você. DIVIDENDOS acionistas recebem lucro lucroimposto de renda e contribuição social parcela de lucro distribuída As opções são uma mistura de muito conhecimento e um bocado de sorte. Você compra um negócio estranho, é verdade: o direito de apostar no preço de alguma coisa daqui a algum tempo. Por exemplo, você paga R$ 1 para ter o direito de comprar uma ação por R$ 50 daqui a duas semanas. Se a ação estiver custando R$ 70, você ganhou. Se estiver custando R$ 40, você perdeu. Se esse direito de aposta não for exercido após um período especificado, já era. Perde tudo. 3 OPÇÕES AÇÃO ação Uma ação é a menor parte do capital de uma empresa. Ao comprar uma ação, você passa a ser considerado um sócio. Por isso, pode dizer que é dono de uma parte da empresa, parti- cipando de seus resultados. direito de apostar RENDA FIXA O nome engana, porque raramente a renda é fixa e tranquila. Na prática, renda fixa significa investimentos em títulos públicos pré-fixados, CDBs ou debêntures. São papéis que deixam claro, no começo, o quanto você vai receber no final. Só que renda fixa não significa estabilidade. Ela é boa quando a inflação e os juros estão baixos. Se eles subirem, podem comer aquele rendimento que você esperava receber quando investiu seu dinheiro. [ 03/06 ] DICIONÁRIO É a melhor forma que um governo tem para bater sua carteira. A inflação começa quando o governo gasta demais e passa a imprimir muito dinheiro. Aí surge um descompasso: com mais moeda no mercado, a demanda por produtos cresce mais rápido do que a oferta. Infelizmente, não dá para duplicar a produção de um dia para o outro. Então os preços sobem ainda mais, o governo imprime mais dinheiro e o dragão da inflação começa a comer o seu salário. O governo fecha as contas. Você fica mais pobre. Você está passando na frente de uma loja e vê aquele celular que você queria. Suponha que você tenha na carteira exatamente o valor do aparelho. Você vai lá e transforma dinheiro em smartphone. Imagine a mesma situação, mas agora o seu dinheiro está em alguma aplicação financeira. Dependendo da aplicação, terá de esperar algum tempo. Se você tem algum primo que trabalha no mercado financeiro, ele diria: notas têm mais liquidez do que aplicações. É isso mesmo.Liquidez é a capacidade de transformar valores em coisas. Papel moeda tem altíssima liquidez. É só pegar a nota e trocar pelo que você quiser. Já a liquidez dos investimentos varia de tipo para tipo. É fácil e rápido tirar dinheiro da poupança e colocá-lo na conta corrente. É quase automático. Outros investimentos, como títulos públicos, só podem ser resgatados uma vez por semana. Ou seja, têm menos liquidez. Aplicações de renda fixa podem demorar alguns dias para cair na sua conta. Para ter o dinheiro das ações, precisa encontrar um comprador para elas. Por isso que, na hora de investir, é bom ficar de olho na liquidez do investimento. Nem sempre o seu dinheiro vai estar disponível para você na hora que você quiser. INFLAÇÃO LIQUIDEZ [ 04/06 ] DICIONÁRIO Ouviu renda variável? Então, é um outro jeito de falar de ações. Quando você faz investimento nessa modalidade, está colocando seu dinheiro em papéis que podem render muito, pouco ou podem fazer você perder todo o seu dinheiro. E por que raios alguém coloca dinheiro nisso, você poderia me perguntar. Simples. No mercado, quanto maior o risco, maiores as chances de retorno. Pegue o caso de Eike Batista. Quem acreditou nele viu seu dinheiro virar pó. Porém, muita gente já ganhou muito com ações. Acionistas da Vale nos anos 2000, por exemplo. RENDA VARIÁVEL DEBÊNTURES Debêntures são empréstimos que você faz a empresas. Para elas, é uma maneira de conseguir dinheiro sem precisar ir aos bancos ou lançar mais ações na bolsa. Para você, é uma forma de fazer seu dinheiro crescer com juros mais gordos do que os oferecidos pelos bancos. Os bancos vivem emprestando dinheiro uns para os outros. Ou você achou que era fácil fazer milhões de empréstimos e financiamentos bancários todos os dias? Não há dinheiro que dê conta. O overnight é justamente isso: os emprés- timos feitos por uma determinada taxa, entre os bancos, no mercado. Quando o Brasil tinha inflação alta, o overnight era aberto para qualquer pessoa. Era uma chance de preservar o valor do dinheiro. Você emprestava para o banco a uma determinada taxa e ganhava no outro dia o dinheiro corrigido. Era como se o dinheiro tivesse crescido durante a noite - por isso chama “overnight”, no termo em inglês. OVERNIGHT O governo tem várias formas de conseguir dinheiro. Uma delas você conhece bem, os impostos. A outra também: as multas. Mastem uma que não te irrita tanto – na verdade, pode te fazer bastante feliz. O governo pega dinheiro empres- tado com você, por meio de títulos públicos. Quando você compra um título público, está fazendo um empréstimo para o governo. TÍTULOS PÚBLICOS [ 05/06 ] DICIONÁRIO Selic é a taxa dos empréstimos entre os bancos quando esses empréstimos têm, como garantia, títulos públicos que pertencem ao banco. Quase todos os empréstimos inter- bancários são feitos dessa forma. A Selic, então, é o “preço do dinheiro”para o banco. Por isso que você vai ler, com frequência, que a Selic é a taxa básica de juros da economia. TAXA SELICDEFLAÇÃOÉ o antônimo de inflação, mas não tem nada de bom. Com taxas de deflação sucessivas, um país pode entrar em recessão, pois ocorre queda geral no consumo. Você sempre fica esperando o preço baixar mais um pouco – e ninguém compra nada. O Certificado de Depósito Interbancário (CDI) é uma espécie de CDB dos bancos. Para fechar contas, os bancos trocam empréstimos entre si no overnight todos os dias. Então, esse certificado é o banco X falando para o banco Y que pegou um dinheiro emprestado e devolve de volta pagando uma determinada taxa de juros. O CDI, na prática, é quase igual à Selic. CDI 30% 20% OFF! OFF! 15% OFF! 50% 45% OFF! OFF! 60% OFF! [ 06/06 ] DICIONÁRIO M U D A R D E C A P Í T U L O O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS As empresas, eu, você e os outros 200 milhões de brasileiros pagamos as despesas do governo por meio de impostos. Mas todo esse dinheiro não é suficiente para manter as contas em dia. Para complementar o orçamento, o go- verno faz o mesmo que muitas pessoas fazem quando falta grana e a situação é urgente: pega dinheiro emprestado. Mas quem tem dinheiro para em- prestar ao Estado? Bancos, empresas e pessoas. E por que emprestar dinheiro ao governo? Porque ninguém tem mais garantias a oferecer do que o Estado. Afinal, o calote só acontece se as coisas estiverem indo muito mal, com o país à beira da falência – o que não é o caso. O QUE É » TÍTULOS PÚBLICOS SÃO PAPÉIS DA DÍVIDA DOS GOVERNOS. É A FORMA QUE O ESTADO ENCONTROU PARA FINANCIAR SUAS DESPESAS. QUEM INVESTE RECEBE O DINHEIRO DE VOLTA COM JUROS DEPOIS DE UM DETERMINADO PERÍODO. O Tesouro Direto transformou os títulos num investimento acessível e lucrativo. Aprenda a ganhar dinheiro grosso com eles. ALEXANDRE VERSIGNASSI E TATIANA KLIX A força dos TÍTULOS PÚBLICOS [ 03/13 ] O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS INDICADO PARA QUEM? Para todo mundo. É uma aplicação democrática: remunera quem tem muito e quem tem pouco com as mesmas taxas. CENÁRIO ATUAL As NTN-Bs têm pago juros altos: inflação mais 5%, 6% ao ano. E as LFTs sempre são uma boa em tempos de Selic alta. VARIAÇÃO DO INVESTIMENTO Nos últimos 6, 12, 24 e 36 meses INVESTIMENTO MÍNIMO R$ 30 RISCO DO INVESTIMENTO Baixo. 12 24 36 Inflação 35% 20% 0% 6MESES » LTF TRIBUTAÇÃO Regressiva. Começa em 22,5% e cai até 15%. TÍTULOS PÚBLICOS [ 04/13 ] Outra pergunta: o governo não poderia viver sem dívidas? Não, por- que elas permitem que o Estado funcione, e isso em qualquer parte do mundo. Além dos empréstimos, os títulos também servem para con- trolar aquelas três sílabas que causaram calafrios a gerações de brasi- leiros: a inflação. Por fim: como o governo pega seu dinheiro empres- tado? Usando títulos públicos. Bem-vindo ao fantástico mundo dos títulos. Eles são uma declaração de que você emprestou uma certa quantia ao governo, que se compro- mete a devolver seu dinheiro de volta dentro de alguns anos corrigido por uma taxa de juros fixa ou variável. Toda economia que se preze tem uma boa quantidade deles em circulação. Eles são, ao mesmo tempo, o coringa e a fundação de qualquer país moderno. Servem para incentivar as pessoas a poupar, para manter os bancos funcionando, para investir em infraestrutura e até para controlar a quantidade de dinheiro em cir- culação. Eles são os carregadores de piano da economia. TIPOS E RISCOS Se você tem dinheiro num fundo DI, já está emprestando para o go- verno. Está quase tudo aplicado em títulos públicos que pagam a Selic, a taxa básica de juros da economia. Quando a Selic sobe, então você ganha mais. Se o fundo for de renda fixa, o grosso ali está em títulos pré-fixados, os que pagam um juro fixo, na alegria ou na tristeza, na subida ou na descida da Selic. Esse juro fixo geralmente é maior que a Selic. Então, quando a taxa básica cai, fica maior ainda. E o fundo começa a dar dinheiro a rodo. Mas quem ganha mesmo, na saúde ou na doença, é o nosso amigo banco. Um fundo normal cobra quase 2% ao ano de taxa de administração. Não é pouca coisa. Um cálculo simplificado, que não leva em conta as filigranas financeiras desse tipo de operação, deixa claro: se a taxa básica de juros ficar um ano em 10%, um fundo DI que cobra 2% vai render 8%. Em dez anos (caso a Selic continue nessa faixa), nosso fundo aqui vai ter dado 116%. Legal. Só que não: se você comprar via Tesouro Direto o tal do título que rende igual à Selic – o nome dele é LFT –, vai ganhar 148% nesses mesmos dez anos. O cálculo é simpli- ficado, mas não grosseiro: descontamos 0,5% de taxa de administra- ção (o Tesouro Direto não é tão direto assim: mesmo sem banco, você acaba pagando para alguns atravessadores oficiais). De qualquer forma, o 1,5% a mais de rendimento anual se transforma em 32% a mais em dez anos, graças à magia dos juros compostos. É o suficiente para que o Tesouro Direto seja sempre mais negócio que qual- quer fundo DI. Mas isso só é certeza com as LFTs, os títulos que acom- O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS[ 05/13 ] panham a Selic. No caso daqueles que pagam um juro determinado, faça chuva ou caia o ministro da Fazenda, é diferente. Eles são mais oito ou oitenta: ou dão um dinheiro gordo ou te deixam no prejuízo. Na prática agora. Desses outros títulos, os mais populares são os indexados pela infla- ção: as NTN-Bs. Se você compra uma NTN-B de R$ 1.000, o governo te dá um papelzinho onde aparece escrito “vale R$ 1.000 mais toda a inflação acumulada nos próximos dez anos mais 6% anuais de juros”. Bom, o gover- no não dá um papelzinho, só uma conta no site do Tesouro Direto para você monitorar o rendimento do título. Mas a imagem do papelzinho é importante para mostrar como a coisa funciona, porque um título é um vale. Um vale-di- nheiro. Com data de vencimento. Uma NTN-B vai te pagar a inflação mais um juro pré-fixado até uma certa data. Pode ser até 15 de maio de 2019, até 15 de agosto de 2035… Depende da NTN-B que você comprar. Então você vai e compra. Compra uma NTN-B que paga o IPCA mais 6% ao ano até 15 de maio de 2017. Paga R$ 1.000 por ela. O que aconte- ce, então? Quando chegar a data de vencimento, o governo depositará automaticamente na sua conta os R$ 1.000 corrigidos, pagando pelo empréstimo que você fez aos cofres públicos. Se a inflação ficar em, vá lá, 7%, você saca um pouco mais de R$ 1.400 lá na frente. Legal: 40% em três anos. Nenhum fundo DI ou de renda fixa hoje dá algo perto disso. Mas e se você não quiser esperar até o vencimento? Faz todo o sentido precisar do dinheiro antes, já que existem títulos à venda hoje que só vencem em 2050. E aí? O que acontece? Bom, acontece que dá para ven- der o título, como se ele fosse um carro. Do mesmo jeito que existe um mercado exuberante de carros usados, tem um não menos vibrante de “títulos usados”. Mas você não precisa levar o seu título às 6h da manhã no feirão de usados para ver se acha quem compre. O governo mesmo é quem compra. De volta. Se não fizesse, deixando tudo na mão do merca- do, você gastaria mais tempo tentando vender um título usado por um preço justo do que gasta trabalhando – e o Tesouro Direto seria basica- mente inútil. Mas o governo se compromete a recomprar – para depois vender a outros interessados. Então beleza. O problema aí é que não dá para prever quanto o governo vai desem- bolsar.Ele paga o preço de mercado, o quanto os outros interessados estão dispostos a pagar. E esse preço varia bem. O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS A INGLATERRA FOI O PRIMEIRO PAÍS A PEDIR DINHEIRO EMPRESTADO AO POVO. EM VEZ DE AUMENTAR IMPOSTOS, ENFRENTOU A FRANÇA COM TÍTULOS. [ 06/13 ] Vamos ver dois cenários. Primeiro, um negativo. Pegue aquele título de R$ 1.000. Ele não dá a inflação mais 6% ao ano porque está escrito na Bíblia. Ele paga isso porque a Selic, neste momento, está um pouco aci- ma de 10%. O governo espera uma inflação em torno de 5% nos próximos anos. Então os 6% extras entram para que o rendimento dê basicamente a Selic mais um chorinho (o extra vai para compensar o tempo generoso que você está dando para o governo pagar o que te deve). Bom, então a Selic vai e sobe 3% nos próximos anos (mais ou menos o que subiu de 2012 para cá). Sabe o que acontece? O governo começa a lançar títulos pagando a inflação mais 9%. E o seu titulinho, que só paga a inflação mais 6%, vira um mico desgraçado. Se você esperar até o vencimento, não chega a se dar mal. O Banco Central aumenta a Selic para conter a inflação. Se a Selic estiver em 13%, 14%, é porque a inflação está em 9%, 10%. Então, lá na frente, você tira razoavelmente mais que aqueles R$ 1.400. Seu dinheiro continua prote- gido. Mesmo assim, os títulos novos vão pagar essa inflação bombada mais um juro fixo bem mais alto, de 9%. Aí complica para quem quer vender o antigo, de 6%. Ele vai sofrer uma concorrência desleal. Só vai aparecer comprador para o de 6% se tiver um jeito de fazer com que ele renda tanto quanto o de 9%. E tem um jeito. Assim: um de 9% que cus- tasse R$ 1.000, com vencimento em dez anos, pagaria R$ 2.367 mais a inflação lá na frente. Só isso já dá 137%. Bom, então o seu titulinho de 6%, também com vencimento em 2024 e também adquirido por R$ O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS A R R A S T E [ 07/13 ] AS MAIORES INFLAÇÕES da história Steve Hanke e Nicholas Krus listaram as maiores inflações da história no livro The Handbook of Major Events in Economic History. Apesar da hiperinflação dos anos 80, o Brasil está apenas em 40º lugar no ranking dos países que mais sofreram com ela. Página abaixo AS MAIORES INFLAÇÕES da história Steve Hanke e Nicholas Krus listaram as maiores inflações da história no livro The Handbook of Major Events in Economic History. Apesar da hiperinflação dos anos 80, o Brasil está apenas em 40º lugar no ranking dos países que mais sofreram com ela. HUNGRIA Arruinada pela guerra, a Hungria imprimiu muito mais dinheiro do que podia. Entre 1945 e 1946, a inflação explodiu e os preços dobravam a cada 15 horas. O pico foi de 41,9 quatrilhões por cento. 1° 2° ZIMBÁBUE Durante os anos 90, o governo redistribuiu terras, mas devastou a produção. Somado à sanção internacional e impressão de dinheiro, o país teve uma inflação de79,6 bilhões por cento em novembro de 2008. 3° 4° IUGOSLÁVIA A combinação de conflitos políticos e étnicos, economia devastada, embargos e impressão de dinheiro para pagar dívidas criou uma hiperinflação entre 1992 e 1994. Em janeiro de 94, foi de 313.000.000%. ALEMANHA Derrotado na Primeira Guerra, o país tinha pouca capacidade de produção, mas devia muito dinheiro e imprimiu moeda. Resultado? A economia enlouqueceu entre 1922 e 1923. A taxa mensal chegou a 29.500%. 5° GRÉCIA Durante a Segunda Guerra, o país foi ocupado e arrasado pelas tropas de Hitler e Mussolini, perdendo boa parte da capacidade de produção e exportação. Em outubro de 1944, a inflação foi de 13.800%. 6° CHINA Depois Guerra guerra c moedas durant caos, s e impr termin 5.070% e 6° A ois da Segunda ra, conviveu com ra civil e três das simultâneas nte dez anos. Esse somado a dívidas pressão de dinheiro, inou em inflação de 0% em abril de 1949. 7° ARMÊNIA A hiperinflação de 1993 a 1994 aconteceu por causa do terremoto que devastou o país em 1988 e porque a União Soviética, que apoiava a indústria local, acabou. Em novembro de 1993, a taxa foi de 438%. 8° TURCOMENISTÃO Entre 1992 e 1993, o país recém-independente entrou em parafuso. Sem uma política econômica clara, sofreu com o fim da União Soviética e com uma inflação de 429% em novembro de 1993. 9° TAIWAN A guerra civil na C anos 40, afetou o p Taiwan enfrento de matérias-pri de obra. O proble só dois meses, m grande. Em ago de 1945, a infla foi de 399%. l na China, nos tou o país. ntou escassez rimas e mão oblema durou , mas foi m agosto ação 10° PERU Lutou contra a inflação durante toda a década de 1980. A hiperinflação, contudo, veio na transição de um governo austero para um estatizante. Durou dois meses, mas teve pico de 397% em agosto de 1990. 1.000, teria que render pelo menos 137% (fora a inflação) para que al- guém se dê ao trabalho de comprar. O valor final do seu título, fazendo o mesmo cálculo e cortando fora a inflação, seria de R$ 1.790. O percen- tual entre R$ 1.000 e R$ 1.790 é bem menor: 79%. Como fazer com que ele chegue a 137%, então? Diminuindo o valor a ser pago pelo título. Se ele custar R$ 753, vai render tanto quanto o de 9%. É por esse preço que o governo vai te comprar o título de volta. Você coloca R$ 1.000 e tira R$ 753. Aí vai dar saudade do banco… Agora vem o lado positivo. Se a Selic cair, acontece o contrário: o pre- ço do título sobe. Invertendo o exemplo aí de cima, o governo passa a lançar títulos que pagam só 3% mais a inflação. Aí o seu título de 6% vira ouro. Vai chover comprador. E você consegue vender a coisa pelo dobro – anos e anos antes do vencimento. No último ciclo de queda da Selic, as NTN-Bs estavam dando 30%, 40% ao ano. Isso dá 300% do CDI... Nada mal para um investimento seguro. DÍVIDAS E MAIS DÍVIDAS A ideia de emprestar dinheiro ao governo sur- giu na Inglaterra, no final do século 17, quan- do um comitê foi formado para financiar a guerra contra a França. O poder da Marinha britânica estava ameaçado após sucessivas derrotas e a população não suportaria novos aumentos de impostos. A solução foi aceitar a proposta feita pelo visionário mercador es- cocês William Petterson: um empréstimo de 1,2 milhão de libras, a juros de 8% ao ano, le- vantado com a população. Assim, em 1694, foram criados, ao mesmo tempo, o Banco da Inglaterra e a dívida pública do país. No Brasil, a dívida pública se estabeleceu no período colonial. Naquela época, os gover- nantes faziam empréstimos que se confun- diam com empréstimos pessoais, em uma bela confusão entre o público e o privado. O primeiro título público digno deste nome só foi emitido em 1827, depois que D. Pedro 1° mandou contar todos os débitos do império, para organizar um pouco a bagunça, e oficia- lizou a dívida interna federal. Foram 12 con- tos de reis que o governo usou para pagar O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS R$ 30 É O VALOR INICIAL QUE VOCÊ PRECISA TER PARA COMEÇAR A INVESTIR – UM DOS MENORES DO MERCADO FINANCEIRO. [ 08/13 ] empréstimos feitos da Inglaterra, o equivalente a R$ 20,6 milhões em valores de hoje, ajustado pela inflação. Mas a organização não durou muito. Nos anos seguintes, as re- gras dos títulos mudaram bastante. Era um padrão da economia brasileira, aliás. Nada era muito previsível e confiável a longo prazo. Só com a criação do Banco Central e o lançamento das ORTN (Obri- gações Reajustáveis do Tesouro Nacional), em 1964, que o Brasil começou a organizar a casa – e o seu mercado de títulos públicos, que passou a ter finalidades parecidas com as de hoje: financiar o governo e controlar a inflação. Mas essa reestruturação durou pou- co. Na segunda metade da década de 1970, as coisas começaram a degringolar. Nos anos 80, a década perdida da economia, os pro- blemas estouraram. Inflação em alta e crescimento em baixa. O go- verno passou a ter dificuldades para honrar os empréstimos. A im- O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS40% ESTE ERA O RENDIMENTO ANUAL DE ALGUNS TÍTULOS DURANTE O GOVERNO DE FHC, PARA SEGURAR A INFLAÇÃO. [ 09/13 ] O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS A R R A S T E A R R A S T E [ 10/13 ] COMO O BRASIL SE DEU MAL COM O BAGUNCISMO Página Abaixo COMO OS TÍTULOS CONTROLAM A INFLAÇÃO Página Abaixo O Brasil dos anos 80 p arece uma peça de ficção inventada por um escritor ruim. A inflação era gigante, os preços foram congelados, a Bolsa de Valores não rendia quase nada justamente por causa da inflação. Nesse meio tempo, o aís resolveu bagunçar até o jeito de se financiar. Emprestou dinheiro para o governo? É. Foi mal. Espere só mais um pouquinho. Um dos títulos mais conhecidos daquele período de baguncismo era o ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional). O valor a ser pago pelo governo era reajustado de acordo com a inflação. Só que o governo brasileiro tinha muitas difi- culdades para pagar seus compromissos. Resultado? Imprimia mais dinheiro. Só que a inflação é um bicho voraz. Ela se alimenta de dinheiro – e o governo estava colocando ainda mais moeda na economia. Quando tentava controlar a inflação, fechava a torneira. Mas aí ele ficava sem dinheiro para pagar os títulos. Então COMO O BRASIL SE DEU MAL COM O BAGUNCISMO o governo mudava o venci- mento e você nunca sabia quando ia receber seu dinheiro de volta. Por isso, a confiança dos investidores foi acabando. O prazo dos títulos ficou cada vez mais curto, acom- panhando o descrédito do governo. Títulos que costu- mavam ter um prazo de 30 meses caíram para apenas quatro meses, em 1988. Era uma corrida incessante contra o tempo. Com prazos tão curtos, o governo precisava dar um jeito de levantar cada vez mais dinheiro. A roda da impressora voltava a girar. E o resultado, claro, era só mais inflação. Em vez de usar uma forma simples de se financiar, pegando dinheiro da população e pagando alguns juros, o governo só criava mais problema para si. E para o País. Q uando o governo vende títulos públicos a juros altos, pode ter certeza: ele está longe de ser bonzinho, embora pareça uma mãe. O governo faz isso porque está precisando de recursos para pagar dívidas antigas, fazer investimentos ou controlar a inflação. Uma das formas de evitar o aumento de preços é diminuir a quantidade de dinheiro em circulação, reduzindo a demanda por produtos. Quanto mais moeda na mão, mais as pessoas vão comprar. Nessa toada, COMO OS TÍTULOS CONTROLAM A INFLAÇÃO pessoas vão comprar. Nessa toada, elas incentivam a produção e o cres- cimento do país. Mas quando existe mais demanda do que capacidade de produção, os preços aumentam. Aí o caldo entorna. Por isso, o governo usa os títulos para controlar o consumo. Quanto mais títulos o governo vende, menos dinheiro circula. O risco de inflação diminui. O contrário ocorre quando o governo recompra títulos e devolve dinheiro à roda da economia. Essa medida é usada quando há uma recessão no horizonte. Definir quando fazer essa recompra antes do prazo de vencimento é um dos maiores desafios de qualquer país. pressora de dinheiro do Estado começou a criar problemas. A economia enlouqueceu. A inflação naquele ano chegou a 211% e, para atacá-la, em 1986 vieram novas mudanças no sistema financeiro. A Conta Movimento, que por 20 anos permitiu que o Banco do Brasil pudesse gastar mais do que tinha e repor seu déficit com dinheiro novo, impresso pelo Banco Central, foi extinta. O controle de gastos públicos deixou de ser tarefa do BC e passou para a recém-criada Secretaria do Tesouro Na- cional. O Plano Cruzado criou uma moeda com três zeros a menos, congelou preços e salários, decretou o fim da correção monetária e reduziu as taxas de juros. Também foi o início de um novo título, o primeiro a ser remunerado pela taxa de juros básica da economia (Se- lic), com indexação diária: a LBC, a Letra do Banco Central. Também é dessa época uma outra herança que teve impacto na credibilidade do País por muitos anos. Em 1987, o presidente Sarney decidiu suspender o pagamento de títulos a credores internacionais, o que dificultou a venda de papéis para o exterior depois disso. A já abalada reputação econômica do País ficou ainda mais arranhada. Até que o Brasil, finalmente, resolveu organizar a casa. O PLANO REAL Todas essas medidas foram insuficientes para combater a hiperinfla- ção. Planos econômicos nasceram e morreram. Moedas circularam e sumiram. Novos títulos vieram à tona, mas ninguém acreditava neles. A economia brasileira era uma bagunça. Foi só com a inflação controlada, sob o Plano Real, que os títulos públicos voltaram a ter credibilidade interna e externa. A partir de 1994, as coisas começaram a entrar nos eixos. Uma das formas ado- tadas para segurar a inflação foi o pagamento de juros altos pelos títulos públicos - em 1995 os rendimentos atingiram mais de 40% ao ano. Com uma inflação baixa, era o paraíso. Para se ter uma ideia, um título que pague 12%, 13% hoje é uma maravilha. É outro mundo. Embora a dívida pública continue grande e seja uma preocupação constante, o resgate da confiança no governo como bom pagador não deixa de ser um indicador positivo. Finalmente, foi possível levar o governo a sério. Para o investidor, emprestar ao governo - em momentos de estabili- dade econômica, claro – se tornou um investimento de poucos riscos. Mesmo que a dívida pública federal do Brasil ainda seja considerada alta, principalmente porque os juros pagos por ela são elevados, e que a economia esteja praticamente estagnada, o País é considerado confiável. O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS[ 11/13 ] Em março de 2014, a agência de classificação de risco S&P (Standard & Poor’s) baixou a nota do crédito do Brasil, o que significa que o risco de ca- lote aumentou. Mas não muito. O País segue na categoria de grau de inves- timento, que o recomenda como destino de aplicações, segundo todas as instituições que avaliam riscos referentes a crédito. Atualmente, em tempos de instabilidade na bolsa e poupança rendendo pouco, emprestar dinheiro para o governo é um bom negócio, mesmo que os juros já estejam mais modestos que os do século passado. Para quem tiver tempo e paciência de fazer isso via Tesouro Direto, melhor ainda. É isso que vamos ver agora. A VIDA PRÁTICA Agora que você já conhece a história dos títulos públicos e como os gover- nos os usam, vamos ao que interessa no final do mês: como você pode usá- -los a favor do seu saldo bancário. Uma das melhores coisas que o Brasil fez nos últimos anos foi simpli- ficar a vida de quem quer comprar títulos. Desde 2002, é possível com- prá-los pela internet. E mais: só é preciso R$ 30 para começar. No site do Tesouro Direto é possível escolher os títulos, agendar aplicações, progra- mar reinvestimento automático (útil para investidores de longo prazo e que compram títulos periodicamente) e vender papéis antes do vencimen- to. Mas, antes de começar, é preciso fazer um cadastro em uma corretora (agente de custódia) e transferir seus recursos para ela. Ela é responsável por deixar o governo captar o dinheiro. O site do Tesouro Direto apresen- ta a lista de instituições habilitadas para a tarefa e um ranking das taxas cobradas. A média é de 0,3% ao ano. Algumas cobram 0%. Nada. Porém, preste atenção na hora de escolher as corretoras. Recentemente, uma delas deu um golpe. Em vez de pegar o dinheiro e aplicar no título que você queria, ela pegava a grana e comprava títulos para ela mesma. A corretora tinha uma das meno- res taxas do mercado, e deixou uma parte dos in- vestidores na mão. Um bom jeito de checar se a sua corretora está trabalhando direitinho é conferir, diretamente no site do Tesouro Direto, se ela real- mente comprou os títulos que você mandou com- prar. Se não estiver lá, é sinal vermelho. Agora, se a sua corretora aplicar seu dinheiro, mas tiver problemas financeiros e falir, você está protegido. Os títuloscomprados são mantidos na Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS ALGUNS TÊM VENCIMENTO LONGO E OFERECEM BOM RENDIMENTO. ELES PODEM SUBSTITUIR A PREVIDÊNCIA PRIVADA, ESPE- CIALMENTE SE VOCÊ JÁ TEM RESERVAS. [ 12/13 ] [ 13/13 ] O COMEÇO DE TUDOTÍTULOS PÚBLICOS (CBLC) em uma conta que fica no nome do investidor. Se a corretora quebrar, os recursos não são perdidos. Pela custódia, a CBLC cobra 0,4% ao ano sobre o valor de compra, referente aos serviços de guarda dos títulos, saldos e movimentação dos investidores. Somando os dois valores, você paga de 0,4 a 0,7% ao ano sobre os títulos, bem menos que as taxas de fundos em bancos, que vão até 3% ao ano. Algumas corretoras têm sistemas interligados com o Tesouro Direto e permitem a compra de títulos diretamente em seu site. Caso contrário, você receberá uma senha para entrar no site oficial, onde poderá fazer as operações. Ainda precisa de banco? Talvez sim. As recompras de títulos acontecem só nas quartas-feiras. Se der um aperto em outro dia, precisa esperar para resgatar seu dinheiro. Então vale manter algumas reservas num fundo do banco, que te permite resgatar imediatamente. Os títulos públicos são indicados para quem quer um investimento de longo prazo, coisa de dois anos para cima. Alguns podem até subs- tituir o plano de previdência privada, especialmente se você já tem uma reserva. Para saber mais sobre os títulos, veja o quadro com os princi- pais papéis e saiba como o governo, finalmente, vai começar a te pagar. Uma hora isso teria de acontecer. OS PRINCIPAIS TIPOS DE TÍTULOS PÚBLICOS A LFT é o único título 100% seguro, já que o valor não cai. O rendimento é vinculado à taxa básica de juros da economia, a Selic, e é atualizado diariamente. É indicada para quem não quer correr riscos. É uma das melhores proteções contra a inflação e compõe o grosso dos fundos DI . LTF Letra Financeira do Tesouro PÓS-FIXADO A LTN é de curto prazo. A rentabilidade é definida na compra. A maior parte dos fundos de renda fixa aplica nela. Vale investir quando a inflação está baixa e há expectativa de queda nos juros, porque o governo se compromete a pagar, hoje, juros maiores do que pagará no futuro. LTN Letra do Tesouro Nacional O rendimento da NTN-F é definido na compra. Diferente da LTN, faz o pagamento de juros a cada semestre, o que permite reinvestimentos. NTN-F Nota do Tesouro Nacional - série F PRÉ-FIXADO A rentabilidade é vinculada à inflação oficial, o IPCA, mais juros definidos no momento da compra. Se você mantiver durante o período combinado, só ganha. O risco é vender de volta ao governo antes do prazo. Nesses casos, o risco de você perder uma parte do que investiu é grande. NTN-B Nota do Tesouro Nacional - série B Tem as mesmas características da NTN-B Principal, com a diferença de que paga um valor semestral ao investidor, o que permite reinvestimento. NTN-B PRINCIPAL Nota do Tesouro Nacional - Principal PRÉ-FIXADO + INFLAÇÃO M U D A R D E C A P Í T U L O Ela é centenária, confiável, simples de usar e não paga impostos. Mesmo assim, você pode estar perdendo dinheiro com ela. Saiba por quê. VINICIUS OLIVEIRA POUPANÇA A SIMPLICIDADE DA INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOPOUPANÇA[ 03/11 ] O contato com a caderneta de poupança lembra os primei-ros dias da pré-escola. Ela é a cartilha com o bê-a-bá fi-nanceiro em um mundo sem riscos. Ela também é uma introdução ao sistema bancário. De uma forma muito resumida, bancos fazem o meio campo entre quem tem dinheiro e quem precisa dele, cobrando uma taxa por esse trabalho. No caso da poupança, o dinheiro que você coloca nela, no banco, vai para o financiamento de um negócio bem concreto: imóveis. Fácil e palpável, ela é o “amor eterno, amor verdadeiro” dos brasileiros. Na prática, a poupança se diferencia dos outros investimentos de uma forma bem simples: ela é isenta de impostos e taxas de adminis- tração. A ampla maioria dos investimentos paga as duas taxas. Além disso, o resgate é fácil e rápido. Outros investimentos têm um conjunto de regras para o momento do saque, e nem sempre você vai poder res- gatar quando quiser. Ela também é garantida pelo governo. Depósitos em poupança no valor de até R$ 250 mil são cobertos pelo Fundo Garantidor de Crédito. Se o banco quebrar, você recebe o dinheiro de volta. Por fim, o uso que o governo e os bancos fazem dela é seguro. O dinheiro vai obrigatoria- mente para o crédito imobiliário – e você sabe que, no final das contas, esse financiamento costuma ser pago. Se não for, o imóvel continua lá, como garantia. Ele não foge. Mas, às vezes, segurança demais pode significar um negócio ruim. Em algumas situações, atrapalha o rendimento. Apesar de todas es- sas facilidades e da segurança, a caderneta perde de fundos com taxa de administração de até 1%. Em 2014, o poupador que colocou suas economias na caderneta viu seu poder aquisitivo ser corroído. A inflação medida pelo IPCA no primeiro semestre de 2014 foi de 3,75%. O retorno da poupança, de 3,47%. “Quanto mais a Selic subir, mais desinteressante a poupança se torna”, explica o economista Samy Dana, professor da FGV. No longo prazo, segundo ele, o investimento é peri- goso justamente porque existe a possibili- dade de perda pura. Seu dinheiro vale na saída menos do que ele valia na entrada. Só que esse é apenas um dos problemas da caderneta de poupança. A sua populari- dade criou uma grande confusão financei- INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOPOUPANÇA O QUE É » A POUPANÇA É FÁCIL DE APLICAR E DE SACAR. É SEGURA, QUASE NÃO OSCILA E TEM REGRAS SIMPLES. MAS, NOS ÚLTIMOS ANOS, VEM PERDENDO A GRAÇA. QUEM COLOCA DINHEIRO NELA ESTÁ VENDO O RENDIMENTO SER TRAGADO PELA INFLAÇÃO. [ 04/11 ] ra no País. “Fazer uma poupan- ça”, no Brasil, ganhou o sentido de abrir uma... conta poupança. Só que há vários jeitos de pou- par. E a poupança, com o per- dão da repetição de palavras, é só uma delas. Nos EUA, por exemplo, significa investir em ações e títulos públicos. Portanto, para entender por que ela é a “namoradinha do Brasil”, é preciso entrar no tú- nel do tempo. AGIOTA NA PAREDE Em 1861, o imperador Dom Pedro 2° criou a Caixa Econô- mica da Corte, que deu origem ao banco que conhecemos hoje como Caixa Econômica Federal. Junto com ela nasceu o concei- to e o nome “caderneta de pou- pança”. Em 12 de janeiro da- quele ano, D. Pedro 2° mandou ver o decreto número 2.723: “A Caixa Econômica estabelecida na cidade do Rio de Janeiro (...) tem por fim receber, a juro de 6%, as pequenas economias das classes menos abastadas e de assegurar, sob garantia do Go- verno Imperial, a fiel restituição do que pertencer a cada contribuinte, quando este o reclamar (...)”. Numa lista criada pela Caixa, Antônio Al- ves Pereira Coruja aparece como o primeiro cidadão a ter uma caderneta de poupança. Logo no início das operações (e sem pegar fila), em 4 de novembro de 1861, ele levou 10 mil réis que começariam a render juros. Até o surgimento da Caixa, o País vivia na pré-história bancária. Ha- via o Banco do Brasil, mas ele estava longe das pessoas. O BB era muito mais um Banco Central, controlando a quantidade de moeda na econo- mia. Se você queria empreender e precisava de crédito, uma das manei- ras era ir a uma casa de penhor: você deixava um bem como garantia e INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOPOUPANÇA POUPANÇA FONTE: BB, Caixa, Itaú, Economática e Consultoria Samy Dana VARIAÇÃO DO INVESTIMENTO Nos últimos 6, 12, 24 e 36 meses. INVESTIMENTO MÍNIMO R$ 1 PARA QUEM? Ok para perfis conservadores: alia a garantia do FGC a uma boa liquidez. CENÁRIO ATUAL Ruim. Com a Selic em alta, é o pior investimento. RISCO DO INVESTIMENTO Baixo. 25% 15% 0% 6MESES » 12 24 36 Poupança Inflação TRIBUTAÇÃO Isento. [ 05/11 ] fazia um empréstimo por uma determinada taxa de juros. Porém, essas casas não eram confiáveis e às vezescobravam juros extorsivos. Até que veio a Caixa. Além de abrigar a poupança, ela passou a oferecer empréstimos com penhor. Era um salto de formalidade e confiança combinado com juros mais baixos e previsíveis. De um lado, ela recebia o dinheiro das pessoas e pagava uma taxa de juros. Ótimo para quem queria poupar. Do outro, emprestava a quem precisava. Excelente para quem queria empreender. Com essas duas medidas, o Brasil finalmente criou um sistema bancá- rio. Estava mais fácil planejar o futuro. E tinha mais. De quebra, a Caixa amenizou um problema social. Para conseguir dinheiro, muitas pessoas recorriam a agiotas violentos, que resolviam empréstimos atrasados com pancadaria e assassinato. Com a simplicidade da poupança, o Brasil co- meçou a avançar um pouquinho. Então o tempo passa, o tempo voa, veio a abolição da escravatura em 1888, depois a Proclamação da República, em 1889. Mas a poupança continuava numa boa. Já em 1915, as Caixas Econômicas de diferentes Estados puderam remunerar clientes com taxas de juros diferentes, de acordo com as condições econômicas de cada lugar. O público atendido também cresceu. As mulheres, finalmente, puderam aplicar na poupan- ça – mas só com autorização do marido. Assim, ao longo das primeiras décadas do século 20, a população se acostumou a amar a poupança. Sem mais nenhum investimento à mão, era o que tinha. Só que esse amor foi tão intenso que acabou criando uma encren- ca. As pessoas só tinham olhos para a poupança, o que também é um problema, como lembra Luiz Jurandir Simões, professor de Finanças da Faculdade de Economia da USP. “Foi um mecanismo de poupança direcionado para as classes mais humildes, que não dava consciência econômica e financeira”, explica ele. Até hoje, muitas pessoas têm medo de colocar dinheiro em qualquer outra coisa que não seja a boa e velha caderneta. ZIGUE-ZAGUE Ao longo dessa história, apenas duas coisas abalaram a relação: o con- fisco e o dragão de comer dinheiro. A inflação começou a comer os ganhos da poupança na segunda me- tade do século. O problema era urgente e os militares, que tomaram o poder em 1964, tiveram de lidar com ele. Para driblar o dragão, o gover- no inventou a correção monetária. A medida mantinha a remuneração anual de 6% (0,5% ao mês) e ainda pagava uma taxa extra, que acom- panhava a alta dos preços. Esse reajuste mensal era definido pelo Banco INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOPOUPANÇA[ 06/11 ] JUNTO COM A CAIXA Econômica, o imperador Dom Pedro 2° cria a caderneta de poupança, o primeiro investimento oficial brasileiro. UMA NOVA LEI permite que escravos possam guardar dinheiro proveniente de legado, herança ou doações na poupança. ESCRAVOS SÃO liberados a depositar também valores recebidos como renda de trabalho, desde que autorizados por seus senhores. JÁ NA REPÚBLICA, decreto determina que taxas de juros da poupança não poderiam ultrapassar 6% por ano. AS MULHERES casadas ganham o direito de abrir suas cadernetas, desde que autorizadas pelos maridos. PARA PROTEGER a poupança da inflação, é criada a correção monetária. O PLANO COLLOR congela o dinheiro depositado em cadernetas de poupança por 18 meses. A CORREÇÃO monetária é substituída pela Taxa Referencial (TR), uma das taxas mais baixas da economia. NOVA REGRA muda remuneração da poupança e liga o rendimento a uma parcela da Selic, a taxa básica de juros da economia. 1872 1874 Conheça a história do mais antigo e popular investimento dos brasileiros. A CADERNETA DE 153 ANOS 1915 1934 1964 1990 1991 2012 1861 1871 O CONSELHO superior, um órgão de fiscalização e controle das Caixas Econômicas da época, é criado. Com isso, os depósitos aumentaram em 200%. INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOPOUPANÇA SONHO DA CASA PRÓPRIA SÓ SE POPULARIZOU QUANDO O DINHEIRO DA POUPANÇA VIROU CRÉDITO IMOBILIÁRIO. [ 07/11 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOPOUPANÇA Central. Só que isso, na prática, criava mais inflação. Como você já sabe, quanto mais dinheiro na economia, mais consumo. Se a produção não acompanha a demanda, os preços sobem. E aí tome mais correção mo- netária, mais dinheiro na economia e mais inflação. Era o começo da tempestade perfeita que assolaria o País algumas décadas depois. Nos anos seguintes, as regras da poupança passaram por um zigue- -zague: o rendimento deixou de ser mensal e passou a ser trimestral. Os juros e a correção monetária eram acumulados durante os últimos três meses. Depois, um novo passo atrás e as regras voltaram para o rendimento mês a mês. Nessas idas e vindas, a caderneta de poupança passou por um dos momentos mais importantes da sua existência, que teve um grande im- pacto na história do País. Havia uma demanda crescente por casas no Brasil, mas poucos recursos para financiá-las. Em 1967, o governo deci- diu usar recursos da poupança para a habitação. Isso mudou as cidades. Com mais recursos, ficou mais fácil comprar e construir a casa própria. A caderneta entrou no SFH (Sistema Financeiro de Habitação) e veio um boom de crédito. É por causa dessa medida que milhões de pessoas puderam, finalmente, ter um lugar para morar. Ainda hoje, a poupança é a principal ferramenta de crédito imobiliário no Brasil. [ 08/11 ] Já nos anos 80, o País conheceu cor- tes de zero e a moeda foi mudando de nome tão logo cada um dos cinco pla- nos econômicos ia caindo por terra: cruzeiro mudou para cruzado, cruzado novo, cruzeiro e cruzeiro real. Protegi- da pela correção monetária, a poupança era um dos poucos investimentos mais ou menos protegidos da inflação. Ação em bolsa? Dava menos do que a boa e velha caderneta de Dom Pedro 2°. Mas a mudança que o País não es- quece até hoje veio no dia 16 de maio de 1990, após um feriado bancário de três dias que resultou no confisco dos depósitos da caderneta. Nascia ali o Plano Brasil Novo, que ficou mais co- nhecido como Plano Collor, e um trau- ma para gerações de pessoas. A relação de amor era abalada. Collor e a ministra da Economia, Zelia Cardoso de Mello, anuncia- ram um conjunto de mudanças contra a inflação. Em 1989, a taxa acu- mulada ao ano foi de estratosféricos 1.782,90%. Hoje, 6% já deixam todo mundo de cabelo em pé. Para “mexer com o psicológico” do cida- dão, como diria um técnico de futebol, repetiu-se a fracassada estratégia e o dinheiro mudou de nome outra vez, só que sem cortar zeros: de cruzado novo para cruzeiro. Mas isso não era o pior. O plano congelou contas correntes e cadernetas de poupança por 18 meses. Tudo que ex- cedesse Cr$ 50 mil na poupança ou na conta corrente não poderia sair da sua conta. Hoje, seria como dizer: todos os depósitos acima de R$ 5,5 mil estão bloqueados por um ano e meio. Os reajustes da poupança continuavam, mas você não podia sacar nada. Estava prestes a usar o dinheiro guardado para comprar a casa própria? Sem chance. O plano traumatizou gerações de brasileiros, que passaram a descon- fiar de todo e qualquer investimento. “A essência do plano foi o congela- mento dos saldos”, diz o professor Luiz Jurandir Simões, da USP. Para conter a inflação, o Plano Collor deu um cavalo de pau na economia e tirou dinheiro de circulação. Cerca de 80% da moeda saiu do mercado, a inflação despencou e... logo voltou. Até hoje, 390 mil processos estão espalhados pelo País à espera de uma decisão do Supremo Tribunal Federal, o mais alto nível da Justi- ça brasileira, sobre as mudanças no rendimento da poupança não só INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOPOUPANÇA HOJE, INVESTIMENTOS TÃO SEGUROS QUANTO A POUPANÇA SUPERAM A ANTIGA CADERNETA. MUITA GENTE PERDE A CHANCE DE GANHAR MAIS DINHEIRO PORQUE DEIXA AS ECONOMIAS NELA. [ 09/11 ] no Plano Collor 1 (1990) e 2 (1991), mas também pelo Cruzado (1986), Bresser (1988) e Verão (1989). O tribunal vai decidir se bancos públicos e privados terão de cobrir as perdas. A ESTABILIDADE Com a chegada do Plano Real, que completou 20 anosem julho, e a esta- bilidade da moeda, a poupança voltou a ser querida. Mas, agora, com no- vos concorrentes. Em um país mais normal, você tem outras ferramentas para guardar dinheiro e planejar o futuro. Desde a chegada da nova mo- eda, a renda fixa se destaca como o investimento mais rentável. O CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que serve de referência para vá- rios fundos, teve rendimento de 632,3% nestas últimas duas décadas, se- gundo a consultoria Economática. No mesmo período, o Ibovespa, índice INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOPOUPANÇA[ 10/11 ] BRASILEIRO NÃO É BOM POUPADOR Muitos educadores financeiros recomendam que você tenha uma reserva de dinheiro que seja três vezes maior que o seu salário. Se você já tiver filhos ou trabalhar como autônomo, aumente para seis vezes o que você ganha por mês. No Brasil, isso é uma raridade. Segundo pesquisa do Ibope Inteligência, realizada a pedido da Serasa Experian em 2013, 69% da população não poupa. Entre os entrevistados, 35% ainda disseram que não guardam dinheiro porque sentem mais prazer em gastá-lo imediatamente. Embora o hábito de poupar seja um aprendizado que normalmente acontece na infância, com a ajuda da família, fatores econômicos e sociais ajudam a entender por que o brasileiro é um mau poupador. Pais que viveram o período de hiperinflação não conseguiam poupar e não repassaram esse hábito às novas gerações. Durante muito tempo o dinheiro deixou de exercer uma de suas funções, a de reserva de valor, e uma das únicas maneiras de não perder ainda mais dinheiro era comprando. Além disso, medidas como o congelamento dos depósitos das contas correntes e cadernetas de poupança no Plano Collor tiraram a confiança do brasileiro no sistema financeiro. Com a estabilização da economia veio também a expansão do crédito e, novamente, as condições econômicas afastaram o brasileiro dos investimentos. As pessoas fizeram uma corrida às compras. A nova classe média atingiu níveis de renda que permitiram co a m m u o i c t a a rr s f o a s e m v í i li ag a e s a ns d d qu e a iri vi r c ão er . C to o s b m is en so, n s e s ão e é rv d iç if o íc s i , l entender por que 30% dos consumidores assumiram, na mesma pesquisa do Ibope, que compram por impulso. Futuro? Ainda estamos bem longe de começar a planejá-lo. com as principais ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, avançou 219,8%. A poupança está em terceiro lugar, com 103,2%. Esse bom desempenho da poupança im- pôs um desafio ao governo. A Selic, taxa bá- sica de juros da economia, que já alcançou a casa dos 40% durante alguns momentos do Plano Real, começou a cair nos primei- ros anos do governo de Dilma Rousseff. Isso deixava fundos de investimento com ganhos parecidos com o da poupança quando a Selic estava perto de 11%. Pe- quenos aplicadores começaram a trocar seus fundos pela poupança. O rendimento era melhor, não paga taxa de administração e é isento de imposto de renda. Só que esses fundos são fundamentais para amplas áreas da economia. Se o dinheiro migrasse todo para a poupança, os bancos e o governo começariam a ter problemas para fechar as suas contas. Afinal, eles financiam as operações de crédito e a dívida do governo federal. Mexer na poupança sempre traz muito risco. Os governos que me- xeram nela pagaram um preço político alto. A solução encontrada para diminuir críticas foi manter a regra anterior para depósitos feitos até 3 de maio de 2012 e mudar a situação para novos aportes. Quan- do a taxa Selic está a 8,5% ou acima desse patamar, o rendimento continua sendo de 0,5% por mês mais TR (Taxa Referencial) – e, nos últimos anos, a TR tem ficado perto de zero. Abaixo de 8,5% da Selic, a poupança rende apenas 70% da taxa básica de juros da economia. Nesse cenário, quanto dinheiro é ideal manter na poupança? “O menor possível”, segundo o educador financeiro Mauro Calil: “Muitas pessoas perdem a chance de ter um rendimento melhor ao deixar R$ 10 mil na caderneta por 30 anos”. Com a Selic em mais de 10%, pra- ticamente todos os fundos de renda fixa ganham da poupança. Além disso, os fundos têm liquidez e rentabilidade diárias. Já a caderneta só traz rendimento mês a mês (no aniversário da aplicação). A conveniência da poupança ainda pesa para que o brasileiro pule de fase na hora de investir suas economias. “É conhecida. Você não come uma comida que não conhece. Se servirem um prato diferente, que não se sabe como é feito e com gosto esquisito, você não vai comer tudo e acabará pedindo um hambúrguer”, diz Calil. Porém, existe um mundão de outras opções no cardápio: Tesouro Direto, CDBs e Letras de Crédito... É hora de conhecê-las. No mundo financeiro, você pode ter mais de um amor. [ 11/11 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOPOUPANÇA 69% É A PORCENTAGEM DE BRASILEIROS QUE NÃO GUARDAM DINHEIRO, SEGUNDO PESQUISA DO IBOPE. A atração e a facilidade do CDB Chega de pedir emprestado. É hora de oferecer dinheiro e cobrar juros do seu banco. VINICIUS OLIVEIRA Quando você compra títulos públicos, empresta dinheiro ao governo. Quando investe em CDB (Certificado de De-pósito Bancário), você empresta a juros para o próprio banco. Mas aí vem uma pergunta: qual é a taxa de juros? E por que os bancos precisam pedir para mim e para você? Vamos lá. Os bancos fazem empréstimos entre si para fechar as contas no final do expediente. Dificilmente um banco termina o dia com muito dinheiro em caixa. O dinheiro deles está investido em títulos públicos, que não têm liquidez imediata. Os títulos têm data de vencimento e dias certos para serem resgatados. Não dá para simplesmente resga- tar um título e resolver a vida. Além disso, os bancos precisam colo- car uma parte de todo o dinheiro que têm no Banco Central. O nome disso é depósito compulsório e é usado pelo governo para controlar a quantidade de moeda em circulação. Assim, o BC mantém a inflação em padrões razoáveis. Como os bancos fazem milhares de operações todos os dias, eles precisam recorrer a outras instituições para fechar as contas de ro- tina. É normal. É assim no mundo inteiro. Pois bem, quando bancos [ 01/06 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOCDB emprestam uns para os outros, eles cobram juros. Esse tipo de investimento que os bancos fazem uns com os outros é chamado de CDI, o Certificado de Depósito Interbancário. Portanto, quando você em- presta para o banco, é CDB. Quando banco empresta para outro banco, é CDI. A taxa paga pelo banco no CDB é uma parte do CDI. Por isso, todo dia o CDB rende alguma coisa – diferente da poupança, por exemplo. E é nessa di- ferença diária que o banco ganha alguma coisa. Ele pega emprestado de você por uma taxa de juros mais baixa e empresta a taxas mais altas. O empréstimo pode ser para outro banco ou para o mercado, nesse caso com taxas bem maiores do que as do CDI. O CDB NA ECONOMIA Apenas políticos têm reputação tão ruim quanto banqueiros. Nós nos acostumamos a imaginá-los como pessoas que estão sempre esperando alguém abrir a guarda para atacar. Mas, na realidade, bancos são apenas intermediários de operações que nós, sozinhos, não conseguiríamos fazer. É quando entra um pouco de história. Sempre existiu alguém que tem dinheiro e outro alguém se ofe- recendo para guardá-lo. Outro grupo quer financiamento para abrir um novo negócio. Por mais que as partes se conheçam, sempre vai haver desconfiança. Além disso, seria bem complicado sair pedin- do ou oferecendo dinheiro na rua para desconhecidos. Os bancos surgem, então, como responsáveis por intermediar essas relações. Todo o dinheiro que você coloca num banco será emprestado, menos o valor destinado ao compulsório. Nada fica parado na sua conta. Os valores vão para clientes que querem comprar carros, para empresas que precisam de recursos, para outros bancos. Seu dinheiro ajuda a irrigar a economia. Mas o CDB ainda tem uma vantagem adicional para o banco: ele é mais fácil de usardo que o dinheiro que você deixa na conta corrente. Quando você deixa dinheiro ali, parado, 42% desse valor precisa ser depositado no Banco Central, por causa das regras do depósito compulsório. Quando você faz uma aplicação em CDB, a fatia do compulsório é de 15%. O banco tem mais dinheiro para emprestar e é por isso que seu gerente vai, sempre, te dizer para co- locar dinheiro em CDB. Ele garante uma remuneração maior para o O QUE É » QUANDO O BANCO PEGA O SEU DINHEIRO E PROMETE DEVOLVÊ-LO NO FUTURO COM JUROS, ELE ESTÁ FAZENDO UMA OPERAÇÃO DE CDB. É UM INVESTIMENTO SEGURO, GARANTIDO PELO GOVERNO E INDICADO PARA QUEM TEM PLANOS DE MÉDIO E LONGO PRAZO. [ 02/06 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOCDB CDB FONTE: Itaú e Caixa INVESTIMENTO MÍNIMO R$ 100 VARIAÇÃO DO INVESTIMENTO Nos últimos 6, 12, 24 e 36 meses. RISCO DO INVESTIMENTO Baixo. Adequado a todos. Bom para reserva de aposentadoria. Para quem tem menos de R$ 2.500, a poupança é mais indicada. Atrativo com Selic alta. Grandes bancos remuneram menos. Pequenos têm maior risco e dão ganho maior, acima de 100% do CDI. PARA QUEM? 35% 20% 0% 6MESES » 12 24 36 CDB (100% CDI) CDB (80% CDI) Inflação De 22,5% a 15% de imposto de renda sobre os rendimentos. Se resgatar o CDB em menos de 30 dias, também paga IOF. TRIBUTAÇÃO CENÁRIO ATUAL [ 03/06 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOCDB banco porque CDBs têm prazos de resgate maiores. Então pode ser emprestado para outras pessoas por mais tempo. “Para o banco, o cliente deixar dinheiro parado é muito ruim porque existem restri- ções sobre o uso do dinheiro [os 42% do compulsório]. Com o CDB, é uma situação na qual os dois ganham”, explica Rodrigo Zeidan, professor de Economia e Finanças da Fundação Dom Cabral. Mas os bancos não estão sozinhos nessa operação – seria muito poder em poucas mãos. O registro dos contratos de CDB é feito pela Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip), que processa a emissão, o resgate e a “guarda” dos títulos, além do pagamento dos juros. “A Cetip dá segurança a toda transferên- cia de recursos de um lado para o outro”, diz Ricardo Magalhães, gerente-executivo da empresa. A Cetip, portanto, é a guardiã dos CDBs. “Um banco emite um CDB, uma fundação de funcionários compra o título e uma ordem é enviada ao banco liquidante para o pagamento. Quando o título chega de um lado, o pagamento chega do outro”, explica Magalhães. O cumprimento das taxas do CDI, prometidas pelo banco para seus clientes, também é calculado pela Cetip. CDB É PARA MIM? Como em todos os tipos de investimento, com o CDB a sua rentabili- dade está diretamente ligada ao prazo que você quer investir, ao risco que você quer correr e ao valor a ser investido. Se você tiver uma boa quantia, o banco vai estender o tapete ver- melho e pode oferecer um porcentual maior de rendimento. Nesses casos, os bancos costumam oferecer CDBs com taxas mais próximas do CDI. Por outro lado, se você optar por investir o mínimo exigido para um CDB, algo como R$ 50 ou R$ 100, o Imposto de Renda pode minar seu rendimento. Assim, a taxa do CDB pode ser uma parcela muito pequena do CDI – e você ainda paga imposto. O rendimento acaba sendo menor do que o da poupança, que é livre de tributos. E tem mais alguns pontos para levar em consideração. Quem está acostumado com as transações da poupança pode estranhar o comportamento do CDB. Afinal, ele não abre brecha para resgate parcial. Está com saldo negativo e não tem mais de onde tirar? En- tão, você terá que sacar todo o valor do título. Não pode tirar só um pedacinho. Por outro lado, ele rende alguma coisa todo dia. Se você tiver disposição, vale a pena fazer algumas coisas antes de emprestar dinheiro ao banco. Compare as taxas oferecidas pelo CDB pré-fixado, com taxas de juros determinadas no momento do [ 04/06 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOCDB COMO O “CDB” AJUDOU A CONSTRUIR O RENASCIMENTO N a Europa dos séculos 13, 14 e 15, muita gente tinha ouro e não tinha como guardar. Elas deixavam o metal com um ourives e recebiam uma nota, um “vale tantos quilos de ouro”. Era o primeiro CDB, um “certificado de depósito bancário” primitivo. Mas, naquela época, você pagava pela proteção. Afinal, artesãos que faziam joias tinham bons cofres. Com o tempo, as pessoas começaram a apelar aos ourives quando precisavam de crédito. Então eles emitiam uma nota dizendo que estavam emprestando tanto para aquela pessoa, que deveria devolver o valor acrescido de juros. Aos poucos, essas notas começaram a circular e a valer como dinheiro - afinal, era muito mais fácil de carregar. Na Itália, isso foi grande. O país era uma potência, a economia crescia e os ourives do passado passaram a viver só de empréstimos, montando banquinhas nas praças para atender aos clientes. É daí que vem o nome banca, em italiano, para definir o que é banco, em português. Agora, você cobrava para deixar seu ouro com o dono da banca e ganhava um certificado. Um dos mais bem-sucedidos donos de banquinha foi Giovanni Di Bicci de’ Medici, patriarca da família Medici e fundador do Banco de Florença. Com os lucros bancários, os Medici financiaram o Renascimento e fizeram a fortuna histórica e turística de Florença. Alguns grandes artistas, como Michelangelo e Leonardo da Vinci, foram patrocinados por eles. Sem aquele CDB primitivo, até poderia ter existido Renascimento. Mas talvez fosse bem menos dourado [ 05/06 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOCDB investimento, com as Letras do Tesouro Nacional (LTN), negociadas via Tesouro Direto. Às vezes, o CDB é vantagem. Às vezes, a LTN vale muito mais a pena. No final de 2014, a LTN com prazo de dois anos estava dando 12,7% ao ano. Um CDB com o mesmo prazo pagava só 11%. No caso dos CDBs pós-fixados, nos quais você só sabe o resultado quando o título chega ao ven- cimento, busque os que cheguem o mais perto pos- sível dos 100% do CDI. Não achou? Quem busca maior rentabilidade pode usar a estratégia dos pilotos de bugue que fazem os passeios pelas dunas de Natal: “Vai querer com ou sem emoção?”. Você pode recorrer aos bancos médios e pequenos que oferecem taxas mais vantajosas, pela necessidade de fazer caixa e concor- rer com os grandes. Se porventura esse banco cambalear enquanto você estiver com o dinheiro aplicado, entra em cena o FGC (Fun- do Garantidor de Crédito), que garantirá depósitos de até R$ 250 mil. Tal como a poupança, o CDB também tem essa garantia. Se der alguma coisa errado, você não fica solto na tempestade. Mas, e sempre tem um mas: se você investiu num CDB e ele, por alguma razão, passa a render menos do que outros investimentos, aí não tem FGC. Isso é considerado risco normal do mercado. Você não perde o capital investido. Apenas deixa de ganhar mais ou é rendido pelo dragão da inflação. Outro fator é o prazo que o CDB exige, que pode ser de 30 dias a vários anos. A liquidez é diária, o que significa que, diante de uma emergência, é possível sacar o dinheiro. Porém, o banco vai estabelecer uma penalidade e você terá um rendimento menor do que o da taxa final combinada. Tal como a poupança, e diferente de outros investimentos, o CDB não tem taxa de administração. O banco não cobra para cuidar do dinheiro que você emprestou para ele. Menos mal. Portanto, se você quer um investimento seguro como a poupan- ça e tem paciência para esperar resultados a médio e longo prazo, então o CDB é uma ótima escolha. Mas, claro, você sempre pode querer mais. E temos mais para oferecer. 22,5% É O TAMANHO DA MORDIDA DO IMPOSTO DE RENDA PARA CDBS QUE FICAM APLICADOS POR POUCO TEMPO. [ 06/06 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCOCDB O que saber, o que evitar e no que prestar atenção nos investimentos que prometem vida mansa, segurança e planejamento financeiro. ILTON CALDEIRA PRIVADA RENDA FIXA A segurança da e da previdência [ 01/09 ] RENDA FIXA E PREVIDÊNCIA PRIVADA INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCO [ 02/09 ] INVESTIMENTOSDE BAIXO RISCO Quando um candidato a investidor pergunta ao geren-te do banco como dinheiro pode virar mais dinheiro, mas sem risco, o especialista não titubeia: fundos de renda fixa. Se a pessoa quer se preparar para a apo-sentadoria, a dica é previdência privada. São dois caminhos parecidos. Só que, antes de agradecer pela dica, é preciso saber algumas coisinhas. A história da renda fixa é antiga. O primeiro fundo de renda fixa da história foi a tontina. A invenção é creditada ao banqueiro napolitano Lorenzo de Tonti, que colocou a tontina no mundo em 1653. Os compradores de uma determinada emissão de tontina re- cebiam, todo ano, uma anuidade. Era um valor correspondente aos juros de um empréstimo. Só que não eram juros fixos. Eram juros variáveis – para mais. Quanto mais tempo você vivia, mais ganhava. O valor recebido pelos mais longevos ia aumentando conforme outros investidores morriam. Portanto, quem tinha tontina possuía uma... renda fixa. Era dinheiro certo e funcionava como um antepassado dos fundos de hoje: você investe em alguma coisa junto com outras pessoas para procurar investimentos mais rentáveis e dividir os riscos. A tontina era tão atrativa porque o valor não era herdado pelos des- cendentes. O maior incentivo para manter o empréstimo eram os juros crescentes e a confiança de que você teria uma vida longa... Tanto que os governos se animaram. O rei Luís 14, da França, foi o primeiro a usar as tontinas. Em 1689, esses títulos serviram para financiar uma série de operações militares. O governo britânico não ficou para trás. Ele emitiu as suas tontinas em 1693 justamente para financiar uma guerra contra a... França. Guerra, afinal, não se ganha só com arma. OS FUNDOS Hoje, os fundos mais populares no Brasil são os DI e os de renda fixa. O DI funciona bem quando o cenário é de juros altos no futuro. Já os fundos de renda fixa são melhores quando a perspectiva é oposta. Vale a pena pular de tempos em tempos do DI para a renda fixa e vice-versa. Você não se casou com o fundo, como acontece em outros investimentos. Está apenas em um relacionamento sério, que pode acabar dependendo dos humores da economia. No Brasil, esses fundos ganharam força depois do Plano Real, quando a inflação foi domada e a economia abandonou o modo vida louca. Hoje, investimento em fundo de renda fixa significa RENDA FIXA E PREVIDÊNCIA PRIVADA contratar um banco para que ele escolha os investimentos mais rentáveis e seguros à disposição. Portanto, quando o gerente fala “vá de renda fixa”, ele está se oferecendo para ser um intermediário – e ele vai cobrar um valor para fazer esse trabalho, a famosa taxa de administração. Bom, vamos começar pelos fundos DI. Eles investem, no mínimo, 95% do total em papéis pós-fixados. Isso significa que eles vão abra- çar investimentos cujos juros totais só vão ser definidos no final do prazo – você só sabe quanto vai ganhar no fim. Os papéis pós-fixados são títulos públicos em 99% das ocasiões. São LFTs, basicamente, e por isso sempre vão estar acima da inflação. Já os fundos de renda fixa aplicam, no mínimo, 51% dos recursos em papéis pré-fixados, que podem ser tí- tulos públicos, CDBs ou debêntures. O que faz um bom fundo de renda fixa ou DI, no final das contas, é a sabedoria do banco em conciliar títulos bons, com rendimento razoável, e segurança. Não é uma tarefa fácil. E é por isso mesmo que as taxas de administração dos fundos costumam ser salgadas... Em alguns casos, de 3%. Se a inflação está em 6%, por exemplo, coloque na sua conta que o seu investimento tem de render acima de 9% para você começar a ganhar alguma coisa... O lado bom é que o banco sempre garante que você não vá per- der absurdos em uma mudança de cenário. Como um fundo é formado por muitos títulos que vencem praticamente todo dia, o banco tem margem e fle- xibilidade para navegar em cenários turbulentos. É diferente quando você vai lá e compra um títu- lo com vencimento daqui a 20 anos. Aí é você com você mesmo, sozinho, fazendo as suas escolhas. A escolha de um fundo depende do perfil e da expectativa do investidor com relação à taxa de juros, destaca o consultor e edu- cador financeiro André Massaro: “Uma recomendação tipo receita da vovó para um investidor inexperiente é dividir o investimento nas duas opções, tanto a pré como a pós-fixada. Para quem está en- trando nesse investimento e não tem expectativa nenhuma, é uma alternativa diversificar entre essas duas possibilidades e ficar com o investimento equilibrado”. Os títulos pré-fixados são mais favorecidos em cenários com a inflação baixa, controlada e com a taxa de juros em queda. Os títu- O QUE É » OS FUNDOS DE RENDA FIXA FACILITAM A VIDA DE QUEM QUER COLOCAR DINHEIRO EM APLICAÇÕES SEGURAS, COMO TÍTULOS PÚBLICOS E CDBS. EM TROCA, O BANCO COBRA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. ATÉ POR ISSO, PODEM RENDER MAIS. [ 03/09 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCORENDA FIXA E PREVIDÊNCIA PRIVADA los pós-fixados são o contrá- rio. Eles são mais atraentes quando a taxa de juros está aumentando. Então é isso: renda fixa tem menos risco. Mas menos risco não signi- fica ausência de risco. A vida sempre vai te levar, vida leva eu. OS FUNDOS DE PREVIDÊNCIA Vamos retomar as tontinas. Elas também foram o em- brião dos planos de previ- dência privada. Isso aconte- ceu justamente porque elas poderiam durar a vida inteira do investidor. Como elas não eram hereditárias, algumas pessoas com posses começa- ram a comprar tontinas para os filhos pequenos. A expec- tativa era a de ampliar a du- ração do investimento. Logo as tontinas começaram a se tornar um enorme problema para os governos por causa da longevidade das pessoas que tinham a titularidade de uma tontina. Os governos eram grandes emissores de tontinas. Em uma época na qual as pessoas viviam pou- co, os reis tinham uma cer- ta garantia de que os juros nunca seriam grandes demais. Só que, quando as pessoas passaram a ter tontinas desde bebês, isso virou um problemão. Os investidores começaram a comprar tontinas para crianças pe- quenas, especialmente para as meninas ao redor dos 5 anos. Desde aquela época as mulheres apresentavam expectativa de vida supe- rior aos homens. Isso criou a possibilidade de retornos significati- INVESTIMENTO MÍNIMO R$ 50 POR MÊS VARIAÇÃO DO INVESTIMENTO RISCO DO INVESTIMENTO Médio. PARA QUEM? São adequados para todo mundo. Mas se você tem planos de curto prazo, prefira os fundos DI – eles oscilam menos que os de renda fixa. CENÁRIO ATUAL O cenário de taxas de juros em ascensão torna os fundos DI mais atraentes. FUNDOS DE RENDA FIXA Nos últimos 6, 12, 24 e 36 meses. 35% 0% 6MESES » 12 24 36 Renda Fixa Diferenciado DI Inflação FONTE: Anbima, Caixa, Itaú e Consultoria Samy Dana TRIBUTAÇÃO Regressiva. Começa em 22,5% e cai até 15%. [ 04/09 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCORENDA FIXA E PREVIDÊNCIA PRIVADA vos para os rentistas e perdas gigantescas para os governos. Como resultado, as tontinas acabaram sendo abandonadas e substituídas por regimes de pensão públicos e privados parecidos com os que temos hoje no mercado. No Brasil, a previdência surgiu em janeiro de 1835, com a criação do Montepio Geral de Economia dos Servidores do Estado. Foi uma medida proposta pelo então ministro da justiça, Barão de Sepetiba. Pela primeira vez, o País oferecia planos de previdência - mas so- mente para funcionários públicos. A previdência social, aquele valor que o governo paga a todos os aposentados, só seria criada em 1923. Já a previdência priva- da, para quem queria receber mais na velhice, só foi instituída em 1977. Como o cenário econômico era instável, ela demorou muito tempo para pegar. Foi apenas com a estabilização da economia, na década de 1990, que as pessoas puderam fazer mais planos para o futuro. Foi nessa época que os planos de previdência privada explodiram. Em 2013, os investimentos de previdência privada somaram R$ 374,2 bilhões.Foi um crescimento de 10,54% em relação a 2012, segundo a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fena- Previ). É muito dinheiro. Se todos os brasileiros que têm previdên- cia privada resolvessem comprar uma empresa, eles teriam, juntos, dinheiro o bastante para adquirir a Petrobras, pelo atual valor de mercado da maior empresa do País. OS PLANOS E OS IMPOSTOS Hoje, há dois modelos de previdência privada no Brasil. O Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) é recomenda- do para pessoas com renda mais alta. O valor pago ao plano pode ser aba- tido no Imposto de Renda, desde que esse valor represente até 12% da renda bruta anual do titular do plano. Mas, quando o dinheiro é sacado, o imposto pago é referente ao total que havia no fundo. Por exemplo, se esse valor for de R$ 100 mil, o imposto será cobrado sobre essa quantia. Ao longo da vida, você usa o PGBL para abater impostos. Mas, na aposentadoria, o Leão vem de A ORIGEM DOS FUNDOS ESTÁ NA TONTINA, INVESTIMENTO CRIADO POR UM BANQUEIRO NAPOLITANO. ELA PAGAVA JUROS AO LONGO DA VIDA E FOI USADA PELA FRANÇA PARA FINANCIAR SUAS GUERRAS. [ 05/09 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCORENDA FIXA E PREVIDÊNCIA PRIVADA O QUE É O OVERNIGHT E POR QUE HOJE SÓ BANCO PODE TER? [ 06/09 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCORENDA FIXA E PREVIDÊNCIA PRIVADA H ouve uma época, no Brasil, e m que um dos poucos investimentos seguros, em renda fixa, tinha nome de boate ruim. Era o overnight. Ele garantia uma renda fixa, todo dia, contra a inflação. Hoje, só pode ser usado por bancos e é responsável pela sobrevivência do sistema financeiro. Ao longo do dia, um banco pode fazer uma enormidade de operações. Muitas vezes, encerra o expediente preci- sando de dinheiro para cobrir os empréstimos que fez, os financiamentos que arrumou, os seguros que pagou. Então vai a outros bancos, pega um empréstimo para cobrir o caixa e se compromete a pagar no outro dia, quando já vai ter recebido empréstimos, parcelas do finan- ciamento e novos clientes de seguros. Essas operações em que você pega num dia e paga no outro são conhecidas como overnight. Quando o Brasil vivia com uma inflação gigantesca, as pessoas mais ricas tinham acesso a aplicações financeiras que protegiam suas economias da desvalorização diária e desen- freada. Elas podiam participar do overnight emprestando para os bancos e recebendo no outro dia. Era um CDB com prazo de 24 h N or o f a i s n , p a o l d rt a a s c nto o . ntas, essas 24 horas, portanto. No final das contas, essas pessoas acabavam se benefi- ciando da inflação. Para evitar que os bancos perdessem dinheiro todo dia, o governo colocava dinheiro na roda. E uma parte desse dinheiro ia para o bolso das pessoas que participavam do overnight. Era uma fantás- tica fábrica de concentração de riqueza: o mínimo para aplicar no overnight era de US$ 100 mil. Com inflação alta, quem mais perde é quem menos tem recursos e meios de proteger o p uco que tem. Isso ajuda a entender por que os super- mercados ficavam lotados nos primeiros dias do mês, quando os assalariados recebiam. A compra do mês era a única forma de proteger o dinheiro da desvalorização. O overnight acabou em 1991, três anos antes da estabilização monetária, em 1994. Hoje, só os bancos podem participar dessa troca de dinheiro. A necessidade dele desapareceu na medida em que a economia ficou menos maluca. uma vez, e não só sobre os juros, como acontece em outros investimen- tos. Ele vem em cima de tudo. Portanto, se op- tar por um PGBL, faça a declaração completa e tenha o abatimento. Senão, você vai pagar o Imposto de Renda duas vezes: ano após ano e de- pois, no final do plano. A outra opção é o cha- mado Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). A diferença para o PGBL é que ele não pode ser abatido no Im- posto de Renda ano a ano. Porém, quando o dinheiro é sacado, o imposto cobrado é referente ao que o dinheiro investido obteve de remuneração. Por exemplo, se a quantia aplicada é de R$ 100 mil, mas o rendimento que houve ao longo do plano foi de R$ 20 mil, o imposto cobrado será referente a este valor. Esse plano é voltado para pessoas que têm renda menor, já que, dessa forma, o desconto de 12% da renda bruta propiciada pelo PGBL não vale grande coisa. Nos dois casos, você ainda pode escolher por qual tabela será cobrado o imposto de renda: regressiva ou progressiva. Na primei- ra, quanto mais tempo sua reserva tiver, menos imposto paga. É ideal para quem tem planos de longo prazo na aposentadoria. Na progressiva, o Imposto de Renda aumenta de acordo com o valor que será recebido ou resgatado. Quanto maior a grana, maior a tributação. Essa é ideal para quem sente que, talvez, seja obrigado a tirar o dinheiro do plano no curto ou médio prazo. NO QUE PRESTAR ATENÇÃO Na previdência privada, é possível começar poupando pequenos valores. Não há idade mínima nem necessidade de comprovação de renda. Isso é uma boa notícia, já que, quanto antes começar, melhor. “Viver só com a aposentadoria do INSS é embutir uma dose de risco na velhice de ver uma redução muito drástica no pa- drão de vida”, afirma o economista Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto de Pesquisa de Mercado Fractal. A PREVIDÊNCIA PRIVADA FOI CRIADA NOS ANOS 70, MAS SÓ EXPLODIU A PARTIR DA DÉCADA DE 1990. HOJE, O VALOR DEPOSITADO NELA DARIA PARA COMPRAR A PETROBRAS. [ 07/09 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCORENDA FIXA E PREVIDÊNCIA PRIVADA Só que há algumas pegadinhas no caminho. Muita gente faz os planos para a aposentadoria com base na taxa de juros atual. Segundo os analistas, isso não é realista. Em algumas décadas, os juros podem cair bastante. É melhor ser mais conservador nas projeções porque, se houver uma surpresa no futuro, tende a ser uma surpresa boa. Hoje, afinal, os juros brasileiros estão entre os mais altos do mundo. Além disso, a previdência também cria uma falsa expectativa – tal como a renda fixa. Quando a gente ouve falar em previdên- cia, pensa em recursos constantes e seguros. Só que a vida real é mais complicada. Previdência privada não tem garantia, dife- rente da poupança ou do CDB. O banco pode quebrar – e a sua aposentadoria pode ir pelo ralo. É difícil, mas é bom ter isso em mente. Afinal, assinar um plano de previdência significa casar com o banco por algumas décadas da sua vida. Essa é uma das razões pelas quais não basta deixar o dinheiro lá e esquecer. Previdência é um compromisso longo. Hoje, os planos de previdência investem em seis modalidades diferentes. Tem títulos públicos, debêntures, ações. E, como todo investi- mento, tem uma taxa boa de risco. Dependendo do cenário, você poderia garantir um futuro melhor em outro tipo de investimen- to. Investir não é esquecer o dinheiro. Portanto, pergunte ao gerente para onde vai o dinheiro da sua previdência. Depois, questione o banco sobre as taxas. As empresas de previdência privada têm três cobranças. A taxa de carregamento é feita sobre cada depósito e não ultrapassa 5% do valor. Alguns planos extinguem a cobrança após certo tempo de aplicação. Outros atrelam esse percen- tual ao saldo investido: quanto maior o volume aplicado, menor a taxa. A se- gunda é a tarifa de administração anu- al. Por fim, há a taxa de saída, cobrada quando você saca o dinheiro. Portan- to, seja chato. Dependendo da infla- ção, da taxa de juros e do lugar onde o banco está investindo seu dinheiro, você pode ficar no zero a zero. Consi- dere também o plano de previdência da sua empresa. As taxas costumam ser menores e as empresas ainda fa- zem um depósito complementar. 12% É A PORCENTAGEM MÁXIMA DE ISENÇÃO DE IMPOSTO DE RENDA QUE VOCÊ PODE TER, POR ANO, COM PREVIDÊNCIA PRIVADA. PARA ISSO, PRECISA TER O PGBL (PLANO GERADOR DE BENEFÍCIO LIVRE). [ 08/09 ] INVESTIMENTOS DE BAIXO RISCORENDA FIXA E PREVIDÊNCIA PRIVADA Hoje, muita gente contrata um plano de previdência privada por- que se obriga
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