Análise Um estranho no ninho - Filme

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ANTENEU
CURSO DE PSICOLOGIA
ADRIA SÂNGELA TORRES DE MATOS
ANÁLISE DO FILME UM ESTRANHO NO NINHO
FORTALEZA – CE
2020
· Introdução
Nesta análise crítica do filme Um estranho no ninho, abordarei sobre o filme com os aspectos teóricos psicanalistas de Wilfred Bion, suas contribuições e classificações. O filme Um estranho no ninho de Milos Forman lançado no ano de 1975 é uma longa metragem adaptado da literatura romântica de Ken Kesey de 1962. Ambientado em um hospital psiquiátrico, o filme conta a história de McMurphy, um indivíduo que anseia por liberdade, já que tinha ido para lá terminar sua pena prisional, que ao final acaba conseguindo esta liberdade e incentiva os outros pacientes em um movimento contra a opressão dos funcionários do hospital e principalmente da enfermeira chefe Ratched. Tratado como um clássico tanto na literatura, mas principalmente na história do cinema, Um estranho no ninho é ganhador de um total de vinte e seis premiações contando com Oscar, Globo de Ouro, BAFTA etc. 
· Desenvolvimento
Randall McMurphy, personagem brilhante ao qual ganhou Oscar de melhor ator no filme Um estranho no ninho, interpretado por Jack Nicholson. Um sujeito que está prestes a terminar sua pena na prisão, mas que não deseja mais trabalhar resolve fingir-se estar mal com suas faculdades mentais para ser levado ao Hospital Psiquiátrico para passar por alguns testes e ter uma comprovação se ele era um insano ou se era apenas fingimento. 
A ala psiquiátrica onde estava era chefiada pela Enfermeira Ratched, uma mulher fria, perversa e dona de um superego ditatorial, tratavam os pacientes com soberania e superioridade, onde não é tolerado nenhum tipo de comportamento fora dos padrões da administração. McMurphy será seu principal alvo, já que ele não era insano e via o jeito como a enfermeira mandava em tudo e todos obedeciam sem rebater, ocorrendo assim vários conflitos dentre os dois. 
O filme Um estranho no ninho é uma acusação aos manicômios e às instituições mentais. Vale ressaltar que o autor do livro, Ken Kesey, foi uma grande referência no movimento de contracultura dos Estados Unidos na década de 60, onde estava acontecendo a Guerra do Vietnã e com isso surgiu o movimento de contracultura, com o movimento beatnik e em seguida o famoso movimento hippie que defendia o antimaterialismo, o fim das guerras, e acreditavam que amor e paz poderiam ser espalhados pela expansão da mente pelo uso de drogas LSD, por exemplo. Entendendo o que se passava nas décadas de 50 e 60 fica mais simples e clara a crítica que o filme retrata o enredo do filme trata da alegoria a esse pensamento de uma geração que era contra as medidas políticas do país naquela época e também, é evidente, uma denúncia para como, “loucos”, os pacientes destes locais eram tratados com violência, maus tratos, eram eletrocutados e no filme mostra em várias cenas a forma surreal na qual os medicamentos que os pacientes devem tomar são entregues a eles em forma de fila até o gabinete da enfermeira, onde seus comportamentos ficavam mecanicistas, o que lembra muito bem uma esteira de uma fábrica e que eram embalados ao som de uma música clássica em um volume alto, e que se estendia por horas. 
O personagem do Randall McMurphy é justamente a personificação dos pensamentos dessa geração contra as políticas governamentais, um indivíduo que não tem nenhum problema psicológico, mas por ser diferente dos outros pacientes, um indivíduo que sabia ir contra a imposição autoritária e não abaixava a cabeça calado era visto como uma ameaça a sociedade tendo que ficar reabilitado, já que ali era diferente da prisão. Até certa cena em que Mc diz para um dos guardas que faltavam 68 dias para ele sair de lá e o guarda o rebate afirmando que o Hospital Psiquiátrico não é como na prisão, ali ele só iria sair quando eles achassem que era hora do McMurphy sair, podendo nunca sair ou sair já com uma idade bem avançada. 
A enfermeira Ratched faz sessões de terapia em grupo com alguns dos pacientes e tenta fazer um diálogo com o grupo em atendimento e acaba fracassando todas as sessões, pois sua figura não é reconhecida pelo grupo como um continente, Bion caracteriza continente sendo um ambiente de estabilidade, é um ambiente que possa oferecer uma constância para o sujeito, de respeito, de amor, de carinho, compreensão, respeitar a forma que o outro é e não que eu interfira na forma como eu desejaria que ele fosse, justamente ao contrário as ansiedades depositadas na enfermeira são devolvidas da mesma forma aos membros do grupo, sem compreendê-las o que a configura, segundo Bion, como um continente falho. 
É importante destacar que é necessário que o analista, no caso do filme o analista do grupo é a enfermeira Ratched, tenha sido contido anteriormente para que ele seja continente, caso contrário haverá a contratransferência a transferência que vem do paciente para o analista e a transferência do analista para o paciente.
 O grupo não reconhece em Ratched um continente, logo lança das suposições básicas onde a mais aparente é a de luta-fuga, pois o grupo ora luta, ora foge da figura da enfermeira a fim de se autopreservar. Supostos básicos funcionam nos moldes dos primeiros processos do pensamento e obedecem mais as leis do inconsciente em que as fantasias grupais adquirem uma das três formas típicas, no filme essa forma é a de luta-fuga na qual o inconsciente grupal está dominado por ansiedades paranóicas e defende-se na ‘luta’ contra qualquer nova situação de dificuldade psicológica ou ‘fogem’ da mesma, criando assim um inimigo externo, onde entregam todos os males e ficam unidos contra este inimigo em comum. O que se percebe muito bem nas cenas da terapia grupal que não é um ambiente saudável, há muros entre Ratched e McMurphy, Billy, Handing, Cheswick e todos os outros pacientes. 
Existe outro conceito de Bion muito perceptível no filme, o de dependência como seu próprio nome já diz é uma grande dependência que o grupo (restante dos pacientes, mas principalmente com Cheswick e o Chefe indígena) tem com seu líder (Randall McMurphy). O grupo acaba elegendo um líder carismático na tentativa de uma proteção, esse vínculo com o líder tende a adquirir uma natureza simbiótica, mais voltada para um mundo ilusório. 
Os “loucos” nem sempre eram caracterizados da mesma forma e também não eram excluídos do mesmo jeito. Houve várias tentativas de curar essas pessoas ao submetê-las a tratamentos como a lobotomia ou foram perseguidos até a morte. Tudo que ia contra o “normal” em algum momento, sofre perseguição. 
Em certo momento da História ocorreram tentativas de converter o “louco” para que fosse “normal”, isso era feito por meio do autoritarismo e de tratamento que único princípio era anular o indivíduo, transformá-lo em uma pessoa submissa. Exatamente o que é retratado no filme Um estranho no ninho, McMurphy que não era insano, mas não era submisso ao regime autoritário do hospital, chega ao manicômio e se depara com um grupo de pessoas que agem sem vontade própria, com receio. 
A enfermeira brinca com esse medo dos pacientes, fica muito claro essa situação no caso do Billy, um jovem inseguro e gago que já tentou suicidar-se várias vezes. Ratched é amiga da mãe de Billy, e quando ela faz algo indevido, ela o ameaça afirmando que irá contar tudo para sua mãe. Ratched sendo a antagonista do filme, brilhante trabalho que a levou a ganhar o Oscar de melhor atriz, um pessoa considerada sã, uma posição de grande respeito no hospital, mas que impõe sua vontade nos pacientes, os oprime, atormenta, manipula ao seu querer para que se comportem como “pessoas normais”, submissas. 
Interessante ressaltar que o título original do filme: One flew over the Cuckoo’s nest, possui três interpretações bem intrigantes. A primeira e mais básica é a de que cuckoo’s nest é uma forma depreciativa de chamar os manicômios (ninho de cucos). 
A segunda é que One flew over the Cuckoo’s nest significa Voando sobre um ninho de cucos, e cucos é um pássaro parasitaa mãe não faz o seu próprio ninho, ela procura o ninho de outra ave que tem ovos parecidos com o seu para abandonar um de seus ovos lá e outra mãe daquele ninho venha e choque os ovos, tendo seus filhos e um adotivo. Esse estranho no ninho é tratado pelo Randall e a mãe adotiva a Ratched, o cuco é nasce antes dos outros, pois se desenvolve muito rápido, jogando fora os outros ovos e assim apenas ele recebe toda a comida traga pela mãe, essa tentativa de empurrar os outros para fora é vista pelo Randall nas tentativas de libertar os outros pacientes do Hospital (ninho), a mãe não nota diferença entre os ovos que estão no ninho e vai alimentando o pássaro normalmente, o que fica perceptível na relação da Ratched e McMurphy, que acredita que ele tenha um problema psicológico como os outros e o trata igualmente. Dessa forma, entende-se porque a relação deles é tão conflituosa, não porque a Ratched seja má como Mc acredita, ela está ali cumprindo ordens da instituição que tem métodos de tratamentos questionáveis e sendo aplicados erroneamente a alguém que não pertence aquele ninho. 
A terceira e última interpretação é a de que existe uma rima infantil até mesmo mencionada no romance de Ken Kesey: “havia três gansos um uma revoada: um voou para o leste, um voou para o oeste e um voou sobre o ninho de cuco”, dando a entender que cada pessoa tem seu destino. Essa tríade de destino é presente no filme também, Mc sempre quis a liberdade e até desafiou várias normas do Hospital, mas ele se preocupou em tentar tirar outros pacientes de lá para a liberdade. De uma maneira ou outra apenas três personagens são apresentados alcançando esta liberdade, sendo assim os três gansos da rima infantil: o primeiro, Billy jovem e com pouca experiência de vida e com sérios problemas com a mãe, e fica claro que o motivo de seu suicídio foi a Ratched, que disse que iria contar para mãe dele que ele tinha feito amor com uma mulher, Billy não suporta a pressão o medo das conseqüências, a felicidade dele mesmo e alcança a liberdade, de certa maneira, depois de seu suicídio. 
O segundo é Randall McMurphy ao ver o que Billy fez consigo mesmo atacou a enfermeira Ratched sufocando-a, na tentativa de matá-la, então ele é condenado e passa por uma lobotomia, ficando em estado vegetativo, submisso e sem liberdade. Por isso que o chefe indígena que se passou de surdo-mudo por anos se compadece do estado de Mc e o mata com um travesseiro como libertação e como favor por McMurphy ter aberto os olhos dele. O terceiro é óbvio já, Chefe indígena que homenageia Mc, tirando a pedra de mármore e quebrando a janela e sendo o único a conseguir uma liberdade não metafórica, escapando do manicômio. 
Entendendo esta analogia ao final do filme, ao quais muitas pessoas não gostaram, é que um dos pacientes (não me lembro o nome dele no momento) vê que o Chefe escapou e fica muito feliz, acorda os outros e grita: Eles conseguiram, eles saíram! 
· Conclusão
Um estranho no ninho ou One flew over the Cuckoo’s nest demostra a forma cruel desses hospitais, manicômios na época com os indivíduos, mostra de forma real a maneira como esses pacientes eram tratados, vítimas de todo e qualquer tipo de violência física ou psicológica. Por isso é que se tornou tão necessário em uma reforma psiquiátrica. 
Ao contrário do filme, um trabalho de terapia de grupos para esses indivíduos for bem aplicado, com certeza o tratamento será saudável e com ótimos resultados, pois como vimos na sobre Bion o terapeuta sendo um continente para o grupo possibilitara que os membros sintam-se capazes de tornar o grupo o próprio continente em que a relação simbiótica será bem sucedida, pois o continente e o conteúdo crescem e se beneficiam. 
Caso o analista, Ratched, tivesse adotado uma conduta de valência para com o grupo, teria feito parte dele e não uma presença perturbadora nele. Para Bion, valência é a disposição do indivíduo para fazer união com os demais, de acordo com a vigência do suposto básico em atividade. A predominância harmônica da valência é que dará uma força de coesão do grupo geral.