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O folato é cofator essencial na síntese de monofosfato de inosina (IMP), do qual derivam todos os nucleotídios de purinas. A síntese de pirimidinas não requer folato, embora este seja necessário para metilação de desoxiuridilato (dUMP) a desoxitimidilato (dTMP)). Ribonucleotídios contêm uma das bases púricas ou pirimídicas ligada ao fosfato de ribose. Subsequente redução de ribose na posição 2′ produz desoxirribonucleotídios, que são polimerizados a DNA, enquanto ribonucleotídios são utilizados para formar RNA (não ilustrado). O dogma central da biologia molecular estabelece que o código do DNA determina a sequência do RNA (transcrição), e que o RNA é, então, transladado em proteína. Metotrexato inibe a di-hidrofolato redutase (DHFR) e impede, portanto, a utilização do folato na síntese de nucleotídios de purinas e dTMP. 6-mercaptopurina e tioguanina inibem a formação de nucleotídios de purinas. Hidroxiureia inibe a enzima que converte ribonucleotídios em desoxirribonucleotídios. Fludarabina, citarabina e cladribina são análogos de purinas e pirimidinas que inibem a síntese de DNA. 5-fluorouracila inibe a enzima que converte dUMP em dTMP material produzido por Raísa Aguilera - Medicina UFMS CPTL 2025 (@sevirenos30) Antineoplásicos - Aspectos Gerais (Golan, Rang & Dale, Whalen) INTRODUÇÃO Detalhes da síntese de purinas. Inosina monofosfato (IMP) ocupa posição central na síntese de nucleotídios de purina. IMP é oxidado pela IMP desidrogenase (IMPDH) a xantilato (XMP), que é convertido a monofosfato de guanosina (GMP). GMP pode ser incorporado a DNA ou RNA na forma de trifosfato de desoxiguanosina (dGTP) ou trifosfato de guanosina (GTP), respectivamente. Alternativamente, IMP pode ser aminado a monofosfato de adenosina (AMP) por meio de um intermediário adenilosuccinato. AMP pode ser incorporado a DNA ou RNA, na forma de trifosfato de desoxiadenosina (dATP) ou trifosfato de adenosina (ATP), respectivamente. 6-mercaptopurina e tioguanina inibem IMPDH e interrompem, portanto, síntese de GMP. 6-mercaptopurina também inibe a conversão de IMP em adenilossuccinato e, então, interrompe síntese de AMP. Hidroxiureia inibe a ribonucleotídio redutase e, dessa maneira, inibe formação dos desoxirribonucleotídios necessários à síntese de DNA. Fludarabina e cladribina são análogos halogenados de adenosina que inibem síntese de DNA. Detalhe da síntese de pirimidinas. O aspartato (aminoácido) e o carbamoil fosfato se combinam para formar orotato que, em seguida, associa-se ao fosforribosilpirofosfato (PRPP) para compor uridilato (UMP). O UMP ocupa posição central na síntese de nucleotídios de pirimidinas; pode ser fosforilado sequencialmente ao trifosfato de uridina (UTP). O UTP é incorporado ao RNA ou aminado para formar trifosfato de citidina (CTP). O CTP é incorporado ao RNA (não ilustrado) ou reduzido pelo ribonucleotídio redutase a trifosfato de desoxicitidina (dCTP), que é incorporado a DNA. Alternativamente, o UMP pode ser reduzido a desoxiuridilato (dUMP). Timidilato sintase converte dUMP em desoxitimidilato (dTMP), em reação que depende de folato. O dTMP é fosforilado a trifosfato de desoxitimidina (dTTP), que é incorporado a DNA. Hidroxiureia inibe a formação de desoxirribonucleotídios e inibe, portanto, síntese de DNA. Citarabina, análogo de citidina, inibe a incorporação de dCTP a DNA. 5-fluorouracila inibe a síntese de dTMP por inibiçãode timidilato sintase. O metotrexato inibe di-hidrofolato redutase (DHFR), enzima responsável pela regeneração de tetraidrofolato (THF) de DHF. Ao inibir a DHF redutase, esse fármaco atua do mesmo modo na formação do metilenotetraidrofolato (MTHF), composto de folato necessário para síntese de dTMP. HIPÓTESE DA MITOTOXICIDADE: tumores são mais sensíveis à quimioterapia quando apresentam crescimento rápido, basicamente por estarem progredindo pelo ciclo celular. Essas células metabolicamente ativas são suscetíveis a fármacos que interferem em crescimento e divisão celulares. Classes de agentes antineoplásicos. Muitas células cancerosas dividem-se com mais frequência que as células normais, e células cancerosas frequentemente podem ser destruídas de modo preferencial, utilizando três processos críticos de crescimento e material produzido por Raísa Aguilera - Medicina UFMS CPTL 2025 (@sevirenos30) divisão celulares como alvos. Agentes que provocam lesão do DNA alteram sua estrutura e, consequentemente, promovem apoptose da célula. Esses fármacos incluem agentes alquilantes (que acoplam grupos alquila de modo covalente a sítios nucleofílicos no DNA), antibióticos antitumorais (que provocam lesão do DNA com radicais livres) e complexos de platina (que estabelecem ligações cruzadas no DNA). Inibidores de síntese e integridade do DNA bloqueiam etapas intermediárias na síntese de DNA; esses agentes incluem antimetabólicos e inibidores da via do folato (que inibem o metabolismo de purinas e pirimidinas) e inibidores da topoisomerase (que induzem lesão do DNA durante enrolamento e desenrolamento). Inibidores da função dos microtúbulos interferem no fuso mitótico, necessário para divisão da célula. Esse grupo de fármacos inclui alcalóides da vinca, que inibem a polimerização dos microtúbulos, e taxanos, que estabilizam os microtúbulos polimerizados. MODELO DA MATANÇA LOGARÍTMICA - baseia-se em taxas experimentalmente observadas de crescimento e regressão de tumores em resposta à quimioterapia. - este modelo estabelece que estabelece que a destruição celular causada pela quimioterapia do câncer é de primeira ordem, ou seja, cada dose de quimioterapia mata uma fração constante de células - Se o tumor começa com 10 12 células e 99,99% forem destruídas, permanecerão 10 8 células malignas. A próxima dose de quimioterapia matará 99,99% das células remanescentes, e assim por diante. - a maioria dos agentes antineoplásicos deve ser administrada de modo intermitente para reduzir os efeitos adversos tóxicos - a administração intermitente possibilita recuperação parcial das células normais, mas também dá tempo para o crescimento de novas células cancerosas e desenvolvimento de resistência a fármacos nas células cancerosas. - “ciclos” intermitentes de quimioterapia são administrados até que todas as células cancerosas sejam destruídas ou o tumor desenvolva resistência - em caso de resistência: uso de dose mais altas (limitadas devido a efeitos adversos) terapias combinadas e/ou terapias adjuvantes (cirurgia, radioterapia)Modelo de matança celular logarítmica de crescimento e regressão tumorais. O modelo de matança celular logarítmica prediz que os efeitos da quimioterapia antineoplásica podem ser considerados como processo de primeira ordem. Ou seja, determinada dose de fármaco mata uma fração constante de células tumorais, e o número de células destruídas depende do número total de células remanescentes. As quatro curvas representam quatro possíveis desfechos da terapia antineoplásica. A curva A é a curva de crescimento do câncer não tratado, que continua crescendo com o decorrer do tempo, levando, por fim, à morte do paciente. A curva B representa o tratamento local curativo (cirurgia e/ou radioterapia) antes da disseminação metastática da neoplasia maligna. A curva C representa o tratamento local material produzido por Raísa Aguilera - Medicina UFMS CPTL 2025 (@sevirenos30) do tumor primário, seguido imediatamente de quimioterapia sistêmica administrada em ciclos (setas para baixo) para erradicar células cancerosas metastáticas remanescentes. Observe que cada ciclo de quimioterapia reduz o número de células cancerosas por uma fração constante (aqui, em cerca de dois “logs”, ou aproximadamente 99%) e que ocorre algum crescimento do câncer, na medida em que os tecidos normais têm tempo para se recuperar entre os ciclos de quimioterapia. A curva D representa o tratamento local seguido de quimioterapia sistêmica, que falha quando o tumor torna-se resistente aos fármacos utilizados ou quando surgem efeitos tóxicos dos fármacos que são intoleráveis para o paciente. Observe que, em geral, é necessária a presença de 109 a 1010 células cancerosas para que um tumor se torne detectável; por esse motivo, são necessários múltiplos ciclos de quimioterapia para erradicar o câncer, mesmo quando não há nenhum tumor remanescente detectável. * Mutações em proteínas-chave associadas a controle de apoptose, como p53 e Bcl-2, podem resultar em incapacidade de induzir resposta apoptótica à lesão do DNA, podendo reduzir, assim, a sensibilidade de células tumorais a agentes antineoplásicos - contêm grupos químicos que conseguem formar ligações covalentes com substâncias nucleofílicas particulares na célula (como o DNA) - promovem alquilação: transferência de grupos alquila às moléculas biologicamente importantes o que causa alterações nos processos de replicação, transcrição e reparo do material genético fazendo com que a célula cancerosa seja induzida à apoptose - a maioria dos agentes alquilantes anticâncer citotóxicos é bifuncional, ou seja, possui dois grupos alquilantes → agentes bifuncionais também são mais eficientes que os monofuncionais - a maior eficiência dos agentes bifuncionais está na capacidade da bis-alquilação formar ligações cruzadas, o que aumenta a citotoxicidade - a alquilação de resíduos pode resultar em clivagem do anel de nucleotídeos, pareamento anormal de bases ou excisão de resíduos → a clivagem do anel rompe a estrutura molecular do DNA; o pareamento anormal de bases de DNA provoca codificação incorreta e mutação, enquanto a excisão de resíduos leva à cisão do arcabouço açúcar-fosfato do DNA - mutações causadas por esses processos podem aumentar o risco do desenvolvimento de novos cânceres - toxicidade é dose-dependente e pode ser grave - alvos preferencialmente afetados por agentes alquilantes - tecidos de alta proliferação: como medula óssea, epitélio do TGI e TGU, e folículos pilosos - toxicidade específica de órgãos pode resultar de baixa atividade de uma via de reparo de lesão de DNA no tecido em questão material produzido por Raísa Aguilera - Medicina UFMS CPTL 2025 (@sevirenos30) MECANISMOS DE FARMACORRESISTÊNCIA MECANISMOS DE RESISTÊNCIA GENÉTICA A FÁRMACO Redução da concentração intracelular do fármaco Mecanismo Exemplo Inativação do fármaco Inativação de antimetabólitos pela desaminase Evitamento da captação do fármaco Diminuição da entrada de metotrexato por expressão diminuída do transportador de folato reduzido Promoção do efluxo do fármaco Efluxo de múltiplos fármacos pela bomba de efluxo de membrana p179 Mecanismos baseados em alvo Alteração do alvo do fármaco Expressão de DHFR mutante que não mais se liga a metotrexato Desvio da necessidade metabólica do alvo Perda de crescimento dependente de receptores de estrogênio resulta em resistência ao tamoxifeno Mecanismo envolvendo morte celular Insensibilidade à apoptose Perda da p53 ativa* CLASSES DE FÁRMACOS ANTINEOPLÁSICOS Agentes Alquilantes - tecido pode ser afetado devido a acúmulo de composto tóxico nesse tecido específico - efeitos adversos: depressão da função da medula óssea, perda de cabelo, transtornos do TGI; uso prolongado pode levar a depressão da gametogênese (esterilidade sobretudo em homens), aumenta o risco do desenvolvimento de leucemia não linfocítica aguda e outras malignidades Antagonistas do folato - principal representante da classe: metotrexato (pro-fármaco) - principal mecanismo de ação: interferir na síntese de timidilato - o metotrexato tem maior afinidade que o di-hidrofolato pela di-hidrofolato redutase (inibição reversível) e, assim, inibe a enzima depletando o tetra-hidrofolato intracelular - A inibição da DHFR consegue ser revertida somente por um excesso de mil vezes do substrato natural, o di-hidrofolato ou pela administração de ácido folínico, que ultrapassa a enzima bloqueada e restabelece o estoque de folato - MTX é específico para fase S do ciclo celular Análogos da pirimidina - principais representantes: fluoruracila, citarabina - fluoruracila: interfere na síntese de DTMP → é convertida em um nucleotídeo “falso” (o fDUMP) que interage com a timidilato sintase mas não pode ser convertido em DTMP - o resultado é a inibição do DNA, mas não do RNA ou da síntese proteica - citarabina: análogo do nucleosídeo de ocorrência natural → fármaco entra na célula-alvo e sofre as mesmas reações que o nucleosídeo endógeno, produzindo trifosfato de citosina arabinosídeo, que inibe a DNA polimerase Análogos da purina - principais representantes: cladribina, clofarabina, fludarabina, pentostatina, nelarabina, mercaptopurina e tioguanina - fludarabina tem mecanismos semelhante à citarabina material produzido por Raísa Aguilera - Medicina UFMS CPTL 2025 (@sevirenos30) Antimetabólitos Inibidores da polimerização de microtúbulos → Alcalóides da vinca - vincristina e vimblastina - alcalóides da vinca ligam-se à β-tubulina em porção da molécula que se superpõe ao domínio de ligação de GTP → inibe a polimerização de tubulina e, portanto, impede a extensão dos microtúbulos - a inibição da adição de tubulina leva à despolimerização de microtúbulos existentes Inibidores da despolimerizaçãode microtúbulos → Taxanos - paclitaxel e docetaxel - ligam-se à subunidade β-tubulina de microtúbulos, em local distinto do sítio de ligação dos alcalóides da vinca - taxanos promovem polimerização de microtúbulos e inibem sua despolimerização → a estabilização de microtúbulos em estado polimerizado interrompe as células em mitose e, por fim, leva à ativação do processo de apoptose - duas hipóteses principais para as propriedades aparentes estabilizadores de microtúbulos de taxanos: 1. poderiam reforçar interações laterais entre protofilamentos de microtúbulos: diminui a tendência dos protofilamentos “descamarem” do cilindro de microtúbulos 2. poderiam acertar protofilamentos individuais: protofilamentos tem a tendência de se enrolar, produzindo distorção na integridade do cilindro do microtúbulo; ao consertar os protofilamentos, taxanos poderiam reduzir a tendência dos protofilamentos de se separarem do microtúbulo intacto material produzido por Raísa Aguilera - Medicina UFMS CPTL 2025 (@sevirenos30) Inibidores de microtúbulos
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