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1 SERVIÇO DIPLOMÁTICO E CONSULAR Referência: Livro do Portela (material base) André de Carvalho Ramos Livro Hidelbrando Aciolly Malcolm Shaw Valério Mazzuoli 1. AGENTES DIPLOMÁTICOS Quem são? São os responsáveis por representar o estado nas relações internacionais. A atividade dos agentes diplomáticos é regulada pela Convenção de Viena de 1961. Agentes diplomáticos X Funcionários internacionais: São diferentes porque seus estatutos são diferentes, se vinculam a entidades diferentes, embora suas prerrogativas e privilégios não sejam assim tão diferentes. Funções: • Representar o Estado acreditante perante o Estado acreditado. • Negociar com o Estado acreditado • Promover relações amistosas com o Estado acreditado • Desenvolver relações econômicas, culturais, científicas entre acreditante e acreditado. Acreditante > Envia Acreditado > Recebe Agentes diplomáticos também trabalham no estado de origem, como quando exercem suas funções no órgão encarregado da administração da política externa estatal. 2 No exterior, os agentes diplomáticos exercem suas funções nas embaixadas, órgãos de representação do Estado junto ao governo de outros Estados, assim como nas delegações e missões. A aquisição de imóveis para trabalhos consulares é regulada pela Convenção de Viena de 1961, devendo ser facilitada pelo Estado acreditado. Alternativamente, o Estado que recebe a missão diplomática estrangeira deverá ajudar o governo estrangeiro a conseguir locais para a missão diplomática de outra maneira. No Brasil, não há necessidade de autorização do Ministério das Relações Exteriores, podendo o Estado estrangeiro adquirir propriedade de prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos. LINDB art.11: Art. 11. (...) § 2o Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens imóveis ou susceptíveis de desapropriação. § 3o Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares. Contratados locais: Aqueles que fazem parte da área administrativa, técnica e de serviços, parte oriunda de outras carreiras no Ministério de Relações exteriores e outra parte que é recrutada no próprio Estado acreditado. O Brasil também recruta funcionários locais no exterior, mas o faz mediante concurso público. Em princípio, todos os membros do pessoal diplomático devem ter nacionalidade do Estado acreditante. Os membros do pessoal administrativo, técnico, serviços que sejam funcionários locais podem ter qualquer nacionalidade. Obs.: não terão as mesmas prerrogativas do pessoal diplomático. O que é direito de legação? Cuida-se da prerrogativa que um Estado e Organizações tem de enviar e de receber agentes diplomáticos. 3 • Enviar > direito de legação ativo • Receber > direito de legação passivo O direito de legação é suspenso na guerra, no não reconhecimento do Estado ou rompimento de relações diplomáticas. Esse direito de legação confere ao Estado a possibilidade de abrir uma missão diplomática no exterior. Parte da doutrina diz que esse direito de legação é para somente Estados, mas, na prática, vemos que os organismos internacionais também o utilizam. Embaixador: CHEFE DA MISSÃO DIPLOMÁTICA (Embaixada). Normalmente nomeado pelo Chefe de Estado. Enquanto exerce suas funções é diplomata. A Convenção de Viena de 1961 divide os chefes da missão diplomática em três classes: • Embaixadores ou Núncios: Acreditados perante Chefes de Estado, e outros Chefes de Missão de Categoria equivalente; • Enviados, Ministros ou Internúncios: Acreditados perante Chefes de Estado; • Encarregados de Negócios: Acreditados perante Ministro das Relações Exteriores. São funcionários que substituem o embaixador em suas ausências ou que respondem por uma Embaixada em períodos em que não há Chefe de Missão diplomática indicado, ou em que estes ainda não assumiram suas funções. A nomeação do Embaixador necessita de anuência do estado acreditado? SIM, trata-se de um ato discricionário pelo qual o Estado acreditado aceita a indicação do Embaixador estrangeiro para que nele exerça suas funções. Depende do pedido do Estado acreditante. Observação n.1: a nomeação do Embaixador é processo que requer, no DIP, o pedido e a concessão de AGRÉEMENT, concessão que consiste em ato discricionário pelo qual o Estado acreditado aceita a indicação de embaixador estrangeiro para que nele atue. Não é ato de ofício, sendo necessário pedido do acreditante. Além disso, o processo de concessão é SECRETO e NÃO PRECISA SER MOTIVADO. 4 Observação n.2: o Embaixador inicia suas funções com a apresentação das credenciais ao Chefe do Estado creditado ou das cópias figuradas de suas credenciais à chancelaria local. Os demais agentes diplomáticos iniciam sua atividade por mera notificação à chancelaria do Estado acreditado. O processo de escolha do Embaixador cabe ao direito interno de cada Estado. No Brasil, o posto do Embaixador é cargo de confiança do Chefe de Estado, este normalmente escolhe essa autoridade dentre nomes de carreira de Diplomata, mas se quiser pode não escolher pessoa vinculada ao Ministério de Relações Exteriores. A indicação do Embaixador precisa ser aprovada pelo Congresso (Art. 52, VI CF/88). Na sua ausência, a embaixada é chefiada pelo Encarregado de negócios. O Chefe da Missão Diplomática inicia suas funções apresentando suas credenciais e as do Chefe de Estado acreditado à chancelaria. Se apresentar cópias, não tem problema, não cancela a sua apresentação. O início e fim da missão diplomática é ato de mera notificação à chancelaria. Cada Estado define suas próprias regras relativas à seleção dos agentes diplomáticos. Requisitos: Brasileiro nato Maior de 21 anos Submeter-se a concurso de admissão à carreira de diplomata – CACD > anual Após ingressarem, temos no nível hierárquico de Terceiro-Secretário sendo vinculados ao Instituto Rio Branco. O conjunto de diplomatas acreditados de um Estado forma o corpo diplomático. Funções dos agentes diplomáticos: Representar o Estado acreditante perante o Estado acreditado Proteger os interesses do Estado acreditante e seus nacionais no Estado acreditado Negociar com o governo do Estado acreditado 5 Inteirar-se das condições e evoluções do Estado acreditado junto a qual atuam e informar o Estado acreditado a respeito. Promover relações amistosas e desenvolver relações culturais, econômicas. 2. AGENTES CONSULARES São funcionários de um Estado encarregados de oferecer aos seus nacionais a proteção e assistência no exterior. A atividade consular tem origens na antiguidade, sendo regulada atualmente pela Convenção de Viena sobre Relações Consulares de 1963. No geral, compete ao agente consular a proteção dos interesses do Estado que o envia e de seus nacionais, pessoas físicas ou jurídicas. Compete ao agente consular: • Proteção dos interesses do Estado que o envia e seus nacionais. > amplo rol de funções. • Função notarial e registro civil. • Emitir documentos de seu Estado que sejam de interesse de seus nacionais no exterior, e eventualmente de estrangeiros, como registros de nascimento, documentos de viagem. • Emitir vistos a estrangeiros que desejam viajar a Estado que ele representa. • Oferecer proteção, ajuda e assistência a seus nacionais no exterior. • Resguardar interesses de seus nacionais, no caso de sucessão por morte, no caso de menores incapazes. • Tomar medidas para representação dos nacionais perante as autoridades. Pode ainda exercer algumas funções de agente diplomático como as de promoção comercial, atração de investimentos, etc.Um Estado que não tiver missão diplomática em outro Estado poderá ali ser representado por um funcionário consular, desde que com o conhecimento do Estado receptor. Após notificação do Estado 6 receptor, pode o agente consular atuar como representante do Estado que o envia junto a uma organização internacional. Ao desincumbir-se de suas funções consulares, o agente consular não terá direito a imunidade de jurisdição maior do que a reconhecida aos funcionários consulares pela Convenção de Viena de 1963. 1. Estado de envio: Estado que envia o agente consular 2. Estado de acolhimento ou Estado receptor: Estado que recebe o agente consular 3. Notificação consular: Os agentes consulares têm direito a comunicar-se com os nacionais de seu Estado e de visitá-los. Notificação consular: Tema muito importante! A notificação consular, também conhecida como “direito à informação sobre a assistência consular” é, atualmente, considerada pelo STF como “prerrogativa jurídica, de CARÁTER fundamental, que hoje compõe o universo conceitual dos direitos básicos da pessoa humana”, relacionada diretamente às garantias mínimas do devido processo legal e cuja observância é norma cogente dentro dos procedimentos penais e processuais penais. O STF acrescenta que o direito à notificação consular é prerrogativa a ser assegurada ao estrangeiro without delay, devendo, portanto, “ser efetivada no exato momento em que se realizar a prisão do súdito estrangeiro e, em qualquer caso, antes que o mesmo preste a sua primeira declaração perante a autoridade competente.” Assim, se um nacional for detido, preso, toda comunicação do preso deverá ser transmitida rapidamente pelas autoridades nacionais do Estado onde o consulado estiver atuando. Resolução 162 CNJ: A autoridade judiciária deverá comunicar a prisão de qualquer pessoa estrangeira, assim como sua prisão à missão diplomática de seu Estado de origem, ou, na sua falta, ao Ministério das Relações Exteriores, e, ao Ministério da Justiça, no prazo máximo de 5 dias. No entanto, atente-se: os cônsules devem se abster de intervir em favor de um nacional, se este se opuser expressamente. À luz do Direito Internacional e do STF, o direito da notificação consular só restaria assegurado se os magistrados informassem acerca das prisões dos estrangeiros às autoridades consulares. 7 Portela entende que os juízes deveriam dirigir as comunicações pertinentes também às autoridades consulares, o que não excluiria do envio de uma carta às autoridades diplomáticas, para que também possam acompanhar a vida de seus nacionais no exterior. Observação n.1: as autoridades do Estado receptor são obrigadas a informar as autoridades consulares acerca da morte de um nacional de um Estado da repartição, da necessidade de nomeação de tutor ou curador para o menor ou de sinistro om navio ou aeronave. Observação n.2: o estabelecimento de RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS IMPLICA, salvo indicação contrária, o ESTABELECIMENTO DE RELAÇÕES CONSULARES. Contudo, o ROMPIMENTO das relações diplomáticas NÃO IMPLICA o rompimento das relações consulares. Observação n.3: pode haver mais de um consulado por Estado. Observação n.4: se a instalação de uma repartição consular não se justificar, os diplomatas podem ainda assim, exercer suas funções. Definições importantes sobre o serviço consular: • CONSULADO: Local de trabalho do agente consular. Deve localizar-se em região com grande número de nacionais. Mas esse local dependerá do interesse do Estado que estabelece a repartição. Todo consulado exerce suas funções em determinada área territorial. > Distrito consular > pode abranger um país ou uma cidade. A jurisdição é definida entre o Estado que recebe o consulado e o que envia. • SEÇÃO CONSULAR: quando a instalação do consulado não é possível em uma determinada área, por questões orçamentárias, quantidade de nacionais, continuam os agentes a gozar de imunidades diplomáticas. A aquisição de imóveis para as funções dos agentes consulares deve ser facilitada pelo Estado acreditado. O Estado que recebe a missão consular estrangeira deverá ajudar o governo a conseguir locais para a missão diplomática. Em qualquer caso, deve ser observada a legislação pertinente. • TIPOS DE CÔNSULES: 8 Quantos tipos de cônsules existem? Há dois tipos de cônsules: a) CÔNSULES DE CARREIRA (OU MISSI): São recrutados entre os nacionais do Estado que os envia; b) CÔNSULES HONORÁRIOS (OU ELECTI): Podem ter QUALQUER NACIONALIDADE, inclusive a do próprio Estado onde atuarão. De acordo com o art. 70 da Convenção de Viena de 1963, tais diplomatas permanecem com suas imunidades DIPLOMÁTICAS. A Convenção de Viena de 1963 divide os chefes de repartição consular em quatro categorias: a) CÔNSULES-GERAIS; b) CÔNSULES; c) VICE-CÔNSULES; d) AGENTES CONSULARES. A nomeação do Cônsul ocorre através de um documento chamado CARTA-PATENTE, emitido pelo Estado que indica o agente consular; e dirigida ao Estado que recebe o cônsul. Para que o Chefe da repartição consular seja admitido no exercício de suas funções, é necessária autorização do Estado que o recebe, denominada EXEQUATUR, cuja formalização não requer qualquer formato preestabelecido. Cuida-se de ato discricionário de exercício da soberania. No Brasil, ocorreu a unificação das carreiras diplomática e consular. Assim, os diplomatas exercem funções consulares, caso estejam lotados em missões consulares. OBS.: Cada Estado é livre para estabelecer as regras relativas à nomeação dos cônsules. DEVO LEMBRAR: • Carta-patente > efetivação da nomeação do cônsul. Emitido pelo Estado que o envia ao Estado que o recebe. • Exequatur > autorização do Estado que recebe o agente da repartição consular para o exercício de suas funções. • MISSÕES ESPECIAIS: são viagens oficiais de autoridades do Estado ao exterior, como o Chefe de Estado, com interesse de tratar de assuntos da política internacional. É conferida imunidade aos agentes e sua comitiva, podendo exercer suas atividades livremente 9 3. PRIVILÉGIOS E IMUNIDADES Configura modalidade de imunidade de jurisdição, ou seja, restrição ao direito fundamental dos Estados soberanos que em determinadas situações previstas pelo Direito Internacional não podem sujeitar representantes de outros Estados, presentes em seu território, ao seu ordenamento jurídico. Resumindo: Os privilégios e imunidades configuram modalidade de imunidade de jurisdição. Assim, os órgãos de um Estado nas relações internacionais, seus locais de trabalho e seus bens NÃO ESTÃO DIRETAMENTE SUBMETIDOS À JURISDIÇÃO DE ENTES ESTATAIS ESTRANGEIROS, os quais devem se abster de exercer suas competências sobre essas pessoas e inclusive no campo jurisdicional, sem a autorização do Estado de origem dessas autoridades. IMPORTANTE! As imunidades consulares são mais restritas que as imunidades diplomáticas. Atualmente, as imunidades fundamentam-se na teoria do interesse da função, ou seja, na necessidade de garantir que os diplomatas e cônsules exerçam as funções de defender os interesses dos Estados que representam sem coação de qualquer espécie. As imunidades protegem os órgãos do Estado nas relações internacionais apenas no exterior, não em seu Estado de origem, onde, sob a proteção do ente estatal do qual são nacionais e aos quais servem, não necessitam dessa forma de auxílio. IMPORTANTE! A existência dessas imunidades e privilégios não exclui a jurisdição do Estado acreditante sobre os agentes diplomáticos e consulares e sobre as missões em terras estrangeiras. Assim, os ilícitos cometidos por diplomatas no exterior podem ser julgados por seus Estados de origem, os quais são competentes para conhecer desses fatos ocorridos. Assim como liberar o diplomata de não respeitar as leis locais implicaria em transtornos na convivênciasocial. Ex: diplomata brasileiro que fosse dirigir no Reino unido fora das normas de trânsito. Agentes diplomáticos não poderão se imiscuir os assuntos internos do Estado acreditado. Se violar as normas do Estado acreditado, poder vir a ser reconhecido como PERSONA NON GRATA. Mas, o que é persona non grata? Modalidade de sanção pelo qual o Estado acreditado informa ao Estado acreditante que um diplomata é INDESEJÁVEL. Ou ainda, quando o agente renuncie expressamente às suas imunidades. E se o Estado não o retirar ou não o reconhecer como funcionário, ele perde as suas imunidades e pode vir a ser julgado e processado onde se encontra. O ato de declarar que o diplomata é persona non grata é um ato discricionário e independente. 10 IMPORTANTE! A renúncia à imunidade de jurisdição não implica renúncia à imunidade quanto às medidas de execução da sentença, relativas às quais é necessária nova renúncia por parte do Estado. As imunidades pertencem ao Estado e não ao funcionário e por isso só o ente estatal pode renunciar. Como a Convenção de Viena protege os bens das missões diplomáticas impedindo de que sejam objeto de qualquer ato do Estado estrangeiro, se entende que se norma também se aplica aos casos de imunidade de jurisdição e de execução do Estado estrangeiro. Assim, os Estados não estão mais imunes à jurisdição de outros Estados quando pratiquem atos de gestão. Mas podem renunciar sua imunidade quando pratiquem atos de império. Mas em ambos os casos continuam gozando de imunidade de execução. De forma que caso sejam condenados por outro Estado, não poderão ser executados os bens afetos às atividades das missões diplomáticas, porque são protegidos pela Convenção de Viena de 1961. Tais regras encontram-se dispostas no Art. 23º da Convenção de Viena de 1961. No que tange ainda aos direitos dos diplomáticos, é importante frisar que gozam do direito de ir e vir, salvo zonas cujos acessos são restritos por segurança e dispostos em ordenamentos locais. Outro ponto importante é que os diplomatas e suas missões gozam de inviolabilidade, ou seja, os locais de missão, as residências e os veículos não podem ser objeto de qualquer ação por parte das autoridades locais. Dispõe também o Art. 22º, parágrafo 2º que as autoridades locais devem preservar e proteger os locais das missões, cabe ressaltar que tal proteção é devida mesmo em casos de conflito armado e rompimento de relações diplomáticas. Na mesma esteira da inviolabilidade temos que os bens e as residências não podem ser objetos de busca, apreensão ou qualquer outra medida de execução. Essas imunidades são extensíveis à sua família e dependentes dos agentes diplomáticos que ao acompanhe no exterior? SIM. Todas as imunidades aqui citadas são extensivas as famílias dos diplomatas, desde que tenham sido incluídos na lista diplomática e que não sejam nacionais do Estado acreditado. Para fechar este tópico, tem-se que a jurisprudência da Corte Internacional de Justiça (CIJ) entende que as imunidades dos ministros das relações exteriores dos Estados equiparam-se às imunidades diplomáticas. • Privilégios e imunidades consulares: 11 São similares aos dos agentes diplomáticos, porém, com mais restrição. Campo penal: não podem os cônsules serem detidos ou presos preventivamente. Exceto por decisão judiciária competente e crime GRAVE. Mas podem ser presos por decisão judiciária definitiva, exceto por atos relativos ao exercício de sua função. Ocorreu no Brasil em 2002, com prisão preventiva de agente consular. Em caso de ação penal contra o Cônsul, esta deve ser remetida a ele e de maneira a menos afetar as suas atividades. No campo civil e administrativo: não estão sujeitos à jurisdição do Estado receptor em atos relativos ao exercício de sua função. Mas estão, em ações que resultem de contrato que não tiver realizado como agente do Estado. Ex.: danos causados a veículo de terceiros particulares sem estar em exercício de suas funções e com seu carro particular. Podem ser obrigados a depor como testemunhas, EXCETO POR ATOS VINCULADOS A SUAS FUNÇÕES. E ainda, esse depoimento deve causar-lhe o menor transtorno possível. Não são obrigados a expor documentos e correspondências que tenham vínculo sua atividade consular. Campo tributário: nos mesmos termos da imunidade diplomática, cobrindo as taxas cobradas pelos serviços consulares. A imunidade tributária está relacionada aos tributos DIRETOS. Quanto aos tributos indiretos, a convenção de Viena não prevê. Temos a imunidade real e pessoal. Os bens da missão diplomática são protegidos da tributação direta. A tributação indireta por outro lado não é atingida. Arquivos, comunicações, instalações, que são vinculados a atividade consular são invioláveis. Assim como a residência do chefe consular também é inviolável, embora não a residência do agente consular, salvo para esta, no campo tributário. As imunidades consulares se estendem à família do agente. Os cônsules honorários têm imunidades mais restritas. As instalações destes, gozarão de isenções fiscais quando pertencerem ao Estado da repartição ou se for por este locadas. Os produtos importados não sofrem tributação nem taxas alfandegárias. Os documentos da repartição são invioláveis desde que estejam separados de outros documentos. 12 EXTRA VALÉRIO MAZZUOLI PRIVILÉGIO FISCAL: Isenção fiscal. Um dos privilégios conferidos aos agentes diplomáticos (constante do art. 34 da Convenção) é a ISENÇÃO FISCAL, que libera o agente do pagamento de todos os impostos e taxas, pessoais ou reais, nacionais, regionais ou municipais, com as exceções seguintes: a) os IMPOSTOS INDIRETOS que estejam normalmente incluídos no preço das mercadorias ou dos serviços; b) os impostos e taxas sobre bens imóveis privados, situados no território do Estado acreditado, a não ser que o agente diplomático os possua em nome do Estado acreditante e par a os fins da Missão; c) os direitos de sucessão percebidos pelo Estado acreditado (salvo o disposto no § 4° do art. 39); d) os impostos e taxas sobre rendimentos privados que tenham a sua origem no Estado acreditado e os impostos sobre o capital, referente a investimentos em empresas comerciais no Estado acreditado; e) os impostos e taxas cobrados por serviços específicos prestados (como água, esgoto, iluminação pública etc., nos países em que tais serviços são prestados por empresas particulares contratadas)- CONTRAPRESTACIONAIS – COMO COLETA DE LIXO; e f) os direitos de registro, de hipoteca, custas judiciais e imposto de selo relativos a bens imóveis (salvo o disposto no art. 23) . Assim, tudo quanto importar em INCIDÊNCIA DIRETA NÃO pode ser aplicado ao agente, que receberá apenas os ÔNUS FISCAIS INDIRETOS, ou seja, aqueles contidos no preço da mercadoria. Naturalmente, tudo quanto se destine ao uso oficial e pessoal da missão, bem como de seus funcionários, está livre de quaisquer encargos. Além disso, o Estado acreditado permitirá, de acordo com leis e regulamentos que adote, a entrada livre do pagamento de direitos aduaneiros, taxas e gravames conexos, que não constituam despesas de armazenagem, transporte e outras relativas a serviços análogos: 13 a) dos objetos destinados ao uso oficial da Missão; e b) dos objetos destinados ao uso pessoal do agente diplomático ou dos membros de sua família que com ele vivam, incluídos os bens destinados à sua instalação (art. 36, § 1 °). As imunidades à jurisdição civil e tributária encontram exceções. Assim, NÃO há imunidade à jurisdição civil no caso das AÇÕES SUCESSÓRIAS em que o agente diplomático esteja envolvido a título exclusivamente privado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário (art. 31, § 1 °, alínea b). Da mesma forma, NÃO há falar-se em imunidade do agente que, havendo propostouma ação cível, enfrenta uma RECONVENÇÃO (art. 32, § 3°). E, ainda, também não há imunidade no caso de feito relativo a uma profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente fora de suas funções oficiais (art. 31, § 1 °, alínea c). Não obstante o art. 42 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas expressamente proibir o agente diplomático de exercer, no Estado acreditado, atividades profissionais ou comerciais em proveito próprio, o certo é que em muitos casos os mesmos, ou membros de sua família, podem exercê-las, a exemplo de quando são médicos ou professores universitários, não sendo lógico, nessas hipóteses, que o agente argua a sua imunidade de jurisdição para cercear à outra parte a proteção da justiça. Outra imunidade à jurisdição civil diz respeito a eventual actio in rem sobre imóvel particular do agente situado no território do Estado acreditado, naqueles países que admitem que governos estrangeiros adquiram imóveis a título particular (art. 31, § 1 °, alínea a); mas tal, a priori, não é o caso do Brasil, vez que a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (art. 11, §§ 2° e 3°) diz NÃO poderem os governos estrangeiros (bem como as organizações de qualquer natureza, que eles tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas) adquirir no país bens imóveis ou susceptíveis de desapropriação, salvo se necessários à sede dos representantes diplomáticos ou dos agentes consulares. A imunidade tributária, como já se falou acima, não incide sobre os tributos indiretos que o beneficiário do privilégio diplomático deve arcar, os quais já se encontram normalmente embutidos no preço dos bens ou serviços, assim como as tarifas correspondentes a serviços que tenha efetivamente utilizado (CONTRAPRESTACIONAIS). Não obstante os privilégios e imunidades concedidos aos agentes diplomáticos e consulares, tanto a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (art. 41 ) quanto à relativa às Relações Consulares (art. 55) dispõem que "todas as pessoas que gozem desses privilégios e imunidades deverão respeitar 14 as leis e os regulamentos do Estado acreditado", tendo também "o dever de não se imiscuírem nos assuntos internos do referido Estado". Isto significa que quaisquer dessas pessoas, em território nacional, devem respeitar o direito local no que este tem de substantivo, apesar de a ação correspondente acabar ficando frustrada por conta da imunidade que elas têm a eventuais processos. O que não se pode, como explica Rezek, é impor aos representantes estrangeiros o direito do Estado acreditado, não havendo "afronta ao ordenamento jurídico brasileiro se o embaixador de um país poligâmico compartilha seu leito com quatro embaixatrizes, ou se os vencimentos do pessoal diplomático de certa embaixada são pagos semestralmente - o que não seria permitido por nossa legislação trabalhista". Em suma, os agentes do Estado estrangeiro têm que respeitaras leis e os regulamentos do Estado acreditado, salvo quando há isenção dessa obrigação decorrente dos privilégios e imunidades de que gozam tais agentes; ademais, segundo a CDI, o não cumprimento pelo agente diplomático das suas obrigações não absolve o Estado acreditado do seu dever de respeitar as imunidades do agente. Como caiu em prova: QUESTÃO 1 - CESPE AGU 2010 - Um diplomata brasileiro, servindo em um Estado estrangeiro, contraiu empréstimo em um banco oficial desse Estado, a fim de quitar dívidas escolares de seu filho, que com ele reside e dele depende financeiramente, mas não pagou a dívida. A partir dessa situação hipotética, julgue os itens seguintes Em virtude do não pagamento da dívida, o diplomata brasileiro pode ser declarado persona non grata pelo Estado estrangeiro, desde que seja previamente submetido ao devido processo legal. COMENTÁRIOS: Segundo a Convenção de Viena sobre relações diplomáticas de 1961, o Estado estrangeiro pode declarar qualquer membro da missão diplomática como persona non grata e, para tanto, NÃO PRECISA JUSTIFICAR SUA DECISÃO. Dessa forma, não há que se falar em devido processo legal. Artigo 9, 1 da referida convenção: “O Estado acreditado poderá a qualquer momento, e sem ser obrigado a justificar a sua decisão, notificar ao Estado acreditante que o Chefe da Missão ou qualquer membro do pessoal diplomático da Missão é persona non grata ou que outro membro do pessoal da Missão não é aceitável. O Estado acreditante, conforme o caso, retirará a pessoa em questão ou dará 15 por terminadas as suas funções na Missão. Uma Pessoa poderá ser declarada non grata ou não aceitável mesmo antes de chegar ao território do Estado acreditado”. A questão está errada. QUESTÃO 2 - CESPE AGU 2010 - Um diplomata brasileiro, servindo em um Estado estrangeiro, contraiu empréstimo em um banco oficial desse Estado, a fim de quitar dívidas escolares de seu filho, que com ele reside e dele depende financeiramente, mas não pagou a dívida. A partir dessa situação hipotética, julgue os itens seguintes O Estado brasileiro pode ser responsabilizado internacionalmente, em tribunal internacional, em virtude do não pagamento da dívida pelo diplomata. COMENTÁRIOS: Responsabilidade internacional é o instituto jurídico por meio do qual um sujeito de DIP que praticou fato ilícito internacional deve proporcionar uma reparação adequada ao sujeito de DIP que sofreu a violação. Segundo o artigo 4º do Projeto de tratado sobre responsabilidade internacional, todo fato ilícito internacional de um agente/órgão pode ser atribuído ao seu Estado. O diplomata é indiscutivelmente um agente do Estado. Por possuir imunidades, não é possível que responda perante a justiça interna do Estado onde cometeu o ilícito. Entretanto, isso não exclui a possibilidade de se reclamar a responsabilidade internacional do Estado que o diplomata representa, como afirma a questão. A questão está CERTA. QUESTÃO 3 – CESPE (IRB): Dada a imunidade de jurisdição dos agentes diplomáticos, o poder judiciário brasileiro não possui competência para julgar o cônsul de um Estado europeu pela prática de um homicídio passional. Não obstante, se houvesse provas contundentes da prática do ato criminoso pelo cônsul, o poder executivo brasileiro poderia expulsá-lo do território nacional, dado que a expulsão é um ato administrativo que não caracteriza a imposição de uma punição. COMENTÁRIOS: Errado. A imunidade conferida aos cônsules possui caráter funcional, conforme previsto no art. 43 da Convenção de Viena de 1963 sobre Relações Consulares, ou seja, só abrange os atos estritamente relacionados com o desempenho de suas funções, o que não se configura no caso em tela, podendo, portanto, ser o cônsul processado e punido no Brasil. Ademais, o instituto da expulsão, regulado pelo Estatuto do Estrangeiro (Lei 6815/80), é um ato administrativo que caracteriza a 16 imposição de punição, pois o estrangeiro expulso não poderá mais voltar ao território nacional, salvo se outro decreto revogar a expulsão. Imunidade cível: A imunidade diplomática em relação à jurisdição criminal é mais acentuada do que em relação à jurisdição civil, pois esta última sofre algumas exceções, ao passo que, quanto à primeira, a única exceção admitida é a da renúncia à imunidade por parte do governo do agente em causa. A renúncia compete ao governo e, portanto, o agente não deve manifestá-la senão depois de devidamente autorizado. Mas parece que a declaração de renúncia, feita pelo agente, deve bastar para as autoridades locais. (Accioly) O artigo 31 da Convenção de Viena estipula que o agente diplomático não gozará de imunidade de jurisdição civil e administrativa se se tratar de: a) AÇÃO REAL SOBRE IMÓVEL PRIVADO situado no território do estado acreditado, salvo se o agente diplomático possuir por conta do estado acreditante para os fins da missão;b) AÇÃO SUCESSÓRIA na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário; c) ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no estado acreditado FORA DE SUAS FUNÇÕES OFICIAIS. A imunidade de jurisdição civil não impede que os credores de funcionário diplomático se dirijam aos tribunais do país do devedor. O Código Penal brasileiro reconhece a competência da justiça brasileira no tocante a crimes cometidos por nacionais no exterior. (Accioly) Então, a imunidade cível é quase plena. Ela tem exceções. E a banca gosta muito de exceção. Qual é a exceção? Quando ele mesmo é o autor, ele não pode querer que não haja uma reconvenção. Quando ele aceita herança ou compra bens imóveis. Todas as ações envolvendo a herança ou esses bens imóveis, ele pode ser réu. Como caiu em prova: QUESTÃO TRT24 (2014) - A imunidade de jurisdição do agente diplomático não se aplica em ações sucessórias nas quais ele figurar como herdeiro ou legatário. COMENTÁRIOS: Questão CORRETA: Artigo 31 da Convenção de Viena sobre as relações diplomáticas 17 1. O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e administrativa, a não ser que se trate de: b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário. QUESTÃO TRT 15 (2011): É facultado ao agente diplomático invocar a imunidade de jurisdição em reconvenção diretamente ligada à ação principal por ele ajuizada. COMENTÁRIO: Questão errada. Artigo 32, 3: Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição nos termos do artigo 37 inicia uma ação judicial, NÃO lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma reconvenção ligada à ação principal. QUESTÃO TRT 15 (2011) - A renúncia à imunidade de jurisdição sobre as ações cíveis ou administrativas deverá ser sempre expressa e abrange automaticamente a execução de sentença. COMENTÁRIO: Questão errada. Artigo 32, 4: A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações civis ou administrativas NÃO implica renúncia a imunidade quanto as medidas de execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária. QUESTÃO TRT 15 (2011): A imunidade de jurisdição do agente diplomático no Estado acreditado o isenta da jurisdição do Estado acreditante. COMENTÁRIO: QUESTÃO ERRADA Artigo 31, 4: A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado NÃO o isenta da jurisdição do Estado acreditante. QUESTÃO TRT 15 (2011): O agente diplomático pode renunciar à sua imunidade de jurisdição. COMENTÁRIO: QUESTÃO ERRADA. Em tese, o agente diplomático não pode renunciar à imunidade, senão ficaria vulnerável a procedimentos de julgamento do país acreditado onde está. Portanto, a legislação o protege como nacional (inclusive de suas próprias imprudências). A imunidade diplomática, por seu turno, não confere ao diplomata o direito de se considerar acima da legislação do Estado acreditado - é obrigação expressa do agente diplomático cumprir as leis daquele Estado. 18 Em caso de abuso das imunidades, deve-se considerar a possibilidade que tem o Estado acreditante de renunciar expressamente à imunidade de jurisdição dos seus agentes diplomáticos e das demais pessoas referidas no artigo 37 da Convenção de Viena de 1961, consoante previsão no artigo 32, 1. Relativamente à legitimidade para o ato de renúncia, é de se destacar que a imunidade é conferida em favor do Estado acreditante, de modo que apenas este, na qualidade de legítimo titular, pode renunciá-la. De nenhum efeito, portanto, a renúncia operada pelo próprio agente beneficiário. Os artigos são do Decreto nº 56.435/65. Ele pode ser conduzido coercitivamente para ser testemunha? Não. Ele pode ser solicitado a ser testemunha. Já aconteceu em CPI. Não pode a CPI requisitar sob condução coercitiva pela polícia federal, como o faz comumente, em relação aos embaixadores. Regime protetivo das segunda e terceira categoria: Quanto à segunda categoria, o regime protetivo é o mesmo da primeira categoria. E quanto à terceira categoria? A imunidade é APENAS EM RELAÇÃO A ATOS DE OFÍCIO. O motorista tem imunidade? Ele tem imunidade, por exemplo, se a CPI requisita o seu testemunho para relatar o que ele ouviu em conversa dentro do veículo. É a imunidade do ato de ofício. Para terminarmos vamos falar da imunidade real. Há um regime protetivo em relação aos bens. O primeiro ponto do regime protetivo da imunidade real dos bens e espaços físicos da missão diplomática é a inviolabilidade do local da missão. Só pode entrar no local da missão diplomática com a autorização do chefe da missão. Qual seria a situação na qual a imunidade da missão diplomática cede? Na teoria só se estiver ocorrendo à prática de jus cogens. A violação de uma norma de jus cogens dentro da embaixada, autoriza a violação da imunidade. Na colisão entre uma norma de jus cogens e uma norma imunizadora cede. Por exemplo, imaginemos que esteja ocorrendo na missão diplomática um ato de tortura. O tribunal penal internacional da ex-Iugoslávia entendeu tortura como sendo norma de jus cogens. Se estiver ocorrendo tortura dentro da embaixada, eu entendo que a imunidade cede. REGIME PROTETIVO DOS CÔNSULES 19 Em relação ao regime protetivo dos cônsules e da sua imunidade, em primeiro lugar, é importante uma distinção entre a função dos cônsules e dos agentes diplomáticos. Os cônsules se diferenciam dos agentes diplomáticos porque eles representam INTERESSES DE PARTICULARES, e não interesses públicos como os agentes diplomáticos. Esse contexto é importante para concluirmos que a imunidade dos cônsules será sensivelmente menor. Então, qual é a função dos cônsules? É a defesa de interesses de particulares do Estado acreditante no Estado acreditado. Por isso os cônsules têm funções diversas envolvendo emissão de passaporte, vistos, tem questões envolvendo atividade notarial. Inclusive, a nossa Lei de introdução às normas do Direito brasileiro prevê a possibilidade de realização do casamento quando os nubentes têm a mesma nacionalidade perante o seu cônsul. Tem uma série de funções que atendem a interesses de particulares, da comunidade estrangeira que vive em determinada localidade e mesmo aqueles que desejam manter contatos com a outra comunidade. Houve muita discussão na convenção de Viena sobre relações consulares, sobre uma peculiaridade, que em virtude de ter sido disseminada no mundo, gerava problemas com os estados, o chamado cônsul honorário. Qual seria o regime jurídico da época? Vários estados tinham o chamado cônsul missi, que é o cônsul que tem vínculo oficial com o Estado. Alguns chamam de cônsul diplomático. E há o cônsul electi, que é o nosso cônsul honorário. As polêmicas ocorreram quando o cônsul honorário, geralmente, era um nacional do próprio Estado acreditado. Obs. O cônsul não recebe o “agreement”, mas o exequatur, que é o ato pelo qual o Estado acreditado concede o regime jurídico protetivo a determinada pessoa indicada pelo Estado acreditante como cônsul. E se acometia ao cônsul honorário determinada conduta ofensiva às leis daquele Estado e ele alegava imunidade por ser cônsul. E isso causou muita controvérsia. Qual foi a solução? Cortou-se o mal pela raiz. A convenção de Viena de 1963 sobre relações consulares equiparou todos e hoje só há imunidade para ato de ofício. Pode, a depender do Estado, um cônsul honorário ter determinadas atribuições oficiais, como, por exemplo, a emissão de passaporte, visto? O cônsul honorário da Suécia em SP é um brasileiro e que tem algumasfunções, inclusive, de assistência consular. Nessas funções ele está imunizado. Fora dessas funções não existe imunidade. Temos aqui uma equiparação que foi muito boa, porque a grande maioria dos cônsules honorários não é como esse cônsul-geral da Suécia em SP que tem algumas funções essenciais. Em geral são meras representações honoríficas. Então, tudo o que ele fizer pode gerar o seu processo no Brasil. 20 Também é importante que se diga que em virtude disso o seu regime protetivo é muito menor. Por exemplo, ele tem imunidade de jurisdição penal só para ato de ofício. Falsificação de passaporte, se a polícia federal descobre que ele está envolvido, ele está abrangido pela imunidade. Mas por outro lado, se ele comete crime de pedofilia, crime cibernético, etc., ele não tem imunidade. E, também, temos a inviolabilidade dos locais consulares. Por exemplo, o consulado honorário, o consulado geral da Suécia titularizado por um cônsul honorário, se tiver instalações oficiais da Suécia, estará imunizado, mas apenas para atos de ofício. Então, protege-se o local. E por isso os consulados têm imunidade tributária. O consulado geral do México em SP está na região mais caro de SP, que é o Jardim Europa. E eles não pagam nada de IPTU. Há imunidade tributária, que é a imunidade real, como a imunidade dos agentes diplomáticos. Testemunho – se não for para ato de ofício, por exemplo, um testemunho de homicídio, ele vai ser testemunha. A única homenagem é que deve o juízo organizar a oitiva de modo que os trabalhos do cônsul não fiquem prejudicado. Ou seja, é só uma cortesia. Vai ligar para o cônsul para saber as melhores datas e horários e nada mais. De qualquer forma o ato de ofício foi preservado e ele não pode ser coagido a testemunhar. Como caiu em prova: 1 (MPT 2012): Consoante a Convenção de Viena Sobre Relações Diplomáticas: I - O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal e de jurisdição civil ou administrativa, a qual se estende à execução, ressalvadas as hipóteses expressamente previstas na própria Convenção, nem será obrigado a prestar depoimento como testemunha. II - A renúncia à imunidade de jurisdição será sempre expressa, porém, se um agente diplomático inicia uma ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição em relação a uma reconvenção proposta pelo réu, ligada à ação principal. III - A renúncia à imunidade de jurisdição no referente às ações civis e administrativas não abrange as medidas de execução de sentença, para as quais é necessária nova renúncia. IV - Os locais da Missão abrangem os edifícios, ou parte dos edifícios e terrenos anexos, se ja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da Missão, inclusive a residência do Chefe da Missão, a qual goza da mesma inviolabilidade e proteção que os locais da Missão. Marque a alternativa CORRETA: 21 a) Todas as assertivas estão corretas; b) todas as assertivas estão incorretas; c) apenas as assertivas I, II e III estão corretas; d) apenas as assertivas II, III e IV estão corretas. COMENTÁRIOS: Correta a alternativa “A”. Item I – VERDADEIRA – Artigo 31, 1: O agente diplomático gozará de imunidade de jurisdição penal do Estado acreditado. Gozará também da imunidade de jurisdição civil e administrativa, a não ser que se trate de: a) uma ação real sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditado para os fins da missão. b) uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário. c) uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo agente diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais. 2: O agente diplomático NÃO é obrigado a prestar depoimento como testemunha. Item II – VERDADEIRA – Artigo 32, 3: Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição nos termos do artigo 37 inicia uma ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma RECONVENÇÃO ligada à ação principal. Item III – VERDADEIRA – Artigo 32, 4: A renúncia à imunidade de jurisdição no tocante às ações civis ou administrativas NÃO implica renúncia a imunidade quanto as medidas de execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária. Item IV – VERDADEIRA – Artigo 1: Para os efeitos da presente Convenção: [...] i) "Locais da Missão" são os edifícios, ou parte dos edifícios, e terrenos anexos, seja quem for o seu proprietário, utilizados para as finalidades da Missão inclusive a residência do Chefe da Missão. Artigo 30: A residência particular do agente diplomático goza da mesma inviolabilidade e proteção que os locais da missão. CESPE TRF 3: A respeito de imunidade de jurisdição e execução do Estado estrangeiro no Brasil, assinale a opção correta. A) A execução de bens de Estados estrangeiros somente é possível no caso de expressa renúncia por parte do executado. 22 B) O Brasil é parte na Convenção sobre Imunidade de Jurisdição entre países do MERCOSUL. C) Estados diretamente envolvidos com atividade terrorista comprovada por decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas não gozam de imunidade de jurisdição. D) As regras costumeiras sobre imunidade dos Estados reconhecidas pelo Brasil aplicam-se também às organizações internacionais. E) A imunidade de jurisdição é absoluta no Brasil para casos que envolvam reclamações trabalhistas. COMENTÁRIOS: No Brasil, somente é possível a execução de bens de Estado estrangeiro se houver renúncia expressa pelo Estado que deve ser executado. Ressalta-se, contudo, que há outra exceção: podem ser executados bens comerciais, sem função pública, que se encontrem no território do juízo de execução e estiverem vinculados ao Estado executado. Entretanto, como no Brasil a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro proíbe que Estado estrangeiro seja proprietário de bem imóvel, com exceção dos prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou consulares (artigo 11), a segunda exceção não pode ser aplicada, na prática, no país. A alternativa (A) está correta. Não existe convenção do MERCOSUL sobre imunidade jurisdição. No site do bloco (http://www.mercosur.int/t_ligaenmarco.jsp?contentid=4824&site=1&channel=secretaria), podem-se encontrar todos os tratados que foram firmados no âmbito do MERCOSUL. Ressalta-se que existem acordos de sede, mas esses tratam, sobretudo, das imunidades do bloco e de seus agentes em cada país, e não da imunidade de jurisdição estatal. A alternativa (B) está incorreta. A imunidade de jurisdição decorre do princípio de que os Estados são independentes e juridicamente iguais, de modo que um Estado estrangeiro não pode ser julgado pelo tribunal interno de outro Estado. Atualmente, essa imunidade foi relativizada, continuando a ser válida somente em relação aos atos de império, ou seja, atos governamentais praticados no exercício do poder público. Os atos de gestão, desempenhados em condições análogas a de um particular, não estão mais sujeitos à imunidade de jurisdição. A afirmativa fala de atos de terrorismo, os quais, certamente, não são atos de gestão e não acarretam, portanto, a exclusão da imunidade de jurisdição. Dessa forma, mesmo que haja comprovação, um tribunal interno não terá competência para julgar outro Estado que esteja envolvido com terrorismo. Além disso, ressalta-se que o Conselho de Segurança tem competência para tomar decisões vinculantes somente em casos de ameaça à paz. A alternativa (C) está incorreta. A imunidade das organizações internacionais é regulada por tratados específicos para cada ocasião. Ela protege as Ois, seus funcionários e representantes deum Estado perante uma OI. Exemplo disso é a 23 Convenção Geral sobre Imunidades e Privilégios da ONU (1946). O costume sobre jurisdição estatal, portanto, não se aplica, via de regra, às Ois. A alternativa (D) está incorreta. Como já foi explicado anteriormente, os atos de gestão de um Estado não gozam mais de imunidade de jurisdição, e as questões trabalhistas são atos de gestão, e não de império. A alternativa (E) está incorreta. 3. (Ministério Público Federal – 25º CPR – 2011) Os agentes consulares, no direito consular contemporâneo, (A) gozam de imunidade plena, equiparável à dos diplomatas; (B) gozam de imunidade quanto aos atos oficiais, dentro da jurisdição consular; (C) têm que ser recrutados entre agentes da carreira diplomática; (D) não gozam de imunidade pessoal, ainda que exerçam funções consulares em seção respectiva de missão diplomática. COMENTÁRIOS: A questão 3 tem por objeto a diferença entre as imunidades diplomáticas e as imunidades consulares. Estas últimas são instituídas em amplitude inferior àquelas, uma vez que os membros do corpo consular não exercem atividade estratégica de Estado tal como exercem os membros do corpo diplomático. Nesse sentido, a assertiva A é falsa, pois a premissa é exatamente que os regimes jurídicos sejam diferentes. A assertiva B, por sua vez, é a correta resposta à questão, pois a imunidade consular é restrita e vinculada à prática de atos consulares e no interesse do ofício consular, diferente da imunidade ampla conferida aos diplomatas. A assertiva C é incorreta, pois os agentes consulares integram corpo técnico distinto dos diplomatas, embora estes possam exercer funções primariamente afetas àqueles em determinados casos. Por fim, a assertiva D também está incorreta, pois na hipótese descrita os agentes diplomáticos mantêm todas as prerrogativas inerentes ao seu cargo, nos termos do art. 70, (4), da Convenção de Viena sobre 24 Relações Consulares (“2. Os nomes dos membros da missão diplomática, adidos à seção consular ou encarregados do exercício das funções consulares da missão, serão comunicados ao Ministério das Relações Exteriores do Estado receptor ou à autoridade designada por este Ministério. (…) 4. Os privilégios e imunidades dos membros da missão diplomática mencionados no parágrafo 2 do presente artigo continuarão a reger-se pelas regras de direito internacional relativas às relações diplomáticas”). EXTRA DIZER O DIREITO: EXTRA DIZER O DIREITO Execução fiscal proposta contra Estado-estrangeiro: imunidades tributária, de jurisdição e de execução Imagine a seguinte situação adaptada: A República da Argentina possui um prédio no Rio de Janeiro onde funciona a sede do consulado. O Município do RJ notificou o consulado para pagar o IPTU e a taxa de coleta domiciliar de lixo, tendo, no entanto, este se quedado inerte. A Procuradoria do RJ ajuizou execução fiscal contra a Argentina. O juiz, sem determinar a citação da Argentina, extinguiu a execução de plano, afirmando que aquele país possui imunidade de execução. Diante disso, indaga-se: 1) Onde foi proposta essa execução fiscal? 2) Qual é o recurso cabível contra essa sentença do juiz? Quem será competente para julgá-lo? 3) A executada goza de imunidade tributária? 4) A Argentina goza de imunidade de jurisdição e de execução? A decisão do magistrado foi acertada? Vejamos as respostas: 1) COMPETÊNCIA 25 A execução foi proposta na Justiça Federal de 1ª instância do Rio de Janeiro. Isso porque as ações judiciais (inclusive as de execução) intentadas por Município contra Estado estrangeiro (e vice-versa) são julgadas pelo juiz federal de 1ª instância, conforme prevê o art. 109, II, da CF/88: Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País; Duas observações: • Apesar de esse inciso II não fazer esta ressalva, se a lide versar sobre relação de trabalho, a competência será da Justiça do Trabalho (e não da Justiça Federal comum), por força do art. 114, I, da CF/88. É o caso, por exemplo, de uma reclamação trabalhista proposta por uma pessoa residente em Brasília e que trabalhava na Embaixada da Colômbia. • Quem julga as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território? Trata-se de competência do STF, nos termos do art. 102, I, e, da CF/88. 2) RECURSO O recurso cabível contra essa sentença do juiz federal é o recurso ordinário constitucional, interposto diretamente no STJ. Trata-se de peculiar caso em que o recurso contra a decisão do juiz federal não passará pelo TRF. É o que determina o art. 105, II, “c”, da CF/88: Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: II - julgar, em recurso ordinário: c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País; 3) IMUNIDADE TRIBUTÁRIA E ESTADOS ESTRANGEIROS Os Estados estrangeiros pagam impostos e taxas no Brasil? Em regra NÃO. Os Estados estrangeiros gozam de “imunidade tributária”. Isso está previsto no: • art. 23 da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas assinada em 1961 (Decreto 56.435/65); e no • art. 32 da Convenção de Viena sobre Relações Consulares assinada em 1963 (Decreto 61.078/67). 26 Assim o Município do Rio de Janeiro não poderia cobrar IPTU do Estado estrangeiro. Vale ressaltar que alguns julgados do STJ falam que essa prerrogativa seria uma “imunidade tributária”. No texto das Convenções, contudo, a terminologia utilizada, de forma mais correta, é “isenção fiscal”. Existe alguma exceção? SIM. A imunidade não abrange taxas que são cobradas por conta de serviços individualizados e específicos que sejam prestados ao Estado estrangeiro. Sendo esse o caso, o país estrangeiro terá que pagar o valor da taxa, não gozando de isenção. Ex: o Estado estrangeiro terá que pagar a chamada “taxa de coleta domiciliar de lixo”, uma vez que decorre da prestação de um serviço específico prestado a ele. Veja, a título de curiosidade (não precisa decorar), o texto das Convenções: Artigo 23 1. O Estado acreditante e o Chefe da Missão estão isentos de todos os impostos e taxas, nacionais, regionais ou municipais, sôbre os locais da Missão de que sejam proprietários ou inquilinos, excetuados os que representem o pagamento de serviços específicos que lhes sejam prestados. 2. A isenção fiscal a que se refere êste artigo não se aplica aos impostos e taxas cujo pagamento, na conformidade da legislação do Estado acreditado, incumbir as pessoas que contratem com o Estado acreditante ou com o Chefe da Missão. Artigo 32 Isenção fiscal dos locais consulares 1. Os locais consulares e a residência do chefe da repartição consular de carreira de que fôr proprietário o Estado que envia ou pessoa que atue em seu nome, estarão isentos de quaisquer impostos e taxas nacionais, regionais e municipais, excetuadas as taxas cobradas em pagamento de serviços específicos prestados. 27 2. A isenção fiscal prevista no parágrafo 1 do presente artigo não se aplica aos mesmos impostos e taxas que, de acôrdo com as leis e regulamentos do Estado receptor, devam ser pagos pela pessoa que contratou com o Estado que envia ou com a pessoa que atue em seu nome. Logo, no caso concreto, a executada (República da Argentina) gozava de isenção quanto ao IPTU, mas não no que se refere à taxa de lixo. 4) IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO Imunidade de jurisdição é a impossibilidade de que Estados estrangeiros, organizações internacionais e órgãos de Estados estrangeiros sejam julgados por outros Estados contra a sua vontade (PORTELA, Paulo HenriqueGonçalves.Direito internacional público e privado. Salvador: Juspodivm, 2010, p. 166). TEORIAS SOBRE A IMUNIDADE DE JURISDIÇÃO Existem duas teorias principais sobre a imunidade de jurisdição: a) Teoria clássica: imunidade absoluta Para esta teoria, o Estado estrangeiro goza de imunidade total e absoluta, somente podendo ser julgado por outro Estado caso renuncie a imunidade. O Estado estrangeiro não poderia ser julgado pelas autoridades de outro Estado contra a sua vontade porque não haveria superioridade de um Estado sobre o outro. Logo, o Estado somente poderia se submeter ao julgamento de outro se consentisse com isso. Baseia-se no princípio de que “iguais não podem julgar iguais” (par in parem non habet jurisdictionem). Foi a teoria que prevaleceu até os anos 60. b) Teoria moderna: atos de império e atos de gestão Com o passar dos anos, as relações entre os Estados, principalmente comerciais, foram se tornando mais frequentes e intensas. Esse fato fez com que a teoria clássica passasse a ser questionada. Diante disso, foi idealizada a chamada teoria dos atos de império e atos de gestão, que preconiza o seguinte: 28 Atos de império (jure imperii) Atos de gestão (jure gestionis) Atos que o Estado pratica no exercício de sua soberania. Atos que o Estado pratica como se fosse um particular. Não têm relação direta com sua soberania. Exs: atos de guerra, negativa de visto, negativa de asilo político. Ex: contrato de luz/água, contrato de compra e venda, contratação de empregados, acidente de veículo. Quando o Estado estrangeiro pratica atos de império, ele desfruta de imunidade de jurisdição. Quando o Estado estrangeiro pratica atos de gestão, ele NÃO goza de imunidade de jurisdição. Esta teoria (moderna) é a que prevalece atualmente, em especial no STJ. IMUNIDADE DE EXECUÇÃO Imunidade de execução é a garantia de que os bens dos Estados estrangeiros não serão expropriados, isto é, não serão tomados à força para pagamento de suas dívidas. Para a posição majoritária, os Estados gozam de imunidade de execução mesmo quando pratiquem atos de gestão. Assim, para o entendimento prevalente, caso um Estado estrangeiro pratique um ato de gestão, ele poderá ser julgado no Brasil, ou seja, poderá ser réu em um processo de conhecimento (mesmo contra a sua vontade). No entanto, na hipótese de ser condenado, este Estado não poderá ter seus bens executados, salvo se renunciar à imunidade de execução. Em resumo, a imunidade de execução do Estado estrangeiro ainda resiste quase absoluta. Em todo caso, podem ser elencadas as seguintes possibilidades de satisfação do débito do ente estatal estrangeiro derrotado em processo judicial: • pagamento voluntário pelo Estado estrangeiro; • negociações conduzidas pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil e, correlata a esta possibilidade, a solicitação de pagamento pelas vias diplomáticas; • expedição de carta rogatória ao Estado estrangeiro; 29 • execução de bens não afetos aos serviços diplomáticos e consulares do Estado estrangeiro, como recursos financeiros vinculados a atividades empresariais disponíveis em contas bancárias; • renúncia à imunidade de execução pelo Estado estrangeiro.” (PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional público e privado. Salvador: Juspodivm, 2010, p. 172) No presente caso, a petição inicial foi extinta de plano, antes mesmo de ter sido dada ciência ao Estado estrangeiro acerca da propositura da demanda, de modo que não lhe fora oportunizada eventual renúncia à jurisdição. Logo, o STJ decidiu que a decisão do juiz não foi correta, considerando que ele deveria ter determinado a citação da Argentina e esta teria oportunidade de escolher se desejaria ou não ser executada: • Se ela renunciasse expressamente a imunidade, a execução poderia prosseguir normalmente; • Se ela invocasse a imunidade ou ficasse silente: a execução deveria ser extinta sem resolução do mérito. Julgado no qual essa questão foi inspirada: STJ. 2ª Turma. RO 138-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 25/2/2014.
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