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Clínica Complementar ao Diagnóstico - Laboratório Líquidos Cavitários • Introdução: o Toda vez que for encontrado um volume de líquido excessivo em uma cavidade, o ideal é realizar a análise para determinar a origem do líquido e uma possível doença envolvida. o Fluído Normal: ▪ As cavidades necessitam de algum líquido presente para lubrificar e evitar atrito dos órgãos. Porém, este líquido “normal” possui algumas características: • Incolor, amarelo-claro ou alaranjado (caroteno) • Teor de proteína baixo (<2,5g/dl) • Contagem de células nucleadas baixa (< 1000/µl) o Efusão ou Derrames: ▪ Quando o líquido presente na cavidade foge destes padrões citados, é chamado de Efusão ou Derrame o Como os líquidos param nas cavidades? ▪ Basicamente o líquido que fica solto nas cavidades, é plasma sanguíneo. ▪ Para compreender isto, é necessário saber como é realizado o “controle” dos líquidos do corpo: ▪ O acúmulo do líquido nas cavidades ocorre quando algum destes mecanismos de controle não funciona adequadamente: • Aumento da permeabilidade capilar: o Alteração da parede do vaso (células endoteliais ficam com espaço entre elas) o Vazamento de plasma para o espaço intersticial. o Causas: ▪ Processos inflamatórios (PIF, pancreatite) ▪ Reação alérgica (intensas com resposta sistêmica) ▪ Toxinas e venenos ▪ Queimaduras (perda de tecido vascular) • Diminuição da pressão oncóticas o Diminuição de Albumina, leva a perda da força da parede do vaso, levando a perda de fluidos a partir dos capilares. o Causas: ▪ Distúrbios hepáticos - Cirrose hepática ▪ Proteinúria excessiva – Nefropatias graves ▪ Nutricional ▪ Perda proteica via intestinal - Gastroenterite • Aumento da pressão hidrostática capilar o Quando o sangue passa de um modo que lesa o capilar ou algo do tipo o Causas: ▪ Obstrução venosa: aumento da pressão hidrostática capilar ▪ Insuficiência cardíaca congestiva ou estase portal ▪ Inflamação ou obstrução dos vasos ▪ Compressão vascular - Tumores ou nódulos • Obstrução linfática o Impede o Retorno do líquido tissular (livre no interstício) para a circulação: o Causas: ▪ Linfadenite (infecção dos gânglios linfáticos) e hiperplasia linfoide ▪ Tumores e/ou metástases ▪ Abscessos ▪ Extirpação cirúrgica de cadeia linfática (quando retira o linfonodo sentinela devido a alguma anormalidade, aquela região acaba tendo uma disfunção linfática) • Existem mecanismos básicos que fazem o sangue permanecer dentro do vaso: Pressão Oncótica e Pressão Hidrostática o P. Oncótica: Pressão da parede do vaso, tentando manter o líquido dentro do vaso. Essa pressão não pode diminuir muito, se não o líquido extravasa. o P. Hidrostática: Pressão do líquido que passa pelo vaso. Esta pressão não pode estar em excesso se não o líquido extravasa. • Um outro atuante neste controle, que são os Vasos Linfáticos: o Drenagem de líquidos e gordura, fora dos vasos, para os linfonodos. • Coleta o Como realizar? ▪ Tomar todos os cuidados possíveis, pois quando se realiza um procedimento invasivo em cavidade, as chances de contaminar são altas. ▪ Assepsia • Realizar tricotomia • O procedimento deve ser feito com luva estéril • Limpeza com um movimento só, com solução de cloréx, iodo, álcool. ▪ Contenção adequada ▪ O mais indicado é utilizar cateter. ▪ Armazenar a coleta em 2 tubos estéreis: • Com anticoagulante (roxo): o Uma das análises feitas na efusão, é a contagem de células e diferenciação delas. Se houver coagulação na amostra, não será possível. • Sem anticoagulante ▪ Análise em até 2 horas após colheita ▪ A coleta normalmente é guiada por ultrassom (principalmente em pericárdio) o De acordo com o local: ▪ Paracentese: • Remoção do líquido em cavidade abdominal ▪ Toracocentese: • Remoção do líquido no tórax ▪ Pericardiocentese: • Remoção do líquido no “saco” que reveste o coração • Análise de Efusão o Exame Físico: ▪ Volume: • Volume muito pequeno impede a realização adequada do exame. • Registrar no laudo quando o volume for muito menor. ▪ Cor • Incolor (normal), avermelhado (normalmente hemorragia associada), branco, acastanhado ▪ Odor • inodoro, fétido (normalmente quando há processos infecciosos associados) ▪ Aspecto/Turvação • diretamente proporcional à celularidade • Quando mais turvo pode ser indicativo de excesso de gordura • Quanto mais proteína ou gordura → Mais turvo ▪ Densidade específica (refratômetro) • Até 1,017 (baixa) o Exame Químico: ▪ pH • Levemente alcalino • Parâmetro tirado do pH sanguíneo. ▪ Proteína • As efusões podem ter teor de proteína baixo ou elevado o Exsudato: líquido com alto teor de proteínas séricas e leucócitos, produzido como reação a danos nos tecidos e vasos sanguíneos. (casos de inflamação) o Transudato: caracterizado pela baixa quantidade proteínas. Sua causa é pelo aumento da pressão hidrostática ou redução das proteínas plasmáticas ▪ Glicose • O nível de glicose é semelhante ao do plasma sanguíneo. ▪ Sangue oculto ▪ Uréia / Creatinina • Ascite x Uroperitôneo: Algumas vezes a efusão pode ser urina (rompimento de bexiga urinária – normalmente associado a trauma) e acaba sendo confundida com ascite, pois possuem característica físicas semelhantes. • Então quando for necessário diferenciar, dosa-se ureia e creatinina (na urina os níveis de ureia são altos e creatinina são baixos) • Junto a isto pode ser feito a dosagem sérica destes compostos também, para garantir que não seja dado um falso negativo. Pois se o animal tiver uma azotemia associada, poderá ter os valores invertidos. • Se a dosagem da efusão for muito maior que o valor sérico, confirma-se que é urina (Valor normal sérico 1.8) ▪ Triglicérides/ colesterol • Quando houver efusões quilosas (esbranquiçada, lipêmica, densa, com aspecto de gordura). É indicado realizar uma dosagem de triglicérides e colesterol. • Normalmente estas efusões são indicativas de extravasamento de linfa (disfunção no sistema linfático) • Dosar principalmente triglicérides, pois ele sempre será mais alto que os níveis séricos. • Alto nível de linfócitos típicos (linfócitos alterados podem ser indicativos de neoplasias) • Causa comum de formar efusão quilosa: Gatos com cardiomegalia ▪ Concentração de bilirrubina • Ascite bilios • Para confirmar/descartar rompimento de vesícula biliar ▪ Amilase • Para confirmar/descartar Pancreatite • Pancreatite costuma causar vasculite ▪ Contagem de células (manual ou em máquina) • Contagem de eritrócitos (quanto de hemácia) • Contagem de células nucleadas (leucócitos e outros tipos celulares, como neoplásicas) o Exame Citológico (análise microscópica a partir de um esfregaço da efusão): ▪ Diferencial de leucócitos ▪ Morfologia celular • Células neoplásicas ▪ Presença de bactérias • Caso exista uma suspeita de infecção bacteriana causando efusão: o Se na amostra não for observada a presença de bactérias, não se deve concluir como negativo para esta suspeita o Para confirmar, deve-se realizar cultura • Caso não exista uma suspeita de infecção bacteriana causando a efusão: o Se na amostra for observada a presença de bactérias, é possível desconfiar de uma contaminação externa por coleta inadequada. o Cultura: ▪ Pode ser realizada cultura bacteriana ou fúngica • Classificação geral: o Todas as informações coletadas constarão no laudo. Em casos mais “simples” de diagnostico é possível concluir a causa (como célula neoplásica) o Porém a maioria das outras afecções não são possíveis de se concluir a causa. Então acaba ocorrendo uma classificação geral. o Cabe ao clínico reunir todos as informações e identificar a causa inicial o Classificação geral: ▪ Transudato • Simples ou puro • Modificado • Quando ocorre transudato séptico (presença de bactéria) desconfia-se ou de uma inflamação intestinalou de contaminação de amostra. o Se for séptico e não tiver células inflamatórias, grandes chances de ser uma bactéria externa por coleta inadequada. E se tiver resposta inflamatória se torna um exsudato. ▪ Exsudato (inflamação) • Asséptico (sem bactéria) • Séptico (com bactéria) ▪ Como determinar se é um exsudato ou transudato? (indico decorar essa tabela) Entenda ▪ Primeiro, coleta e analisa o aspecto físico da amostra. Junto com os sinais clínicos se levanta uma suspeita. ▪ Quando realiza a análise química e citológica ou você chega em um resultado óbvio como células neoplásicas. Ou você determina apenas que é um transudato ou um exsudato (tenha bem claro a diferença dos dois). ▪ Como determinar isso? Com base nos dados desta tabela ao lado. ▪ Determinando se é um transudato ou um exsudato, você consegue encaminhar para alguns diagnósticos diferenciais. Eliminando ou confirmando suas suspeitas que foram feitas no início. ▪ Você pensa: • Se é Exsudato, está ocorrendo um processo inflamatório. Junto com histórico e sintomas, qual a provável causa desta inflamação? Um agente viral? Um agente bacteriano? • Se é transudato, está ocorrendo uma alteração do capilar (aumento de pressão hidrostática ou diminuição da oncótica), o que causa isto? Doença hepática? Doença cardíaca? • Exemplo: o PERITONITE INFECCIOSA FELINA: ▪ Esta é uma doença causada por um vírus e uma das consequências pode ser o acúmulo de líquido em abdome. ▪ Quando retirado, é possível observar um líquido amarelado ▪ Quando analisado consta como exsudato asséptico (pois está cheio de células inflamatórias, mas o agente infeccioso não está lá, entre as outras características de um exsudato) ▪ Uma das características do exsudato é o alto valor proteico (e se você lembrar a proteína total é albumina + globulina). ▪ PONTO CHAVE: • Se é um líquido originado de uma inflamação → está cheio de proteína • Qual parte da proteína total estará aumentada? GLOBULINA ▪ Para confirmar o diagnóstico: compara os níveis de albumina e globulina por meio de uma conta. ▪ Mas basicamente se a globulina for muito maior que a albumina, confirma um processo inflamatório e junto com os exames clínicos, confirma PIF ▪ A conta é uma relação da albumina pela globulina: • Relação alb/glob: 0,45 a 0,8 – suspeita consistente • Relação alb/glob <0,45 e Proteína >3,5 g/dL– altamente preditiva • Classificação específica o Algumas vezes a efusão é muito característica, sendo possível concluir a sua origem e constar no laudo (auxílio maior para o diagnóstico da causa principal): ▪ Efusão hemorrágica (lesão vascular) • Hemotórax • Hemoperitônio ▪ Efusão quilosa (lesão em vaso linfático) • Quilotórax ▪ Efusão biliar (lesão em vesícula e/ou ductos biliares) ▪ Uroperitônio (ruptura de vesícula urinária) ▪ Efusão neoplásica (presença de células neoplásicas) CASO CLÍNICO • Identificação: Canina, fêmea, Border Collie, 07 • Anamnese: Apatia e anorexia. Diarreia intermitente há 15 dias. • Exame físico: Discreta hepatomegalia • US: Presença de líquido livre em cavidade abdominal • Alterações do exame: o Eritrograma: ▪ Hematócrito discretamente aumentado ▪ Hipoproteinemia o Leucograma: ▪ Leucocitose por Neutrofilia com linfopenia e monocitose ▪ Interpretação: Processo inflamatório agudo regenerativo o Análise de efusão: ▪ Transudato simples o Análise Hepática: ▪ Hipoproteinemia por Hipoalbuminemia • Laudo: ▪ Transudato simples ▪ Possíveis causas de acordo com o exame clínico: Diminuição de pressão oncótica por hipoalbuminemia ▪ Recomendação: investigar causa primaria da diarreia, investigar possíveis patologias hepáticas/intestinais e suplementar o animal com albumina. CASO CLÍNICO • Canina, Macho, Dálmata,3 anos. • Anamnese: Retirada de corpo estranho há 15 dias e há 10 dias febre intermitente, hiporexia e aumento de volume abdominal. • Exame físico: Presença de líquido livre e hipertermia. • Alterações do exame: o Eritrograma: Sem alterações o Leucograma: ▪ Leucocitose por neutrofilia com linfopenia e monocitose ▪ Processo inflamatório agudo regenerativo o Análise da Efusão: ▪ Exsudato Séptico • Laudo: o Suspeita de infecção no pós cirúrgico o Neutrófilo fica regenerado depois que ele atua o Leucofagocitose: Retirando restos de neutrófilos que já morreram de tanto trabalhar o Metamielócito: Neutrófilos super jovens, indicando que a medula está precisando trabalhar muito para combater a inflamação o Neutrófilos tóxico: Resposta acontecendo no moento da coleta