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I N T R O D U Ç Ã O
Intenta-se com este trabalho proporcionar uma maior proximidade com o tema competência, visto ser esta matéria de essencial importância para os lidadores do direito.
Competência é matéria extensa e, de acordo com o caso concreto, pode tornar-se densa e complexa.
Por uma questão de didática preferiu-se seguir a ordem estabelecida no Código de Processo Civil, a fim de evitar maiores dúvidas quanto à sistemática desenvolvida.
1. CONCEITO DE COMPETÊNCIA
Art. 86 do CPC: “As causas cíveis serão processadas e decididas, ou simplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos limites de sua competência, ressalvada às partes a faculdade de instituírem juízo arbitral”.
No magistério de Liebman, “a competência é a quantidade de jurisdição cujo exercício é atribuído a cada órgão, ou seja, a ‘medida da jurisdição’. Em outras palavras, ela determina em que casos e com relação a que controvérsias tem cada órgão em particular o poder de emitir provimentos, ao mesmo tempo em que delimita, em abstrato, o grupo de controvérsias que lhe são atribuídas”. (Liebman apud Carneiro, 2000, p. 53)
Consoante Moacyr Amaral (1990) competência é o poder de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos pela lei; ou, generalizadamente, o âmbito dentro do qual o juiz pode exercer a jurisdição.
Já segundo Carvalho (1995, p. 1) “chama-se competência o resultado da divisão do trabalho jurisdicional. Todos os juízes regularmente investidos têm jurisdição, e, como se sabe, a jurisdição é una; mas, como é impossível que todo juiz julgue em todos os lugares todas as matérias jurídicas ao mesmo tempo, divide-se a atividade jurisdicional entre todos os órgãos, resultando daí uma fração da jurisdição para cada um. Por isso se repete a clássica definição de João Mendes Júnior: ‘a competência é a medida da jurisdição’”.
1.1 Distribuição da competência
Humberto T. Júnior (1998) explica que a definição da competência se faz por meio de normas constitucionais, de leis processuais e de organização judiciária. Os critérios legais, por sua vez, levam em conta a soberania nacional, o espaço territorial, a hierarquia de órgãos jurisdicionais, a natureza ou o valor das causas, e as pessoas envolvidas no litígio.
É na Constituição Federal (arts. 102, 105, 108, 109, 114, 121 e 124) que está a estrutura do Poder Judiciário Nacional, sendo que a competência da justiça local, ou estadual, é residual; ou seja, tudo o que não toca à Justiça Federal ou às Especiais é da competência dos órgãos judiciários dos Estados.
Ressalta-se que a distribuição da competência é, dentro dos limites gerais estabelecidos pela Lei Maior, matéria de legislação ordinária: da União, no tocante à Justiça Federal e às Justiças Especiais; e dos Estados, no referente às justiças locais. (CF, arts. 107, parágrafo único e 125, § 1º)
1.2 Classificação da competência
O Código de Processo Civil traz, nos seus artigos 88 a 90, a competência internacional (lides que, com exclusividade ou não, são atribuídas à justiça brasileira), adentrando, em seguida, na competência interna (arts. 91 a 100).
Assim, uma vez assentada a competência da justiça brasileira passa-se à questão de estabelecer qual o órgão judiciário nacional que há de encarregar-se da solução da causa, surgindo, então, o que o Código chama “competência interna”.
Em resumo, como salienta Humberto T. Júnior (1998, p. 155) “as normas de ‘competência internacional’ definem as causas que a justiça brasileira deverá conhecer a lide, e as de ‘competência interna’ apontam quais os órgãos locais que se incumbirão especificamente da tarefa, em cada caso concreto”.
1.3 Princípio da perpetuatio jurisdictionis
O artigo 87 do CPC diz que: “Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia”.
“Denomina-se perpetuatio jurisdictionis o princípio estampado no artigo 87 do CPC, segundo o qual se determina a competência no momento em que a ação é proposta, sendo ‘irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente’. Tal princípio insere-se noutro, de maior alcance, o da estabilização do processo, a recomendar que para a garantia da firmeza do provimento jurisdicional e com vistas à pacificação social, que é escopo do processo civil, não se alterem, no curso da demanda, os elementos objetivos e subjetivos do processo. No art. 264, o CPC regula a estabilização do pedido e da causa de pedir (elementos objetivos das ações), bem como, no concernente aos sujeitos, estabelece a fixação das partes; aqui no art. 87, a estabilização é do juízo. De sorte que a mudança de domicílio da parte, ocorrida após a propositura da ação (RT, 595:69) bem assim qualquer outra alteração na situação de fato ou de direito, não implica alteração da competência fixada inicialmente”. (Carvalho, 1995, p. 81)
Encontram-se exemplos de alterações supervenientes do estado de fato, que não influem na competência já estabelecida, nas mudanças de residência ou domicílio das partes, do valor da causa, do estado material ou da situação do objeto da lide.
Por outro lado, dá-se alteração do estado de direito quando, v.g., se verifica modificação da lei que venha a adotar outro critério para a determinação de competência para a espécie de causa a que corresponde o processo pendente.
Faz-se necessário, entretanto, distinguir entre a competência absoluta e a relativa. Se a competência já firmada for territorial ou em razão do valor, em nada serão afetadas as causas pendentes, mas, se for suprimido órgão judiciário perante o qual corria o feito, ou se alteração legislativa referir-se a competência absoluta, os feitos pendentes serão imediatamente alcançados, e os autos, em tal caso, serão encaminhados ao outro órgão que se tornou competente para a causa.
“Por exceção, não se aplica a perpetuatio jurisdictionis se o órgão judiciário for suprimido, ou quando alterada sua competência em razão da matéria ou da hierarquia. Suprimida uma Vara Cível, obviamente os feitos que nela tramitavam passam aos cuidados de outra vara. Se a lei nova dispuser que as ações de dissolução de sociedade passam a ser de competência das Varas de Falência, e não mais das Varas Cíveis, tal norma aplica-se aos processos em andamento, salvo se a própria lei exceptuar esses processos. Assim também nos casos de alteração da competência recursal do Tribunal de Justiça e de Alçada, ou de criação de novos Tribunais”. (Carneiro, 2000, p. 72)
Problema que suscita dúvidas é o alusivo à incidência da perpetuatio jurisdictionis nos casos de criação de novas comarcas, com o desmembramento da comarca preexistente.
Para a maioria da doutrina, em face da regra do art. 87 do CPC e considerando tratar a hipótese de modificação do “estado de direito”, ou melhor, das regras jurídicas de determinação da competência, é irrelevante a modificação de tais regras relativamente às causas já anteriormente propostas. Assim, não deverão ser remetidos à nova comarca os processos em andamento mesmo que o réu seja domiciliado na área da nova circunscrição, ou mesmo que nesta nova comarca esteja situado o imóvel objeto do litígio.
Arruda Alvim assevera que “em sendo criada nova comarca, esta só receberá novos processos”, menciona, entretanto, que o art. 87 é inconveniente às necessidades da administração da Justiça. (Alvim apud Carneiro, 2000, p. 73)
2 COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
2.1 Concorrente
Art. 88 do CPC: “É competente a autoridade judiciária brasileira quando:
I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.
Parágrafo único. Para o fim do disposto no n.º I, reputa-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que aqui tiver agência, filial ou sucursal”.
Há casos em que a Justiça brasileira é competente para julgaruma demanda, sem, todavia, excluir a possibilidade de a dita causa ser julgada por Justiça estrangeira.
Nessas situações, caso a demanda venha a ser proposta e julgada fora do Brasil, a sentença do juiz estrangeiro poderá ser cumprida no Brasil, depois de homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Em se tratando do inciso I, do art. 88, do CPC – É competente a autoridade brasileira quando o réu, mesmo se estrangeiro, tiver domicílio no Brasil. Então, uma ação indenizatória por ato ilícito ocorrido no Uruguai, por exemplo, mesmo lá residindo o demandante, poderá ser proposta no Brasil se o réu, ainda que cidadão uruguaio, aqui for domiciliado. Poderá ocorrer, também, de a causa ser proposta no Uruguai, e o réu ser citado aqui no Brasil, por rogatória.
A hipótese do inciso I remete o intérprete à definição e às regras relativas ao domicílio, contidas no CC (arts. 31 a 42). As partes podem eleger, no contrato, foro competente diverso do brasileiro, com aplicação do art. 111 do CPC, porque é da tradição do direito pátrio a derrogabilidade voluntária da competência territorial. Já por outro lado, proposta aqui a ação, admite-se a competência concorrente do juiz estrangeiro, como se vê na RT, 678:211 e 632:82. Da mesma forma, a intervenção de terceiro domiciliado no Exterior não obsta a que o juiz brasileiro conheça da causa; salvo se se tratar de correção do pólo passivo ou de denunciação da lide para que o transmitente domiciliado no Exterior responda pela evicção, caso em que poderá ocorrer o perecimento do direito respectivo (CC, art. 1.116, c/ c CPC, art. 70,I).
Quanto ao inciso II, do mesmo artigo 88 – É competente a autoridade brasileira quando a obrigação tiver de ser cumprida no Brasil, não importando serem os litigantes estrangeiros e domiciliados no exterior. Uma vez proposta a ação no Brasil, o juiz brasileiro fará expedir, caso o réu resida no exterior, rogatória citatória.
Então, caso a obrigação tenha de ser cumprida no Brasil, assegura-se o direito do credor de aqui demandar; e, se o devedor estiver domiciliado neste País, a regra deste inciso II atua como alternativa para o credor; ficando a competência territorial interna definida pelo art. 100, IV, d, do CPC.
Inciso III, do art. 88, do CPC – É competente a autoridade brasileira quando a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil. Em havendo, por exemplo, um acidente de trânsito ocorrido no Brasil, com réu e vítima cidadãos argentinos e na Argentina residentes, este fato poderá dar origem a ação indenizatória perante a Justiça brasileira. No entanto, como a competência é concorrente, caso a ação seja promovida perante tribunal argentino, a Justiça brasileira não se negará ao cumprimento de carta rogatória para tomada de provas, ou à eventual execução da sentença estrangeira, após homologação desta pelo presidente do STF (CF, art. 102, I, h).
Quanto às ações que resultem de ato ilícito ou fato praticado no Brasil, é de toda a conveniência que o juiz brasileiro seja o competente, principalmente para facilitar a instrução processual, propiciando a reparação do dano.
“Nesses casos de competência internacional concorrente, pode, todavia, a ação ser proposta no Brasil mesmo que já esteja em andamento igual demanda perante Tribunal de outro país (CPC, art. 90). A litispendência, normalmente impeditiva a que alguém renove a mesma causa que já está em juízo (CPC, art. 301, V, e § 3º), neste caso, excepcionalmente, não opera como exceção processual. Mas, se a ação proposta no estrangeiro já foi definitivamente julgada, o pedido de sua homologação perante nosso Supremo Tribunal Federal impedirá a renovação da demanda em Tribunal brasileiro”. (Carneiro, 2000, p. 58)
Carvalho também menciona esta situação “...se há coisa julgada no processo decidido por juiz brasileiro, torna-se impossível o pedido de delibação pelo vencedor em pleito estrangeiro; da mesma forma que, se há sentença estrangeira homologada pelo STF, constitui ela óbice intransponível à prestação jurisdicional de juiz brasileiro sobre o mesmo pedido. Aqui, os impedimentos provêm da res iudicata”. (Carvalho, 1995, p. 5)
2.2 Exclusiva
Art. 89 do CPC: “Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II – proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional”.
Assim, nos casos do art. 89 (competência exclusiva), proposta uma ação perante Tribunal estrangeiro, a sentença não merecerá homologação para ser executada no Brasil, além do fato de as rogatórias não receberem o exequatur;ou seja, constituem as hipóteses do art. 89 causas de exclusão do poder jurisdicional dos estados estrangeiros.
Vê-se, portanto, que qualquer ação relativa a imóveis situados no Brasil, tanto fundadas em direito real, v.g., ação reivindicatória, como fundadas em direito pessoal, v.g., ação de resolução de contrato de arrendamento de imóvel situado no Brasil, só poderão ser propostas perante juiz brasileiro, e o juiz brasileiro “desconhecerá” processo intentado em jurisdição estrangeira.
Nesse sentido os julgados pelo Supremo Tribunal Federal estampados na RTJ, 101:69 e 125:507. Também já decidiu o mais alto tribunal do País que a sentença estrangeira de divórcio é homologável apenas no que respeita aos bens situados fora do Brasil (RTJ, 109:38), mas “é homologável a sentença estrangeira que homologa acordo de separação e de partilha dos bens do casal, ainda que situados no Brasil, posto que não ofendido o art. 89 do CPC, na conformidade dos precedentes do Supremo Tribunal Federal (RTJ, 90/11, 109/38, 112/1006)”, conforme assentou o julgado na RTJ, 115:1083.
Da mesma forma, somente o juiz brasileiro poderá proceder ao inventário e partilha de bens, imóveis ou móveis, situados no Brasil, e isto mesmo que o de cujus tenha sido estrangeiro e haja residido e falecido no estrangeiro. Então, caso um cidadão uruguaio tenha deixado bens no Uruguai e no Brasil, apesar do princípio da universalidade da herança, haverá um juízo sucessório no Uruguai e outro no Brasil, inclusive porque também o Uruguai adota norma no mesmo sentido.
Em virtude da competência exclusiva do juiz brasileiro nessa hipótese do art. 89,II, do CPC, o STF não homologa sentença estrangeira de partilha de imóvel situado no Brasil (RTJ, 121:924).
3 COMPETÊNCIA INTERNA
3.1 Competência em razão da matéria, da pessoa e do valor da causa – critério objetivo.
3.1.1 Em razão da matéria
Art. 91 do CPC: “Regem a competência em razão do valor e da matéria as normas de organização judiciária, ressalvados os casos expressos neste Código”.
Art. 111 do CPC: “A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das partes, mas estas podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações.
§ 1º O acordo, porém, só produz efeito, quando constar de contrato escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico.
§ 2º O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes”.
A competência em razão da matéria leva em conta a matéria a ser julgada, ou seja, toma por critério os elementos objetivos das ações: a causa de pedir e o pedido.
Assim, v.g., a homologação de sentença estrangeira é causa de competência originária do STF (CF, art. 102, I, h); também a competência da Justiça do Trabalho é estritamente em razão da matéria – controvérsias oriundas da relação de trabalho (CF, art. 114), inclusive quando for parte a Administração Pública direta e indireta da União, Estados e Municípios.
Já as causas referentes à nacionalidade e à naturalização pertencem, em razão da matéria, à Justiça Federal (CF, art. 115, X).
No âmbito da Justiça comum e em primeiro grau de jurisdição, são criadas, em comarcas de intenso movimento forense, varas privativas em razão da matéria, em face das vantagens de uma maior especialização dos juízos. Essa especializaçãorevela-se não só na divisão fundamental em “Varas Criminais” e “Varas Cíveis” como na instituição de varas cíveis especializadas em causas de família, de registros públicos, de falência, etc.
Entre os casos em que o Código interfere na fixação da competênciaratione materiae, há o disposto no art. 92 do CPC, onde se determina que “compete exclusivamente ao juiz de direito processar e julgar: o processo de insolvência, e as ações concernentes ao estado e à capacidade da pessoa”. Isto quer dizer que a Organização Judiciária local não poderá atribuir tais causas à competência de juízes de investidura temporária e sem as garantias constitucionais dos juízes togados vitalícios.
Reprisa-se, por fim, que a competência ratione materiae, voltada ao interesse público, é absoluta e, pois, indisponível.
3.1.2 Em razão da pessoa
Usa-se a expressão ratione personae para designar a competência prevista em lei em virtude de certos característicos da pessoa do litigante ou da matéria que leva algumas pessoas, jurídicas ou naturais, a postularem em juízo.
“ ... o legislador brasileiro ... dadas as peculiaridades do interesse da administração pública federal (União, autarquias, empresas públicas), criou foro e juízo privativos para essas entidades, o mesmo fazendo para o processo relacionado com certas classes de pessoas, cujas relações jurídico-materiais, quando em conflito, exigem ou que um mesmo juízo conheça de todas as demandas conexas, formando como que um ‘juízo universal’ para elas, ou que seja favorecida uma parte por medida de política legislativa, ou favorecida aquela em situação de inferioridade, designando-se, então, como competente o foro do seu domicílio, ou, ainda, a conveniência da indicação do foro em virtude dos característicos dos negócios que certa pessoa desenvolve”. (Carvalho, 1995, p. 33)
Atualmente, a competência ratione personae apresenta-se, no âmbito cível, quando interessada na causa pessoa de direito público; assim, v.g., são da competência originária do STF as causas entre a União e um Estado, ou entre Estados (CF, art. 102, I, f); são da competência da Justiça Federal todas as causas em que for parte “a União, entidade autárquica ou empresa pública federal” (CF, art. 109, I).
No mandado de segurança e no habeas data, o cargo ou função pública desempenhado pela pessoa que praticou o ato (apontado como violador de direito líquido e certo) apresenta-se decisivo à determinação da competência. Então, é da competência originária do STF conhecer mandados de segurança e dos habeas data impetrados contra ato do Presidente da República, da Mesa da Câmara e do Senado, do próprio STF etc. (CF, art. 102, I, d); é da competência originária do STJ julgar os writs impetrados contra ato de Ministro de Estado (CF, art. 105, I, b).
Nos Estados, é normalmente de competência do Tribunal de Justiça julgar os mandados de segurança impetrados contra atos praticados pelo Governador, pela Assembléia Legislativa ou a respectiva Mesa, pelo próprio Tribunal e seu Presidente etc. Nos casos de mandamus impetrados contra atos de Secretários de Estado, do Procurador-Geral da Justiça ou do Estado e autoridades outras de alto nível, geralmente competentes são as Câmaras Cíveis Reunidas, ou Grupos de Câmaras especializadas. Sendo a segurança postulada contra ato de juiz de primeira instância, ou de Procurador de Justiça, competente poderá ser, sempre em conformidade com as leis locais de organização judiciária, uma Câmara Cível Isolada.
Quanto a atos de outras autoridades, não expressamente incluídas nas previsões legais, apresentam-se competentes os juízes de primeira instância, tanto os federais como os estaduais, dependendo de ser funcionário ou servidor federal, estadual ou municipal, a autoridade dita coatora.
Por fim, frisa-se que a competência em razão da pessoa é absoluta.
3.1.3 Em razão do valor da causa
O valor da causa (CPC, arts. 258 a 261), constante da inicial, conforme art. 282, V, do CPC, também serve de critério para determinar a competência (art. 91 do CPC).
Convém mencionar também que a competência em razão do valor pressupõe o foro competente, ou seja, depois de determinada a comarca onde a ação deve ser proposta, surge a competência do juízo, esta regulada, conforme dispõe o art. 91 do CPC, por normas de organização judiciária.
A competência em razão do valor, segundo o art. 111 do CPC, anteriormente transcrito, é sempre relativa (do mais para o menos), pois esse mesmo art. 111 permite a eleição de foro quando diz que podem as partes “modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações”.
“Note-se, no entanto, que normalmente a competência em razão do valor não será uma competência de foro, uma competência territorial, mas será uma competência de juízo. Achada, conforme regras gerais, a comarca onde o feito deve tramitar, então o valor da causa determinará, nesse foro, o juiz competente: nas causas de maior valor, o juiz de direito; nas de menor valor, o juiz não vitalício (caso dos pretores remanescentes, no Rio Grande do Sul). (...) a competência em razão do valor, salvo melhor juízo, somente é relativa ‘do mais para o menos’. A competência do juiz de direito poderá, assim, ser prorrogada para abranger causa de pequeno valor; mas será absoluta ‘do menos para o mais’, ou seja, a competência de um juiz não vitalício não poderá abranger causas de maior valor.
Esse princípio pode inclusive afastar efeitos da ‘prevenção’, em causas conexas que devam ser reunidas perante um mesmo juiz. Por exemplo, pensemos em uma causa de maior valor proposta perante o juiz de direito A, e uma de menor perante o juiz temporário B; sendo as demandas conexas, impõe-se a reunião dos processos num só juízo. Digamos que, pelo critério de prevenção (primeiro despacho, ou primeira citação válida – CPC, arts. 106 e 219), o juízo prevento seria o do juiz B; mas como sua limitada competência não pode abranger a causa de maior valor, o critério da prevenção é afastado, e a reunião das demandas far-se-á perante o juiz de direito, cuja competênciaratione valore prorrogar-se-á para incluir a demanda de valor inferior”. (Carneiro, 2000, p. 156)
3.2 Competência funcional
Art. 93 do CPC: “Regem a competência dos tribunais as normas da Constituição da República e da organização judiciária. A competência funcional dos juízes de primeiro grau é disciplinada neste Código”.
A competência funcional é a que prescreve o que cada juiz (ou órgão jurisdicional) deve praticar no mesmo processo, ou seja, ela dispõe sobre a função que cada órgão jurisdicional vai exercer na relação processual já instaurada perante o juízo materialmente competente.
Segundo Humberto T. Júnior (1998), refere-se a competência funcional à repartição das atividades jurisdicionais entre os diversos órgãos que devam atuar dentro de um mesmo processo.
Ainda Humberto ensina que, uma vez estabelecido o juízo competente para o processamento e julgamento de uma determinada causa, surge o problema de fixar quais serão os órgãos jurisdicionais que haverão de funcionar nas diversas fases do respectivo procedimento, visto que, nem sempre um só órgão terá condições de esgotar a prestação jurisdicional.
“Instaurado o processo, e enquanto não se encerrar, mais de um juiz pode nele exercer atividades jurisdicionais. Suponha-se a hipótese da existência de um juiz preparador e de um juiz julgador: as funções daquele se limitam a preparar o material de conhecimento da lide, transferindo o processo para este, a quem cabe decidir o feito. Ou esta outra: proferida a decisão pelo juiz de primeiro grau, o vencido dela recorre e o processo passa às mãos do juiz de grau superior, com a função de reexaminá-lo e proferir nova decisão. Nesses e em muitos outros casos, vários juízes exercem atividades jurisdicionais num mesmo processo. Entretanto essas atividades não podem exceder funções privativas dos juízes do recurso, ou vice-versa. Os poderes jurisdicionais de uns e outros juízes são limitados ao exercício dasatribuições compreendidas na função de cada qual.
Esse é o chamado critério funcional, a determinar competência funcional, pela qual se separam as atribuições dos diversos juízes num mesmo processo”. (Santos, 1990, p. 200)
Deve-se a Carnelutti a sistematização da competência funcional tal como está no Código, pois foi ele quem agrupou as espécies dessa competência em:
- Competência funcional horizontal: pelo objeto do juízo (competência funcional dos juízes de primeiro grau) e pelas fases do procedimento;
- Competência funcional vertical, hierárquica ou pelos graus de jurisdição (competência dos tribunais).
Melhor explicitando, a competência funcional horizontal é a competência funcional de primeiro grau, a qual se ocupa da determinação de atribuições a mais de um órgão judicial no mesmo grau de jurisdição e no mesmo processo (quando pelo objeto do juízo), ou a um mesmo órgão jurisdicional, no mesmo grau de jurisdição, e no mesmo processo, mas nas diferentes fases do procedimento (quando pelas fases do procedimento).
Essa competência funcional de primeiro grau pode ser exercida para a prática de certo ato ou em virtude das fases do procedimento. Quando exercida para a prática de certo ato, diz-se competência funcional horizontal pelo objeto do juízo; quando estabelecida conforme estágios do procedimento, diz-se competência horizontal funcional pelas fases do procedimento.
3.2.1 Competência funcional horizontal pelo objeto do juízo
Conforme Carvalho (1995) a competência funcional horizontal pelo objeto do juízo é aquela que distribui para mais de um juízo atribuições no mesmo processo, tendo em vista a natureza do ato a ser praticado, pois o juiz tido como materialmente competente ao tempo da propositura da ação é o competente para a prática de todos os atos do processo, até a sentença final. Todavia, se no curso do processo algum ato tiver de ser praticado perante juízo de outra comarca, desloca-se a competência funcional do primeiro para este, restrita à prática do ato.
São exemplos dessa competência os atos que o juiz deva praticar quando deprecado, tanto na citação inicial (CPC, arts. 200 e 201) quanto na realização de provas (CPC, art. 338), a distribuição dos atos decisórios no juízo arbitral onde o laudo é proferido pelos árbitros ao decidirem o litígio e o juiz decide sobre a validade e a eficácia do laudo (CPC, arts. 1.098 e 1.099), e a execução por carta (CPC, arts. 658 e 747).
3.2.2 Competência funcional horizontal pelas fases do procedimento
Essa competência é aquela que exerce cada juiz no mesmo processo, conforme a fase em que ele se encontre.
Exemplo dela é o art. 575,II do CPC, que atribui ao juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição a competência para o processo de execução fundada em título judicial. Por analogia, é competente para a execução da sentença homologatória de transação, o juízo que a proferiu (RT, 612:144 e 599:48; RTJESP, 95:261). Mas, caso a transação ultrapasse o pedido da ação, a execução deverá fazer-se em processo autônomo (JTA, 72:216).
Tendo em mira o artigo 575,II do CPC, observação importante, como bem lembra Carvalho (1995), é que já se decidiu que na execução de prestação alimentícia, o foro será o estatuído no art. 100, II, do CPC e não o do art. 575, II, assim, caso o alimentando mude de domicílio após o trânsito em julgado da sentença condenatória, a execução far-se-á perante o juízo do novo domicílio (RTJESP, 99:253 e 94:267).
3.2.3 Competência funcional vertical, hierárquica ou pelos graus de jurisdição
Compreende ela a disciplina da atividade jurisdicional de primeiro e segundo graus no mesmo processo.
Subdivide-se e originária, que é a dos órgãos de segundo grau incumbidos de conhecer e julgar ações perante eles propostas; e derivada, ou recursal, que é a dos órgãos incumbidos de julgamento dos recursos; isto é, aquela que determina qual o órgão que será incumbido de julgar os recursos interpostos no mesmo processo.
São exemplos de competência funcional vertical originária: art. 102,I, da CF; art. 105, I, da CF; art. 108, I, da CF; etc. De outra banda, são exemplos de competência funcional vertical derivada: art. 102, II e III, da CF; art. 105, II e III, da CF; art. 108, II, da CF; etc.
3.3 Competência Territorial
Art. 94 do CPC: “A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu.
§ 1º Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles.
§ 2º Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor.
§ 3º Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.
§ 4º Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor”.
Em havendo para o caso juízes igualmente competentes em razão da matéria e em razão do valor, qual a circunscrição judiciária competente para ser proposta a ação?
O critério territorial, que advém do fato de serem os juízes distribuídos por circunscrições territoriais, presta-se para dar a resposta a essa pergunta. Assim, conforme o critério territorial determina-se o foro.
Ressalta-se, por obrigatório, que a competência territorial é geral ou especial, sendo que a geral determina-se pelo domicílio do réu, enquanto a especial pela natureza da causa, qualidade da parte, situação da coisa, local do cumprimento da obrigação ou da prática do ato ilícito, etc.
Portanto, “a competência territorial, também chamada competência de foro (de forum, i = praça, lugar), visa a determinar, por exclusão, o último núcleo, que virá a ser a ‘sede da lide’(Carnelutti), ou forum causae. Esse é o foro competente: Porto alegre, Salvador, Fortaleza, Campinas, Santos, por exemplo.
Se o foro assim encontrado possuir mais de uma vara (mais de um juiz), diz-se juízo competente aquele que nesse foro, por sua vez, tiver determinada a sua competência pela distribuição (CPC, arts. 87, 251 e 263). Por exemplo: 1ª Vara Cível de Porto Alegre, 2ª Vara Cível de Salvador, etc.”. (Carvalho, 1995, p. 11)
A título de esclarecimentos cabe lembrar alguns conceitos básicos a respeito do assunto.
Foro, segundo Santos, “é a circunscrição territorial dentro da qual o juiz exerce as atividades jurisdicionais. É a jurisdição territorial de um órgão. Nesse sentido considera-se o território do Brasil um foro amplíssimo: o foro do Supremo Tribunal Federal é todo o território brasileiro, pois que sobre todo ele exerce tal órgão jurisdição. Foros menos amplos são os constituídos pelas linhas limítrofes de cada Estado, o qual constitui o foro do respectivo Tribunal de Justiça. Cada Estado, por sua vez, subdivide-se em circunscrições judiciárias menores, as comarcas, nas quais exercem funções jurisdicionais um ou mais juízes. Podem os Estados delimitar ainda mais as circunscrições judiciárias, criando o foro municipal, ou termo, sem falar nos distritos, em que funcionam os juízes de paz”. (Santos, 1990, p. 221)
Tem-se, entretanto, de observar, que dentro da mesma circunscrição territorial e, portanto, no mesmo foro podem exercer jurisdição um ou mais órgãos jurisdicionais. O foro do STF é todo o território nacional, mas também o STJ tem por foro o mesmo território.
Domicílio, para a pessoa física, tem seu conceito no art. 31 do Código Civil: “é o lugar onde ela (a pessoa) estabelece sua residência com ânimo definitivo”; já domicílio para as pessoas jurídicas é “o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações ou onde elegerem domicílio especial nos seus estatutos ou atos constitutivos” (CC, art. 35, IV).
Domicílio, assim, é residência (centro das atividades jurídicas da pessoa) mais a intenção de permanecer em determinado lugar.
3.3.1 Foro comum
Como acima referido, o primeiro dos dispositivos legais pertinentes à competência territorial – foro comum - é o art. 94 do CPC que estabeleceque a ação fundada em direito pessoal e a fundada em direito real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro do domicílio do réu.
Carvalho (1995) lembra, que para a verificação da competência desse foro é preciso considerar, inicialmente, se a ação é fundada em direito pessoal ou direito real sobre móveis, conceitos estes extraídos da teoria geral do direito civil.
Atente-se para o fato de que, no direito privado, os direitos reais são enumerados taxativamente no art. 674 do CC que diz que são direitos reais, além da propriedade: a enfiteuse, as servidões, o usufruto, o uso, a habitação, as rendas expressamente constituídas sobre imóveis, o penhor, a anticrese e a hipoteca.
Há, entretanto, direitos reais também em legislações extravagantes, por exemplo: art. 22 do Decreto-Lei n.º 58/37 referido pelo art. 25 da Lei n.º 6.766/79; arts. 32, § 2º, c/ c o art. 35, § 4º da Lei n.º 4.591/64; não obstante, a enfiteuse, as servidões, a habitação, as rendas sobre imóveis e a hipoteca, além desses dispositivos da legislação extravagante supra referidos, não têm aplicação sobre a hipótese do art. 94 do CPC por constituírem-se em direitos reais sobre imóveis.
Outro fator a ser considerado na interpretação do art. 94 do CPC é a classe dos bens, pois há imóveis pela própria natureza, por acessão física, por acessão intelectual e por força de lei (CC, arts. 43 a 46).
São, segundo Carvalho (1995), exemplos de ações a serem propostas no foro comum determinado pelo art. 94 do CPC: de cobrança de crédito em dinheiro, mesmo proveniente de aluguel (RT, 596:101); de cobrança de crédito em dinheiro garantido com o penhor; de rescisão de negócio jurídico; revisional de cláusula contratual; de consignação em pagamento; cominatória para cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer; declaratória de nulidade de negócio jurídico; de anulação de negócio jurídico (RT, 605:78 e 592:97); declaratória da existência ou da inexistência de relação jurídica; pauliana; cambial; de investigação de paternidade; aquela em que se pleiteia nulidade de dação de imóvel em pagamento (STF, RTJ, 84:707, e RT, 597:46); etc.
3.3.2 Foros subsidiários do foro comum
Subsidiários do foro comum são os previstos nos parágrafos 1º a 4º do art. 94 do CPC.
O § 1º estabelece que “tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles”, ficando com o autor a opção de escolher o foro. Portanto, em havendo réu com pluralidade de domicílios (CC, art. 32), o réu será demandado em qualquer deles.
O § 2º regula as hipóteses de ser incerto ou desconhecido o domicílio do réu: “Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor”.
Domicílio incerto, segundo Santos (1990, p. 225) é o domicílio que varia constantemente. Art. 33 do CC: “Ter-se-á por domicílio da pessoa natural que não tenha residência habitual ou empregue a vida em viagens, sem ponto central de negócios, o lugar onde for encontrada”.
Já domicílio desconhecido, ainda consoante entendimento de Santos, é o ignorado pelo autor. O réu poderá ter domicílio certo, mas o autor ignora qual seja.
Nos dois casos ao autor é conferida a faculdade de propor a ação onde o réu for encontrado ou no domicílio dele, autor. No caso de domicílio desconhecido pelo autor, mas certo, o réu poderá excepcionar o juízo de incompetente.
O § 3º do art. 94 do CPC prevê o foro alternativo do domicílio do autor para a hipótese de não ter o réu nem domicílio nem residência no Brasil. Tendo também o autor domicílio no Exterior, a ação será proposta em qualquer foro.
Finalmente, o § 4º admite que o autor escolha o foro, se se tratar de litisconsórcio passivo, tendo estes consortes domicílios diferentes.
3.3.3 Foros especiais
A partir do art. 95 do CPC têm-se os foros especiais que se aplicam com prevalência sobre o comum; assim, no caso de aparente concurso entre qualquer uma das regras dos arts. 95 a 100 e a do art. 94, terá preferência a primeira, em virtude do princípio segundo o qual lex specialis derogat legi generali.
1) Foro das ações reais imobiliárias.
Art. 95 do CPC: “Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova”.
Este art. 95 (forum rei sitae) contém duas regras: a primeira relativa à competência para ações fundadas em direito real, e a segunda que leva em conta não só a natureza do direito discutido, mas também circunstâncias que exigem o conhecimento mais próximo do juiz.
A razão de ser de tal regra é que o juiz do lugar onde se situa a coisa litigiosa tem condições de melhor apurar os fatos e decidir as questões imobiliárias suscitadas pelas partes; justamente por isso é que não se exige a aplicação do art. 95 para a ação de anular cessão de direitos hereditários, apesar de o art. 44, I a III, do CC considerar imóvel o direito à sucessão aberta. Não obstante, não se pode sustentar o mesmo quanto aos imóveis pela própria natureza, por acessão física ou por acessão intelectual, definidos no art. 43, I a III, do CC.
Justifica-se, então, a regra do art. 95 do CPC pela evidente conveniência do andamento do processo no foro da situação do imóvel sobre que versar a lide, que se manifesta na diminuição de despesas e de tempo na prática de certos atos, além de possibilitar ao juiz da causa o exame direto das coisas (vistorias, por exemplo) sobre que incidir a sua decisão.
Tratando-se, portanto, de ação fundada em direito real sobre imóveis, o foro competente para a propositura da ação é o da situação do imóvel. As ações pessoais imobiliárias seguem a regra geral do art. 94 do CPC: para elas competente é o domicílio do réu.
São assim, por exemplo, proponíveis no foro da situação do imóvel: ação de desapropriação indireta, em que se discute a indenização pelo desapossamento administrativo do imóvel (RT, 674:223 e 603:223). Contra RT, 591:63; a ação de anulação de venda e compra de imóvel, com retorno do domínio ao seu titular anterior; as ações relativas à enfiteuse, como a comissória, destinada a extingui-la por falta de pagamento das pensões pelo foreiro (CC, art. 692, II); as ações relativas ao usufruto de imóvel, ao direito real de uso, ao direito real de habitação, ao resgate do imóvel sujeito à prestação de renda, à anticrese e à hipoteca; a ação fundada em direito real, ainda que o réu seja um Estado-Membro (RTJ, 95, 347); a ação fundada em direito real previsto no art. 35, § 4º, da Lei n.º 4.591/64; etc.
O mesmo art. 95, segunda parte, do referido Código, permite ao autor, entretanto, optar, em certos casos, pelo foro do domicílio do réu ou de eleição. Assim, a competência do foro da situação do imóvel é absoluta tão-somente para aquelas ações reais imobiliárias em que o litígio recaia sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.
Diversamente, é relativa a competência para a propositura das demais ações reais sobre imóveis, porque o autor poderá optar pelo foro do domicílio do réu, quando, previamente, em relação a elas, não houver sido estabelecido o foro de eleição, ou do contrato, autorizado pelo art. 111 do mesmo Código.
2) Foro da sucessão hereditária.
Art. 96 do CPC: “O foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. É, porém, competente o foro:
I – da situação dos bens, se o autor da herança não possuía domicílio certo;
II – do lugar em que ocorreu o óbito se o autor da herança não tinha domicílio certo e possuía bens em lugares diferentes”.
O foro do domicílio do autor da herança é o competente para a propositura de todas as ações em que o espólio for réu, sejam pessoais ou reais, mobiliáriasou imobiliárias. “Parece, entretanto, que são excluídos da força atrativa do domicílio do de cujus os litígios sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova, os quais, são da competência do foro da situação do imóvel, nos termos expressos do art. 95, parte final, do mesmo Código. Nesse sentido, também, Celso Agrícola Barbi”. (Santos, 1990, p. 226)
“O juízo do inventário é universal, de sorte que, além do processo sucessório, atrai para si a competência especial relativa a todas as ações em que o espólio seja réu. Se, porém, o espólio for autor na causa, não haverá a atração do juízo universal do inventário, e a competência, será, então, a do foro comum (do domicílio do réu) ou alguma outra especial que acaso incida na espécie (como a do forum rei sitae).
Moacyr A. Santos (1990) lembra que, as ações contra o espólio são da competência do foro do domicílio do autor da herança, enquanto esta não for partilhada. Caso partilhada, desaparece a unidade que ela constituiu e que representava a pessoa do de cujus, e, então, não se pode mais falar em foro da sucessão ou da herança. Dividida a herança, os sucessores responderão no foro que lhes for próprio, conforme a regra geral, isto é, no foro de seu domicílio.
Vale frisar que o foro do domicílio do autor da herança permanece, como competente, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro, desde que os bens sejam situados no Brasil, o que se conclui pela conexão do referido dispositivo com o art. 89, II, do CPC que diz: “Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra, proceder a inventário e partilha de bens, situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja estrangeiro e tenha residido fora do território nacional”.
3) Foro competente nas ações contra o ausente.
Art. 97 do CPC: “As ações em que o ausente for réu correm no foro de seu último domicílio, que é também o competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias”.
Ausente, segundo Santos (1990, p. 227) “é a pessoa que desaparece do seu domicílio, dela não havendo notícia, não tendo deixado representante, ou procurador, a quem toque administrar-lhe os bens”. O juiz, a requerimento de qualquer interessado, ou do Ministério Público, dar-lhe-á curador. Igualmente se lhe dará curador, quando o mandatário ausente não quiser ou não puder exercer ou continuar o mandato (CC, arts. 463 e 464).
À semelhança do que ocorre em relação ao foro da sucessão (CPC, art. 96), também se estabelece para as ações contra o ausente a competência do foro de seu último domicílio. Então, pelo foro de seu último domicílio correm todas as ações em que o ausente for réu, salvo ao que parece, àquelas em que o litígio recaia sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova.
Correm, também, de acordo com o mesmo art. 97 do CPC, pelo foro do último domicílio do ausente, os processos de arrecadação (CPC, arts. 1.159 a 1.169), de inventário e partilha (CPC, arts. 982 a 1.045) e de cumprimento de disposições testamentárias (CPC, arts. 1.125 a 1.141).
4) Foro competente nas ações contra o incapaz.
Art. 98 do CPC: “A ação em que o incapaz for réu se processará no foro do domicílio de seu representante”.
O Código Civil, art. 36, estabelece que os incapazes têm por domicílio o dos seus representantes.
Incapaz é o menor, sob pátrio poder ou sob tutela, caso em que seu representante legal será o pai, a mãe ou o tutor; ou o interdito, sob curatela, que terá como seu representante o curador.
Assim, no foro do domicílio de seu representante, que é o domicílio do incapaz, serão propostas as ações contra este.
5) Foro competente da União e dos Territórios.
Art. 99 do CPC: “O foro da Capital do Estado ou do Território é competente:
I – para as causas em que a União for autora, ré ou interveniente;
II – para as causas em que o Território for autor, réu ou interveniente.
Parágrafo único. Correndo o processo perante outro juiz, serão os autos remetidos ao juiz competente da Capital do Estado ou Território, tanto que neles intervenha uma das entidades mencionadas neste artigo.
Excetuam-se:
I – o processo de insolvência;
II – os casos previstos em lei”.
O art. 99 do CPC, que trata do foro especial da União, deve ser entendido em harmonia com o art. 109, § 1º, § 2º e § 3º da CF. Assim, o foro especial da União deve ser examinado em três circunstâncias diferentes:
a) se for autora, a União proporá ação perante a Justiça Federal, no foro da Seção Judiciária onde o réu tiver seu domicílio;
b) se a União for ré (CF, art. 109, § 2º), o autor poderá optar entre um dos seguintes foros para o ajuizamento da ação:
- o do Distrito Federal;
- o da Seção Judiciária onde o autor tiver seu domicílio;
- o da Seção Judiciária onde houver ocorrido o ato ou fato que deu origem à demanda;
- o da Seção Judiciária onde estiver situada a coisa litigiosa.
Ressalta-se que, as autarquias da União e as empresas públicas federais, também jurisdicionadas pela Justiça Federal, seguem, em matéria de competência, as normas comuns às demais pessoas jurídicas, previstas no art. 100, IV, a e b, do CPC (foro da sede ou da agência que praticou o ato).
c) Lembra-se, outrossim, que para as ações acerca de benefícios de natureza pecuniária da Previdência Social, há exceção constitucional (art. 109, § 3º), que permite o respectivo ajuizamento perante as Justiças locais.
Se a causa entre terceiros iniciar-se em foro estranho ao da União ou dos Territórios, mas uma dessas entidades vier posteriormente a intervir nela, ocorrerá, em razão da intervenção um deslocamento de competência para o foro especial. Os autos, por isso, serão remetidos ao juiz federal competente da capital do Estado ou Território, logo após a intervenção, conforme manda o parágrafo único do art. 99 do CPC.
Não ocorre, todavia, deslocamento de competência nos processos de insolvência e em outros casos especiais previstos em lei, como os processos de falência, de seguro da Previdência Social, de acidentes de trabalho, etc.
6) Foro ratione personae.
Art. 100 do CPC: “É competente o foro:
I – da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento;
II – do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos;
III – do domicílio do devedor, para a ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos;
IV – do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa jurídica;
b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que ela contraiu;
c) onde exerce a sua atividade principal, para a ação em que for ré a sociedade, que carece de personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento;
V – do lugar do ato ou fato:
a) para a ação de reparação de dano;
b) para a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios alheios.
Parágrafo único. Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato”.
6.1 Foro competente nas ações de separação, divórcio e anulação de casamento.
Visando beneficiar a mulher, declara o art. 100, I, do CPC que é competente o foro da residência da mulher para a ação de separação, para a ação de conversão dessa separação em divórcio, e para a ação de anulação de casamento, não importando ser a mulher autora ou ré.
Tratando-se, porém, de competência relativa (territorial), poderá haver a prorrogação dela quando:
- a própria mulher abrir mão de seu privilégio e propuser a ação no foro comum do marido; ou quando,
- descumprida a regra pelo marido-autor, a mulher deixar de opor exceção declinatória de foro, em tempo hábil (CPC, art. 114).
A mesma regra do art. 100, I, aplica-se à conversão da separação judicial em divórcio (Lei n.º 6.515/77). A ação direta de divórcio, todavia, segundo entendimento de Humberto Theodoro Júnior(1998, p. 175), não autoriza o privilégio de foro para a mulher, devendo observar, ao contrário, a regra geral da competência do domicílio do réu, por falta de disciplina legal específica.
Quanto à conversão de separação em divórcio, convém lembrar que não há prevenção do juízo da causa primitiva; isto é, a competência se define pelo domicílio atual da mulher, ou seja, pelo contemporâneo ao pedido de conversão.
6.2 Foro competente na ação de alimentos.
“Atendendo à natural fraqueza em que se encontra o alimentando em face do alimentante, a lei confere àquele o foro de seu domicílio ou de sua residência, para a ação em que pedir alimentos. Fica ao alimentando a opção pelo foro de seu domicílio ou de sua residência, mas nenhum óbice de ordem jurídica lhe veda optar pelo foro do domicílio do alimentante e aí propor a ação”. (Santos, 1990, p. 232)
Assim, também aqui é lícito ao autor optar pelo foro comum (o do domicílio do réu), por não se tratar de competência absoluta, mas apenas de um privilégio de caráter relativo.
6.3 Foro competente para a ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos.
Segundo Santos (1990, p. 232) a ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos é a disciplinada mais precisamente no art. 907, II, do CPC: “Aquele que tiver perdido título ao portador ou dele houver sido injustamente desapossado poderá: (...) II – requerer-lhe a anulação e substituição por outro”. Nesse caso, na petição inicial, o autor, expondo os fatos e circunstâncias que o cercam, requererá: “I – a citação do detentor e, por edital, de terceiros interessados para contestarem o pedido; II – a intimação do devedor, para que deposite em juízo o capital, bem como juros ou dividendos vencidos ou vincendos”.(CPC, art. 908)
Desta forma, a ação é proposta contra o detentor e terceiros interessados, uma vez que eles é que são citados para contestarem o pedido. O devedor é tão-só intimado para o depósito, em juízo, do capital, juros e dividendos, vencidos ou vincendos.
Julgada procedente a ação, o juiz declarará caduco o título reclamado “e ordenará ao devedor que lavre outro em sua substituição, dentro do prazo que a sentença lhe assinar” (CPC, art. 911). “Ocorrendo a destruição parcial, o portador, exibindo o que restar do título, pedirá a citação do devedor para em dez dias substituí-lo ou contestar a ação”. (CPC, art. 912)
Os fatos e, principalmente, os atos que se exigem do devedor, aqueledepósito e a substituição do título, levaram o legislador a determinar que no foro do domicílio deste se instaure e julgue a ação.
6.4 Foro das pessoas jurídicas.
As pessoas jurídicas, de direito público e de direito privado, quando autoras, sujeitam-se à regra geral da competência do domicílio do réu.
Como rés, entretanto, as pessoas jurídicas (inclusive autarquias, empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações, etc.) devem, ser demandadas no foro:
- da respectiva sede; ou
- da agência ou sucursal, quanto às obrigações que o departamento tenha contraído.
Ambas as hipóteses correspondem ao conceito de domicílio das pessoas jurídicas, estabelecido no CC, arts. 35, IV, e § § 3º e 4º.
As sociedades de fato, que não possuem personalidade civil, mas que devem responder pelos negócios jurídicos realizados (CC, art. 20, § 2º), são demandadas no foro do local onde exercem sua atividade principal.
Na letra d, do inciso IV, do art. 100, do CPC tem-se ações fundadas, evidentemente, em direito obrigacional, pois visam à satisfação do credor conforme o ajustado contratualmente, sendo o objetivo dessa letra d, propiciar a melhor execução possível da prestação contratual, fazendo correr o processo perante o juízo local da prestação.
Importante é ressaltar que, se o cumprimento de obrigação for demandado a pessoa jurídica, agência ou sucursal de pessoa jurídica, ou a sociedade sem personalidade jurídica, isto é, em havendo concurso do foro do cumprimento da obrigação (CPC, art. 100, IV, d) com o foro da pessoa jurídica (CPC, art. 100, IV, a, b ou c), o foro competente será o da letra d, do inciso IV, do art. 100, do CPC, por aplicação do princípio da especialidade.
6.5 Foro das ações de reparação de dano e foro das ações em face do administrador ou do gestor de negócios alheios.
a) Quanto à letra a, do inciso V, do art. 100, do CPC, e o seu parágrafo único:
“O dano pode resultar do descumprimento de uma obrigação, e nesse caso dizemos que a responsabilidade de indenizar é contratual, como decorre do art. 1.056 do CC: “Não cumprindo a obrigação, ou deixando de cumpri-la pelo modo e no tempo devidos, responde o devedor por perdas e danos”. Ou o dano pode resultar da inobservância de um dever geral de conduta, e nesse caso a responsabilidade de indenizar se diz extracontratual, ou aquiliana, e a previsão é a do art. 159 do CC: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparara o dano”. Entre os casos de responsabilidade extracontratual estão os da chamada responsabilidade objetiva, que prescinde de culpa, dos juízos de valor negligência, imprudência, violação voluntária de dever geral de conduta, etc., incluindo-se, também, nestes, os de culpa presumida e os de aplicação da teoria do risco.
(...). De sorte que a regra do art. 100, IV, d, do CPC está para a reparação de dano resultante de inadimplemento contratual assim como a regra do art. 100, V, a, está para a reparação do dano resultante de delito civil. É como também se tem decidido: ‘A norma do art. 100, V, a não se aplica aos pedidos de indenização por inadimplemento ou mau adimplemento contratual’(RT, 670:190).
Da mesma forma se se trata de acidente de trabalho: ‘A ação acidentária é típica ação de reparação de dano. Destarte, o acidentado pode ajuizá-la no local onde o dano foi causado, de acordo com o que dispõe o art. 100, V, a, do CPC’ (2º TACSP, 2ª Câm., AgI 396.813, j. 13/12/93, Bol. AASP n.º 1.864, p. 1).
Lembra-se que este foro especial do art. 100, V, a, não exclui o foro comum do art. 94. A vítima de ato ilícito (CC, art. 159) tem dois foros à sua disposição: o do domicílio do réu e o do lugar do fato”. (Carvalho, 1995,p.)
Tem-se, portanto, na letra a, do inciso V, do art. 100 o forum delicti comissi, segundo o qual é competente para a ação de reparação do dano, o foro do lugar em que o ato ilícito se deu. Entretanto, se o dano decorrer de delito ou acidente de veículos, poderá o autor optar entre o foro comum (domicílio do réu); o foro especial do lugar do acidente; e, ainda, o foro do domicílio do próprio autor.
“O parágrafo único do art. 100, V, do CPC contempla uma faculdade ao autor, supostamente vítima de ato delituoso ou de acidente causado por veículo (automóvel, barco, aeronave, etc.), para ajuizar a ação de reparação do dano no foro de seu domicílio ou (no do) local do fato, sem exclusão da regra geral prevista no caput do art. 94” (STJ, 3ª T., Resp 4.603-RJ, Rel. Min. Cláudio Santos, j. 23/10/90).
b) Quanto à letra b, do inciso V, do art. 100, do CPC:
Esse foro (forum gestae administrationis) diz respeito à ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios alheios, sendo que tal competência não tem por fundamento a pessoa do administrador ou gestor, mas o ato praticado.
Aqui também não prevalece, para benefício do autor, o foro comum do domicílio do réu, pois o gestor ou administrador pode ser demandado, a respeito dos negócios administrados, no local onde praticou a gestão.
Como administrador deve entender-se aquele que tem o comando, a gerência de certo negócio, atuando com discricionariedade mas em nome do titular. Equipara-se a esse administrador (que pode ser o feitor, o capataz da fazenda) o gestor, que intervém no negócio alheio sem autorização do interessado (CC, art. 1.331).
6.6 Foros especiais em leis extravagantes.
- Foro da ação de desapropriação: o Decreto-Lei n.º 3.365/41, prevê o foro da situação do bem expropriado, ou , onde houver, o juízo privativo da fazenda pública, na Justiça Estadual, se expropriante não for a União;se for esta a autora, a ação correrá no foro do Distrito Federal ou da Capital do Estado onde for domiciliado o réu, perante a Justiça Federal.
- Foro da ação de cobrança de duplicata: deve ser proposta no lugar do pagamento do título ou no foro do domicílio do comprador. No caso de ação regressiva contra o emitente, o endossante ou os respectivos avalistas, no foro do réu (Lei n.º 5.474/68, art. 17, com a redação dada pela Lei n.º 6.458/77). Já a ação anulatória dessa cambial também se propõe no foro do local designado no título para o seu pagamento.
- Foro da ação popular: para a ação popular busca-se a origem do ato impugnado, a fim de determinar-se-lhe a competência (Lei n.º 4.717/65, art. 5º).
3.3.4 Foro de eleição
Art. 111 do CPC: “...mas estas (partes) podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações.
§ 1º O acordo, porém, só produz efeito, quando constar de contrato escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico.
§ 2º O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes”.
O art. 42 do CC criou o chamado domicílio de eleição, pelo qual os contraentes de obrigações designam o lugar em que deverão cumprir as obrigações decorrentes do contrato e no qual se sujeitam a demandar ou a ser demandados.
Há, entretanto, que se diferenciar o domicílio, que as partes podem eleger, em contrato escrito, onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações dele resultantes, como está no art. 42 do CC, daquele foro eleito em contrato para as demandas dele resultantes.
“A fixação, no contrato, de domicílio para cumprimento de obrigações, embora tenha, como se disse, natureza jurídico-material, pode vir a constituir o foro competente, e portanto disposição processual, para a ação em que se exija o cumprimento de obrigação. Aí haverá coincidência entre o domicílio (direito material) e o foro (direito processual)”. (Carvalho, 1995, p. 25)
Como deriva do próprio art. 111 do CPC, o foro pode ser eleito pelas partes para as questões em que a competência não seja absoluta, o que equivale a dizer que a competência do foro de eleição é prorrogável. Ficam, por isso, também excluídas do foro de eleição, diante das palavras do dito art. 111, as ações que versem sobre direitos indisponíveis (relativas ao estado e à capacidade das pessoas).
Diz a súmula 335 do STF: “É válida a cláusula de eleição do foro para os processos oriundos do contrato”.
Recorda-se que, como regra específica que é, prevalece sobre o foro comum. Não obstante, o foro de eleição não é o competente para a ação em que se questiona a validade do próprio contrato ou da cláusula. Foro para esta ação é o que lhe tocar segundo as demais regras já analisadas.
Para finalizar este tópico (3.3.4), lembra-se que o contrato pode prever mais de um foro (pluralidade de foros de eleição), cumulativa ou alternativamente, para as mesmas ou para diferentes demandas. E, em havendo mais de um foro para a mesma demanda, aplica-se a regra do art. 94, § 1º, do CPC: “Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles”.
4. COMPETÊNCIA ABSOLUTA E COMPETÊNCIA RELATIVA
4.1 Absoluta
As regras de competência absoluta, indisponível às partes, são motivadas por considerações ligadas principalmente ao interesse público de uma melhor administração da Justiça, impondo-se com força cogente ao juiz. Assim, a absoluta é a competência insuscetível de sofrer modificação, seja por vontade das partes, seja pelos motivos legais de prorrogação (conexão ou continência de causas).
São absolutas, segundo o art. 111, do CPC, as competências ratione materiae e a de hierarquia.
4.2 Relativa
Regras de competência que visam atender primacialmente ao interesse das partes, quer facilitando ao autor o acesso ao Judiciário, quer propiciando ao réu melhores oportunidades de defesa.
As regras de competência relativa podem ser afastadas pelos litigantes, ou mediante prévio acordo inserido em cláusula de contrato – cláusula de eleição de foro, ou deixando o réu de opor a “exceção declinatória de foro”. Há, pois, uma disponibilidade quanto ao foro competente.
Far-se-á, agora, esquemas didáticos (Carneiro, 2000) para a melhor compreensão do tema.
	Competência Absoluta
1. Prevalência do interesse público – indisponibilidade.
	Competência Relativa
1. Prevalência do interesse particular dos litigantes – disponibilidade.
	2. O juiz deve declarar-se incompetente, de ofício, sempre que lhe for remetido processo para o qual for absolutamente incompetente (CPC, art. 113).
	2. O juiz não pode, em hipótese nenhuma, declarar-se de ofício incompetente; só poderá fazê-lo se o réu suscitar a exceção de incompetência (CPC, arts. 112, 304, 305 e 307).
	3. Autor, réu ou qualquer interveniente podem, a qualquer tempo, invocar a incompetência absoluta, matéria que é inclusive uma das preliminares alegáveis na contestação (CPC, arts. 113 e 301, II).
	3. Somente o réu pode suscitar a exceção, e no prazo de 15 dias (CPC, arts. 112 e 305); se o réu não suscitar em tempo hábil a exceção, a competência do juiz considera-se automaticamente prorrogada – isto é, o juiz, em tese incompetente, torna-se competente para conhecer e julgar aquela causa (CPC, art. 114).
	4. Em face da indisponibilidade, é incabível “eleição de foro” quando infringente a qualquer regra de competência absoluta (CPC, art. 111).
	4. Em face da disponibilidade, lícita a cláusula contratual de eleição de foro (art. 111), com ressalvas nos casos de contratos de adesão.
	5. A incompetência absoluta do juiz torna nulos quaisquer atos decisórios por ele proferidos (CPC, art. 113, § 2º); e a sentença proferida pelo juiz absolutamente incompetente poderá ser rescindida (CPC, art. 485, II).
	5. As regras sobre competência relativa não provocam nulidades. Se a exceção declinatória fori é suscitada com êxito, o processo será remetido ao juiz competente (CPC, art. 311); caso contrário, ocorre então a prorrogação de competência.
	Competência Absoluta
	Competência Relativa
	1. Competência em razão da matéria. Pela natureza da causa, a competência pode tocar a uma justiça especializada (v.g., as causas referentes à nacionalidade são da Justiça Federal – CF, art. 109, X); no âmbito da Justiça comum, as leis de organização judiciária podem atribuir competência a um juízo privativo (v.g., as ações de investigação de paternidade pertencem, em Porto Alegre e em outras capitais, às varas privativas de Família e Sucessões).
	1. Competência territorial ou competência de foro. É o caso típico de competência relativa, e o mais comum.
	2..Competência em razão do valor da causa. Esta competência é absoluta quando “do menos para o mais”, isto é, a competência do juiz de menor “alçada” não pode ser prorrogada para abranger causa de maior valor.
	2. Competência em razão do valor da causa. É relativa “do mais para o menos”, pois a competência do juiz de maior “alçada” pode ser prorrogada para abranger causa de menor valor. A competênciaratione valore é geralmente fixada nas leis de organização judiciária (CPC, art. 91).
	3. Competência em razão da situação do imóvel, nas ações fundadas em direito real sobre imóveis. A teor do art. 95 do CPC, esta competência de foro é absoluta nos casos em que está em jogo direito de propriedade, ou vizinhança, ou servidão, ou posse, nas ações de divisão e demarcação de terras e nas ações de nunciação de obra nova. Nos demais casos permite-se opção do autor, sendo, pois, relativa a competência.
	3. Competência em razão da situação do imóvel, naqueles casos nos quais o art. 95 do CPC permite a opção do autor por um foro diferente.
	4. Competência funcional, em razão da função, das atribuições que o juiz desempenha. Pode-se distinguir a competência funcional no “plano horizontal”, isto é, no mesmo grau de jurisdição, e a competência funcional no “plano vertical”, ou seja, a competência recursal (qual o Tribunal, ou órgão de um Tribunal, a que é atribuída a função de julgar a causa em grau de recurso).
	
	5. Competênciaem razão da pessoa, vinculada a atributo pessoal do litigante. Assim, as causas em que for parte a União ou autarquia federal ou empresa pública federal cabem à Justiça Federal (CF, art. 109, I); as causas em que for parte o Estado, ou autarquia estadual, cabem, na comarca da capital, às varas privativas da Fazenda Pública
	
Resumindo os esquemas anteriores:
	Competência Absoluta
	Competência Relativa
	1. Competência em razão da matéria;
	1. Competência territorial, ou de foro;
	2. Competência em razão da pessoa;
	2. Competência em razão do valor, do “mais para o menos”;
	3. Competência em razão do valor, do “menos para o mais”;
	3. Competência pela situação do imóvel, em alguns casos.
	4. Competência pela situação do imóvel, na maioria dos casos;
	
	5. Competência funcional: no plano horizontal ou no plano vertical (recursal).
	
5 Modificação da Competência
Art. 102 do CPC: “A competência, em razão do valor e do território, poderá modificar-se pela conexão ou continência, observado o disposto nos artigos seguintes”.
Art. 103 do CPC: “Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir”.
Art. 104 do CPC: “Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras”.
Art. 105 do CPC: “Havendo conexão ou continência, o juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunião de ações propostas em separado, a fim de que sejam decididas simultaneamente”.
Art. 106 do CPC: “Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar”.
Art. 107 do CPC: “Se o imóvel se achar situado em mais de um Estado ou comarca, determinar-se-á o foro pela prevenção, estendendo-se a competência sobre a totalidade do imóvel”.
Art. 108 do CPC: “A ação acessória será proposta perante o juiz competente para a ação principal”.
Art. 109 do CPC: “O juiz da causa principal é também competente para a reconvenção, a ação declaratória incidente, as ações de garantia e outras que respeitam ao terceiro interveniente”.
Art. 110 do CPC: “Se o conhecimento da lide depender necessariamente da verificação da existência de fato delituoso, pode o juiz mandar sobrestar no andamento do processo até que se pronuncie a justiça criminal.
Parágrafo único. Se a ação penal não for exercitada dentro de 30 dias, contados da intimação do despacho de sobrestamento, cessará o efeito deste, decidindo o juiz cível a questão prejudicial”.
Art. 111 do CPC: “A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das partes; mas estas podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo o foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações.
§ 1º O acordo, porém, só produz efeito, quando constar de contrato escrito e aludir expressamente a determinado negócio jurídico.
§ 2º O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes”.
5.1 Modificação da competência pela conexão
“Supõe-se estejam tramitando perante diferentes juízos, juízos A e B, duas (ou mais) ações conexas, isto é, ligadas pela identidade de objeto, ou pela identidade, total ou parcial, de causa de pedir, ou pela identidade de ambos os elementos (CPC, art. 103).
As causas podem ser reunidas, por economia processual, e até devem sê-lo quando necessário para evitar decisões eventualmente contraditórias (art. 105). Reunidas, assim, as causas no juízo A, este passou a ser competente para processá-las e julgá-las ambas, e portanto ao juízo B foi retirada a competência para julgar a causa remetida ao juízo A.
Todavia, como assentado na jurisprudência do STJ, ‘não se impõe a reunião dos feitos quando um já estiver julgado, ainda que pendente recurso’(3ª Turma, Resp 134.864, ac. de 2/6/98, rel. Min. Menezes Direito, DJU, 3 ago. 1998, p. 224)”. (Carneiro, 2000, p. 78)
Já Carvalho (1995) lembra que, a regra do art. 103 do CPC, tem incidência com caráter principal nas seguintes questões relacionadas com a competência:
- pendência de ações conexas perante juiz estrangeiro e perante juiz brasileiro (CPC, art. 90);
- para a distribuição por dependência, prevista no art. 253 do CPC;
- para a alegação do réu, em preliminar da contestação (CPC, art. 301, VIII), sem prejuízo do conhecimento de ofício, pelo juiz, como prescreve o § 4º do art. 301, em coerência com o art. 105 do mesmo Código; e
- é a que fundamenta a reunião de processos conforme o disposto nos arts. 105 a 107 do CPC.
Como exemplo de conexão pela identidade objetiva da causa de pedir tem-se a separação pleiteada pela mulher por adultério do marido e separação pleiteada pelo marido por abandono imaterial praticado pela mulher. O pedido está, em cada demanda, identificado pelas respectivas causas de pedir. E do exemplo que acaba de ser dado, de evidente conexão para os fins de modificação de competência, decorre que o componente da causa de pedir bastante para configurar a conexão está na causa de pedir remota, que são os fatos, e, dentre estes, o fato constitutivo (casamento, contrato), sendo irrelevantes o fato particular (infração conjugal, inadimplemento) e a causa de pedir próxima, ou seja, a implicação jurídica dos fatos.
A Câmara Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por acórdão de 18 de fevereiro de 1982, já afirmara, em caso de pedidos sucessivos de sustação de protestos, que: “Se a conexão é manifesta, dado que o credor dos títulos é o mesmo, relativos ao mesmo negócio”(causa de pedir remota: fato constitutivo), “tendo apenas sido descontados em bancos diferentes” (causa de pedir próxima, fato particular: o não-pagamento nos diversos bancos), “competente é o juízo perante o qual se ajuizou o primeiro pedido de sustação de protesto” (RT, 561:96).
“O objetivo da norma inserta no art. 103, bem como no disposto no art. 106, ambos do CPC, é evitar decisões contraditórias; por isso, a indagação sobre o objeto ou a causa de pedir, que o artigo por primeiro quer que seja comum, deve ser entendida em termos, não se exigindo a perfeita identidade, senão que haja um liame que os faça passíveis de decisão unificada” (STJ, Resp 3.511- RJ, rel. Min. Waldemar Zveiter, DJU, 11 mar. 1991, p. 2391).
“Na doutrina e na jurisprudência, tem-se recomendado essa interpretação mais dilargada do art. 103 do CPC, que entende bastante para a conexão o fato constitutivo da causa de pedir remota. Pois, interpretado restritivamente aquele dispositivo, teríamos, por exemplo, que não há conexão entre a ação de despejo por falta de pagamento de aluguéis e a ação de consignação em pagamento dos mesmos aluguéis, porque a causa de pedir, na primeira, á a mora debitoris, enquanto na segunda é a mora creditoris, fatos distintos, portanto; e pedidos, na primeira, seriam a rescisão da locação e a desocupação do prédio, enquanto na segunda seria a exoneração do devedor, objetos, assim, também distintos”. (Carvalho, 1995, p. 92)
5.2 Modificação da competência pela continência
Tudo o que até agora se disse relativamente à conexão vale para as demandas aproximadas pela continência, pois esta nada mais é do que uma forma especial de conexão, onde entre as causas há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, mais amplo, abrange o da outra (s).
“Para efeito de caracterizar a continência, o vocábulo objeto, no singular, engloba tantos pedidos quantos o autor tenha formulado. Pois, se se pede, por exemplo, na ação proposta por um dos contratantes, a rescisão do contrato e noutra, proposta pelo outro contratante, a mesma rescisão mais a indenização das perdas e danos, tem-se que um só pedido está contido na primeira ação, mas dois estão na segunda. Para os fins da definição do art. 104, o objeto (no singular) da segunda é mais amplo do que da primeira, englobando-o . Diz-se que este objeto é o continente, por abranger maior número de pedidos; o menor diz-se contido, ou o conteúdo. Assim, entendida acontinência, parece sibilina a distinção legal entre conexão e continência, além de desprovida de alcance prático, quando destinada a modificar a competência. Porque, se se reputam conexas as ações com o mesmo objeto, compreenda este o número de pedidos que compreender, a conclusão será, inevitavelmente, a de que se tem um só e mesmo objeto, no todo, reproduzido ou integrado o pedido menor, ou os pedidos menores, como partes daquele total.
Para apontar o objeto mais amplo, no cotejo de ações, pode-se utilizar um critério quantitativo, por exemplo, comparar os valores dos pedidos em cada uma; ou um critério qualitativo, como comparar a mera declaratividade num pedido com a constitutividade, noutro.
É firme na doutrina e na jurisprudência, o entendimento de que a continência é a conexão pelo objeto, e daí que as regras sobre reunião de processos, expressas nos arts. 105 e 106 do CPC, se aplicam indistintamente, assim ao caso de conexão como ao de continência”. (Carvalho, 1995, p. 93)
Esse não é, todavia, o entendimento de Pontes de Miranda, para quem a expressão continência é a relação entre duas causas, entre duas ações, por uma conter em si, como parte, a outra. Para esse jurista não há falar em prevenção para reunir ações aproximadas pela continência, porque “pode o juiz da causa maior, de ofício ou a requerimento das partes, comunicar ao juiz o ocorrido, para que lhe remeta os autos a fim de que se reunam. O requerimento pode ser feito diretamente ao juiz da causa menor e comunicado ao da maior, que vai receber os autos da causa menor”. (Miranda apud Carvalho, 1995, p. 94)
5.3 Modificação da competência por não oferecimento de exceção
Sendo a competência relativa e não opondo o réu a exceção declinatória de foro a competência é prorrogada, isto é, o juízo ou foro incompetente, em abstrato, torna-se competente in concreto.
Essa prorrogação pode ter origem em cláusula contratual e prévia: em um contrato, os contratantes desde logo convencionam que quaisquer ações dele oriundas serão propostas em um determinado foro, o “foro de eleição”, mesmo que pelas regras gerais o foro devesse ser outro (CPC, art. 111; CC, art. 42; Súmula 335 do STF).
Também pode ocorrer a prorrogação por acordo tácito, quando, após proposta a demanda, o réu, podendo opor exceção de incompetência de foro, deixa de fazê-lo, assim aceitando o foro escolhido pelo autor.
A exceção instrumental para argüir a incompetência relativa é prevista, pela ordem cronológica do seu exercício, nos seguintes artigos do CPC: 112, 297, 299, 304, estando os efeitos da não-arguição declarados no art. 114 do mesmo Código.
5.4 Reunião de processos e prevenção
A reunião de processos contendo ações conexas está normatizada no art. 105 do CPC; entretanto, esse dispositivo não constitui regra determinativa de competência, encerra, sim, a concessão de uma faculdade, ao juiz, para evitar o inconveniente de decisões contraditórias. Como a conexão não pressupõe a identidade de partes, as ações conexas podem pertencer a litigantes distintos.
Dirige-se, assim, o art. 105 do CPC, ao arbítrio do juiz, que poderá determinar a reunião das ações conexas até a prolação da sentença.
O art. 106 do CPC, por sua vez, diz que: “correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar”.
Supondo dois ou mais juízos que, pelas regras gerais, seriam, em tese, igualmente competentes. Pela prevenção, apenas em um deles a competência é “fixada”, tornando-se os demais incompetentes.
Ocorre que dispõe o art. 219 do CPC: “A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição”.
“A doutrina tem explicado que não há contradição entre os dois dispositivos legais, porque o primeiro incide para fixar o juízo prevalente no caso de conexão ou continência de causas em curso perante juízos diferentes no mesmo foro, enquanto o segundo se destina a determinar o termo inicial da perpetuatio jurisdictionis e da competência funcional do órgão judiciário, com exclusão dos demais órgãos também in abstracto competentes”. (José Frederico Marquesapud Carvalho, 1995, p. 95).
Então, se a conexidade se dá entre ações em curso no mesmo foro, prevalente é o juízo que proferiu o primeiro despacho liminar positivo, isto é, mandando citar o réu (STJ, RT, 653:216). Se se dá entre ações em curso emforos diversos, prevalece o foro especial sobre o comum, não ocorrendo essa hipótese, prevalecerá o foro do juízo que primeiro recebeu a juntada do mandado de citação válida ou A.R..
Vale lembrar, entretanto, que a regra da prevenção pode ser afastada pela prevalência de algum critério de competência absoluta. Por exemplo: corre uma causa de menor valor perante o pretor e, posteriormente, vem a ser ajuizada causa conexa, de maior valor, perante juiz de direito. O juízo prevento seria o titulado pelo pretor, mas como a competência é absoluta do menos para o mais, e, pois, não pode o juiz temporário julgar causa de maior valor, é afastada a prevenção, e ao juiz de direito cabe o julgamento das causas conexas.
“Tem-se afirmado que a prevenção pressupõe as causas ainda em andamento, não sendo de cogitar-se desse instituto se uma delas se achar definitivamente julgada. Acontece que causas de variada natureza são conexas com outras, já encerradas, admitindo-se a distribuição por dependência prevista no art. 253 do CPC como se fossem ‘acessórias’ de outras anteriormente decididas e aplicando-se, então, o art. 108 do CPC. São os casos, por exemplo, da ação declaratória da nulidade de partilha judicial, da pauliana para anular partilha amigável, da tendente a promover a partilha do patrimônio de concubinos se reconhecida a sociedade de fato em ação declaratória anterior, da de sonegados, etc. Temos para nós que não há entre estas ações e as anteriores relação de acessório para principal, mas sim conexão, uma vez que, umas e outras correspondentes, são, todas, ‘principais’”. (Carvalho, 1995, p. 95)
6 DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA
Art. 112 do CPC: “Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa”.
Art. 113 do CPC: “A incompetência absoluta deve ser declarada de ofício e pode ser alegada, em qualquer tempo e grau de jurisdição, independentemente de exceção.
§ 1º Não sendo, porém, deduzida no prazo da contestação, ou na primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos, a parte responderá integralmente pelas custas.
§ 2º Declarada a incompetência absoluta, somente os atos decisórios serão nulos, remetendo-se os autos ao juiz competente”.
Art. 114 do CPC: “Prorroga-se a competência, se o réu não opuser exceção declinatória do foro e de juízo, no caso e prazos legais”.
“As causas cíveis serão processadas e decididas, ou simplesmente decididas, pelos órgãos jurisdicionais, nos limites de sua competência” (CPC, art. 86).
A competência é, portanto, pressuposto da regularidade do processo e da admissibilidade da tutela jurisdicional.
É sabido que o primeiro dever do juiz, quando recebe a inicial de uma ação, é verificar se é ou não o competente (em critérios absolutos) para tomar conhecimento da causa. Caso admitida a competência, não se faz necessário pronunciamento expresso dessa autoridade judiciária. O reconhecimento é feito de maneira implícita, pelo deferimento da inicial.
De outra banda, entretanto, se esta competência for posta em dúvida pela parte, deverá o juiz pronunciar-se expressamente sobre o reconhecimento.
Há, assim, duas espécies de reconhecimento da competência pelo próprio juiz: a espontânea (que ordinariamente é de forma tácita); e a provocada (que deve ser expressa).
Pode ocorrer, também, de o próprio juiz entender-se incompetente (no caso de competência absoluta). Deverá, então, declarar expressamente que não tem ele a parcela de jurisdição necessária para legitimar sua atuação no feito.
As controvérsias em torno da competência podem ser solucionadas por meio de três incidentes,

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