Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Fisiologia da Lactação e Composição do Leite Materno Hormônios da Lactação Prolactina – esse hormônio atua nas células alveolares, fazendo com que produzam o leite, especialmente a proteína. Os níveis de prolactina são proporcionais à sucção quatro dias após o parto, pois antes desse período o leite é produzido independentemente do estímulo da sucção. A sucção é um importante estímulo para a produção de prolactina. Dessa forma, as técnicas corretas para fazer com que o bebê sugue adequadamente são fundamentais. Por volta dos três meses de lactação, a sucção diminui os níveis de prolactina, há uma diminuição do efeito, mas a produção de leite se mantém nas proporções anteriores e os níveis de prolactina atingem picos mais baixos no período mais avançado a amamentação. Essa situação fisiológica pode ser transportada para o manejo do aleitamento materno, quando se observa que o período de maior vulnerabilidade para o desmame é entre 1 mês e 3 meses; período que exige maior atenção e cuidados quanto às técnicas de amamentação. O fator inibidor de prolactina (PIF) liberado pelo hipotálamo controla a produção de prolactina pela hipófise e parece ser controlado pelas catecolaminas. Dessa forma, fármacos ou eventos que diminuem as catecolaminas também diminuem o PIF e, consequentemente aumenta os níveis de prolactina. A progesterona é considerada o principal hormônio inibidor da prolactina. O declínio dos níveis plasmáticos de progesterona é considerado o desencadeador do Estágio II da lactogênese. O estrogênio também tem efeito negativo na lactação, uma vez que é antagonista da prolactina, inibindo a secreção de leite. Os níveis de prolactina mantêm o ritmo circadiano durante a lactação, com níveis mais elevados durante a noite. Ocitocina – com o mesmo estímulo de sucção por meio de receptores neurossensitivos, a hipófise posterior libera ocitocina, que vai atuar nas células mioepiteliais que circundam as células alveolares, contraindo-as. Dessa forma, o leite dentro das células alveolares vai ser ejetado para dentro dos ductos lactíferos. Esse é o reflexo da ejeção do leite. Na maior parte das vezes, a dificuldade de se ter a apojadura ou descida do leite nos primeiros dias após o parto deve-se à falta de adequado estímulo desse hormônio. A ocitocina atua na musculatura do útero, contraindo-a. Por esse motivo a mãe que amamenta terá a involução do útero mais rápida. A ansiedade ou a angústia da mãe pode prejudicar a ação da ocitocina. Na maior parte das vezes, as dificuldades de amamentar estão relacionadas a esse aspecto do processo, pois o problema com a produção de leite são menos imediatos dos que os da saída do leite. Entretanto, a não saída do leite ou esvaziamento adequado da mama secrete menos leite dando início a parada total da produção. A ocitocina também pode ser liberada por outros estímulos, como: - visuais; - táteis; - olfatórios; - auditivos. Ao contrário a prolactina que não é estimulada por outras vias. Por esses aspectos, o profissional de saúde deve estar seguro de que as maiores partes das dificuldades no processo de amamentação que poderiam estar ligadas à fisiologia estão associadas à secreção de ocitocina, a qual é mais fácil de ser manejada e controlada, desde que a mãe receba orientação e apoio adequados. O processo de lactação é dinâmico, e por isso é necessário que os reflexos de produção do leite (prolactina) e da ejeção (ocitocina) ocorram de maneira simultânea e harmônica. Outros hormônios estão envolvidos no processo de lactação, como a insulina, os glicocorticoides, os corticoides. Características Gerais da Composição do Leite Materno Colostro – o leite secretado nos primeiros dias após o parto até cerca de uma semana, é denominado colostro. O colostro é um líquido amarelado e espesso com alta concentração proteica, e menos lactose e gordura, quando comparado ao leite maduro. Caracteriza-se por uma secreção que contem resíduos de materiais celulares presentes na glândula e nos ductos na ocasião do parto e por ser rica em glubulinas. O teor de proteínas compõe-se de proteínas não-nutricionais, ou seja, proteínas relacionadas aos aspectos imunológicos. Essa composição é coerente com as necessidades prementes do RN, que necessita muito mais de proteção para essa fase extra-uterina. Composição do Colostro - menos teor energético, 67 kcal/dL; - volume varia de 2 a 20 ml por mamada, nos três primeiros dias; - o conteúdo de cinzas é alto; - as concentrações de Na, K, Cl e zinco são maiores nos primeiros dias de lactação; - as vitaminas lipossolúveis A, E e carotenoides (responsáveis pela cor amarela do colostro) são presentes em altas concentrações; - as concentrações de imunoglobulinas são altas (IgA, IgM, IgG); Especialmente as IgAs sofrem queda acentuada do 1º ao 3º dia de lactação, por esse motivo é importante que a criança receba colostro nas primeiras 48h, nem que seja em pequenas quantidades. O conteúdo elevado de anticorpos presentes nesse estágio da lactação confere proteção contra bactérias e vírus que estão presentes no canal de parto, associadas a outros contatos humanos. A composição do colostro, principalmente graças à presença do fator bífido, é responsável pelo crescimento da flora bacteriana especifica caracterizada pela presença de Lactobacillus bifidus. O colostro também facilita a eliminação do mecônio (primeiras fezes do bebê). Atribui-se a esse leite propriedades anti-inflamatórias, uma vez que ele interfere nas atividades enzimáticas dos leucócitos polimorfonucleares. Fatores celulares estão presentes no colostro em grandes proporções, especialmente os polimorfonucleares, os macrófagos, os linfócitos T e os linfócitos B. Leite Maduro – do 7º ao 10º dia ou até duas semanas, é chamado leite de transição e, a partir desse período, denomina-se leite maduro. O leite maduro, ou seja, o leite propriamente dito apresenta composição mais estável a partir do 15º dia após o parto, a qual será apresentada a seguir. Proteínas - varia de 1,2 a 1,5 g/dL, adequada a velocidade de crescimento do lactente; - representada por 60% de proteínas do soro e 40% de caseína, no colostro essa relação chega a ser de 90% e 10%, respectivamente, devido à presença das proteínas não- nutricionais; - o leite materno apresenta quantidades suficientes de cistina e, portanto, não precisa produzi-lo a partir de metionina, economizando essa etapa. Carboidratos - possui 7,0 g/dL de lactose, sendo este carboidrato mais expressivo; - 0,8% de oligossacarídios que, na presença de peptídios, vai formar o fator bífido. Este, em um meio rico em lactose, vai produzir ácidos láctico e succínio, diminuindo o ph intestinal e tornando o meio desfavorável à proliferação de enterobactérias. Assim a lactose, além do papel nutricional, também exerce papel protetor para o lactente. Lipídio - o componente energético mais importante do leite humano; - 3,5 g/dL, 97% constituído de triglicerídeos e quantidades pequenas de fosfolipídios, colesterol e ácidos graxos livres. Minerais e Oligoelementos - apesar de se apresentarem em menores quantidades atendem as necessidades dos lactentes e não sobrecarregam o metabolismo deles. Um exemplo disso é a carga osmótica renal que o leite humano exerce (em torno de 9,0 mOsm), enquanto o leite de vaca exerce carga três vezes maior (27,0 mOsm). Assim, a criança que é amamentada exclusivamente ao peito não necessita de água. - a quantidade de ferro no leite materno é pequena, mas de alta biodisponibilidade, o que o torna suficiente para as necessidades do lactente; Vitaminas - todas as vitaminas estão presentes em quantidades suficientes para atender as necessidades do lacte, exceto a vitamina D; - acredita-se que o efeito sinérgico da lactose sobre o metabolismo de cálcioe vitamina D seja responsável pela adequação da vitamina D no organismo. Imunoglobulinas - todas as classes de imunoglobulinas estão presentes no leite materno. - IgA – a principal imunoglobulina presente nas secreções externas, encontra-se predominantemente em forma dimérica, constitui 90% de todas as imunoglobulinas presentes no colostro e no leite. São resistentes às mudanças de ph e à digestão enzimática, propriedade que é importante no seu papel de protetora da mucosa intestinal, estão em quantidades de 1.740 mg/dL e 200 mg/dL no colostro e no leite maduro respectivamente. - IgM e IgG – aparecem em menores quantidades, sendo mais altas no colostro em comparação com o leite maduro. Variações na Composição do Leite A principal variação biológica do leite materno é aquela que ocorre durante a mamada, em que o leite que sai no início; chamado de anterior, é mais aquoso, pois contém menos gordura e, consequentemente menos calorias. Desse modo, deve-se garantir que a criança esvazie uma mama a cada mamada, para receber o leite posterior, que tem maior quantidade de gordura e, portanto, mais energia. Foi demostrado que, dependendo do período do dia, há diferenças na composição do leite. As principais alterações encontradas foram relativas a lactose e gordura. Esta se mostrou mais concentrante no período da manhã. A prematuridade também é determinante de alterações na composição química do leite materno. Foram encontrados níveis mais elevados de proteínas, representadas especialmente pelos fatores de defesa do leite, Na, Cl e ácidos graxos de cadeia curta, além de menos concentração de lactose no colostro de mães que tiveram filhos prematuros. Essas diferenças são justificadas pela maior presença de via paracelular nos alvéolos. A transferência de nutrientes para o leite materno é feita por duas vias, a via paracelular e a via transcelular. Em condições de desnutrição materna, as alterações que podem ocorrer no leite secretado dependem do grau e do tipo de desnutrição. A produção de leite constitui um mecanismo complexo, pelo qual os fatores nutricionais interagem com as influências estruturais, hormonais e comportamentais. Ocorrem adaptações no organismo materno para sustentar a lactação, tais como diminuição do gasto energético dos tecidos, aumento da absorção intestinal, níveis mais altos de prolactina, maior eficiência enzimática e economia no curto celular para produção e secreção de nutrientes no leite materno. Essas modificações fisiológicas justificam a manutenção da amamentação em mães desnutridas ou com dietas de baixo valor nutricional, sem que haja maior prejuízo nutricional para a mãe por estar amamentando. As concentrações dos macronutrientes (gordura, proteínas e lactose) do leite materno não são alteradas, porém há menor produção de volume diário. Os níveis de algumas vitaminas, como vitamina C, A, tiamina e B12 no leite secretado, são rapidamente afetados na vigência de dietas deficientes. A suplementação pode restabelecer as concentrações no leite rapidamente. Em relação a vitamina A o ministério da saúde (2005) lançou portaria para suplementação de uma dose de 200.000UI no momento da alta hospitalar, acompanhando a recomendação OMS para países em que há deficiência de vitamina A. Outros componentes menos afetados são folato, ferro, vitamina D, cobre e zinco, já que a ingestão e as reservas desses nutrientes interferem pouco nos níveis do leite produzido. Uma condição deve ser observada com cuidado é a da nutriz adolescente em relação ao cálcio. Foi demonstrado que essas mães tem menos concentração de cálcio no leite quando comparadas com as mulheres adultas. Essa vulnerabilidade foi confirmada nas novas recomendações nutricionais, já que a recomendação de cálcio para a nutriz adolescente (1300mg) é maior do que a da nutriz adulta (1000mg). Apesar das alterações encontradas no leite de mulheres desnutridas ou com deficiências nutricionais, ressalta-se que o liete materno é sempre recomendado para a criança, com exceção da mãe HIV positiva, no caso do Brasil. Há evidencias de que em países em desenvolvimento observou-se curva de crescimento satisfatória em filhos de mães desnutridas que foram submetidos à amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses de vida, sem sinais de carências nutricionais. Essas considerações exigem estudos mais aprofundados dos processos bioquímicos envolvidos na produção de leite, mas pretendem alertar o profissional da saúde de que, em situações de desnutrição do lactente, é bem provável que as técnicas de amamentação estejam inadequadas, pois dificilmente a situação dietética ou nutricional da mãe vai prejudicar a qualidade do leite materno.
Compartilhar