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FISIOPATOLOGIA DA TUBERCULOSE Microbiologia: • Maioria dos casos: Mycobacterium tuberculosis o É uma bactéria álcool-ácido resistente (BAAR) • Outras espécies do complexo M. tuberculosis: Mycobacterium bovium ou caprae • Bactérias atípicas (não pertencentes ao complexo M. tuberculosis): Mycobacterium do complexo avium (importante em pacientes imunodeprimidos por HIV), bactérias relacionadas a cirurgias plásticas/ trocater de lipoaspiração/ prótese OBS.: Tuberculose pode infectar desde o olho até ossos e urina, mas o local mais frequente é no pulmão Infecção pela tuberculose: Tuberculose ou TB se dissemina através do ar de uma pessoa para outra.Quando uma pessoa que tem infecção pulmonar ativa por TB tosse, as micobactérias se disseminam para o ar por meio de gotículas de aerossóis e ficam suspensas no ar por várias horas, tornando possível que outra pessoa aspire a bactéria. Os aerossóis contendo micobactérias entram nos alvéolos/ saco alveolar, a bactéria começa a se multiplicar, o sistema imune é ativado e os macrófagos pulmonares começam a fagocitar as micobactérias para evitar que elas se espalhem → forma- se o granuloma. A função do granuloma é evotar que a micobactéria se espalhe e essa estrutura pode se manter por semanas, anos, etc. A progressão para doença ativa ocorre quando o granuloma se rompe. Quando a barreira do granuloma se rompe, a micobactéria é liberada, podendo se disseminar, atingir o pulmão e causar a TB pulmonar. Em alguns, pode haver disseminação hematogênica, acometendo outros órgãos (TB miliar/ disseminada). OBS.: Vídeo para entender como ocorre a infecção https://www.youtube.com/watch?v=q9GDRozsIBM OBS.: Baciloscopia varia de 0 a 4+. Indivíduos bacilíferos são aqueles em processo de infecção ativa que eliminam bacilos na expectoração, são a principal fonte de infecção. CICLO DE TRANSMISSÃO DO MYCOBACTERIUM TUBERCULOSIS 1. Aerossolização – indivíduo tem que ter TB em atividade para transmitir. a. Exposiçaõ ao M. tuberculosis depende de: - número de casos de infecção naquela região - contato com casos infecciosos - extensão da infecção: acometimento do pulmão inteiro, apenas um lobo, etc. - duração da infecciosidade: quanto mais tempo sendo bacilífero, maior o risco de transmissibilidade - fatores ambientais: ventilação, umidade, luz ultravioleta → reduzem carga de aerossois no ambiente 2. Aspiração de aerossóis 3. Dependendo da força da infecção, pode haver uma infecção primária ou reinfecção (quem já teve TB, pode pegar outras vezes ou reativar uma TB que estava latente) 4. Reinfecção → TB ativa ou latente a. Latente: aspirei os aerossóis, formou o granuloma, TB não está ativa. i. Pode haver tratamento para evitar a ativação ou resolução espontânea. 5. Indivíduos que nunca estiveram infectados ou que já tenham sido previamente infectados podem ter TST/PPD ou IGRA positivo 6. Quem entrou em contato com M. tuberculosis pode ter uma infecção estabelecida ou eliminar precocemente (antes que a resposta sistema imune adaptativa se estebeleça) Teste para verificar contato com TB • TST ou PPD – intradermoreação com neufilisado de proteínanas de Mycobacterium bovis na pele do paciente e espera-se 72 hrs para ver se houve reação celular (formação de pápula). Verifica-se o diâmetro da pápula para ver se há infecção latente ou não: se acima de 10 mm (pacientes imunocompetentes) ou acima de 5 mm (pacientes HIV), significa que já teve contato com a TB e é indicado o tratamento. https://www.youtube.com/watch?v=q9GDRozsIBM Se der 5 mm de diamêtro em um ano e no ano seguinte 10 mm significa que houve um viragem (se não tinha antes, agora você tem TB). • IGRA (Interferon Gamma Release Assay) – reação laboratorial de linfócitos no sangue. Coleta-se o sangue do paciente para ver se os linfócitos reagem contra o antígeno. Se der negativo, nunca teve TB, e se der positivo, os linfócitos já conhecem. Teste não disponível na rede pública. Processo dinâmico da tuberculose • A progressão/ regressão da TB depende do status imunológico do indivíduo e de fatores como: desnutrição, imunodepressão, transplantados, infecção prévia por TB. • Processos: 1. Eliminação de infecção: eliminação pela resposta imune inata (antes de fazer resposta celular – todos os exames de células são negativos) ou eliminação através da resposta imune adquirida/ celular (IGRA e PPD são reagentes, mas não tem complexo de Ghon/ granuloma à radiografia) 2. Formação de granuloma: o Infecção latente: PPD/ IGRA reagente e resposta celular/ humoral, terapia preventiva é indicada (rifampicina – 4 meses ou isoniazida – 6 meses) o Infecção subclínica: poucos bacilos disseminando para o pulmão e podem aerossolizar, ponto chave para começar a tratar, dificilmente pega o paciente nessa fase (normalmente já encontramos tossindo), não acomete outros órgãos. PPD/ IGRA positivo, cultura do escarro pode estar positivo ou não. Esfregaço da expectação (pesquisa de BAAR) é geralmente negativo (baixa quantidade de bacilos). o Infecção ativa: PPD/Igra são usualmente positivos OBS.: PPD positivo confirma e negativo não afasta a hipótese de TB → deve-se avaliar o status imunológico do paciente ▪ Disseminação broncogênica (árvore em brotamento na tomografia, micobactéria se replicando no final do brônquio, aspecto de algodão) → paciente pode escarrar/ aerossolizar ▪ Imunodeprimidos graves (HIV e transplantados), não fazem resposta imune celular, PPD pode estar negativo mesmo com a doença em atividade ▪ Disseminação hematogênica/ tuberculose miliar – tomografia aparece aspecto de areia, várias bolinhas, paciente pode ter escarro negativo (a infecção está longe dos brônquios). Tuberculose latente: • Algumas pessoas são naturalmente resistentes à tuberculose o Mesmo entre contactantes íntimos de pacientes com TB pulmonar, cerca de 50% dos indivíduos expostos tem PPD negativo ▪ Predisposição genética – pode haver presença de modificação dos receptores, a TB não consegue se encaixar e ser reconhecida, e se for reconhecida, há imunoglobulinas da imunidade primária suficientes para conseguir eliminar. o Alguns indivíduos não chegam nem a estabelecer a 1ª infecção • Passo a passo: a. Inalação de M. tuberculosis b. Translocação para o trato respiratório – SEMPRE há passagem pelo pulmão c. Macrófagos alveolares são as principais células infectadas d. Internalização de M. tuberculosis por fagocitose mediada por receptor i. Se não tiver receptor, não há reconhecimento ii. Alguns indivíduos apresentam a proteína D do surfactante (microambiente alveolar) → pode prevenir a fagocitose, ou seja, não há formação de granuloma e não há instalação da infecção. e. Bloqueia a fusão do fagossomo com o lisossomo, assegurando sua sobrevivência → TB persiste ao impedir a sequência da fagocitose que visa promover a morte intracelular do parasito f. Ruptura da membrana do fagossomo, causando liberação de produtos micobacterianos, incluindo DNA no citosol (por isso podem ser feitos testes de biologia molecular, reação em cadeia de polimerase – PCR) • Dentro do ambiente alveolar, o macrófoago alveolar fagocita a micobactéria (outras células que fagocitam: monócitos, células dendríticas) → migração pro linfonodo para iniciar o processo de infecção → ao migrar para o linfonodo, as células carregam a micobactéria → micobactéria pode ir parar no gânglio, ovário, ossos, etc. Quando sai do pulmão e cai no sangue, o 2ª local mais acometido pela TB é o gânglio. • A micobactéria pode ser fagocitado no alveola ou pode invadir diretamente o parênquima pulmonar. Quando invade o parênquima, ela é fagocitada pelos macrófagos, que são “obrigados” a carregar a micobactéria. O macrófago presente no alvéolo pode atingir o parênquima po diapese. Vários macrófagos juntos se unem para formar ogranuloma (emaranhado de células infectadas pela TB e monócitos ao redor dando a forma redonda do granuloma). • Vantagens da liberação de produtos bacterianos no citosol (após o rompimento da barreira do fagossomo pela TB): o Indução de resposta IFN tipo 1 → facilita o de crescimento de patógenos intracelulares o IFN atua como mais uma ferramenta de sobrevivência da micobactéria Granuloma • Centro necrótico – necrose caseosa → praticamente patognomônica de TB o Outra as infecções que podem gerar necrose parecida com caseosa linfoma difuso B pode mimetizar TB Tuberculose latente – granuloma: • Agregação de células epitelioides – macrófagos que sofreram transformação especializada para adquirir membranas celulares interdigitadas que se ligam às células adjacentes o São macrófagos especializados para fazer a contenção das micobactérias • Centro: fatores pró inflamatórios o Sistema imune tenta matar a micobactéria → há muita inflamação • Região do entorno do granuloma: fatores antiinflamatórios o Se inflama, rompe o granuloma e dissemina a micobactéria e faz doença ativa → por isso há fatores antiinflamatórios na periferia o Fatores antiinflamatórios fazem com que quase não haja lesão no tecido → paciente quase não tem sintomas (só tem sintomas quando o granuloma se rompe e aumenta o fluxo celular de defesa → lesão do parênquima) • Há pouca lesão tissular • As células gigantes multinucleadas ou células de corpo estranho – muito características da TB o Se a imune celular for forte – granuloma bem formado, necrose caseosa central e células gigantes/ se a imunidade celular não for tão forte – granuloma pode ser malformado • Granuloma para o hospedeiro e bactéria: o Hospedeiro: “prisão” bacteriana com o potencial de “isolar” a infecção do resto do corpo o Bactéria: coleção crescente de células fagocíticas para infectar e se replicar dentro delas Vários tipos de células são recrutadas 2 funções: - para a bactéria: vai servir para ela se replicar - para o organismo: mantém a infecção contida • M. tuberculosis infecta um macrófago e esse macrófago pode morrer. A micobactéria para outro macrófago e vão chamando outras células até formar umas cadeia de células epitelioides interdigitadas, o que facilita a sua sobrevivência e promove a contenção da infecção. • Células do granuloma podem morrer de 2 formas: o Apoptose – tentativa de inibir a replicação de micobactéria intracelular (incomum na TB) o Necrose – facilita a replicação extracelular de TB. Na necrose caseosa, se o paciente não recebeu nenhum tratamento, a chance de achar bacilo dentro do granuloma é grande. Tuberculose latente – imunologia • Quando a infecção primária é estabelecida e ocorre a formação do granuloma, as células dendríticas ou monócitos inflamados, transportam o M. tuberculosis aos linfonodos, levando à disseminação linfática e hematogênica → doença extrapulmonar ou disseminada (pode haver também um infecção localizada no ovário, por exemplo) • M. tuberculosis retarda ativamente a iniciação de células T, bem como o tráfego de células T no pulmão → quando há infecção primária estabelecida, pode haver disseminação e gerar uma infecção a distância sem ter apresentação pulmonar pelo retardo de células T, fazendo um chamariz imunológico no pulmão (pode haver só TB pleural, sem ter TB parenquimatosa, por exemplo → paciente não é bacilífero nesse caso, pois a infecção não está próxima do brônquios, não houve disseminação broncogênica) • HIV (sem TARV ou com CD4 < 200) reduz o número de células TCD4 → fator de risco para a progressão da TB, pois diminui a quantidade de células ao redor do granuloma • Há outros mecanismos imunológicos independentes de células T envolvidos na progressão da TB Progressão para TB ativa • Risco e vias crucias para o controle da infecção o HIV o Presença de TNF neutralizando anticorpos e dificultando a progressão da doença – pacientes em tratamento com drogas anti TNF precisam de investigação de TB latente prévia ao tratamento (se usar anti TNF com TB latente presente pode ser que a infecção dissemine e leve o paciente ao óbito) o Erros inatos da imunidade • Set point ideal de TNF para controle da infecção por M. tuberculosis o Ativação excessiva de TNF: piora a imunopatologia, doença fica muito ativada e a infecção local pode ser extremamente grave o Ativação insuficiente: leva à ausência de contenção imune, provavelmente por reduzir a capacidade microbicida dos macrófagos infectados → aumenta o número de bactérias *OBS: Imagem de Rx – caverna no pulmão → tem que fazer investigação para TB. Próximo ao granuloma, tem o sistema linfomononuclear e os linfodos. Quando o granuloma está bem formado, a doença está contida. Se houver desorganização do granuloma (administração de anti TNF, idade avançada, gravidez, uso de corticoide em dose imunossupressora, diabetes descompensada, etc), o granuloma se rompe e a doença se dissemina por todo o corpo. Mecanismo de Resistência do M. tuberculosis às Drogas: • 1ª resistência foi descrita em 1948 • Mutações genéticas o Modificação do alvo – centro de ligação da rifampicina na TB que impede a replicação de mycobacterium ▪ RNA polimerase mutante impede a atuação da rifampicina → há modificação do alvo da droga o Defeito enzimático para conversão da pró droga (isoniazida) em droga ativa ▪ Catalase mutante falha em ativar a isoniazida Teste de biologia molecular na TB • PCR (reação em cadeia de polimerase) em tempo real - método GeneXpert MTB/RIF, que detecta a presença do material genético do complexo Mycobacterium tuberculosis e a resistência à rifampicina em uma única reação. Exame de alta tecnologia, disposto em todas as Unidades Básicas de Saúde. • É capaz de identificar a modificação do RNA polimerase que gera a resistência à rifampicina (droga mais importante no tratamento da TB). É feito para todos os pacientes com hipótese de TB. • Coloca-se um solução que promove a liquefação no escarro do paciente → com a pipeta, pega 2 Ml da solução e coloca dentro da caixinha que é inserida no aparelho do MTB-RIF, que filtra, lava, faz lise ultrassônica para o separar DNA das células, adiciona sondas de PCR para ver se há reconhecimento do DNA de TB presente, ocorre amplificação do DNA • PCR – RNA polimerase divide o DNA e o amplifica para facilitar a leitura do exame
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