Buscar

Trabalho Leitura de Foucault

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

universidade do estado do rio de janeiro
centro de educação e humanidades
instituto de psicologia
curso de graduação em psicologia
HIstória da sexualidade 1: a vontade de saber
Direito de morte e poder sobre a vida
flávia dos santos de lacerda 
Angélica da graça frança
Trabalho apresentado à disciplina de Leitura de Foucault, ministrada pela professora Heliana Conde, para o curso de graduação em Psicologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Rio de Janeiro - RJ
JULHO/2019
Foucault, M. Direito de morte e poder sobre a vida. In: ______. História da sexualidade 1: a vontade de saber (1988). Rio de Janeiro: Graal, pp. 124-149, 1999. 
	Michel Foucault inicia o texto falando sobre o direito de vida e morte que o soberano tinha sobre o seus súditos colocando que este poder deve ser derivado do pátria potestas, o direito concedido ao patriarca da família romana sobre a vida de seus filhos e escravos - quem dá a vida pode tirá-la. 
 De acordo com os teóricos clássicos este poder foi limitado, o soberano poderia dispor sobre a vida de seus súditos, no caso em que se sentisse ameaçado por inimigos externos, ele pode entrar em guerra e pedir que os súditos defendam o estado, dispor a vida de forma indireta. Ou no caso, de forma direta exercer o poder sobre vida e morte, matando o súdito que ameaça o poder do monarca.
	O direito de causar morte era simbolizado pelo gládio e estava associado a um tipo de sociedade que se baseava no confisco de produtos, de serviços, de trabalho e de sangue imposto aos súditos.
	A partir da época clássica ocorreu uma mudança nos mecanismo de poder: ao invés de barrar e destruir forças, o objetivo passa a ser produzir forças e ordená-las. E o direito de morte se desloca para o direito de vida, o objetivo passa a ser ferir a vida. As guerras não são feitas para preservar o soberano, mas sim para garantir e manter a vida de uma população. Foucault observa que por uma ironia a partir do século XIX, as guerras ficaram mais sangrentas e apareceram as práticas de holocaustos sobre as próprias populações.
	Com essa mudança de foco, passa ser importante exercer um poder positivo sobre a vida, fazer sua gestão majoração, multiplicação, controle, regulação. Populações inteiras são levadas à destruição mútua em nome de viver. O poder se exerce em nome da vida, da espécie, da raça.
	Neste poder onde a vida está no centro, a pena de morte passa a ser aplicada apenas àqueles que representam perigo biológico para os outros. A morte é considerada o momento mais privado, onde se escapa do poder do Estado e, numa sociedade focada em gerir a vida, o suicídio passa a ser um contraponto, por isso vira tema de estudo. Émele Durkheim (2000), por exemplo, dedicou um livro ao estudo do suicídio como fato social, ou seja, realidades exteriores aos indivíduos que exerceriam pressões sobre os mesmos, sendo geral na extensão de uma dada sociedade. 
	O poder sobre a vida a partir do século XVII se desenvolve de duas formas: no controle do corpo e no controle biológico das populações. O controle do corpo como se fosse uma máquina, trabalhar sua disciplina, para que o corpo fique dócil e útil. O outro controle foi ao nível do corpo como espécie, o controle dos processos biológicos, a proliferação, os nascimentos e a mortalidade, o nível de saúde, a duração da vida, a longevidade. A regulação dos processos é feita por normas relacionadas a uma bio-política da população. Normas estas que ate hoje em dia estão presentes no nosso sistema de saúde, saneamento básico.
	O bio-poder foi fundamental para o desenvolvimento do capitalismo, a partir da inserção controlada do corpo nos mecanismo de produção e a adaptação dos fenômenos da população nos processos econômicos. O aparelho do Estado garantiu a manutenção das relações de produção a partir das instituições de poder, por outro lado, a disciplina do corpo e a bio-política utilizadas na família, exército, escola, polícia e medicina agiram como forma de sustentação das relações de produção, além disso, operaram como forças de segregação e hierarquização social, garantindo as relações de domínio.
Dentro da perspectiva da vida como objetivo do poder pode se entender a importância do sexo na disputa política. Ele faz parte da disciplina dos corpos: adestramento, intensificação e distribuição das forças, ajustamento e economia das energias. E também faz parte da regulação das populações. O sexo é acesso, ao mesmo tempo, à vida do corpo e à vida da espécie (matriz da disciplina e princípio das regulações). 
 Devido à importância do sexo foram desenvolvidas políticas de controle: a sexualização da infância como forma de saúde da raça, sexualidade precoce foi apresentada como risco de comprometer a saúde futura do adulto; a histerização das mulheres, medicalização dos seus corpos, em nome da responsabilidade do corpo feminino perante a família; o controle da natalidade e a psiquiatrização das perversões.
Numa sociedade da sexualidade os mecanismos do poder se dirigem ao corpo, à vida, ao que a faz proliferar, ao que reforça a espécie, seu vigor, sua capacidade de dominar, ou sua aptidão para ser utilizada. Saúde, progenitura, raça, futuro da espécie, vitalidade do corpo social, o poder fala da sexualidade e para a sexualidade; quanto a esta, não é marca ou símbolo, é objeto e alvo.
Foi a psicanálise que colocou sob suspeita os mecanismos de poder que controlam o cotidiano da sexualidade; por isso, Sigmund Freud dá a sexualidade a lei como princípio, a lei da aliança, da consanguinidade interdita, do Pai-Soberano, em suma, para reunir em torno do desejo toda a antiga ordem do poder. A isto a psicanálise deve o fato de ter estado em oposição teórica e prática ao fascismo. Antes de Freud, procurava-se localizar a sexualidade da maneira mais estreita: no sexo, em suas funções de reprodução, em suas localizações anatômicas imediatas; era restringida a um mínimo biológico — órgão, instinto, finalidade. Existia uma sexualidade sem sexo, a castração.
Ao longo que se desenvolveu o dispositivo de sexualidade, a partir do século XIX, aparece a ideia que existe algo mais do que corpos, órgãos, sensações, prazeres; algo diferente, algo que possui suas propriedades intrínsecas e suas leis próprias: o "sexo". 
No processo de histerização da mulher, o "sexo" foi definido de três maneiras: como algo que pertence em comum ao homem e à mulher; ou como o que pertence também ao homem por excelência e, portanto, faz falta à mulher; mas, ainda, como o que constitui o corpo da mulher, ordenando-o inteiramente para as funções de reprodução. 
Na sexualidade da infância cria-se a ideia do sexo presente por causa da anatomia e ausente pela fisiologia, presente na atividade e deficiente na função reprodutora. Existe então um jogo de presença e ausência, representando muito bem pela masturbação, manifesto e oculto. 
Na psiquiatrização das perversões, o sexo foi referido a funções biológicas que apresentam a sua finalidade. O sexo também a um instinto que, a partir do seu desenvolvimento e de acordo com seus objetos de vínculo, torna possível surgir estruturas perversas. A fixação do instinto a um objeto inadequado biologicamente.
 E por fim o sexo é representado a partir de uma lei da realidade e uma economia de prazer, a partir do coito interrompido, onde o real obriga a finalizar o prazer e este ainda consegue se manifestar, apesar da economia obrigatória posta pelo real, pela lei da realidade. O dispositivo de sexualidade instaura essa ideia do sexo e este aparece sob estas quatro formas: da histeria, do onanismo, do fetichismo e do coito interrompido. A partir do princípio e da falta, da ausência e da presença, do excesso e da deficiência, da função e do instinto, da finalidade e do sentido, do real e do prazer. Assim, formou-se pouco a pouco a armação de uma teoria geral do sexo. 
Essa teoria fez exercer certo número de funções no dispositivo sexualidade que a tornaram indispensável, dais quais destacam-se três mais importantes. A primeira seria a função de noção de sexo:agrupando elementos anatômicos, funções biológicas, prazeres e sensações, fazendo funcionar essa unidade fictícia, que seria o sexo, como um princípio causal. O sexo pôde funcionar como significante único e como significado universal. A segunda função viria do sexo apresentado unitariamente como anatomia e falha, função e latência, instinto e sentido, marcando a linha de contato entre um saber sobre a sexualidade humana e as ciências biológicas da reprodução, onde aquele ganhou um ar de quase cientificidade, porém alguns conteúdos da biologia e da fisiologia puderam servir de princípios de normalidade à sexualidade humana. Como terceira função, temos a reversão essencial que a noção de sexo garantiu: inverter a representação das relações entre o poder e a sexualidade; sexualidade não mais aparecendo em uma relação essencial e positiva com o poder (o poder a possuindo para gerir e controlar a vida, tanto em disciplina quanto em controle de população), mas sim ancorada em um lugar especifico e irredutível, que o poder tenta sujeitar. A noção do sexo permite pensar o poder apenas como lei e interdição.
O sexo que nos pareceria, então, uma instância que parece dominar, coisa que fascina pelo poder que manifesta e pelo sentido que oculta, que nos revelaria e nos libertaria, na verdade seria só um ponto ideal tornado necessário pelo dispositivo da sexualidade e por seu funcionamento. Sexo é o elemento mais especulativo, mais ideal e interior, num dispositivo de sexualidade que o poder organiza em suas captações dos corpos, sua materialidade, suas forças, energias, sensações, prazeres.
O sexo ainda exerce outra função: ponto imaginário fixado pela sexualidade que todos devem passar para ter acesso à sua própria compreensibilidade (já que seria um elemento oculto e ao mesmo tempo produtor de sentido), à totalidade de seu corpo (sexo é parte real e ameaçada deste corpo) e à sua identidade (alia a força de uma pulsão à singularidade de uma história).
Foucault diz que essa inversão da noção de sexo começou há muito tempo: quando procuramos nossa compreensibilidade naquilo que foi considerado loucura; plenitude do nosso corpo naquilo que já foi considerado estigma e ferida; nossa identidade naquilo que se percebia como obscuro impulso sem nome. A partir dessa inversão já feita, vem a importância que atribuímos ao sexo, o temor acerca disso e a preocupação que temos de conhecê-lo.
A partir dessa importância atribuída ao sexo, colocada em nós pelo dispositivo da sexualidade, foi inscrita em nós a tentação de trocar a vida inteira pelo próprio sexo, pela verdade e a soberania do sexo. O sexo vale a morte. Assim como no Ocidente, a partir do descobrimento do amor, a este foi concedido bastante valor para tornar a morte aceitável, o sexo hoje ocuparia esse lugar de valor. Enquanto o dispositivo de sexualidade permite às técnicas de poder investirem sobre a vida, o ponto fictício do sexo exerce bastante fascínio sobre cada pessoa para se aceitar nele gritar a morte.
A partir da criação do elemento imaginário que é "o sexo", o dispositivo de sexualidade suscitou um de seus princípios internos mais essenciais: o desejo do sexo. O dispositivo de sexualidade fez do sexo desejável. Este fator desejável é o que nos provoca a conhecê-lo, descobrir sua lei e seu poder. Esse fator do desejo nos faz acreditar que vamos contra todo o poder ao perseguirmos os direitos de nosso sexo, quando na verdade, o fator do desejo nos vincula ao dispositivo da sexualidade, ao dispositivo de poder, pois este fez surgir, no fundo de nós mesmos, uma miragem onde acreditamos nos reconhecer.
Assim, Foucault chama a atenção para o fato do sexo se encontrar na dependência histórica da sexualidade, e não seria a história da sexualidade referenciada ao sexo; o sexo não é o lado real e a sexualidade ideias confusas, mas a sexualidade é uma figura histórica muito real e ela fez surgir a noção do sexo; não devemos acreditar que dizendo sim ao sexo, estamos dizendo não ao poder, ao contrário, se está seguindo a linha do dispositivo geral da sexualidade. Para se opor e resistir às captações do poder, para agir contra o dispositivo de sexualidade, o ponto de apoio do contra-ataque não deve ser o sexo (e seu desejo de conhecê-lo), mas os corpos e os prazeres, devemos nos libertar da instância do sexo para atacar a ideia deste, e assim, libertar-nos do dispositivo de poder.
Foucault finaliza pensando sobre as várias movimentações e estudos acerca do sexo e ironiza o fato de, futuramente, as pessoas olharem para os estudos acerca do sexo e acharem graça do enorme esforço para se trazer "à tona" o segredo do sexo, quando os nossos discursos, nossos hábitos, instituições, regulamentos, já o traziam à plena luz. Ele se pergunta de onde deve ter vindo tamanha presunção visto que nos atribuímos o mérito de termos emprestado ao sexo a importância que dizemos ter e nos glorificado de termos o liberado de um tempo de repressão (ascetismo cristão prolongado). Esboça que hoje podemos ver, na verdade, ao invés de uma censura dificilmente suprimida, a ascensão de um dispositivo complexo para nos fazer falar de sexo, lhe dedicando nossa atenção e preocupação, nos fazendo acreditar na sua soberania, quando estamos sendo atingidos pelos mecanismos de poder da sexualidade.
Ele diz que evoca-se com frequência os inúmeros procedimentos pelos quais o cristianismo antigo nos teria feito detestar nosso corpo como forma de afirmar que o sexo sempre fora reprimido. Foucault, então, nos faz pensar nas astúcias pelas quais, há séculos atrás, nos fizeram amar o sexo, tornando-o desejável para nós conhecê-lo e precioso tudo o que se diz a seu respeito. A ironia desse dispositivo bem arquitetado é que é preciso acreditarmos que nisso está nossa "liberação".
Referências:
Durkheim, E. O suicídio: Estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

Continue navegando