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A cicatrização de lesões (ou feridas) é uma expressão clara de uma intrincada e rigorosamente organizada sequência de respostas bioquímicas e celulares direcionadas a restaurar a integridade do tecido e a sua capacidade funcional após a lesão. Embora a cicatrização ocorra na maioria dos casos sem intercorrências, uma variedade de fatores intrínsecos e extrínsecos pode impedila ou facilitála. Um melhor entendimento desse processo em diversos níveis – bioquímico, fisiológico, celular e molecular – permite ao cirurgião adotar procedimentos clínicos voltados para a otimização do mecanismo de cicatrização, bem como, e com a mesma importância, avaliar crítica e precisamente a utilização de uma série de métodos biológicos que procuram assistir a cicatrização ao modularem de maneira favorável o microambiente da ferida. 130$&440_%&_$*$"53*;"�}°0 A restauração da integridade tecidual, se iniciada por trauma ou cirurgia, é uma resposta de defesa filogeneticamente primitiva, porém essencial. Organismos lesados sobrevivem somente se forem capazes de se regenerar de modo rápido e eficaz. A resposta de cicatrização depende primariamente do tipo de tecido envolvido e da natureza do tecido lesado. A regeneração ocorrerá quando a restituição acontecer por meio de tecido sem distinção estrutural e funcional do tecido de origem. Entretanto, quando a integridade tecidual for restabelecida inicialmente por meio da formação de tecido fibrótico, haverá o processo de reparo. Reparo por cicatrização é a versão do corpo para os pontos de solda, e o tecido de substituição é grosseiro e tem menor quantidade de células quando comparado ao tecido de origem. Com exceção do tecido ósseo e do fígado, a ruptura do tecido resulta em reparo em vez de regeneração. No nível celular, o padrão e a qualidade do tecido fibrótico dependem de quanto as células constituintes são lábeis, estáveis ou permanentes. Células lábeis, que incluem os queratinócitos da epiderme e as células epiteliais da mucosa oral, dividemse durante todo o seu ciclo de vida. Células estáveis, como os fibroblastos, exibem baixa velocidade de duplicação, mas podem sofrer rápida proliferação em resposta à lesão (p. ex., a lesão óssea estimula as células mesenquimais pluripotenciais a se diferenciarem rapidamente em osteoblastos e osteoclastos). Já as células permanentes, como os nervos especializados e as células do músculo cardíaco, não se dividem durante a vida pósnatal. A expectativa do cirurgião para uma “cicatrização normal” deve ser realista e baseada nas capacidades inerentes do tecido lesado. Enquanto a cicatriz fibrosa é considerada normal como cicatrização de lesões na pele, o mesmo tipo de cicatriz é visto como regular em relação à cicatrização óssea. Em nível macroscópico, a qualidade da resposta de cicatrização é influenciada pela natureza da ruptura do tecido e pelas condições para o fechamento da lesão. Quando uma laceração asséptica ou uma incisão cirúrgica é fechada inicialmente com suturas ou outros métodos e a cicatrização acontece sem deiscência e com mínima formação de cicatriz, tratase da cicatrização por primeira intenção. Se as condições forem um pouco menos favoráveis, a cicatrização da lesão é mais complicada, por meio do preenchimento lento do defeito tecidual com tecido de granulação e conjuntivo, o processo é chamado cicatrização por segunda intenção, comumente associado a lesão avulsiva, infecção local ou fechamento inadequado da lesão. No caso de lesões mais complexas, o cirurgião pode tentar promover a cicatrização por terceira intenção, por meio de um procedimento dividido que combina a cicatrização secundária com fechamento primário tardio. A lesão avulsiva ou contaminada é curetada e reservada para a formação do tecido de granulação e cicatrização por segunda intenção durante 5 a 7 dias. Uma vez formado um adequado tecido de granulação e o risco de infecção fica aparentemente mínimo, a lesão é suturada para que haja a cicatrização por primeira intenção. 3&41045"_%&_$*$"53*;"�}°0_%"_-&4°0 Qualquer forma de lesão desencadeia uma complexa série de processos estritamente organizados e concomitantes de modo temporário com o objetivo de restaurar a integridade do tecido envolvido. Os processos reparadores são mais comumente demonstrados na pele1; contudo, padrões de eventos bioquímicos e celulares ocorrem em praticamente todos os outros tecidos.2 Para facilitar tal descrição, a sequência de cicatrização, caracterizada pela coagulação, inflamação, reepitelização, tecido de granulação e remodelação da matriz e do tecido, é em geral dividida em três fases distintas simultâneas: inflamatória, proliferativa e remodelação.3,4 'BTF_JOoBNBUOSJB Ocorre antes da resposta reparadora do organismo e dura, em geral, de 3 a 5 dias. A vasoconstrição é a resposta tecidual espontânea para estancar a hemorragia. Trauma tecidual e hemorragia local ativam o fator XII (fator de Hageman), que inicia vários efeitos da cascata do processo de cicatrização, como o complemento, o plasminogênio, as cininas e os sistemas coagulantes. Plaquetas circulantes (trombócitos) agregamse rapidamente no local da lesão aderindo tanto umas às outras quanto ao colágeno exposto da região subendotelial dos vasos sanguíneos para formar uma agregação plaquetária primária organizada no interior de uma matriz fibrosa. O coágulo garante a hemostasia e dá início à matriz provisória por meio da qual as células podem migram durante o processo de reparo. Adicionalmente, o coágulo serve como um reservatório de citocinas e fatores de crescimento liberados como plaquetas ativadas degranuladas. Uma mistura de proteínas secretadas, o que inclui interleucina, fatores modificadores de crescimento β (TGFβ), fatores de crescimento derivados das plaquetas (PDGF) e fator de crescimento endotelial vascular (VEGF), mantém a lesão e regula o processo de cicatrização subsequente.1 Com a hemostasia controlada, a vasoconstrição reativa é substituída por um período mais persistente de vasodilatação mediado por histamina, prostaglandinas, cininas e leucotrienos. O aumento da permeabilidade vascular permite que o plasma sanguíneo e outros mediadores celulares de cicatrização atravessem as paredes dos vasos por meio de diapedese e ocupem o espaço extravascular. Manifestações clínicas correspondentes incluem edema, vermelhidão, calor e dor. As citocinas liberadas na lesão produzem sinais quimiotáticos que recrutam de modo sequencial os neutrófilos e monócitos para o local da ferida. Os neutrófilos normalmente começam a migrar para o local da lesão minutos após a lesão ter ocorrido e se estabelecem de maneira rápida como as células predominantes. Ao migrarem pela rede fornecida pelo coágulo enriquecido por fibras, os leucócitos com curto período de vida inundam o local com proteases e citocinas para ajudar a eliminar bactérias da lesão, tecido sem vitalidade e componentes degradados da matriz. A atividade de neutrófilos é acentuada por anticorpos (opsonina) ao se infiltrarem na lesão a partir dos vasos alterados. A menos que a lesão esteja extremamente infectada, a infiltração de neutrófilos cessará em poucos dias. No entanto, as citocinas proinflamatórias liberadas pelos neutrófilos, o que inclui o fator de necrose tumoralα (TNFα) e as interleucinas (IL1a, IL1b), continuam a estimular a resposta inflamatória por longos períodos.5 A deposição de monócitos no local da lesão começa a aumentar no momento em que a quantidade de neutrófilos diminui. Monócitos ativados, agora chamados de macrófagos, dão continuidade à limpeza por microdebridação iniciada pelos neutrófilos. Estes secretam colagenases e elastases para remover o tecido lesado e realizar a fagocitose de bactérias e restos celulares. Além da função de caça, os macrófagos servem como fonte primária de mediadores de cicatrização. Uma vez ativados, os macrófagos liberam uma bateria de fatores de crescimento e citocinas (TGFα, TGFβ1, PDGF, fator de crescimento semelhante à insulina (IGF)I e II, TNFα e IL1) no local da lesão, amplificando ainda mais e perpetuandoo tempo de duração da ação dos mediadores liberados previamente pelas plaquetas degranuladas e pelos neutrófilos.6 Macrófagos influenciam todas as fases do início do processo de cicatrização da lesão ao regularem a remodelação do tecido local por meio de enzimas proteolíticas (i. e., metaloproteases e colagenases da matriz), o que induz à formação de uma nova matriz extracelular, e modularem angiogênese e fibroplastia por meio da produção local de citocinas, como trombospondina1 e IL1b. A importância da função dos macrófagos no início da cicatrização da lesão é confirmada pelas consistentes demonstrações de que lesões de animais desprovidos de macrófagos exibiram reduzida fibroplastia e reparos defeituosos. Ainda que o número e a atividade dos macrófagos diminuam até o 5o dia após o trauma, estes continuam a modular os processos de cicatrização da lesão até que o reparo esteja completo. 'BTF_EF_QSPMJGFSBIIP As citocinas e os fatores de crescimento secretados durante a fase inflamatória estimulam as fases de proliferação posteriores.7 Com início aproximado no 3º dia após o trauma e duração de 3 semanas, a fase de proliferação é caracterizada pela formação de tecido granular rosa (tecido de granulação) com células inflamatórias, fibroblastos e vasculatura em desenvolvimento em uma matriz frouxa. Um primeiro passo essencial é o estabelecimento de uma microcirculação local para o suprimento de oxigênio e nutrientes necessários para prover as requisições metabólicas elevadas do tecido em regeneração. A criação de novos vasos capilares sanguíneos (angiogênese) a partir da vasculatura rompida é orientada pela hipoxia da lesão, bem como pelos fatores de crescimento nativos, particularmente VEGF, fator de crescimento fibroblástico 2 (FGF2) e TNFβ (ver Figura 1.1). Ao mesmo tempo, fibroblastos formadores de matriz migram para a lesão em resposta às citocinas e aos fatores de crescimento liberados pelas células inflamatórias e pelo tecido lesado. Os fibroblastos começam a sintetizar uma nova matriz extracelular (EMC, do inglês new extracelular matrix) e colágenos imaturos (tipo III). O arcabouço das fibras colágenas serve para dar suporte aos novos vasos sanguíneos formados para o suprimento sanguíneo da lesão. Fibroblastos estimulados, que também secretam uma variedade de fatores de crescimento, produzem, desse modo, feedback e mantêm o processo de reparação. A deposição de colágeno aumenta rapidamente a resistência à tração da lesão e reduz a importância da função da sutura em manter as bordas da lesão unidas. Com adequado colágeno e ECM gerados, a síntese de matriz é dissipada, evidenciando o ajuste extremamente preciso do processo de cicatrização do ponto de vista espacial e temporal. Na superfície da lesão dermal, um novo epitélio é formado para selar a superfície exposta da lesão. Células epidermais originadas nas margens da lesão proliferam rapidamente e começam a formar uma nova superfície acima da membrana de base. O processo de reepitelização ocorre de modo mais rápido em lesões de mucosa oral do que naquelas na pele. Em uma lesão em mucosa, as células epiteliais migram diretamente para a superfície molhada exposta do coágulo fibrinoso em vez de abaixo do exsudato seco (crosta) da derme. Uma vez que as bordas do epitélio se encontram, a inibição de contato cessa a proliferação lateral adicional. A reepitelização é facilitada pelo tecido conjuntivo contrátil subjacente, o qual se contrai em tamanho para puxar as margens da lesão em direção uma à outra. A contração da lesão é orientada por uma proporção de fibroblastos que se transformam em miofibroblastos e provocam uma intensa força contrátil. A extensão da contração da lesão depende da profundidade da lesão e de sua localização. Em algumas ocasiões, as forças da contração da lesão são capazes de deformar estruturas ósseas. 'BTF_EF_SFNPEFMBIIP A fase proliferativa é progressivamente substituída por um extenso período de remodelação progressiva e fortalecimento do tecido cicatricial imaturo. A fase de remodelação/maturação pode durar diversos anos e envolve um minucioso e organizado equilíbrio entre degradação e formação de matriz. Logo que a demanda metabólica da lesão em processo de cicatrização diminui, a alta rede de capilares começa a regredir. Sob a direção geral de citocinas e fatores de crescimento, a matriz de colágeno é continuamente degradada, ressintetizada, reorganizada e estabilizada por meio de ligação cruzada molecular. Os fibroblastos começam a desaparecer e o colágeno tipo III depositado durante a fase de granulação é substituído de maneira gradual por um colágeno mais resistente do tipo I. De modo correspondente, a resistência à tração do tecido fibrótico aumenta e, no final, atinge cerca de 80% da resistência original. Homeostasia do colágeno da cicatriz e ECM são reguladas em grande extensão por proteases serinas e metaloproteinases matriciais (MMP) sob o controle de citocinas reguladoras. Inibidores de tecido das MMP dispõem de um contrabalanço natural para elas e provêm firme controle da atividade proteolítica no interior da cicatriz. Alguma falha nesse organizado equilíbrio pode levar ao excesso ou à inadequada degradação da matriz, o que resulta em uma cicatriz exuberante ou deiscência da lesão. 130$&440_&41&$*"-*;"%0_%&_$*$"53*;"�}°0 /FSWP A agressão às terminações nervosas da região orofacial pode variar desde a simples contusão até a ruptura completa do nervo. A resposta de cicatrização depende da gravidade e da extensão da lesão.810 A neuropraxia representa a mais suave forma de lesão do nervo e é uma interrupção passageira da condução nervosa sem perda da continuidade axonial. A continuidade da bainha epineural e dos axônios é mantida e alterações morfológicas são mínimas. O restabelecimento do déficit funcional é espontâneo e, em geral, completo dentro de 3 a 4 semanas. Se houver uma ruptura física de um ou mais axônios sem lesão do tecido estromal, a lesão é descrita como axonotmesis. Apesar dos axônios rompidos, as células de Schwann de revestimento e os elementos do tecido conjuntivo permanecem intactos. A natureza e a extensão do déficit sensorial ou motor resultante estão relacionadas com o número e o tipo dos axônios lesados. Alterações morfológicas são manifestadas como degeneração do axoplasma e das estruturas associadas distalmente ao local da lesão e parcialmente proximal à lesão. O restabelecimento do déficit funcional depende do grau do dano. O completo rompimento do tronco nervoso é denominado neurotmese e a reconstituição espontânea para esse tipo de lesão é rara. Histologicamente, alterações de degeneração são evidentes em todos os axônios ao redor da região da lesão.11 Logo após a agressão do nervo, as células de Schwann começam a sofrer uma série de alterações celulares chamadas degeneração valeriana. A degeneração é evidente em todos os axônios do segmento nervoso distal e em poucos nodos do segmento proximal. Dentro de 78 h, os axônios agredidos começam a se fragmentar e são fagocitados por células de Schwann adjacentes e macrófagos que migram até a região da lesão. Como os resíduos axoniais são eliminados, as células de Schwann iniciam a tentativa de conectar a ramificação proximal com a ramificação nervosa distal. Células de Schwann sobreviventes proliferam para formar uma banda (banda de Büngner) que aceitará o ramo axônico regenerativo. As células proliferativas de Schwann também promovem a regeneração do nervo ao secretarem numerosos fatores neutrofílicos que coordenam o reparo celular, bem como as moléculas de adesão celular que orientam o crescimento axônico. Na ausência de realinhamento ou aproximação cirúrgica das ramificações nervosas, células proliferativas de Schwann e ramos axônicos em desenvolvimento podem se alinhar em um coágulo fibrinoso aleatoriamente organizado para formar uma massa desorganizada conhecida como neuroma. A velocidade e a extensão da regeneração nervosa dependem de diversos fatores, que incluem o tipo de lesão, a idade e a condição da capacidade de nutrição do tecidoe dos nervos envolvidos. Embora a velocidade de regeneração dos nervos periféricos varie de modo considerável, ela é geralmente considerada de 1 mm/dia. A fase de regeneração dura até 3 meses e termina no contato com o órgão de destino por um fino axônio mielinizado. Na fase final de maturação, o diâmetro e a capacidade funcional da fibra nervosa em regeneração aumentam. 0TTP O processo de cicatrização óssea após a fratura tem muitas características similares às da cicatrização da pele, exceto pelo fato de que a primeira também envolve a calcificação da matriz tecidual conjuntiva. O osso é um tecido biologicamente privilegiado, pois a cicatrização ocorre mais por regeneração do que por reparo. Na ausência de intervenção, o osso fraturado é capaz de se recompor por si só de maneira espontânea pela formação e pela diferenciação tecidual sequencial, um processo também conhecido como cicatrização indireta. Como ocorre na pele, o trombo interfragmentar formado rapidamente após o trauma estanca a hemorragia provocada pela ruptura dos vasos nos canais harvesianos, na medula e no periósteo. O material necrótico na região da fratura estimula uma resposta inflamatória aguda imediata e intensa a qual atrai os leucócitos polimorfonucleares e, de modo subsequente, macrófagos para a área fraturada. O hematoma de organização serve como suporte de fibrina sobre o qual as células reparadoras podem migrar e exercer sua função. Células inflamatórias invasivas e, sequencialmente, células mesenquimais pluripotenciais começam a produzir de maneira rápida um calo de fratura macio que preenche os espaços interfragmentares. Composto de tecido fibroso, cartilagem e osso fibroso imaturo jovem, o calo macio atua como um estabilizador biológico que liga os segmentos ósseos fraturados e reduz o movimento interfragmentar. Uma progressão organizada da diferenciação e maturação tecidual leva à consolidação da fratura e à restauração da continuidade óssea. Mais comumente, o cirurgião escolhe facilitar uma cicatrização óssea abreviada sem calo, conhecida pelo termo cicatrização direta (Figura 1.1). Os segmentos ósseos deslocados são manipulados por meio de cirurgia em um alinhamento aceitável e estabilizados de modo rígido pelo uso de dispositivos de fixação interna. A redução anatômica resultante é, em geral, uma combinação de espaços interfragmentários pequenos separados por áreas de contato, dando início ao desenvolvimento de células mesenquimais e dos vasos sanguíneos, logo em seguida. Os osteoblastos ativados começam a depositar osteoide nas superfícies )FNPTUBTJB_F_SFNPIIP_EF_SFTOEVPT_EB_MFTIP A hemorragia por um vaso seccionado ou emissão difusa a partir das superfícies expostas da lesão interferem na visão do cirurgião sobre as estruturas subjacentes. A obtenção da completa hemostasia antes do fechamento da lesão ajuda a prevenir a formação de um hematoma pósoperatório. O acúmulo de sangue ou soro na região da lesão fornece um meio ideal para o crescimento de microrganismos que causam infecção. Adicionalmente, hematomas podem resultar em necrose dos retalhos. Entretanto, técnicas hemostáticas não devem ser utilizadas de forma muito agressiva durante a cirurgia, pois o dano tecidual resultante pode prolongar o tempo de cicatrização. Durante o período pósoperatório, o cirurgião pode inserir um dreno ou aplicar uma pressão para ajudar a eliminar o espaço morto da lesão. Tecido desvitalizado e corpos estranhos em uma lesão em processo de cicatrização atuam como um ambiente ideal para as bactérias e as protegem contra as defesas do organismo.23 Tem sido demonstrado que as células mortas e restos celulares do tecido necrótico reduzem as defesas imunológicas do hospedeiro e favorecem a infecção ativa. Um conteúdo necrótico que tenha persistido na lesão pode prolongar a resposta inflamatória, obstruir mecanicamente o processo de cicatrização da lesão e impedir a reepitelização. Sujeira e detritos localizados na lesão traumática não apenas colocam em risco o processo de cicatrização, como podem resultar em uma deformidade ou “tatuagem”. Por meio da remoção de tecido desvitalizado e morto, bem como da remoção de qualquer material estranho da lesão, a remoção de resíduos ajuda a eliminar micróbios, toxinas e outras substâncias que inibem o processo de cicatrização. O cirurgião não deveria se esquecer de que enxertos protéticos e implantes, apesar das melhoras na biocompatibilidade, podem levar a diversos graus de reação de corpo estranho e prejudicar o processo de cicatrização. A cicatriza çã o de les õ es (ou feridas) é uma express ã o clara de uma intrincada e rigorosamente organizada sequ ê ncia de respostas bioqu í micas e celulares direcionadas a restaurar a integridade do tecido e a sua capacidade funcional ap ó s a les ã o. Embora a cicatriza çã o ocorra na maioria dos casos sem intercorr ê ncias, uma variedade de fatores intr í nsecos e extr í nsecos pode impedila ou facilit á la. Um melhor entendimento desse processo em diversos n í veis – bioqu í mico, fisiol ó gico, celular e mol ecular – permite ao cirurgi ã o adotar procedimentos cl í nicos voltados para a otimiza çã o do mecanismo de cicatriza çã o, bem como, e com a mesma import â ncia, avaliar cr í tica e precisamente a utiliza çã o de uma s é rie de m é todos biol ó gicos que procuram assistir a cicatriza çã o ao modularem de maneira favor á vel o microambiente da ferida. 130$&440_%&_$*$"53*;" ? } ° 0 A restaura çã o da integridade tecidual, se iniciada por trauma ou cirurgia, é uma resposta de defesa filogeneticamente primitiva, por é m essencial. Organismo s lesados sobrevivem somente se forem capazes de se regenerar de modo r á pido e eficaz. A resposta de cicatriza çã o depende primariamente do tipo de tecido envolvido e da natureza do tecido lesado. A regenera çã o ocorrer á quando a restitui çã o acontecer por me io de tecido sem distin çã o estrutural e funcional do tecido de origem. Entretanto, quando a integridade tecidual for restabelecida inicialmente por meio da forma çã o de tecido fibr ó tico, haver á o processo de reparo . Reparo por cicatriza çã o é a vers ã o do cor po para os pontos de solda, e o tecido de substitui çã o é grosseiro e tem menor quantidade de c é lulas quando comparado ao tecido de origem. Com exce çã o do tecido ó sseo e do f í gado, a ruptura do tecido resulta em reparo em vez de regenera çã o . No n í vel celula r, o padr ã o e a qualidade do tecido fibr ó tico dependem de quanto as c é lulas constituintes s ã o l á beis, est á veis ou permanentes. C é lulas l á beis, que incluem os queratin ó citos da epiderme e as c é lulas epiteliais da mucosa oral, dividemse durante todo o seu ci clo de vida. C é lulas est á veis, como os fibroblastos, exibem baixa velocidade de duplica çã o, mas podem sofrer r á pida prolifera çã o em resposta à les ã o (p. ex., a les ã o ó ssea estimula as c é lulas mesenquimais pluripotenciais a se diferenciarem rapidamente em o steoblastos e osteoclastos). J á as c é lulas permanentes, como os nervos especializados e as c é lulas do m ú sculo card í aco, n ã o se dividem durante a vida p ó snatal. A expectativa do cirurgi ã o para uma “ cicatriza çã o normal ” deve ser realista e baseada nas capaci dades inerentes do tecido lesado. Enquanto a cicatriz fibrosa é considerada normal como cicatriza çã o de les õ es na pele, o mesmo tipo de cicatriz é visto como regular em rela çã o à cicatriza çã o ó ssea. Em n í vel macrosc ó pico, a qualidade da resposta de cicatri za çã o é influenciada pela natureza da ruptura do tecido e pelas condi çõ es para o fechamento da les ã o. Quandouma lacera çã o ass é ptica ou uma incis ã o cir ú rgica é fechada inicialmente com suturas ou outros m é todos e a cicatriza çã o acontece sem deisc ê ncia e c om m í nima forma çã o de cicatriz, tratase da A cicatrização de lesões (ou feridas) é uma expressão clara de uma intrincada e rigorosamente organizada sequência de respostas bioquímicas e celulares direcionadas a restaurar a integridade do tecido e a sua capacidade funcional após a lesão. Embora a cicatrização ocorra na maioria dos casos sem intercorrências, uma variedade de fatores intrínsecos e extrínsecos pode impedila ou facilitála. Um melhor entendimento desse processo em diversos níveis – bioquímico, fisiológico, celular e molecular – permite ao cirurgião adotar procedimentos clínicos voltados para a otimização do mecanismo de cicatrização, bem como, e com a mesma importância, avaliar crítica e precisamente a utilização de uma série de métodos biológicos que procuram assistir a cicatrização ao modularem de maneira favorável o microambiente da ferida. 130$&440_%&_$*$"53*;"?}°0 A restauração da integridade tecidual, se iniciada por trauma ou cirurgia, é uma resposta de defesa filogeneticamente primitiva, porém essencial. Organismos lesados sobrevivem somente se forem capazes de se regenerar de modo rápido e eficaz. A resposta de cicatrização depende primariamente do tipo de tecido envolvido e da natureza do tecido lesado. A regeneração ocorrerá quando a restituição acontecer por meio de tecido sem distinção estrutural e funcional do tecido de origem. Entretanto, quando a integridade tecidual for restabelecida inicialmente por meio da formação de tecido fibrótico, haverá o processo de reparo. Reparo por cicatrização é a versão do corpo para os pontos de solda, e o tecido de substituição é grosseiro e tem menor quantidade de células quando comparado ao tecido de origem. Com exceção do tecido ósseo e do fígado, a ruptura do tecido resulta em reparo em vez de regeneração. No nível celular, o padrão e a qualidade do tecido fibrótico dependem de quanto as células constituintes são lábeis, estáveis ou permanentes. Células lábeis, que incluem os queratinócitos da epiderme e as células epiteliais da mucosa oral, dividemse durante todo o seu ciclo de vida. Células estáveis, como os fibroblastos, exibem baixa velocidade de duplicação, mas podem sofrer rápida proliferação em resposta à lesão (p. ex., a lesão óssea estimula as células mesenquimais pluripotenciais a se diferenciarem rapidamente em osteoblastos e osteoclastos). Já as células permanentes, como os nervos especializados e as células do músculo cardíaco, não se dividem durante a vida pósnatal. A expectativa do cirurgião para uma “cicatrização normal” deve ser realista e baseada nas capacidades inerentes do tecido lesado. Enquanto a cicatriz fibrosa é considerada normal como cicatrização de lesões na pele, o mesmo tipo de cicatriz é visto como regular em relação à cicatrização óssea. Em nível macroscópico, a qualidade da resposta de cicatrização é influenciada pela natureza da ruptura do tecido e pelas condições para o fechamento da lesão. Quando uma laceração asséptica ou uma incisão cirúrgica é fechada inicialmente com suturas ou outros métodos e a cicatrização acontece sem deiscência e com mínima formação de cicatriz, tratase da