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Todos os direitos desta edição reservados a Pontes Editores Ltda. Proibida a reprodução total ou parcial em qualquer mídia sem a autorização escrita da Editora. Os infratores estão sujeitos às penas da lei. A Editora não se responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta publicação. Índices para catálogo sistemático: 1. Educação. 370 2. Didática - Métodos de ensino instrução e estudo – Pedagogia. 371.3 3. Educação ambiental (ensino). 372.357 L533m Leite, Eliana Alves Moreira (org.); et al. Múltiplas Perspectivas da Educação Ambiental no Ceará / Organizadores: Eliana Alves Moreira Leite, Márcio Luis Alves Paiva e Marianne Brunet Martins de Aquino. – 1. ed.– Campinas, SP : Pontes Editores, 2020. 368 p.; il.; tabs.; gráfs.; fotografias. Inclui bibliografia. ISBN: 978-65-5637-038-5 1. Educação. 2. Educação Ambiental. 3. Meio Ambiente. 4. Pedagogia. I. Título. II. Assunto. III. Organizadores. Bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8/8846 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo - SP) Copyright © 2020 - dos organizadores representantes dos colaboradores Coordenação Editorial: Pontes Editores Editoração e Capa: Eckel Wayne Preparação de originais: Patrícia Maria Nunes de Souza Bispo Conselho editorial: Angela B. Kleiman (Unicamp – Campinas) Clarissa Menezes Jordão (UFPR – Curitiba) Edleise Mendes (UFBA – Salvador) Eliana Merlin Deganutti de Barros (UENP – Universidade Estadual do Norte do Paraná) Eni Puccinelli Orlandi (Unicamp – Campinas) Glaís Sales Cordeiro (Université de Genève - Suisse) José Carlos Paes de Almeida Filho (UnB – Brasília) Maria Luisa Ortiz Alvarez (UnB – Brasília) Rogério Tilio (UFRJ – Rio de Janeiro) Suzete Silva (UEL – Londrina) Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva (UFMG – Belo Horizonte) PONTES EDITORES Rua Francisco Otaviano, 789 - Jd. Chapadão Campinas - SP - 13070-056 Fone 19 3252.6011 ponteseditores@ponteseditores.com.br www.ponteseditores.com.br 2020 - Impresso no Brasil SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 11 EIXO 1: EDUCAÇÃO AMBIENTAL, PERCEPÇÃO E METODOLOGIAS EDUCACIONAIS A LUDICIDADE COMO PROMOÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM ITAPIPOCA, CEARÁ ...... 17 Antônio Cássio dos Santos Mota Laudenor Amorim A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES QUE PARTICIPAM DAS FORMAÇÕES DE CIÊNCIAS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL ................................................ 31 Giliane Felismino Sales Márcio Luis Alves Paiva EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PROCESSO CONTÍNUO DE CONSCIENTIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA REALIDADE E VIVÊNCIA DAS EDUCADORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL ...................................................................................... 51 Emanoela Victor Bezerra Carvalho Marianne Brunet Martins de Aquino EDUCAÇÃO AMBIENTAL: EXPERIÊNCIA COM A ROBÓTICA EDUCACIONAL NA ESCOLA LICEU ESTADUAL PROFESSOR DOMINGOS BRASILEIRO (FORTALEZA/CE) ...................................................................................................... 69 Fernando César Ramos Antonio Jarbas Barros de Moraes A CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA PARA A FORMAÇÃO DA PERCEPÇÃO AMBIEN- TAL DO ALUNO: UM ESTUDO DE CASO NA ESCOLA JOÃO BATISTA BRANDÃO EM SÃO BENEDITO-CE ............................................................................................ 91 Lais Regina Gomes de Oliveira Freitas Antoniele Silvana de Melo Souza Jarles Lopes de Medeiros PEGADA ECOLÓGICA: CONTEXTO E PRÁTICAS DE PROFESSORES DE UMA ESCOLA DO ENSINO MÉDIO DO SEMIÁRIDO .................................... 103 Abidão Bezerra Camelo Neto Deborah Ximenes Torres Holanda UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO JOSÉ FIDELES DE MOURA ................................................................................................................. 113 Rosália Souza Queiroz Maria Ivonete da Silva Sousa A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM SALA DE AULA: O USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS COMO RECURSO DIDÁTICO .................. 131 Aline Moraes de Sales Luciana Franklin Cavalanti EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM FOCO NOS RESÍDUOS SÓLIDOS: ABORDAGEM PERCEPTIVA EM AMBIENTE ESCOLAR ................................... 145 Maciel Bomfim do Nascimento Francisco Bruno Monte Gomes Marcus Vinícius Freire Andrade A IMPORTÂNCIA DA INTERDISCIPLINARIDADE NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ... 163 Gessika Maria Martins de Vasconcelos Agercicleiton Coelho Guerra EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA GERAL: USO DE MATERIAL NATURAL ALTERNATIVO PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DE INDICADORES DE ÁCIDOS E BASES .............................................................. 175 Antônia Mayara dos Santos Mendes Mardineuson Alves de Sena EIXO 2: EDUCAÇÃO AMBIENTAL, ESTUDO DE RESÍDUOS E TÉCNICAS DE USO E REUSO DE RECURSOS O DESCARTE ADEQUADO DE MATERIAIS: INFORMATIVO PARA AÇÕES EM PROL DO MEIO AMBIENTE .............................................................................. 199 Luzia Paula Sousa de Oliveira Bessa Bruno Queiroz Da Silva A UTILIZAÇÃO DE MATERIAL BIODEGRADÁVEL PARA A PRODUÇÃO E USO DE BOMBAS DE SEMENTES NATIVAS NO REFLORESTAMENTO DE ÁREAS DESMATADAS NO MUNICÍPIO DE PACOTI-CEARÁ ........................... 209 Edisley Mayra dos Santos Mendes Victor Hugo Santos de Castro EDUCAÇÃO AMBIENTAL E RESPONSABILIDADE SOCIAL: UM OLHAR SOBRE A PRODUÇÃO E DESTINAÇÃO DO LIXO NA ESCOLA ELPÍDIO RIBEIRO, EM SÃO JOSÉ DO TORTO, SOBRAL (CE) .............................................................. 227 Elioêne Estevam da Silva Analine Maria Martins Parente ESCOLA E MEIO AMBIENTE: ANÁLISE DA ÁGUA DA LAGOA PEDRO II DE VIÇOSA DO CEARÁ ............................................................................................ 243 Antônia Natália Fontenele de Sousa Eliana Alves Moreira Leite A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO SOBRE O RIO COREAÚ EM MORAÚJO-CE PARA A SUA PRESERVAÇÃO ................................................................................ 261 Francisco Renato Gomes Cardozo Marcela Figueira Ferreira ESTRATÉGIAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM SOBRAL-CE: RELATO DE EXPERIÊNCIAS DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELA AGÊNCIA MUNICIPAL DO MEIO AMBIENTE-AMA .............................................................. 279 Lívia Alves de Souza Marcus Vinícius Freire Andrade UMA AÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL: REFLORESTAMENTO EM ÁREA DEGRADADA NO MACIÇO DE BATURITÉ .............................................. 299 Maria Leandra Sales Pereira Daniel Azevedo de Brito AS POSSIBILIDADES DE REAPROVEITAMENTO DAS ÁGUAS CINZA NA ESCOLA DE ENSINO MÉDIO DO CAMPO JOSÉ FIDELES DE MOURA NO ASSENTAMENTO BONFIM CONCEIÇÃO, FAZENDINHA - SANTANA DO ACARAÚ (CE). .......... 317 Regina Marta Bezerra Francisco Gonçalves de Sousa Filho EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NA COMUNIDADE RURAL FRESCO I EM CANINDÉ-CE .......................................... 331 José Nilberto Pereira Nunes José Edicarlos Araújo IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS DA DEGRADAÇÃO POR RETIRADA DE SEDIMENTOS DAS MARGENS E LEITO DO RIO GRANDE NA COMUNIDADE DE BATOQUE, PACUJÁ-CE...................................................................................... 341 Ednara Mayara de Sousa Magalhães Alyce Hélida Bastos de Sousa SOBRE OS AUTORES ................................................................................................ 355 9 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará AGRADECIMENTOS Em todas as atividades humanas, algumas se destacam com zelo e incansável tarefa de fazer o algo a mais além que o simplório cumprimento de suas funções. Tornam-se notáveis pelo devotamento e abnegação não somente ao aprimoramento de si, mas também do outro, construindo, sem os vícios que turvam a imagem dos vaidosos, a figura de verdadeiros líderes, que entendem, sobretudo, que o caminho não se faz deixando alguém para trás. No âmbito da educação, os afazeres do cotidiano e da vivência, muitas vezes desumanizada queexpressa na verticalidade das relações, tem tornado opacos os ambientes primazes da elucidação das mentes e na vivificação dos sentimentos humanos, que são os espaços educativos, fazendo-nos crer na necessidade da constante orientação e intervenção dos verdadeiros líderes junto aos educadores, trazendo luz ao caminho, através do exemplar caminhar. Nosso especial agradecimento às figuras dos Professores Herbert Lima Vasconcelos e Ana Célia Clementino Moura, que representam a personifi- cação de dois desses mentores. Seus esforços em promover o aperfeiçoa- mento dos profissionais assistidos por vocês se materializam em mais essa publicação. A obra demonstra o engajamento e a realização de todos aqui vistos com autores que levam, sem dúvidas, a forte marca da coragem e da sutileza que caracterizam suas lideranças. A vocês, Professor Herbert e Professora Ana Célia, toda a gratidão de todos os alunos/professores que firmaram seus nomes no Curso de Especialização em Educação Ambiental. “Se suas ações inspiram outros a sonhar mais, aprender mais, fazer mais e tornar-se mais, você é um líder”. John Quincy Adams. 10 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará 11 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará APRESENTAÇÃO A Educação Ambiental continua ativa na agenda das preocupa- ções contemporâneas mundiais, vivificando temas e abordagens que se dirigem, sobretudo, à qualidade de vida humana no presente e sua sustentabilidade para o futuro. Inserida nos vários espaços e contextos da experiência humana, dentre eles, o escolar, a Educação ambiental cumpre importante papel na construção cognitiva sobre o meio e no desenvolvimento das emoções que orientam as várias vertentes da apren- dizagem, dentre elas, aquelas que incidem sobre os equilibrados usos e apropriações dos bens naturais. A obra que se segue resulta do relevante esforço da Universidade Federal do Ceará no tocante à discussão de temas trabalhados no âmbito do Curso de Especialização em Educação Ambiental, oferecido através da parceria entre o Comitê gestor Institucional de Formação Continuada de Profissionais do Magistério da Educação Básica - COMFOR e da Se- cretaria de Educação de Sobral, durante o período do segundo semestre de 2017 a 2019. O curso foi oferecido na modalidade semi-presencial e contou com a soma de esforços de muitos profissionais que, de forma voluntária, empenharam-se na construção de um importante meio aca- dêmico de consolidação da Educação Ambiental no Ceará. A iniciativa relatada conseguiu de maneira gratuita o envolvimen- to de uma vasta gama de profissionais da educação básica, bem como de órgãos técnicos de todas as partes do Estado, possibilitando, como demonstrado nesse livro, um panorama das problemáticas vividas em diversos espaços cearenses, conferindo certamente uma riqueza ímpar de enfoques e visões. Para fins didáticos, os temas que compõem essa coletânea de artigos estão agrupados em dois grandes eixos de aborda- gens, que são: Eixo 1: Educação Ambiental, Percepção e Metodologias 12 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Educacionais e, eixo 2: Educação Ambiental, Estudo de Resíduos e Técnicas de Uso e Reuso de Recursos. Entendendo o espaço escolar como palco e objeto das transfor- mações almejadas pela Educação Ambiental, os artigos constantes na primeira parte desta coletânea expõem iniciativas importantes que representam a cristalização das ações de alunos e professores, sujeitos sensíveis à causa ambiental. Os relatos das experiências que consideram o emprego da ludicidade e dos estudos de percepção ambiental nas aulas dos diversos componentes curriculares destacam aqui as perspectivas transdisciplinar e interdisciplinar da Educação Ambiental, fazendo surgir uma visão global e laica da questão ambiental, produzindo interpretações múltiplas dos fenômenos físicos e dos processos histórico-sociais nos quais estamos envolvidos. Tais vivências nos oneram da responsabilidade de refletir, mas também de propor vias de minimização dos impactos que assolam o meio ambiente. Nesse sentido, a presente coletânea partilha de importantes inflexões contidas nos artigos, desenvolvidas em variados espaços educativos, representativos de muitas realidades cearenses. As metodologias edu- cacionais apontadas pelo conjunto de pesquisadores/professores vão desde a utilização da robótica educacional à utilização das novas tecno- logias de informação e comunicação na educação ambiental, ensejando importantes movimentos de substituição das tradicionais abordagens para além das datas alusivas e pragmáticas que consideravam o meio ambiente na escola. Esses novos enfoques, alinhados aos estudos de aspectos fenomenológicos da percepção, que congrega visões, valores e sensibilidades ambientais, bem como discutem os processos de formação docente, chancelam sumariamente o espaço da escola como morada do lógus/prática ambiental. O conjunto de artigos que compõem o eixo 2: Educação Ambiental, Estudo de Resíduos e Técnicas de Uso e Reuso de Recursos, relatam estudos relativos a problemáticas ambientais que se multiplicam na contemporaneidade, como por exemplo, as questões concernentes à produção e destinação dos resíduos sólidos e as diversas formas de po- 13 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará luição nas mais distintas parcelas espaciais do território cearense, sejam elas urbanas ou mesmo rural. Certamente, abrimos com essas reflexões caminhos que permitem aos leitores ávidos pela temática central deste livro, a aproximação com o cotidiano de lugares pouco antes revelados pelo crivo científico, validando a importância social deste livro. Dos mais de uma centena de estudos desenvolvidos pelos concluden- tes do Curso de Especialização em Educação Ambiental, essa coletânea composta de 21 artigos, apresenta, conforme frisado acima, análises de recortes espaciais que compreendem, por exemplo, os municípios de Fortaleza, Sobral, Pacoti, Viçosa do Ceará, Moraújo, São Benedito, Itapi- poca, Baturité, Santana do Acaraú, Canindé e Pacujá. Oxalá, nos tivesse sido permitida a edição de todos os artigos, expressando um mosaico analítico-ambiental que abarcaria quase a totalidade das macrorregiões cearenses, e com isso, divulgando a seriedade e esforço para entendimento da realidade estudada por parte de docentes e discentes. Ensejamos, por fim, que esta obra, cumpra seu papel informativo/ educativo sobre o meio ambiente cearense, se fazendo útil nos mais di- versos lugares que abrigam o conhecimento, incluindo essencialmente aí, as escolas, realizando assim a missão de sensibilizar e conscientizar para o entendimento de que a natureza é a fonte de existência de todas as espécies e, por isso, precisa ser respeitada e encarada como a primaz mantenedora da vida sobre a Terra, submetida sempre à complexa e dialética relação com a sociedade humana. Boa leitura! Prof. Dr. Márcio Luis Alves Paiva Docente externo do Curso de Especialização em Educação Ambiental - UFC. EIXO 1: EDUCAÇÃO AMBIENTAL, PERCEPÇÃO E METODOLOGIAS EDUCACIONAIS 17 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará A LUDICIDADE COMO PROMOÇÃO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL EM ITAPIPOCA, CEARÁ Antônio Cássio dos Santos Mota1 Laudenor Amorim2 INTRODUÇÃO Nas séries iniciais do Ensino Fundamental não há enfoque direcio- nado à Educação Ambiental, com isso, as crianças são pouco orienta- das para terem respeito e responsabilidade para com o meio ambiente. Medeiros et al. (2011) afirmam que devido a um mundo cada vez mais globalizado, com a violência e o crescimento acelerado das cidades, a criança diminui seu contato com todos os elementos da natureza, não sabendo o que é meio ambiente, nem os problemas que este enfrenta. Modesto e Rubio (2014) afirmam que é por meio do lúdico que ocor- re o desenvolvimento das competências apresentadas por Delors (1998) como os quatro pilarespara a Educação no século XXI: aprender a ser, aprender a conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer. Isto ainda pode ampliar relações de companheirismo, ao aceitar possíveis perdas nos jogos, testar hipóteses, explorar a criatividade e ainda possibilitar os exercícios da concentração, atenção e a própria socialização. Para Vygotsky (1987) apud Borba (2006) o ato de brincar é uma atividade humana na qual desperta a imaginação, a fantasia e a relaciona 1 Licenciatura em Biologia. Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA. Especialista em Biodiversidade Vegetal. Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: cassiosm1@ hotmail.com 2 Mestre em Engenharia e Ciência de Materiais. Universidade Federal do Ceará– UFC. E-mail: quimicolaudenor@gmail.com 18 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará com a realidade e possibilita novas interpretações, expressões de ações da criança, bem como a construção de novas relações. Santin (1996) apud Júnior (2005) nos apresenta que o significado de ludicidade se relaciona desde sua origem à liberdade, imaginação, criatividade, interação, além da autonomia. Ao trazer a ludicidade no contexto escolar, amplia-se o ensino interdisciplinar e a educação libertadora, favorecendo a abordagem de conteúdos de modo crítico e criativo, reduzindo a Educação tradicional, citada por Freire (1984) da qual temos o professor deposita e transmite conhecimento para alunos (educandos) e somente ele sabe, os alunos não. Assim, a educação é centrada nos princípios tradicional ou bancária que não permite a construção do conhecimento, consequentemente, não propicia transformação, princípio fundamental defendido por vários au- tores (FREIRE, 1984; SEVERINO, 1994; BRANDÃO, 1997; FREIRE, 1998; BUSCAGLIA, 1998; GUIMARÃES, 2000). A partir do documento da Conferência Internacional sobre o Meio Ambiente e Sociedade, Educação e Consciência Pública para a Sustenta- bilidade, realizada em Tessalônica, na Grécia, alerta-se para ações edu- cativas para com o meio ambiental, baseadas na ética e sustentabilidade, diversidade e identidade cultural, mobilização e participação, além de práticas interdisciplinares (SORRENTINO, 1998). Ao abordar a Educação Ambiental de modo lúdico os conhecimentos se aproximam da realidade de cada educando, tornam a aprendizagem mais significativa, ampliam as percepções, favorecem a formação de novos sujeitos ambientais, agindo com ética e preocupados com as ações de sustentabilidade. Santana e Warta (2006) mostram que as atividades lúdicas podem auxiliar o processo de ensino aprendizagem, sendo prática atraente, mo- tivadora, da qual visa desenvolvimento pessoal e atuações cooperativas em sociedade. Temos que o objetivo deste trabalho foi compreender como a educação ambiental tem sido estudada nas séries iniciais do ensino fun- 19 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará damental e promover Educação Ambiental de modo lúdico, a partir de pesquisa realizada no 4º Ano das séries iniciais do Ensino Fundamental na Escola de Educação Básica Maria Dalva Barbosa de Azevedo, em Itapipoca, Ceará. CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA A Escola de Educação Básica Maria Dalva Barbosa de Azevedo, situada em Itapipoca, Ceará, município localizado a 130 km de Forta- leza, no Bairro Boa Vista, funciona nos turnos manhã e tarde, tendo no total 548 alunos matriculados, distribuídos de 1º ao 5º Ano das Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Atende alunos dos bairros Boa Vista e, circunvizinhos como Centro, Ladeira, Sanharão, Salgadinho e mais distantes como Estação e Júlio I. Destacam-se os alunos do Bairro Júlio, que vêm para escola em transporte escolar cedido pela Prefeitura Municipal, uma vez que residem em um Conjunto Habitacional resultado de um projeto de casas populares do Governo Federal em parceria com Estado e Município. Observa-se que 80% dos alunos recebem benefícios do Governo Federal, como o Bolsa Família, caracterizando as famílias que compõem a comunidade escolar como baixa renda per capita. A Escola tem se destacado no município de Itapipoca com bons resultados nas avaliações externas, como: Sistema Permanente de Ava- liação do Estado do Ceará - SPAECE e Prova Brasil. Ainda destacamos a promoção de educação inclusiva com sala de Atendimento Educacional Especializado – AEE e apoio psicopedagógi- co aos alunos e às famílias, além de projetos de teatro e música: Grupo Estrela Dalva e Tocando na Escola, que levam os alunos a estudarem sobre os temas e realizam apresentações na escola e em eventos muni- cipais e regionais. 20 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará REFERENCIAL TEÓRICO A Educação ambiental busca promover e ampliar ações éticas diante das problemáticas causadas pelas ações antrópicas ao longo dos anos e, a escola, como local de desenvolvimento educacional tem função importante nesse processo educativo. Medeiros et al. (2011) afirmam que as crianças devem ser educadas para as questões ambientais, pois diante das novas tecnologias se distan- ciam das realidades e aos poucos se desenvolvem sem a responsabilidade de ações para com o meio ambiente. (...) As crianças passam a ter espaços cada vez mais restritos para o contato com os elementos do ambiente e então as crian- ças estão sendo obrigadas a ficarem trancadas em casa tendo como fonte de lazer o uso das tecnologias, que na maioria das vezes, elas não sabem o que é o meio ambiente nem tampouco os problemas que ele enfrenta e se a criança for questionada. (MEDEIROS, 2011) Logo, ao abordar a educação ambiental de modo lúdico, busca-se aproximação da criança e ela passa a refletir e realizar ações no ambiente escolar e conduz a sua família, grupo de amigos e comunidade. Delors (1998) afirma que a educação para o Século XXI deve se basear em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Temos que aprender a conhecer se combina a cultura de um modo geral, traz a possibilidade de conhecer pequeno número de matérias; aprender a fazer permite que a pessoa se adapte e enfrentar diversas situa- ções e trabalhar em equipe; aprender a viver juntos (conviver) desenvolve a compreensão do outro, percepção de interdependência; aprender a ser desenvolve a personalidade, responsabilidade social. Para Modesto e Rubio (2014) o lúdico que ocorre o desenvolvimento das competências. Logo, ao abordar a temática educação ambiental na escola desse modo, temos que a criança ficará mais atenta às regras das 21 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará brincadeiras, dos jogos, amplia sua percepção e compreensão, além de respeitar a participação do outro. Os Parâmetros Curriculares Nacionais PCN’s (1997) apresentam que os jogos e brincadeiras, de modo competitivo ou não, ainda favore- cem a resolução de problemas, no coletivo, por meio da comunicação, cooperação e o respeito às particularidades de cada pessoa, a diversidade do grupo. Santana e Warta (2006) apresentam atividades lúdicas como meto- dologias que auxiliam no processo de ensino-aprendizagem, pois a prática é atraente e ainda favorece ao desenvolvimento pessoal, importante deste o início das crianças no processo educacional ao qual deve ser ampliado e consolidado ao longo da vida do aluno. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada nos meses de novembro de 2018 a fevereiro de 2019, onde se buscou revisão de literatura, identificação a escola, esco- lha do público alvo, esclarecer o projeto de pesquisa junto aos professores, pais e alunos, até aplicar questionários e realizar algumas atividades. Foi aplicado aos alunos do 4º Ano das Séries Iniciais do Ensino Fundamental um questionário com dez perguntas, a fim do aluno infor- mar se estudou acerca dos temas: poluição da água, esgoto, queimadas, poluição causada pelo lixo, desmatamento, extinção de animais ao longo de sua vida estudantil; se gostou de estudar esses assuntos; qual assunto mais gostou; em quais disciplinasestudou; qual metodologia foi aplicada nos estudos desses assuntos; a leitura de livros da biblioteca da escola que apresentam essas temáticas; se considera importante estudar sobre o meio ambiente; qual temática gostaria de estudar mais; como gostaria que fossem abordados os assuntos referentes ao tema em estudo e ainda se afirma que a escola tem promovido educação ambiental. A fim de garantir interação dos educandos para com os conteúdos abordados, foram realizadas rodas de leitura, com livros que abordam temáticas relacionadas aos problemas ambientais, como os Livros da 22 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Coleção do Programa de Alfabetização na Idade Certa–PAIC, Prosa e Poesia, em seguida, rodas de conversa, promovendo interação entre os alunos por meio de debates. A partir das discussões sobre determinadas problemáticas am- bientais, vimos os conhecimentos prévios dos alunos sobre o assunto: percepção do local ao qual residem e o ambiente escolar. Realizou-se leitura individual e coletiva de textos-base, para que os alunos percebessem os malefícios das ações antrópicas com a natureza e suas consequências a todos os seres vivos, sendo abordados temas como a poluição da água e solo, esgoto, desmatamento, extinção dos animais e ainda doenças cujos vetores são insetos e pequenos animais que se proli- feram com o aumento dos resíduos sólidos descartados inadequadamente. As propostas de brincadeiras envolveram adivinhações, elaboradas pelos próprios alunos; “que animal é esse”, representado por meio de mímicas; caça e caçador, onde um aluno será o caçador e os demais representam os animais. Nessa brincadeira busca-se refletir acerca do sofrimento dos animais com as ações humanas nas florestas. Os jogos utilizados foram: “quem sou eu”, onde o aluno relaciona a imagem ao nome dos animais da fauna brasileira, flora e animais em risco de extinção; jogo da memória, cuja temática é como evitar a prolife- ração do mosquito Aedes Aegypt, transmissor de doenças como Dengue, Chikungunya e Zika; jogo de damas com tampinhas de garrafas pet, que proporcionaram discussões, nas rodas de conversa, sobre como materiais descartados, que onde além de recicláveis, podem ser reutilizados na confecção de brinquedos, podendo ser utilizados pelos próprios alunos durante o recreio. RESULTADOS E DISCUSSÕES A partir da análise dos questionários aplicados com 98 alunos do 4º Ano da E.E.B. Maria Dalva Barbosa de Azevedo, quando questionado quais assuntos o aluno já estudou e/ou discutiu ao longo de sua vida estudantil, onde ele poderia marcar mais de uma opção, verificamos que 23 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará 23% dos alunos afirmam ter estudado sobre a poluição causada pelo lixo e, temos igual porcentagem observada para a temática poluição da água. Fonte: elaborado pelos autores. Nesse contexto, foi visto que os livros de 1º ao 4º Ano das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, bem como as abordagens da escola se voltaram com mais ênfase aos assuntos poluição da água e poluição causada pelo lixo. Ainda se questionou em quais disciplinas escolares os alunos estudaram os assuntos: poluição da água, esgoto, queimadas, poluição causada pelo lixo, desmatamento e extinção de animais. Ao observar a literatura há ênfase nos assuntos referentes ao meio ambiente, fato que se dá junto às disciplinas de Geografia e Ciências. Porém, Medeiros et. al.(2001) esclarecem que a abordagem das temáti- cas ambientais deve ser trabalhada em todas as Disciplinas ministradas. A pesquisa realizada junto aos alunos do 4º Ano das Séries Iniciais do Ensino Fundamental I mostrou que 32% afirmaram ter estudado as temá- ticas em relação ao meio ambiente na Disciplina de Português (Língua Portuguesa). Em relação às abordagens realizadas nas aulas de Geografia e Ciências, foram vistos 7% e 27%, respectivamente. Isso mostra que os materiais didáticos e os planos de ensino dos professores da escola en- fatizavam as preocupações com as questões socioambientais, sejam elas direcionadas com textos-base nos livros específicos, leituras de livros da 24 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Coleção PAIC Prosa e Poesia, produções textuais autorais e até mesmo resoluções de situações-problema nas demais disciplinas. Fonte: elaborado pelos autores. Diante da pesquisa realizada vimos que todas as disciplinas curricu- lares da referida escola abordam assuntos relacionados ao meio ambiente, o que nos mostra as práticas interdisciplinares desenvolvidas. Questionou-se como o aluno pretende estudar tais conteúdos em relação ao meio ambiente, podendo marcar mais de um item, tendo em vista que os professores, diante de disciplinas específicas, aplicavam suas metodologias enfatizando diversos recursos como leitura e produção de textos, apresentação de seminários, filmes e/ou documentários, aulas de campo, jogos e brincadeiras entre outros. Assim, cerca de 28% dos alunos pesquisados queriam estudar os assuntos relacionados com às temáticas ambientais por meio de leitura de livros de historinhas infantis e infanto-juvenis. Foi percebido a relevância dos materiais disponibilizados na escola da Coleção PAIC Prosa e Poesia, que os alunos têm acesso na biblioteca, bem como os professores tinham em sua sala de aula expostos no “Cantinho da Leitura” e realizavam atividades de estudo e compreensão de texto. 25 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Por outro lado, 17% dos alunos desejaram estudar os conteúdos relacionados a temáticas ambientais também com jogos e brincadeiras e isso evidenciou que poucos professores tinham aplicado essa metodologia lúdica para abordar, esclarecer e contextualizar os conteúdos. Fonte: elaborado pelos autores. É importante destacar que os alunos anseiam estudar os assuntos refe- rentes a temáticas ambientais de diversos modos. Logo, cabe ao professor adaptar suas metodologias de ensino de acordo com cada conteúdo, tornado as aulas motivadoras, criativas e com assuntos cada vez mais significativos, favorecendo a melhoria do processo de ensino-aprendizagem. Após a aplicação dos questionários e de alguns jogos e brincadeiras, que podem ser utilizados junto ao conteúdo de sala de aula, bem como adaptados aos jogos já existentes, mas com a utilização de materiais recicláveis, o que permite ao aluno refletir acerca do descarte de tais materiais, mas principalmente, adaptá-los aos estudos. Para a confecção do jogo da memória, buscou-se um cartaz da cam- panha de combate ao Mosquito da Dengue do ano anterior. Recortou-se e foi utilizamos como jogo na aula de Ciências. Nessa enfatizou as ações que devem ser adotadas, principalmente no período chuvoso, para que não haja a proliferação do Mosquito Aedes aegypti. 26 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Foto 1. Jogo da memória. Combate ao mosquito Aedes aegypti (MOTA; AMORIM, 2019). Para confecção do jogo de damas, foram recolhidas tampinhas de garrafas pet de refrigerantes que alguns alunos levam para lanchar e das garrafas d’água já reaproveitadas por eles, na qual já muito utilizadas se encontravam gastas e logo seriam descartadas. O tabuleiro para o jogo é da própria escola, mas grande número de peças tinha sido perdidas e ele se encontrava sem utilização na biblioteca da escola. Foto 2. Jogo de Damas com tampinhas de garrafas pet. (MOTA; AMORIM, 2019). 27 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará No jogo quem “sou eu” as figuras dos animais e de plantas e seus respectivos nomes foram impressas, mas aproveitaram-se versos de folhas-rascunho da própria secretaria da escola. E para as brincadeiras buscou-se o envolvimento de todos os alunos, até mesmo aqueles mais tímidos foram motivados a participar. Devido ao período, foi aproveita- do até o Projeto Carnaval para contextualizar a brincadeira incluindo o quanto de resíduos sólidos são gerados na própria escola durante a festa:copos descartáveis, papéis recortados, garrafas pet, demais embalagens. Foto 3. Alunos da Escola de Educação Básica Maria Dalva Barbosa de Azevedo brincando o Jogo Quem sou eu. (MOTA; AMORIM, 2019). Foto 3. Jogo Quem sou eu (MOTA; AMORIM, 2019). 28 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Na organização da brincadeira foi decidido, pelas próprias crianças, que os alunos com máscaras seriam os caçadores; sem máscara, as caças, os animais indefesos. Já a criança que tivesse com máscara de monstro seriam os protetores dos animais. Nesse contexto, inferiu-se que a criança contextualizou até com os personagens do Folclore Brasileiro, dos quais apresentam seres que protegem a natureza das más ações dos caçadores. Foto 4. Brincadeira Caça e caçador. Alunos do 4º Ano C da Escola de Educação Básica Maria Dalva Barbosa de Azevedo, (MOTA; AMORIM, 2019). Assim, por meio de jogos e brincadeiras os alunos se mostraram motivados a participar das aulas, com empenho, alegria, ampliando sua percepção e pensamento crítico diante da realidade à qual está inserido. Ainda evidenciamos os cuidados com meio ambiente, favorecendo análise e o reconhecimento da realidade sobre a intervenção antrópica e os danos causados ao meio ambiente e motivando o desejo de aplicação de educação ambiental, para realizar mudanças de hábitos na escola, grupo de amigos, família e estender novos conhecimentos e ações a toda comunidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Por meio desta pesquisa, observou-se que a referida escola tem abordado os assuntos relacionados ao meio ambiente de modo inter- 29 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará disciplinar, proporcionando a ampliação dos conhecimentos acerca de temáticas propostas, da quais permitem ao aluno a compreensão ampla dos conteúdos, bem como a promoção de educação ambiental. Foi visto que os alunos tinham estudado e discutido os assuntos re- ferentes ao meio ambiente em sala de aula, orientados pelo professor. Ao ofertar jogos e brincadeiras, não somente diante dos conteúdos estudados, o aluno discutia, refletia e tinha atitudes de promoção socioambientais. Isto favoreceu o diálogo professor-aluno, aluno-aluno e aluno-família em relação a novas ações a serem executadas em seu cotidiano, onde poderiam aproveitar materiais recicláveis e, com criatividade, inseri-los na escola e na própria vida, com grupo de amigos e ambiente familiar, promovendo esclarecimento na sua própria casa, na comunidade. Logo, a ludicidade foi um meio importante para promoção de edu- cação ambiental, pois conquistou e motivou o aluno a utilizar os conhe- cimentos construídos em sala de aula através de brincadeiras, além de ser uma importante metodologia de promoção da educação interdisciplinar e de socialização. REFERÊNCIAS ANTUNES, CELSO. Jogos para bem ensinar. 1ª ed. Fortaleza: Editora IMEPH, 2009. 208 p. BORBA, A. M. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: BRASIL, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Ensino Fundamental de nove anos: Orientações para a inclusão de crianças de seis anos de idade. 2. ed. Brasília, 2006. BRASIL, Ministério da Educação, (1997). Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental. Brasília, MEC/SEF. BRANDÃO, C.R.O que é educação. São Paulo: Brasiliense S/A. Coleção Primeiros Passos. 1997. BUSCAGLIA, L. Vivendo, amando e aprendendo. 22. Ed. Rio de Janeiro: Nova Era,1998. 275 p. FREIRE, PAULO. Educação e mudança. 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984.79 p. 30 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará GUIMARÃES, MAURO. Educação ambiental, no consenso um embate? Campinas- SP: Papirus, 2000. 94p. (Coleção Papirus Educação). JÚNIOR, A. S. S. A Ludicidade no primeiro segmento do Ensino Fundamental. IX EnFEFE – Encontro Fluminense de Educação Física Escolar, 2005. MEDEIROS, A. B.; MENDONÇA, M. J. S. L.; SOUSA, G. L.; OLIVEIRA, I. P. A importância da educação ambiental na escola nas séries iniciais. Revista Faculdade Montes Belos, v. 4, n. 1, set. 2011. MODESTO, M. C.; RUBIO, J. A. S. A Importância da Ludicidade na Construção do Conhecimento. 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São Paulo: FTD, 1994. 152 p. 31 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES QUE PARTICIPAM DAS FORMAÇÕES DE CIÊNCIAS SOBRE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Giliane Felismino Sales1 Márcio Luis Alves Paiva2 INTRODUÇÃO Há alguns anos, apenas a conclusão da Graduação era o bastante para a atuação profissional e era considerada o ponto final para qualquer pessoa que desejasse entrar e permanecer na sua área profissional; o que seria impensável nos dias atuais, dadas às circunstâncias de contempo- raneidade e de globalização que vivenciamos atualmente. Segundo Alvarado Prada (1997, p. 99): “A formação implica a contextualização do professor num meio cultural, visando à transfor- mação do mesmo”. Todavia, é preciso que o profissional de modo geral e principalmente o profissional docente, tenha consciência que a sua formação é permanente e deverá está integrada em seu dia a dia, espe- cialmente nas escolas. É perceptível que, na última década, vários movimentos se efetiva- ram, direcionados a repensar a formação de profissionais do Magistério da Educação Básica, incluindo questões e proposições referentes à va- lorização desses profissionais, destacando que a mesma é considerada um dos desafios para a melhoria da qualidade da Educação Brasileira. 1 Graduada em Biologia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. E-mail: gisa- les0407@gmail.com. 2 Doutor em Geografia pela Universidade Federal Fluminense - UFF (2017). Mestre em Geo- grafia pela Universidade Federal do Ceará (2009). Licenciado em Geografia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (2001). E-mail: marcio.seducsobral@gmail.com 32 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará A aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014/2024 re- sultou na Lei nº 13.005/2014 que apresenta as diretrizes sinalizadoras em busca de uma maior organicidade para a Educação nacional, estabelece vinte metas prioritárias bem como várias estratégias para a efetivação de uma Política Nacional de Formação dos Profissionais da Educação (BRASIL, 2014). A rede municipal de educação de Sobral investe em formações para seus profissionais coordenadas por consultorias que prestam serviço para a secretaria de educação. As formações de professores são coordenadas por duas consultorias: uma coordena as formações do 2º, 5º e 9º anos e a outra coordena as do infantil, 1º, 3º, 4º, 6ºao 8º anos e modalidades EJA. As formações de ciências acontecem mensalmente, exceto as do 9º ano, que acontecem bimestralmente. As formações de ciências do fundamental I acontecem junto com de português e matemática, tendo duração de 4horas, sendo uma hora para ciências e uma hora e meia para as outras disciplinas citadas acima. As formações de ciências do fundamental II ocorrem de forma separada das outras disciplinas, tendo duração de quatro horas. Um dos objetivos das formações de ciências do município de Sobral é desenvolver seus profissionais para que os mesmos cheguem em sala de aula e tenham um leque de informações e metodologias em diversos temas para trabalhar com os estudantes. O objeto de estudo desse artigo é analisar se as formações abordam de forma satisfatória sobre educação ambiental, visto queesse é um tema de grande importância para o de- senvolvimento social, cultural, econômico de uma sociedade e a escola é um espaço ideal para alcançarmos esse desenvolvimento. Ao trabalharmos com questões relacionadas ao meio ambiente devemos considerar os diversos autores do sistema educativo, o que significa o engajamento das distintas percepções de Educação Ambiental, os conhecimentos das áreas, a inserção da comunidade, a capacitação dos profissionais e, ainda, o apoio da universidade em uma perspectiva interdisciplinar, que permita o auxílio da inserção da Educação Ambiental naquele contexto (TRISTÃO, 2004). 33 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará É de suma importância sabermos a percepção dos professores que participam das formações de ciências acerca da educação ambiental, para entendermos as suas abordagens em sala de aula nesse assunto, como também se as formações contribuem para desenvolver atividades de educação ambiental na escola e as sugestões dos mesmos para o melhor desenvolvimento desse tema nas formações. Para buscar essas respostas, a metodologia usada no artigo foi a pesquisa ação do tipo quanti-qualitativa, a qual permitiu analisar resultados de forma geral como também indi- vidual, examinando suas respostas objetivas e subjetivas, entendendo o que pensam e como agem no ambiente escolar. AS FORMAÇÕES DE CIÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE SOBRAL As formações de ciências do município de Sobral têm uma estrutura com informações orais, expositivas e audiovisuais envolvendo leitura e atividades práticas que os professores podem trabalhar em sala de aula. Isso porque as formações trabalham numa linha de dar sugestões aos professores e não os obrigar a fazer aquilo que foi repassado, até por que se entende que cada escola tem sua organização e cabe ao professor, que é conhecedor da sua realidade dentro da sala de aula, analisar se é possível aplicar ou não as atividades propostas. Nas formações do 6º ao 8º ano, antes de começar as orientações do formador², têm uma acolhida, e após esta, o formador mostra a agenda da formação, entrega o material impresso com um estudo teórico, plano de curso do mês, contendo os conteúdos que serão estudados naquele mês e atividades com questões objetivas que os professores podem utilizar. O estudo teórico traz informações que podem abordar algum tema dentro dos conteúdos previstos na formação ou outro tema inerente à educação que permite o professor ampliar seu conhecimento acerca daquele assunto. O plano de curso, além de conter os conteúdos previstos, traz as expectativas de aprendizagem para os temas que serão estudados pelos alunos, como também, traz competências Socioemocionais a serem desen- 34 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará volvidas junto aos estudantes. Por exemplo, durante todo o ano de 2018 foi indicado trabalhar a habilidade “Confiança” dentro da competência “Amabilidade”. Após o estudo do texto teórico, são desenvolvidas pelos professores, diversas atividades que contemplam os conteúdos do 6º aos 8º anos, que podem ser experimentos de baixo custo, mapas conceituais, painel de imagens, jogos didáticos. As formações de Ciências do 9º ano são aplicadas bimestralmente e seguem uma linha semelhante às formações descritas acima, com diferenças na acolhida aos professores, na qual pode ser realizada uma dinâmica, apresentado um texto reflexivo ou um vídeo motivacional. O material impresso tem estudo teórico, sugestões de atividades práticas e atividades de fixação dos conteúdos daquele bimestre. Os professores, ao longo da formação, são instigados a debates e construção de atividades, as quais podem ser utilizadas em sala de aula. A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A INTERDISCIPLINARIDADE A educação ambiental tem como objetivo contribuir para socieda- des ecologicamente equilibradas, gerando mudanças tanto na qualidade de vida como na conduta pessoal, buscando a harmonia entre os seres humanos e outras formas de vida. De acordo com a Lei 9.795/99, Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (LEI 9.795, 1999, art. 1º) Uma das primeiras leis que apresenta esse assunto foi a de número 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio Ambiente, onde seu artigo 2º diz que: 35 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Art. 2º. A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao de- senvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: ... X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para par- ticipação ativa na defesa do meio ambiente. A constituição da República de 1988 previu a educação ambiental como política pública que garante o direito ao meio ambiente ecologi- camente equilibrado. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi- dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: ... VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. Concordando com Cascino (2000), lutar por uma Educação Ambien- tal que considere comunidade, política e transformação, preservação dos meios naturais, aspirações dos grupos, que consolidem lutas efetivas na direção da diversidade, em todos os níveis e em todos os tipos de vida do planeta, é, indiscutivelmente, a luta por uma nova Educação Ambiental. A fragmentação disciplinar pode ser considerada como limitação no entendimento de diversos temas, pois, a construção do conhecimento de forma coletiva aproxima as diversas áreas das ciências, permitindo relações mais dinâmicas e eficientes no contexto educacional (COSTA; LOUREIRO, 2015). 36 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Portanto, é necessário um olhar no processo educacional, a fim de que haja mudanças com o intuito de organizar e estruturar o conhecimento de forma sistemática proporcionando inovações e interações educacionais entre diferentes áreas do conhecimento. A educação ambiental está ligada ao método interdisciplinar, mas esse método é compreendido e utilizado numa perspectiva educativa: (...) a Educação Ambiental, como perspectiva educativa, pode estar presente em todas as disciplinas, quando analisa temas que permitem enfocar as relações entre a humanidade e o meio natural, e as relações sociais, sem deixar de lado as suas especificidades. (REIGOTA, 2001, p. 25) Buscar desenvolver a educação ambiental na escola de forma in- terdisciplinar é fazer articulação dos saberes docentes, refletindo a sua importância no processo de ensino-aprendizagem, desenvolvendo um pensamento reflexivo e crítico do estudante. ANÁLISES DE DADOS E DISCUSSÃO O presente artigo é uma pesquisa-ação com abordagem quanti- qualitativa. Escolhi esse tipo de pesquisa, pois a mesma possibilita aos participantes refletirem sobre sua prática de forma crítica e participativa tanto quantitativamente como qualitativamente. Para Thiollent (1985), a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa centrada na questão do agir e supõe uma participação dos interessados na própria pesquisa organizada em torno de uma determinada ação planejada para intervenção com mudanças dentro da situação investigada. Os sujeitos da pesquisa foram os professores que participam das formações de ciências do fundamentalII, que no total são 293. Foi soli- citado a secretaria do município de Sobral o nome dos professores e suas respectivas escolas. Para a coleta de dados, foi utilizado um questionário 3 Os docentes que participam das formações são apenas os professores orientadores de área de cada escola – POA’s. 37 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará construído no Google Forms4, tendo abordagem quanti-qualitativa, sendo enviado para o e-mail e o WhatsApp de todos os professores. No entanto, somente 20 responderam o mesmo. Vale salientar que muitos docentes que participam das formações não são da área de ciências da natureza e sim, das exatas. Algumas escolas optam por ter professores das ciências exatas para lecionarem tanto a disciplina de matemática como a de ciências. A educação ambiental é um tema cada vez mais discutido na so- ciedade atual, pois permite que o indivíduo avalie sua prática ambiental como também de outros, tenha sensibilidade para com o meio ambiente e proponha soluções para problemas que venham a interferir na qualidade da vida do ser humano como também da biota. No primeiro gráfico é ava- liado se as formações abordam educação ambiental de forma satisfatória. Gráfico 1- Contribuição das formações para trabalhar Educação Ambiental nas escolas. Fonte: do próprio autor Ao analisar o gráfico percebemos que 60% dos entrevistados acre- ditam que as formações ajudam de forma satisfatória e o restante acredita que as mesmas contribuem parcialmente para que esse tema seja traba- lhado na escola ajudando na busca de sensibilização dos alunos como também criticidade dos mesmos. 4 https://docs.google.com/forms/d/1nCeKlnd1baIfs_xHtQN4fvUGbH7UxuG6SsjOkeHWgY/ edit.. 38 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Segundo Reis Júnior (2003, p. 43) preparar os educadores é preparar as novas gerações para agir com responsabilidade e sensibilidade, para recuperar o ambiente saudável no presente e preservá-lo para o futuro. Há vários motivos para que a educação ambiental não seja traba- lhada de forma satisfatória. O segundo gráfico investiga o motivo pelo qual isso acontece. Gráfico 2: Motivo pelo qual as formações não trabalham de forma satisfatória Educação Ambiental. Fonte: própria do autor Para a maioria dos entrevistados, o tempo é o que impede uma abordagem mais enfática desse tema, visto que a matriz curricular só aborda esse tema no 3º bimestre do 6º ano e 4º bimestre do 8º ano. As formações vêm com uma programação definida em cima dos conteúdos que serão vistos naquele mês e se nenhum deles vier abordando sobre o tema, o mesmo acaba não sendo discutido. Para Thomaz e Camargo (2007, p. 89), embora exista uma legisla- ção que assegure o tratamento das questões ambientais no currículo de formação inicial de professores, a incorporação da Educação Ambiental no Ensino Superior, nas propostas de ensino e pesquisa, é um processo demorado e depende da capacitação de todos os profissionais envolvidos. Isso quer dizer que mais do que os discentes, o docente que irá ministrar a matéria deve ter uma visão voltada para a importância da educação 39 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará ambiental como uma mudança de padrão de pensamento, onde os futuros pedagogos devem ser bem preparados para lidarem com as questões am- bientais de uma forma multi e transdisciplinar e não somente abordá-las em datas e eventos comemorativos. A educação ambiental pode ser abordada de diversas formas nas formações. A metodologia adotada pelo formador é importante para que o mesmo alcance os objetivos desejados. O gráfico abaixo mostra os principais recursos utilizados nas formações de Ciências. Gráfico 03: Instrumentos/Recursos utilizados pelos formadores para inserir Educação Ambiental nas formações. Fonte: do próprio autor Este gráfico nos mostra que, segundo os entrevistados, os formadores utilizaram tanto o livro didático como pesquisas, discussão de textos e víde- os para explorar esse tema, seguido de projetos a serem desenvolvidos na escola. É relevante percebemos que o formador utilizou outros recursos além do livro didático. Portanto, ele busca inovar e levar aos professores algo que provavelmente não há no livro ou que este aborda de forma superficial. Vale salientar também que o formador instiga os docentes a desenvolverem atividades práticas, como projetos, permitindo assim que essas práticas sejam introduzidas e desenvolvidas com os alunos em sala de aula. As Formações dão sugestões de como os professores podem tra- balhar a educação ambiental, cabendo ao professor, acatar ou não e desenvolver aquilo que é propício a sua realidade. É o que veremos no próximo gráfico. 40 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Gráfico 04: Instrumentos/Recursos utilizados pelos professores para abordar Educação Ambiental Fonte: do próprio autor Ao analisar o gráfico acima, é perceptível que mais da metade dos entrevistados acatam as sugestões dos formadores. Alguns docentes preferem o livro didático para explanar o tema e apenas dois, em algum momento, desenvolvem projetos na escola. É importante perceber que pouco são os professores fazem projetos na escola, mostrando que a educação ambiental é vivenciada pelos alunos de forma mais teórica. Mesmo não sendo um recurso utilizado na formação, 1(um) professor utiliza a interpretação de gráficos, charges, debates para falar de educa- ção ambiental. De acordo com Minc (2008), a educação ambiental bem ensinada e bem aprendida tem de ter relação com a vida das pessoas, o seu dia a dia, o que elas veem e sentem, o seu bairro, a sua saúde, com as alternativas ecológicas. Caso contrário, torna-se artificial, distante e pouco criativa. Além das formações, os professores são constantemente instigados a fazerem cursos de capacitação e aperfeiçoamento em diversas áreas. O próximo gráfico nos mostra se os professores têm cursos voltados à educação ambiental. 41 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Gráfico 05: Participação dos professores em cursos que abordam Educação Ambiental. Fonte: do próprio autor Este gráfico mostra que 09 (nove) professores procuraram um aperfeiçoamento na área ambiental e 11 (onze) não fizeram nenhum tipo de curso voltado à educação ambiental, não impedindo que estes procurassem, de alguma forma, desenvolver esse tema na escola. Os professores têm papel fundamental no conhecimento, tornando-se imprescindível na educação ambiental. São responsáveis por fomentar a curiosidade, precisando observar as diferentes formas de olhar dos alunos, respeitando suas opiniões e liberdades de expressão (SANTOS, 2009). Assim, tal como afirma Leme (2006), em seus relatos de experiên- cias com educação ambiental em escolas e conhecimentos práticos de professores e sua formação continuada: o professor deve tomar ciência, durante a sua formação inicial, de que necessitará desenvolver conhecimentos de naturezas variadas para atuar profissionalmente, e de que esses conhe- cimentos, que deverão começar a se constituir já nessa fase preliminar de sua formação, terão que se perpetuar ao longo de toda a sua atuação profissional. E para que esse movimento permanente e contínuo de formação profissional concretize- se, é preciso que se reconheça a importância de estabelecer um diálogo constante entre o “fazer” e o “pensar”. (LEME, 2006, p. 110) 42 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Sabe-se que nem sempre é possível desenvolver as atividades de- sejadas por vários motivos. A sala de aula é muito dinâmica e requer do professor conhecimento necessário para identificar o que cabe expor nas turmas que leciona. No gráfico abaixo, é possível perceber os principais empecilhos encontrados, pelos professores, para se abordar educação ambiental na escola. Gráfico 06: Principal dificuldade encontrada pelos docentes para trabalhar Educação Ambiental na escola. Fonte: do próprio autor Aoanalisar o gráfico acima, 9 (nove) professores atribuem que a falta de tempo é uma dificuldade encontrada para desenvolver esse tema transversal. As escolas regulares possuem apenas 2 (duas) aulas de ci- ências semanais, sendo que os docentes precisam repassar de 3 (três) a 5 (cinco) capítulos por mês aos alunos. Dos 20 (vinte) entrevistados, 5 (cinco) atribuem como dificultosa a forma como estão lotados. O profes- sor é lotado para dar a disciplina de ciências, mas na prática, ele migra para outra disciplina, comprometendo o desenvolvimento da primeira. Infelizmente é comum acontecer isso. Geralmente, nos casos que ocor- rem isso, o professor de ciências leciona também matemática ou ele é professor de matemática lotado também em ciências. Como a matemática é uma disciplina cobrada em avalições de média e larga escala, ele acaba diminuindo a carga horária de ciências acrescentando na matemática. 43 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Para se trabalhar o tema meio ambiente é necessária a aquisição de conhecimento e informação por parte da escola para que se possa desenvolver um trabalho adequado junto dos alunos. Isso não quer dizer que os professores deverão saber tudo para que possam desenvolver um trabalho junto dos alunos, mas sim que deverá se dispor a aprender sobre o assunto, constantemente (BRASIL, 1997, p. 35 e 36). Os conteúdos de meio ambiente deverão ser integrados ao currí- culo através da transversalidade, pois serão tratados nas diversas áreas do conhecimento, de modo a impregnar toda a prática educativa, e ao mesmo tempo, criar uma visão global e abrangente da questão ambiental (BRASIL, 1997, p. 36). A lei Federal n 9.795, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, estabelece que todos tenhamos direito a educação ambiental, e esta é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal (MARCATTO, 2002). O último gráfico retrata a visão dos professores em relação ao seu curso superior e como este abordava educação ambiental. Gráfico 07: Abordagem no curso superior sobre a Educação Ambiental Fonte: do próprio do autor Identifica-se que mais da metade dos entrevistados disseram ter visto parcialmente educação ambiental na universidade. Isso nos mostra 44 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará a insatisfação desses docentes da forma como esse tema foi trabalhado na universidade. Vale salientar que 4 (quatro) dos entrevistados alegam não ter visto esse tema no curso superior; 5 (cinco) acreditam que a educação ambiental foi trabalhada de forma satisfatória. Como mais da metade alega ter visto apenas parcialmente, isso nos mostra que esse não é um problema apenas no ensino fundamental. Para Santos e Santos (2016), as instituições de ensino são os maio- res campos de atuação da educação ambiental, pois são lugares onde se podem criar condições e alternativas que estimulem os alunos a terem concepções e posturas cidadãs, cientes de suas responsabilidades como integrantes do meio ambiente. Por se tratar de um tema novo, a educação ambiental tem encontrado dificuldades para ser inserida nos currículos escolares, talvez por se tratar de uma ação educativa de natureza perma- nente e contínua. É comum a educação ambiental ser abordada nas instituições de ensino através da promoção de eventos como palestras ou seminários que tratam da temática ambiental, como atividades extraclasses, deixando clara a fragmentação de conhecimentos que incluem questões éticas e epistemológicas capazes de consolidar a formação dos estudantes. Com relação a isso, Locatelli e Hendges (2008) apontam que: o modelo de educação vigente nas escolas e universidades responde a posturas derivadas do paradigma positivista e da pedagogia tecnicista que postulam um sistema de ensino frag- mentado em disciplinas, o que se constitui um empecilho para a implementação de modelos de educação ambiental, integrados e interdisciplinares, que se utilizem dos meios midiáticos ou em possibilidades. (p. 232) Na abordagem qualitativa do questionário, os professores puderam expressar sua opinião de acordo com o que foi perguntado a eles. A pri- meira pergunta foi: De que forma você entende o caráter interdisciplinar da Educação Ambiental? 45 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará “Um complemento indispensável no processo de ensino- aprendizagem” (Professor 5). “Bastante positiva, pois o importante é o aluno aprender e compreender da relevância do meio ambiente. Com a interdis- ciplinaridade desse conteúdo aumentará a possibilidade dessa aprendizagem” (Professor 16). “Fundamental, já que aborda uma ampla área de discussão” (Professor 20). É perceptível, pelas respostas desses professores acima citados, que se julga fundamental trabalhar de forma interdisciplinar esse tema, para que se atinja os objetivos esperados de forma satisfatória. A segunda pergunta buscou compreender se o professor julga ne- cessário a Educação Ambiental em todas as disciplinas: “Sim, em quaisquer disciplinas, é cabível a abordagem do tema” (Professor 5). “Sim, pois agrega mais conhecimentos nas diversas áreas” (Professor 11). “Sim. Como tema transversal não pode ser deixado de lado em nenhuma disciplina” (Professor 18). Compreende-se que os docentes entendem que esse tema deve per- passar por várias disciplinas, não apenas porque é um tema transversal, mas porque a Educação Ambiental agrega valores em várias áreas do conhecimento. A terceira pergunta procurou saber o que os docentes acham da importância, na formação do aluno, de uma consciência ambiental. “Saber valorizar mais o espaço que vive e atuar de maneira sustentável” (Professor 2). 46 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará “Para que entenda a sua participação na construção de um futuro sustentável e com condições de vida a todas as pessoas e animais” (Professor 16). “Ele ser um multiplicador de informações, ajudando na pre- servação dos recursos naturais locais, para uma melhoria da qualidade de vida na comunidade em que vive” (Professor 18). Constata-se nessas três ultimas respostas que, para o professor, um aluno ambientalmente consciente, adquire práticas e atitudes que cola- boram viver em sua comunidade. A escola é o local ideal para promover aprendizagens voltadas para a formação de atitudes preservadoras do meio ambiente, como confirma Reigota: A escola é um espaço privilegiado de informação, construção e produção de conhecimentos, desenvolvimento da criatividade e possibilidades de aprendizagens diversas, onde os professores devem trabalhar na perspectiva de visões cotidianas, exercendo um papel muito importante no processo de construção de co- nhecimentos dos alunos, na modificação dos valores e condutas ambientais, de forma contextualizada, crítica e responsável. (REIGOTA, 1998, p. 69) Na última pergunta procuramos identificar as sugestões dos profes- sores em relação às formações de ciências e como estas podem melhorar a sua abordagem sobre educação ambiental: “Sempre interdisciplinarizando a temática com as propostas do currículo, partindo do princípio os conteúdos e envolvendo o tema proposto” (Professor 1). “Através de pequenos projetos que possam ser inseridos na grade como forma complementar ao currículo, sem que haja cobranças incompatíveis com a realidade”. (Professor 5) “Sempre estar atualizado com informações nesse tema que possam ser trabalhados em sala de aula e buscar projetos simples para que possam ser desenvolvidos”. (Professor 7) 47 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará “Aulas de campo, projetos, palestras e vídeos explicativos”. (Professor 15) “Se pudéssemos ter aulas de campo (tanto nas formações como nas escolas ”. (Professor 17) Nessa perspectiva, foi possível identificar que os docentes sentem necessidade das formações trazeremexemplos de projetos que podem ser aplicados na escola, mas que não haja uma cobrança ou que eles sejam obrigados a fazer. Foi verificado também uma necessidade por parte deles de haver aula de campo tanto nas formações como na escola. Em relação aos projetos, é perfeitamente aplicável levar alguns modelos que já foram desenvolvidos em outras escolas, para que os professores identifiquem se é possível ou não desenvolver onde estão trabalhando. A aula de campo é algo a se pensar e planejar tanto para as formações como para a escola, pois não depende apenas da consultoria que presta serviço às formações como também do desejo do professor na escola. Existe uma logística na demanda de transportes e essa logística deve ser organizada pela secretaria de educação junto ao setor de transportes. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação ambiental, no âmbito formal, tem a figura do docente como alguém que compreende a necessidade de experimentar e criar práticas pedagógicas significativas, permitindo a possibilidades de trocas de saberes, ideias, experiências entre os discentes, buscando a autonomia do aluno. O presente artigo teve como desafio, compreender a percepção dos professores que participam das formações de ciências acerca da educação ambiental, como as formações podem contribuir para o desenvolvimento dessa prática na escola e o que eles fazem no ambiente escolar que ajudam os discentes a terem atitudes conscientes, em relação ao meio ambiente, nos locais onde estão inseridos. 48 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Através das respostas apresentadas pelos docentes, foi perceptível identificar que os mesmos sabem da importância que a Educação Am- biental tem na escola e como esta pode sensibilizar os alunos a terem práticas ambientalmente corretas. As metodologias utilizadas pelos do- centes para abordar esse tema são, na maioria das vezes, teóricas. Há o desejo, por parte dos professores, que as formações e as escolas tenham aulas de campo, como também que as formações levem projetos que podem ser desenvolvidos no ambiente escolar de acordo com a realidade de cada um. Nota-se aqui a vontade dos professores de romperem com o modelo tradicional que adotam, buscando metodologias ou recursos que promovam a autonomia do aluno e que este seja sujeito no processo de ensino-aprendizagem. Há iniciativa nas formações de Ciências para trabalhar educação ambiental e instigar os professores, mas ainda não é suficiente. É neces- sário um maior investimento nas formações sobre esse tema, para que os professores tragam para sua prática pedagógica os fundamentos da Educação Ambiental, considerando um trabalho de forma interdisciplinar, entre as áreas de conhecimento. Assim, contribuindo para o desenvolvi- mento de um aluno crítico, reflexivo, preocupado com o presente e com as gerações futuras, capaz de criar soluções sustentáveis no ambiente que está inserido. REFERÊNCIAS ALVARADO PRADA, Luis Eduardo. Formação de Docentes em Serviço. In: Formação participativa de docentes em serviço. Taubaté, SP: Cabral Editora Universitária, 1997. p. 87-103. BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014 (Aprova Plano Nacional de Educação 2014-2023). Brasília: Casa Civil, 2014. BRASIL. Lei 9.795, de 27 de abril de 1999. Institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Brasília: Diário Oficial da União, 28 de abril de 1999. BRASIL - Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: meio ambiente e saúde - Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: 1997. 49 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 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São Paulo; Vitória: Annablume/Facitec, 2004. 51 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará EDUCAÇÃO AMBIENTAL: PROCESSO CONTÍNUO DE CONSCIENTIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA REALIDADE E VIVÊNCIA DAS EDUCADORAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Emanoela Victor Bezerra Carvalho1 Marianne Brunet Martins de Aquino2 INTRODUÇÃO É no período escolar, principalmente na fase da infância, que as crianças absorvem os ensinamentos mediante observações e práticas vivenciadas em seu cotidiano. Tudo que fora transmitido é de fundamen- tal importância devido ao fato da reprodução de forma automática dos comportamentos mediante aos processos de aprendizagem, assim como é imprescindível dentro desse contexto de absorção de conhecimentos, a introdução da educação ambiental neste processo inicial de desenvol- vimento do ser, a fim de que seja explanada a importância do cuidado com os elementos da natureza e como o homem pode modificá-la com práticas voltadas à preservação e manutenção das próximas gerações. É por intermédio de toda construção educacional vivenciada na educação infantil, que possibilita a conscientização dos educandos na contribuição do meio ambiente mais harmônico e sustentável para o equilíbrio e do ecossistema. Conforme preleciona nossa legislação, lei maior de nosso ordena- mento jurídico, por meio da Carta Magna de 1988, que consubstancia essencialmente dever de todos, como também do poder público, de 1 Especialista em Educação Ambiental pela UFC. Graduada em licenciatura e bacharelado em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: emanoelavb@yahoo.com.br 2 Pedagoga e Especialista em Educação de Jovens e adultos. E-mail: mariannebrunet22@yahoo. com.br 52 múltiplas perspeCtivasda eduCação ambiental no Ceará proteção ao meio ambiente e preservação com práticas que assegurem o sustento equilibrado do meio natural. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi- dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Diante do respaldo jurídico, emerge a abordagem dos temas educa- cionais ligados à Educação Ambiental de forma concatenada com as de- mais disciplinas, ocasionando a integralização aos sistemas educacionais vigentes como ponte de conhecimento e consciência de toda implicação dos impactos oriundos da ausência da efetividade de boas práticas que viabilizem a sustentabilidade de todo ecossistema. O presente artigo destaca a importância de efetivar no âmbito da educação infantil não apenas a utilização do conhecimento, orientações e propagação de boas práticas que viabilizem a proteção e manutenção do meio ambiente, mas o chamamento dos pais e de toda comunidade envolvida para que realmente se possa trabalhar com a conscientização e constatação de que todos precisam modificar seus comportamentos, tendo em vista tamanha urgência frente aos desastres já ocorridos em decorrência da interferência do homem de forma desrespeitosa para com a natureza e sinais de alerta que já emergem em nosso cotidiano. Salienta-se priorizar uma conectividade da realidade dos conteúdos ministrados em sala de aula pelos educadores, com a real vivência dos alunos, fazendo uma aproximação e ligação para melhor absorção e assimilação, auxiliando, assim, no processo de aprendizagem, Destarte, com a abordagem do Ministério da Educação utilizando- se da nomenclatura Temas Transversais – para inserir assuntos e abor- dagens que necessitam de um olhar sensível para questões pertinentes à realidade das pessoas e sua relação com a natureza, como é o caso da Educação Ambiental. De tal modo, sugere-se trabalhar tal assunto de forma flexível, encaixando-a com as demais disciplinas que também 53 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará fazem parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), oriundos a partir do Plano Nacional de Educação (PNE), estabelecidos no ano de 1999, ficando as escolas livres no que diz respeito ao conteúdo das matérias ministradas. Além disso, na esteira do que se propôs, este estudo tem como objetivo geral a explicitação da inserção da Educação Ambiental (EA) e, por conseguinte, a abordagem dos conteúdos que são pertinentes ao meio ambiente, logo na educação infantil, preconizando a ligação com a realidade de cada família e comunidade, para que haja significado e aproximação com aquilo que é vivenciado no dia a dia. Por meio da explanação ora mencionada, busca-se responder, ainda que prelimi- narmente, ao questionamento: “a inserção dos conteúdos e projetos sobre a Educação Ambiental fazem ligação com aquilo que é peculiar e dentro das reais necessidades sociais, culturais, econômicas e histó- ricas do universo particular de cada educando e comunidade na qual ele está inserido? No tocante aos objetivos específicos, temos: apresentar o conceito da Educação Ambiental (EA) demonstrando sua essencial importância para aflorar uma consciência de que o homem e a natureza se conectam, e as práticas corriqueiras do cotidiano precisam estar voltadas para a pre- servação e sustentabilidade das atuais e futuras gerações; contextualizar a EA e sua historicidade no âmbito internacional e nacional; por fim, demonstrar o que atualmente vem sendo trabalhado no tema transversal ora discutido, mediante aplicação de questionário aplicado em uma ins- tituição particular como também na escola pública. A metodologia adotada para elaboração do trabalho foi qualitativa, descritivo-analítica, desenvolvida por intermédio de pesquisa bibliográ- fica, mediante argumentos e dados embasados em publicações sobre o tema, por meio de livros especializados, normas vigentes, pesquisas em sites do Ministério da Educação, portais de notícias, dentre outras fontes alusivas ao assunto. Fora ainda utilizado questionário com perguntas abertas realizado em uma pesquisa de campo. 54 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL E NO MUNDO As políticas de Educação Ambiental têm uma história, e em sua trajetória essas políticas foram formuladas a partir de experiências pas- sadas e também de prospecções futuras. Sob esse aspecto, o primeiro registro que aborda a Educação Am- biental ocorreu em 1948, na União Internacional para a Conservação da Natureza, em Paris. Entretanto, somente na Conferência de Estocolmo (1972) é que fora atribuído a inserção da temática da Educação Ambiental. Essa conferência apontou a necessidade de educar para a compreensão dos problemas ambientais. Já em 1975, foi lançado o Programa Internacional de Educação Ambiental, em Belgrado, onde foram definidos princípios e orientações para o futuro. Na Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental em Tblisi (1977), a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciên- cia e Cultura (UNESCO) fez parceria com o recente Programa de Meio Ambiente da ONU. Desse encontro, saíram estratégias que definiram objetivos e metas para a Educação Ambiental que até hoje são adotados em todo o mundo. No Brasil, em 1973, houve a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), mas somente em 1981 surge a Lei 6.938/1981 sobre a Política Nacional de Meio Ambiente – PNMA, que estabeleceu no âmbito legislativo a necessidade da inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, incluindo a participação da comunidade. Tempos depois, em 1990, as questões ambientais ganharam maior visibilidade e materialidade com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). No ensino formal houve a valorização da Educação Ambiental pela Política Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795, de 27 de abril de 1990), em uma perspectiva transversal, e não como disciplina especí- fica, gerando novas necessidades no campo do ensino e da aprendizagem. 55 múltiplas perspeCtivas da eduCação ambiental no Ceará Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. Ademais, um grande marco histórico sobre o meio ambiente foi a conferência Rio 92. Neste evento, foi elaborado um documento de grande importância: o Tratado de Educação Ambiental, que estabelece uma relação entre a política pública de educação ambiental e a sustentabilidade. Durante o evento também foi concebido e aprovado pelos governos outro docu- mento, a Agenda 21, que teve forte implicação na educação ambiental. Já em 1994, com a participação dos educadores ambientais, da so- ciedade civil e outros segmentos sociais, foi criado o Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), que teve como finalidade assegurar as múltiplas dimensões da sustentabilidade no âmbito da educação. Na Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade, em Tessaloniki (1997), articularam-se ações de Educação Ambiental baseadas nos conceitos de ética e sustentabilidade, identidade cultural e diversidade, mobilização e participação. Neste evento, foi configurada a necessidade de contemplar as premissas básicas na educação em favor da sustentabilidade. Alguns anos depois, em 2000, no Brasil, a Educação Ambiental in- tegrou novamente ao Plano Plurianual, sendo vinculado ao Ministério
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