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NEGÓCIO JURÍDICO ELEMENTOS,CAUSA CLASSIFICAÇÃO

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NEGÓCIO JURÍDICO. ELEMENTOS. CAUSA. CLASSIFICAÇÃO.
A respeito dos planos do negócio jurídico (tópico anterior), cabem ainda duas observações:
1.Elementos do negócio jurídico: trata-se de um método alternativo de análise, cujos resultados são, fundamentalmente, os mesmos dos verificados nos planos. Ainda que alguns autores façam as duas abordagens, acaba sendo uma repetição. Deve-se preferir a sistematização apresentada pelos “planos” (existência, validade, eficácia) porque é tecnicamente melhor. Daí porque mencionam-se os Elementos, aqui, como simples observação.
Elementos essenciais: - genéricos: é o plano da validade (art. 104).
 - específicos: as características típicas de cada negócio, ex.482.
Elementos naturais: são os efeitos de cada negócio, o resultado jurídico pretendido. Em outras
 palavras, é o objeto imediato.
Elementos acidentais: é o plano da eficácia.
2.A causa do negócio jurídico:
a)Sistemas causalistas (Itália, França): Dá-se grande importância à questão da motivação de um negócio jurídico, até mesmo como requisito de validade.
b)Sistemas anti-causalistas (Alemanha, Brasil): Substitui-se a análise da motivação pela análise do objeto imediato do negócio jurídico, o efeito visado. O que precisa estar em conformidade com a lei é o objeto do negócio, independentemente de qual seja a motivação.
Mas o Código Civil Brasileiro, mesmo adotando a compreensão germânica, não ignora inteiramente a questão da causa. Pontualmente se faz referência a ela. Exemplos: art. 166, III, art. 140, art. 884.
CLASSIFICAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO
I.Quanto ao número de partes:
1.Unilateral: existe uma só parte, uma só declaração de vontade, em regra não receptícia, como no testamento, na promessa de recompensa, na renúncia, na confissão de dívida; excepcionalmente receptícia, como na revogação de mandato. A criação de uma associação (art. 53, parágrafo único), ou de uma fundação (art. 62), são negócios jurídicos unilaterais. Atente-se que “parte” não se confunde com indivíduo.
2.Bilateral: aqui existem duas partes, duas declarações de vontade correspectivas (não iguais), em relação ao objeto. É o que acontece na compra e venda, na doação, na locação etc.
3.Plurilateral: negócios com mais de duas partes. A sociedade com mais de dois sócios. O consórcio. A doação da nua propriedade a uma pessoa com constituição de usufruto a outra etc.
II.Quanto às vantagens patrimoniais:
1.Gratuito: uma parte proporciona a outra (parte ou interessada) algum enriquecimento, vantagem econômica, sem haver contraprestação, contrapartida: testamento, doação, comodato (art. 579).
2.Oneroso: diante da vantagem econômica proporcionada por uma das partes, corresponde uma contraprestação da outra: compra e venda, locação, contrato de trabalho. Negócios onerosos serão sempre bilaterais ou plurilaterais. Subdivisão: 
a) Comutativo: no momento da celebração do negócio, já se sabe exatamente a prestação e a contraprestação devidas entre as partes.
b) Aleatório: a contraprestação é incerta, caracterizada pelo risco. São os contratos aleatórios, art. 458 e ss.
III.Quanto ao momento da produção de efeitos:
1.Inter-vivos: são todos os negócios jurídicos, mesmo aqueles cujos efeitos se estendem para depois da morte da parte ou das partes, como o seguro de vida e os compromissos de compra e venda porque, neles, os efeitos pelo menos começaram em vida.
2.Mortis-causa: somente o testamento e, por extensão, o codicilo.
IV.Quanto à existência:
1.Principal:é aquele negócio jurídico que tem, ou pode ter, existência autônoma, independente de qualquer outro.
2.Acessório:aquele cuja existência supõe e depende de outro, que é o principal. Relação com o conceito do art. 92. Um negócio jurídico acessório não tem existência autônoma. A fiança, o aval, a hipoteca, o pacto antenupcial em relação ao casamento (art. 1653).
V.Quanto à forma:
1.Solenes ou formais: a lei impõe forma ou rito para a celebração do negócio, e que passa a ser requisito de validade: o casamento (art. 1533 e ss), o testamento (art. 1864 e ss), a escritura pública (art. 108).
2.Não solenes ou meramente consensuais: todos aqueles em que prevalece a liberdade de forma (art. 107).
VI.Quanto ao exercício de direitos:
1.De disposição: são todos os negócios jurídicos de alienação (que implicam transmissão do direito de propriedade), e os constitutivos de direitos reais de garantia (a expressão “gravar de ônus real” é uma referência a eles). Atente-se para a enumeração do art. 1225.
2.De administração: são aqueles que criam vínculos meramente pessoais, obrigacionais, como por exemplo o mútuo, a locação, o comodato, a prestação de serviços.
Uma aplicação prática disso se vê no art. 1691: “Não podem os pais alienar, ou gravar de ônus real os imóveis dos filhos, nem contrair, em nome deles, obrigações que ultrapassem os limites da simples administração, salvo por necessidade ou evidente interesse da prole, mediante prévia autorização do juiz.”
VII.Quanto ao conteúdo:
1.Patrimoniais: tem, exclusivamente, um objeto econômico: a prestação de serviço, a compra e venda, a doação. A classificação em onerosos e gratuitos (item II), só se aplica aos patrimoniais.
2.Extrapatrimoniais: o casamento, o reconhecimento extrajudicial de filiação, a emancipação por ato extrajudicial. São negócios em regra vinculados ao direito de família. Na maior parte das vezes terão reflexos econômicos, mas o negócio não se esgota neles. Pelo menos em parte têm uma dimensão extrapatrimonial.
VIII.Quanto ao objetivo:
1.Negócio jurídico direto: o objetivo, o resultado visado pela(s) parte(s) é aquele previsto em lei para aquela figura negocial. É o uso de modelos jurídicos para atingir exatamente os efeitos para os quais a lei os criou.
2.Negóciso jurídicos indiretos: usa-se uma figura jurídica por outra. É a utilização imprópria de modelos negociais previstos em lei, para atingir resultados práticos diferentes. Exemplos: usar uma procuração (mandato), como substitutivo de uma compra e venda (o art. 685 acaba sendo um permissivo a isso); o mandato ao filho (art. 666) fazendo as vezes de emancipação; a venda por preço irrisório fazendo as vezes de doação; a renúncia a uma herança gerando o efeito prático de uma doação. Negócios jurídicos indiretos tem uma grande proximidade com a fraude e com a ilegalidade, mas não são necessariamente ilegais.
Observação final: A doutrina refere-se, ainda, aos negócios jurídicos causais e abstratos como modalidade de classificação. Causais seriam os negócios jurídicos em que os direitos e obrigações da(s) parte(s) são desenvolvidos entre os próprios agentes originais, que celebraram o negócio. Ao contrário, negócio abstrato seria aquele em que o pagamento (em um negócio jurídico patrimonial), é representado por um título de crédito que pode circular no mercado, passando a terceiros que não celebraram o negócio. Fácil de ver que não é o negócio em si que se transforma em “abstrato”, mas apenas a obrigação de pagamento dele decorrente.

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