Buscar

Aula 2 TRJ II Aquisição, Modificação e extinção de direitos

Prévia do material em texto

AQUISIÇÃO, MODIFICAÇÃO E EXTINÇÃO DE DIREITOS
Trata-se, aqui, de uma análise preliminar ao estudo do negócio jurídico, em que se procura sistematizar as diferentes maneiras como certos eventos, sobretudo atos jurídicos lícitos e determinados fatos jurídicos (como o curso do tempo e a morte), criam, modificam, transmitem ou extinguem direitos.
Aquisição de direitos:
No dizer de CAIO MÁRIO, aquisição de direito significa a conjunção de um direito, abstratamente considerado em lei, a um indivíduo concretamente considerado, o titular. Numa perspectiva filosófica, a questão tem a ver com a distinção entre direito objetivo e direito subjetivo.
1.Originária: é a criação de um direito novo, original, até então inexistente nas mãos de alguém. Não existe, portanto, o fenômeno da transmissão. É o que se vê, por exemplo, na ocupação, aquisição de propriedade móvel – art. 1263: “assenhorar-se de coisa sem dono...” (pesca), ou na criação de obra intelectual, que faz surgir para o autor um direito novo, que nada tem a ver com a matéria-prima utilizada. A lei destaca o fenômeno sob a denominação “especificação” (art. 1269); ou ainda a usucapião, em suas diferentes modalidades, como regulada nos artigos 1238 e seguintes do Código.
2.Derivada: aqui, há transmissão de um direito preexistente de um antecessor para um sucessor (sucessão em sentido lato). Se um mesmo direito passa de uma pessoa a outra, suas características, eventuais limitações e vícios o acompanham, porque um titular não pode transmitir a outro algo diferente daquilo que ele tem. É o que acontece em um contrato de compra e venda, ou na sucessão hereditária.
Observações:
a) Tanto a aquisição originária quanto a aquisição derivada de direitos, pode dar-se a título universal ou a título singular (artigos 89 a 91).
b) Aquisição originária ou derivada de direitos exige aptidão de titularidade (capacidade de direito ou de aquisição), não necessariamente capacidade de exercício. Reflita-se, por exemplo, com a sucessão hereditária, ou a pesca pelo incapaz (ato-fato).
c) Momento da aquisição: distinção entre direitos atuais, direitos futuros e meras expectativas. Direito atual é o já adquirido, que se incorporou ao patrimônio jurídico do titular, independentemente de já poder, ou não, ser exercido. Direito futuro é o que está em fase de formação, em fase embrionária; está em vias de ser incorporado ao patrimônio jurídico do titular. Há uma perspectiva concreta de sua aquisição. Mera expectativa de direito é uma simples possibilidade, uma mera conjectura de algo que pode vir existir, ou não, é menos que um direito futuro.
Há grande repercussão prática nessa distinção, na compreensão de alguns preceitos, por exemplo, os artigos 131 e 125 do Código.
Modificação de direitos:
1.Subjetiva: é alteração de titularidade. Só ocorre nas aquisições derivadas. A compra e venda, a sucessão hereditária.
2.Qualitativa: diz respeito ao objeto. O bem destruído que é substituído pelo dinheiro da indenização (do causador do dano, ou do seguro). A permuta de bens de espécies diversas.
3.Quantitativa: diz respeito `extensão do objeto sobre o qual o direito recai. A indenização a menor. Os juros moratórios ou remuneratórios. Os frutos colhidos pelo possuidor de boa-fé (art. 1214).
Tais categorias não são excludentes entre si. Nas relações jurídicas interpessoais, tais modificações podem vir sobrepostas, cumuladas entre si.
Extinção de direitos:
Na doutrina, encontram-se abordagens diferentes sobre esse item. Na visão de CAIO MÁRIO, só há, efetivamente, extinção de um direito com o desaparecimento do seu objeto, sem substituição alguma. É diferente de uma simples perda, que pode implicar apenas numa alteração subjetiva, ou qualitativa.
- Perecimento (destruição da coisa), sem substituição.
- Renúncia (abrir mão de um direito), sem contrapartida.
- Abandono (abrir mão de coisa).
- Decadência de direitos.
- Falecimento do titular (em relação aos direitos personalíssimos).
Observação sobre a Defesa e Conservação de Direitos:
Historicamente, a questão era tratada nos Manuais de Direito Civil por conta de uma confusão secular entre as condições de defesa de um direito e o conteúdo dele. O Código Civil de 1916 refletia essa confusão no art. 75, que dispunha: “A todo o direito corresponde uma ação que o assegura.” Entende-se, atualmente, que o termo “ação” refere-se à garantia constitucional de acesso ao Poder Judiciário (art. 5º, XXXV, da CF/88), enquanto que “pretensão” é o pedido em si (o conteúdo dele) que se formula ao juiz. Em face disso, os diferentes modos existentes para se protegerem e conservarem direitos, passou a ser estudado no Direito Processual Civil.

Continue navegando