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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 3ª UNIDADE PROFª ELENIR FIGUEIREDO APRESENTAÇÃO Caro (a) acadêmico (a), você está direcionando seus estudos para a modalidade de Ensino a Distância (EAD), a partir de agora, você irá desenvolver sua autonomia intelectual por meio desta abordagem de aprendizagem e, será um momento que levará você a refletir sobre sua formação e aprendizagem. É válido destacar que nesta construção do conhecimento somos eternos aprendizes, ou seja, estamos diariamente aprendendo com o outro, e como nos lembra Freire (2009) “Não há docência sem discência”, elas interagem , dialogam nesta construção e transformação do conhecimento, portanto, a EAD, constitui-se como uma ferramenta para que possamos efetivar nosso diálogo. Assim, nossa disciplina Educação de Jovens e Adultos está estruturada em uma unidade, tendo em vista que por meio desta leitura vamos iniciar uma reflexão sobre uma modalidade de ensino tão importante e necessária na formação do pedagogo. Agora, leia este material e, com o auxílio do seu (a) tutor (a), professor orientador (a), inicie o processo de aprendizagem e, apropriação do conhecimento. Boa leitura, bons estudos! 3 DIRETRIZES NACIONAIS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS A LDB Lei n.º9.394/96 prevê que a educação de jovens e adultos se destina àqueles que não tiveram acesso (ou não deram continuidade) aos estudos no Ensino Fundamental e Médio, na faixa etária de 7 a 17 anos, e deve ser oferecidas em sistemas gratuitos de ensino, com oportunidades educacionais apropriadas, considerando as características, interesses, condições de vida e de trabalho do cidadão. A resolução CNE/CEB n.º1/2000, por sua vez, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos. Essas diretrizes são obrigatórias tanto na oferta quanto na estrutura dos componentes curriculares de Ensino Fundamental e Médio de cursos desenvolvidos em instituições próprias, integrantes da organização da educação nacional, à luz do caráter peculiar dessa modalidade de educação. 3.1 Princípios da EJA a inserção num modelo educacional inovador e de qualidade, orientado para a formação de cidadãos democráticos, sujeitos de sua ação, valendo-se de educadores que tenham formação permanente para respaldar a qualidade de sua atuação; um currículo variado, que respeite a diversidade de etnias, de manifestações regionais e da cultura popular, cujo conhecimento seja concebido como uma construção social fundada na interação entre a teoria e a prática e o processo de ensino e aprendizagem como uma relação de ampliação de saberes; a articulação com a formação profissional: no atual estágio de globalização da economia, marcada por paradigmas de organização do trabalho, essa articulação não pode ser vista de forma instrumental, pois exige um modelo educacional voltado para a formação do cidadão e do ser humano em todas suas dimensões; o respeito aos conhecimentos construídos pelos jovens e adultos em sua vida cotidiana. 3.2 Proposta curricular 1º Segmento Este documento deve constituir-se em subsídio à elaboração de projetos e propostas curriculares a serem desenvolvidos por organizações governamentais e não-governamentais, adaptados às realidades locais e necessidades específicas. Este trabalho representa para o MEC a possibilidade de colocar à disposição das secretarias estaduais e municipais de educação e dos professores de educação de jovens e adultos um importante instrumento de apoio, com a qualidade de referencial que lhe é conferida pelo notório saber de seus autores. 2º Segmento Lançada pela SEF em 2002, com base na Revolução nº01/2000 e no Parecer CNE/CEB nº11/2000, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para EJA, essa Proposta tem por finalidade subsidiar o processo de reorientação curricular nas secretarias estaduais e municipais de educação, bem como nas instituições e escolas que atendem a EJA. 3.3 Diretrizes Curriculares nacionais para a EJA, bases legais vigentes Segundo o Parecer CEB 11/2000: “A Constituição Federal do Brasil incorporou como princípio que toda e qualquer educação visa o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. (Pág. 22). “Retomado pelo art. 2º da LDB, este princípio abriga o conjunto das pessoas e dos educandos como um universo de referência sem limitações. ” (Pág. 22). Assim, a Educação de Jovens e Adultos, modalidade estratégica do esforço da Nação em prol de uma igualdade de acesso à educação como bem social, participa deste princípio e sob esta luz deve ser considerada. (Pág. 22). Então o art. 208 da constituição federal diz claramente: O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: I – ensino fundamental obrigatório e gratuito, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ele não tiverem acesso na idade própria; (CEB 11/2000:2 https://slideplayer.com.br/slide/13062027/ A própria constituição federal em seu artigo citado acima, nos diz que existe uma importância na alfabetização dos jovens e adultos que vivem no país e que não concluíram seus estudos em idade correta ou sequer chegaram a estudar. Cabe ao Estado, unidade federativa, ofertar uma educação adequada para todos os estudantes matriculados. Isto inclui a EJA por ser necessário que haja a integração social desse indivíduo, onde isso acaba não sendo somente competência da escola, e também dentro do ambiente educativo. Isso é o que chamamos de igualdade de acesso. https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjkyp3w77DkAhUGLLkGHaFoBa8QjRx6BAgBEAQ&url=https://slideplayer.com.br/slide/13062027/&psig=AOvVaw1ao9iertmL6MJUQxFtD_b9&ust=1567469536473635 Todos têm direito de concluir seus estudos, seja em que período for, seja em idade certa ou não. Temos que entender também que o acesso a educação no século passado entre meados das décadas de 1970 e 1980era mais difícil, os jovens acabavam por sair da escola para ter que trabalhar, a era da globalização ajuda, de certa forma, com a evasão escolar de jovens que ficam adultos e que depois tem que concluir seus estudos para continuarem inseridos no mercado de trabalho. Mas me parece um relógio onde uma engrenagem necessita, e muito, da outra para funcionar, um círculo vicioso, onde o estado necessita de mão de obra para crescer, e por sua vez, essa mão de obra precisa do estado, e para que haja um certo equilíbrio, é necessário que este indivíduo tem que se qualificar, e para que essa qualificação ocorra, o indivíduo primeiro precisa terminar os seus estudos. É mais ou menos assim que funciona, porém, a todo o tempo temos uma educação, infelizmente, voltada para o mundo do trabalho e não para autonomia e liberdade. Para finalizar, concordamos com o documento, em sua maioria, na forma de pensar a Educação de Jovens e Adultos. Esse parecer nos faz avançar educacionalmente de uma forma mais humana com um olhar de que cada vez mais é possível transformar e transferir conhecimentos. FORMAÇÃO DE EDUCADORES PARA EJA Quem são os educadores da EJA. Esses profissionais são Pedagogos? Profissionais do Magistério? Existe alguma formação específica para os profissionais da EJA? É uma modalidade educacional que está além do curso de Pedagogia? E quando o curso de pedagogia e seu currículo dão conta da EJA? Esses são alguns questionamentos que tentarei esclarecer aqui, levando em conta as ideias de Paulo Freire e Suzana Schwartz. “O objetivo do trabalho didático-alfabetizador é contribuir para que os sujeitos se tornem usuários autônomos da linguagem”. Schwartz (2010, p.41). O professor alfabetizador, não deve contemplar somente o sistema de linguageme tornar o estudante, que é um ser de muita luz, autônomo dessa linguagem e da escrita. O professor é, segundo Paulo Freire, o libertador deste aluno para a vida. http://cantinhodesugestoesparaeja.blogspot.com/2010/03/educador-de-jovens-e-adultos.html Temos que considerar o estudante da EJA como um ser já com vida praticamente conclusa, o que lhe falta é só a liberdade que o professor tem o papel de lhe dar, através da transferência dos múltiplos conhecimentos. Queremos então chamar a atenção, que o ato de ensinar não é só o método de transferência de conhecimentos, mas também o ato de respeitar o conhecimento já adquirido dos seus alunos, realizando a soma de suas experiências já existentes com as que o próprio professor terá que transferir, o que chamamos então de troca de saberes. Então, o ato de transferir conhecimento vai muito além de ensinar, de aprender, e até mesmo vai mais além do fazer. Transferir conhecimentos requer necessidades extraordinárias de respeito e de conhecimento por parte do professor que na maioria das vezes não é encontrado em livros ou aprendidos nas faculdades. Cabe aos professores usarem sua inteligência para assim poder perceber a necessidade real de cada aluno e de cada turma e assim http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=2ahUKEwjow-6J8bDkAhVGH7kGHXceB-YQjRx6BAgBEAQ&url=http://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=&url=http://cantinhodesugestoesparaeja.blogspot.com/2010/03/educador-de-jovens-e-adultos.html&psig=AOvVaw1tFJaLdaeKKiT63USacT9W&ust=1567470511217184&psig=AOvVaw1tFJaLdaeKKiT63USacT9W&ust=1567470511217184 poder andar com seus alunos, juntos, em um caminho repleto de conhecimentos e boas experiências. O professor necessita refletir sobre sí, primeiramente, de forma crítica, sobre que teorias ele vai seguir a fim de ter clareza sobre que correntes teóricas ele irá seguir para embasar sua prática, e decidir que tipo de aluno ele quer formar (SCHWARTZ, 2010). São eles: a. Um aluno copista: que não reproduz que não transfere e consequentemente não aprende. É o tipo de aluno que existe na escola somente para copiar o que o professor escreve no quadro, não opina, não aparece para o professor, não entende, quer só terminar o seu estudo na escola e receber sua ficha de conclusão do curso, seja ele fundamental ou médio. Geralmente este tipo de aluno não estuda, e utiliza o método de decoração do que é escrito pelo professor em sala de aula. Esse é o perfil do professor “Professauro”, fazendo referência ao livro professores e professauros de Celso Antunes, onde é possível enxergar que é o professor que não está muito preocupado se o aluno aprendeu; este professor deposita o conteúdo estando mais preocupado no deposito do que na aprendizagem. b. Um aluno reprodutor de ideias: é aquele que não é autônomo de fato. É incapaz, ou melhor, não consegue ter ideias próprias por que a prática docente não lhe permite tal. Às vezes pensa que é mais fácil reproduzir o que o professor fala, pois acha mais cômodo, do que pensar e tirar suas próprias conclusões, e as vezes esse aluno chega às suas conclusões tendo ideias maravilhosas, mas, devido a autoridade ainda militar do professor, prefere guardar pra si sua opinião e reproduzir a opinião do outro. Este professor dito por mim como militar, faz jus ao professor autoritário que prefere impor sua opinião, ao invés de transferir e respeitar ideias. É o professor que pensa que é o dono da verdade, o detentor de todo conhecimento e que o aluno é a mais pura tábua rasa, independente de esse aluno ter ou não experiências que possa ser trocada. c. Um ser pensante, e autônomo: Este é aquele aluno que pensa, tem criticidade e opinião própria. É o aluno que tem suas experiências e conhecimentos respeitados pelo professor. Ele não recebe depósitos de conhecimentos e conteúdos, aprende a respeitar opiniões e impõe respeito as suas, é capaz de construir um conhecimento rico com toda a sala de aula, além de ajudar o professor no ato mais importante; o de aprender de fato tudo que lhe é passado. Este professor por sua vez, é o questionador, o que desperta o interesse do aluno em enxergar as coisas da maneira correta, além de aumentar a cede de seus alunos em aprender. É um profissional inteligente e ao mesmo tempo inquieto que só fica satisfeito quando todos os seus alunos conseguem ser de fato autônomos em suas ideias e em seus pensamentos. Tendo em vista que discutimos ainda aqui um pouco sobre o perfil de alguns profissionais de educação, introduzimos aqui o que observamos estar bastante presentes nas mais variadas e inúmeras salas de aula espalhadas pelo país. Mas ainda pode se dizer aqui que é necessário que aja uma mudança na maneira de como parte dos professores enxergam os seus alunos e passá-los a enxergar da forma correta. Então para que isto aconteça é necessário ao professor: i. Enxergar os alunos como são sujeitos inteligentes, que desenvolveram suas estratégias de sobrevivência na cultura escolar; ii. Considerar que esses sujeitos chegam a sala de aula com conhecimentos já construídos; iii. Reconhecer a necessidade de diagnosticar cientificamente os saberes dos alunos, bem como os motivos reais que levam esses sujeitos adultos a querer e necessitar aprender e transferir o conhecimento, a ler e a escrever, a pensar e a criticar; iv. Considerar que esses sujeitos já tiveram no passado uma tentativa de aprendizagem que acabou por ser frustrada pela vida, fazendo-os de certa forma fracassarem. Este sentimento de fracasso pode desencadear neste indivíduo a falsa sensação de incapacidade de aprendizagem e desencadeá-lo para o sentimento de desamparo para com a aprendizagem. Agora vamos dar continuidade a reflexão sobre outros aspectos inerentes ao professor de jovens e adultos. 4.1 O professor alfabetizador e seus saberes O saber do professor está constituído em suas experiências, crenças, convicções, valores, ideias, princípios, algumas correntes teóricas e principalmente em suas estratégias de atuação que organiza, justifica e executa sua ação. O saber do professor vai muito além de algo aprendido por ele no ensino superior em seu curso de licenciatura. Há poucos anos atrás, era o profissional que tinha o curso de magistério, o “capaz” de alfabetizar os alunos, fossem eles crianças ou adultos. Ainda hoje temos muitos desses profissionais dentro dos ambientes escolares, e queremos destacar aqui a importância destes professores que tem como formação o Magistério, como de suma importância para o ato educativo. Porém são os pedagogos que tem de suprir hoje a demanda educacional existente no país, pois, os profissionais com a formação de magistério não conseguem mais dar conta sozinhos da educação e do ato de educar, principalmente na EJA. Mas continuando o raciocínio, os professores alfabetizadores hoje, são os responsáveis por, principalmente, formar alunos a ler e escrever. São os verdadeiros soldados em pró da erradicação do analfabetismo, e o que os governantes chamam de analfabetismo funcional. Este tipo de analfabetismo corresponde ao indivíduo que não sabe ler e escrever. A ideia de ser alfabetizado é a de que os indivíduos que saibam pelo menos escrever seus próprios nomes são alfabetizados. Os cinco mandamentos do professor da EJA Respeitar o tempo, a trajetória e a faixa etária dos alunos são essenciais para lidar com todos os alunos, mas, especialmente, com aqueles que retornam à escola na vida adulta https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2147/os-cinco-mandamentos-do-professor-da-eja “Nossa! Estou aprendendo com eles, mais do que ensinando!”. Ouvi esta frase recentemente de uma professora que começara a dar aulas para turmas de jovens e adultos na alfabetização. Fiquei muito feliz com sua impressão.Significava que ela https://gestaoescolar.org.br/conteudo/2147/os-cinco-mandamentos-do-professor-da-eja havia absorvido um princípio importante da conversa inicial que havíamos tido sobre Educação de Jovens e Adultos (EJA). Embora seja um comentário recorrente, ele costuma ir rareando ao longo do ano letivo. Conforme os meses vão passando, costumam aparecer muitas queixas por parte de professores de que os educandos jovens e adultos não aprendem aquilo que eles tentam ensinar. Parecido com o que se ouve, às vezes, das turmas regulares – mas com o agravante de que, no caso da EJA, percebe-se, vez ou outra, alguma descrença de que um dia venham a aprender algo. O princípio que havia aparecido em minha conversa inicial com a professora é o de que a aprendizagem é dialógica, ou seja: eu, educador, não somente ensino, mas também aprendo com as outras pessoas. Os estudantes de Pedagogia ou de qualquer licenciatura costumam ouvir repetidas vezes ao longo dos anos que nenhum ser humano é uma tábula rasa. Mesmo crianças bem pequenas trazem consigo os primeiros estímulos proporcionados pelos seus familiares, no seu ambiente inicial. Dessa constatação deriva outra: a de que nenhum processo de ensino e aprendizagem pode ser iniciado ignorando-se os sujeitos aprendentes e o que eles trazem consigo. Se pensamos assim sobre as crianças, imagine então com jovens e adultos! Por isso, creio que nossa primeira ação como coordenadores pedagógicos em escolas para jovens e adultos é promover a consciência de que ouvir nossos educandos e conhecê-los é o primeiro passo para lhes ensinar qualquer coisa. A primeira vez na EJA Há 13 anos pisei pela primeira vez numa sala de aula com jovens e adultos. Havia acabado de sair dos bancos da faculdade e estava ansioso por ensinar zilhões de coisas que aprendi no curso de licenciatura. Como minha formação inicial era em Letras, minha cabeça – e meus planos – estavam cheios de macetes de ortografia, regras de regência e concordância, princípios de bem escrever. Que tola arrogância! O que encontrei na sala de aula foi outra língua. A fala de meus alunos trazia anos de experiências e uma diversidade de trajetórias que um plano de ensino formatado previamente jamais daria conta. Aprendi a duras penas naquele ano como ser um professor para jovens e adultos. Essa aprendizagem me fez descobrir na prática aquela máxima apregoada pelo mestre Paulo Freire: “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa, por isso aprendemos sempre”. Daí que se eu não acreditar nesta máxima, tudo o que estarei fazendo (como diz o provérbio) é correr atrás do vento. Como coordenador, na ação de formação dos meus professores jamais poderei negligenciar de que este princípio deve estar constantemente diante de cada educador, em sua mente, mas também no seu coração (por que não?). Afinal, ensinar jovens e adultos é um ato de fé de que, não importa qual seja o momento da vida, todos estamos constantemente aprendendo. Portanto, a ação coordenadora e formadora junto aos professores iniciantes de EJA deve passar por algumas observações e considerações: 1) Levarás em conta as trajetórias dos educandos Cada educando tem uma trajetória e, no momento de ensinar, deve-se considerar essas trajetórias e trazê-las para dentro da aula. Não ouvi-las com ouvido de mercador. Elas devem se entrelaçar à aula, fazer parte dela. E isso só é possível quando buscamos, antes, conhecer ativamente nossos alunos. Certa vez, em um final de projeto, uma professora comentou: “O aluno X participa de movimento de moradia. Se soubéssemos antes, nosso projeto sobre direitos sociais teria sido bem diferente”. Só pude concordar com ela! Quantas coisas poderiam ter sido mais ricas em termos de aprendizagem – e obtido mais sucesso - se este educando tivesse sido ouvido antes e participado efetivamente da construção do projeto? 2) Respeitarás o tempo de cada um Não podemos jamais nos esquecer de que cada educando tem seu tempo. No caso de jovens e adultos, isso é importantíssimo! Achar que todos aprenderão do mesmo modo ou no mesmo tempo levará ao desânimo daqueles que, por este ou aquele motivo, não conseguem acompanhar a turma. Não significa que esperaremos todos chegarem ao mesmo ponto, o que é igualmente um desastre. Significa sim que vamos estabelecer em nossa aula, plano, projeto, objetivos para que cada qual avance dentro de suas potencialidades e de acordo com o seu momento. 3) Reconhecerás cada faixa etária com suas especificidades Um risco muito comum (e frequente) é infantilizar os educandos. Isso acontece, às vezes, involuntariamente, na forma de falar com eles, de cobrá-los, ou ainda nos tipos de atividade que se propõe em sala de aula. Às vezes, esse é um movimento inclusive desejado pelo aluno, que traz consigo uma imagem da escola que não pôde frequentar quando criança. Mas o trato infantil também é um dos motivos que afastam os jovens e adultos da escola. Daí que a postura do professor de EJA não deve negligenciar nunca o fato de que somos adultos lidando com jovens ou adultos. Como já disse, este princípio da relação deve estar presente em nossas conversas, mas também no material que levamos para a sala de aula. Temas, leituras, exercícios devem ilustrar e dialogar com o mundo que eles efetivamente vivem. Daí o cuidado que devemos ter com materiais que sejam trazidos das turmas regulares. 4) Respeitarás a diversidade como regra Uma sala de EJA talvez seja a melhor amostra de como nossa sociedade é diversa. As turmas da escola em que trabalho, por exemplo, reúnem jovens que não se adaptaram à escola tradicional, jovens em conflito com a lei, pessoas com deficiência física e intelectual, homossexuais, travestis, transexuais, idosos, mulheres, negros, trabalhadores... Todos estão ali, fisicamente juntos no mesmo espaço e minha postura e prática em sala de aula deve dialogar com todos. Costumo dizer que o traço que identifica todas essas pessoas é o de que, em algum momento, elas foram colocadas à margem da sociedade, o que se evidencia com sua exclusão da escola. Mas trabalhar com a diversidade em sala é compreender que, mesmo que todos tenham este traço em comum, eles também apresentam visões de mundo, projetos, perspectivas diferenciadas, e o educador vai ter que lidar com isso. 5) Motivarás sempre e não desistirás jamais A baixa autoestima é encontrada em muitos educandos de EJA. Suas trajetórias de dificuldades de toda ordem, sua experiência muitas vezes traumática com uma escola excludente, as adversidades que enfrentam para frequentar a sala de aula são grandes barreiras que esses alunos precisam transpor para acessar, permanecer e concluir com sucesso. Lidar com elas é um dever constante do professor de EJA. Um educador desta modalidade que acredita que seu papel é exclusivamente ensinar conteúdos de uma determinada disciplina está fadado ao fracasso. Ensinar jovens e adultos pressupõe um envolvimento maior do professor com seus alunos. Ele precisa se aproximar, ouvir, conversar, compreender os problemas (da aprendizagem e da vida) e estimular seus educandos. Sem esse tête-à-tête, qualquer esforço será em vão. O perfil dos professores se constitui ao longo de sua carreira e necessita de acompanhamento em longo prazo. Ou por todo o tempo “Em termos de grupo, o perfil consubstancia-se historicamente na cultura profissional, como patrimônio que assegura a sobrevivência do grupo e permite a definição de estratégias indenitárias adaptadas a cada realidade histórica social” (ESTRELA, 1997, p.47). Ser professor significa contribuir para a formação de cidadania, portanto, o docente faz toda a diferença: Com muita frequência ouve-se entre os profissionais da educação, das diversas modalidades de ensino que é necessário valorizar/ potencializar/ aproveitar nos educandos,os “saberes cotidianos, os conhecimentos que trazem de casa, as experiências vivenciadas” e/ou outras expressões que nos remetem a esta habitual fala que se tornou comum nas instituições escolares, e quando se fala em Educação de Jovens e Adultos estas falas são ainda mais contundentes. Para Freire (1988, p. 80), a “leitura do mundo precede a leitura da palavra”, isso nos indica que os “saberes” que estão atualmente nos textos escritos da nossa sociedade, nem sempre estiveram ali, e que, não surgiram por acaso. Ao contrário, tais saberes são fruto de sangue e suor, construídos historicamente pela cultura, implicando em lutas sociais na sua produção. A figura do professor poderia simbolicamente ser comparada com a de um maestro criativo que exigiria dos componentes da orquestra: organização, iniciativa própria, envolvimento, dedicação e, principalmente, ações coletivas desencadeadas por processos participativos. “Sendo criativo, articulador, mediador e desafiador, o professor apostaria em todos os meios e recursos existentes para consolidar a construção do conhecimento” (BEHRENS, 1996, p. 64). As constantes transformações nas áreas econômica, política e social, tecnológica e cultural da sociedade atual, têm pressionado a escola a se adequar conforme as exigências do mundo do trabalho, influenciando a educação. Decorrentes a essas mudanças surgem novos desafios, no final do século XX, a escolarização passa a ser exigida no mundo do trabalho, assim aumenta a demanda da educação de jovens e adultos na sociedade. A Lei n. 9394/96 (BRASIL, 1996), em seu artigo 38, determina que, no nível de conclusão do Ensino Fundamental e Médio, a idade seja, 15 e 18 anos. E de acordo com a Deliberação n. 088/00,do CEE-PR, o ingresso na EJA pode se dar aos 14 anos para o Ensino Fundamental e aos 17 para o Ensino Médio. Esta faixa etária exige várias alterações frente a essas mudanças, passa a exigir também um ensino voltado para o campo da pesquisa e ao trabalho criativo. Com relação à qualidade da formação para atuação na EJA, o que ocorre é uma crescente descaracterização dos cursos de formação, juntamente a falta de livros escritos que propicie apoio a essa formação, a pouca contribuição das universidades, ao desprezo desde ensino e a formação para o trabalho docente. São muitos os desafios o que torna a prática de ensinar cada vez mais complexa para superar uma formação fragmentada, tanto a instituição formadora de professores como os formadores e os futuros professores, precisam assumir que na„ sociedade globalizada‟ se convive, simultaneamente, com a inovação e a incerteza. Por isso, a educação dos seres humanos se torna mais complexa, e a formação do professor, também, passa a assumir essa complexidade. Para superar a dicotomia entre ensino e pesquisa, teoria e prática, e possibilitar a construção de uma práxis dinamizada pela iniciativa, pelo envolvimento do futuro professor em projetos educativos próprios e fundamentados, torna-se necessário reconhecer tal complexidade (2006, p.12-13). A concepção moderna do educador exige uma sólida formação cientifica, técnica e política, claro que, atrelada a uma prática pedagógica crítica e consciente para avaliar a atual condição da educação. Dessa forma, faz-se necessário uma qualificação dos profissionais envolvidos neste processo, é fundamental que a equipe docente esteja bem preparada, por este motivo é extremamente importante uma formação continuada, onde todos tenham a oportunidade de repensar a sua prática. Pois, a formação continuada é um processo possível para a melhoria da qualidade do ensino, dentro do contexto educacional contemporâneo. A formação continuada pode ser caracterizada como uma tentativa de resgatar a figura do mestre, tão carente do respeito devido a sua profissão, tão desgastada em nossos dias. “Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão da prática”. (FREIRE, 1997, 58). Para o autor, formação permanente é uma conquista da maturidade, da consciência do ser. Quando a reflexão permear a prática, docente e de vida, a formação continuada será exigência para fazer do homem atuante no seu espaço histórico, crescendo no saber e na responsabilidade. A prática educativa é acima de tudo um desafio, pois o educador consciente passa grande parte do seu tempo questionando-se, revendo conceitos, buscando dar o melhor a seus educandos. Por isso, o sonho e a utopia fazem parte desses docentes, e outros sentimentos como a esperança, que é uma arma importantíssima para a realização de certas aspirações. Para Paulo Freire (1997) é ingenuidade dar à esperança um poder absoluto de resolução de conceitos, concepções e conteúdo, no entanto, se aliadas a ela encontram-se o esforço, a capacidade, a persistência e humildade, o educador está no caminho certo. A formação de professores no Brasil, historicamente, tem forte influência das chamadas escolas normais, que foram o lócus da formação de professores até o período da Reforma Universitária de 1968, quando da criação das faculdades de educação. O resultado das reformas da ditadura militar foi a convivência entre um 2º grau técnico em magistério, que prepararia os professores para os anos iniciais do 1º grau e as licenciaturas curta e plena, nas universidades, que titulariam os professores das diversas disciplinas de 5ª a 8ª séries do 1º grau e os professores das diversas disciplinas do 2º grau. Esse modelo de formação de professores que vigorou até a LDB/96, em seu formato padrão não previa formação específica para atender os alunos jovens e adultos. A exceção à regra de não formação específica para EJA teve início no final da década de 1980, quando as faculdades de educação realizaram amplo debate sobre a atuação do pedagogo e sua habilitação profissional. Resulta desse rico debate a compreensão, assumida principalmente pelas instituições públicas de educação superior, de que os pedagogos deveriam ser habilitados prioritariamente como professores, podendo atuar na gestão pública da educação em diversos campos, como diretor, coordenador, supervisor, mas de que sua matriz de formação era de fato o magistério dos anos iniciais do 1º grau. A partir dessa compreensão, alguns cursos de pedagogia, pelo País, passam a ter ênfases específicas em sua habilitação. Dessa experiência resultam os cursos de pedagogia, com ênfase ou habilitação em EJA. A educação de adultos, dentro desse contexto, torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI; é tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de ser um requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. Os esforços brasileiros atuais, em especial o Programa Brasil Alfabetizado, de 2003, são os maiores que o Brasil já fez para erradicação do analfabetismo. Esses esforços entretanto, seriam apenas letra morta, caso não houvesse a participação da sociedade civil. É graças a entidades como a Associação Alfabetização Solidária – que esse e outros programas de interesse para nossa sociedade conseguem ser implementados. Fundada há 11 anos, a ALFASOL tem se destacado como um modelo nacional em Educação de Jovens e Adultos. Essa modalidade de ensino pode e deve ser estendida, do ponto de vista metodológico, a outras modalidades existentes. No que diz respeito principalmente ao aproveitamento da “história de vida” de seus participantes e, em seu uso no processo de aprendizagem, a EJA demonstra sucessos semelhantes aos obtidos nos processosde ensino aprendizagem. É notório que o conhecimento humano é uma escada construída sobre os degraus colocados por nossos antepassados étnicos e/ou culturais. O homem não precisa reinventar a roda a cada geração. Mas pode melhorá-la. Um dos maiores problemas enfrentados pelos estudantes, e eu me coloco nesse meio quando recordo as dificuldades iniciais com números e outros conceitos um tanto quanto abstratos, é que a capacidade de exemplificação de cada professor era o que nos fazia aprender ou não os conceitos dados. Foi a partir de meus estudos sobre a história grega, que conceitos como o dos teoremas clássicos ficaram mais claros. O fato de saber como viviam e como pensavam, proporcionou-me um maior entendimento sobre seus cálculos, que eram uma incógnita à época em que os aprendi, pois não lhes conhecia a utilidade. Da mesma forma, um professor que não domina os conceitos culturais de seus alunos, não consegue, na maior parte das vezes, fazer-se entender a contento. Não porque os alunos sejam ignorantes, longe disso, mas simplesmente porque sua realidade cultural é tão diferente da do professor, que os dois não conseguem falar a mesma língua, mesmo ela sendo o português. São os assim chamados ruídos da comunicação. Nas palavras de Ubiratan D’Ambrosio, professor dos programas de Pós-Graduação em História da Ciência e em Educação Matemática da PUC de São Paulo: “o Brasil destacou-se juntamente com os Estados Unidos, pelo potencial da etno matemática na educação. Em sintonia com o pensamento de Paulo Freire, ela demonstrou que, além da importante pesquisa sobre o saber e o fazer matemático de várias culturas, abordado nas dimensões etnográfica, histórica e epistemológica da etno matemática, dá-se igual importância à dimensão pedagógica, uma vez que ela propõe uma alternativa à educação tradicional (2005, p. 9). ”A idéia, portanto, não é de desprezar o saber acadêmico tradicional, mas sim de, complementá-lo quando necessário, com uma abordagem etnológica, a fim de aproveitar os conhecimentos dos alunos como feedback para a reestruturação do conceito pedagógico utilizado. Dessa forma, a EJA, além de ser um modelo pedagógico indispensável para vencer o desafio do analfabetismo brasileiro de uma vez por todas, também pode ser considerada uma metodologia base para a formação de alunos e professores para os níveis elementar e médio. Dessa forma, esses docentes poderão entender melhor e vencer as barreiras de aprendizagem de seus alunos. Afinal, o que se deseja é que as pessoas aprendam a aprender. Só assim o conhecimento poderá ser multiplicado e plenamente utilizado. Isso vem diretamente ao encontro do interesse nacional em aumentar a produtividade e a competitividade do país ao nível internacional. REFERÊNCIAS ARROYO, M. Educação de Jovens e Adultos: um campo de direitos e de responsabilidade pública. In: GIOVANETTI, Maria Amélia, GOMES, Nilma Lino e SOARES, Leôncio (Orgs.). Diálogos na Educação de Jovens e Adultos. Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2006, p.19-50. BARDHAN, Pranab. A Globalização é Boa ou Ruim para os Pobres? Scientific American Brasil nº 48. São Paulo: Duetto Editorial. Maio de 2006. BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais: Educação básica/Brasil. Conselho Nacional de Educação. Brasília – DF, 2004. ________. Ministério da Educação. Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania. Brasília: Secretaria Nacional de Educação Básica, 1990.BRASIL.Secretaria de Educação Fundamental. 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