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Temas Contemporâneos em Psicologia

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Camila Avarca
Temas contemporâneos 
em psicologia
04
Sumário
CApíTulo 2 – Disciplina TEMAS CoNTEMpoRÂNEoS EM pSIColoGIA ............................. 06
1.1 Contemporaneidade e complexidade ................................................................................... 06
1.2 A busca pela ordem .................................................................................................................. 08
1.3 Da modernidade para a pós-modernidade/modernidade líquida ................................ 11
1.4 lidando com a complexidade ................................................................................................. 12
1.5 Relação entre a psicologia e as estratégias de acessibilidade disponíveis atualmente para 
portadores de necessidades especiais ........................................................................................... 15
1.5.1  Contextualizando a deficiência no Brasil .................................................................... 15
1.6  As deficiências e o padrão de normalidade em questão .................................................. 16
1.7 A atuação do psicólogo e as estratégias de acessibilidade disponíveis ........................ 18
1.7.1  E quando consideramos discriminação em razão de deficiência? ......................... 21
1.8  A polêmica entre uso de drogas e a estratégia de redução de danos .......................... 23
1.8.1 A saúde mental do Sistema Único de Saúde (SuS) .................................................. 23
1.8.2  As drogas cotidianas em tempos de sobrevivência .................................................. 27
1.8.3 A estratégia de redução de danos como práticas de ampliação da vida ......... 28
06
Introdução
As novas configurações do mundo contemporâneo exigem dos psicólogos a necessidade de rever 
suas antigas certezas a respeito do homem e construir novas referências para os fenômenos 
humanos cada vez mais complexos e transmutáveis.
Podemos ilustrar inúmeros fenômenos contemporâneos que têm impactado no processo de saúde 
mental das pessoas, sobretudo nas grandes metrópoles: o uso abusivo de drogas, o adoecimento 
psíquico por situações de racismo ou violência de gênero, a dificuldade no processo de inclusão 
de pessoas cuja sociedade exclui por destoarem dos padrões sociais pré-estabelecidos. 
Como  lidamos  com  situações  tão diversas, multifatoriais e  com diferentes  complexidades? A 
psicologia responde a todas essas demandas?
Antes de começarmos a abordar os principais  temas contemporâneos que têm sido grandes 
desafios para a profissão, precisamos situar, historicamente e do ponto de vista sociológico, os 
principais aspectos de nossa sociedade contemporânea. Também veremos a seguir os principais 
desafios de nossa  sociedade, marcada pela globalização e pela  volatilidade das  relações 
humanas.
1.1 Contemporaneidade e complexidade
para discutir o tema da contemporaneidade, precisamos iniciar a conversa com uma discussão 
teórica sobre modernidade: ou - melhor dizendo – do que se trata o projeto da modernidade.
A ideia de tratarmos a modernidade como um projeto é particularmente importante, porque 
não  se  trata de algo acabado, finalizado, e  sim ainda em construção. Sendo assim, não  se 
refere somente de uma delimitação de tempo histórico: há estratégias e modos de ser e de 
nos relacionarmos atualmente que foram efeito do processo de construção de uma sociedade 
moderna. Veremos a seguir:
Quando pensamos rapidamente sobre o termo “moderno”, geralmente atribuímos a ele a 
noção de algo novo, inovador e arrojado. Não é mesmo? E isso faz sentido se recorremos ao 
dicionário1 para compreender seu significado:
Há 12 anos essa pesquisa eletrônica indica tendência, e não modismo, que estão mais em alta, 
catalogando-as para servir como referência para toda a indústria de fitness. Neste sentido, 
1 Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/moderno/.
Capítulo1Disciplina TEMAS 
CoNTEMpoRÂNEoS EM 
pSIColoGIA
07
Temas Contemporâneos em Psicologia
Laureate International Universities
os seus resultados podem ajudar o profissional de educação física a  tomar decisões quanto 
ao investimento em formação continuada, bem como aos gestores planejarem as melhores 
estratégias para maximizar os resultados.
MODERNO
mo·der·no
Relativo ou pertencente aos nossos tempos, à nossa época.
Que revela as ideias, os hábitos e o gosto dominante da nossa época.
Que se beneficiou dos avanços científicos e tecnológicos mais recentes.
Que rompe com os modelos tradicionais ou convencionais.
Que está na moda.
Há outros significados em relação ao termo “moderno”, a partir de uma linha da história da 
humanidade, que se encontra localizada no final da Idade Média até o período da Revolução 
Francesa, conforme a figura a seguir:
Pré-
História
476
1.453
1.453
1.789
1.789
Dias Atuais476 d.C.±
 4
.0
00
.0
00
 a
.C
.
±
 4
.0
00
 a
.C
.
±
 4
.0
00
 a
.C
.
Idade
Antiga
Idade
Média
Idade
Moderna
Idade
Contemporânea
Fonte: https://goo.gl/images/NWuc1x.
Entretanto, alguns autores, como o sociólogo Zygmunt Bauman, acreditam que não se é possível 
identificar uma data exata que marque o  início ou o fim da era moderna. Mais  importante 
do que determinar as datas a partir de grandes acontecimentos na história da humanidade, 
nos cabe avaliar o que se produziu nesse período enquanto civilização e os impactos dessas 
produções em nossa vida cotidiana até hoje. Há outros autores, como o sociólogo Bruno Latour, 
por exemplo, que sustentam a ideia que ainda não saímos da era da modernidade, porque 
ainda não  superamos os principais aspectos e os grandes desafios  impostos a ela,  como: a 
busca pela ordem social e pelo controle dos comportamentos para conter o caos e o interesse 
08
em construir no campo científico verdades que se pretendam universais (ou seja, experimentos 
científicos que se justifiquem independentemente das variáveis culturais, sociais, econômicas e 
históricas). Em síntese, tratam-se de aspectos impossíveis de se concretizarem, basta observarmos 
a  realidade que  nos  cerca:  situações  sociais  bastante  complexas que dependem de muitas 
variáveis para serem compreendidas. 
Podemos  citar  como exemplo  o  fenômeno do  uso prejudicial  de álcool  e  outras  drogas  em 
nossa sociedade. Não há um único fator que explique o porquê as pessoas utilizam as drogas 
compulsivamente. Do mesmo modo, não há uma abordagem, nem mesmo uma corrente dentro 
da psicologia, que possa determinar um tratamento único que faça todas as pessoas pararem 
de utilizar drogas. Ou seja, não há possibilidades de compreender os fenômenos sociais, nem 
mesmo de produzir conhecimento científico, se não considerarmos os aspectos sociais, culturais e 
econômicos de um povo, levando em consideração a autonomia dos sujeitos. Também temos que 
questionar conhecimentos científicos que se pretendam universais.
1.2 A busca pela ordem
A ordem - dentre as várias tarefas impossíveis que a modernidade se propôs - era a principal. 
Ela é oposta ao caos, mas ambos nasceram em um mesmo momento histórico: no momento da 
transição entre a Idade Média e o Estado Moderno. 
Na idade média, o mundo era ordenado pelo divino (que pode ser caracterizado por um 
momento histórico marcado pela supremacia da Igreja Católica, pelo sistema de produção 
feudal e por meio da sociedade hierarquizada - em que a igreja e Deus eram o centro de 
todas as relações sociais e humanas). Não havia espaço para a construção do conhecimento 
científico  nesse  momento.  A  vida  em  sociedade  era  pré-determinada.  Nessa  sociedade,  os 
estamentos ou camadas sociais eram estanques e não permitiam passar de uma camada social 
para outra. os nobres eram a camada dos que lutavam; o clero, dos que rezavam e os servos 
eram a camada dos que trabalhavam. os servos trabalhavam nos feudos. o sistema político-
econômico, portanto, era organizado a partir do poder do rei: o sistemafeudal era monárquico 
e se organizava pela relação servil de produção.
(...) neste mundo feudal, não se conhecia nem mesmo o acaso, tudo simplesmente era. (BAUMAN, 
1999, p. 12).
O  Estado Moderno,  sobretudo  a  partir  da  mudança  do  sistema  econômico  feudal  para  o 
capitalismo, nasceu com a busca por uma sociedade planejada, rumo ao progresso social e 
econômico. A meta principal, nesse momento, passa a ser ordenação e classificação de seu 
território. Entendia-se que era necessário conhecer a sociedade em seus mínimos detalhes para 
poder controlá-la.
para se conhecer detalhadamente, a fragmentação do mundo é tida como a solução: o mundo 
fragmentado (conhecido em todas as suas partes) é um mundo governável. Mas, diante dessa 
pretensão,  cabe  nos  perguntar:  é  possível  produzir  conhecimento  sobre  todas  as  coisas?  É 
possível controlar e governar todas as situações? Bauman e outros teóricos entendem que não.
À medida em que se fragmenta e classifica um objeto, ele passa a adquirir outros sentidos e 
direcionamentos:
As pessoas tornam-se multifuncionais por causa da fragmentação da função; as palavras 
tornam-se polissêmicas por causa da fragmentação do significado (...). (BAUMAN, 1999, p. 21)
09
Temas Contemporâneos em Psicologia
Laureate International Universities
A seguir, uma demonstração gráfica que nos ajuda a observar a infinidade de produções a 
partir da fragmentação:
Questões Classificação, ordenação
VAMOS DAR UM EXEMPLO ATUAL...
Vamos tentar compreender o que significa ter saúde fragmentando o 
próprio termo, de acordo com a proposta moderna de construção de 
conhecimento.
Fragmentando o termo, nós temos, por um lado, que estruturar uma análise 
só sobre o conceito de saúde. O que é estar saudável? Ter saúde não 
depende de outros determinantes sociais? Ter saúde aqui no Brasil é a 
mesma coisa que ter saúde na Alemanha? E na China?
Esse pequeno exercício já nos mostra que a fragmentação nos faz criar 
novas perguntas e novos significados para o próprio termo saúde.
portanto, podemos concluir que o projeto de modernidade estabeleceu formas de compreender 
e agir no mundo, de acordo com a necessidade de estabelecer a ordem: excluindo o que não 
“serve”, classificando e ordenando como modo de organizar povos e suas existências,  tendo 
como grande legitimador dessas práticas a ciência, na busca por verdades absolutas. 
Busca-se  fugir  de  indeterminações  e  ambivalências  e  se  espera  conquistar  a  natureza  e 
subordiná-la às necessidades humanas.
10
VOCÊ CONHECE?
Zygmunt Bauman
Fonte: wikimedia. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Zygmunt_
Bauman,_fot._M._Oliva_Soto_(6144135392).jpg>. Acesso em: 05 jun. 2018.
Zygmunt Bauman nasceu no dia 19 de novembro de 1925, em uma família judia de origem 
polonesa. É considerado “um dos poucos sociólogos contemporâneos nos quais ainda se encon-
tram ideias” (PALLARES-BURKE; 2004:2).  Seu intelecto é, de fato, ao mesmo tempo rebelde e 
rigoroso. É fiel ao presente, mas cuidadoso em reconhecer a sua genealogia, ou melhor, genea-
logias (BAUMAN, 2005, p. 8).
Concebe a sociologia não como uma disciplina “independente” de outros campos do conhec-
imento, mas como uma que fornece a ferramenta analítica para se estabelecer uma vigorosa 
interação com a filosofia, a psicologia social e a narrativa. 
Escapou da segunda guerra mundial, de seus horrores e holocausto que aguardavam os po-
loneses, mudando–se para a Rússia juntamente com a sua família, em 1939. logo após, alis-
tou-se no exército polonês, aliado ao exército vermelho, onde lutou contra o (regime Nazista 
ou contra o Nazismo). 
De lá voltou após a guerra, quando se filiou ao partido comunista, estudou na Universidade de 
Varsóvia e conheceu a Janina, com quem está casado há 55 anos e com quem teve três filhas: 
Anna (matemática), lydia (pintora) e Irena (arquiteta).
Confiantes e animados pelo sonho de criar uma sociedade mais justa e igualitária, Zygmunt e 
Janina ali construíram suas carreiras (ele como professor da universidade de Varsóvia e ela 
como editora de roteiros cinematográficos) e criaram sua família, até que uma nova onda de 
11
Temas Contemporâneos em Psicologia
Laureate International Universities
antissemitismo e repressão esmagou seus sonhos e os forçou ao exílio. Após três anos em Israel, 
o convite para o cargo de chefe do departamento de sociologia na universidade de leeds 
trouxe Bauman e sua esposa à Inglaterra, onde permanecem até hoje.
É igualmente discreto quanto ao seu papel no “outubro polonês”, de 1956, quando participou 
do influente movimento reformista que desafiou a liderança do Partido dos Trabalhadores 
unidos e a subjugação de seu país às ordens de Moscou. 
Então veio 1968, que se revelaria um momento decisivo em sua vida. Bauman, que apoiava o 
incipiente movimento dos estudantes poloneses, teve seus trabalhos proibidos pelo partido Co-
munista, quando o antissemitismo foi usado para reprimir estudantes e professores universitári-
os que exigiam o fim do sistema unipartidário em nome de “liberdade, justiça e igualdade”.   
Após três anos em Israel, o convite para o cargo de chefe do departamento de sociologia na 
Universidade de Leeds trouxe Bauman e sua esposa à Inglaterra, onde permanecem impedi-
dos de lecionar. No ano de 1971 mudou-se para a Inglaterra, e leciona aulas na universidade 
de leeds. A partir de então, a sua vida intelectual foi extremamente produtiva. Compartilha 
de seu intelecto e emoção com a sua esposa Janina, a qual ele sempre manifestou uma enorme 
gratidão. Sua esposa teve uma participação significativa e reflexiva ao longo das suas edições 
e vida acadêmica. 
Bauman vê a globalização como uma “grande transformação” que afetou as estruturas es-
tatais, as condições de trabalho, as relações entre os Estados, a subjetividade coletiva, a pro-
dução cultural, a vida quotidiana e as relações entre o eu e o outro (BAUMAN; 2005:11).
Fonte: BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Zahar, 2005.
1.3 Da modernidade para a pós-
modernidade/modernidade líquida
Para Bauman, nada na história simplesmente termina, de modo que práticas modernas ainda 
circulam por entre o que ele chama de pós-modernidade ou modernidade líquida, de modo 
que se segue “vivendo com a ambivalência”. O que realmente mudou é o fato de que se pode 
observar a modernidade, seus efeitos e julgar sua construção: isto representa a ideia de pós-
modernidade, não só uma existência definida por ser pós, nem pela marcação de uma data 
histórica. Tem características marcadas a partir do capitalismo enquanto estrutura econômica 
majoritária no mundo, mas nasce, sobretudo, a partir de uma reflexão crítica sobre o processo 
anterior para que se possa pensar em modos de recriar a história de nossa humanidade a 
partir de ações, pesquisa e produção científicas que abarquem a complexidade e acolham as 
ambivalências.
Para definir as condições da pós-modernidade e discutir as transformações do mundo moderno 
nos últimos tempos, o sociólogo sempre preferiu usar o termo “modernidade líquida”. o líquido 
tem relação com a metáfora da fluidez: na passagem da modernidade para a modernidade 
líquida, podemos fazer alusão à própria condição da vida moderna atualmente: vulnerável, 
incapaz de manter a mesma identidade por meio tempo e suscetíveis a estar em estado de 
passagem e transformação das relações sociais, marcada pela condição da temporariedade.
A pós-modernidade não é o descrédito da modernidade; é o ato de olhar para trás e perceber 
a necessidade de mudança.
12
É a modernidade atingindo a maioridade. (BAUMAN, 1999)
Em outras palavras, é se permitir viver sem garantias, mas com sustentação ética: ao passo que 
causa ansiedade não ter respostas para todos os fenômenos e, tampouco ter uma única resposta 
para as mesmas situações, viver com a ambivalência é uma saída para a emancipação.
Por emancipação podemos compreender as ambivalências e poder viver com elas. Significa 
também estaraberto à alteridade, compor com o que nos parece diferente e se permitir 
composições relacionais. 
A  relação  aberta  pelo  ato  da  emancipação  é marcada  pelo  fim  do medo  e  o  começo  da 
tolerância.  (...)  a  consciência  da  condição  pós-moderna  revela  a  tolerância  como  sina.  Ela 
também torna possível - apenas possível - o longo caminho que leva do fado ao destino, da 
tolerância à solidariedade. (BAUMAN, 1999, p.248-251)
Emancipação, portanto, é um primeiro aspecto importante para compreendermos os desafios 
da psicologia na contemporaneidade.
Superação do individualismo enquanto modo de vida é um segundo aspecto. Em tempos de 
modernidade líquida, marcada pelas relações voláteis, fluidas e temporárias, o individualismo 
assume um papel fundamental que precisa ser repensado. 
O século XX teve transformações com a passagem da sociedade de produção (capitalismo) para 
a sociedade de consumo (capitalismo tardio ou capitalismo neoliberal). Com isso, houve também 
intenso processo de fragmentação da vida humana. Nos afastamos da relação comunitária 
(entendendo comunidade como grupos, sentimento de nação e pertencimento em movimentos 
políticos) para focalizar na autorrealização. Nesse sentido, a identidade pessoal se restringiu, 
de modo que o significado e propósito da vida e da felicidade passou a ser canalizado a tudo 
aquilo que acontece com cada pessoa individualmente e não em relação à noção coletiva e o 
sentimento de pertença.
1.4 lidando com a complexidade
o caminho para a emancipação, autonomia dos sujeitos e modos de viver mais coletivos, requer 
análises do modo moderno de viver, como discutimos no subcapítulo anterior, a partir da inclusão 
da diferença, inclusão da ambivalência na construção do conhecimento e, sobretudo, a adesão 
a perspectivas teóricas que nos permitam pensar os fenômenos e suas complexidades.
Não existe resposta fácil para problemas complexos. (ANTÔNIo lANCETTI)
E como essa discussão dialoga com a prática psicológica? Vamos discutir.
O sociólogo francês Edgar Morin propõe, em seus últimos estudos, uma nova concepção para 
a  construção  do  conhecimento:  no  lugar  da  especialização,  simplificação  e  fragmentação, 
propõe-se o conceito de complexidade.
Para o autor, nossa sociedade contemporânea, sobretudo a ocidental, tem o grande desafio de 
introduzir as incertezas no campo científico. Assim como Bauman, Morin critica a compartimentação 
do  saber científico e a necessidade de grandes verdades universais  (sobretudo a partir de 
pesquisas no campo das ciências exatas e naturais), características de uma sociedade modera.
As limitações causadas pela fragmentação do conhecimento, de acordo com o educador, são 
responsáveis pela tendência de aplicar conceitos abstratos vindos das ciências exatas e naturais 
ao universo humano e isso resulta em desconsideração por aspectos como o ambiente, a história, 
13
Temas Contemporâneos em Psicologia
Laureate International Universities
aspectos políticos ou mesmo da psicologia na análise da vida cotidiana. Ao invés de construirmos 
um saber que leve em conta a complexidade, estamos reduzindo os fenômenos desse modo. É 
preciso enfrentar as incertezas com base nos aportes recentes da ciência transdisciplinar.
VAMOS VER O EXEMPLO...
Uma construção reducionista sobre o atendimento psicológico em saúde 
mental levará em conta somente a descrição dos sintomas que o usuário 
está sentindo (p. ex., se está ouvindo vozes, logo será necessária uma 
consulta com o médico psiquiatra, sem explorar outros aspectos da vida do 
usuário).
Uma construção que leve em conta as incertezas e a complexidade 
possibilitará que o psicólogo faça uma escuta mais detalhada da vida do 
usuário, seus desejos, sentimentos, medos, anseios. Vai explorar os aspectos 
sociais e econômicos da vida do usuário, buscando compreender os 
determinantes sociais na relação com a sua saúde-doença. Não vai fechar 
um diagnóstico somente com bases nos sintomas, vai buscar atendimento 
compartilhado com outros profissionais de saúde, incluindo o médico 
psiquiatra. E, por fim, não vai orientar sua conduta pela “cura” da doença 
do usuário, mas sim pela construção de melhores possibilidades de vida 
para ele, vivendo com ou sem a doença.
Para recuperar a complexidade da vida nas ciências e nas atividades humanas, Morin recomenda 
um pensamento crítico sobre o próprio pensar e seus métodos, ou seja, uma profunda reforma 
do pensamento que, fundamentalmente, irá pressupor a consciência de si e do mundo.
Não há  transformações se não  tomarmos consciência crítica sobre o mundo,  sem reduzi-lo a 
operações exatas simplistas ou opiniões de senso comum. 
O  foco é a  transdisciplinaridade.  Isso  significa a  superação do modo de pensar dicotômico 
das dualidades, estimulando um modo de pensar marcado pela articulação de saberes (não a 
fragmentação deles).
14
VOCÊ CONHECE?
Edgar Morin
Fonte: pgl.gal. Disponível em: <http://pgl.gal/os-7-saberes-necessarios-a-educa-
cao-do-futuro-segundo-edgar-morin/>. Acesso em:05 jun. 2018.
Edgar Morin nasceu em 1921, em paris. Seu nome verdadeiro é Edgar Nahoum. Fez os estudos 
universitários de História, Geografia e Direito na Sorbonne, onde se aproximou do Partido Co-
munista, ao qual se filiou em 1941. Teve papel ativo no movimento de resistência à ocupação 
nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Depois do fim da guerra, participou da ocupação 
da Alemanha. Em 1949, distanciou-se do pC, que o expulsou dois anos depois. Ingressou no 
Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), onde realizou um dos primeiros estudos et-
nológicos produzidos na França, sobre uma comunidade da região da Bretanha. Criou o Cen-
tro de Estudos de Comunicações de Massa e as revistas Arguments e Comunication. Em 1961, 
rodou o filme Crônica de um Verão, em parceria com o documentarista Jean Rouch. Em segui-
da, fez uma série de viagens à América latina. Em 1968, começou a lecionar na universidade 
de Nanterre. Passou um ano no Instituto Salk de Estudos Biológicos em La Jolla, na Califórnia, 
onde acompanhou descobertas da genética. Redigiu em 1994, com o semiólogo português 
Lima de Freitas e o físico romeno Basarab Nicolescu, um manifesto a favor da transdiscipli-
naridade. Em 1998, promoveu, com o governo francês, jornadas temáticas que originaram o 
livro A Religação dos Saberes. Em 2002, a Justiça o condenou por difamação racial devido a 
um artigo no qual dizia que “os judeus, que foram vítimas de uma ordem impiedosa, impõem 
sua ordem impiedosa aos palestinos”. Morin, que é judeu, pagou 1 euro como pena simbólica. 
Ainda diretor de pesquisas no CNRS, ele é doutor honoris causa em universidades de vários 
países e presidente da Associação para o pensamento Complexo. 
Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1391/edgar-morin-o-arquiteto-da-com-
plexidade.
15
Temas Contemporâneos em Psicologia
Laureate International Universities
1.5 Relação entre a psicologia e as estratégias 
de acessibilidade disponíveis atualmente para 
portadores de necessidades especiais
1.5.1 Contextualizando a deficiência no Brasil
A Organização das Nações Unidas (ONU) (2006) expõe que existem cerca de 600 milhões de 
pessoas no mundo com algum tipo de necessidades especiais, das quais, 400 milhões vivem em 
países que estão em desenvolvimento. Mais de 82% das pessoas com necessidades especiais 
vivem abaixo da linha de pobreza e, em sua maioria, constituem-se de crianças. 
Um primeiro aspecto nos chama a atenção, portanto: há relação intrínseca entre as deficiências 
e os aspectos sociais, econômicos, históricos e políticos de um país. Veremos um pouco mais a 
seguir.
No Brasil, estima-se que 15% da população brasileira apresenta algum tipo de necessidade 
especial, sendo que 820 mil são crianças/adolescentes entre 0 e 17 anos.
Mais especificamente em relação ao Censo realizado pelo IBGE em 2010, temos as seguintes 
informações:
 • Cerca  de  45,6  milhões  de  brasileiros  declararam  ter  alguma  deficiência(23,9%  da 
população), dentre as quais:
 • 13,2 milhões com deficiência física (7%);
 • 6,5 milhões com deficiência visual severa (3,4%);
 • 6 milhões com dificuldade para enxergar (3,1%);
 • 506 mil cegos (0,26%);
 • 9,7 milhões com deficiência auditiva (5,1%);
 • 2,1 milhões com deficiência auditiva severa (1,1%);
 • 344,2 mil surdos (0,18%).
De acordo com o site do Núcleo de Especialização e Educação para o deficiente físico e mental 
(NEED), estima-se que 70% das deficiências poderiam ser PREVENIDAS, ou seja, os fatores 
etiológicos das deficiências  têm relação com um bom  trabalho de prevenção,  sobretudo em 
relação ao pré-natal e ao puerpério adequados.
Desse modo, a deficiência pode ser entendida como “uma limitação que alguns seres humanos 
adquiriram não somente por herança biológica, mas por problemas sociais básicos não 
resolvidos, como acesso à educação, à saúde, à moradia, entre outros” (GAIo, 2006, p. 26).
Dentre os principais fatores etiológicos da deficiência, estão:
 • Pré-natais e seus aspectos genéticos, ambientais, multifatoriais
Yris Siqueira
16
O pré-natal  é  o  acompanhamento médico  que  toda gestante  deve  ter,  a  fim de manter  a 
integridade das condições de saúde da mãe e do bebê. Durante toda a gravidez são realizados 
exames  laboratoriais  que  visam  identificar  e  tratar  doenças  que  podem  trazer  prejuízos  à 
saúde da mãe ou da criança.
Tais intercorrências podem ser de fatores genéticos e/ou ambientais, tais como:
 • Desnutrição materna;
 • Má assistência à gestante;
 • Doenças infecciosas na mãe;
 • Fatores tóxicos na mãe;
 • Fatores genéticos (hereditários e/ou cromossômicos).
Nessa fase, é de extrema importância o acompanhamento sistemático da equipe de saúde, 
bem como o acesso aos exames laboratoriais.
por isso, a importância de uma rede de saúde adequada a toda população.
 • perinatal ou puerpério
o período perinatal é aquele que envolve o momento do nascimento e o, exato e imediato, 
momento após o nascimento (até o 30º dia após o parto), envolvendo toda a problemática 
do atendimento materno-infantil, ou seja, má assistência ao parto e traumas do parto (uso de 
fórceps). Assim  sendo, qualquer  intercorrência que acontece  no momento do parto,  ou  logo 
após a ele, é um grande fator de risco às deficiências, como é o caso da prematuridade e da 
infecção hospitalar.
 • pós-natal
As causas pós-natais são aquelas que acontecem após o nascimento, isto é, do 30º dia de vida 
até a adolescência. De forma geral, incluem as causas microbianas, desnutrição, intoxicações, 
traumatismos cranioencefálicos,  fatores ambientais,  familiares e condições  socioeconômicas e 
infecções.
Nesse sentido, prevenir é uma necessidade urgente e pressupõe o conhecimento das causas da 
deficiência ou situações de risco. Outro aspecto fundamental é a organização de sistema de 
saúde público que garanta atendimento de qualidade, sobretudo na atenção primária com 
ações e pré-natal e puerpério. 
1.6 As deficiências e o padrão de 
normalidade em questão
Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza 
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode 
obstruir  sua  participação  plena  e  efetiva  na  sociedade  em  igualdade  de  condições  com as 
demais pessoas. (lEI N.º 13.146, DE 6 DE JulHo DE 2015)
De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização 
das Nações Unidas  (ONU), o Brasil  ratificou  com valor de emenda constitucional, em 2008, 
17
Temas Contemporâneos em Psicologia
Laureate International Universities
em que é totalmente inadequado o termo “pessoa portadora de deficiência ou portador de 
deficiência”. 
Por quê? As pessoas não portam, nem carregam as deficiências. As pessoas com deficiências 
vivem e são desejantes como qualquer outra pessoa. Assim, como nomear o outro que tem 
alguma deficiência? Em primeiro lugar: pelo nome!
Querer saber primeiro o que a pessoa tem para depois saber o que ela é subtrai sua 
subjetividade. Depois, do ponto de vista técnico, é importante utilizar adequadamente as 
terminologias, conforme a seguir, a fim de evitar preconceito e estigmas atribuídos às pessoas 
com deficiência:
Cadeirantes, amputados, ostomizados Pessoa com deficiência física
Autista Pessoa com transtorno do Espectro Autista
Síndrome de Down Pessoa com deficiência intelectual 
Surdo Pessoa com deficiência auditiva 
Cego Pessoa com deficiência visual 
Outro aspecto importante é que ter deficiência não significa estar doente.
podemos entender por doença o processo e o estado causado por uma afecção em um ser 
vivo, que altera o seu estado de saúde. Este estado pode ser provocado por diversos fatores, 
podendo ser intrínsecos ou extrínsecos ao organismo enfermo. ligado, portanto, à noção de 
enfermidade e às moléstias. No entanto, as deficiências podem ser compreendidas em duas 
outras dimensões, conforme figura a seguir:
DEFICIÊNCIA
Dimensão
descritiva
Incapacidade: restrição de atividades - nível da 
pessoa.
Ex.: Não ver
Deficiência: perda ou anormalidade da estrutura 
ou função - nível do órgão.
Ex.: Olho lesado 
Desvantagem: condição social de prejuízo, na 
relação do indivíduo com o meio. Nem sempre 
associada à incapacidade.
Ex.: Não aprender, não trabalhar, não desenvol-
ver pensamento representativo
Dimensão
valorativa
18
Ou seja, a deficiência se apresenta no indivíduo através da ausência ou diminuição de algumas 
capacidades,  que  podem  ser  físicas,  mentais,  sensoriais  ou  anatômicas,  recaindo  em  uma 
alteração da vida quotidiana do indivíduo e não se relaciona, necessariamente, com o estado 
de adoecimento em seu sentido estrito. Muitas podem ser causadas por uma doença (como é o 
caso de deficiências em decorrência da sífilis congênita), mas também poderiam ser causadas 
por outros fatores, como acidentes automobilísticos.
NÃo DEIXE DE lER
De perto ninguém é normal.
No mundo não existem “os normais” e “os anormais”. Todos são seres humanos de igual valor, 
com características diversas.
Retirado do site: http://www.movimentodown.org.br/. 
1.7 A atuação do psicólogo e as estratégias 
de acessibilidade disponíveis
De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 
há duas atuações em relação ao cuidado com as pessoas com deficiência: a habilitação e a 
reabilitação. A primeira tem o objetivo de ajudar os que possuem deficiências congênitas ou 
adquiridas na primeira infância a desenvolver sua máxima funcionalidade.
No entanto, a reabilitação executa medidas que ajudam pessoas com deficiências ou prestes 
a adquirir deficiências a  terem e manterem uma funcionalidade  ideal na  interação com seu 
ambiente.
São  profissionais  que  atuam  tanto  na  habilitação  quanto  na  reabilitação:  terapeutas 
ocupacionais, técnicos de órteses e próteses;  fisioterapeutas;  psicólogos; assistentes sociais; 
fonoaudiólogos, entre outros.
Em relação às Tecnologias Assistivas (cujo termo ainda é novo), são utilizadas para identificar 
todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades 
funcionais  de  pessoas  com  deficiência  e,  consequentemente,  promover  vida  independente 
(autonomia) e inclusão social. São exemplos de tecnologias assistivas:
 • muletas, próteses, órteses, cadeiras de rodas e triciclos para pessoas com dificuldades de 
locomoção; 
 • próteses auditivas e implantes cocleares para pessoas com deficiência auditiva; 
 • bengalas brancas, lupas, dispositivos oculares, audiolivros e softwares para ampliação e 
leitura de tela para pessoas com deficiência visual; 
 • painéis de comunicação e sintetizadores de voz para pessoas com deficiência de fala; 
 • dispositivos como calendários diários com figuras simbólicas para pessoas.
19
Temas Contemporâneos em Psicologia
Laureate International Universities
Quando pensamos na  inclusão da pessoa com deficiência –seja no ambiente escolar ou no 
universo do trabalho - os recursos de acessibilidade são uma das maneiras de ultrapassar 
as  barreiras  impostas  pela  deficiência,  possibilitando  que  o  indivíduo  interaja  com  o  meio 
favorecendo, assim, sua autonomia. É a possibilidade de uma inclusão não excludente, onde 
a condição de diferente em suas possibilidades, da pessoa com deficiência, é respeitada. O 
recurso assistivo proporcionará a acessibilidade aos espaços, aos materiais didáticos e a todos 
os equipamentos disponíveis no ambiente.
Com tantas possibilidades, por que será que ainda temos políticas públicas que não favorecem 
a inclusão das pessoas com deficiência? O que diz nossa legislação a esse respeito?
O Estatuto da pessoa com deficiência é destinado a assegurar e a promover, em condições de 
igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, 
visando à sua inclusão social e cidadania. 
Nos anos 2000, foi apresentada na Câmara dos Deputados a primeira versão do Estatuto. 
Após três anos dessa apresentação, no ano de 2003, foi instituída uma Comissão Especial para 
analisar as propostas contidas nesse projeto, a partir de uma série de audiências públicas e 
seminários estaduais.
Depois de um longo período de tramitação no Congresso, o projeto de lei foi instituído em 2006. 
Essa demora aconteceu por atrasos na votação, pois não havia um consenso da sociedade civil 
organizada sobre alguns dos tópicos. Nove anos depois, no dia 6 de julho de 2015, o Estatuto 
da Pessoa com Deficiência foi finalmente instituído.
Ele é representado pela Lei 13.146, sendo originalmente chamado de Lei Brasileira de Inclusão 
da Pessoa com Deficiência. O Estatuto trata sobre a acessibilidade e a inclusão em diferentes 
aspectos da pessoa com deficiência na sociedade.
PARA SABER MAIS
para acessar essa lei na íntegra, acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13146.htm.
Em linhas gerais, a lei descreve a necessidade de superação das barreiras de acessibilidade, 
institui as residências inclusivas e aponta aspectos que possam ser considerados discriminação 
em razão da deficiência. 
por barreiras, podemos compreender qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento 
que limite ou impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício 
de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, 
ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros, classificadas 
em: barreiras  urbanísticas,  barreiras arquitetônicas,  barreiras  nos  transportes,  barreiras  nas 
comunicações e na informação, barreiras atitudinaise barreiras tecnológicas.
1.7.1 E quando consideramos discriminação em razão de 
deficiência?
20
Toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito 
ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e 
das  liberdades  fundamentais de pessoa  com deficiência,  incluindo a  recusa de adaptações 
razoáveis e de fornecimento de tecnologias assistivas. 
É vedada a possibilidade de cobrança diferenciada por serviços como: educação, plano de 
saúde, hospedagem, ingresso no cinema e táxi. 
Praticar,  induzir  ou  incitar  discriminação  de  pessoa  em  razão  de  deficiência  tem  pena  de 
reclusão de 1 a 3 anos e multa, aumentada em 1/3, se quem realizou a discriminação é alguém 
que presta cuidados à pessoa com deficiência.
A psicologia, nesse contexto, tem o papel fundamental de propiciar a inclusão da pessoa 
com deficiência nas diferentes  instituições  (como, p. ex.,  intervindo  junto à escola na  inclusão 
escolar de crianças e adolescentes, ou facilitando processos  junto às organizações em ações 
de empregabilidade das pessoas com deficiência ou necessidades especiais). Ademais, pode 
trabalhar em diferentes frentes propiciando essas ações inclusivas, como:
 • Nas equipes de saúde; 
 • No aconselhamento genético;
 • No acompanhamento familiar;
 • Nos equipamentos das áreas de Saúde, Educação, Assistência Social, Cultura, etc.;
 • Nos processos clínicos.
NÃo DEIXE DE CoNHECER...
Acessar o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência: http://www.pessoacomdefi-
ciencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-filefield-descrip-
tion%5D_0.pdf.
Em todos os cenários, o apoio familiar, e da rede de suporte da pessoa com deficiência, será 
importante discutir o significado da deficiência com os pais e com toda a família, assinalando 
o significado de ter um filho com deficiência e o significado da condição em si: sem mascarar a 
realidade, mas apontando todas as possibilidades de intervenção.
Será necessário pensar em estratégias de diminuição da ansiedade dos pais, levando-os a 
perceber suas competências para criar um filho, mesmo que este tenha uma deficiência, assim 
como diminuir a autocrítica dos pais em relação a atitudes para com os filhos.
É importante proporcionar condições para que os pais possam assumir suas responsabilidades 
com o filho e acompanhar essas famílias no que diz respeito a acolher o filho com deficiência e 
contribuir para seu desenvolvimento. 
A melhor  maneira  de  lidar  com  o  deficiente  é  despir-se  dos  próprios  preconceitos. Quando 
os preconceitos e pré-conceitos conseguem ser transformados, as pessoas percebem com mais 
facilidade que as crianças e adolescentes com deficiência passam pelas mesmas experiências 
sociais, os mesmos processos de desenvolvimento, aprendizado psicológico, vivência escolar que 
os demais. (ZACHARIAS; SIlVEIRA, 2011)
21
Temas Contemporâneos em Psicologia
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NÃo DEIXE DE CoNHECER...
Para acessar o histórico de conquistas das pessoas com deficiência, acesse: http://www.sdh.
gov.br/assuntos/pessoa-com-deficiencia/pdfs/catalogo-para-todos.
NÃo DEIXE DE VER...
Sugestão de filme: Helen Keller e o Milagre de Anne Sullivan.
Sinopse: A incansável professora Anne Sullivan tenta fazer com que Helen Keller, uma garota 
cega e surda, se adapte e entenda o mundo que a cerca. para isso, entra em confronto com os 
pais da menina que, por piedade, a tratam de forma mimada.
PARA SABER MAIS
produzir um ensaio a partir do tema das Estratégias e tecnologias de acessibilidade para 
Pessoas com Deficiências (PCD), Pessoas com Necessidades Especiais (PNE) ou pessoas com 
mobilidade reduzida.
o ensaio é um texto opinativo em que se expõe ideias, críticas, reflexões e impressões pes-
soais, realizando uma avaliação sobre determinado tema.
para saber mais sobre como produzir um ensaio, acesse: https://repositorio.ufsc.br/bitstream/
handle/123456789/116800/DICAS_SOBRE_COMO_ESCREVER_UM_ENSAIO.pdf?se-
quence=1.
1.8 A polêmica entre uso de drogas e a 
estratégia de redução de danos
1.8.1 A saúde mental do Sistema Único de Saúde (SuS)
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado em 1988 por meio da Constituição Federal Brasileira 
após mobilização de diferentes movimentos sociais, com o objetivo de construir uma rede de 
saúde gratuita e de qualidade para a população brasileira. Contudo, foi somente em 1990 
que o Congresso Nacional a aprovou em lei, apresentando os princípios e diretrizes dessa nova 
política de saúde.
22
Quais são os três princípios do SUS que norteiam todas as políticas públicas de saúde, incluindo 
a atuação de todos os profissionais de saúde? Vamos relembrar?
Princípios
 • Universalidade: TODAS as pessoas têm direito a TODOS os serviços de saúde.
 • Equidade:  todos  têm direito aos  serviços de  saúde,  conforme a  complexidade de  cada 
caso, independentemente de sua condição social.
 • Integralidade: as ações de saúde devem entender o usuário como um todo indivisível.
Hoje, após quase 30 anos de criação de nosso Sistema Único de Saúde (SuS), avanços podem 
ser observados em relação a ações de prevenção e promoção da saúde, a partir da expansão 
da atenção primária, com impactos diretos em indicadoresde saúde, como a redução do 
indicador de mortalidade materno-infantil, expansão de equipamentos de saúde pública em 
todo o Brasil,  implantação da Estratégia de Saúde da Família  (ESF), que hoje é  referência 
mundial de combate à desigualdade na atenção à saúde.
Por outro  lado, há muitos desafios para a construção de uma perspectiva de saúde integral 
compreendida como direito social e amparada em valores democráticos, como, por exemplo, o 
subfinanciamento como efeito das crises econômicas, somado ao das medidas de austeridade 
fiscal, é mais fortemente sentido pelos grupos sociais mais vulneráveis.
No  chamado  “campo  da  Saúde  Mental”,  verificam-se  os  mesmos  tensionamentos  políticos, 
sobretudo em relação às propostas e ações direcionadas às pessoas que fazem uso de drogas, 
seja para fins recreativos ou por uso compulsivo, especialmente das chamadas drogas ilícitas.  
Dentre os avanços no campo da saúde mental, destaca-se a promulgação da lei 10.216/01, 
conhecida como “lei da Reforma psiquiátrica”, pessoas com “transtorno mental” passaram a 
ter garantidos direitos ao cuidado integral em saúde, tratamento digno, de base comunitária 
e em liberdade.
PARA SABER MAIS
Vamos conhecer a Lei 10.216/01? Acesse: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
leis_2001/l10216.htm?TSPD_101_R0=9acddaa9c923de3ca9a19a9a6c2dc541yFE-
0000000000000000de8106c9ffff00000000000000000000000000005ae63e580044f-
fa16b.
Com a implantação da lei da chamada reforma psiquiátrica, para além da constituição de uma 
rede substitutiva aos manicômios, foram pressupostas mudanças profundas no modo de cuidar 
das pessoas em crise e/ou sofrimento mental. 
A tabela a seguir apresentará essas principais mudanças, conforme Rotelli (1991) e Saraceno 
(1991), autores precursores da Reforma psiquiátrica italiana e que serviu de modelo para a 
reforma no Brasil:
23
Temas Contemporâneos em Psicologia
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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL - PRESSUPOSTOS
Doença
Existência de sofrimento 
em relação ao mundo
Doença (sujeito) Sujeito (doença)
Poder contratual Zero Exercício de Cidadania
Objetivo de curo
Eliminar sintoma
Produção de Sentido, 
Produção de Vida!
Nessa tabela, podemos perceber que o foco não mais se mantém na doença ou no diagnóstico, 
mas sim no sujeito. A atuação dos profissionais da saúde, incluindo o psicólogo, passa a incluir 
ações que busquem o exercício da  cidadania dos  usuários de  saúde mental,  no  sentido de 
buscar a produção de uma vida digna (e não mais com o único objetivo de curar ou eliminar os 
sintomas da doença!).
 De modo mais específico, a publicação da portaria ministerial 3088, de 2011, instituindo a 
Rede de Atenção psicossocial (RApS), foi o elemento de conexão, do ponto de vista da política 
de saúde mental, que operacionalizou a chamada reforma psiquiátrica. 
Essa portaria organizou toda a rede de atenção à saúde estipulando que todos os equipamentos 
de saúde precisam atender às pessoas em sofrimento ou transtorno mental, em seus diferentes 
níveis de complexidade, ou seja, casos mais complexos passam a ser atendidos nos chamados 
Centros de Atenção psicossocial (CApS), por exemplo.
os valores apresentados nessa portaria incluem os princípios e as diretrizes do SuS e resgatam 
os direcionamentos da Reforma Psiquiátrica. Em síntese, ela pressupõe:
 • Garantia de liberdade e autonomia aos usuários com transtorno/sofrimento mental; 
 • Respeito aos direitos humanos; equidade; acesso; integralidade; qualidade dos serviços, 
controle social, regionalização; 
 • Reconhece os determinantes sociais da saúde como fatores importantes na construção das 
patologias em decorrência do sofrimento mental; 
 • Combate a estigmas e preconceitos.
24
A seguir, será apresentada uma tabela com todos os equipamentos de saúde que compõem a 
Rede de Atenção psicossocial (RApS) e que realizam atendimentos às pessoas com sofrimento 
ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas.
COMPONENTES DA RAPS
Atenção Básica em Saúde
• Unidade Básica de Saúde;
• Núcleo de Apoio à Saúde da Família;
• Consultório na Rua;
• Centro de Convivência e Cultura.
Atenção de Urgência e 
Emergência
• SAMU 192;
• Sala de Estabilização;
• UPA 24 horas e portas hospitalares de 
atenção à urgência/pronto-socorro, Unida-
des Básicas de Saúde.
Atenção Psicossocial 
Estratégica
• Centros de Atenção Psicossocial, nas 
suas diferentes modalidades.
Atenção Residencial de 
Caráter Transitório
• Unidade de Acolhimento;
• Serviço de Atenção em Regime Residencial.
Atenção Hospitalar
• Leitos/Enfermaria de Saúde Mental em 
Hospital Geral.
Estratégia de
Desinstitucionalização
• Serviços Residenciais Terapêuticos;
• Programa de Volta para Casa.
Estratégias de
Reabilitação Psicossocial
• Iniciativas de Geração de Trabalho e 
Renda;
• Empreendimentos Solidários e Cooperati-
vas Sociais.
Fonte: http://u.saude.gov.br/index.php/o-ministerio/principal/secretarias/803-sas-raiz/
daet-raiz/saude-mental/l2-saude-mental/12588-raps-rede-de-atencao-psicossocial.
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Temas Contemporâneos em Psicologia
Laureate International Universities
PARA SABER MAIS
para acessar a portaria 3088, de 2011, na íntegra, acesse: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011_rep.html.
1.8.2 As drogas cotidianas em tempos de sobrevivência
o termo “droga” é atualmente utilizado para generalizar o uso de substâncias que produzem 
alterações físicas e/ou psíquicas que modificam os modos de perceber o mundo, sejam elas 
lícitas ou ilícitas (MEllo; AVARCA; VIEIRA & lIMA, 2016). 
Tendo em vista que as drogas psicoativas se tornaram produtos de consumo e foram atreladas 
às promessas de felicidades em nossa sociedade individualizada, é importante que a psicologia 
discuta tal tema e relacione as condições sociais e econômicas do uso de drogas, relacionando 
com nossa constituição psíquica, estreitamente vinculada ao modo como nos relacionamos com 
o sofrimento.
No Brasil, a desigualdade social tem favorecido o aumento do tráfico de drogas, recrutando 
jovens  pobres  para  o  tráfico,  e  o  enfrentamento  direto  com  a  polícia,  dando  início  a  uma 
verdadeira guerra civil inserida em um ciclo global de guerras às drogas (pASSoS & SouZA, 
2011), resumida em políticas repressivas, marcadas pelo medo e pela querela de que a 
sociedade vive ameaçada por traficantes (RODRIGUES, 1993).
Ademais, cabe mencionar nessa discussão, pesquisa recente do Instituto de Segurança pública do 
Rio de Janeiro (2016) que aponta para um dado alarmante: 77% das pessoas que morreram 
em confronto com a polícia carioca, entre 2010 a 2014, eram negras ou pardas. Carl Hart 
(2015) nos relembra que o “combate às drogas”, sobretudo com foco no uso do crack no 
Estados unidos da década de 1980, manteve-se alimentado por narrativas de raça (com o uso 
do crack associado aos negros e/ou pobres) e patologia (pela errática noção de que o crack 
causa mais dependência que outras drogas). Portanto, problemas em relação ao uso de drogas 
passaram a ser descritos como prevalentes em bairros empobrecidos, fazendo-se crer que se 
trata de um problema moral.
Associou-se o uso de drogas ilícitas, como o crack, à noção de periculosidade (ou seja, que 
pessoas que usam o crack são pessoas perigosas em potencial. Tal discurso redundou no 
encarceramento em massa da população negra: [nos Estados unidos, na década de 1980], 
“85% dos condenados por delitos relacionados ao crack eram negros, embora a maioria dos 
usuários da droga fosse e é composta por brancos”) (HART, 2015, p. 2). No Brasil, atualmente, 
os jovens representam 54,8% da população carcerária do país, dentre os quais 61%, 
aproximadamente, são negros (BRASIL, 2015).
o “crack” é uma droga derivada da cocaína que teve o início de seu consumo nos Estados 
Unidos na década de 1980. No Brasil, o primeiro registro de apreensão policial da droga foi 
em 1989, na cidade de São Paulo. Apesar da ênfase do discurso midiático, endossadopor 
parte da comunidade científica, sobre sua disseminação epidêmica nos últimos 30 anos, duas 
pesquisas realizadas com jovens brasileiros nas principais cidades brasileiras, nos anos de 
2003 e 2010, demonstram que o padrão de uso do crack não se modificou significativamente 
26
em 7 anos. Em contrapartida, a droga mais consumida pelos jovens continua sendo o álcool 
(NAPPO; SANCHEZ & RIBEIRO, 2012).
A tabela a seguir mostra os principais resultados dessa pesquisa:
Comparação do uso de drogas psicotrópicas entre estudantes do Ensino 
Fundamental e Médio das escola públicas entre os anos de 2004 e 2010:
65
60
55
50
45
40
35
30
25
20
15
10
05
00
Álcoo
l
Taba
co
Solve
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Anfe
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icos
Ansio
lítico
s
Coca
ína Crac
k
%
 u
so
 d
e 
dr
og
a
2004
63,3
41,1
15,7
9,8
14,1
4,9 4,6 3,7 3,8
2,1
3,2
1,6 1,7 1,9 0,7 0,4
2010
Atrelar o consumo do crack ao conceito de epidemia, embora não se sustente do ponto de vista 
da análise epidemiológica, conforme vimos na tabela acima, tem servido, para construção de 
políticas e programas de saúde cujo foco é simplesmente o “combate” ao uso de drogas e não 
o interesse pela saúde das pessoas. 
Esse é o ponto fundamental da discussão: como tratamos as pessoas que fazem uso de drogas? 
Como criminosas ou como sujeitos?
É possível pensar práticas de cuidado que levem em consideração a autonomia dos sujeitos que 
fazem uso de drogas? O que faz um psicólogo com um usuário que não quer parar de usar 
drogas?
Muitas perguntas cujas respostas não são simples. Vamos lembrar do capítulo 2 desse curso, 
sobre os desafios do psicólogo em tempos de modernidade líquida: não há respostas fáceis 
para problemas complexos.
1.8.3 A estratégia de redução de danos como práticas de 
ampliação da vida
o consumo de drogas como “problema social” tem início na organização dos Estados Modernos 
(século XVI) e no período industrial (século XIX), e tem sua ascensão com a expansão do sistema 
27
Temas Contemporâneos em Psicologia
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capitalista do século XX e com a “Guerra às Drogas”, cujo fruto é o proibicionismo do uso de 
drogas.
Tal perspectiva se fundamenta na abstinência, seja esta pessoal (espera-se que as pessoas não 
usem drogas) e/ou coletiva (objetiva-se um mundo sem drogas em futuro próximo), proibindo-
se qualquer modalidade de uso, comércio ou produção, além de se tipificar os crimes pelo uso 
(RIBEIRO, 2013, p. 27). 
Criam-se  instituições  fechadas,  cujo  “tratamento”  para  o  “vício”  só  se  faz  possível  pela 
abstinência, a partir de discursos e práticas de criminalização e patologização da vida: ou 
seja, o tratamento do usuário é construído com base na culpa (por meio de graves preconceitos 
morais) e a partir da ideia de que o único tratamento possível é parar de utilizar drogas, 
mesmo que o usuário não queira parar de usar. 
Desde 2015, tem-se observado o financiamento público de comunidades terapêuticas (CT). Tais 
equipamentos são privados  (com fins  lucrativos) e operam na  lógica da  internação (inclusive 
compulsória) e do isolamento social (um extremo contrassenso em relação ao que se preconiza 
a  lei  10.216/2001  que  dispõe  do  cuidado  integral,  digno  e  em  liberdade  das  pessoas 
portadoras de transtornos mentais). 
outro aspecto que chama a atenção em relação a esses equipamentos são as inúmeras denúncias 
de  violações  de  direitos  humanos  e  humilhações  apontadas  no  Relatório  da  4a  Inspeção 
Nacional de Direitos Humanos: locais de internação para usuários de drogas publicada pelo 
Conselho Federal de psicologia (CFp, 2011).
Nesse quadro de embates complexos, também comparecem modalidades de cuidado que 
consideram a construção ética da autonomia dos sujeitos diante do uso de drogas, sem mascarar 
os conflitos e tampouco inviabilizar os confrontos. Algumas ações no âmbito da “Redução de 
Danos” (RD), por exemplo, têm se configurado junto a outras perspectivas de acompanhamento 
às pessoas que fazem uso de drogas, como estratégias potentes para construção de uma nova 
proposta de atenção em saúde, podendo ser compreendida como uma política de drogas 
democrática.
A partir da década de 1980, é possível mapear ações de redução de danos em vários países 
do mundo, a princípio como uma tentativa de diminuição de danos/riscos em relação às doenças 
infectocontagiosas que os usuários de drogas estavam expostos pelo compartilhamento de 
seringas nas cenas de uso, sendo essa uma via de destaque de transmissão do HIV na época. 
uma das primeiras iniciativas que ganha expressão no âmbito da saúde pública de redução de 
danos é registrada em Amsterdam, na Holanda, em 1984, a partir de ações junto aos usuários 
de drogas injetáveis para contenção da epidemia de Hepatite B, em um primeiro momento, e 
do HIV/AIDS, posteriormente, após se detectar a transmissão do vírus via corrente sanguínea 
(RIBEIRO, 2013).  
No Brasil, as primeiras ações de redução de danos se deram na cidade de Santos, em 1989. Por 
se tratar de uma cidade de zona portuária e de intenso trânsito de drogas, apresentou grandes 
taxas de prevalência de HIV/AIDS no período, alertando o poder público para esse problema. 
A estratégia utilizada pelo então prefeito da cidade, David Capistrano, foi investir em ações 
de redução de danos a partir de trocas de seringas e orientações às pessoas consumidoras de 
drogas injetáveis. A repercussão dessas medidas provocou polêmicas e muitos tensionamentos, 
sob a alegação que  tais ações promoviam/facilitavam o uso de drogas, além de suscitar o 
debate  sobre  utilização  indevida de  recurso público.  Tais ações acabaram  se  configurando 
28
como “apologia ao uso de drogas” pelo poder judiciário de Santos e tipificada penalmente a 
partir da lei 6.368, de 1976 (MACHADO e BOARINI, 2013).  
Foram necessários seis anos de embates e discussões intensas sobre essas estratégias de saúde 
para que se pudesse implementar um programa efetivo de troca de seringas e acolhimento aos 
usuários, a partir de ações na cidade de Salvador, por meio do Centro de Estudos e Terapia do 
Abuso de Drogas (CETAD), sob a coordenação de Antônio Nery Filho, em 1995. 
É  também  nesse  período  que  o  Conselho  Federal  de  Entorpecentes  (COFEN)  aprova  a 
estratégia da redução de danos, a partir do “Projeto Drogas”, com apoio político e financeiro 
da Organização das Nações Unidas  (ONU),  como estratégia de governo a partir de duas 
premissas: 
a. como uma resposta imediata de ações de saúde à epidemia do HIV/AIDS e; 
b. por meio da Constituição Federal, de 1988, afirmando que é dever do Estado garantir 
ações que visem à redução do risco de doença e outros agravos. 
Tal projeto possibilitou a abertura de programas de Redução de Danos (pRDs) em esferas 
municipais e estaduais em todo o Brasil. 
Dois acontecimentos ajudam a compreender como essas articulações permitiram que a estratégia 
de  Redução  de  Danos  deixasse  de  ser  apenas  um  conjunto  de  ações  em  saúde  pública  e 
passassem a se tornar um dispositivo de visibilidade dos usuários de drogas sobre suas próprias 
demandas de cuidado, com base na perspectiva da autonomia. São elas: 
 • a  criação  da  Associação  Brasileira  de  Redutores  de  Danos  (ABORDA),  em  1996,  que 
mobilizou os redutores de danos e usuários de drogas a se organizarem politicamente 
para que pudessem gerir mais autonomamente as políticas de RD. Tal coletivo realizava 
intervenções  por meio  de  financiando  estatal  ao mesmo  tempo  em  que  se  conjurava  a 
política antidrogas repressiva e hegemônica do Estado (PASSOS e SOUZA, 2011) e; 
 • a publicação da política do Ministério da Saúde para Atenção Integral a usuários de Álcool 
e outras Drogas (BRASIL, 2003), alinhada com os princípios de autonomia e liberdade da 
Política Nacional de Saúde Mental (BRASIL, 2001), quando a Redução de Danos deixa de 
ser exclusiva do programa de DST/AIDS e passa a se tornar eixo norteador das políticas 
de Saúde. 
PARA SABERMAIS
para acessar a política na íntegra, acesse: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politi-
ca_atencao_alcool_drogas.pdf.
Esse processo de ampliação e redefinição da Redução de Danos, enquanto modelo de atenção 
às pessoas que fazem uso de drogas, implicou enfrentamento e embates necessários em relação 
às políticas repressoras proibicionistas pautadas pela norma abstêmica do uso de drogas. 
Podemos entender a redução de danos como uma abordagem ou uma estratégia ao fenômeno 
das drogas que visa minimizar danos sociais e à saúde associados ao uso de substâncias 
psicoativas. 
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Temas Contemporâneos em Psicologia
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O  início  dessas  intervenções  foi  marcado  por  ações  no  campo  da  saúde,  que  hoje  tem  se 
ampliado da esfera do direito à saúde para a do direito à cidadania e dos Direitos Humanos. 
As práticas de redução de danos buscam a socialização política de usuários de drogas de 
maneira crítica, no sentido de se tornarem protagonistas, de promoverem o autocuidado com a 
saúde e a busca por direitos, pela discussão de políticas governamentais e políticas de estado, 
em uma perspectiva que passa pelo individual e também pelo coletivo. 
Sobre o termo “Redução de Danos”, é passível de discussão e traz consigo uma gama de 
práticas heterogêneas, polissêmicas e controversas no cotidiano dos  serviços de saúde e da 
assistência.  Lancetti (2006; 2015) discute que o conceito de ampliação de vida caberia melhor 
ao que chamamos de Redução de Danos, por se tratar de uma perspectiva usuário-centrada de 
autonomia, agenciamentos de afetos, vínculos e conexões em um campo clínico-político complexo 
e que não depende, necessariamente, da ação de redutores de danos para se fazer valer. 
o autor, em seu livro Clínica peripatética, por exemplo, discute o quão potente podem ser as 
ações  dos  Agentes  Comunitários  de  Saúde  (ACS),  quando  pautadas  pelos  pressupostos  da 
redução de danos enquanto ética da produção de vida.
A Redução de Danos, enquanto dispositivo de visibilidade aos usuários de drogas e de 
resistência à norma da abstinência, só se realiza se a política pública assegurar, não apenas o 
sentido da universalidade presente nos princípios do SuS, como saúde para todos, mas também 
que permita que o sujeito seja escutado em suas demandas e desejos e respeitado em seu modo 
de vida. 
A Estratégia de Redução de Danos é um desafio importante ao SUS, pois demanda espaços 
permanentes de análise e de diálogo entre trabalhadores, gestores e usuários de saúde. Nessa 
mesma direção,  Lancetti  (2015) afirma a  importância da  reforma psiquiátrica brasileira  se 
reinventar constantemente a partir de movimentos que não se operem em superfícies morais em 
relação ao uso de drogas. 
NÃo DEIXE DE VER...
para compreender um pouco mais sobre redução de danos, sugerimos alguns vídeos atual-
mente disponíveis no youtube: 
Vício: https://www.youtube.com/watch?v=ao8L-0nSYzg
Coletânea do Conselho Federal de psicologia (CFp) chamado “Drogas e Cidadania”: 
- Episódio 1 – SuS, a solução que a sociedade brasileira construiu: https://www.youtube.com/
watch?v=usLDzJbhdgo
- Episódio 2 - Crack: Epidemia ou Sintoma?: https://www.youtube.com/watch?v=5aPIDEHN-zo
- Episódio 3 - A Volta dos Manicômios: https://www.youtube.com/watch?v=nDyWk7BPK2k
- Episódio 4 - Medicalização e Sociedade: https://www.youtube.com/watch?v=ZlhkVoOEjG4
30
- Episódio 5 - + uma história: https://www.youtube.com/watch?v=6SuaCUef4qs
- Episódio 6 - Gentrificação: Cidades Segregadas: https://www.youtube.com/watch?v=_
Ypr2HaTmSQ
A equipe do É de Lei perguntou a profissionais da Saúde, pesquisadores e usuários da Rede 
de Assistência: o que é redução de danos? 
https://www.youtube.com/watch?v=cDVR_NBAfyc
31
Temas Contemporâneos em Psicologia
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Síntese
Nesta primeira unidade, introduzimos a discussão sobre os processos histórico-sociais da 
atualidade a partir da noção de Modernidade líquida cunhada pelo sociólogo Zygmunt 
Bauman, isto é, pudemos perceber como o projeto de termos uma sociedade moderna, pautada 
pelo ideal de ciência que se pretende universal, exata e verificável e cujo objetivo é ordenar 
e classificar, permitiu maior fragmentação social e acarretou em profundas mudanças em todos 
os aspectos da vida humana. Ou seja, estamos em uma época onde as relações são voláteis, 
fluídas, repletas de incertezas e inseguranças. É nesse novo paradigma de sociedade que se 
funda a constituição da subjetividade do ser humano pós-moderno. 
É nesse contexto que novos desafios surgem para nossa profissão. Dentre eles, os que vimos 
nessa unidade de aprendizagem: a inclusão das pessoas com deficiência ou com necessidades 
especiais, o fenômeno das drogas na contemporaneidade e os desafios do psicólogo no cuidado 
às pessoas que fazem uso radical de drogas.
Em relação à temática da pessoa com deficiência, podemos perceber que há um estatuto que 
rege os direitos das pessoas com deficiência, dentre eles a necessidade da inclusão social em 
uma intensa articulação da rede de cuidados que inclui: família, colegas, escola e serviços de 
saúde. o papel do psicólogo é fundamental nessa integração: intervindo sempre em busca 
da construção de autonomia, respeitando sempre a singularidade dos sujeitos e organizando 
amplamente ações de combate ao preconceito.
Na atenção às pessoas que fazem uso de drogas, focalizamos a importância de não criminalizar, 
culpar ou discriminar essa população: além de não ser adequado eticamente à atuação 
do psicólogo,  tais ações não se constituem enquanto proposta  terapêutica de cuidado. Uma 
proposta possível de atuação discutida nessa unidade foi a estratégia de Redução de Danos 
cujo foco não foi abstinência enquanto norma, mas a partir da singularidade de cada sujeito. 
Sabemos que a questão do uso de drogas é bastante complexa, multicausal e multifatorial, 
mas a  função do psicólogo na conduta  terapêutica precisa estar permeada pela noção de 
autonomia e pelo respeito às escolhas das pessoas.
32
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Trad. plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar 
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BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Zahar, 2005.
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_______. Lei n.º 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das 
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nº 6.949, de 25 de agosto de 2009. 4. ed. rev. e atual. Brasília: Secretaria de Direitos Hu-
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Outros materiais