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TÓPICOS ESPECIAIS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO AULA 1 Prof. Roberto Pansonato 2 CONVERSA INICIAL Caro aluno, a atuação de um profissional de engenharia de produção tem se tornado cada vez mais abrangente, não se limitando somente à manufatura, mas também com atuação destacada nas áreas de serviço. A produção tem como objetivo primário satisfazer necessidades humanas no que diz respeito a bens e serviços, portanto, reunir tópicos especiais em engenharia de produção que de alguma forma atendam a esse objetivo é um desafio. Para atender a esse desafio, a experiência na gestão em engenharia de produção se mostrou de grande valia. Não é o propósito dessa disciplina fazer um resumo geral de todas as disciplinas do curso, o que seria algo impraticável, mas sim destacar alguns elementos técnicos relevantes para o profissional de engenharia de produção e a integração das disciplinas para solução de problemas do cotidiano da engenharia de produção. Para facilitar a compreensão, cada aula será descrita como um módulo que reúne alguns tópicos que possuam afinidades técnicas. Para esta aula, o módulo será o de Tópicos em Tecnologia e Materiais. A seguir, os temas desta nossa aula. 1. Desenho técnico: acabamento superficial; 2. Princípios de mecânica: forças e movimentos; 3. Tecnologia dos materiais: materiais ferrosos; 4. Tecnologia dos materiais: materiais não ferrosos; 5. Resistência dos materiais: determinação dos esforços. Com certa frequência, alguns alunos de engenharia de produção nos questionam se todos os conceitos, princípios e técnicas aprendidos durante o curso serão utilizados na vida profissional. Pergunta não muito fácil de se responder, pois a utilização do aprendizado em maior ou menor escala vai depender da área de atuação do profissional, no entanto, algumas características se mostram muito importantes para implantação de melhorias e tomada de decisão. O exemplo apresentado na Figura 1, a seguir, mostra como conhecimentos de desenho técnico, princípios de mecânica, tecnologia dos materiais e resistência dos materiais foram úteis na resolução de um problema crítico que pode acontecer no cotidiano de qualquer empresa. A peça a seguir (apresentada em um desenho simplificado) é um item de um dispositivo da 3 empresa SRRC (nome fictício), que tem como objetivo fixar uma peça especial para usinagem que vinha apresentando quebras constantes, comprometendo a produtividade e a qualidade do produto. Uma das primeiras ações foi buscar um material com certa elasticidade para suportar a carga “F”. A alteração já apresentou resultado de imediato, porém, com menor frequência, ainda ocorriam pequenas trincas que ocasionavam quebras. A segunda alteração foi, após análise do desenho, propor o aumento do raio de 2 mm para 5 mm (máximo admissível). Outra melhora significativa, mas, mesmo assim, com pouca frequência, ainda aconteciam quebras. Mais uma vez, conhecimentos técnicos foram importantes na implantação de melhorias: a redução da rugosidade superficial do material para eliminação da propagação de trincas. Com base nessa última alteração, praticamente se eliminou as quebras dessa peça. Figura 1 – Resolução de um problema crítico que pode acontecer no cotidiano de qualquer empresa Portanto, vimos que o conhecimento e a compreensão de técnicas foi fundamental para a solução do problema. E, por falar em técnicas, a primeira que vamos rever refere-se ao desenho técnico. Para a maioria das áreas de atuação de um engenheiro de produção, é primordial que ele domine as técnicas de desenho técnico, seja para elaboração de um projeto de uma linha de montagem, por exemplo, para interpretação de um arranjo físico industrial ou simplesmente para se criar um croqui manualmente para confecção de uma peça qualquer. 4 Mesmo que um profissional não atue diretamente em um projeto mecânico mais complexo, é importante que ele saiba alguns princípios básicos de mecânica, como força e movimento, por exemplo. Seguindo por esse caminho, serão abordados alguns temas sobre tecnologia de materiais. A competitividade das empresas está cada vez mais acirrada e a busca pela redução de custos é um dos diferenciais que uma empresa deve apresentar. Um dos elementos-chave para essa redução de custos é a escolha adequada dos materiais. Continuando a navegar pelo termo materiais, como podemos saber se um dado material pode ou não resistir a uma ou mais cargas? Vamos relembrar os principais esforços a que os materiais são submetidos. TEMA 1 – DESENHO TÉCNICO: ACABAMENTO SUPERFICIAL Em qualquer indústria, para execução de uma determinada peça, as informações podem ser apresentadas de diversas maneiras: • Por meio da palavra: por mais artifícios que se utilizem, dificilmente se consegue transmitir a ideia da forma de uma peça. • Por meio de fotografia: mesmo com toda tecnologia digital atual quanto a resolução, lentes, foco etc., a fotografia não pode alcançar detalhes internos de uma peça, por exemplo. • Por meio da própria peça: embora possa se obter vários detalhes com uma peça física, nem sempre pode servir de modelo, pois elementos como tolerância, material etc. não podem ser obtidos. O desenho técnico transmite todas as ideias de forma e dimensões de uma peça, e ainda fornece uma série de informações, como: • O material do qual é feito a peça; • O acabamento das superfícies; • A tolerância dimensional etc. Por meio de normas e regras, o desenho técnico mecânico se tornou uma linguagem técnica universal, que permite que uma peça que seja feita num país longínquo como a China, por exemplo, se adapte perfeitamente num conjunto mecânico produzido aqui no Brasil, e que, por sua vez, esse conjunto mecânico poderá incorporar um grande equipamento nos Estados Unidos, por exemplo. 5 O dia a dia de um engenheiro de produção é criar soluções e ideias inovadoras e desafiadoras, porém, para que isso ocorra, é necessário a utilização do desenho técnico. Os desenhos utilizados em empresas geralmente são divididos em dois grupos distintos, os desenhos de Engenharia de Produto e os desenhos de Engenharia de Manufatura (ou industrial): • Engenharia de produto: desenhos referentes a produtos feitos pela empresa, como projeto de produtos, desenhos de peças compradas etc. Algumas empresas possuem regras rígidas em relação a esses desenhos no que diz respeito à confidencialidade. • Engenharia de manufatura (ou industrial): desenhos referentes a materiais de suporte à manufatura, como ferramentas, estampos, moldes, dispositivos e calibradores. Vamos nos ater a um dos aspectos que influenciaram na solução dos problemas da quebra da peça da empresa SRRC: acabamento superficial. 1.1 Acabamento superficial A importância do acabamento superficial em peças mecânicas é de suma importância, seja para reduzir atrito entre duas ou mais superfícies, que é a grande maioria das aplicações, ou para aumentar a resistência mecânica de uma determinada peça, que foi o caso da empresa SRRC, entre outras aplicações. Para saber se o acabamento superficial de uma peça está adequado ou não, deve-se medir a sua rugosidade. Rugosidades são saliências micro geométricas existentes na superfície das peças provenientes do processo de fabricação. A rugosidade a que se refere os desenhos mecânicos são, na maioria das vezes, referentes a peças mecânicas que precisam ser acopladas a outras peças. Podemos até discutir a rugosidade da superfície de uma mesa, por exemplo, mas não é o nosso foco. Por mais lisa que possa parecer uma superfície, sempre haverá saliências micro geométricas, conforme mostrado na Figura 2. 6 Figura 2 – Perfil de peça analisada por microscópio Para medição da rugosidade de superfícies, utilizam-se alguns parâmetros de avaliação, como o Rz, Rmax,Rq, Rt e Ra. O padrão Ra é um dos mais utilizados e se refere à média aritmética dos valores dos pontos de perfil da rugosidade (Yi) em relação à uma linha média dentro de um percurso de medição (lm). O parâmetro Ra foi utilizado para definir a rugosidade do raio de 5 mm da peça da empresa SRRC. A Figura 3, a seguir, mostra uma representação gráfica da rugosidade Ra (ou CLA): Figura 3 – Representação gráfica da rugosidade média (Ra ou CLA) Fonte: Moldes Injeção Plásticos, S.d. Algumas empresas ainda adotam o sistema de medição por meio de triângulos (conforme NBR–6402). Nesse sistema, quanto maior a quantidade de triângulos (limitado a quatro) mais lisa será a superfície da peça, no entanto, devido às exigências tecnológicas e limitação quanto à escala de medição, sua aplicação não é tão utilizada como antigamente, mas algumas empresas de ferramentaria e usinagem ainda utilizam essa escala de medição, conforme figura a seguir. Veja que, conforme informação do desenho, essa peça deve ter 7 a rugosidade em torno de 6,3 Ra em todas suas superfícies, exceto as indicadas com três triângulos, que exigem rugosidade de aproximadamente 0,8 Ra. Figura 4 – Desenho com indicações de rugosidade A Tabela 1, baseada na norma ABNT/NBR 8004 e ISO 1302, apresenta um comparativo entre parâmetros de avaliação da rugosidade: • Sistema convencional (antigo); • Classes padronizadas de rugosidades; • Rugosidade Ra. 8 Tabela 1 – Comparativo entre parâmetros de avaliação da rugosidade Créditos: ABNT/NBR 8004 e ISO 1302. Por meio dessa tabela também é possível verificar quais são os processos de usinagem adequados aos objetivos de acabamento superficial. 1.2 Interpretação do acabamento superficial nos desenhos Vamos utilizar como exemplo o desenho de um eixo qualquer com alguns símbolos de rugosidade superficial baseado na ABNT 8404. Figura 5 – Eixo com alguns símbolos de rugosidade superficial baseado na ABNT 8404 9 Com base na interpretação desse desenho, chega-se à seguinte conclusão: • A tolerância geral de acabamento superficial (N11) é de 25µm (0,025mm), ou 25 Ra; ou seja, todas as superfícies usinadas, sem a conotação de rugosidade, deve considerar N 11. • N9 significa rugosidade máxima permitida de 6,3µm (0,0063mm), ou 6,3 Ra;x : ou seja, nas regiões em que aparecem a indicação de rugosidade N9. • N5 significa rugosidade máxima permitida de 0,4µm (0,0004mm), ou 0,4 Ra.x ou seja, nas regiões em que aparecem a indicação de rugosidade N5. Muitos desenhos industrias já vêm com a identificação do parâmetro Ra, ao invés das descrições “N”, o que, de certa forma, facilita a leitura. Portanto, o conhecimento básico sobre acabamento superficial e como representá-lo em um desenho técnico é de grande valia na engenharia de produção. TEMA 2 – PRINCÍPIOS DE MECÂNICA: FORÇAS E MOVIMENTOS O exemplo da peça da empresa SRRC apresenta um dos principais conceitos da mecânica estática, que é o momento de força (ou torque). O objetivo desse tema é mostrar como esses conceitos podem ser aplicados na prática e integrados com outros elementos, tal qual o desenho mecânico, que já vimos anteriormente. “Dê-me um ponto de apoio e moverei o mundo”. A célebre frase atribuída a Arquimedes (matemático, físico, engenheiro, inventor e astrônomo grego) já nos direciona a uma concepção de movimento. Vamos relembrar a peça-problema da empresa SRRC: 10 Figura 6 – Peça-problema da empresa SRRC Para se caracterizar um momento de força são necessários 4 elementos básicos: • Módulo de força: representado pela força “F”; • Direção: representado pela letra “α”. Nesse caso, a direção da força é ortogonal ao eixo; • Sentido: no caso da peça anterior, sentido horário; • Ponto de aplicação: representado pela letra “d”. É evidente que, para calcular a carga que a peça mostrada deve suportar no ponto de aplicação mencionado, outras variáveis devem ser levadas em consideração, tais quais a secção transversal da peça e a resistência do material. Na peça anterior, a força “F”, em conjunto com o braço (distância) “d”, de forma simplificada, dará origem ao momento de força, ou seja: M = f x d. A força é dada em newton (N) e a distância em metro (m), portanto, M = 𝑁𝑁 . 𝑚𝑚. Vejam o exemplo simples a seguir de um momento de força em relação ao ponto “0”, similar ao da peça da SRRC: 11 Figura 7 – Momento de força em relação ao ponto “0” Fonte: Princípios de Mecânica e Resistência dos Materiais (aula 1, p. 23–24). Equação 1 – Exemplo de sentido de rotação de aplicação de F 𝑀𝑀𝑀𝑀 = −(100 𝑁𝑁) . (2 𝑚𝑚) = −200 𝑁𝑁. Note que o sinal negativo se refere ao sentido de rotação horário em torno do ponto “0”. No exemplo anterior, foram utilizados alguns exemplos numéricos que valem a pena serem destacados, portanto, é necessário relembrar algumas unidades importantes do Sistema Internacional – SI, conforme tabelas a seguir: Tabela 2 – Grandezas de base do Sistema Internacional – SI Fonte: Princípios de Mecânica e Resistência dos Materiais (aula 1). Tabela 3 – Unidades suplementares do Sistema Internacional – SI Fonte: Princípios de Mecânica e Resistência dos Materiais (aula 1). 12 Tabela 4 – Unidades derivadas do Sistema Internacional – SI Fonte: Princípios de Mecânica e Resistência dos Materiais (aula 1). TEMA 3 – TECNOLOGIA DOS MATERIAIS (METAIS FERROSOS – AÇO) Cientistas vêm trabalhando arduamente em busca de materiais de alta performance, ou seja, materiais que tenham baixo peso específico, boa resistência mecânica, reciclável, sustentável e de custo competitivo, entre outras características. A área de atuação da engenharia de produção é muito ampla, e o profissional dessa área deve ter conhecimento sobre tecnologia dos materiais, pois o engenheiro de produção tanto pode exercer seu trabalho na administração de uma área produtiva como também participar do desenvolvimento de novos materiais. Embora os plásticos, principalmente os polímeros de engenharia, tenham aumentado sua participação nos projetos dos produtos, como linha automotiva, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, por exemplo, os metais ainda são utilizados em grande escala pelas indústrias do mundo inteiro. Entre os metais ferrosos e não ferrosos, destaque para utilização dos não ferrosos, que têm aumentado sua aplicação em projetos, principalmente na indústria automotiva. Apesar de seu custo ser mais alto do que o aço e o ferro fundido, por exemplo, a sua utilização proporciona um ganho de eficiência energética dos veículos em função do baixo peso específico. Mas, mesmo assim, os metais ferrosos, como o aço, ainda são os materiais mais utilizados na engenharia de um modo geral, seja nos projetos de produtos, na construção civil e na construção de máquinas, para citar algumas aplicações. Se você observar uma fábrica em funcionamento, notará que grande parte do material envolvido é o aço, seja nas máquinas, dispositivos, ferramentas e 13 também como matéria-prima. E é sobre o aço que vamos direcionar os estudos nesse tema. Uma das soluções para resolver o problema da trinca e consequente quebra da peça da empresa SRRC foi a escolha do material correto para a aplicação. O aço é uma liga metálica entre o ferro e carbono (na ordem de 0,1 a 1,8% de carbono, aproximadamente). Tem-se aí o aço carbono, que é um dos mais utilizados nas construções mecânicas. Quanto menor for a porcentagem de carbono, mais macio será o aço e com menos dureza. Do lado oposto, quanto maior a porcentagem de carbono, o aço adquire maior dureza. Conforme Cunha (1990, p. 14), “da porcentagem maior ou menor que o carbono aparece no aço é que depende uma série de modificações nas propriedades dos aços, como dureza, resistência ao desgaste, tração, fragilidade, etc.”. Algumas propriedades doaço são muito importantes em relação à aplicação: • Dureza: é a resistência que o material tem ao ser submetido a riscos e penetração. Quanto maior a porcentagem de carbono no ferro ou no aço, maior a sua dureza e quanto maior a dureza maior a resistência ao desgaste. Peças sujeitas à fricção ou a um movimento que gere atrito devem apresentar dureza para resistirem ao desgaste. Por outro lado, um aço que ganha em dureza, perde em resiliência. • Resiliência: é a resistência a golpes, pancadas, choques. É a capacidade que alguns materiais têm de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica. • Resistência à tração: é a resistência que um material tem ao ser puxado nos dois extremos. Um aço com 60 kg/mm² significa que um mm² deve suportar 60 kg quando puxado. • Maleabilidade: é a propriedade que um aço tem em ser laminado, estampado, forjado e repuxado. A seguir, observa-se uma tabela com as propriedades apresentadas. 14 Figura 8 – Influência do carbono sobre a qualidade do aço e do ferro Fonte: Cunha, 1982, p. 17 Os aços possuem, em sua condição de origem (fabricação), uma determinada dureza em função da porcentagem de carbono. Essa dureza pode ser ampliada, essencialmente, por meio de tratamento térmico, que consiste em aquecer o material até uma temperatura estipulada e posteriormente impor um 15 resfriamento. Existem vários tipos de tratamentos térmicos, mas vamos nos ater aos dois tipos mais utilizados: a têmpera e o revenimento. • Têmpera: processo de tratamento térmico de aços com o objetivo de aumentar sua dureza e sua resistência por meio de duas etapas: aquecimento lento (aproximadamente entre 700 °C e 900 °C) e esfriamento rápido (em óleo específico, por exemplo). • Revenimento: processo de tratamento térmico nos aços para corrigir a tenacidade e a dureza excessiva provenientes da têmpera. Também ocorre em duas etapas: aquecimento lento (aproximadamente entre 200 °C e 300 °C) e resfriamento rápido (em óleo específico, por exemplo). Recomenda-se fazer esse processo logo em seguida ao processo de têmpera. Bom, vimos algumas propriedades do aço e como o tratamento térmico pode melhorar sua qualidade. Voltando à peça da empresa SRRC, ela é submetida a um momento de força que pode causar uma flexão e que antes da melhoria estava ocorrendo uma trinca na região de raio de 5mm que fica mais longe do ponto de intensidade de força. Nesse momento, pergunta-se: qual o melhor material a ser utilizado para essa aplicação? Qual devem ser as suas propriedades? Qual tratamento térmico a ser imposto na peça? Todas essas perguntas podem ser respondidas pelo engenheiro de produção. Vamos lá: essa peça deve atender à resiliência mecânica e ter uma dureza superficial quanto à fricção (atrito entre dois corpos de aço). Para atender a essas propriedades, é necessário que o aço seja tratado termicamente por meio dos processos de têmpera e revenimento. Como achar esse material no mercado? Partimos do pressuposto de que o material em utilização pode ter até uma dureza “razoável”, o que lhe confere uma boa propriedade em relação ao atrito metal-metal, porém, pelo fato de ter havido trincas no ponto crítico da peça, significa que o material é muito rígido (altamente plástico), não propiciando elasticidade. Portanto, o que precisamos é um material que tenha certa resistência à abrasão, mas que seja “flexível”. Para esse fim, um material que atende aos requisitos propostos é o aço SAE 6150, que é um aço cromo-vanádio utilizado para fabricação de molas, barras de torção e pinças para fixação (que é o caso da peça da SRRC). 16 Esse aço não é simplesmente um aço carbono, embora contenha de 0,48 a 0,53% de carbono (referência ao numeral 50 do aço SAE 6150). Trata-se de um aço conhecido como aço-liga. Veja a seguir a sua composição. Tabela 5 – Composição do aço SAE 6150 Elemento Simb. Concentração (%) Carbono C 0,48 a 0,53 Cromo Cr 0,80 a 1,1 Vanádio V 0,15 min. Manganês Mn 0,7 a 0,90 Silício S1 0,15 a 0,35 Enxofre S 0,04 máx. Fósforo P 0,03 máx. Portanto, um aço SAE 6150 conjugado com um tratamento térmico ideal de têmpera e revenimento mais as alterações de desenho da peça (aumento de seu raio e polimento) permitiu a obtenção de uma peça que atendesse aos requisitos desejados e, consequentemente, gerou ganhos em produtividade. TEMA 4 – TECNOLOGIA DOS MATERIAIS (METAIS NÃO-FERROSOS – ALUMÍNIO) As ligas metálicas não ferrosas são de extrema importância, principalmente em função da utilização nas aplicações em que as ligas ferrosas não possuem atributos. Fatores como corrosão, peso específico, condução de energia elétrica, magnetismo, entre outros, são determinantes na escolha desses materiais. As principais ligas não ferrosas são as ligas de cobre, de alumínio, de zinco, de níquel e de titânio. Como tópico de destaque, nesse tema vamos nos ater às ligas de alumínio e aos principais processos de fundição. Segundo a Associação Brasileira de Alumínio – ABAL, o Brasil é o décimo primeiro produtor de alumínio primário e quarto produtor de bauxita, o que nos deixa numa posição de destaque a nível mundial. Depois das ligas de aço, as ligas de alumínios estão entre os metais mais utilizados nas indústrias. Embora o custo de extração e beneficiamento sejam bem superiores ao do aço, o alumínio vem gradativamente substituindo o aço em muitas aplicações, como por exemplo na indústria automotiva, que vem utilizando o alumínio como matéria-prima para blocos de motores em reposição aos blocos de ferro fundido. 17 Algumas características, como menor peso específico, proporcionam em um motor de carro de passeio um ganho na ordem de 20 kg, aproximadamente. Sem contar que também propicia melhor controle de temperatura do motor e menor tempo para aquecimento, com benefício direto ao consumo. Mas como são os processos para obtenção de peças de alumínio? Por suas características, como o baixo ponto de fusão (em torno de 650 °C) em relação ao aço, o alumínio pode ser obtido por meio dos processos de fundição. Dentre os processos de fundição, podemos destacar os seguintes: • Fundição em areia: um dos processos industrias mais antigos que existe, consiste em vazar o alumínio fundido (em estado líquido) em um molde fabricado em areia. O molde de areia é obtido com base em um modelo (similar à peça que se quer obter) que é ajustado ao molde por meio da compactação da areia. O molde é fabricado em duas partes para facilitar a retirada da peça. Para escoamento do metal líquido, é construído um canal específico. Esse processo ainda é bastante utilizado para peças em baixa quantidade e de tamanho grande, como base de máquinas operatrizes, por exemplo. Normalmente, o molde é utilizado apenas uma única vez. Figura 9 – Fundição em molde de areia Crédito: Chongsiri Chaitongngam/Shutterstock. • Fundição em coquilha: obtido por gravidade (similar ao processo de fundição em areia), esse processo consiste em vazar o metal líquido em um molde de aço, também conhecido como coquillha. A despeito de parecer algo simples, é necessária muita tecnologia para se obter peças 18 técnicas por meio desse processo. É também conhecido como fundição a baixa pressão. • Fundição sobre pressão: Processo de fundição em que a injeção do metal líquido contido em um recipiente chamado de câmara de injeção é direcionada para o interior da cavidade de um molde metálico por meio de um pistão. A velocidade do pistão deve ser suficiente para evitar o resfriamento do material. Após o preenchimento do molde, vem a etapa de recalque, que consiste em compactar o metal para eliminar e/ou diminuir as microporosidades. Figura 10 – Exemplo de injeção sobre pressão Fonte: Telecurso 2.000 Profissionalizante – Processos de fabricação Além dos processos convencionais anteriormentemencionados, o alumínio já vem sendo utilizado em impressoras 3D. Um dos pilares da indústria 4.0, a manufatura aditiva vem ganhando espaço na fabricação de produtos. Um dos exemplos pode ser visto na fabricação de rodas especiais desenvolvidas pela empresa Audi para uma sonda de exploração espacial. TEMA 5 – RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS: DETERMINAÇÃO DOS ESFORÇOS Entender os fundamentos básicos de resistência dos materiais pode contribuir consideravelmente no cotidiano da vida profissional de um engenheiro de produção. Não é pretensão desse tema revisar todo o material estudado 19 nessa disciplina, o que seria algo totalmente impossível, mas sim buscar na prática do dia a dia de uma organização a utilização dessa complexa disciplina. Como fonte para nossos estudos, vamos continuar com o caso da empresa SRRC, porém, antes. vamos relembrar alguns conceitos. Um corpo (uma peça mecânica, por exemplo), pode ser submetido à aplicação de forças que originam diversos tipos de solicitações, como: tração, compressão, flexão, torção e cisalhamento. Vamos lembrar como elas atuam. • Tração: solicitação que tem como característica alongar o corpo (peça) no sentido de aplicação das forças opostas aplicadas. É a resistência que o material oferece ao ser puxado nos dois extremos. É uma forma de avaliação muito utilizada na classificação de materiais. Por exemplo, um aço qualquer em que em um dos valores de tabela é possível encontrar aço 60 kg/mm², significa que em um mm² de secção chega a suportar um esforço de 60 kg quando puxado. Figura 11 – Corpo solicitado à tração • Compressão: solicitação em que forças são aplicadas no mesmo sentido em um determinado corpo, tendendo a encurtá-lo. Figura 12 – Corpo submetido à compressão • Flexão: solicitação que tende a alterar o eixo geométrico de um corpo em função de uma força normal a ele. Interessante notar que, em uma viga submetida à flexão, tem-se as solicitações de tração e compressão trabalhando ao mesmo tempo, conforme figura a seguir. 20 Figura 13 – Corpo submetido à flexão • Torção: solicitação que tende a girar as secções de uma peça sobre seu próprio eixo, uma em relação às outras, por meio de um momento de força. Figura 14 – Corpo submetido à torção Fonte: Aula 1 – Resistência dos materiais – Tema 1 • Cisalhamento: solicitação em que forças agem em sentido oposto tendendo deslocar paralelemente duas secções de uma peça, constituindo-se de forças denominadas cortantes. Figura 15 – Corpo submetido à cisalhamento 21 Bem, voltando ao caso da peça da empresa SCCR, em uma breve análise das solicitações a esforços descritas anteriormente, fica claro que o principal esforço a que a peça é submetida é o de flexão. É possível perceber na Figura 15 que existem esforços compostos agindo sobre a peça. Do esforço de flexão, origina-se esforços de tração nas fibras do material, o que pode causar trincas, tal qual ocorreu na empresa SRRC. Figura 1 – Esforço de flexão e tração na peça da SRRC O objetivo desse exemplo foi o de mostrar, independente dos cálculos que precisam ser realizados, que o conhecimento das técnicas de resistência dos materiais pode auxiliar bastante nas soluções de problemas de manufatura que ocorrem no cotidiano das empresas. FINALIZANDO Finalizamos esta aula resgatando alguns fundamentos tecnológicos e de materiais muito importantes para a atuação do engenheiro de produção. Como a atuação desse profissional tem se tornado cada vez mais abrangente, é necessário que ele reúna conhecimentos e técnicas para solução de problemas na área fabril. Para atendimento ao caso da empresa SRRC, foram necessários conhecimentos prévios sobre aspectos de desenho técnico e acabamento superficial, sem os quais o problema não seria resolvido. Retomamos alguns princípios de mecânica para avaliação do problema no dispositivo de fixação da SRRC. 22 Mesmo conhecendo os fundamentos de desenho técnico e os princípios de mecânica, foi fundamental para solução do problema o conhecimento sobre materiais. Agora você é capaz de entender a aplicação dos aços ligas, bem como a influência dos tratamentos térmicos. Continuando a abordar o tema material, vimos um pouco sobre o alumínio e seus processos de fundição no Tema 4. Para finalizar, recapitulamos as principais solicitações de esforços a que os corpos mecânicos são submetidos e fizemos uma analogia na peça da SRRC. Conhecer as tecnologias relacionadas à engenharia de produção é muito relevante, no entanto, mais do que isso, ter a percepção de como aplicá-las em problemas práticos é o que faz a diferença entre os profissionais de sucesso. Bons estudos e até a próxima aula! 23 REFERÊNCIAS ABAL – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ALUMÍNIO. Disponível em: <abal.org.br>. Acesso em: 27 fev. 2019. CUNHA, L. S. Manual prático do mecânico. 8. ed. São Paulo: Hemus, 1982. HIBBELER, R. C. Resistência dos materiais. 7. ed. Pearson, 2010. PAVANATI, H. C. (Org.). Ciência e tecnologia dos materiais. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015. ZATTAR, I. C. Introdução ao desenho técnico. Curitiba: InterSaberes, 2016. Disponível em: <http://desenhotecniconaindustria.blogspot.com/>. Acesso em: 27 fev. 2019. Conversa inicial FINALIZANDO REFERÊNCIAS
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