Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 ÚLCERAS DE PRESSÃO • São também chamadas de úlceras de decúbito ou escaras (termo mais utilizado) • Ulcerações cutâneas (com ou sem necrose) e de tecidos adjacentes, decorrentes de pressões externas prolongadas, usualmente sobre proeminências ósseas – formação de solução de continuidade da pele – • Condição pós-cirúrgica bastante frequente, principalmente em pacientes idosos, acamados e paraplégicos e/ ou indivíduos com vasculopatias associadas (HAS, DM) FATORES PREDISPONENTES • Geralmente o paciente possui condições clinicas associadas: o Queda de imunidade o Diabetes mellitus (DM) o Hipertensão arterial (HAS) o Vasculopatias o Deficiência proteica e vitamínica o Anemia o Idade avançada PATOGENIA/ FISIOPATOLOGIA • Considerações importantes para o aparecimento da lesão: o Ocorrem invariavelmente sobre proeminências ósseas (pressão da proeminência óssea sobre partes moles) Por exemplo – não existe em locais como: abdome, panturrilha – locais em que não existem proeminências ósseas Alguns locais comuns de formação estão esquematizados no desenho abaixo: o Sendo as mais frequentes: em pacientes internados em UTI (região sacral); ambulatorialmente (mais frequente em paciente cadeirante – ísquio) o A pressão exercida sobre a área é o principal mecanismo fisiopatológico o A pressão aplicada sobre uma proeminência óssea produz uma ulcera isquêmica da pele quando excede a pressão arterial capilar final de 32mmHg, por um período extenso (redução do fluxo sanguíneo → sofrimento vascular tecidual) o Baixas pressões por períodos de tempo longos são mais danosas do que altas pressões por períodos de tempo curtos MEDIDAS PREVENTIVAS • Elaboração de um programa de intervenção precoce e personalizado para cada paciente de risco o Paciente hospitalizado o Idosos o Dificuldade de locomoção – ex: cadeirante, paraplégico, ... o Presença de comorbidades associadas • Melhorar a nutrição do paciente em pacientes acamados – evitar anemia/ hipoproteinemia/ manter o trofismo muscular • Mudança das áreas de decúbito – intercalando as posições em determinados intervalos de tempo • Objetivos básicos: o Alívio da pressão o Higiene e cuidados com a pele o Suporte nutricional o Estimulação da circulação sanguínea ALÍVIO DE PRESSÃO • Trabalho realizado pela equipe de enfermagem • Pacientes acamados: o Reposicionados a cada 2 horas o Intercalar os 4 decúbitos – ventral, dorsal, lateral direito, e lateral esquerdo, em sequência o Reposicionamento de MMII e MMSS (proeminências ósseas) com espumas e travesseiros: Escapular Trocânter Occipital Calcâneo Joelhos Cotovelos o Contra-indicada a elavação do dorso do leito acima de 20° (promove fricção, atrito e escorregamento, com do retorno linfático e venoso) → pode ser realizada em curtos períodos (5-10 min durante as refeições) 2 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 o Inspeção da pele regular – (manter seca, limpa) e ao menor sinal de RI deve-se afastar a área de pressão o Uso de colchoes do tipo “caixa de ovos” ou outros sistemas que promovem “flutuação” verdadeira, como colchões de agua ou camas com colchoes pneumáticos com insuflação e desinsuflação intermitentes a cada 2 ou 3 minutos – podem auxiliar na prevenção/ contudo a formação das escaras pode ocorrer caso as medidas preventivas não sejam de fato tomadas de forma correta o OBS: PACIENTES CADEIRANTES (INTERNADOS OU NÃO) • Devem ser reposicionados a cada 30 minutos, modificando a distribuição do peso a cada 15 minutos • A elevação do tronco a cada 30 min por um período de 60 segundos alivia a pressão na região isquiática (local frequente de formação de escara nesses pacientes) • Dispositivos utilizados na tentativa de a P – assentos de ar, agua → podem fazer mal ao paciente (não distribuem a pressão de forma igualitária) HIGIENE E CUIDADOS COM A PELE o Pele higienizada e íntegra é fundamental para a manutenção do trofismo cutâneo o Proteção da presença de suor, urina e fezes, mantendo-a sempre limpa, e hidratada o Higienização regular com água morna e sabão neutro, evitando força mecânica e fricção o Evitar excesso de umidade ( maceração da pele), pois a umidade em excesso aumenta em 5x a chance de lesão o Uso de cremes ou óleos lubrificantes à base de ácidos graxos essenciais – AGE - redução das lesões por fricção → ex: óleo de girassol Hidratam a pele – função emoliente ( atrito/ cisalhamento) o Uso de revestimentos protetores – filmes transparentes e selantes cutâneos o Uso de curativos protetores – ex: hidrocoloides o Massagens delicadas sobre proeminências ósseas, melhoram o retorno venoso e o tônus muscular com redução do edema o A cobertura com filme curativo de poliuretano ou curativos hidrocolóides podem auxiliar na redução da pressão e na formação das escaras SUPORTE NUTRICIONAL o Importante na recuperação do paciente e na cicatrização das feridas o A dieta deve ser hiperproteica e hipercalórica – com balanço nitrogenado positivo (estado de anabolismo +) o Suplementações vitamínicas e de ferro ou hemotransfusões podem ser necessárias em alguns casos ESTIMULAÇÃO DA CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA o Exercícios passivos que estimulam a circulação – alivio da isquemia tecidual, melhora do tônus muscular, vascular e cutâneo → auxilio na drenagem linfática e também venosa ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DAS ÚLCERAS DE PRESSÃO 1. HIPEREMIA Vermelhidão local Aparece em 30 min (sobre local de pressão) Desaparece em 1h após da pressão 2. ISQUEMIA Persistência do P por 2-6 horas Redução da perfusão sanguínea para determinada região Inicio de sofrimento vascular do tecido Desaparece após 36h de retirada a fonte da pressão 3. NECROSE Isquemia persiste por > 6h Lesão enegrecida da pele → endurecimento local Lesão não desaparece após retirada da sobrecarga de pressão → morte celular (irreversível) As áreas de necrose devem ser removidas cirurgicamente (debridadas) 3 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 4. ULCERAÇÃO Quando o debridamento da lesão não é feito a necrose evolui após duas semanas → liquefação Liquefação e absorção da necrose – formação da úlcera CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA (SHEA) o GRAU I: evidencia de inflamação sobre proeminência óssea, sem ulceração – coincide com o 1º estágio fisiopatológico (hiperemia tecidual – inflamação) o GRAU II: ulceração superficial da pele – daqui em diante a lesão já passou por todos os estágios fisiopatológicos (hiperemia → isquemia → necrose → formação da ulcera) O que irá diferenciar entre os graus II, III e IV são os estágios de profundidade da lesão o GRAU III: ulceração profunda, geralmente em forma de cone invertido, estendendo-se para o TCSC (subcutâneo), musculatura e osso o GRAU IV: ulcera complexa, estendendo-se para articulações ou cavidades (reto, bexiga ou vagina) TRATAMENTO CIRÚRGICO – LIMPEZA CIRÚRGICA (DESBRIDAMENTO CIRÚRGICO) o Frequentemente uma infecção mista está associada a estas feridas, com presença de microrganismos AERÓBIOS e ANAERÓBIOS (polimicrobiana) – ex: Pseudomonas aureuginosa, E. coli, Bacterioides fragillis, Proteus miraballis, Staphylococcus aureus, Acinetobacter sp. o Não adianta somente tratar esse paciente com antibioticoterapia sistêmica → necessário restaurar o fluxo local (não existe capilar sanguíneo viável em tecido necrótico) o OBJETIVO: remoção de microrganismos, debris celulares, tecido desvitalizado e outros materiais estranhos que possam impedir o processo natural de reparação → até alcançar aspecto macroscópico de tecido viável, com SANGRAMENTO! QUAL O TRATAMENTO DE QUALQUER ÚLCERA DE PRESSAO? DESBRIDAMENTO!!TRATAMENTO CIRÚRGICO TARDIO o É realizado após o desbridamento (ressecção ampla da ulcera, incluindo a porção óssea quando acometida) o Preenchimento de todos os espaços com tecidos, evitando-se espaços mortos → gordura e musculo o e alguns dias após o leito da ulcera apresentar-se com bom tecido de granulação o Procedimentos cirúrgicos realizados: • Retalhos cutâneos locais • Retalhos musculares, musculocutaneos e fasciocutaneos ou mesmo retalhos microcirúrgicos em áreas corpóreas que existem escassez de retalhos (como regiões distais de MMII) RETALHO: Segmento de pele e subcutâneo com suprimento sanguíneo próprio que será utilizado no fechamento de uma lesão (área receptora) na qual o fechamento primário não é possível (não conseguimos aproximar as bordas e fechar com sutura) Há comunicação do retalho com a área doadora por meio de um pedículo isso permite sua sobrevivência 4 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 OBJETIVOS DO TRATAMENTO CIRÚRGICO TARDIO o Promover proteção adequada da área ulcerada o Reduzir a perda proteica através da ferida o Prevenir sepse e osteomielite progressiva o Melhorar aparência e higiene do paciente → ulcera quase sempre é colonizada por bactérias (odor fétido) o Prevenir a degeneração maligna local (úlcera de Marjolin - CEC) → tardia → ocorre 20-30 anos após de lesão não tratada adequadamente ÚLCERA SACRAL o A mais encontrada em paciente acamado/ internado o Quando pequena → cicatrização espontânea – somente em pacientes que voltarão a deambular o TT cirúrgico → geralmente essas lesões não se fecham sozinhas – utilização de retalhos cutâneos de rotação • RETALHO FASCIOCUTÂNEO LOMBAR – utiliza-se pele acima da úlcera (incisão em semicírculo e deslocamento de cranial para caudal, ou seja, afim de cobrir o local ulcerado). A região doadora tem suas bordas aproximadas e fechamento por primeira intenção Figura 1 - Reconstrução de úlcera sacral com retalho lombo-sacral: pré-operatório com marcação dos limites da úlcera. Figura 2 - Reconstrução de úlcera sacral com retalho lombo-sacral: pós-operatório. • RETALHO ROMBÓIDE (LIMBERG): formato losangular → rotação de lateral em direção medial • RETALHO EM V-Y (roda em V e fecha em Y): O pedículo desse retalho advém das artérias perfurantes fasciocutâneas – pode avançar de lateral para medial Figura 3 - Úlcera sacral debridada e marcação intraoperatória. Figura 4 - Retalho fasciocutâneo de avanço V-Y bilateral Retalho miocutâneo de glúteo máximo: ulceras profundas e extensas ÚLCERAS ISQUIÁTICAS o São mais frequentes em pacientes paraplégicos o Cobertura é feita sempre com retalhos, enxertos de pele não são utilizados o Retalho fasciocutâneo posterior da coxa – RETALHO DE TULENKO → pele, fáscia e gordura - esse retalho é deslocado do joelho em direção ao quadril (distal para cranial) 5 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 Figura 9 - Reconstrução de úlcera isquiática com retalho de Tulenko (fasciocutâneo posterior da coxa): marcação dos limites da úlcera e do retalho Figura 11 - Reconstrução de úlcera isquiática com retalho de Tulenko (fasciocutâneo posterior da coxa): profundidade da área doadora e espessura do retalho Figura 12 - Reconstrução de úlcera isquiática com retalho de Tulenko (fasciocutâneo posterior da coxa): pós-operatório imediato. ÚLCERAS TROCANTÉRICAS o Geralmente são largas e profundas o Frequentemente associadas a osteomielite o Retalho miocutaneo do músculo tensor da fascia lata é o mais utilizado Figura 6 - Reconstrução de úlcera trocantérica com retalho de fáscia lata: marcação dos limites da úlcera e do retalho. Figura 7 - Reconstrução de úlcera trocantérica com retalho de fáscia lata: pós- operatório imediato. CONSIDERAÇÕES FINAIS o Escaras são frequentes o Facilmente evitáveis o Importância de equipe de enfermagem bem preparada com suporte medico adequado o Pressões continuas e permanentes levam a isquemia e necrose o Melhor medida: PREVENÇÃO principalmente nos pacientes considerados de risco
Compartilhar