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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos Departamento de Engenharia de Alimentos Seminário de ZEA0565 – Higiene Industrial e Legislação Grupo 5: Partículas estranhas e sujidades em alimentos Ana Carolina Pereira Francisco (Nº USP: 11214079) Areli Gamiele Maria Ferreira da Silva (Nº USP: 11320064) Giovana de Oliveira Pontes (Nº USP: 11214295) Graziela Bernardes Mondin Guidio (Nº USP: 11319955) Guilherme dos Santos Camargo (Nº USP: 11214228) Rafaela Soares de Campos (Nº USP: 11320050) Prof. Dr. Carlos Augusto Fernandes de Oliveira Prof. Dr. Carlos Humberto Corassin Pirassununga – SP Dezembro/2020 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos Departamento de Engenharia de Alimentos Resumo: Partículas estranhas e sujidades são materiais cuja presença em alimentos gera desagrado ao consumidor e problemas para a indústria produtora. Entre estes materiais, pode-se citar insetos (ou fragmentos destes), excrementos, pelos, areia, entre outros, ou seja, tudo aquilo que certamente não deve estar em um produto alimentício. Assim, a presença desses elementos serve como um indicador claro das condições de higiene precárias e das falhas no processo produtivo, provocadas pela indústria. De acordo com a legislação RDC nº 14 de 28 de março de 2014, as sujidades podem ser divididas de diversas formas e cada uma delas apresenta limites de concentração que devem ser respeitados pela indústria de alimentos, visando sempre causar o menor risco à saúde dos consumidores. A legislação também define métodos de análises específicos para a avaliação da presença de partículas indesejadas. Tais análises são uma pequena parte do que deve ser realizado nas indústrias para garantir a segurança dos produtos, uma vez que toda a cadeia produtiva deve ser constantemente monitorada para que, desde o recebimento da matéria prima até a distribuição do alimento pronto, assegure-se a ausência de sujidades. Essa segurança pode ser obtida a partir da seleção e higiene da matéria prima, passando pelo controle de pragas em toda a planta industrial. Além disso, deve-se garantir o manejo adequado dos resíduos gerados pela empresa, a higiene e sanitização adequadas dos equipamentos e manipuladores, chegando ao fim da cadeia com o transporte e armazenamento corretos para manter a eficiência e segurança do alimento. Analogamente, são exemplos da ausência de cuidados efetivos na produção de alimentos a presença de sujidades, como insetos, pelos e ácaros, acima dos limites delimitados por cada legislação específica, para especiarias como o orégano, o mel e café. Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 4 2. LEGISLAÇÃO .............................................................................................. 5 3. IMPORTÂNCIA PARA A INDÚSTRIA DE ALIMENTOS ............................ 13 4. ARTIGO 1 .................................................................................................. 15 5. ARTIGO 2 .................................................................................................. 18 6. ARTIGO 3 .................................................................................................. 20 7. CONCLUSÃO ............................................................................................ 22 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 23 4 1. INTRODUÇÃO Por Guilherme dos Santos Camargo O produto alimentício pode ser contaminado durante todo o seu procedimento, ou seja, na colheita da matéria prima, no processo tecnológico, no armazenamento e até mesmo em sua distribuição. A aceitabilidade de um produto contaminado pode ser diminuída, se visivelmente há presença de matérias estranhas e sujidades em sua composição, visto que os consumidores preferem adquirir alimentos livres de qualquer sujidade e matéria estranha (BARBIERI, 1990). Em relação a higiene, um produto final com boa qualidade é aquele que durante o seu processo consegue isolar matérias estranhas que podem atingir o alimento, como insetos e seus fragmentos, excrementos e pelos de roedores ou humanos, além de sujidades no geral, como grãos de areia, pois isso pode indicar as condições práticas de higiene utilizadas durante a produção do produto. Com isso a higiene corporal, os equipamentos de proteção individual, os bons hábitos e o estado de saúde dos manipuladores também são essenciais para alcançar a boa qualidade do produto (BARBIERI; SERRANO, 1995; REY; SILVESTRE, 2009). Segundo a legislação brasileira, matéria estranha em alimentos é qualquer material não constituinte do produto associado a condições ou práticas inadequadas na produção, manipulação, armazenamento ou distribuição. Com essa definição o termo se torna muito abrangente, dessa forma ocorre a divisão dos tipos de matéria estranha sendo elas: • macroscópicas: material detectado por observação direta (olho nu); • microscópicas: material detectado por instrumentos ópticos, com aumento mínimo de 30 vezes; • inevitáveis: material que aparece no alimento mesmo com a aplicação das Boas Práticas; • indicativas de riscos à saúde humana: material capaz de veicular patogênicos para o alimento e causar danos ao consumidor, como por exemplo: insetos, roedores, morcegos e pombos que podem estar presentes completamente ou em partes. Além de objetos rígidos como metal, lasca de madeira, pedra, dentes, caroço, fragmento de vidros e filmes plásticos; 5 • indicativas de falhas das Boas práticas: artrópodes considerados próprios da cultura e do armazenamento como exúvias, teias e excrementos, partes da matéria prima não contempladas nos regulamentos técnicos, pelos humanos e de animais (exceto os indicados no inciso X deste artigo). Além de areia, terra e animais vertebrados ou invertebrados, não citados ainda (BRASIL, 2014). O termo de sujidade é algo que está atrelado a qualidade do que é sujo ou do que há falta de limpeza ou higiene. Desta forma podemos dizer que a sujidade é a matéria estranha que apareceu no alimento devido a falhas na aplicação das boas práticas de fabricação. 2. LEGISLAÇÃO Por Ana Carolina Pereira Francisco A legislação em vigência para o tema “partículas estranhas e sujidades em alimentos” é a RDC N° 14, de 28 de março de 2014, estabelecida pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) (BRASIL, 2014), a qual terá foco principal no presente trabalho, mas ressalta-se que a RDC Nº 14/2014 não é a única legislação para o tema, apesar de abranger a maioria das categorias de alimentos, existem algumas legislações específicas anteriores a ela que ainda estão vigentes, como a Instrução normativa Nº 11/2000 que regulamenta os padrões para o mel. O objetivo desta RDC é apresentar e quantificar o limite máximo de matérias estranhas microscópicas e macroscópicas em alimentos e bebidas que indicam risco a saúde humana ou a falha na utilização das Boas Práticas, com abrangência que inclui todos os alimentos que se destinam ao consumo humano (BRASIL, 2014. A fim de facilitar o compreendimento da RCD Nº 14 é definido alguns termos importantes no Art. 4º, como matéria estranha e, logo em seguida, é definida suas apresentações como matéria estranha macroscópica, microscópica, indicativas de risco à saúde humana e aquelas que representam falhas das Boas Práticas. Além da abertura do tema matérias estranhas, a compreensão dos temas partes indesejáveis ou impurezas (partes de vegetais ou de animais que interferem na qualidade) e vetores (animais que apresentam patógenos provenientes de um hospedeiro) também são extremamente importantes para a discussão do tema(BRASIL, 2014). 6 É importante ressaltar que os cuidados quanto ao tema devem estar presentes em toda cadeia produtiva, ou seja, desde a obtenção da matéria-prima até o consumo final, além disso o produtor deve aplicar medidas que garantam a redução da presença de partículas estranhas e sujidades, como as Boas práticas (BRASIL, 2014). Para que os limites de tolerância fossem estabelecidos alguns critérios foram levados em consideração, são eles (BRASIL, 2014): • Risco a saúde; • Dados nacionais e internacionais sobre o tema; • Permanência de matérias estranhas mesmo após a aplicação de métodos de contenção. A resolução também estabelece os métodos de análise que devem ser adotados para que os resultados sejam legalmente aceitos, para partículas macroscópicas é estabelecido a análise Macroanalytical Procedures Manual – U.S. Food and Drug Administration (US FDA), ou equivalente, já para partículas microscópicas é estabelecido a análise Association of Official Analytical Chemists (AOAC), ou equivalente. Fica estabelecido pela resolução que os alimentos citados no anexo devem seguir os limites estabelecidos, e aqueles que não são citados, mas levam os alimentos citados como base para a sua produção, devem seguir o limite estabelecido com a realização de cálculos que leve em consideração a concentração, ou seja, a sua porcentagem de diluição no produto final. É de suma importância que a quantidade das partículas estranhas e sujidades nunca ultrapasse o limite estabelecido e que a empresa elabore e apresentem as informações de concentração ou diluição e proporções dos ingredientes aos responsáveis sanitários, caso estas informações não sejam entregues em um prazo de 10 dias ou apresentem erros as autoridades utilizaram como base as informações disponíveis (BRASIL, 2014). Após a implementação da RDC Nº 14 de 28 de março de 2014, diversas empresas tiveram seus produtos barrados, principalmente os molhos e extratos de tomate. Segundo uma reportagem da revista Extra (Globo) divulgada em 2016, quatro lotes das marcas Elefante, Predilecta, Amorita, Aro (extrato de tomate) e Pomarola (molho de tomate) foram proibidos de serem comercializados devido ao excesso de pelos de roedores, a pedido da ANVISA os lotes foram retirados de comercialização e a origem do problema deveria ser investigada e solucionada. Para melhor 7 entendimento do caso a Figura 1 apresenta um fragmento do anexo existente na RDC Nº 14, de 28 de março de 2014, onde expõe os limites e a metodologia estabelecidos para a análise de produtos à base de tomate. É importante ressaltar que a averiguação do cumprimento desta RDC não fica restrita apenas a órgãos como a ANVISA, os próprios consumidores podem averiguar as condições apresentadas pelo produto adquirido e, em caso de irregularidades, pode usufruir de seus direitos como consumidor, o caminho mais comum é a indenização por danos morais que apresenta variação de valores conforme a gravidade da situação, por exemplo, a presença de um fio plástico em um alimento em 2009 ocasionou em uma indenização de R$ 9.300,00, já em 2011 a presença de um inseto em um lanche da empresa Mcdonalds provocou a antecipação do parto de uma consumidora devido ao choque, a mesma foi indenizada em R$ 3.600,00 (AZEVEDO, 2014). Figura 1 – Produtos à base de tomate Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br A seguir as Figuras 2 a 12 apresentam aos valores para cada categoria de alimentos com exceção dos ácaros. 8 Figura 2 – Limites de tolerância estabelecidos para a categoria frutas, produtos de frutas e similares Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br Figura 3 – Continuação dos limites de tolerância estabelecidos para a categoria frutas, produtos de frutas e similares Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br 9 Figura 4 – Limites de tolerância estabelecidos para a categoria farinhas, massas, produtos de panificação e outros produtos derivados de cereais Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br Figura 5 – Limites de tolerância estabelecidos para a categoria café Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br 10 Figura 6 – Limites de tolerância estabelecidos para a categoria chás Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br Figura 7 – Continuação limites de tolerância estabelecidos para a categoria chás Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br 11 Figura 8 – Continuação limites de tolerância estabelecidos para a categoria chás Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br Figura 9 – Limites de tolerância estabelecidos para a categoria especiarias Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br 12 Figura 10 – Continuação limites de tolerância estabelecidos para a categoria especiarias Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br Figura 11 – Limites de tolerância estabelecidos para a categoria cacau e produtos derivados Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br 13 Figura 12 – Limites de tolerância estabelecidos para a categoria todos os tipos de alimentos Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br A legislação também estabelece os limites para os ácaros mortos em cada categoria de alimentos, assim como a metodologia para determiná-los (Figura 13). Figura 13 – Limites para os ácaros mortos Retirado do site www.bvsms.saude.gov.br 3. IMPORTÂNCIA PARA A INDÚSTRIA DE ALIMENTOS Por Areli Gamiele Maria Ferreira da Silva Atualmente, todos os setores de produção enfrentam o desafio da qualidade de seus produtos. Em particular, na indústria de alimentos, os procedimentos de higienização são fundamentais para assegurar a qualidade. (GERMANO, 2011). A higiene industrial constitui uma tarefa de grande importância no campo da segurança e controle dos riscos, cujo aspecto mais relevante é o seu reconhecimento 14 como instrumento de prevenção. Muitos exemplos encontram-se na mídia, de casos nos quais diferentes tipos de alimentos são encontrados com também diferentes tipos de sujidades e/ou partículas estranhas, como em um caso recente em Santa Catarina, publicado pela revista NSC TOTAL (2020), onde foi encontrada uma cobra do tipo dormideira, em uma embalagem de brócolis. Na avaliação de um processo de higienização, existem diferentes níveis de monitoramento a serem realizados: verificação visual de resíduos a fim de avaliar a eficiência da higienização; verificação por contato com papel branco ou mesmo mão higienizada para avaliar superfícies de difícil visualização. Os resultados obtidos com esse monitoramento, normalmente, são comparados às especificações ou às recomendações propostas por órgãos oficiais ou por entidades científicas conceituadas, tais como a American Public Health Association (APHA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). Dependendo dos resultados, mantêm-se as técnicas de higienização adotadas ou são tomadas medidas corretivas (ANDRADE, 2008). O início do controle dentro da indústria começa com seu reconhecimento, ou seja, pleno convencimento de que esses riscos existem. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, a higiene industrial é “a ciência e arte dedicada à antecipação, reconhecimento, avaliação e controle de riscos ambientais que venham a existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais”. É de grande relevância, que desde a colheita, a indústria se certifique que há o mínimo de sujidades e partículas estranhas em sua matéria prima, facilitando assim o desenvolvimento dos próximos processos, com a utilização de maquinários por exemplo. Sendo assim indústria alimentícia tem inovado nos últimos anos, principalmente, pelo fato de que o segmento produz maquinários variados para este ramo em questão, o que faz a produtividade e o aprimoramento dos processosregistraram um aumento gradativo. Segundo Vieira (2010), em um dos processamentos do leite, ele é transferido para um tanque de expansão, maquinário também chamado de tanque de resfriamento, onde é submetido a uma primeira filtração através de peneiras para remoção das sujidades e partículas maiores, encontradas no leite. No entanto, aplica-se à indústria 15 a necessidade de que esses maquinários estejam em bom estado, apresente uma boa aparência interna e externa, e um funcionamento adequado, evitando também que peças, cascas, tintas, substâncias externas, entre outras avarias, sejam introduzidas no alimento, pondo em risco a saúde do consumidor, além de que podem causar falhas na regulagem e interrupções de programas. Já durante o armazenamento, é de cunho industrial a asseguração de que todas as embalagens estejam higienizadas e armazenadas corretamente. Além da inspeção na realização do transporte até o local de comercialização do alimento produzido, onde a partir daí é de total incumbência do comerciante, o cuidado com esse alimento, sejam eles vendidos ainda sob a embalagem oriunda da indústria, ou, aberto para a comercialização fracionada. Esses estudos constituem um instrumento fundamental para a indústria de alimentos e refeições na prevenção de riscos. A meta de todos os envolvidos na segurança do alimento é prever os riscos em cada tipo de processamento, que possa ocasionar alterações não desejadas na saúde do consumidor final. 4. ARTIGO 1 Por Graziela Bernardes Mondin Guidio Avaliação microscópica e pesquisa de sujidades em amostras comerciais de orégano (Origanum vulgare L.), salsa (Petroselinum sativum Hoffim.) e chimichurri. As amostras comerciais de orégano, salsa e chimichurri são condimentos e especiarias, oriundas de produtos de origem vegetal ou de uma mistura, podendo estar em marcas comerciais embaladas ou a granel na forma fragmentada, em pó ou inteira. Por esses alimentos serem encontrados no campo e talvez não terem uma forma de processamento adequado, podem ser encontradas sujidades nessa matéria- prima. Sendo elas sujidades leves como: pêlos, ácaros e fragmentos de inseto; ou/e sujidades pesadas como: areia, pedras, madeira, excremento de roedores e acrílico. As amostras da pesquisa em questão são oriundas de Ouro Preto, MG. Nesse contexto, a RDC no 276 de 22 de setembro de 2005 classifica que as especiarias são produtos constituídos de uma ou várias partes de um vegetal 16 utilizados para agregar aroma ou sabor a bebidas ou alimentos. Essas especiarias devem passar por algumas etapas: obtenção, processamento, armazenagem e conservação, a fim de atenderem as Boas Práticas de Fabricação e regulamentos técnicos específicos. (BRASIL, 2005). No artigo em questão, o objetivo do estudo é detectar a presença de sujidades em 4 amostras (Marca 1 e 2 e Granel A e B) de cada especiaria desidratada - orégano, salsa, chimichurri - e compará-las com os padrões da legislação vigente. Para essa análise, foram usados métodos oficiais para a determinação da presença dessas sujidades como o 975.48 e Association Official Analytical Chemists (AOAC,2000). O processo utilizado para preparar as amostras desidratadas a serem observadas foram a pesagem, contabilizando 10 g em cada amostra, e posteriormente, essas, foram colocadas em contato com a solução álcool-éster na proporção de 1:1 durante 15 minutos. Após isso, elas foram filtradas a vácuo e o material retido foi colocado em contato com a solução de NaClO (2,5%) até que todo seu pigmento fosse perdido. Em seguida, ocorreu uma nova filtração e uma secagem parcial em uma estufa a 50oC. Todo esse processo foi necessário para realizar a análise dos condimentos no microscópio estereoscópio e, assim, detectar as matérias estranhas. Com isso, pode ser feita uma análise mais aprofundada acerca do tema. Consequentemente, nas amostras foram encontradas tanto sujidades leves como pesadas, conforme mostram os dados presentes na Tabela 1. Com esses resultados, foi possível notar a presença das sujidades leves e pesadas e concluir que havia a presença de insetos e seus fragmentos, considerados sujidades leves. Todas as amostras apresentaram regularidade quanto aos padrões estabelecidos na legislação. Baseando-se na Resolução no 14 de 28 de março de 2014, a qual estabelece a quantidade permitida de matérias estranhas presentes em alimentos ou bebidas, foi possível verificar que as amostras analisadas estavam dentro dos limites de tolerância de fragmentos de insetos para especiarias e oréganos. 17 Tabela 1: Sujidades encontradas nas amostras de cada condimento analisado. Fonte:(SANTOS et.al, 2017) Também foi possível analisar que as demais sujidades encontradas, como: pelos, acrílicos, pedras e vidros são oriundos de falhas na execução das Boas Práticas de Fabricação (BPF). As 3 últimas sujidades listadas também são materiais que podem trazer riscos à saúde humana. Além disso, não há nenhum tipo de tolerância em relação à presença desses três elementos, de acordo com a legislação, sendo então, consideradas amostras em desacordo com a regulamentação. Vale ressaltar que, nesses casos, a presença do pêlo humano, apesar de ser resultado da falha na BPF não apresentaram uma quantidade que torne o consumo do alimento impróprio, uma vez que atende os limites presentes na legislação. Nota-se que na amostra de orégano “a granel-B” também foi encontrada outras espécies vegetais. Caso essa mistura não esteja especificada no rótulo como exige a legislação, essa especiaria pode ser considerada um alimento fraudado ou que teve alguma contaminação durante a colheita e processamento. Por fim, baseado nos resultados encontrados na tabela foi possível observar que 6 amostras se encontraram em desacordo com a legislação. Sendo as amostras de orégano, as que apresentaram maior número de sujidades. Em contrapartida, as amostras de chimichurri apresentaram o menor índice de sujidades, apesar de serem formadas pela junção de vários ingredientes. 18 Além disso, mesmo que a presença de insetos e seus fragmentos estejam de acordo com os limites de padrões estabelecidos, são necessárias Boas Práticas de Fabricação ao produzir e, futuramente, comercializar essas especiarias. Dessa forma, deve ser feita uma fiscalização constante dessas especiarias, por meio de análises microscópicas, com o intuito produzir um alimento com qualidade e segurança para o consumo. 5. ARTIGO 2 Por Giovana de Oliveira Pontes Pesquisa de sujidades e matérias estranhas em mel de abelhas (Apis mellifera L.), de Ricardo Silva de Sousa, Júlia Geracila de Mello e Carneiro (2008) O mel é um alimento produzido por abelhas melíferas a partir de substâncias como o néctar das flores ou de secreções de plantas e insetos. O consumo deste produto pelas pessoas cresceu nos últimos anos pelo aumento da procura por produtos naturais, e junto a isto, eleva-se também a possibilidade de fraudes e má manipulação no processamento do mel (SOUSA; CARNEIRO, 2008). O padrão de qualidade brasileiro para o mel, instituído na Instrução Normativa nº 11 de 20 de outubro de 2000, exige a ausência de substâncias estranhas de qualquer natureza no alimento, sejam elas insetos, cabelos e outros (BRASIL, 2000). Levando isso em consideração, o artigo escrito por Sousa e Carneiro (2008), visa estabelecer o perfil microscópico de qualidade de méis produzidos e comercializados no estado brasileiro do Piauí, além de incentivar o trabalho seguro e confiável para os produtores. Para a execução desta pesquisa foram consideradas duas metodologias para avaliar os produtos em questão. A primeira envolvia a diluição do mel em água com posterior filtração Büchner e leitura em lupa, já a segunda, após a diluição em água, foi realizada uma centrifugação e leitura do sedimento. No total,foram analisadas 52 amostras de sete cidades do estado, que foram encaminhadas ao Laboratório de Análises Físico-químicas do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Processamento de Alimentos (NUEPPA) do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da Universidade Federal do Piauí (UFPI). 19 Como resultado (como pode ser visto da Tabela 2 abaixo), a partir do método 1, detectou-se a presença de ácaros e larvas em 23,53% e 52,94% das amostras, respectivamente; e foram encontrados fragmentos de insetos em 67,65% delas. Além disso, pelos humanos (1 amostra) e de roedores (1 amostra), representaram, juntos, a porcentagem de 5,88% das amostras. Diante da legislação ainda em vigor (BRASIL, 2001), 65,38% das amostras analisadas (34) foram consideradas fora dos padrões de identidade e qualidade do mel, pelo método 1. E considerando segundo método 30,77% das amostras (16) estavam fora dos padrões exigidos pela IN nº 11 de 2000. Tabela 2: Sujidades encontradas, e suas porcentagens, nas amostras avaliadas Fonte: (SOUSA; CARNEIRO, 2008) Pode-se concluir, portanto, que uma elevada porcentagem dos méis produzidos no Piauí coloca em risco a vida de seus consumidores, uma vez que ultrapassam o limite determinado pela Instrução Normativa nº 11 de 2000, vigente à época do estudo e ainda hoje. Dentre as metodologias utilizadas para a avaliação das amostras, é possível dizer que a primeira é a mais eficaz na detecção de materiais estranhos ao alimento em questão. Por fim, é importante ressaltar que seria necessário revisar toda a forma de produção dos méis avaliados para que erros durante o processamento sejam corrigidos, aplicando por exemplo as Boas Práticas de Fabricação e higiene industrial, e garantindo, assim, a qualidade e segurança do alimento que chegará no consumidor. 20 6. ARTIGO 3 Por Rafaela Soares de Campos Avaliação microscópica e físico-química de café torrado e moído comercializado em Sete Lagoas-MG O Brasil se encontra entre os maiores produtores e exportadores de café do planeta, cerca de 21 milhões de sacas de 60 kg, o equivalente a 4,82 kg ano-1 per capita de café torrado e moído, são consumidos, por isso o país é o segundo maior consumidor de café do mundo. Além de ser apreciado pelo sabor, aroma e efeitos estimulantes, diversas substâncias bioativas encontradas no café. Após a colheita dos grãos de café, eles passam por um processo de limpeza e separação das impurezas. A secagem é realizada em terreiro, por meio da exposição do café ao sol, ou por secadores artificiais. A próxima etapa é a eliminação das cascas e separação dos grãos, então segue a torrefação, que ocorre mudanças químicas e físicas, desenvolvendo cor, aroma e sabor, e por último a moagem. O produto final pode apresentar até 5% de teor de umidade e 5% de teor máximo de resíduo mineral fixo (cinzas), valores maiores que os indicados, se explicam pela presença de material inorgânico, como por exemplo, areia e terra, isto pode acontecer por conta de falhas nas BPFs do produto ou indicar que houve fraude, adição intencional. A areia e a terra são consideradas matérias estranhas pesadas no café, pois podem ser isoladas e retiradas do produto através de técnicas de decantação em solvente. A RDC nº 14, de 28 de março de 2014 estabelece que para o café torrado e moído o limite é de 60 fragmentos de insetos/25 g de produto. Os fragmentos de insetos, por serem de origem animal, são classificados pela legislação como sujidades, assim como os pelos, bárbula de pombo, dentre outros. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo analisar a presença de matérias estranhas e sujidades em amostras de café torrado e moído, comercializadas em Sete Lagoas-MG. O estudo realizado contou a análise de 10 amostras de 250g cada de café torrado e moído, dessas 10 amostras metade são provenientes de café embalado e a outra metade é de café vendido a granel. A amostra contida em cada embalagem de café foi homogeneizada e retirada três amostras de 25g, realizou-se a tamisação em 21 peneiras de 10 e 20 mesh e o conteúdo retido foi separado para observação direta no microscópio, e obter a pesquisa de sujidades pesadas. Para a pesquisa, coletou-se 2 g de amostra e adicionou-se na superfície de 60 mL de clorofórmio em funil de separação. O material decantado foi coletado, filtrado, transferido para placa de Petri e encaminhado para a análise no microscópio. A observação foi procedida em um estereoscópio com aumento de 20 vezes, e os fragmentos identificados foram então coletados e transferidos para lâminas contendo água destilada e cobertos com lamínula, a e para garantir os resultados as amostras também passaram por um microscópio ótico, utilizando aumento de 40, 100 e 400 vezes. Pelas análises realizadas foi possível identificar que das 5 amostras de café embalado 3 apresentaram algum tipo de matéria estranha, e das amostras a granel o resultado foi de 100%. As matérias estranhas encontradas foram fragmentos de insetos e pelos, em uma amostra embalada foram encontrados 3 fragmentos de insetos, o que corresponde a 38 fragmentos em 25 g de amostra, estando abaixo do limite máximo permitido pela legislação. Todos os pelos, exceto de roedores e morcegos, e fragmentos de insetos encontrados são considerados como matérias estranhas indicativas de falhas das Boas Práticas, que não representam risco à saúde humana. Os resultados obtidos por meio das análises foram organizados na tabela 3. Tabela 3: Média dos resultados e desvio padrão dos parâmetros físico-químicos das amostras de café embalados industrialmente e a granel. Fonte:(SILVA et.al, 2019). 22 A partir da tabela 3 é possível observar que o teor de cinzas variou de 4,68 a 7,54%, sendo que, 7 amostras apresentaram valores acima de 5,0%, valor fora do recomendado para um café de qualidade. Em todas essas 7 amostras houve presença de areia, a qual foi ressaltada na pesquisa microscópica. Tal fato confirma que, elevados teores de cinzas em café indicam a contaminação do produto por areia ou terra, ou ainda, a adição intencional, que é classificada como fraude. Essa pesquisa serve de alerta às indústrias e comerciantes, por conta dos resultados fora do que é estabelecido pela legislação, podendo causar prejuízos aos consumidores. 7. CONCLUSÃO Após o desenvolvimento do presente trabalho é possível afirmar que o tema “Sujidade e Matérias estranhas” tem grande importância na indústria alimentícia e para os próprios consumidores, já que tem por objetivo garantir a qualidade e segurança do produto final. Mas, após a análise dos resultados obtidos pelos artigos citados a presença das matérias microscópicas, macroscópicas e a própria sujidade ainda é muito relevante em diferentes categorias de produtos, o que pode indicar a falta de preparo dos estudantes e produtores sobre o tema, as legislações que o regulamentam e as maneiras de evita-los. Portanto, é importante que o tema seja apresentado e discutido, instigando a procura pela adequação quanto as normas estabelecidas, tornando os alimentos disponíveis nas gôndolas cada vez mais seguros. 23 REFERÊNCIAS ANDRADE, N. J. Higiene na indústria de alimentos. São Paulo. Ed. Varela, 2008. 400 p. AZEVEDO, Andréia Botti. A indenização por danos morais em casos de localização de objetos estranhos em alimentos. 2014. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/27655/a-indenizacao-por-danos-morais-em-casos-de- localizacao-de-objetos-estranhos-em-alimentos. Acesso em: 30 nov. 2020. BARBIERI, M. K, SERRANO, A. M. Princípios gerais para isolamento e identificação de matérias estranhas em alimentos. Coletânea ITAL, Campinas, v. 25, n. 2, p. 123-132, 1995. BARBIERI, M. K. Microscopia em alimentos: identificação histológica, isolamento e detecção de material estranho em alimentos: manual técnico. Campinas: ITAL,1990. Bertoli, Bianca. 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