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Apostila - Unidade 1 curso mediação

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1 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 1 
 
ACESSO À JUSTIÇA 
OS MÉTODOS NÃO 
ADVERSARIAIS, A POLÍTICA 
NACIONAL DE SOLUÇÃO ADEQUADA 
DE CONFLITOS E A ÉTICA DO 
CONCILIADOR E DO MEDIADOR 
 
 
Valéria Ferioli Lagrasta, 
 Marina Azevedo 
 e Arthur Napoleão 
 
 
 
 
 
 
 
 Curso de Formação de 
Conciliadores e 
Mediadores Judiciais
 
2 
 
 
 
 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA 
Presidente 
Ministro José Antonio Dias Toffoli 
Corregedor Nacional de 
Justiça 
Ministro Humberto Eustáquio Soares Martins 
Conselheiros 
Emmanoel Pereira 
Luiz Fernando Tomasi Keppen 
Rubens de Mendonça Canuto Neto 
Valtércio Ronaldo de Oliveira 
Mário Augusto Figueiredo de Lacerda Guerreiro 
Candice Lavocat Galvão Jobim 
Francisco Luciano de Azevedo Frota 
Maria Cristiana Simões Amorim Ziouva 
Ivana Farina Navarrete Pena 
Marcos Vinícius Jardim Rodrigues 
André Luis Guimarães Godinho 
Maria Tereza Uille Gomes 
Henrique de Almeida Ávila 
Secretário-Geral 
Carlos Vieira von Adamek 
Secretário Especial de Programas, Pesquisas e 
Gestão Estratégica 
Richard Pae Kim 
Diretor-Geral 
Johaness Eck 
 
 
EXPEDIENTE 
SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 
Secretário de Comunicação Social 
Rodrigo Farhat 
Projeto gráfico 
Eron Castro 
Revisão 
Carmem Menezes 
 
 
2020 
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA 
SAF SUL Quadra 2 Lotes 5/6 - CEP: 70070-600 
Endereço eletrônico: www.cnj.jus.br
http://www.cnj.jus.br/
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
3 
 
SUMÁRIO 
 
Objetivos de Aprendizagem ................................................................ 4 
Apresentação ....................................................................................... 5 
1. Cultura da Sentença e Cultura da Pacificação – Mudança de 
Paradgima ........................................................................................6 
2. Evolução Histórica dos Métodos Consensuais de Solução de 
Conflitos no Brasil – Normatização Legal e Administrativa. O Papel dos 
Juizados Especiais........................................................................11 
3. A Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado de 
Conflitos e seus Objetivos.................................................................18 
1.1- Acesso à Justiça Como “Acesso à Ordem Jurídica 
Justa”..... ....................................................................................... 20 
1.2- Mudança de Mentalidade - Uma Nova Cultura Pautada na 
Pacificação ........................................................................................ 21 
1.3- Capacitação de Conciliadores e Mediadores – Qualidade 
do Serviço .................................................................................... 23 
4. A Ética do Conciliador e do Mediador no Âmbito Judicial .... 26 
Considerações Finais ................................................................. 33 
Referências ................................................................................ 34
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
4 
 
 
 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
 
> Reconhecer a importância dos métodos não adversariais de solução de 
conflitos, compreendendo o seu contexto histórico e social; 
> Atuar conforme a Política Judiciária de resolução de conflitos, aplicando as 
normas sobre conciliação e mediação; 
> Proceder conforme os princípios éticos e regras de conduta, observando o 
Código de Ética do Anexo III da Resolução 125/2010 do CNJ. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
5 
 
 
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
Bem-vindo à Unidade 1 do curso. É muito bom contar com a sua 
participação. 
Iniciaremos nossos estudos com a necessária mudança de paradigma, 
que exige o caminho para a “cultura de paz”, passando pela evolução da 
“Justiça Conciliativa” no Brasil até chegarmos à Política Judiciária Nacional de 
tratamento adequado dos conflitos de interesses, tratando de seus objetivos e 
dos princípios éticos que regem a atuação do mediador e do conciliador. 
O objetivo é que, ao final, você tenha condições de compreender a 
necessidade da mudança de mentalidade para a concretização do acesso à 
justiça como “acesso à ordem jurídica justa”. 
Vamos trabalhar !!! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
6 
 
 
1. CULTURA DA SENTENÇA E CULTURA DA 
PACIFICAÇÃO – MUDANÇA DE PARADIGMA 
 
Desde a antiguidade, procurou-se distinguir os conceitos de Direito e de 
Justiça, sendo o primeiro entendido como um mecanismo destinado ao 
ajustamento das relações sociais e políticas, para obtenção desta última, que, 
segundo o filósofo Platão, consiste em “dar a cada um aquilo que lhe é próprio”. 
Nessa linha de compreensão, as leis sempre foram pensadas e criadas como 
meios destinados à obtenção da Justiça. 
Com o tempo, no entanto, essa distinção tornou-se cada vez mais difícil 
de ser identificada, passando-se a tratar tais conceitos praticamente como 
sinônimos. Isso porque se introduziu na sociedade a ideia de que apenas 
por meio do acesso ao Poder Judiciário, considerado, aliás, um grande marco 
civilizatório, seria possível a solução justa dos conflitos. Com esse 
entendimento, sempre veio a rejeição de qualquer outro mecanismo, 
principalmente dos meios consensuais, considerados primitivos e insuficientes 
para a solução dos conflitos sociais. 
Mas, para além desse viés cultural, a maior dificuldade para 
implementação dos métodos consensuais de solução de conflitos tem decorrido 
da formação acadêmica dos profissionais do Direito. Isso porque a formação 
nas universidades e faculdades de Direito é quase que predominantemente 
direcionada à resolução contenciosa e adjudicada dos conflitos de interesse. 
Você sabia que poucas faculdades de Direito atualmente trazem como disciplina 
obrigatória, em nível de graduação, matérias relacionadas à solução não 
contenciosa de conflitos? 
O atual contexto jurídico-social está fortemente baseado na solução 
meramente jurídica do conflito, mediante a prolação de sentença impositiva 
(solução dada pelo Estado Juiz), sem promoção da pacificação – o que sempre 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
7 
 
acarreta descontentamento de uma das partes. Este é um dos principais 
motivos para a demora na resolução dos processos e a insatisfação da 
população em relação ao sistema judiciário, inclusive diante do grande volume 
de processos. 
A jurisdição, como atividade meramente substitutiva, elimina o conflito 
do ponto de vista dos seus efeitos jurídicos, mas, na maioria das vezes, ao invés 
de solucionar o conflito sociológico existente entre autor e réu, o amplia, 
gerando maior inconformismo e, em grande escala, transferência de 
responsabilidades pela derrota judicial. 
Nesse modelo de solução jurídica de conflitos, certamente imprescindível 
para a sociedade, e que, em alguns casos, representa o único mecanismo de 
solução cabível, não é dada a devida importância ao conflito social existente por 
trás do conflito jurídico, objeto da ação. Aqui, como afirma o ilustre Professor 
Kazuo Watanabe, “o que se privilegia é a solução pelo critério do “certo e do 
errado”, do “preto ou branco”, sem qualquer espaço para a adequação da 
solução, pelo concurso da vontade das partes, à especificidade de cada 
caso”.1 
Também é essa a situação que encontramos quando consideramos o 
padrão de profissional do direito exigidopelo mercado de trabalho, 
especialmente para o exercício da advocacia, da magistratura, da defensoria 
pública e do ministério público. 
Nós, operadores do direito (advogados, defensores públicos, juízes, 
promotores), desde os bancos acadêmicos, fomos educados para o embate 
jurídico, aprendendo a fazer peças e a defender teses jurídicas, sem nos 
preocuparmos com a pacificação das partes e da sociedade. E a sentença 
realmente não traz a pacificação, pois sempre gera descontentamento de uma 
das partes, nem que seja parcialmente, o que leva à execução e aos recursos. 
 
1 WATANABE, Kazuo. Acesso à Ordem Jurídica Justa: conceito atualizado de acesso à justiça, 
processos coletivos e outros estudos. Editora: Del Rey. Belo Horizonte 2019. Pág. 66. 
 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
8 
 
Embora resolva o conflito jurídico, considerando todas as etapas do processo, a 
sentença não soluciona o conflito sociológico, subjacente ao conflito jurídico 
e que reflete os verdadeiros interesses e necessidades das partes.2 
Com a publicação da Lei nº 9.307/96, que dispõe sobre a Arbitragem, já 
se verificou alguma evolução na escolha dos métodos consensuais de solução 
de conflitos. 
Todavia, ainda não se realizou um investimento maior na formação e 
treinamento de profissionais voltados à solução não contenciosa de conflitos, ou 
seja, à negociação, à conciliação e à mediação. 
A boa notícia é que o processo de mudança está em curso. A publicação 
da Lei de Mediação (Lei n 13.140/2015), juntamente com o Código de Processo 
Civil de 2015 e com a Resolução nº 125/2010, consolida o marco legal da 
mediação no Brasil. A utilização dos métodos consensuais de solução de 
conflitos não somente é encorajada como também tem previsão legislativa 
específica, a anunciar a importância desses métodos para a própria efetividade 
da aplicação do Direito e da Justiça. 
A Lei nº 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais, já previa a 
obrigatoriedade da audiência de conciliação como forma de incentivar a 
pacificação das partes.Importante ressaltar que, a conciliação faz parte da 
história da Justiça do Trabalho, que, desde a década de 1940, a utiliza como 
forma de resolução de conflitos.3 
Conforme aponta o Relatório Justiça em Números, publicado anualmente 
pelo Conselho Nacional de Justiça – CNJ, a Justiça que mais pratica a 
conciliação é a Trabalhista, que consegue solucionar 25% de seus casos por 
meio de acordo, valor que aumenta para 38% quando apenas a fase de 
 
2LAGRASTA, Valeria F.; PORTUGAL BACELLAR, Roberto (Coords.) Conciliação e Mediação – ensino 
em construção. São Paulo. IPAM, 2016 
3 http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/nucleos-e-centros-de-conciliacao-
da-justica-do-trabalho-ali- nham-acoes-em-encontro-no-csjt?inheritRedirect=false. 
http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/nucleos-e-centros-de-conciliacao-da-justica-do-trabalho-alinham-acoes-em-encontro-no-csjt?inheritRedirect=false
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
9 
 
conhecimento de primeiro grau é considerada.4 
A nova Consolidação das Leis Trabalhistas, com as alterações 
introduzidas pela Lei nº 13.467/2017, trouxe também importantes avanços para 
a utilização desses métodos conciliatórios de resolução de conflitos, 
incentivando o diálogo e a negociação. Ainda assim, infelizmente, esses 
dispositivos processuais são menos utilizados do que poderiam, ou são 
aplicados como cumprimento de meras formalidades. Isso decorre de 
preconceito aos meios consensuais de solução, ainda vistos pelos profissionais 
do direito e pelas partes como menos eficientes que uma sentença impositiva. 
Ademais, a audiência de conciliação realizada pelo magistrado lhe traz 
algumas limitações, pois deve conduzi-la de maneira imparcial, sem antecipar o 
julgamento ou se deixar influenciar para a tomada de decisão, caso não haja 
acordo. E as próprias partes, às vezes, ainda demonstram receio de como a 
tentativa de diálogo e a própria conduta poderão influir na decisão do julgador. 
Pelas razões já indicadas, não só entre os operadores do direito, mas em 
toda a sociedade, prevalece o que o Professor Kazuo Watanabe denominou de 
“cultura da sentença”, em oposição à “cultura da pacificação”. A consequência 
disso é a morosidade da aplicação da Justiça. 
A cultura da pacificação é fundada na ideia de que os mecanismos 
consensuais de solução dos conflitos constituem ferramentas céleres e eficientes 
na promoção da pacificação social, o que é objetivo fim do Estado-juiz. 
Sem dúvida, para além das previsões legais, é necessário convencer os 
profissionais do direito e as partes da eficácia dos métodos consensuais 
de solução dos conflitos. 
As iniciativas que romperam com a cultura da sentença já produzem 
 
4 http://www.csjt.jus.br/web/csjt/noticias3/-/asset_publisher/RPt2/content/justica-do-trabalho-lidera-
ranking-de-conciliacoes-em--2017?inheritRedirect=false 
 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
10 
 
importantes efeitos sistêmicos. Exemplo mais recente disso é que, a partir de 
2019, passaram a ser obrigatórias nas grades curriculares dos cursos de direito 
de todo o país, as disciplinas que versam sobre conciliação, mediação e 
arbitragem. 
Sendo assim, as faculdades de direito, públicas e privadas, devem 
oferecer formação técnico-jurídica e prática jurídica de resolução consensual de 
conflitos, alinhando-se à Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos 
conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário, consolidada na Resolução 
CNJ nº 125/2010. 
É fato que a maior utilização dos métodos consensuais auxilia 
sobremaneira na diminuição do número de processos e, principalmente, na 
pacificação social, mas, para sua maior efetividade, são necessárias medidas 
adicionais como investimento em pessoal, estrutura e informatização dos órgãos 
judiciais.5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 LAGRASTA LUCHIARI, Valeria Ferioli. Mediação Judicial – Análise da realidade brasileira – origem 
e evolução até a Resolução nº 125, do Conselho Nacional de Justiça. GRINOVER, Ada Pellegrini; 
WATANABE, Kazuo (Coord.). São Paulo: Gen/Forense, 20. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
11 
 
 
 
2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS MÉTODOS 
CONSENSUAIS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS 
NO BRASIL – NORMATIZAÇÃO LEGAL E 
ADMINISTRATIVA. O PAPEL DOS JUIZADOS 
ESPECIAIS 
 
Os métodos consensuais de solução de conflitos passaram por uma 
evolução histórica em nosso sistema de justiça. A crise do Poder Judiciário 
ensejou um movimento universal de ampliação do acesso à Justiça, sentido no 
Brasil em maior intensidade com a Constituição Federal de 1988. A partir de 
então, experimentamos uma crescente valorização da consensualidade, em que 
a “cultura da sentença” vem sendo gradativamente suplantada pela “cultura da 
pacificação”. 
Nosso objetivo é mostrar como chegamos ao quadro atual, passando, para 
tanto, pelos principais marcos legislativos. 
Vamos fazer essa viagem no tempo? 
Voltando bastante no curso da História, tem-se que a Constituição de 18246 
já previa: “sem se fazer constar, que se tem intentado o meio da reconciliação, 
não se começará processo algum” (art. 161). Ou seja, estipulava-se, como 
condição para o início de uma ação judicial, a prévia tentativa de conciliação, que 
era conduzida por um Juiz de Paz, eleito para um mandato determinado e não 
remunerado (art. 162). 
Também no Brasil Império, pode-se citar o Regulamento nº 737/1850,7 que 
previa que nenhuma causa comercial seria proposta em juízo contencioso, sem 
a tentativa prévia de conciliação, por ato judicial ou comparecimento voluntário 
 
6 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm>. Acesso 
em: 05 mar. 2019. 
7 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dim/DIM0737.htm>.Acesso 
em: 05 mar 2019. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dim/DIM0737.htm
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
12 
 
das partes (art. 23). 
E, a conciliação prévia obrigatória também era prevista na Consolidação 
das Leis de Processo Civil do Conselheiro Emílio Ribas (art. 185), base do 
processo civil brasileiro. 
Após um largo passo temporal, chega-se ao Código de Processo Civil de 
1973,8 que determinava que o juiz, nas causas que tivessem por objeto direitos 
patrimoniais privados e antes de iniciar a audiência de instrução e julgamento, 
deveria tentar a conciliação. Se obtida, seria formalizada em um termo escrito, 
que, assinado pelas partes e homologado pelo juiz, valeria como sentença 
(arts. 447 a 449 do CPC/1973). 
Na vigência do Código de Processo Civil de 1973, houve a instituição do 
Juizado Especial de Pequenas Causas (Lei nº 7.244/1984),9 competente para as 
chamadas “pequenas causas” que são aquelas cujo valor não exceda 20 
salários-mínimos. Entre os princípios que regiam o procedimento nesse 
Juizado, constava expressamente a busca pela conciliação (art. 2º). O 
procedimento era mais simples e célere, o que facilitava o acesso à Justiça pelo 
cidadão comum. 
A Constituição Federal de 198810 trouxe um extenso rol de Direitos 
Fundamentais, cuja concretização acarretou uma maior procura pelo Poder 
Judiciário. Essa Constituição previu a instituição de Juizados Especiais, providos 
por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, 
julgamento e execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações 
penais de menor potencial ofensivo mediante os procedimentos oral e 
sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o 
julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau (art. 98, I, da 
 
8 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869impressao.htm>. Acesso em: 05 
mar 2019. 
9 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/1980-1988/L7244.htm>. Acesso em: 05 
mar 2019. 
10 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. 
Acesso em: 05 mar 2019. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
13 
 
CF/88). 
O Código de Processo Civil de 1973 sofreu alterações que visavam 
atualizá-lo frente ao movimento de acesso à Justiça, como, por exemplo, a 
possibilidade de o juiz, a qualquer tempo, tentar conciliar as partes (art. 125, IV, 
incluído pela Lei nº 8.952/1994) e a determinação de prévia audiência de 
conciliação (art. 277, com a redação dada pela Lei n.º 9.245/1995). 
Em 1995, o ordenamento jurídico nacional passou a contar com a Lei nº 
9.099,11 que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais. Entre seus 
princípios, estão a oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual 
e celeridade, devendo-se buscar, sempre que possível, a conciliação ou a 
transação (art. 2º). Sua criação se baseou na experiência do Juizado Especial 
de Pequenas Causas. 
A solução consensual dos conflitos passava a ser também estendida 
para a área criminal, adotando-se medidas despenalizadoras, como a 
composição dos danos civis (art. 72 da Lei nº 9.099/1995), a transação penal 
(art. 76 da Lei nº 9.099/1995) e a suspensão condicional do processo (art. 89 da 
Lei nº 9.099/1995). 
A Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, aplicada na Justiça 
Estadual, estabelece uma prévia sessão de conciliação, que poderá ser 
conduzida por um juiz, togado ou leigo, ou por um conciliador, oportunidade em 
que as partes deverão ser orientadas acerca das vantagens da conciliação, 
sendo-lhes mostrado os riscos e as consequências do litígio (art. 21 da Lei nº 
9.099/1995). Frustrada a conciliação, as partes ainda podem optar pela 
instauração do juízo arbitral (art. 24 da Lei nº 9.099/1995). Vê-se que essa lei 
claramente, desde há muito, privilegiava a solução consensual dos conflitos. 
A Lei nº 9.307/199612 dispôs sobre a arbitragem para dirimir litígios 
 
11 Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm>. Acesso em: 05 mar. 
2019. 
12 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9307.htm>. Acesso em: 05 mar. 2019 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
14 
 
relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Na arbitragem, as partes concordam 
em submeter sua disputa a um terceiro, que conduzirá o procedimento e ao final 
emitirá uma decisão vinculativa.13 
 A Emenda Constitucional nº 45/2004 instituiu os Juizados Especiais 
também no âmbito da Justiça Federal (art. 98, § 1º, da CF/88). Foram então 
criados pela Lei nº 10.259/2001.14 
A Lei nº 12.153/200915 instituiu o Juizado Especial da Fazenda Pública. 
Dessa forma, atualmente, há um sistema formado pelo Juizado Especial Cível e 
Criminal (Lei nº 9.099/1995), Juizado Especial Federal (Lei nº 10.259/2001) e 
Juizado Especial da Fazenda Pública (Lei nº 12.153/2009), com procedimento 
mais simplificado e célere, focado na busca da pacificação social pela 
consensualidade. 
Importante destacar que, nesse sistema dos Juizados Especiais, há a 
possibilidade de o representante judicial do ente público conciliar, transacionar 
e desistir dos processos (art. 10, parágrafo único, da Lei nº 10.259/2001, e art. 
8º da Lei n.º 12.153/2009). Com isso, viabiliza-se a celebração de acordos em 
ações envolvendo benefícios previdenciários (por exemplo: concessão de 
auxílio-doença e de aposentadoria por idade) e de responsabilidade civil do 
Estado (por exemplo: acidente de trânsito envolvendo veículo oficial e um 
particular). 
Em 2010, o Conselho Nacional de Justiça instituiu a Política Judiciária 
Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses no âmbito do 
Poder Judiciário (Resolução CNJ nº 125/201016), que busca a consolidação de 
 
13 STONE, Katherine V.W. Alternative Dispute Resolution. Encyclopedia Of Legal History. Stan 
Katz, ed., Oxford University Press. Disponívelem: https://ssrn.com/abstract=631346. Acesso em: 
05 mar. 2019 
14 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10259.htm>. Acesso em: 
05 mar. 2019. 
15 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12153.htm>. 
Acesso em: 05 mar. 2019. 
16 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=2579>. Acesso em: 05 mar. 
2019. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
15 
 
uma política pública permanente de incentivo e aperfeiçoamento dos 
mecanismos consensuais de solução de litígio. 
Assim, à luz dessa política, cabe ao Poder Judiciário organizar, em âmbito 
nacional, não somente os serviços prestados nos processos judiciais, mas 
também os que possam sê-lo mediante outros mecanismos de solução de 
conflitos, em especial dos consensuais, como a mediação e a conciliação. 
A Resolução CNJ nº 125/2010 objetiva assegurar a todos o direito à 
solução dos conflitos por meios adequados a sua natureza e peculiaridade, 
dispondo, entre outras matérias, sobre a criação das Câmaras Privadas de 
Conciliação e Mediação e sobre o Portal da Conciliação. 
Por sua vez, o atual Código de Processo Civil (Lei nº 13.105/201517) 
claramente valoriza os métodos consensuais de solução de conflitos, 
determinando que o Estado, sempre que possível, promova sua adoção (art. 3º, 
§2º). Portanto, há uma diretriz impondo ao Poder Público a obrigação de 
privilegiar a busca da pacificação social. 
Esse Código, de modo inovador, enquadra os conciliadores e os 
mediadores como Auxiliares da Justiça (arts.165 e seguintes do CPC), por 
exemplo, dispondo que: 
>> Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos 
(Cejuscs), responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliaçãoe mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar 
e estimular a autocomposição (art. 165, caput, do CPC); 
 >> O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver 
vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo 
vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que 
 
17 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. 
Acesso em: 05 mar. 2019. 
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CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
16 
 
as partes conciliem (art. 165, § 2º, do CPC); 
>> O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo 
anterior entre as partes, auxiliará os interessados a compreender as questões e 
os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da 
comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem 
benefícios mútuos (art. 165, § 3.º, do CPC); 
>> A conciliação e a mediação se baseiam nos princípios da independência, da 
imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da 
informalidade e da decisão informada (art. 166, caput, do CPC); 
>> A confidencialidade estende-se a todas as informações produzidas no curso 
do procedimento. Seu conteúdo não poderá ser utilizado para fim diverso 
daquele previsto por expressa deliberação das partes (art. 166, § 1º, do CPC); 
>> A mediação e a conciliação serão regidas conforme a livre autonomia dos 
interessados, inclusive no que diz respeito à definição das regras procedimentais 
(art. 166, § 4º, do CPC). 
Por fim, também no ano de 2015, foi instituída a Lei nº 13.14018, chamada 
de Lei da Mediação, que trata da mediação entre particulares como meio de 
solução de controvérsias e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da 
Administração Pública. Ela define mediação como a atividade técnica 
exercida por terceiro imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito 
pelas partes, as auxilia e as estimula na identificação ou desenvolvimento de 
soluções consensuais para a controvérsia (art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 
13.140/2015). 
Dessa forma, a mediação também passou a ser prevista para a solução de 
conflitos envolvendo a Administração Pública na área extrajudicial. 
 
18 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm>. 
Acesso em: 05 mar. 2019. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
17 
 
Dessa análise, percebemos que, a partir da Constituição Federal de 1988, 
houve uma aceleração na busca pela solução consensual de conflitos, que 
passou a ser admitida em áreas como a penal e a administrativa. 
Nesse contexto, o Conselho Nacional de Justiça tem destacado papel de 
orientador da implementação de todas essas mudanças, o que será visto no 
próximo tópico.
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
18 
 
3. A POLÍTICA JUDICIÁRIA NACIONAL DE 
TRATAMENTO ADEQUADO DE CONFLITOS 
E SEUS OBJETIVOS19 
 
Embora já tenhamos marcos legais de conciliação e mediação no Brasil (Lei 
nº 13.105/2015 – Código de Processo Civil, e Lei nº 13.140/2015 – Lei de 
Mediação), esse avanço se deu, em grande parte, ao esforço dos mentores e 
executores da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos 
de interesses, instituída pela Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de 
Justiça, que espelha regulamentação de vanguarda no que diz respeito aos 
métodos consensuais de solução de conflitos no Brasil, tanto que várias de suas 
disposições foram mantidas na legislação mencionada acima. 
A Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de 
interesses visa assegurar a utilização dos métodos consensuais de solução de 
conflitos, principalmente da conciliação e da mediação, no âmbito do Poder 
Judiciário, sob a fiscalização deste e, em última análise, a mudança de 
mentalidade dos operadores do direito e da própria comunidade em relação a 
esses métodos, rumo à pacificação social, objeto central da jurisdição. 
Sistematicamente, os objetivos da Política Judiciária Nacional são: 
>> O acesso à Justiça como “acesso à ordem jurídica justa”; 
>> A mudança de mentalidade dos profissionais do Direito e da comunidade, 
diminuindo a resistência de todos em relação aos métodos consensuais de 
solução de conflitos; 
>> A qualidade do serviço prestado por conciliadores e mediadores, que envolve 
 
19 Para saber mais sobre os objetivos da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado de 
conflitos, leia-se LAGRASTA LUCHIARI,Valeria Ferioli. Mediação Judicial – Análise da realidade 
brasileira – origem e evolução até a Resolução nº 125, do Conselho Nacional de Justiça. Coleção 
ADRs. São Paulo: Gen/Forense Editora, 2012. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
19 
 
sua capacitação. 
Tudo isso a fim de se obter a pacificação social (principal escopo da 
jurisdição) e tornar efetivo o acesso à justiça qualificado (“acesso à ordem 
jurídica justa” – expressão cunhada pelo Professor Kazuo Watanabe). 
O cerne da política pública de tratamento adequado de conflitos é, 
portanto, o acesso à justiça qualificado ou “acesso à ordem jurídica justa”, que 
se torna possível com a condução efetiva do processo pelo juiz (gerenciamento 
do processo e gestão cartorária) e com a utilização de modelo de unidade 
judiciária (“Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania”20), 
responsável não só pelo trabalho com os métodos consensuais de solução de 
conflitos (tendo como parâmetro o tribunal multiportas do direito norte-
americano), mas também por serviços de cidadania e orientação jurídica, que 
levam à pacificação social, reduzindo a morosidade da justiça e seus custos. 
Nessa linha, o acesso à justiça qualificado exige não só efetividade, 
celeridade e adequação da tutela jurisdicional, mas a atenção do Poder Público, 
em especial do Poder Judiciário, a todos que tenham qualquer problema 
jurídico, não necessariamente um conflito de interesses. 
Assim, cabe ao Poder Judiciário organizar não apenas os serviços 
processuais, mas também os serviços de solução de conflitos por métodos 
alternativos à solução adjudicada por sentença (hoje, conciliação e mediação) e 
os serviços que atendam os cidadãos de modo mais abrangente, como a 
solução de simples problemas jurídicos, a orientação jurídica, a assistência 
social e a obtenção de documentos essenciais ao exercício da cidadania. 
A Resolução nº 125/2010 traz, assim, uma nova imagem do Poder 
Judiciário, de prestador de serviço, que atende aos anseios da comunidade. 
 
20 Essa unidade judiciária teve a nomenclatura alterada no Código de Processo Civil (artigo 165, 
“caput”, da Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015) e na Lei de Mediação (artigo 24, da Lei n. 13.140, 
de 26 de junho de 2015) para “centro judiciário de solução consensual de conflitos”. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
20 
 
 
3.1 ACESSO À JUSTIÇA COMO “ACESSO À ORDEM JURÍDICA 
JUSTA” 
O incentivo à utilização dos métodos consensuais ou adequados de 
solução de conflitos, principalmente da conciliação e da mediação, acompanha 
o que Mauro Cappelletti denominou, ao discorrer sobre o movimento de acesso 
à justiça, de terceira “onda renovatória” do processo, que centra sua atuação na 
simplificação dos procedimentos, do direito processual e do direito material, e no 
conjunto geral de institutos e mecanismos, pessoas e procedimentos, utilizados 
para processar e mesmo prevenir litígios.21 
Então, apesar de não superadas totalmente as “ondas” anteriores 
preocupadas com a representação legal dos economicamente necessitados e 
com a efetividade de direitos de indivíduos e grupos, a “terceira onda” do 
acesso à justiça aproveita suas técnicas e busca reformas, apontando para 
alterações no direito substantivo, nas formas de procedimento e naestrutura dos 
tribunais, com o uso de pessoas leigas e de mecanismos privados e informais 
de solução de litígios, visando atingir o objeto central da jurisdição, a pacificação 
social. 
Os métodos consensuais de solução de conflitos não podem ser vistos 
apenas como métodos praticados fora do Poder Judiciário, como sugere o 
adjetivo “alternativo” utilizado comumente para qualificá-los, mas devem ser 
vistos também como importantes instrumentos, à disposição do próprio Poder 
Judiciário, para a realização do princípio constitucional do acesso à justiça, 
havendo uma complementaridade entre a solução adjudicada típica do Poder 
Judiciário e as soluções não adjudicadas. 
E não se quer, com isso, diminuir a importância dos magistrados e de suas 
 
21 Sobre o movimento do acesso à justiça e as “ondas renovatórias”, leia-se CAPPELLETTI, Mauro; 
GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Tradução de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Fabris, 1988. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
21 
 
sentenças. Pelo contrário, o que se deseja é contribuir para a melhora da 
prestação jurisdicional, reservando-se aos juízes e à solução adjudicada por 
sentença impositiva apenas as causas mais complexas, as que versam sobre 
direitos indisponíveis ou aquelas nas quais as partes, apesar de poderem, não 
querem se submeter a outro tipo de solução. 
O que se busca, então, é aumentar o leque de opções para a solução dos 
conflitos, continuando a figurar a solução estatal, por meio da sentença, como a 
principal delas, havendo uma relação de complementaridade entre esta e as 
demais, o que afasta a ideia de que formas alternativas de solução de conflitos 
ferem o monopólio da jurisdição (art. 5º, inciso XXXV, da CF – “A lei não excluirá 
da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”). Em outras 
palavras, nada impede que a parte, mesmo após receber informações 
pertinentes sobre os outros métodos de solução de conflitos, opte por ingressar 
diretamente em juízo. 
O incentivo à utilização dos métodos consensuais ou adequados de 
solução de conflitos pelo Poder Judiciário visa tornar efetivo o acesso à justiça, 
como “acesso à ordem jurídica justa”, com “j” minúsculo, que segundo o 
Professor Kazuo Watanabe, reflete não só o direito do jurisdicionado de recorrer 
ao Poder Judiciário, mas também e principalmente o direito de obter uma solução 
célere, justa, adequada e efetiva para o seu conflito. 
 
3.2 MUDANÇA DE MENTALIDADE - UMA NOVA CULTURA 
PAUTADA NA PACIFICAÇÃO 
Como já citado, os profissionais do Direito são formados para concentrar 
suas ações no embate jurídico, sem preocupação com a pacificação da 
sociedade. E a sentença realmente não pacifica as partes, pois sempre deixa 
uma delas descontente, nem que seja parcialmente, levando à execução e aos 
recursos. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
22 
 
Isso ocorre porque a sentença resolve o conflito jurídico, introduzido pelas 
partes nas etapas do processo, mas não soluciona o verdadeiro conflito existente 
entre elas, que é o conflito sociológico, subjacente ao conflito jurídico e que 
reflete os verdadeiros interesses e necessidades das partes. A analogia que se 
faz é que o conflito jurídico é a ponta do iceberg, o que se vê, e que o conflito 
sociológico é a base do iceberg, submersa, e que, portanto, não vemos com 
facilidade. Assim, esse aspecto sociológico somente é alcançado com a 
utilização de técnicas adequadas de métodos consensuais de solução de 
conflitos. 
Sob essa premissa, devido ao grande volume de processos existentes nos 
Tribunais e à consequente morosidade da Justiça, atualmente, busca-se o 
resgate das vias conciliativas ou das soluções não adjudicadas dos conflitos, 
que auxiliam potencialmente na diminuição do número de processos, pois levam 
à pacificação social. 
Mas a efetiva mudança de mentalidade dos profissionais do direito e de 
toda a comunidade exige ações concretas como: 
a) Buscar a cooperação das instituições públicas e privadas da área de ensino, 
estimulando a criação de disciplinas que propiciem o surgimento da cultura da 
pacificação e capacitem os terceiros facilitadores (conciliadores e mediadores), 
podendo se estabelecer inclusive, no curso de iniciação funcional de 
magistrados, a obrigatoriedade de um módulo voltado aos métodos consensuais 
de solução de conflitos; 
b) Divulgar os métodos consensuais de solução de conflitos, não apenas entre 
os profissionais do direito, mas também no âmbito da comunidade, por meio de 
informações veiculadas na mídia, com a organização de um banco de dados 
(Portal no site do CNJ) contendo informações dos tribunais sobre os serviços 
públicos de solução consensual das controvérsias existentes no país e seu 
desempenho, além de materiais, como artigos e cartilhas, de fácil compreensão 
pelo cidadão comum; 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
23 
 
c) Propiciar que magistrados e serventuários da justiça conheçam os métodos 
consensuais de solução de conflitos, para que possam informar as partes sobre 
os procedimentos afetos a esses métodos, direcionando-as a eles, possibilitando 
sua utilização e divulgação e contribuindo para a mudança de mentalidade. 
Todas essas ações de incentivo à autocomposição de litígios e à 
pacificação social estão previstas na Resolução nº 125/2010, que, em seus 
artigos 4º, 5º e 6º, estabelece o desenvolvimento, pelo Conselho Nacional de 
Justiça, de uma rede constituída por todos os órgãos do Poder Judiciário e por 
entidades públicas e privadas parceiras, inclusive universidades e instituições de 
ensino. 
3.3 CAPACITAÇÃO DE CONCILIADORES E MEDIADORES – 
QUALIDADE DO SERVIÇO 
A capacitação de conciliadores e mediadores é de suma importância para 
o sucesso do trabalho no Cejusc e, consequentemente, da própria Política 
Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de interesses. 
As partes devem ser orientadas sobre o procedimento e seu compromisso 
com o acordo assumido, não devendo, jamais, o conciliador ou mediador forçar 
o acordo, que deve partir da vontade delas. 
 Assim, o acordo obtido numa sessão conduzida por um 
conciliador/mediador capacitado, que utiliza adequadamente as técnicas afetas 
a esses métodos de solução de conflitos, dificilmente irá gerar uma execução ou 
um recurso.22 
 
22 Vide LAGRASTA LUCHIARI, Valeria Ferioli. A Mediação de Conflitos – análise da realidade 
brasileira e sua efetiva implantação no Poder Judiciário do Estado de São Paulo. 2009. 170 p. Tese 
(Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito) – Escola Paulista da Magistratura, São Paulo, fl. 113-
143. para verificar os dados estatísticos, referentes aos Setores de Conciliação e Mediação das 
Comarcas de Serra Negra, Patrocínio Paulista e Jundiaí, que demonstram que, nestas Comarcas, 
que seguiram o modelo proposto, tanto em relação à capacitação dos mediadores, quanto em 
relação ao método de trabalho no próprio Setor de Conciliação e Mediação, os resultados foram 
significativos, havendo a redução do número de processos distribuídos e do tempo de duração do 
processo, com a obtenção de elevado índice de acordos nas mediações realizadas. Além disso, 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
24 
 
Em face dessas constatações, com o advento da Resolução CNJ nº 
125/2010, passou a ser exigido que todos os conciliadores e mediadores que 
atuem nos Cejuscs e nos demais órgãos judiciários que realizem sessões de 
conciliação e mediação sejam capacitados na forma do seu Anexo I, cabendo 
aos Tribunais organizar e disponibilizar esses cursos, podendo firmar parcerias 
com entidades públicas e privadas (art. 12). 
A mencionada Resolução prevê a divisão dos cursos de formação de 
mediadores e conciliadores em dois módulos: teórico e prático, bem como a 
necessidade de compatibilizar a formação mínima exigida para a atuação dos 
facilitadores com as diferentesrealidades econômicas, sociais e geográficas de 
cada Tribunal. 
Diante das experiências já realizadas, estabeleceu-se que a capacitação 
deve abordar os seguintes conteúdos: 
>> Métodos consensuais de solução de conflitos, em sentido geral; 
>> Objetivos da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos 
de interesses; 
>> Técnicas de conciliação e a conduta ética dos terceiros facilitadores; 
>> Técnicas de mediação e as diferentes Escolas de Mediação existentes no 
mundo. 
Além disso, o curso teórico deve ser necessariamente seguido de estágio 
supervisionado. 
Também de suma importância o aprendizado sobre a conduta ética, sob a 
qual devem se pautar os terceiros facilitadores. Entre os princípios éticos que 
regem sua atividade, destacam-se o dever de informação, a imparcialidade, a 
 
relevante dado do Setor de Conciliação e Mediação da Família da Comarca de Jundiaí é o referente 
ao baixo índice de acordos celebrados nas sessões de mediação que geraram execução, de 7% 
na fase pré processual e de 21% na fase processual. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
25 
 
confidencialidade e a responsabilidade técnica. (o Anexo III da Resolução nº 
125/2010 traz o Código de Ética, que deve ser observado pelos conciliadores e 
mediadores judiciais).23 
 A capacitação dos terceiros facilitadores (conciliadores, mediadores, etc.) 
é fundamental, pois, para o bom funcionamento do Cejusc, as partes devem ser 
atendidas em suas expectativas e necessidades, sendo imprescindível para isso 
que, ao optarem por um método de solução de conflito diferente do judicial, este 
seja conduzido com seriedade e de forma correta. 
Somente quando concluída a capacitação dos terceiros facilitadores, é que 
o Cejusc terá condições de oferecer um serviço de boa qualidade, contribuindo 
para a obtenção da paz social e, consequentemente, para o aprimoramento da 
prestação jurisdicional. 
Você terá oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a formação de 
conciliadores e mediadores e sobre a sua inserção na Política Nacional na 
Unidade 5 deste curso. 
 
23 Códigos de Conduta foram elaborados em diversos países. No Brasil, o mais detalhado é aquele 
que foi elaborado pelo CONIMA – Conselho Nacional das Instituições de Mediação e Arbitragem. 
Mediação – Código de Ética dos Mediadores. In: OLIVEIRA, Ângela (Coord.) Mediação: métodos 
de resolução de controvérsias. São Paulo: LTr: Centro Latino de Mediação e Arbitragem, 1999. p. 
195-198. 
 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
26 
 
 
4. A ÉTICA DO CONCILIADOR E DO 
MEDIADOR NO ÂMBITO JUDICIAL 
 
Os Códigos de Éticas estabelecem os princípios e valores que 
nortearão a conduta de determinada profissão, atividade ou função. Como 
exemplo, temos o Código de Ética da Magistratura Nacional24, o Código de Ética 
e Disciplina da Advocacia25, o Código de Ética Médica26 e o Código de Ética dos 
Profissionais da Administração.27 
Nós também temos o Código de Ética para os Conciliadores e 
Mediadores. O Anexo III da Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de 
Justiça28 traz o denominado “Código de Ética de Conciliadores e Mediadores 
Judiciais”, que fixa os princípios formadores da consciência dos terceiros 
facilitadores como profisionais, que representam imperativos de sua conduta.29 
A atuação dos conciliadores e mediadores judiciais é regida pelos 
seguintes princípios, extraídos do art. 1º do Código de Ética: 
>> Confidencialidade: dever de manter sigilo sobre todas as informações 
obtidas na sessão, salvo autorização expressa das partes, exigência legal de 
divulgação ou informação à administração tributária, necessidade, para 
cumprimento do acordo obtido pela mediação, ou informação sobre ocorrência 
de crime de ação pública. O mediador ou o conciliador, ademais, não pode ser 
 
24 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/publicacoes/codigo-de-etica-da-magistratura>. Acesso em: 
05 mar. 2019 
25 Disponível em: <https://www.oab.org.br/content/pdf/legislacaooab/codigodeetica.pdf>. Acesso 
em: 05 mar. 2019 
26 Disponível em: <http://www.rcem.cfm.org.br/index.php/cem-atual>. Acesso em: 05 mar. 2019. 
27 Disponível em: <http://documentos.cfa.org.br/arquivos/resolucao_537_2018_665.pdf>. Acesso 
em: 05 mar. 2019. 
28 Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/busca-atos-adm?documento=2579>. Acesso em: 05 mar. 
2019. 
29 Para saber mais sobre o Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais vide: 
LAGRASTA, Valeria Ferioli. Código de Ética: princípios, regras de conduta, sanções, remuneração 
e supervisão. In: BACELLAR, Roberto Portugal e LAGRASTA, Valeria Ferioli. (Coord.). Conciliação 
e Mediação – ensino em construção. São Paulo: Ed. IPAM, 2ª ed., 2019, p. 528-538. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
27 
 
testemunha do caso, nem atuar como advogado dos envolvidos, em qualquer 
hipótese; 
>> Decisão informada: dever de manter o jurisdicionado plenamente informado 
quanto aos seus direitos e ao contexto fático no qual está inserido; 
>> Competência: dever de possuir qualificação que o habilite à atuação judicial, 
com capacitação na forma da Resolução CNJ nº 125/2010, observada a 
reciclagem periódica obrigatória para formação continuada; 
>> Imparcialidade: dever de agir com ausência de favoritismo, preferência ou 
preconceito, assegurando que valores e conceitos pessoais não interfiram no 
resultado do trabalho, compreendendo a realidade dos envolvidos no conflito e 
jamais aceitando qualquer espécie de favor ou presente; 
>> Independência e autonomia: dever de atuar com liberdade, sem sofrer 
qualquer pressão interna ou externa, sendo permitido recusar, suspender ou 
interromper a sessão se ausentes as condições necessárias para seu bom 
desenvolvimento, tampouco havendo dever de redigir acordo ilegal ou 
inexequível; 
>> Respeito à ordem pública e às leis vigentes: dever de velar para que 
eventual acordo entre os envolvidos não viole a ordem pública, nem contrarie as 
leis vigentes; 
>> Empoderamento: dever de estimular os interessados a aprenderem a melhor 
resolverem seus conflitos futuros em função da experiência de justiça vivenciada 
na autocomposição; 
>>Validação: dever de estimular os interessados perceberem-se 
reciprocamente como serem humanos merecedores de atenção e respeito. 
É importante destacar que o Código de Processo Civil30, em seu art. 166, 
 
30 Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. 
Acesso em: 05 mar 2019. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
28 
 
também estabelece alguns princípios para a conciliação e a mediação. São eles: 
independência, imparcialidade, autonomia da vontade, confidencialidade, 
oralidade, informalidade e decisão informada. 
De igual forma, a Lei da Mediação (Lei n.º 13.140/201531), em seu art. 2º, 
elenca os seguintes princípios: imparcialidade do mediador, isonomia entre as 
partes, oralidade, informalidade, autonomia da vontade das partes, busca do 
consenso, confidencialidade e boa-fé. 
Vejamos o significado dos seguintes princípios: 
>> Autonomia da vontade: deve prevalecer a vontade das partes em todo o 
procedimento, inclusive quanto à possibilidade de desistência; 
>> Oralidade: o procedimento deve ser preponderantemente oral; 
>> Informalidade: todo o procedimento deve ser o mais informal possível, 
evitando-se a linguagem técnica típica do Poder Judiciário e o rigorismo dos ritos; 
>> Isonomia entre as partes: as partes devem ser tratadas com igualdade; 
>> Busca do consenso: deve ser buscada uma decisão consensual, como 
legítimo ato de cooperação entre as partes envolvidas; 
>> Boa-fé: as partes devem agir de boa-fé, com honestidade. 
Como destaca Takahashi,32 os princípios valem como conceitos abstratos 
que devem ser determinados de acordo com o caso concreto, de modo que a 
aplicação de um princípio não exclui a de outro: deve haveruma ponderação para 
se definir qual é o princípio preponderante no caso concreto. 
As regras regentes do procedimento da conciliação e da mediação, 
 
31 Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/Lei/L13140.htm>. 
Acesso em: 05 mar 2019. 
32 TAKAHASHI, Bruno. Dilemas éticos de um conciliador. In, Revista do Advogado, Ano XXXIX, n.º 
123, Ago./2014. 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
29 
 
visando ao seu bom desenvolvimento, permitem o engajamento dos envolvidos, 
com vistas à pacificação e ao comprometimento com eventual acordo. Tais 
regras estão disciplinadas no art. 2º do Código de Ética de Conciliadores e 
Mediadores Judiciais: 
>> Informação: dever de esclarecer os envolvidos sobre o método de trabalho 
a ser empregado, apresentando-o de forma completa, clara e precisa, 
informando sobre os princípios deontológicos dos conciliadores e mediadores, 
as regras de conduta e as etapas do processo; 
>> Autonomia da vontade: dever de respeitar os diferentes pontos de vista dos 
envolvidos, assegurando-lhes que cheguem a uma decisão voluntária e não 
coercitiva, com liberdade para tomar as próprias decisões durante ou ao final do 
processo e de interrompê-lo a qualquer momento; 
>> Ausência de obrigação de resultado: dever de não forçar um acordo e de 
não tomar decisões pelos envolvidos, podendo, quando muito, no caso da 
conciliação, criar opções, que podem ou não ser acolhidas por eles; 
>> Desvinculação da profissão de origem: dever de esclarecer aos 
envolvidos que atuam desvinculados de sua profissão de origem, informando 
que, caso seja necessária orientação e aconselhamento afetos a qualquer área 
do conhecimento poderá ser convocado para a sessão o profissional respectivo, 
desde que com o consentimento de todos; 
>> Compreensão quanto à conciliação e à mediação: dever de assegurar que 
os envolvidos, ao chegarem a um acordo, compreendam perfeitamente suas 
disposições, que devem ser exequíveis, gerando o comprometimento com seu 
cumprimento. 
O exercício das funções de conciliador ou mediador pressupõe a 
capacitação e o prévio cadastramento junto aos tribunais, aos quais competirá 
regular o processo de inclusão e de exclusão em seus quadros (art. 3º do Código 
de Ética). Para manter esse cadastro atualizado, os Cejuscs deverão informar 
UNIDADE 1 
CURSO DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO JUDICIAL 
 
30 
 
aos Nupemecs dos tribunais as alterações eventualmente ocorridas no quadro 
de conciliadores e mediadores. 
O conciliador e o mediador deverão atuar com lisura e retidão. No início do 
exercício, assinarão termo de compromisso, submetendo-se aos princípios e 
regras de conduta constantes do Código de Ética de Conciliadores e 
Mediadores Judiciais (Anexo III da Resolução CNJ nº 125/2010) e às orientações 
do Juiz Coordenador da unidade à qual estiverem vinculados (art. 4º, caput, do 
Código de Ética). 
Aplicam-se a eles os mesmos motivos de impedimento e suspeição dos 
juízes (art. 144 e seguintes do CPC), devendo, quando constatada sua 
ocorrência, informar aos envolvidos, interrompendo a sessão e providenciando 
sua substituição (art. 5º do Código de Ética). 
Como visto, um dos princípios a ser observado pelos conciliadores e 
mediadores é o da imparcialidade, que se assemelha à imparcialidade exigida 
do juiz. 
Mas qual a diferença entre impedimento e suspeição? 
O impedimento decorre de critérios objetivos, como quando o cônjuge ou 
filho do conciliador ou do mediador é parte no processo ou quando o conciliador 
e o mediador propõem ação contra a parte ou seu advogado (art. 144, IV e XI, 
do CPC). Já a suspeição se origina de critérios subjetivos, como quando o 
conciliador ou mediador é amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de 
seu advogado, ou então quando é interessado no julgamento do processo em 
favor de qualquer das partes (art. 145, I e IV, do CPC). 
Convém destacar que o conciliador e o mediador também poderão 
declarar-se suspeitos por motivo de foro íntimo, sem a necessidade de expor 
suas razões (art. 145, § 1º, do CPC). 
No caso de impossibilidade temporária do exercício da função, o 
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conciliador ou mediador deverá informar com antecedência ao responsável para 
que seja providenciada sua substituição (art. 6º do Código de Ética de 
Conciliadores e Mediadores Judiciais). Visa-se, com isso, a manutenção do 
regular funcionamento do Cejusc, mediante o controle daqueles que nele atuam. 
O conciliador ou mediador fica absolutamente impedido de prestar 
serviços profissionais, de qualquer natureza, aos envolvidos em processo de 
conciliação/mediação sob sua condução (art. 7º do Código de Ética). Essa norma 
deriva diretamente do princípio da imparcialidade. 
O descumprimento dos princípios e regras estabelecidos no Código de 
Ética, bem como a condenação definitiva em processo criminal, resultará na 
exclusão do conciliador ou do mediador do respectivo cadastro e no 
impedimento para atuar nesta função em qualquer outro órgão do Poder 
Judiciário Nacional (art. 8.º do Código de Ética de Conciliadores e Mediadores 
Judiciais). 
Por fim, qualquer pessoa que tenha ciência de conduta inadequada do 
conciliador ou mediador poderá representar ao Juiz Coordenador do Cejusc, 
para adoção das providências cabíveis (art. 8º, parágrafo único, do Código de 
Ética). Nesse caso, caberá ao Juiz Coordenador do Cejusc instaurar processo 
administrativo para a apuração do ocorrido e, sendo o caso, aplicar a penalidade 
cabível. 
A estrita observância do Código de Ética pelos conciliadores e mediadores 
confere legitimidade à sua atuação e assegura a garantia e a credibilidade 
necessárias para que as partes se envolvam no processo de solução do conflito. 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Notamos que é imperiosa a mudança de mentalidade quanto à utilização 
dos métodos consensuais de solução de conflitos, além da busca das causas da 
litigiosidade e do seu tratamento adequado, aperfeiçoando-se, assim, as 
disposições da Resolução CNJ nº 125/2010, a fim de tornar efetivo o acesso à 
justiça no seu sentido mais amplo, de “acesso à ordem jurídica justa”, que é o 
cerne da Política Judiciária Nacional de tratamento adequado dos conflitos de 
interesses. 
Nesse caminho, não podemos negligenciar a adequada capacitação de 
conciliadores e mediadores, conforme previsão legal, que levará à qualidade do 
serviço e ao consequente afastamento da proliferação de processos. 
Trata-se de um caminho a ser percorrido com respeito aos princípios éticos 
que são próprios da função daquele terceiro que se propõe a facilitar, mediante 
o processo estruturado de mediação ou de conciliação, a resolução consensual 
dos conflitos. 
Com essas colocações, chegamos ao fim da Unidade 1.
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REFERÊNCIAS 
 
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