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Fisioterapia no Trauma Cranioencefálico Beatriz Rithiely CONCEITO • Qualquer lesão de caráter traumático, biomecânico e molecular que afete o encéfalo, as meninges, os constituintes neuro vasculares cranianos, o crânio e o próprio couro cabeludo MECANISMO DE LESÃO • Impactos diretos (acidentes automobilísticos) Lesões por golpe: lesão encefálica ocorre no local do impacto. Lesões por contragolpe: lesão que ocorre no encéfalo no lado oposto ao local do impacto • Ferimentos por objetos perfurantes (PAF, armas brancas, pedras) Extensão, gravidade e intensidade da lesão vão depender da velocidade que o objeto penetrou o cérebro. • Forças de aceleração, desaceleração e forças rotacionais - Deformação temporária do crânio. MECANISMO DO TCE • Lesões Difusas Acometem o cérebro como um todo; Decorrem de forças cinéticas que levam a rotação do encéfalo dentro da caixa craniana; Disfunções por estiramento (concussão cerebral) dos axônios ou por ruptura (lesão axonal difusa - LAD); • Lesões Focais Acometem apenas uma região do cérebro; Compostas por hematomas ou áreas isquêmicas delimitadas; Presume-se que o restante do encéfalo mantenha as propriedades de complacência tecidual e vascular preservadas. Ex: Hematoma subdural agudo, hematoma extradural agudo contusão cerebral MECANISMO DE LESÃO ATRIBUÍDO À CONCUSSÃO CEREBRAL 1. Aceleração proporcionada por uma força externa que se encerra instantaneamente diante de um anteparo (colisão); 2. O tecido nervoso mantém-se acelerado, colidindo contra a tábua interna do crânio, desacelerando abruptamente, e fazendo o movimento contrário àquele inicial. 3. A substância cinzenta, mais pesada, realiza seu movimento de forma mais lenta comparada à branca, promovendo o cisalhamento, ou seja, o estiramento das fibras nervosas. FISIOPATOLOGIA • Lesões Primárias Ocorrem no momento do trauma; Exs: PAF, arma branca. • Lesões Secundárias Decorrem de agressões que se iniciam após o momento do acidente (depende do mecanismo da lesão e tipo de TCE*) Resultantes da interação de fatores intra e extracerebrais. Podem ocorrer: rupturas de veias cerebrais, laceração do parênquima, estiramento de axônios, etc. Consequências: Aumento da PIC (>15mmHg); Hipóxia cerebral ou isquemia; Hematomas e Hemorragia intracraniana; Infecção secundária a ferida aberta; Convulsões. TIPOS DE TCE SEGUNDO FRATURAS • TCE Fechado: Sem ferimentos no crânio, ou existe apenas fratura linear (sem desvio na estrutura óssea). • Fratura com afundamento de crânio: Couro cabeludo e mm.íntegros, fragmento do osso fraturado afundado. • Fratura exposta do crânio: Couro cabeludo e mm. lacerados, e existe comunicação entre região externa e o parênquima cerebral. TIPOS DE HEMATOMAS • De acordo com o local: - Hematoma epidural → Entre a dura-máter e a calota craniana (espaço epidural); associado a fraturas de crânio (75%) - Hematoma subdural → Origem: fonte venosa, com coleção de sangue preenchendo os espaços entre as membranas dura-máter e aracnoide - Hematoma intracerebral. - Hematoma subaracnóideo → Extravasamento de sangue para o espaço subaracnóideo. • De acordo com o tempo que se desenvolvem, após a lesão: - Agudo (3 dias); - Subagudo ou crônico (+ de 2 a 3 semanas depois). ALTERAÇÕES APÓS A LESÃO CEREBRAL • SNA: alterações na regularidade do pulso, elevação da temperatura, alteração da pressão sanguínea, suor excessivo. • Motoras, Funcionais, Sensoriais e Perceptivas: “Rigidez descorticada” e “rigidez descerebrada”, Hipotonia inicial (evoluindo para espasticidade ou rigidez), Presença de reflexos primitivos, etc. • Alterações no estado de Consciência: Coma: paralisia completa da função cerebral, um estado de indiferença. Em 2 a 4 semanas, quase todos os pacientes começam a despertar. “Estado vegetativo persistente” Cognitivas, Personalidade e Comportamento: raiva sem controle, irritabilidade, dimensão da atenção diminuída, problemas de concentração, perseveração, entre outros. Obs: Muitos pacientes com lesão cerebral sofrem lesões em áreas do lobo frontal. ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS • Motoras Espasticidade = hipertonia elástica. Paresia = diminuição ou ausência do movimento ativo (em geral, hemiparesia). Distonia/coreoatetose = movimentos involuntários (lesões nos núcleos da base) Ataxia = alterações do equilíbrio e coordenação (lesões cerebelares). • Sensitivas → Visual, auditiva, sensibilidade superficial e profunda. • Fala/linguagem → Desordens motoras da fala, comunicativas... ESCALA DE GLASGOW - CLASSIFICAÇÃO DO TCE - Leve: 13 a 15 - Moderado: 9 a 12 - Grave: <9 FASE DESPERTAR – NÍVEIS DE RESPOSTA DIMINUÍDOS OU BAIXOS • Nível Cognitivo I – Coma Não responde a sons, sinais, luzes, toques ou movimentos... • Nível Cognitivo II – Resposta generalizada Reage a qualquer estímulo externo através de alterações fisiológicas generalizadas como: mastigação, gemido, sudorese, taquipnéia, hipertensão arterial, etc. Reações são lentas e inconsistentes, semelhantes a todas as formas de estímulos. Não mantém contato com o meio externo e não consegue se comunicar. • Nível Cognitivo III – Resposta localizada Começa a reagir de maneira mais específica ao que vê, ouve ou sente, com respostas lentas e às vezes ainda inconsistente. Reconhece familiares e amigos e segue comandos simples - um código de comunicação já pode ser estabelecido. • Objetivos para os níveis I, II e III → Garantir sobrevivência do indivíduo com boa qualidade. → Monitorizar: sinais vitais, nível de alerta, tônus (Ashworth). → Melhorar o estado de vigília através da estimulação sensorial (tátil, auditiva, dolorosa, olfativa, proprioceptiva, vestibular e visual) para promover o despertar do paciente. → Intervenção precoce para evitar deformidades. → Posicionamento e órteses, mobilização passiva, mudanças de decúbito, utilização de fármacos (decisão da equipe), orientação à família. → Ambiente adequado, calmo, com poucas pessoas, dar um tempo de resposta ao paciente. → SE LIGA: Quando o contexto de vida é introduzido pode aumentar a motivação do paciente FASE ADEQUAR - CONFUSÃO MENTAL • Nível Cognitivo IV – Confuso e Agitado Já despertou, está alerta e em estado elevado de atividade. Houve evolução cognitiva, mas reage em excesso àquilo que vê ou sente (confusão mental): agitado, perdido e amedrontado... Não consegue raciocinar e ver a necessidade de colaborar com o tratamento. Mínima capacidade de atenção. • Objetivos para o nível IV → Observar: memória, comportamento, agressividade, cooperação, força, equilíbrio (sentado e de pé), coordenação, habilidades cognitivas. → Utilizar artificios como cartões, gravuras. → Difícil a aprendizagem de novas habilidades. → Modele um comportamento calmo. → Ofereça opções dentro das atividades propostas: “Você prefere jogar bola ou caminhar”? → ORIENTAÇÃO FAMILIAR: Agitação não é sinal de regressão, mas de evolução (Fase temporária) FASE ADEQUAR – CONFUSO • Nível Cognitivo V – Confuso e Inadequado Menor confusão, mas ainda desorientado no tempo e no espaço. Sem limites de seus atos e palavras, sem crítica e age de forma compulsiva. Não apresenta controle voluntário esfincteriano. Tenta escapar das solicitações/repetições dos exercícios (falta de atenção). • Nível Cognitivo VI – Confuso e Apropriado Necessidade de assistência moderada, apresenta episódios de confusão. Consciência de suas necessidades básicas e de rotina. Controle voluntário esfincteriano. Apto a seguir agenda, horários e atividades familiares com alguma supervisão. Sabe mês e ano, salvo se houver déficit de memória. • Objetivos para adequar os níveis V e VI → Introduzir: trabalhos mais ativos e com mais repetições, atividades do contexto de vida⇢ motivação. → Impor limites (voz firme) e fragmentar a terapia – PROGREDIR. → Maximizar habilidades para mobilidade funcional do pcte. → Ensinar habilidades e segurança p/ reinserção à comunidade e família. → Feedback: espelho, diário, filmar terapia. → ESTIMULAR ATIVIDADES COMPETITIVAS: Arremessar bola na cesta, Jogos virtuais (Nintendo wii) ou tradicionais FASE REORGANIZAR - NÍVEIS APROPRIADOS DE RESPOSTA • Nível Cognitivo VII – Automática e Apropriado Assistência mínima para as atividades de vida diária(rotina). Auxílio em relação a noção de perigo, inconsequente nas decisões/ações, Na terapia, mais atento (1hora). Consciência superficial da sua condição ⇢ Superestima suas habilidades (coloca a “culpa” nos déficits motores). • Nível Cognitivo VIII – Intencional e Apropriado Necessita e espera por auxílio para resolução de problemas e decisões Pede ajuda quando julga necessário. Praticamente independente em todas as tarefas, em todos os ambientes. • Objetivos para adequar os níveis V e VI → Inserir atividades em ambientes barulhentos (mais real), mais dinâmicas e atividades com graus progressivos de complexidade. → Trabalhar habilidades mais específicas, que associem: cognição e função motora. → Oferecer qualidade dos movimentos funcionais e independência ⇢feedback (visual, verbal, proprioceptivo). → Estimular atenção, planejamento, tomadas de decisão, organização, sequência, estratégias para resolução de problemas. → Oferecer pistas, mas não fazer pelo paciente → SE LIGA: Terapeuta deve ser flexível, evitando contrariar o paciente (propor outras atividades com o mesmo objetivo)