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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA POLITÉCNICA DA USP PECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA EAD – ENSINO E APRENDIZADO À DISTÂNCIA eST - 402 / STR – 402 ADMINISTRAÇÃO APLICADA À ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO ALUNO SÃO PAULO, 2020 EPUSP/PECE CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO – EEST EDIÇÃO/ANO: 1/2020 CRÉDITOS: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP DIRETORA: LIEDI LEGI BARIANI BERNUCCI Programa de Educação Continuada - PECE COORDENADOR GERAL: LUCAS ANTÔNIO MOSCATO Laboratório de Controle Ambiental, Higiene e Segurança na Mineração - LACASEMIN COORDENADOR: SÉRGIO MÉDICI DE ESTON VICE – COORDENADOR: WILSON SHIGUEMASA IRAMINA ASSESSORIA TÉCNICA E ADMINISTRATIVA: MARIA RENATA MACHADO STELLIN PP – PROFESSOR PRESENCIAL: - ADHERBAL CAMINADA NETTO - JOSÉ DAMÁSIO AQUINO Equipe Técnica Conversores Presencial para Distância (CPD) - CAROLINA COSTA BATISTA - LUCAS BICUDO TING - KARLA JULIANE DE CARVALHO Filmagem e Edição (FE) - THALITA SANTIAGO DO NASCIMENTO Instrutores Multimídia à distância - IMAD (TUTORIA) - DIEGO DIEGUES FRANCISCA - FELIPE BAFFI DE CARVALHO - RENATA JULIANA LEMOS MARINHO Equipe Administrativa - NEUSA GRASSI DE FRANCESCO - CRISTIANE FIDELIS SOARES RIOS - FERNANDA GABRIELA DE CAMARGO LOPES - RAFAEL DA SILVA CRUZ ASSESSORIA DE NOVOS PROJETOS EDUCACIONAIS: VICENTE TUCCI FILHO Equipe Financeira - GUSTAVO SIQUEIRA DO NASCIMENTO ANTONIO - MADALENA EIKO HASEGAWA Equipe de Divulgação - NATALIA FIRMINO GUCCIONI “Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, sem a prévia autorização de todos aqueles que possuem os direitos autorais sobre este documento.” Sumário eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. i SUMÁRIO CAPÍTULO 1. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO ................................1 1.1 ADMINISTRAÇÃO ....................................................................................................2 1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA .......................................................................................... 3 1.3 RESUMO ..................................................................................................................5 1.4. TESTES...................................................................................................................7 CAPÍTULO 2. ESCOLA CLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO .............................................8 2.1. A REORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ...................................................................9 2.1.1. FAYOL .......................................................................................................... 9 2.1.2. TAYLOR ..................................................................................................... 10 2.1.3. FORD ......................................................................................................... 12 2.1.4. MAX WEBER .............................................................................................. 13 2.2. COMENTÁRIO .....................................................................................................14 2.3. RESUMO ..............................................................................................................14 2.4. TESTES.................................................................................................................16 CAPÍTULO 3. EVOLUÇÃO DA ESCOLA CLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO ................17 3.1. DANIEL McCALLUM ............................................................................................. 18 3.2. HARRINGTON EMERSON ................................................................................... 18 3.3. ROSEMARY STEWART........................................................................................ 19 3.4. HENRY MINTZBERG ...........................................................................................21 3.5. RESUMO ..............................................................................................................23 3.6. TESTES.................................................................................................................25 CAPÍTULO 4. ADMINISTRAÇÃO DA QUALIDADE .......................................................26 4.1. INTRODUÇÃO......................................................................................................27 4.2. MODELOS PARA GESTÃO DA QUALIDADE ......................................................28 4.2.1. O MODELO OCIDENTAL DA QUALIDADE ............................................... 28 4.2.2. A GESTÃO DA QUALIDADE NA EMPRESA ............................................. 29 4.2.3. O MODELO ORIENTAL DA QUALIDADE ................................................. 30 4.2.4. ENSINAMENTOS DO MODELO ORIENTAL ............................................. 31 4.2.5. O SISTEMA TOYOTA (TPS) ...................................................................... 32 4.3. LINHA DO TEMPO DA EVOLUÇÃO DA QUALIDADE .........................................34 4.4. RESUMO ..............................................................................................................36 4.5. TESTES.................................................................................................................38 CAPÍTULO 5. ENFOQUE COMPORTAMENTAL NA ADMINISTRAÇÃO .......................39 5.1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................40 5.2. ELTON MAYO ......................................................................................................40 5.3. KURT LEVIN ........................................................................................................41 5.4. CHESTER BARNARD .........................................................................................42 Sumário eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. ii 5.5. RESUMO .............................................................................................................44 5.6. TESTES...............................................................................................................45 CAPÍTULO 6. MOTIVAÇÃO E LIDERANÇA ...................................................................46 6.1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................48 6.2. MOTIVAÇÃO ........................................................................................................47 6.2.1. ABRAHAM HAROLD MASLOW .................................................................47 6.2.2. FREDERICK IRVING HERZBERG .............................................................48 6.2.3. DOUGLAS MCGREGOR ............................................................................50 6.2.4. ENGAJAMENTO DAS PESSOAS ...............................................................52 6.3. LIDERANÇA ..........................................................................................................51 6.4. RESUMO ...............................................................................................................55 6.5. TESTES.................................................................................................................57 CAPÍTULO 7. PENSAMENTO SISTÊMICO ....................................................................58 7.1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................59 7.2. ABORDAGEM SISTÊMICA ....................................................................................617.2.1. LUDWIG VON BERTALANFFY ...................................................................61 7.2.2. CHARLES WEST CHURCHMAN ................................................................62 7.3. ABORDAGEM DE PROCESSO .............................................................................65 7.4. RESUMO ...............................................................................................................68 7.5. TESTES.................................................................................................................69 CAPÍTULO 8. ESTRATÉGIA E NEGÓCIOS ...................................................................70 8.1. POLÍTICA E ESTRATÉGIA....................................................................................73 8.1.1. CONCEITUAÇÃO ........................................................................................73 8.1.2. PLANEJAMENTO E ADMINISTRAÇÃO .....................................................76 8.2. RESUMO ...............................................................................................................78 8.3. TESTES.................................................................................................................81 CAPÍTULO 9. SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO E CERTIFICAÇÃO ..............................................................................................................82 9.1. RESUMO ...............................................................................................................83 9.2. SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO E CERTIFICAÇÃO ...........................................................................................................83 9.2.1. MEDIDAS DE CONTROLE COMPULSÓRIAS E MEDIDAS DE CONTROLE VOLUNTÁRIAS .........................................................................................................83 9.2.2. SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO .........85 9.2.3. SISTEMA DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO OHSAS 18001 ........................................................................................................................87 9.2.4. PROPOSTA DA OIT PARA UM SISTEMA DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO ...........................................................................................95 9.2.5. PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO DE SISTEMAS DE GESTÃO ................... 104 Sumário eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. iii CAPÍTULO 10. ENTIDADES VOLTADAS À PREVENÇÃO DE ACIDENTES: NACIONAIS, INTERNACIONAIS E ESTRANGEIRAS .................................................. 109 10.1. RESUMO ........................................................................................................... 110 10.2. ENTIDADES VOLTADAS À PREVENÇÃO DE ACIDENTES E DOENÇAS DO TRABALHO³ ............................................................................................................... 110 10.2.1. ENTIDADES NACIONAIS............................................................................ 110 10.2.1.1. ENTIDADES GOVERNAMENTAIS........................................................ 110 10.2.1.2. ENTIDADES ASSOCIATIVAS DE CLASSE QUE ATUAM EM SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO E SINDICAIS ...................................... 112 10.2.1.3. EMPRESAS DE CONSULTORIA NA ÁREA DE SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO ................................................................................................... 114 10.2.2. ENTIDADES INTERNACIONAIS ................................................................. 115 10.2.3. ENTIDADES ESTRANGEIRAS ................................................................... 116 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 121 Capítulo 1. Evolução do Pensamento Administrativo eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 1 CAPÍTULO 1. EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ADMINISTRATIVO OBJETIVOS DO ESTUDO Apresentar conceitos básicos relativos à administração, bem como a relação desta com a evolução do trabalho em diversas épocas até a chamada “Revolução Industrial”. Ao terminar este capítulo, o estudante deverá ser capaz de explicar e utilizar os seguintes conceitos: Administração. Eficácia e eficiência. Planejamento. Organização. Direção. Controle. Divisão do trabalho. Capítulo 1. Evolução do Pensamento Administrativo eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 2 1.1 ADMINISTRAÇÃO Inicialmente é importante definir o que se entende por administração. Todavia, praticamente todos os autores que se debruçaram sobre o assunto têm sua própria definição. Aqui citam-se três delas, que, em conjunto, abrangem os aspectos essenciais do que seja administração: 1. Conjunto de princípios, normas e funções que tem por fim ordenar a estrutura e funcionamento de uma organização (empresa, órgão público, etc.). (FERREIRA, 2010) 2. Administração é o processo ou atividade de tomar decisões sobre recursos e objetivos. (MAXIMIANO,2017) 3. Definimos a administração como trabalhar com e por meio de pessoas e grupos para alcançar objetivos organizacionais. (HERSEY e BLANCHARD, 1982) Pode-se observar que estas definições subentendem certos elementos comuns: A existência de objetivo(s) nos quais esteja focada a administração. A realização em grupos sociais, ou seja, entre pessoas. O uso adequado de recursos para atingir o que se pretende. A eficácia das ações, isto é, a capacidade de atingir os objetivos estabelecidos ou previstos. A eficiência, ou seja, atingir os objetivos ao menor custo e com a máxima qualidade. Assim, a administração é a ciência social cujo objeto é o estudo das organizações e das técnicas voltadas para o planejamento, organização, a direção e o controle dos recursos humanos e materiais de uma organização, com o propósito de obter o máximo de benefício possível; este benefício pode ser tanto social, quanto econômico, dependendo dos objetivos da organização. Em outras palavras, a administração é o processo de planejar, organizar, dirigir e controlar o uso dos recursos, bem como as atividades de trabalho, com a finalidade de atingir os objetivos pretendidos pela organização de maneira eficiente e eficaz. De acordo com a norma ABNT NBR ISO 9000 (ABNT, 2015) aplicam-se aqui as seguintes definições: EFICIÊNCIA – relação entre o resultado alcançado e os recursos usados. EFICÁCIA – extensão na qual as atividades planejadas são realizadas e os resultados planejados são alcançados. Segundo Fayol (1916) são cinco as funções primárias da administração: https://es.wikipedia.org/w/index.php?title=Beneficio_social&action=edit&redlink=1 https://es.wikipedia.org/wiki/Beneficio_econ%C3%B3mico Capítulo 1. Evolução do Pensamento Administrativo eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 3 1. Planejamento: é o processo que se inicia com a visão e a missão da organização e estabelece os objetivos, as estratégias e as políticas organizacionais. Pode-se usar aqui ferramentas como o mapa estratégico, por exemplo, e levar em conta as forças e as fraquezas da organização, bem como as oportunidades e ameaças do contexto em que a organização está inserida. O planejamento pode ser de longo, médio e curto prazos. Atualmente, as constantes mudanças provocadas por fatores sociais, políticos, climáticos, econômicos, tecnológicos, etc., produzem entornos turbulentos, que obrigam as organizações a reverem e redefinirem seus planos de ação de forma sistemática e permanente.2. Organização: uma vez elaborado o planejamento, é preciso prover tudo aquilo que é necessário para a sua realização: matérias primas, ferramental, capital e recursos humanos. Bem como identificar responsabilidades, agrupá-las em departamentos ou divisões e especificar as relações organizacionais. 3. Direção: os gerentes devem implementar o planejamento. Para tanto, devem ter medida da capacidade e das limitações do seu pessoal. Liderar pessoas para atingirem os objetivos da organização requer a adequada alocação de recursos e um sistema de suporte efetivo. Dirigir exige boas habilidades interpessoais e a capacidade de motivar pessoas, bem como equilibrar as necessidades dos colaboradores com as demandas de produção. 4. Coordenação: a alta direção deve harmonizar todas as atividades para facilitar o sucesso organizacional. A comunicação é o principal mecanismo de coordenação. Sincroniza os elementos da organização, leva em conta a delegação de autoridades e de responsabilidades, bem como a extensão do controle dentro das unidades. 5. Controle: é a medição do desempenho, ou seja, comparar o que foi realizado com os objetivos e metas fixados, detectar os desvios potenciais e reais e tomar as medidas necessárias para preveni-los e corrigi-los. É a atividade de monitoração que avalia a qualidade em todas as áreas da organização, a fim de garantir os resultados desejados. Controlar inclui a gestão da informação, a medição do desempenho e a tomada de ações preventivas e corretivas. O objeto do estudo da administração são as organizações. Aplica-se, portanto, a todas as organizações públicas e privadas, com ou sem fins lucrativos, independentemente de seu porte, complexidade ou modelo de negócios. https://es.wikipedia.org/wiki/Estrategia_empresarial https://es.wikipedia.org/wiki/Mapa_estrat%C3%A9gico https://en.wikipedia.org/wiki/Allocation_of_resources https://es.wikipedia.org/wiki/Organizaci%C3%B3n Capítulo 1. Evolução do Pensamento Administrativo eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 4 1.2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA No início da sua história e por milhares de anos nossa espécie era composta de grupos nômades, que, principalmente em virtude das grandes variações climáticas naturais do planeta com seus efeitos sobre a abundância ou escassez da fauna e da flora, vagavam constantemente em busca de alimentos. Éramos o que hoje os arqueólogos e antropólogos chamam de “caçadores-coletores”. Nesse tipo de sociedade a administração, que certamente já existia em grau instintivo e incipiente, era mais uma questão de acaso do que de propósito. Por volta de 11.000 anos atrás, no entanto, em vários locais como a China e o Oriente Médio começou-se a praticar a agricultura, que propiciava um excedente de alimentos além daquilo que era estritamente necessário para a sobrevivência no dia a dia. Assim, não era mais necessário vagar incessantemente para garantir a sobrevivência e gradativamente foi ocorrendo de forma natural a sedentariedade dos grupos humanos. Nasceram os povoados, as vilas, as primeiras cidades. Como decorrência da sedentariedade, ocorreu a primeira grande divisão do trabalho. Para plantar e colher com sucesso era necessário estar atento aos ciclos naturais das plantas. Surgiram assim os agricultores, que se dedicavam inteiramente a esse mister. Após a colheita, era necessário distribuir o produto da terra e controlar o estoque excedente: surgiram os administradores, como os diligentes escribas sumérios e egípcios, cujos registros até hoje podem ser consultados pelos estudiosos para saberem como era conduzido o processo administrativo naqueles tempos. Com o surgimento de uma crescente demanda por produtos e serviços de toda sorte na nova forma de vida nas cidades, ampliou-se cada vez mais a divisão do trabalho. Assim, durante toda a antiguidade, estendendo-se pela Idade Média até a Idade Moderna, o trabalho passou a ser realizado em oficinas, chamadas de collegia no tempo dos romanos e guildas na Idade Média, onde artesãos altamente especializados dedicavam toda a vida à prática de seus ofícios sob a supervisão de um mestre. Começava-se como aprendiz, passava-se a obreiro qualificado com o passar dos anos e eventualmente ascendia-se à condição de mestre, com a responsabilidade de preparar e supervisionar outros trabalhadores e a missão de preservar a capacitação de sua especialidade. Infelizmente, havia também escravos, que geralmente realizavam as tarefas mais pesadas e arriscadas. No século XVIII, contudo, em decorrência do avanço científico da época dois fatores viriam contribuir para mudanças significativas nas condições de trabalho. O primeiro foi a invenção da máquina a vapor por James Watt e a mecanização das manufaturas (deveriam ter passado a chamar-se mecanofaturas, não é verdade?). Assim, o trabalho puramente braçal e consequentemente a escravidão, tornaram-se estorvos para a expansão do Império Britânico baseada na produção em massa do que antes era feito à mão. Além disso, com o surgimento e expansão das novas fábricas assistiu-se ao progressivo desaparecimento das antigas células de trabalho, com seus mestres, obreiros superespecializados, aprendizes e também escravos. Tudo isso foi substituído por três categorias que persistem em nossos dias: o empresário, o funcionário administrativo e o operário. Capítulo 1. Evolução do Pensamento Administrativo eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 5 O segundo fator, contemporâneo da chamada Revolução Industrial, foi o surgimento do pensamento iluminista, uma reação ao absolutismo das monarquias e à estagnação provocada pelo poder religioso sobre as atividades seculares. Com seus ideais baseados nos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, as Revoluções Americana de 1776 e Francesa de 1789 concorreram decisivamente para recolocar o ser humano no centro do pensamento ocidental. O primeiro fator, ao quebrar as antigas e consagradas formas de trabalhar, provocou ainda maior deterioração das condições laborais. O segundo, em contrapartida, veio despertar os corações e as mentes, para usar uma expressão consagrada pelo cinema, para a necessidade de uma nova estruturação da administração do trabalho (CAMINADA NETTO ET AL., 2011). 1.3 RESUMO Esta aula aborda os conceitos básicos da ciência e arte da administração, permitindo de início compreender sua importância para a sociedade como um todo. É apresentada a evolução do trabalho e consequentemente do pensamento administrativo na antiguidade. Mostra o impacto da chamada “Revolução Industrial” sobre as ideias e práticas tradicionais da administração. Ressalta a importância do conhecimento científico para a observação das organizações e dos administradores. Figura 1.1. A 1ª máquina a vapor patenteada por James Watt. Capítulo 1. Evolução do Pensamento Administrativo eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 6 Quadro 1.1. Administrar, por quê? Se soubéssemos com certeza o que vai suceder amanhã seríamos muito tristes, pois saberíamos o dia da nossa morte. Por outro lado, não precisaríamos administrar nada. A administração é necessária porque o futuro não é inteiramente previsível. Assim, é preciso “planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar”, como percebeu o engenheiro Jules Henri Fayol no início do século XX. (1909-2005) Quadro 1.2. Administrar, por quê? Não existem países desenvolvidos e países subdesenvolvidos. Existem países administrados e países sub- administrados. Peter Drucker (1968) Capítulo 1. Evolução do Pensamento Administrativo eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurançado Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 7 1.4. TESTES 1. A administração supõe a existência de: a) Ignorância preexistente. b) Ações irrelevantes. c) Objetivos estabelecidos. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 1.1. 2. São funções administrativas: a) Organização. b) Planejamento. c) Direção e controle. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 1.1. 3. A administração é importante devido a seu impacto sobre: a) A eficácia das organizações. b) A razão social das organizações. c) O alvará das organizações. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 1.1. 4. A sedentariedade dos grupos humanos impulsionou a: a) Caça e coleta. b) Divisão do trabalho. c) Migração e transferência. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 1.2. 5. A Revolução Industrial no século XVIII veio reforçar: a) A escravidão nas guildas. b) O pensamento administrativo medieval. c) A intransigência religiosa. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 1.2. Capítulo 2. Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 8 CAPÍTULO 2. ESCOLA CLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO OBJETIVOS DO ESTUDO Apresentar os conceitos que permitiram reestruturar as relações de trabalho após a desorganização provocada pelo impacto da Revolução Industrial sobre a maneira tradicional de organização. Ao término deste capítulo você deverá estar apto a: Descrever a visão de Jules Henri Fayol sobre o processo administrativo e suas funções; Descrever os princípios da administração científica capitaneada por Frederick Winslow Taylor; Descrever os princípios da linha de montagem de Henry Ford; Descrever as ideias de Max Weber e as alternativas ao seu tipo ideal de organização; Identificar os elementos da escola clássica de administração nas organizações atuais. Capítulo 2. Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 9 2.1. A REORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Viu-se na aula anterior, que a Revolução Industrial veio desestruturar a maneira milenar de organização naquilo que chamaríamos hoje de células de trabalho, com seus mestres, seus obreiros altamente especializados e seus aprendizes. Com a necessidade de se dispor de capital para adquirir máquinas e amplas instalações para produção, surgiu a figura do empresário, o qual, apesar de conhecer bem os processos de negócio, muitas vezes, diferentemente dos antigos mestres, não dominava o conhecimento dos processos de produção. Por outro lado, os obreiros, que começando como aprendizes ainda muito jovens, dedicavam toda a vida a aprimorarem suas habilidades, foram substituídos por operários bem menos especializados e que só viriam a ter novamente preparação adequada com o posterior surgimento das escolas técnicas. As ilustrações que nos chegaram das primeiras fábricas e mesmo já em fotografias na última quadra do século XIX, mostram ambientes mal iluminados, sujos, entulhados de toda sorte de materiais, com homens e meninos expostos a toda sorte de riscos de acidentes. A desorganização era tanta, que algo precisaria ser feito para corrigir as condições de salubridade e insegurança, bem como aumentar a produtividade do trabalho. Felizmente surgiram pioneiros como Fayol, Taylor e Ford cujas ideias não só propiciaram a completa reformulação das relações de trabalho, como permitiram atingir números de produtividade jamais pensados em toda a história anterior da humanidade. 2.1.1 FAYOL Este livro foi o primeiro trabalho abrangente a estabelecer uma teoria geral para a administração. Fayol propôs os cinco elementos ou funções primárias da administração que já se viu na aula anterior e os seguintes quatorze princípios de administração: 1. Divisão do trabalho - A especialização, tanto nas atividades técnicas, quanto nas gerenciais, promove a eficiência da força de trabalho e aumenta a produtividade. Além disto aumenta a precisão e a velocidade do trabalho. JULES HENRI FAYOL, francês nascido em Istambul em 1841 e falecido em Paris em 1925, é considerado o fundador da Teoria Clássica da Administração. Após uma vida de trabalho como engenheiro de minas, resolveu colocar sua larga experiência administrativa no hoje clássico livro “Administration industrielle et générale: prévoyance, organisation, commandement, coordination, contrôle” publicado em 1916. http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Fonds_henri_fayol.jpg Capítulo 2. Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 10 2. Autoridade - O poder que acompanha a autoridade dá à gerência o direito de dar ordens aos subordinados. 3. Disciplina – Diz respeito à obediência. Este princípio frequentemente se traduz em termos de boa conduta e de relacionamentos respeitosos. 4. Unidade de comando - Cada colaborador deve receber ordens de um único superior ou seu preposto. 5. Unidade de direção - Cada grupo de atividades organizacionais que tenham o mesmo objetivo deve ser dirigido por um gerente usando um plano para atingir um objetivo comum. 6. Subordinação do interesse individual - Os interesses de qualquer colaborador ou grupo de colaboradores não deve ter precedência sobre os interesses da organização como um todo. 7. Remuneração - Pagar aos colaboradores um salário justo pelos seus serviços. 8. Centralisação e descentralização - Refere-se ao grau em que os subordinados estão envolvidos na tomada de decisões. 9. Cadeia escalar - A linha de autoridade da alta administração até os escalões inferiores representa a cadeia escalar. A comunicação deve seguir esta cadeia. 10. Ordem - Dispor sistematicamente as pessoas, máquinas, materiais, etc. Deve haver um lugar específico para cada colaborador na organização. 11. Equidade - Os gestores devem ser gentis e justos com seus subordinados. 12. Estabilidade no emprego – Permitir alta rotatividade de empregados gera ineficiência. Deve haver um planejamento adequado de pessoal e a garantia de que as vagas serão preenchidas. 13. Iniciativa - Permitir que os colaboradores criem planos e os levem a cabo promove níveis elevados de esforço. 14. Espírito de corpo - Promover o espírito de equipe constrói a harmonia e a unidade na organização. É interessante notar que embora Fayol tenha lançado suas teorias há mais de um século, muitos dos seus princípios continuam presentes nas teorias modernas de administração. Capítulo 2. Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 11 2.1.2 TAYLOR Este foi um importante movimento nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e outros países industrializados no início do século passado, que buscava identificar e eliminar desperdícios em todas as áreas da economia e da sociedade, assim como desenvolver e implementar melhores práticas. Baseava-se na ideia de que a busca por eficiência produziria uma administração dinâmica e eficaz e teria como recompensa o crescimento. Taylor foi o primeiro homem na história que considerou observar e estudar sistematicamente o trabalho, por isto é considerado o pai da administração científica, que consistia em quatro princípios: 1. Substituir métodos de trabalho baseados apenas na experiência por métodos de trabalho baseados no estudo científico das tarefas. 2. Selecionar cientificamente, treinar e desenvolvercada colaborador ao invés de simplesmente deixá-los treinarem-se a si próprios. 3. Fornecer instruções detalhadas e supervisionar cada colaborador na realização de suas tarefas individuais. 4. Dividir o trabalho aproximadamente em partes iguais entre os administradores e os executores. De maneira que aqueles apliquem os princípios da administração científica ao planejamento do trabalho e estes efetivamente realizem as tarefas. FREDERICK WINSLOW TAYLOR, engenheiro mecânico norte-americano nascido em Philadelphia em 1856 e falecido na mesma cidade em 1915, desenvolveu o modelo de administração que ficou conhecido como Taylorismo ou Administração científica. Foi um dos primeiros consultores de administração, bem como um líder intelectual do chamado Movimento da Eficiência (Efficiency Movement). Taylor acreditava que analisando-se o trabalho seria possível chegar-se à melhor de todas as maneiras de realizá-lo. É lembrado principalmente pelo desenvolvimento dos estudos de tempos com o cronômetro: ele decompunha uma tarefa em seus componentes e média cada uma com a precisão de um centésimo de minuto. Combinados com os métodos de estudos do movimento de Frank e Lillian Gilbreth os estudos de tempos de Taylor viriam a constituir o campo de investigação dos tempos e movimentos, conciliando as ideias de redução dos tempos de processo e de aumento da eficiência dos processos pela redução dos movimentos envolvidos. Lillian Gilbreth (1878 – 1972) Frank Gilbreth (1868 – 1924) http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Frederick_Winslow_Taylor.menor.jpg Capítulo 2. Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 12 2.1.3 FORD Embora não tenha na realidade inventado, nem o automóvel, que já existia e era produzido artesanalmente em outros países como a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha, nem a linha de produção, que já era praticada por exemplo há milênios na China, Ford desenvolveu e fabricou o primeiro automóvel que muitos americanos da classe média podiam comprar. Assim, não só transformou o automóvel de uma excentricidade cara em um meio prático de transporte e revolucionou a maneira de se produzir bens no século 20, como viria a introduzir a prática de se fabricar produtos padronizados em massa juntamente com suas peças de reposição, o que passou a permitir produzi-los em um um local e utilizá-los em qualquer outro lugar do Mundo garantida a possibilidade de pronta manutenção e reparo. Ford foi um adepto da filosofia de trabalho conhecida com capitalismo do bem- estar (welfare capitalism), concebido para melhorar a situação dos colaboradores e evitar a alta rotatividade da mão-de-obra, ou seja, para contratar e reter os melhores. Assim, Ford surpreendeu o Mundo em 1914 ao oferecer uma remuneração diária, que mais do que dobrava o que até então os colaboradores recebiam. Esta medida, ao contrário do que muitos pensariam ainda hoje, mostrou-se extremamente lucrativa, pois reverteu a constante rotatividade dos colaboradores atraindo o melhor capital humano com elevado grau de especialização, reduzindo o custo de treinamento e elevando a produtividade. Além disto, os colaboradores mais bem pagos passaram a consumir os próprios carros que produziam, o que se traduziu em maior lucratividade para a Companhia e em benefício para a economia local como um todo. Além de aumentar os salários de seus colaboradores, foi também Ford que introduziu a semana de trabalho reduzida, isto é, cinco dias de 8 horas perfazendo 40 horas semanais. Ford tomou esta decisão para incrementar a produtividade, uma vez que os colaboradores deveriam colocar maior esforço no trabalho em troca em troca de mais tempo de lazer. E também porque acreditava que conceder um tempo decente para o lazer era bom para os negócios, pois, os trabalhadores teriam mais tempo para comprar e consumir bens. Além disto, houve igualmente preocupações altruísticas nessa medida e Ford explicou que "já era tempo de nos livrarmos da noção de que lazer para os trabalhadores era, ou uma perda de tempo, ou um privilégio de classe”. HENRY FORD, empresário norte-americano nascido em Greenfield Township em 1863 e falecido em Dearborn em 1947, foi o fundador da Ford Motor Company e o criador do fordismo, um método de produção caracterizado pela produção em série de bens acessíveis e pelos altos salários pagos aos colaboradores. http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Henry_ford_1919.jpg Capítulo 2. Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 13 2.1.4 MAX WEBER Segundo Max Weber, como é conhecido, a moderna burocracia, tanto no setor público, quanto no privado baseia-se no princípio geral da definição precisa e organizada das competências de todas as áreas e de todo o pessoal. Essas competências assentam em leis, regras ou regulamentos administrativos de acordo com os seguintes princípios: 1. Estabelecer uma rígida divisão de trabalho identificando claramente tarefas e deveres do sistema burocrático em questões. 2. Emitir regulamentos que estabeleçam firmemente as cadeias de comando e os deveres, bem como a capacidade de forçar os outros a obedecer. 3. Contratar pessoas com qualificações particulares e certificadas para apoiar a execução regular e contínua dos deveres atribuídos. Estes princípios implicam as seguintes características principais para a administração burocrática de uma organização: 1. Papéis especializados. 2. Recrutamento baseado em mérito. 3. Princípios uniformes de colocação, promoção e transferência. 4. Plano de carreira e estrutura salarial. 5. Hierarquia, responsabilidade e prestação de contas. 6. Sujeição da conduta oficial a regras estritas de disciplina e controle. 7. Supremacia de regras abstratas. 8. Autoridade impessoal. MAXIMILIAN KARL EMIL WEBER, sociólogo, filósofo, jurista e economista político alemão nascido em Erfurt em 1864 e falecido em Munique em 1920, foi o criador da teoria ou modelo burocrático segundo o qual as organizações formais apresentam 3 características principais: Formalidade – conjunto de normas a que todos estão submetidos; Impessoalidade – estruturas compostas de cargos; e Profissionalismo – pessoas selecionadas e geridas com base em mérito. Capítulo 2. Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 14 9. Neutralidade política. Tendo em vista a formação de Max Weber, pode-se notar com facilidade que sua teoria da burocracia tem alguns aspectos bastante ligados à sociologia, mais do que à administração propriamente dita. Todavia, esta teoria foi considerada notável em sua época e permanece até hoje em virtude do seu pioneirismo. 2.2. COMENTÁRIO A preocupação central do conjunto de teorias denominadas administração científica era o de aumentar a produtividade da empresa por intermédio do aumento de eficiência do nível operacional. TAYLOR (1911), FAYOL (1916), MOONEY (1939), URWICK (1943), GULICK (1937), NILES (1949) e WHITE (1939) são pensadores expressivos desta teoria, assim como o casal FRANK e LILIAN GILBRETH (1911), que acompanharam GANTT (1910) no seu interesse pelo esforço humano como meio de aumentar a produtividade. As principais críticas que são feitas a esta teoria referem-se ao fato de a proposta tratar a organização em termos lógicos, formais, rígidos e abstratos, sem considerar o conteúdo psicológico ou social. Como se observa, as teorias formuladas por esses autores eram dirigidas para a fórmula de como melhor organizar a produtividade com base na especialidade, já que o trabalho se sobrepunha ao trabalhador.Em tais condições, não havia espaço para a empregabilidade. Tinha- se o entendimento de que o indivíduo trabalhava porque precisava prover seu sustento, ou seja, que a ocupação humana no emprego se dava porque as pessoas recebiam uma remuneração pelo que faziam. O objetivo dessas teorias era tornar eficiente o sistema de produção, utilizando o potencial operacional do ser humano e remunerando-o para tanto. (MENEGASSO, 1999). 2.3. RESUMO Esta aula aborda as atividades dos pioneiros daquilo que se entende atualmente como administração. Apresenta as ideias, teorias e conceitos que vieram a configurar a chamada Escola Clássica da Administração e suas ramificações como o “Fayolismo”, o “Taylorismo” e o “Fordismo”. Também ressalta o fato de que a administração passou a ser considerada como uma das funções essenciais das empresas. Quadro 2.1. Todos os homens sempre foram modernos em seu próprio tempo (CAMINADA NETTO, 2006). Não é raro hoje em dia ouvirmos palestras ou lermos textos nos quais são descartadas as ideias de Taylor, Fayol e mesmo Ford como coisas senão erradas pelo menos totalmente descartáveis. Ora, há três aspectos importantes que não se deve esquecer: Capítulo 2. Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 15 1º. Quem são tais críticos e qual a sua contribuição para o assunto? 2º. Quando elaboraram suas teorias e as colocaram em prática, os pioneiros estavam em um ponto de ruptura na história e praticamente não tinham muito em que se apoiar, a não ser sua própria inteligência e capacidade de preparar o futuro. 3º. O conhecimento humano é uma construção paulatina geração após geração. Vez por outra surgem “arquitetos” que mudam radicalmente a maneira de construir, como fizeram James Watt na tecnologia e nossos pioneiros na administração. No entanto, é bom que chegue o dia em que mesmo os melhores sejam superados: é sinal de que continuamos progredindo. Capítulo 2. Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 16 2.4. TESTES 1. Segundo Fayol é função da administração: a) Previsão. b) Organização. c) Controle. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 2.1.1. 2. Taylor considera princípios da administração de uma empresa: a) Selecionar e treinar pessoal. b) Pagar salários altos e ter custos baixos de produção. c) Identificar a melhor maneira de executar tarefas. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 2.1.2. 3. Foram importantes contemporâneos das ideias de Taylor: a) Pierre e Marie Curie. b) Gloria Swanson e Billy Wilder. c) Frank e Lillian Gilbreth. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 2.1.2. 4. Ford inovou com: a) A padronização das peças. b) O dia de trabalho de oito horas. c) Maiores salários. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 2.1.3. 5. Segundo as ideias de Max Weber as 3 características principais das organizações formais são: a) Teorias, práticas e ações. b) Gerenciamento e contingenciamento. c) Formalidade, impessoalidade e profissionalismo. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 2.1.4. Capítulo 3. Evolução da Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 17 CAPÍTULO 3. EVOLUÇÃO DA ESCOLA CLÁSSICA DA ADMINISTRAÇÃO OBJETIVOS DO ESTUDO Apresentar os conceitos que permitiram, a partir da Escola Clássica, criar novos modelos de administração capazes de lidar com o incessante crescimento e a maior complexidade das empresas e dos negócios no século XX. Ao término deste capítulo você deverá estar apto a: Descrever as soluções encontradas para administrar as grandes corporações no século XX; Descrever a tendência para o estabelecimento de uma teoria geral da administração para o desempenho global das companhias; Descrever os tipos de organizações; Descrever os papéis administrativos ou gerenciais. Descrever as principais habilidades que influenciam o desempenho dos gerentes. Capítulo 3. Evolução da Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 18 3.1. DANIEL McCALLUM formulou os seguintes princípios gerais para a formação de um eficiente sistema operacional: Primeiro. Uma adequada divisão de responsabilidades. Segundo. Conferir poder suficiente para que as responsabilidades possam ser efetivamente exercidas. Terceiro. Os meios para saber se tais responsabilidades são fielmente executadas. Quarto. Grande presteza no relato de todos os desvios do dever para que possam ser prontamente corrigidos. Quinto. Obter tais informações por meio de um sistema de relatórios diários. Sexto. A adoção de um sistema abrangente, que não só permita ao superintendente geral detectar erros imediatamente, como também possibilite identificar sua origem. McCallum expressou o que, na sua opinião, era o cerne da administração da seguinte maneira: “Tudo o que é necessário para tornar os esforços das companhias ferroviárias em todos os aspectos iguais aos das pessoas, é um rígido sistema de prestação de contas individual em todos os níveis de serviço.” 3.2. HARRINGTON EMERSON Nascido em 21 de janeiro de 1815 na Escócia e falecido em 27 de dezembro de 1878 nos Estados Unidos, foi engenheiro ferroviário, major-general durante a Guerra Civil Norte-americana e executivo da Ferrovia New York & Erie. Ficou conhecido como um dos pioneiros da administração moderna. Estabeleceu uma série de princípios gerais e é tido como o criador do organograma, ou seja, dos diagramas organizacionais. Como Superintendente Geral da Ferrovia New York & Erie McCallum desenvolveu novas ideias a respeito dos sistemas de administração modernos e formulou Nascido em 2 de agosto de 1853 e falecido em 2 de setembro de 1931, foi um engenheiro da eficiência e teórico da administração fundador da firma de consultoria de gestão Emerson Institute na cidade de Nova York em 1900. Conhecido por suas contribuições pioneiras para a administração científica, teve papel destacado na popularização da ideia da “eficiência”. https://en.wikipedia.org/wiki/New_York_and_Erie_Railroad Capítulo 3. Evolução da Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 19 Emerson passou sua juventude na Europa, tendo se formado em engenharia mecânica em Munique na Baviera. Suas futuras ideias para a administração seriam influenciadas pela eficiência militar germânica, que testemunhou durante a guerra franco-prussiana, sob o comando do marechal Helmuth von Moltke. Sua admiração pelo método sistemático e perfeita cooperação levou-o à convicção da importância de se estabelecer normas e padrões. Os primeiros esforços de Emerson para sistematizar a administração se deram quando trabalhava na Universidade de Nebraska, onde durante seis anos foi notário, secretário do corpo docente e chefe de um departamento. Em 1895 iniciou suas atividades ligadas às plantas industriais, comparando seus produtos e custos com aquilo que deveriam ser. Por volta de 1902 passou a verificar detalhadamente as perdas que ocorriam no uso de materiais durante o planejamento, programação e realização do trabalho em uma grande fábrica. A partirde 1904 implantou seu sistema ou trabalho de aprimoramento na Ferrovia Santa Fe, o que lhe trouxe grande notoriedade. Emerson estabeleceu os seguintes 12 princípios de eficiência: 1. Ideias claramente definidas. 2. Bom senso, senso de eficiência e senso de produtividade. 3. Assessoria competente. 4. Disciplina. 5. Tratamento justo. 6. Registros confiáveis, imediatos e adequados. 7. Despacho do trabalho (ordens de serviço). 8. Padrões e programações. 9. Condições padronizadas. 10. Operações padronizadas. 11. Instruções e padrões escritos. 12. Recompensa para a eficiência. Harrington Emerson aplicou seu sistema em mais de 200 diferentes plantas de norte a sul dos Estados Unidos e também em outros países. Essas atividades foram realizadas através da Emerson Company, que por volta de 1910 empregava cerca de cinquenta especialistas de eficiência. 3.3 ROSEMARY STEWART National Health Service, o serviço nacional de saúde da Grã-Bretanha, e dedicou-se por longo tempo aos estudos de administração da área de saúde. Em 1996 tornou-se Nascida em Londres em 1924 e falecida em Oxford em 2015, tornou-se amplamente conhecida por seus numerosos trabalhos nos campos da administração e do comportamento. Pesquisou os desafios enfrentados pelas grandes e pequenas organizações, particularmente as indústrias britânicas. Realizou trabalhos de análise do https://en.wikipedia.org/wiki/University_of_Nebraska Capítulo 3. Evolução da Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 20 a primeira Diretora do então recém-fundado Oxford Health Care Management Institute. Com base em 15 anos de pesquisa Stewart propos o modelo ilustrado na Figura 3.1, sugerindo que a eficácia em gestão deriva da capacidade de se lidar bem com as exigências e com as restrições, fazendo-se consequentemente boas escolhas. Exigências As exigências impostas ao gerente estabelecem o que deve fazer: suas responsabilidades ou deveres. Incluem também as exigências que impõe a si próprio, juntamente com aquelas impostas pela sua organização, chefes, colegas, bem como por agentes externos, como clientes, fornecedores e outras partes interessadas. Figura 2.1. Dimensões do papel gerencial. Restrições São os fatores internos e externos que limitam as possibilidades de escolha do gerente. Pode-se argumentar que só têm aumentado desde que a autora elaborou seu trabalho. Embora se tenha hoje mais escolhas tecnológicas, bem como mais possibilidades de terceirização do trabalho, tem-se igualmente um número maior de restrições impostas por diversas partes interessadas, como a sociedade, os órgãos reguladores, etc. Escolhas As restrições podem limitar as escolhas, mas ao mesmo tempo as tornam claras e abrem caminho para as inovações. A verdade é que, mesmo com restrições, os gerentes ainda têm ampla liberdade sobre como realizar seu trabalho com os recursos disponíveis. A maneira como lidam com as possibilidades de escolha vai determinar o seu desempenho gerencial. EXIGÊNCIAS O QUE O GERENTE DEVE FAZER RESTRIÇÕES LIMITES PARA O QUE O GERENTE PODE FAZER ESCOLHAS LIBERDADES QUE O GERENTE PODE TER Capítulo 3. Evolução da Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 21 Pode-se dizer que Rosemary Stewart foi mestre na gestão prática aplicada. Suas ideias não foram revolucionárias, ao contrário, focaram nos desafios enfrentados no dia-a-dia por administradores reais no mundo real. 3.4. HENRY MINTZBERG tendo produzido mais de 150 artigos e 15 livros até o presente. Nascido em 1939 em Montréal, Canada, é atualmente professor da faculdade de administração da Universidade McGill naquela cidade. Mintzberg identifica cinco tipos de organizações, a saber: Empreendedora Estrutura simples: poucos gestores ou executivos e vários subordinados. É coordenada diretamente pela hierarquia, particularmente adaptada às organizações de pequeno porte como, por exemplo, uma PME, um pequeno comércio, etc. Burocracia mecânica Os trabalhadores operam como partes de uma máquina. Cada departamento é responsável por suas próprias atividades e a decisão é centralizada. É coordenada pelos procedimentos, particularmente adaptada às organizações de grande porte com atividade padronizada como, por exemplo, os órgãos da administração pública, as companhias aéreas, um banco de varejo, etc. Burocracia profissional Cada profissional trabalha de forma independente, em atividades de acordo com suas habilidades específicas, sem centralização. É coordenada pela qualificação, particularmente adaptada às organizações que devem realizar tarefas bastante complexas de maneira rotineira como, por exemplo, os hospitais, as universidades, os jornais, etc. Divisional Trabalhos diferentes são alocados a divisões, cada uma focando em suas próprias atividades e funções. É coordenada pelos orçamentos, ou budgets em inglês, Principal representante da corrente da sociologia das organizações, também chamada de escola da contingência, Henry Mintzberg está igualmente ligado à criação de uma tipologia das organizações, que particularmente permite apreender os fenômenos de poder, de um lado, e conduzir a mudança de outro. Escreveu abundantemente a respeito da administração das organizações, bem como das estratégias de gestão, https://fr.wikipedia.org/wiki/Sociologie_des_organisations https://fr.wikipedia.org/wiki/Sociologie_des_organisations Capítulo 3. Evolução da Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 22 particularmente adaptada às organizações de grande porte com atividades heterogêneas, com diferentes linhas de produtos ou serviços, com vários tipos de clientes e/ou operando em diferentes regiões geográficas como, por exemplo, uma empresa multinacional, um grupo industrial diversificado, etc. Adhocracia Não há estrutura formal: funcionários atamente qualificados constituem equipes flexíveis para realizar quaisquer tarefas requeridas. É coordenada pela colaboração, particularmente adaptada às estruturas por projeto voltadas à inovação como, por exemplo, a NASA, uma companhia cinematográfica, etc. Por outro lado, Mintzberg subdivide as organizações nas seguintes seis partes: Cúpula estratégica É o órgão de direção da organização onde se situa o nível mais elevado das decisões, ou seja, é o que comumente se chama de alta administração. Linha média Constitui uma linha hierárquica de autoridade, onde se situam os cargos gerenciais encarregados de movimentar as equipes de trabalho diretamente produtivas, ou seja, é o elo de ligação entre a cúpula e o núcleo operacional. Núcleo operacional Lida com os processos operacionais. Constitui a base da organização onde estão os cargos que realizam o trabalho diretamente produtivo (compras, fabricação, montagem, vendas, expedição, etc.) Tecnoestrutura É composta por analistas e especialistas que realizam as atividades chamadas de indiretamente produtivas, como a maioria dos cargos administrativos. Assessoria de apoio Apoia e presta serviços à empresa. É constituída por unidades variadas: refeitório, limpeza, RH, recepção, etc., que garantem a prestação de serviços não diretamente ligados à atividade principal da empresa, mas que são necessários para o bom funcionamento geral. Ideologia Baseia-se nas tradições, nas normas, nos valores dominantes e nas crenças da organização. É aquilo que a distingue de outras organizações e também o que insufla uma espécie de “identidade” em sua estrutura, ou seja, o que leva as pessoas a “vestira camisa” da organização. Outra contribuição importante de Mintzberg é sua classificação dos papéis administrativos ou gerenciais divididos em três categorias. São eles: I. INTERPESSOAL Representante - responsável pelos assuntos sociais, ceremoniais e legais. Capítulo 3. Evolução da Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 23 Líder - todos os gestores devem ser líderes, inspirando e guiando sua equipe. Os funcionários devem poder recorrer ao seu gestor para obterem apoio e orientação. Ligação - responsável pelos contatos dentro e fora da empresa. II. INFORMATIVO Monitor - responsável por buscar informações dentro e fora da empresa a fim de avaliar a operação da empresa, bem como identificar assuntos que devam ser abordados e modificações que devam ser feitas. Disseminador - responsável por repassar internamente as informações importantes aos funcionários. Porta-voz - responsável por transmitir informações externamente, agindo como um porta-voz para sua marca. III. DECISÓRIO Empreendedor - deve inspirar a mudança e a inovação, bem como criar e implementar novas ideias. Controlador de distúrbios - responsável por solucionar conflitos internos e externos. Alocador de recursos - responsável por alocar e supervisionar todos os tipos de recursos humanos e materiais. Negociador - responsável por dirigir negociações dentro e fora da empresa. Em suma, Mintzberg recomenda que se quebre os papéis e responsabilidades gerenciais e que se organize o trabalho de forma a simplificar conceitos que são naturalmente complexos. Isto permite que as empresas se organizem em uma cultura mais eficiente e que cada membro desenvolva suas próprias habilidades. A propósito, Henry Mintzberg acredita que as habilidades são adquiridas com a experiência. Como professor, sabe que se pode ensinar tudo, mas não se pode transferir experiência: cada um tem que ter a sua. 3.5. RESUMO Esta aula apresenta os principais autores que contribuíram para consolidar a teoria geral da administração no século XX. Discute as ideias dos grandes organizadores e permite compará-las, assim como aborda a estruturação das organizações como uma área bem definida de estudos e de aplicações práticas. Apresenta as principais contribuições para a compreensão do papel dos gerentes nas organizações. Aborda as habilidades, escolhas, níveis e características de desempenho gerenciais. Capítulo 3. Evolução da Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 24 Quadro 3.1. O planejamento é, ou deveria ser, sempre uma função essencial dos gerentes. Sabedoria é a capacidade de prever as consequências em longo prazo de ações atuais, a disposição de sacrificar ganhos em curto prazo em favor de benefícios em longo prazo e a habilidade de controlar o que é controlável e de não se afligir com o que não o é. A essência da sabedoria, portanto, é a preocupação com o futuro. Não é, porém, a preocupação com o futuro que o adivinho tem; ele só tenta prevê-lo. O sábio tenta controlar o futuro. Planejamento é a definição de um futuro desejado e de meios eficazes de alcançá-lo. É um instrumento usado pelo sábio, mas não só por ele. Quando utilizado por homens de capacidade inferior, este instrumento se transforma num ritual irrelevante, que produz paz de espírito em curto prazo, mas não o futuro que se deseja (ACKOFF, 1981). Capítulo 3. Evolução da Escola Clássica da Administração eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 25 3.6. TESTES 1. Foi pioneiro norte-americano da administração no século XX: a) Daniel McCallum. b) W. Socket e B. Scarpa. c) W. Grant e B. Guiness. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 3.1. 2. Adaptou para empresas as ideias de comando do marechal Von Moltke: a) Sun Tzu. b) Alexandre Magno. c) Harrington Emerson. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 3.2. 3. Para Rosemary Stewart os cargos gerenciais têm três dimensões: a) Empreendedorismo, criticidade e argúcia. b) Espírito executor, ação e reação. c) Escolhas, decisões e restrições. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 3.3. 4. Segundo Mintzberg são partes de uma organização: a) Núcleo operacional. b) Cúpula estratégica. c) Linha média. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 3.4. 5. Segundo Mintzberg são papéis gerenciais: a) Vigilância, atenção e processamento de exigências. b) Críticas, restrições e demandas. c) Decisões, relações interpessoais e informações. d) Nenhuma das respostas anteriores. e) Todas as respostas anteriores. Feedback: item 3.4. Capítulo 4. Administração da Qualidade eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 26 CAPÍTULO 4. ADMINISTRAÇÃO DA QUALIDADE OBJETIVOS DO ESTUDO Apresentar as importantes mudanças na administração moderna trazidas pelos conceitos e métodos da filosofia da Qualidade Total. Apresentar as características específicas do modelo japonês de administração, particularmente do Sistema Toyota de Produção (STP) ou Toyota Production System (TPS) na versão inglesa. Ao término deste capítulo você deverá estar apto a: Descrever o modelo ocidental de gestão da qualidade; Descrever o modelo oriental de gestão da qualidade; Descrever os ensinamentos do modelo oriental de gestão da qualidade; Descrever a principais características do STP. Capítulo 4. Administração da Qualidade eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 27 4.1. INTRODUÇÃO Na década de 1970, o Governo dos Estados Unidos reconhece que a competitividade média das empresas japonesas supera a das empresas norte- americanas. Como consequência, a década de 1980 será aquela em que o Ocidente aceita e enfrenta o desafio da Qualidade. Em 1984, é aprovada resolução no Congresso dos Estados Unidos para a criação de um mês nacional da qualidade e, no ano seguinte, a NASA anuncia o seu Excellence Award for Quality and Productivity (Prêmio de Excelência para a Qualidade e Produtividade). Em 1988 é finalmente criado o prêmio nacional da qualidade Malcolm Baldrige. Pode-se dizer que a década de 1990 foi aquela em que a importância vital da qualidade para a competitividade começou a ganhar aceitação em toda a parte, assim como as normas de gestão da qualidade da ISO publicadas em 1987 e os Prêmios Nacionais da Qualidade, que foram criados em vários países, inclusive no Brasil. Em 1994, a ISO publicou a primeira revisão das normas internacionais da série 9000, que vigoraram pelos próximos seis anos. A véspera do novo milênio trouxe uma reformulação significativa da visão da gestão da qualidade, incorporada na edição das normas da série ISO 9000:2000. Nestas, acentuou-se a gestão por processos e a preocupação com a melhoria contínua das organizações, de modo que pudessem manter-se sempre competitivas. Atualmente, as principais normas internacionais para gestão da qualidade adotadas no Brasil são as seguintes (ABNT 2015a, 2015b, 2019): 1. ABNT NBR ISO 9000:2015 – Fundamentos e vocabulário; 2. ABNT NBR ISO 9001:2015 – Requisitos; e 3. ABNT NBR ISO 9004:2019 – Orientação para alcançar o sucesso sustentado. De forma objetiva, a ABNT NBR ISO 9001:2015 nos apresenta quais são hoje em dia os requisitos mínimos para um sistema internacionalmente aceito da qualidade,agrupados nos seguintes blocos: • Contexto da organização; • Liderança; • Planejamento; • Apoio; • Operação; • Avaliação de desempenho; • Melhoria. Além disso, no dizer da própria norma, “a adoção de um sistema de gestão da qualidade é uma decisão estratégica para uma organização, que pode ajudar a melhorar seu desempenho global e a prover uma base sólida para iniciativas de desenvolvimento sustentável” (Adaptado de CAMINADA NETTO et al., 2011). Capítulo 4. Administração da Qualidade eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 28 4.2. MODELOS PARA GESTÃO DA QUALIDADE As empresas brasileiras enfrentam hoje um desafio considerável: a busca da competitividade. Essa busca, como indicam os exemplos vindos do exterior, passa comprovadamente pela obtenção da qualidade. A capacidade humana de enfrentar desafios e superar obstáculos, por seu turno, passa necessariamente pelas seguintes etapas: a) reconhecimento e identificação; b) decisão de superar; e c) elaboração de um modelo de solução. O presente texto tem a intenção de colaborar com as empresas decididas a aceitar o desafio da modernidade, discutindo o modelo mais adequado à situação brasileira a partir da análise de dois modelos externos, a saber: o ocidental e o oriental. 4.2.1. O MODELO OCIDENTAL DA QUALIDADE Esse modelo da qualidade, surgido e consolidado nos Estados Unidos a partir de suas origens europeias, desenvolveu-se à medida que os métodos de administração se sofisticavam para fazer face a novas tecnologias e a novos métodos de produção. Dessa forma, o modelo norte-americano procurou já nas primeiras décadas deste século complementar a tradição européia de confiar basicamente aos mestres, encarregados e aos próprios operários a responsabilidade pela qualidade do que produziam, com a criação de uma atividade independente, cuja responsabilidade era, e muitas vezes ainda é, "controlar" o produto. A criação do que ainda chamamos "controle da qualidade", dissociado da produção e coerente com a divisão departamental proposta por Fayol e com o pensamento especialista da administração científica de Taylor, teve consequências importantes para a obtenção da qualidade não apenas nos Estados Unidos, mas igualmente em todos os países ocidentais, incluindo-se aí o Brasil. A primeira consequência traduziu-se na redução gradativa da responsabilidade dos chamados "blue collars" em relação ao conjunto da atividade produtiva, particularmente pela conformidade e sanidade do produto. Dessa forma, o interesse pela qualidade migrou inevitavelmente do piso da fábrica para os escritórios e laboratórios de uma nova categoria de especialistas: os inspetores da qualidade. Outra consequência sobre a obtenção da qualidade decorreu do fato de que a produção, liberada agora de preocupações "de fato" com a qualidade, passou a preocupar-se apenas com a satisfação de metas e quotas relativas à quantidade produzida, e o conceito de produtividade assumiu na prática o significado de produção "a qualquer custo". O efeito mais grave, no entanto, foi que os administradores, munidos da ferramenta "científica" representada pelo novo controle da qualidade, passaram a acreditar que poderiam resolver definitivamente o problema da qualidade de seus Capítulo 4. Administração da Qualidade eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 29 produtos, a despeito do que pensassem ou sentissem os demais participantes do processo. Com o domínio da tecnologia nuclear na década de quarenta do século passado e a necessidade de utilizá-la principalmente para a geração de energia elétrica, os norte-americanos, compreendendo as limitações do modelo até então utilizado para a obtenção da qualidade em suas indústrias, passaram a considerar e a estudar novas maneiras de "garantir a qualidade" do que produziam. Isto se fazia indispensável agora pelas seguintes razões: a) elevados riscos industriais e humanos; b) falta de experiência na utilização de materiais em aplicações críticas; c) necessidade de rastreabilidade; e d) necessidade de inspecionar todas as fases de fabricação além de verificar o desempenho do produto acabado. Diante do desafio representado pela obtenção da qualidade em indústrias tão sensíveis quanto a nuclear, a de armamento e a espacial, os norte-americanos conceberam a ideia de implantar em suas empresas "sistemas de gestão da qualidade", que satisfizessem determinados requisitos ou critérios pré-estabelecidos, com a finalidade de assegurar a incorporação da qualidade em todas as fases de obtenção do produto. A versão mais moderna de tais critérios está contida nas anteriormente citadas normas internacionais ISO da série 9000. Apesar dos progressos realizados no modelo da qualidade ocidental nos anos recentes, principalmente em virtude da necessidade de competir em nível planetário, a mentalidade tradicional ainda se faz presente de forma bem sensível na tendência de confiar apenas na ação de especialistas para o tratamento e a solução de problemas da qualidade, com pequeno envolvimento de outras áreas da empresa, especialmente dos altos executivos, que continuam preferindo delegar essas responsabilidades sem envolvimento pessoal. Finalmente, é importante ressaltar que o modelo ocidental da qualidade, que inegavelmente tem o mérito de ter sido pioneiro, de ter realmente consolidado uma grande soma de conhecimentos referentes a técnicas e métodos dirigidos para a obtenção da qualidade e de ter produzido especialistas notáveis, não se revelou suficiente para garantir integralmente a modernidade e a competitividade das empresas ocidentais diante dos competidores externos no último quarto do século passado. 4.2.2. A GESTÃO DA QUALIDADE NA EMPRESA BRASILEIRA O primeiro aspecto a considerar na análise crítica do modelo da qualidade adotado pelas empresas brasileiras é o fato de que somos basicamente ocidentais e, portanto, participamos da mentalidade comum às empresas do ocidente. Consequentemente, quer admitamos, quer não, nossos sistemas de "controle" da qualidade, assim como os norte-americanos e europeus, também eram fortemente Capítulo 4. Administração da Qualidade eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 30 influenciados pelo pensamento clássico da administração e se caracterizavam frequentemente pelos seguintes aspectos: a) subordinação da obtenção da qualidade à ideia da "produção a qualquer custo". Na prática isto se traduzia pela subordinação do órgão encarregado do controle da qualidade diretamente ao gerente de produção (isto sem levar em conta os casos extremos e não raros de simples inexistência do controle da qualidade). Não era raro encontrar-se uma tentativa de velar essa subordinação por intermédio de um artifício: colocava-se o controle da qualidade no mesmo nível hierárquico da gerência de produção e ambos subordinados a um "diretor industrial", que se encarregava no dia a dia de privilegiar a "produção a qualquer custo"; b) curiosamente, apesar de haver há muito a formação de especialistas no país, pouca ou nenhuma formação técnica dos profissionais da "área da qualidade". Nos casos extremos, o controle da qualidade chegava a ser considerado um depósito para "os que não se adaptavam bem em outras áreas da empresa". E isto podia significar desde a pura falta de iniciativa, até a propensão a "criar casos"; c) a quase total indiferença dos diversos setores da empresa para os problemas da qualidade. Afinal, dentro da mentalidade clássica da superespecialização e divisão do trabalho os problemas da qualidade eram do controle da qualidade! Assim, a compra de insumos inadequados, as promessas absurdas de vendedoresaos clientes, a falta de manutenção ou de renovação de máquinas e equipamentos, a inadequação das utilidades, etc., nada disso era encarado como diretamente relacionado com a qualidade. Esta nascia e morria nos "laudos" do controle da qualidade. Apesar desse cenário, no entanto, é importante lembrar que sempre existiram empresas brasileiras de primeira linha, acostumadas à concorrência internacional, há longo tempo exportando bens ou serviços, algumas até, como se vê hoje em dia, multinacionais com unidades de negócios no exterior. Este fato, aliás, põe por terra um argumento favorito dos acomodados: o de que é impossível obter qualidade com o "povo" brasileiro. 4.2.3. O MODELO ORIENTAL DA QUALIDADE Até hoje para muitos ocidentais superficialmente informados, o modelo oriental da qualidade se reduz à aplicação de certas técnicas como "Just-in-time", "kanban" ou "poka-yoke", por exemplo, criadas pelo já falecido Shigeo Shingo para a Toyota Motor Co. Um conhecido consultor norte-americano, no entanto, já nos proporcionava nos anos 1980 uma visão bem mais profunda desse modelo em um de seus inúmeros artigos (TRIBUS, 1987), quando citava uma declaração de Konosuke Matsushita, fundador do poderoso grupo de empresas do mesmo nome: "Nós vamos vencer e o Ocidente industrial vai perder; e não há muito o que vocês possam fazer a respeito, porque as razões para o seu fracasso estão dentro de vocês mesmos. Suas empresas estão construídas com base no modelo de Taylor. Pior ainda, suas cabeças também. Com os chefes pensando enquanto os demais manejam as Capítulo 4. Administração da Qualidade eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 31 ferramentas, voces estão profundamente convencidos de que esta é a maneira correta de dirigir os negócios. Para vocês, a essência da boa administração é retirar as ideias das cabeças dos chefes e colocá-las nas mãos dos operários. Nós ultrapassamos o modelo de Taylor. Os negócios, sabemos, são hoje tão complexos e difíceis, a sobrevivência das empresas tão arriscada, em um ambiente cada vez mais imprevisível, competitivo e repleto de perigos, que a continuidade da existência depende da mobilização dia a dia de cada grama de inteligência." Esta parece ser a essência do modelo oriental: a participação de todos e a utilização de cada "grama de inteligência" na obtenção da qualidade. Em outras palavras, apesar de formarem igualmente seus especialistas, diversos deles mundialmente reconhecidos como o citado Shingo, Taiichi Ohno, Kaoru Ishikawa, Masaaki Imai, Genichi Taguchi e outros, os japoneses estão profundamente convencidos de que é imprescindível treinar e envolver a todos no processo de obtenção da qualidade. Outra característica fundamental desse modelo é a abolição de quaisquer medidas de autoindulgência que levem à acomodação. Assim é que em 1958 é promulgada no Japão a chamada "Lei de Inspeção de Exportação", destinada a desenvolver o comércio exterior, mantendo e aprimorando a reputação de sua indústria por intermédio da inspeção dos produtos exportados. A Coréia do Sul e Taiwan passaram a seguir de perto esse modelo com atitudes semelhantes. Para avaliar os resultados decorrentes do tipo de atitude representado pelo modelo oriental, convém mencionar que a qualidade foi introduzida pela primeira vez como elemento-chave no planejamento governamental da Coréia do Sul no plano estratégico quinquenal formulado em 1964. As exportações totalizavam na época cerca de US$ 100 milhões. Menos de vinte anos depois, em 1983, as exportações tinham passado a totalizar a expressiva soma de US$ 24 bilhões (BNDES, 1988). Para finalizar, não se deve esquecer de ressaltar que, a exemplo do que fizeram Konosuke Matsushita, Akio Morita da Sony e K. Shimoyamada da Komatsu na segunda metade do século passado, a obtenção da qualidade nas empresas japonesas foi e continua sendo uma tarefa pessoal para os presidentes e diretores. 4.2.4. ENSINAMENTOS DO MODELO ORIENTAL O modelo oriental nos ensina que é preciso superar o pensamento administrativo tradicional e envolver todos os "departamentos" e todas as pessoas no processo de gestão da qualidade. Além disso, nos mostra que não pode haver oposição entre produção e qualidade, por dois importantes motivos: em primeiro lugar, porque não tem sentido produzir "a qualquer custo". O que tem sentido é produzir ao menor custo possível para a empresa, pois isto é que faz a competitividade das empresas orientais. Em segundo lugar, porque é justamente a qualidade que os empresários e técnicos orientais usam como ferramenta para conseguirem os menores custos operacionais que os notabilizam. É preciso vencer de uma vez por todas a ideia ocidental de que a qualidade possui apenas um valor moral e que, portanto, deve haver um controle da qualidade "apesar de ser um empecilho para a produção". Isto provavelmente não é compreensível para um japonês! Capítulo 4. Administração da Qualidade eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 32 O modelo oriental nos mostra ainda que as atitudes são difundidas de cima para baixo e nunca ao contrário. Por esse motivo, a participação de empresários, presidentes e diretores no processo de obtenção da qualidade é imprescindível para o sucesso. No Japão, os círculos de controle da qualidade (CCQ) têm produzido inúmeros casos de sucesso, bem como os planos de sugestões e todas as atividades voltadas para o envolvimento das pessoas e para a solução de problemas em grupos. Isto acontece porque tais atividades correspondem ao estímulo recebido de cima e encontram uma pronta resposta nos escalões superiores. No ocidente, por outro lado, tais atividades frequentemente fracassam, pois são iniciadas em virtude de um efeito "imitação", sem que haja uma verdadeira intenção de envolvimento pelos escalões superiores. Ao contrário, na esperança mágica de que a qualidade possa ser implantada a partir do piso de fábrica. Esse tipo de esperança tem se mostrado infundado. 4.2.5. O SISTEMA TOYOTA (TPS) Este sistema, concebido por Taiichi Ohno (OHNO, 2013), é representado pela casa TPS mostrada na Figura 4.1, que é estruturada em três partes mostrando os elementos do chamado sistema lean (enxuto). Em baixo tem-se as fundações sobre as quais assentam os pilares. Estes representam as atividades chave. Em cima, o telhado mostra os objetivos do TPS. Figura 4.1. Sistema Toyota de produção. Melhoria contínua (Kaizen) Estabilidade (processos, pessoas) Confiança mútua entre colaboradores e diretoria Just in time (JIT) • Fluxo de uma peça • Nivelar a produção Qualidade (Jidoka) • Visualização (Andon) • Ser à prova de erros (Poka yoke) Entregas mais rápidas Custos mais baixos Máxima qualidade O melhor serviço ao cliente Trabalho-padrão Capítulo 4. Administração da Qualidade eST-402 / STR-402 Administração Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho / PECE, 4 o ciclo de 2020. 33 Os objetivos no telhado da casa TPS podem ser melhor compreendidos examinando-se a Figura 4.2. Figura 4.2. Critérios do TPS. Para Ohno o Sistema Toyota de Produção é um método para eliminar integralmente o desperdício e aumentar a produtividade. Inicialmente foram identificados sete tipos de desperdício, sendo que Ohno considerava o excesso de estoque o mais grave. Anos mais tarde foi acrescentado o desperdício do intelecto, que se pode dizer que passou a ser o mais sério de todos. A Figura 4.3 e a tabela 4.1 mostram os tipos de desperdício que devem ser combatidos. Figura 4.3. Os desperdícios segundo Taiichi Ohno. Tabela 4.1. Descrição dos desperdícios de Ohno. DESPERDÍCIO DESCRIÇÃO Superprodução Produzir muito ou muito cedo Transporte Desnecessário de materiais e produtos
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