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PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Professoras: Me. Nathalia Barbosa Limeira Me. Fernanda Regina Cinque de Brito Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Projeto Gráfico Thayla Guimarães Design Educacional Rossana Costa Giani Design Gráfico Isabela Mezzaroba Belido DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; LIMEIRA, Nathalia Barbosa; BRITO, Fernanda Regina Cinque de. Problemas e Dificuldades de Aprendizagem. Nathalia Barbosa Limeira; Fernanda Regina Cinque de Brito Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 27 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Dificuldades. 2. Aprendizagem. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 371 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 sumário PARA COMEÇAR: ALGUMAS REFLEXÕES NECESSÁRIAS MODALIDADES DE APRENDIZAGEM PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM |9 |13 |17 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Refletir sobre os conceitos de aprendizagem e dificuldade de aprendizagem. • Diferenciar o termo dificuldade de transtorno de aprendizagem. • Conhecer o que são as modalidades de aprendizagem e suas implicações no processo de ensino aprendizagem. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Para Começar: Algumas Reflexões Necessárias • Modalidades de Aprendizagem • Problemas e Dificuldades de Aprendizagem PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM INTRODUÇÃO Para tratarmos dos problemas e dificuldades de aprendizagem, torna-se essencial, inicialmente, definir o que seja aprendizagem. Nosso estudo está fundamentado es- pecialmente nas análises realizadas por Alicia Fernández, psicopedagoga argentina que muito contribuiu para o campo da Psicopedagogia. Fernández trabalha com o termo “aprendizagem criativa” e “autoria de pensamento” e é sob tais perspecti- vas que iniciamos nosso estudo, ou seja, apresentando a você, aluno, o conceito de aprendizagem. Em seguida, faz-se necessário compreender as modalidades de aprendizagem, tendo em vista a mesma perspectiva teórica, ou seja, os estudos propostos por Alícia Fernández. Conhecer os modos pelos quais aprendemos ou como nossos alunos aprendem, permite-nos um olhar mais preciso sobre a aprendizagem, contribuindo assim para refazermos sempre que possível nossa prática. Afinal, se somos seres singu- lares, o processo de ensino e aprendizagem não pode ser igual para todos. Ou pode? Pós-Universo 7 Uma vez definido como compreendemos a aprendizagem e as modalidades de aprendizagem, delimitaremos os conceitos de problemas e dificuldades, associando- -os a não aprendizagem Veremos que as dificuldades de aprendizagem diferem-se dos transtornos de aprendizagem. Esta questão é fundamental para que você en- quanto profissional tenha clareza das causas que podem ocasionar as dificuldades de aprendizagem, se são decorrentes, por exemplo, de fatores metodológicos, ou então, de causas internas. Dessa forma, caro aluno (a), terá condições de desenvol- ver estratégias apropriadas que contribuam no processo de aprendizagem do aluno. Ao final desta etapa de estudos, você terá a possibilidade de enriquecer seus co- nhecimentos com as sugestões de materiais. Assim, desejamos à você bons estudos e uma ótima leitura! Pós-Universo 8 Pós-Universo 9 PARA COMEÇAR: ALGUMAS REFLEXÕES NECESSÁRIAS Quando pensamos em aprendizagem, muitos de nós poderá definir o que ela é so- brepondo este termo ao conceito de ensino: somente existe aprendizagem quando existe ensino. De modo superficial, podemos sim dizer que essa afirmativa está correta. Mas nossa discussão pretende ser mais profunda. Se pensarmos no processo de so- cialização do homem, ou mesmo em seu processo de humanização, veremos que desde o nosso nascimento a grande maioria de nossas experiências e vivências com e no mundo pressupõe aprendizagens. Nesse sentido, é importante considerar a im- portância da mediação por um lado, e os pressupostos históricos e sociais por outro, já que somos sempre produto e produtor de nosso tempo. A questão da aprendizagem, portanto, tem sua extensão tanto na constitui- ção daquilo que entendemos como ser humano quanto nos processos de ensino e aprendizagem escolares. Quando nos reportamos aos ambientes escolares, veremos que a questão da aprendizagem tem uma relação estreita com o modo como tanto os professores quanto a equipe diretiva percebem e entendem a aprendizagem. De fato, aquilo que entendemos como aprendizagem possui um vínculo com o que entendemos como educação. Neste sentido, caro(a) aluno(a), é essencial que você tenha bastan- te claro como ocorre o processo de aprendizagem, isto será possível quando você tiver clareza de como entendemos ou conceituamos o que seja a educação. Essas reflexões iniciais são importantes pois a teoria que fundamenta nosso estudo é apenas uma dentro de um vasto campo de outras teorias. Isso permite a você, aluno(a), comparar suas próprias ideias, contrapô-las e quem sabe perceber que as teias sobre as quais tecemos nossas reflexões compõem uma pequena pos- sibilidade dentre as tantas existentes. Pós-Universo 10 Mas o que é Aprendizagem? Alicia Fernández, em sua obra O saber em jogo (2001), discute este conceito apoian- do-se nos escritos tanto de Freud quanto de Piaget. A autora utiliza as contribuições de Piaget no que se refere aos conceitos de assimilação e acomodação para exem- plificar o modo como ocorre a aprendizagem. De Freud ela utiliza os conceitos de consciente, pré-consciente e inconsciente. Na consciência, está aquilo que se sabe; no pré-consciente, aquilo que está antes de saber e, neste sentido, podemos pensar nos conhecimentos prévios que cada um de nós possui, mas que precisam tornar-se conscientes para que façamos assimilações; por fim, no inconsciente, fica aquilo que não se sabe, mas que pode sim ser conhecido por meio dos sonhos, medos e traumas. A autora chama atenção para o fato de que, enquanto professores, não utiliza- mos o pré-consciente de nossos alunos como deveríamos. Trazer à tona aquilo que talvez nem mesmo o aluno saiba que sabe é um dos fatores que garantem uma aprendizagem significativa. A aprendizagem supõe neste sentido a escolha, já que o aprender decorre do desejo, ou seja, da escolha de aprender e também de poder fazer uso deste saber. Poder usar meus saberes para aprender novas coisas é ponto chave quando falamos em aprendizagem (FERNÁNDEZ, 2001). Um termo importante nesta discussão sobre aprendizagem é a inteligência. Para Fernández, inteligência não é adaptação ao meio. Isso significa que, para aprendermos, precisamos de uma aprendizagem que seja criativa, que dê significado às informa- ções passadas pelos ensinantes. Uma aprendizagem que se faça de forma passiva, sem questionamentos e sem autorias não é de fato aprendizagem. Esses termos ganham nova roupagem na teoria proposta por Fernández: quando um aluno é motivado pelo desejo de aprender, justamente porque o professor con- seguiu que a informação – que para o docente é conhecimento – tenha significado para o aprendente, a acomodação e a aprendizagem deste conhecimento pressu- põem que o aluno ressignifique essa informação. E esta ressignificação pode ocorrerde formas diversas, haja vista que cada ser humano possui sua singularidade, suas próprias vivências e experiências. E é partindo desta singularidade que o aluno cria seus próprios conhecimentos. Fernández chama essa criação de autoria de pensamento: “A autoria de pensa- mento é a condição da autonomia da pessoa e, por sua vez, a autonomia favorece a autoria do pensar. À medida que alguém se torna autor, poderá conseguir mínimo de Pós-Universo 11 autonomia” (FERNÁNDEZ, 2001, p. 91). A autoria pode ser entendida, neste sentido, como processo e ato de produção de sentidos, de reconhecimento de si mesmo como protagonista ou participante da aprendizagem, justamente porque a apren- dizagem não é mais vista de forma passiva, mas supõe ação e criação, o que torna os alunos autores e não somente receptores. A autoria de pensamento produz assim um sujeito inquieto, porque ser autor pressupõe processo criativo. Como criar na quietude, quando a atividade cerebral, o tônus muscular e a energia produtiva estão a milhões por segundo? Fonte: elaborado pelas autoras. reflita A inquietação ocorre enquanto se aprende, enquanto se cria. Pensar, neste sentido, a ação do professor em sala de aula, enquanto ensina os conteúdos curriculares, deve pressupor uma ação que seja também inquieta, pois enquanto está se conhecen- do, está se questionando. A aprendizagem no ponto de vista que a apresentamos deve partir da inquieta- ção, da atividade criativa tanto do aluno quanto do professor. Dar voz e espaço para que cada um de nossos alunos tenham autonomia de pensamento sugere, por um lado, uma nova metodologia e postura do professor: não mais a de detentor do saber, mas aquele que possibilita a interação e o espaço necessário para que o sujeito apren- dente seja um aprendente não somente de conteúdos, mas aprendente e autor de suas próprias ações e, portanto, de sua própria vida. Pós-Universo 12 A definição apresentada por Fonseca em seu livro Introdução às Dificuldades de Aprendizagem contribui para a reflexão acerca do tema aprendiza- gem que temos discutido aqui. Para esse autor, a aprendizagem gera uma mudança de comportamento, ou seja, somente posso afirmar que aprendi algo se essa aprendizagem modificou alguma de minhas estruturas, modi- ficando minhas ações. Por isso a ideia de que pensamento e aprendizagem são ações. Fonte: elaborado pelas autoras. saiba mais Ao longo desta seção, buscou-se demonstrar como a aprendizagem liga-se aos termos autoria e criatividade. Porém, esta é uma das definições entre tantas outras existentes. Assim como é possível pensar em diversas definições para compreen- der, por exemplo, o que é a educação, há tantas quantas para compreender o que é aprendizagem. Essa definição dada por Fernández parece-me essencial à sua formação enquan- to psicopedagogo, porque retira a ideia da aprendizagem como algo rígido e exterior ao sujeito que aprende. A aprendizagem aqui se liga ao próprio sujeito aprenden- te, às suas vivências e experiências. Proporcionar autorias de pensamento, ou seja, proporcionar espaços para que cada um de nossos alunos sejam autores de suas próprias vivências, é fundamental em um mundo onde a educação busca a autono- mia do sujeito. Pós-Universo 13 MODALIDADES DE APRENDIZAGEM Os modos de aprendizagem são fundamentais se quisermos compreender o processo de ensino aprendizagem. Por que somos indivíduos únicos e singulares, aprende- mos de forma singular. O modo como aprendo pode ser diferente do modo como você aprende e isso deriva das nossas experiências de aprendizagens familiares, já que família é o primeiro núcleo de aprendizagem. Compreender essas questões é de fundamental importância para que você, como futuro psicopedagogo(a), inter- venha de modo positivo e significativo nos processos de aprendizagens. As reflexões trazidas aqui partem das discussões realizadas por Alicia Fernández, no capítulo sete de seu livro O saber em Jogo. Aqui, Fernández relata a experiência de uma criança pequena que tenta alcançar um brinquedo, colocando uma cadeiri- nha sobre a outra e desequilibrando-se, cai. Então ela se levanta chorando e vai até o adulto que a acompanha. Imaginaram a cena? Qual atitude você teria com a criança se fossem o adulto mencionado? Pare um pouco neste momento e realmente tente se colocar na situação do adulto e prever quais seriam suas reações antes de prosse- guir com a leitura. Talvez você tenha chegado a uma das conclusões a seguir: Resposta adulto A: - Sempre chorando... Se ficasse quieta não se machuca- ria. Não incomode mais! Estou cansada! Resposta adulto B: Toma a criança nos braços, a consola e a leva para ver outra coisa, fala sobre um objeto novo para fazê-la esquecer a frustração. Resposta adulto C: Toma a criança nos braços, entrega-lhe o brinquedo que ela queria. Resposta adulto D: Toma a criança nos braços e diz o seguinte: “Vamos ver o que aconteceu”? Ah! Queria pegar esse brinquedo? Que bom! Pensou que com duas cadeiras podia alcançar. Está certo, porque só com um uma não al- cançaria. Vamos ver, podemos colocar duas cadeiras de novo, mas esta que é maior fica embaixo e esta outra em cima; eu vou segurar as duas juntas para que você possa subir e pegar o brinquedo. Sozinho você não pode pegar (FERNÁNDEZ, 2001, p. 116). Pós-Universo 14 Embora pareça um exemplo simples, ele é causador de inúmeras reflexões sobre o processo de aprendizagem e como nossas relações cotidianas com a aprendizagem se manifestam. Não aprendemos somente em ambientes escolares e, o modo como nossos pais se manifestam frente a situações, como a anteriormente mencionada é significativa para o modo como aprenderemos a aprender e, consequentemente, ensinar. Para cada modalidade de aprendizagem, haverá uma modalidade de ensino. Mas retornemos ao exemplo. A resposta do adulto A, de acordo com Fernández (2001), sugere uma modalidade de aprendizagem hiperacomodação-hipoassimilação. Se lembramo-nos dos termos acomodação e assimilação propostos por Piaget, com- preenderemos esse termo. Na situação mencionada, o que restou à criança? A ideia de que não deve inovar, buscar saídas e ou soluções para seus problemas. Fernández (2001) denomina a hipoassimilação como o apagamento da energia transformadora criativa. Com isso a criança tentará compensar essa hipoassimilação com a hipera- comodação. Pensemos: se na situação de busca de algo, ela não foi incentivada a continuar, mas foi reprimida e, se este padrão se repetir diversas vezes, a aprendiza- gem para ela se caracterizará por algo sem desejo, sem busca, sem alegria. Já que foi reprimida, por que inovar? Por que buscar novas soluções se isso lhe parece causar punição e dor? Nesta modalidade de aprendizagem, há uma omissão do autor, na medida em que o aluno somente buscará repetir ou memorizar as informações e conhecimen- tos, mas ele – o conhecimento – não passará pelo crivo de sua autoria. Com relação à segunda resposta, a do adulto que acolhe a criança em seus braços, mas a distrai com outro objeto, há um aspecto particularmente interessante aqui: o fato de lhe ser tolhido o desejo. Se para aprendermos o desejo faz-se essencial, quando tolho esse desejo trazendo a atenção da criança para outro objeto é como se tolhêssemos seu desejo. Como aprender se não há desejo? “A criança fica prisio- neira do tédio, como se tivesse esquecido que tem desejos de conhecer e objetos interessantes a conhecer, mesmo que não sejam aqueles que os outros mostram” (FERNÁNDEZ, 2001, p. 118). A consequência deste tipo de aprendizagem a qual Fernández denomina hipoas- similativa-hipoacomodativa relaciona-se com o fato de a criança poder diferenciar aquilo que é desejo dela do que é desejo imposto por outros. Nesse sentido, a criança com essa modalidade de aprendizagem pode apresentar dificuldades em distinguir aquilo que é desejo seu e desejo do outro, o que pode levá-laa estados depressivos Pós-Universo 15 e/ou de tediosos, já que não consegue promover a autoria da criação que o desejo fornece à aprendizagem. Já a resposta do adulto C, o qual depois de acolher a criança lhe entrega o objeto desejado, pode provocar na criança uma modalidade de aprendizagem hiperassi- milativa-hipoacomodativa, o que implica na desconfiança de sua capacidade de operacionalizar o que deseja (FERNÁNDEZ, 2001, p.119). A entrega do objeto do desejo à criança tolhe na mesma a capacidade de autoria na resolução de seus pro- blemas: se os pais agirem desta forma continuada vezes, sempre que a criança estiver frente a uma situação difícil ou ainda de desejo, ela se sentirá incapaz de lidar com estas situações, haja vista que alguém sempre lhe ofereceu aquilo que desejava. Não há necessidade de autoria nesta modalidade. Porém, esse cerceamento da autoria não favorece a criança e ela se ressente, ainda que inconscientemente disso. Para a criança, esta atitude que para os pais nada tem de maldade rechaça a possibilidade de ela criar estratégias de obtenção de seu objeto de desejo. Por fim, a resposta dada pelo adulto D, que a toma em seus braços e cria com ela novas estratégias de ação, parece-nos a resposta mais adequada. Nesta moda- lidade, o adulto reconhece na criança a existência de um adulto pensante que lhe possibilita rever suas estratégias de ação, criando, isto é, experienciando novas situa- ções de aprendizagens. O adulto, neste caso, opera como mediador dos conflitos, não negando à criança a possibilidade de pensamento, entendido como ação. Hipoassimilação: refere-se a pobreza de contato com o objeto que redunda em esquemas de objeto empobrecido, déficit lúdico e criativo. Hiperacomodação: pobreza de contato com a subjetividade, superestima- ção da imitação, falta de iniciativa, obediência acrítica às normas, submissão. Hipoacomodação: pobreza de contato com objeto, dificuldade na interna- lização de imagens, a criança sofreu a falta de estimulação ou o abandono. Hiperassimilação: predomínio da subjetivação, desrealização do pensamen- to, dificuldade de resignar-se. (FERNÁNDEZ, 2007, p. 84-85). Fonte: FERNÁNDEZ, A. Idiomas do Aprendente: análise das modalidades ensinantes com família, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2007. quadro resumo Pós-Universo 16 A ideia aqui foi discutir, sucintamente, como o aluno aprende, pois o modo como aprende reflete as vivências e a sua relação de desejo ou não com a aprendizagem. Para se conhecer a modalidade de aprendizagem do aluno, é necessário, portanto, olhá-lo em sua integralidade: o modo como se porta durante os jogos, o modo como vivencia as relações de aprendizagem em família e na escola, o modo como seus professores orientam a sua aprendizagem, entre outros aspectos, são fundamentais para que possamos conhecer nossos alunos/pacientes. Pós-Universo 17 PROBLEMAS E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Caro aluno (a) para tratar de problemas e dificuldades de aprendizagem parece-nos necessário, inicialmente, afirmar que, assim como não existe uma única definição do que é a aprendizagem, não há também uma única definição para o que é dificulda- de ou problema de aprendizagem. No entanto, apresentaremos, dentre uma série de autores e estudiosos da área, como tais termos têm sido compreendidos atualmente. De acordo com Sisto (1998), somente a partir de 1963 é que o campo das cha- madas dificuldades de aprendizagem delimitou-se. Nesta época, as dificuldades de aprendizagem eram entendidas como barreiras, neurológicas ou emocionais, que im- pediam a aprendizagem das crianças consideradas normais. Por exemplo, em uma sala de aula, percebemos que a maioria dos alunos aprende de determinada maneira, mas há também alguns alunos os quais poderíamos rotular como mais lentos ou mais de- satentos. Tal desatenção ou lentidão, quando interfere no processo de aprendizagem, pode se caracterizar como uma dificuldade de aprendizagem. As discussões atuais entendem que essas dificuldades podem surgir em algum momento da vida escolar de um indivíduo ou mesmo pode-se estender ao longo de toda a sua vida escolar. Pós-Universo 18 De acordo com o National Joint Committee of Learning Disabilities (NJCLD- 1998 apud BERMEJO; LLERA, 1998, p. 35): Dificuldade de Aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a um grupo heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades sig- nificativas na aquisição e uso da escuta, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Esses transtornos são intrínsecos ao indivíduo, su- pondo-se devido à disfunção do sistema nervoso central, e podem ocorrer ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as dificuldades de apren- dizagem, problemas nas condutas de autorregulação, percepção social e interação social, mas não constituem, por si próprias, uma dificuldade de aprendizagem. Ainda que as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes (por exemplo, deficiência sensorial, retardamento mental, transtornos emocionais graves) ou com influências extrínsecas (tais como as diferenças culturais, instru- ção inapropriada ou insuficiente), não são o resultado dessas condições ou influências. Fonte: BERMEJO, V. S; LLERA, J. A. B. Dificultades de Aprendizaje. Madrid: Sintesis, 1998. saiba mais O termo problema de aprendizagem, segundo Major (1987), tem sido mal interpretado devido à grande confusão que provoca. Não há um consenso no uso da terminolo- gia entre os profissionais: educadores, psicólogos, psicopedagogos, neuropediatras etc. Ohlweiler (2016, p. 107) enfatiza que “Os termos utilizados, tais como ‘distúrbios’, ‘dificuldades’, ‘problemas’, ‘discapacidades’, ‘transtornos’, são encontrados na literatura e, muitas vezes, são empregados de forma inadequada”. Os autores complemen- tam que devido a esta confusão é preciso que os profissionais que atuam na área de aprendizagem tenham uma comunicação adequada e que exista uma terminologia uniforme. Para isso, caro aluno (a) é fundamental que você entenda a diferença entre dificuldades e transtornos de aprendizagem. Nesse sentido, utilizaremos aqui a de- finição proposta por Ohlweiler (2016) da qual entendemos ser coerente para nossa discussão. Pós-Universo 19 “ As dificuldades de aprendizagem podem ser chamadas de percurso, cau- sadas por problemas da escola e/ou da família, que nem sempre oferecem condições adequadas para o sucesso da criança. Nessa categoria, também se incluem as dificuldades que a criança pode apresentar em alguma matéria ou em algum momento da vida, além de problemas psicológicos, como falta de motivação e baixa autoestima. As dificuldades de aprendizagem também podem ser secundárias a outros quadros diagnosticáveis, tais como alterações das funções sensoriais, doenças crônicas [...], deficiência mental e doenças neurológicas [...]. Os transtornos de aprendizagem compreendem uma inabilidade específica, como de leitura, escrita ou matemática, em in- divíduos que apresentam resultados significativamente abaixo do esperado para seu nível de desenvolvimento, escolaridade e capacidade intelectual (OHLWEILER; 2016, p. 107-108). Portanto, de acordo com Rotta (2016) quando tratamos das dificuldades de apren- dizagem estamos nos referindo à fatores relacionados com a escola (metodologia inadequada, espaço físico etc), com a família (hábito de leitura, estímulo pedagógico etc) e com a criança (problemas físicos em geral, patologias, problemas psicológicos etc), Já em relação ao transtorno de aprendizagem deve-se considerar os seguin- tes fatores: • O grau de comprometimento deve estar substancialmente abaixo do espe- rado para uma criança com a mesma idade, nível mental e de escolarização; • o transtorno deve estar presente desde os primeiros anos de escolaridade; • o transtorno persiste, apesardo atendimento específico adequado; • a avaliação cognitiva afastou deficiência mental; • foram afastadas causas como dificuldades de percurso e/ou secundárias; • existe história de antecedentes familiares com dificuldade de aprendiza- gem (OHLWEILER; RIESGO, p. 98-99-108-109, 2016). Caro aluno (a) apresentamos a você a diferença entre a terminologia dificuldade e transtorno de aprendizagem para que o manejo com a criança seja realizado de forma adequada. Neste sentido, o olhar do psicopedagogo deve considerar a vivên- cia e as experiências da criança, boas ou ruins, ocorridas em variadas situações de Pós-Universo 20 aprendizagem. Há que se supor também que a escola, enquanto reprodutora de uma metodologia inadequada frente ao avanço tecnológico, também pode ser respon- sabilizada pelas dificuldades de aprendizagem ocasionadas nos alunos. Uma escola que tenha uma metodologia rígida e tradicional pode não promover a aprendiza- gem de uma criança que tenha experiências de autoria ao longo de sua vida. Para esclarecer o uso das terminologias, enfatizamos que em nossos estudos você deve entender transtornos, problemas e distúrbios como sinônimos. Fonte: elaborado pelas autoras. atenção Por isso é importante considerarmos os sujeitos envolvidos na relação de ensino e aprendizagem. De acordo com Bassedas et al. (1996), deve-se considerar no diag- nóstico psicopedagógico quatro vertentes: a escola, professor, aluno e família. Cada uma dessas instâncias contribui na formação ou na desintegração de uma dificulda- de de aprendizagem e, consequentemente, na formação de uma dada modalidade de aprendizagem. atividades de estudo 1. Para a psicopedagoga Alicia Fernández (2001) a aprendizagem pressupõe a escolha, já que o aprender decorre do desejo, ou seja, da escolha de aprender e também de fazer uso deste saber. Nesse sentido, além do desejo de aprender, a pesquisadora destaca alguns aspectos fundamentais ao tratar sobre a aprendizagem, quais sejam: autoria de pensamento e inquietação. Sobre os três fatores destacados pela autora, leia as assertivas e assinale a correta. a) O aluno que é motivado pelo desejo de aprender na medida em que o professor transforma a informação em conhecimento científico favorecerá uma aprendiza- gem passiva e sem autoria. b) O desejo de aprender somente é viável na teoria proposta por Fernández quando o professor utiliza-se de técnicas de ensino avançadas para despertar o interes- se do aluno. c) A autoria de pensamento produz um indivíduo inquieto e esta inquietação ocorre enquanto se aprende, enquanto se cria. Por isso, a postura do professor também deve ser inquieta, pois enquanto está se conhecendo, está se questionando. d) A autoria de pensamento pode ser definida como a apropriação do objeto de co- nhecimento a partir do que ela denominou de pensamento pré-convencional, momento em que o indivíduo tem o domínio do conhecimento historicamen- te acumulado. e) Nenhuma das assertivas acima está correta. atividades de estudo 2. Modalidade de Aprendizagem pode ser descrita pelas relações que o sujeito esta- belece, ao longo da vida, em diferentes situações e que contribuem para que ele estabeleça um modelo de aprendizagem. A família e a escola, neste sentido, são es- senciais nessa construção. A partir do exposto, leia as afirmativas e assinale a correta. I) A modalidade de aprendizagem que apresenta maior eficácia para o aluno é a hiperassimilativa-hipoacomodativa, pois a criança tem seu desejo de aprender despertado. II) O adulto deve ter uma postura de mediador de conflitos, não negando a pos- sibilidade de pensamento, entendido como ação. Nesta modalidade, o adulto reconhece na criança a existência de um adulto pensante que lhe possibilita rever suas estratégias de ação. III) A modalidade hiperacomodativa-hipoassimilativa permite a autonomia da criança, uma vez que o adulto a incentiva a ser autora de pensamento e ações. Esta mo- dalidade é positiva na medida em que oferece condições de o professor trabalhar com os conteúdos de forma significativa. IV) A modalidade hipoassimilativa-hipoacomodativa dificulta a criança distinguir aquilo que é desejo seu e desejo do outro, o que pode leva-la a estados depres- sivos e/ou de tédios, já que não consegue promover a autoria da criação que o desejo fornece à aprendizagem. a) Estão corretas apenas I e IV. b) Estão corretas apenas II e IV. c) Estão corretas apenas I, II e III. d) Estão corretas apenas II, III e IV. e) Estão corretas I, II, III e IV. atividades de estudo 3. Geralmente os termos dificuldades, problemas, distúrbios e transtornos são interpre- tados erroneamente, dificultando um diagnóstico preciso. Nesse sentido, o olhar do psicopedagogo deve considerar uma variedade de fatores para diferenciar as dificul- dades de aprendizagem de transtornos de aprendizagem. Sobre o uso destes dois termos, leia as afirmativa e assinale a correta. a) A escola, enquanto reprodutora de uma metodologia inadequada frente ao avanço tecnológico, também pode ser promover nos alunos dificuldades de aprendizagem. b) Os transtornos de aprendizagem tem base nos conflitos familiares, ocasionados pelas mudanças na dinâmica desta instituição nas últimas décadas. Dessa forma, para tratar a criança com transtorno é preciso apenas considerar as situações de conflitos em que a criança está inserida. c) As dificuldades de aprendizagem geram sequelas permanentes no indivíduo, ou seja, uma vez que a criança é diagnosticada com uma dificuldade, apesar de fazer uso de medicação a dificuldade persiste ao longo de sua vida. d) Os transtornos de aprendizagem são causados por fatores extrínsecos, sendo assim, no processo de diagnóstico, os resultados a partir de testes específicos nas áreas de escrita, matemática e leitura devem ser superiores comparado à outras crianças da mesma idade. e) Nenhuma das assertivas acima está correta. resumo Ao longo deste estudo foi apresentada à você algumas considerações sobre o conceito de apren- dizagem, para isso, nos alicerçamos na proposta de Alicia Fernández que discute a ideia da autoria de pensar. Para complementar a compreensão sobre este assunto que por sinal é muito vasto, discutimos a respeito das modalidades de aprendizagem, tendo em vista os estudos da referida autora. Esse entendimento se faz necessário para compreender como ocorre a aprendizagem em cada uma das crianças e, consequentemente, qual a modalidade de aprendizagem o aluno possui. A partir destas reflexões apresentamos a importância de distinguir dificuldades de transtornos de aprendizagem. O conceito de cada um é fundamental para que o diagnóstico seja correto e, por conseguinte, o tratamento ou manejo com a criança seja adequado e coerente, considerando a multiplicidade de fatores que podem estar envolvidos quando discutimos a respeito das dificul- dades de aprendizagem. Enquanto futuro(a) psicopedagogo(a), é importante que você desenvolva um olhar crítico e mi- nucioso sobre essas questões. Não há uma receita-mestre a ser seguida na elaboração de um diagnóstico ou na constatação de uma dificuldade de aprendizagem. O que existe são caminhos, trilhas ou roteiros realizados por pessoas comuns, como você e eu, mas que tiveram a coragem de olhar para seus alunos/pacientes como sujeitos singulares, reconstituindo suas vidas e suas experiências, buscando nelas mesmas as respostas para os sintomas apresentados. Não há seres iguais, embora sejamos todos humanos. Não existe uma única forma de enten- der o que seja a aprendizagem. O caminho é amplo e cheio de possibilidades. Foram, portanto, fornecidas aqui algumas pistas para que você construa, ao longo desta jornada, o seu próprio ar- cabouço a partir da história e das vivências de cada um. material complementar Título: Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Autor: Sara Paín Editora: Artmed Sinopse: A psicólogae psicopedagoga clínica Sara Paín aborda neste livro questões essenciais à vivência do psicope- dagogo. Como diagnosticar os problemas de aprendizagens? Como tratá-los? Quais os roteiros que precisamos abordar no processo de diagnóstico e intervenção são uns dos temas discutidos nesse livro. Título: Ao mestre com carinho Ano: 1967 Sinopse: O filme aborda a iniciativa de um engenhei- ro desempregado que decide dar aulas em um subúrbio de Londres, em condições adversas. Outros professores já haviam passado pelo local e desistido do emprego. Mas Mark Thackeray (Sidney Poitier) decide tentar. referências BASSEDAS et al. Intervenção Educativa e Diagnóstico Psicopedagógico. Porto Alegre: Artmed, 1996. BERMEJO, V. S; LLERA, J. A. B. Dificultades de Aprendizaje. Madrid: Sintesis, 1998. FERNÁNDEZ, A. O Saber em Jogo: A psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001. FERNÁNDEZ, A. Idiomas do Aprendente: análise das modalidades ensinantes com família, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2007. FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1995. MAJOR, S. Crianças com dificuldade de aprendizado: jogos e atividades. São Paulo: Manoele, 1987. OHLWEILER, Lygia. Introdução aos transtornos da aprendizagem. In: ROTTA, Newra Tellechea; OHLWEILER, Lygia; RIESGO, Rudimar dos Santos. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. ROTTA, Newra Tellechea. Dificuldades para aprendizagem. In: ______; OHLWEILER, Lygia; RIESGO, Rudimar dos Santos. Transtornos da aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisci- plinar. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. SISTO et al. Dificuldades de Aprendizagem no Contexto Psicopedagógico. 3. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1998, p. 99-121. resolução de exercícios 4. c. A autoria de pensamento produz um indivíduo inquieto e esta inquietação ocorre enquanto se aprende, enquanto se cria. Por isso, a postura do professor também deve ser inquieta, pois enquanto está se conhecendo, está se questionando. 5. b. Estão corretas apenas II e IV. 6. a. A escola, enquanto reprodutora de uma metodologia inadequada frente ao avanço tecnológico, também pode ser promover nos alunos dificuldades de aprendizagem.
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