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1 Psicopedagogia Institucional JOGOS E BRINCADEIRAS NO PROCESSO DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA Talita de Cassia Batista Pazeto Edna Barberato Genghini Unidades I, II, III e IV PAZETO, Talita de Cassia Batista GENGHINI, Edna Barberato Jogos e Brincadeiras no Processo de Intervenção Psicopedagógica (Livro-Texto)/ Talita de Cassia Batista Pazeto; Edna Barberato Genghini – São Paulo: Pós-graduação Lato Sensu – UNIP, 2019. 112 p. il. 1. Jogos Pedagógicos. 2. Intervenção. 3. Psicopedagogia Talita de Cassia Batista Pazeto; Edna Barberato Genghini. Pós- Graduação Lato Sensu UNIP. III. Jogos e Brincadeiras no Processo de Intervenção Psicopedagógica – Unidades I a IV. JOGOS E BRINCADEIRAS NO PROCESSO DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR-AUTOR Possui graduação em Pedagogia pela Universidade Bandeirante de São Paulo (2009), pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2011), Mestrado (2012) e Doutorado (2016) em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência e realiza atendimento psicopedagógico na área de avaliação e intervenção em dificuldades e Transtornos de Aprendizagem. Palestrante e professora convidada do curso de pós-graduação em Psicopedagogia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Experiência como Professora nos cursos de Pedagogia, Psicologia, Letras e História e na pós em Psicopedagogia nas Universidades: Anhanguera; Faculdade das Américas e FMU. Pesquisa na área de desenvolvimento infantil, com foco em habilidades pré-escolares, leitura, escrita, linguagem e funções executivas. Professora Colaboradora/coordenadora: EDNA BARBERATO GENGHINI, Professora Universitária desde 2002. Atualmente no exercício da função de Coordenadora para todo o Brasil de cinco cursos ao nível de Pós-Graduação Lato Sensu: em PSICOPEDAGOGIA E NEUROCIÊNCIAS, PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL, DOCÊNCIA PARA O ENSINO SUPERIOR, FORMAÇÃO E GESTÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA e em FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA, pela UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA – UNIP/EaD, onde também atua como Professora Adjunta, nas modalidades SEI e SEPI. É Diretora e Psicopedagoga da MENTOR ORIENTAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA LTDA. ME desde 1991. Possui graduação em Economia Doméstica - Faculdades Integradas Teresa D'Ávila de Santo André (1980), graduação em Pedagogia pela Universidade Guarulhos (1985), Pós-graduação em Psicopedagogia pela Universidade São Judas (1987), Mestrado em Ciências Humanas pela Universidade Guarulhos (2002) e pós-graduação Lato Sensu em Formação em Educação a Distância pela UNIP - Universidade Paulista (2011). É autora e coautora de livros Textos para os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Psicopedagogia Institucional, Docência para o Ensino Superior e Formação em Educação a Distância da UNIP - EaD. Áreas de Interesse: Neurociências - Educação Inclusiva - Psicopedagogia Clínica e Institucional - Formação e Gestão em Educação a Distância - Formação de Docentes para o Ensino Superior. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 05 I. OS TIPOS DE INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS E COMO ELABORAR UMA INTERVENÇÃO 07 1.1 Intervenção psicopedagógica preventiva 07 1.2 Intervenção Psicopedagógica remediativa 17 1.3 Como elaborar a intervenção psicopedagógica 21 II. OS DIFERENTES ESTILOS DE JOGOS E AS DIFERENÇAS CONCEITUAIS DO JOGAR E DO BRINCAR 32 2.1 Compreender as diferenças dos conceitos de jogo, brinquedo e brincadeira 32 2.2 Tipos de jogos e habilidades que eles estimulam 40 2.3 Jogos tecnológicos: compreendendo o seu uso e sua função na sociedade hoje 45 III. TRANSFORMAR OS JOGOS EM SITUAÇÕES DE APRENDIZAGEM 55 3.1 Situações-problemas nos jogos 55 3.2 Criando e elaborando seu próprio material interventivo 62 3.3 O jogo no setting de atendimento psicopedagógico como recurso terapêutico 67 3.4 O jogo na escola e na família como recurso auxiliar na aprendizagem 71 IV. COMO UTILIZAR OS JOGOS PARA ESTIMULAR HABILIDADES COGNITIVAS 79 4.1 Jogos que estimulam a leitura 79 4.2 Jogos que estimulam a escrita 87 4.3 Jogos que estimulam o raciocínio lógico-matemático 92 4.4 Jogos que estimulam as funções executivas 98 4.5 Jogos que estimulam outras habilidades cognitivas 103 REFERÊNCIAS 112 5 INTRODUÇÃO A disciplina de “Jogos e brincadeiras no processo de intervenção psicopedagógica” tem como objetivo refletir sobre os tipos de intervenções psicopedagógicas: remediativa e preventiva e saber como elaborar uma intervenção psicopedagógica. Capacitar o psicopedagogo para compreender os tipos de jogos e brincadeiras e assim saber selecionar cada material de acordo com a habilidade específica que deseja desenvolver além de compreender o quanto os jogos funcionam como uma ferramenta de apoio essencial para a atuação interventiva do psicopedagogo. A discussão e explanação ocorrerá por meio de quatro unidades. Na primeira veremos os tipos de intervenções psicopedagógicas e como elaborar uma intervenção, abordando sobre a Intervenção psicopedagógica preventiva e remediativa e descrevendo sobre como elaborar a intervenção psicopedagógica. Na segunda unidade será abordado sobre os diferentes estilos de jogos e as diferenças conceituais do jogar e do brincar, iniciando a discussão com a compreensão da diferença dos conceitos de jogo, brinquedo e brincadeira. Depois serão apresentados os tipos de jogos e habilidades que eles estimulam, finalizando com os jogos tecnológicos, compreendendo o seu uso e sua função na sociedade hoje. A terceira unidade tem como objetivo direcionar o psicopedagogo a ser capaz de transformar os jogos em situações de aprendizagem, por meio da compreensão do uso de situações-problemas nos jogos, do ensino de como o profissional irá criar e elaborar o seu próprio material interventivo, compreendendo o jogo no atendimento psicopedagógico e o seu uso na escola e na família como recurso auxiliar na aprendizagem. A última unidade fecha a disciplina apresentando como utilizar os jogos para estimular habilidades cognitivas, porém apresentará uma reflexão bastante prática com exemplos de recursos que o psicopedagogo pode adquirir que irão estimular a leitura, escrita, matemática, funções executivas e outras habilidades cognitivas. Espera-se que, ao final desta disciplina, você seja capaz de compreender sobre todos esses conceitos que foram apresentados, observar o comportamento da criança durante os momentos lúdicos com o objetivo de identificar áreas de habilidades ou de dificuldades, mediar situações-problemas que podem ser utilizadas durante a intervenção, além de aprender a trabalhar com jogos que envolvam as três principais áreas de dificuldades escolares, leitura, escrita e matemática, e por fim ser capaz de planejar e criar suas próprias 6 atividades, jogos e brincadeiras que sejam ferramentas interventivas para o trabalho das habilidades cognitivas básicas para a vida escolar. 7 I. OS TIPOS DE INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS E COMO ELABORAR UMA INTERVENÇÃO Olá, aluno(a)! Bem-vindo(a) à disciplina Jogos e Brincadeiras no Processo de Intervenção Psicopedagógica! Estamos nos preparando para finalizar o Curso de Psicopedagogia Institucional e, para tanto, precisamos conhecer as ferramentas de trabalho que irão nos auxiliar desde a Anamnese até as intervenções preventivas e corretivas. Para tanto, veremos nesta primeira unidade de ensino os tipos de intervenções psicopedagógicas e como elaborar uma intervenção, abordando sobre a Intervenção psicopedagógica preventivae remediativa e descrevendo sobre como elaborar a intervenção psicopedagógica. Você está preparado(a)? Então, vamos lá! 1.1 Intervenção psicopedagógica preventiva A intervenção psicopedagógica com caráter preventivo tem como característica atuar antes do problema aparecer ou estar instaurado, visando a diminuição de futuros problemas de aprendizagem e o atendimento e olhar precoce para as habilidades melhorando assim o prognóstico de crianças que podem ter uma alteração na aprendizagem no futuro. Essa forma de intervir tem sua base no modelo chamado de RTI (Response to Intervention), traduzinho, resposta à intervenção, que é uma forma diferente de se enxergar e estruturar a educação em geral e não o atendimento psicopedagógico. A sociedade e a cultura de alguns países, como Estados Unidos e Canadá, implementam essa forma em suas escolas e obtém resultados bastante significativos com as crianças, pois veem o educar escolar com uma outra perspectiva e com diferentes responsabilidades, diferente do que acontece aqui no Brasil. 8 Qual o pressuposto que eles se baseiam? Esses países acreditam que se existem tantas pesquisas que esclarecem e apresentam as habilidades que uma criança precisa para um bom convívio escolar, nada mais é do que papel da escola desenvolver essas áreas. Por exemplo, eles levantam e estudam o que a criança precisa para conseguir aprender a ler, escrever, desenvolver o raciocínio logico matemático, controlar o seu comportamento, conseguir compreender e se expressar adequadamente, dentre demais áreas que são solicitadas no convívio escolar. Então eles implementam atividades e tarefas que desenvolvam tudo isso com todos os alunos, sem exceção. Eles não esperam uma criança ter dificuldades para aprender a ler para pensar no que ela precisa, eles já sabem o que ela precisa e por isso trabalham as áreas envolvidas nessas habilidades futuras com todas as crianças da escola. A atuação além de ser preventiva é embasada cientificamente no que pesquisas tem mostrado e sinalizado como sendo importante para a infância, para que esses alunos consigam ser atendidos de forma integral, dentro do próprio espaço escolar, e o mais importante, antes de fracassarem. A RTI também é conhecida como modelo de atendimento em pirâmide, ou em camadas, e funciona da seguinte forma: Nível 1 (atendimento em sala de aula): Nessa primeira camada todas as crianças que estão apresentando algum tipo de dificuldade na aprendizagem são atendidas com atividades direcionadas em pequenos grupos ou individualmente na própria sala e no horário regular de ensino. Nível 2 (atendimento em pequenos grupos no contraturno): A segunda camada visa atender aquelas crianças que mesmo com essas atividades focadas e direcionadas que estavam sendo aplicadas em sala de aula não estão respondendo de forma adequada. Então elas são direcionadas para um atendimento interventivo em pequenos grupos no contraturno escolar, para que a atenção e a estrutura das atividades sejam mais direcionadas. Nível 3 (atendimento individualizado no contraturno): A última camada atende aquelas crianças que precisam de uma atuação mais intensa e direcionada unicamente para ela. Nesse momento a intervenção é individual e durante o tempo que a criança precisar para voltar a responder como precisa para acompanhar as crianças da mesma idade e ano escolar. O atendimento em camadas visa atender cada criança de acordo com a sua necessidade, avaliando e analisando o que ela precisa para voltar a desempenhar suas atividades como os pares da mesma idade e conseguir acompanhar o ritmo de aprendizado da sala. Quando a criança chega no terceiro 9 nível e começa a melhorar, ela volta para o segundo nível, depois para o primeiro e somente então para a sala de aula. A transição entre as camadas acontece de forma gradativa visando respeitar o ritmo de desenvolvimento de cada criança e o seu retorno as exigências de sala de aula quando ela estiver realmente apta para isso. E o detalhe é que qualquer criança que comece a apresentar um desempenho diferenciado, ou que em determinado momento comece a ter dificuldade é direcionada as instruções primeiro em sala, depois em grupos, individual e assim por diante. A figura 1 apresenta como esse atendimento ocorre: Figura 1: Níveis de atendimento segundo a RTI Fonte: (MACHADO; ALMEIDA, 2014, p. 132) A intervenção preventiva além de atender as crianças realiza um monitoramento de como elas estão respondendo a intervenção, para assim medir se está funcionando e sendo eficaz. Caso percebam que a criança não está respondendo, os profissionais envolvidos analisam e utilizam outra forma de atuar ou outro material, mas a criança não fica sem atendimento. O não responder as intervenções também levanta o alerta de que essas crianças podem ser consideradas de risco para transtornos de aprendizado, e assim são direcionadas ao atendimento mais especializado. A figura 2 apresenta o caminho que a intervenção preventiva deve seguir: 10 Figura 2: Modelo de Resposta a Intervenção (RTI) Fonte: (MOUSINHO; NAVAS, 2016 p. 39) Machado e Almeida (2014, p.131) descrevem a importância desse modelo: O RTI – Resposta à Intervenção – é um modelo educacional de multiníveis/multicamadas, muito difundido nos Estados Unidos, onde as atividades são fornecidas a todos os escolares como uma instrução de leitura de alta qualidade baseada em pesquisas dentro da própria sala de aula. A resposta dos escolares a essa instrução é avaliada por meio de instrumentos de triagem, que são administrados, periodicamente, durante todo ano letivo. Com os escolares identificados como de risco, na base dessa seleção, é realizada uma intervenção de curto prazo suplementar. Essa intervenção pode evoluir a partir de pequenos grupos para aulas individuais com base nas necessidades do escolar. O progresso do monitoramento é usado para medir a resposta dos escolares à intervenção. Aqueles que não respondem à intervenção suplementar são considerados como de risco para transtornos de aprendizagem e podem beneficiar-se de um ensino fornecido dentro de um contexto especializado. 11 O modelo de RTI, de atendimento em camadas, é uma forma diferente da sociedade lidar com a educação e de pensar na função da escola. Pois em países que utilizam esse modelo, todo atendimento que a criança precisa, em relação a aprendizagem, ela receberá dentro do próprio ambiente escolar e somente em casos específicos a escola solicitará o atendimento com profissionais especializados fora da escola. Perceberam que nessa proposta praticamente não existe a necessidade de um atendimento psicopedagógico extraescolar? Pois a própria escola se responsabiliza e atua de forma a atender aquelas crianças com dificuldades. Atender as crianças antes do problema acontecer ou antes dele estar fortemente instaurado é olhar para ela antes dela fracassar e com isso conseguir intervir sem que diversas outras áreas acabam se comprometendo, como questões comportamentais e psicológicas. Crianças com dificuldades começam a apresentar problemas de autoestima, se julgam como burras e incapazes de aprender, porque não conseguem acompanhar o ritmo dos demais alunos da mesma idade e ano escolar. A proposta em RTI além de respeitar a criança e as janelas de desenvolvimento acarreta diversos benefícios, sendo que alguns podem ser visualizados na Figura 3: Figura 3: Benefícios do atendimento em RTI Fonte: (MACHADO; ALMEIDA, 2014, adaptado por PAZETO, 2019) Eficiência e eficácia na redução das dificuldades acadêmicas, como leitura, escrita e matemática. Diminuição de baixa instrução apontada como causa do mau desempenho. Diminuição da má interpretação de escolares encaminhados para os serviços especiais.12 As janelas de desenvolvimento também são conhecidas como ‘períodos críticos do desenvolvimento’ ou ‘períodos sensíveis’, que nada mais são do que aqueles momentos no qual a criança está no seu melhor potencial biológico e cognitivo para desenvolver determinadas habilidades. O não desenvolvimento dentro do período adequado pode acarretar dificuldades, e em alguns casos no não desenvolvimento adequado daquela habilidade. Por exemplo, o período sensível para a alfabetização é dos 6 aos 8 anos, isso significa que essa é a melhor idade para uma criança aprender a ler e a escrever, pois é o momento no qual sua linguagem, motricidade, controle inibitório, atenção, entre outras áreas estão no seu melhor potencial. Uma criança que não foi alfabetizada nesse período pode aprender a ler e a escrever depois? Um adulto que não foi alfabetizado quando criança, pode aprender a ler e escrever depois? Sim! Porém não será tão simples e fácil e nem ocorrerá da mesma forma do que se tivesse desenvolvido essa habilidade no período adequado a ela. “O modelo RTI – Resposta à Intervenção como proposta inclusiva para escolares com dificuldades em leitura e escrita”, é um artigo no qual as autoras descrevem esse modelo e embasam teoricamente sua base, além de mostrarem sua eficácia com uma grupo de crianças com dificuldades na leitura e na escrita. Não deixe de ler! MACHADO, A. C.; ALMEIDA, M. A. O modelo RTI - Resposta à intervenção como proposta inclusiva para escolares com dificuldades em leitura e escrita. Rev. psicopedag., São Paulo, v. 31, n. 95, p. 130-143, 2014. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0103-84862014000200006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 04/10/19. 13 O atendimento psicopedagógico interventivo com caráter preventivo deve se basear nesses pressupostos, no de olhar para as habilidades que a criança precisará no contexto escolar e o de atuar antes do problema acontecer, isso é prevenção em relação a criança. Porém uma outra forma de atuação psicopedagógica interventiva se dá principalmente no contexto escolar e será abordada a seguir. Atividade de Aplicação Leia o artigo “O modelo RTI – Resposta à Intervenção como proposta inclusiva para escolares com dificuldades em leitura e escrita”, disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0103- 84862014000200006&lng=pt&nrm=iso acesso em 04/10/19. Um dos tópicos do artigo se intitula “Desenvolvimento do programa de RTI”, no qual eles explicam como implementaram um modelo de intervenção para crianças com dificuldade em leitura e escrita. Após a leitura descreva a seguir como o modelo foi aplicado e estruturado e os resultados que eles conseguiram. Esse tipo de sugestão já funciona como dica para um futuro atendimento psicopedagógico, demonstrando o quando o trabalho direcionado e nas habilidades corretas pode trazer diversos benéficos para os escolares envolvidos. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_%20arttext&pid=S0103-84862014000200006&lng=pt&nrm=iso http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_%20arttext&pid=S0103-84862014000200006&lng=pt&nrm=iso 14 __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ A intervenção preventiva na escola tem como objetivo atuar com toda equipe escolar e visa compreender como naquele local se estruturam e se estabelecem os processos de aprendizagem, analisando como todos os sujeitos e componentes naquele ambiente se relaciona. Além disso devem ser analisadas a estrutura física, material didático, metodologia implementada, professor, gestão, sala de aula, entre outros. A dinâmica escolar como um todo deve perceber que afeta o aprender do grupo e de cada sujeito e que possui um papel fundamental nesse processo (BOSSA, 2011). O trabalho preventivo dentro do ambiente escolar pode acontecer em três diferentes níveis, que podem ser visualizados na figura 4: Figura 4: Níveis do trabalho preventivo na escola Fonte: (BOSSA, 2011 p. 35, adaptado por PAZETO, 2019) Primeiro Nível •O psicopedagogo atua nos processos educatuvos com objetivo de diminuir a frequência dos problemas de aprendizagem. •Seu trabalho incide nas questoes didático- metodológicas, bem como na formação e na orientação de professores, além de fazer aconselhamento aos pais. Segundo Nível •O objetivo é diminuir e tratar dos problemas de aprendizagem já instalados. •Para tanto, cria-se um plano diagnóstico da realidade institucional e elaboram-se planos de intervenção baseados nesse diagnóstico, a partir do qual se procura avaliar os currículos com os professores para que não se repitam tais transtornos. Terceiro Nível •O objetivo é eliminar os transtornos já instalados, em um procedimento clínico com todas as suas implicações. O caráter preventivo permanece aí, uma vez que, ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros. 15 Na descrição de Bossa (2011) a autora utiliza o termo transtornos que atualmente só é utilizado quando relacionado a transtornos específicos de aprendizagem (comprometimento na leitura, escrita ou matemática), e não mais para descrever dificuldades. Então no exemplo descrito onde está transtorno deve se considerar dificuldades para uma interpretação correta e atualizada dos termos adequados. Um exemplo prático de como esses níveis podem ser aplicados acontece com a alfabetização. O psicopedagogo em conjunto com os profissionais da equipe escolar poderiam se informar e se atualizar sobre o que pesquisas da área estão trazendo em relação ao ler e ao escrever e repensar se os métodos e a forma de atuação que a escola segue estão coerentes e de acordo com o que as crianças realmente precisam, isso aconteceria no primeiro nível. Dentro dessa mesma escola em uma sala específica ou um grupo de alunos começam a aparecer crianças com dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita. Caberia ao psicopedagogo encontrar formas de avaliar essa dificuldade e propor uma intervenção direcionada, isso seria o segundo nível. E o terceiro nível aconteceria quando ele, juntamente com a equipe escolar, percebesse que algumas crianças não estão começando a mostrar dificuldades em ler e escrever, mas sim não sabem ler e escrever quando os pares da mesma idade e ano escolar já estão com essa habilidade bem desenvolvida, então ele precisaria atuar diretamente nessa alteração que já está instaurada (BOSSA, 2011). Saiba mais sobre a atuação do psicopedagogo em: BOSSA, N. A Psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da prática. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2011. 16 O psicopedagogo se torna um assessor dos processos de aprendizagem,e pode auxiliar o olhar preventivo da escola promovendo: Figura 5: Atuação do Psicopedagogo escolar Fonte: (BOSSA, 2011, p. 105, adaptado por PAZETO, 2019) A intervenção psicopedagógica preventiva tem sua principal característica em atuar na dificuldade antes dela aparecer ou logo em seu começo! 1) O levantamento, a compreensão e a análise das praticas escolares e suas relações com a aprendizagem; 2) o apoio psicopedagógico a todos os trabalhos realizados no espaço da escola; 3) a ressignificação da unidade ensino/aprendizagem, a partir das relações que o sujeito estabelece entre o objeto de conhecimento e suas possibilidades de conhecer, observar e refletir, a partir das informações que já possui; 4) a prevenção de fracassos na aprendizagem e a melhoria da qualidade do desempenho escolar. 17 1.2 Intervenção psicopedagógica remediativa A intervenção psicopedagógica remediativa, ao contrário da preventiva atua quando o problema já está instaurado, quando a dificuldade não está apenas começando ou a criança sinalizando, e sim quando ela já está instaurada e bem enraizada no sujeito. E, infelizmente, é a forma de atuação que mais acontece em nossa realidade brasileira, e não apenas em relação aos aspectos educacionais, mas sim econômicos, sociais e de saúde também, o que reforça que a cultura brasileira espera primeiro o problema acontecer para depois definir como ele será resolvido. Machado e Almeida (2014) descrevem que cultura e forma de olhar para a educação é descrita como ‘Wait to fail’, ou espera pelo fracasso, ou seja, primeiro você espera o sujeito fracassar nos processos de aprendizagem, na vida escolar e acadêmica dele antes de olhar para ele, antes de atendê-lo: ... priva o escolar de receber as intervenções adequadas a suas dificuldades em períodos de maior plasticidade neurocognitiva e, portanto, mais propícios para a intervenção, isto é, no início da alfabetização ou até mesmo antes desse período. Essa espera pelo fracasso também gera uma lacuna escolar, ou seja, uma defasagem em relação ao grupo-classe, sendo maior e mais difícil de ser superada (MACHADO; ALMEIDA, 2014, p. 131). O psicopedagogo é procurado, não quando a dificuldade da criança está começando e sim quando ela já está com tanta defasagem que a forma de atuar acaba tendo que ser diferente para ser suficiente das demandas que o sujeito precisa. A figura 5 descreve as características de uma intervenção remediativa: Figura 5: Características da Intervenção Remediativa 18 Fonte: (BOSSA, 2011 adaptado por PAZETO, 2019) A atuação remediativa acaba sendo por necessidade mais direcionada e individualizada, para que consiga atender as reais necessidades de cada sujeito e compreender os seus processos únicos de se relacionar com a aprendizagem. O psicopedagogo precisa então compreender como a criança se desenvolve em cada etapa e em cada uma das áreas, para ser capaz de identificar atrasos ou potencialidades, além disso conhecer quais recursos de conhecimento aquela criança em específico possui e a forma como ela se relaciona com o aprender. Essa forma de se relacionar envolve a compreensão de como cada pessoa produz o conhecimento e aprende, e esse padrão é totalmente pessoal, já que depende das experiencias que cada criança viveu até ali (BOSSA, 2011). Segundo Macedo (1990) apud Bossa (2011, pp. 49-50) a atuação do psicopedagogo no Brasil envolve: 1. Orientação de estudos: consiste em organizar a vida escolar da criança quando esta não sabe fazê-lo espontaneamente. Procura- se promover o melhor uso do tempo, a elaboração de uma agenda e tudo aquilo que é necessário ao “como estudar” (como ler um texto, como escrever, como estudar para a prova etc.). 2. Apropriação dos conteúdos escolares: o psicopedagogo visa propiciar o domínio de disciplinas escolares em que a criança não vem tendo um bom aproveitamento. Ele se diferencia do professor particular, pois o conteúdo escolar é usado apenas como uma estratégia para ajudar a fornecer ao aluno o domínio de si próprio e as condições necessárias ao desenvolvimento cognitivo. 3. Desenvolvimento do raciocínio: trabalho feito com os processos de pensamento necessários ao ato de aprender. Os jogos são muito utilizados, pois são férteis no sentido de criarem um contexto de observação e dialogo sobre os processos de pensar e de construir o conhecimento. Este procedimento pode promover um desenvolvimento cognitivo maior do que aquele que as escolas costumam alcançar. Quando o problema já está acontecendo; Muito atraso e dificuldade; Fora das janelas de desenvolvimento; Sujeito com baixa autoestima; Desacreditado da capacidade de Aprender; Mais trabalhosa e mais intensa! 19 4. Atendimento de crianças: a psicopedagogia se presta a atender deficientes mentais, autistas ou crianças com comprometimentos orgânicos mais graves... O atendimento psicopedagógico poderá, em determinados casos, recorrer a propostas corporais, artísticas etc. De qualquer forma, está sempre relacionado com o trabalho escolar, ainda que com ele não esteja diretamente comprometido. Psicopedagogo não é professor particular, ou seja, não deve ficar reforçando os conteúdos que a criança está vendo na escola, mas sim identificar as habilidades que estão comprometidas, que se envolvem e são exigidas nesses conteúdos de maneira a oferecer as bases que o paciente precisa para se desenvolver. Atualmente não se utiliza mais o termo “Deficiente mental” ou “deficiência mental” e sim Deficiente intelectual e deficiência intelectual. Essa é a nomenclatura que os Manuais Médicos, nas versões mais recentes utilizam e que profissionais, como psicopedagogos, devem se utilizar. O principal objetivo desse trabalho remediativo é compreender a causa da falha no processo de aprendizagem, envolve um processo diagnóstico, uma investigação, uma análise do sujeito de forma individual. E é por meio das informações que surgem desse olhar investigativo que a intervenção será elabora e estruturada. 20 Atividade de Aplicação Acesse o site da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia) e leia o “Código de ética do Psicopedagogo” (https://www.abpp.com.br/docume ntos_referencias_codigo_etica.html). O Código de Ética tem o propósito de estabelecer parâmetros e orientar os profissionais da Psicopedagogia brasileira quanto aos princípios, normas e valores ponderados à boa conduta profissional, estabelecendo diretrizes para o exercício da Psicopedagogia e para os relacionamentos internos e externos à ABPp. Descreva a seguir os itens do código que abordam a avaliação e intervenção psicopedagógica, refletindo sobre a atuação profissional do psicopedagogo. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________ https://www.abpp.com.br/docume%20ntos_referencias_codigo_etica.html 21 1.3 Como elaborar a intervenção psicopedagógica É a avaliação que guia e que orienta a intervenção. O primeiro momento envolve testes, tarefas, entrevistas e diversos outros instrumentos, com objetivo de identificar as áreas de dificuldade de cada pessoa, de compreender os processos de aprendizagem e de estabelecer onde estão as falhas que precisam ser trabalhadas para que o avanço aconteça. Segundo Weiss (1991) apud Bossa (2011, p. 158), algumas hipóteses podem ser levantadas durante esse processo de avaliação: 1. a criança ao ingressar na escola, há tinha dificuldade para aprender e tal fato não foi observado pela escola, ao longo dos anos; 2. a dificuldade de aprendizagem da criança se agravou ao longo da pré-escola e das séries iniciais do primeiro grau, só sendo percebida pela escola, por exemplo, quando chegou a quarta série; 3. a dificuldade de aprendizagem formou-se dentro do ambiente escolar, por ação inadequada da escola. Esta mesma escola passa a penalizar o aluno, a exigir providencias da família, sem assumir a sua participação direta no fato; 4. a criança não tem dificuldade de aprendizagem, mas vive em crise temporária que pode acarretar o fracasso escolar. Estas crises podem estar ligadas a alterações do sistema familiar ou escolar; mortes, mudanças de residência, de escola, de professor, separação dos pais etc. Muitas vezes, a escola não sabe lidar com estas crises e agrava a situação, contribuindo mesmo para a formação de dificuldades na aprendizagem. Já a intervenção irá organizar todas essas informações levantadas e traçar um plano de ação. Muitos profissionais ficam com dúvidas de por onde começar a intervir diante de tantas dificuldades ou entraves, ou sobre qual material utilizar, qual recurso escolher, e por onde seguir. Porém mais importante que todas essas indagações é o conhecimento por parte do profissional dos processos de aprendizagem, isso significa que o Psicopedagogo precisa de informar e conhecer a fundo sobre o desenvolvimento do seu público (principalmente a infância), e compreender como habilidades requeridas no contexto escolar se desenvolvem e se relacionam. Isso significa que se o paciente ou o aluno apresentarem dificuldades de aprendizagem, por exemplo, na leitura, o psicopedagogo precisa conhecer: quais são as habilidades necessárias para que uma criança aprenda a ler; quais outras áreas são requeridas no ato de ler; quais fatores além da escola influenciam no aprendizado da leitura; 22 a dificuldade pode estar relacionada com alguma alteração biológica, como por exemplo, utilizar óculos, ou alteração no processamento auditivo central, que faz com que ela processe as informações de maneira incorreta; o que em cada idade a criança já é capaz ou não de responder em relação a leitura; qual o grau de progressão de dificuldades que o aprendizado da leitura segue, por exemplo, primeiro a criança precisa conhecer o nome das letras, depois relacionar as letras com os seus sons, perceber a sílaba, conhecer palavras, ler frases de forma fluente e com compreensão para então ser capaz de ler textos. Em qual dessas habilidades essa criança em específico está? A intervenção precisa ser pensada e organizada, e o ponto de partida é o conhecimento do psicopedagogo sobre a área que ele precisa trabalhar para auxiliar a criança que está com dificuldades, e por isso a importância do estudo, da leitura de livros, de artigos, de cursos e da formação continuada. Um bom psicopedagogo é aquele que compreende o que o seu paciente precisa ter estruturado e desenvolvido para que seja capaz de desenvolver aquela habilidade que não está conseguindo. Porque pode ser que para ser capaz de ler um texto, que é a queixa da escola e dos pais, a defasagem dele esteja em identificar palavras, uma habilidade que vem antes. Então, não adianta trabalhar com textos acreditando que isso irá auxiliar o paciente, mas sim retroceder e trabalhar na base do que ele precisa, muitas vezes uma habilidade anterior e mais simples, para que ele chegue onde precisa. Segundo Paín (1985) o processo de intervenção, também chamado de tratamento envolve três aspectos, que podem ser visualizados na Figura 6: Figura 6: Aspectos envolvidos no tratamento psicopedagógico 23 Fonte: (PAÍN, 1985, p. 77-78, adaptado por PAZETO, 2019) O objetivo de todo processo de intervenção é desaparecer com os sintomas do não aprender para que o paciente desempenhe da melhor maneira suas relações com a aprendizagem sem que existam entraves. Caso o sintoma não desapareça, o foco é em diminuir e fornecer estratégias para que ele aprenda a como se portar diante de situações específicas e utilize os recursos que foram ensinados para lidar com suas dificuldades. Cuidado para não estabelecer prazos temporais em relação ao tratamento do paciente, ou seja, dizer que em tanto tempo tal dificuldade será superada. Muitos elementos estão envolvidos no não aprender e o resgate do sujeito é um deles, portanto o trabalho acontecerá de acordo com a forma e resposta que o paciente for fornecendo durante os atendimentos e isso não tem como medir em tempo. •O tratamento centra-se no ponto de urgência do paciente que é não poder integrar os objetos de conhecimento. Esssa dificuldade está comprometida em uma situação mais complexa, da qual resulta ser uma articulação privilegiada. É sintomático • Isto quer dizer que baseamo-nos quase exclusicamente naquilo que ocorre na sessão É situacional •No tratamento psicopedagógico a relação é feita principalmente em torno de uma tarefa precisa e concreta. Esta se evidencia para a criança por meio de uma instrução que inclui uma orientação sobre a atividade a ser desenvolvida e o objeto que esta atividade supõe para o tratamento em si. É operativo 24 A figura 7 descreve três fundamentos que devem ser considerados ao se estruturar uma intervenção: Figura 7: Fundamentos da Intervenção Psicopedagógica Fonte: (PAÍN, 1985, p. 81-82, adaptado por PAZETO, 2019) Refletindo sobre esses fundamentos, o primeiro ponto é o resgate do sujeito como parte da aprendizagem, mostrar para ele que ele é capaz de aprender e de se desenvolver. Fazê-lo acreditar nos seus potenciais, tornar isso consciente. Não é suficiente que ao final de uma sessão ou de se trabalhar determinados conceitos que ele apenas lhe forneça as respostas corretas, mas sim que ele perceba que ele sabe realizar aquela solicitação (PAÍN, 1985). O segundo ponto é um dos mais importantes dentro do processo interventivo, e envolve o sujeito alcançar autonomia de aprendizagem, ou seja, aprender e conseguir realizar as tarefas de forma autônoma e adequada, e isso se torna um dos maiores desafios do psicopedagogo. Pois, quando o trabalho começa, cria-se uma relação de dependência, em alguns casos muito forte, do olhar desse profissional e de seu direcionamento, como se a criança só fosse capaz de responder daquela forma porque o profissional está indicando e mostrando os caminhos. Não basta então que o seu paciente consiga fazer tudo durante os atendimentos e com orientação e supervisão e depois chegar à escola e, 1 • O objetivo do tratamento é conseguir uma aprendizagem que seja uma realização para o sujeito 2 • O objetivo do tratamento é conseguir uma aprendizagem independente por parte do sujeito. 3 • Propiciar uma correta autovalorização. 25 sozinho, não conseguir replicar nada do que foi trabalhado. A generalização das habilidades e estratégias deve ser alcançada para que ele seja autônomo. O conhecimento só se torna realmente válido quando foi internalizado e se tornou propriedade de seu controle. O último ponto reflete uma áreade trabalho que muitos pacientes precisam do auxílio de um psicólogo para desenvolver da forma como precisam, pois, envolve o aprender a valorizar corretamente suas conquistas, sem depender de estímulos externos e do outro. O contexto de valorização de crianças com dificuldades na aprendizagem é bastante complexo, porque o aprender se tornou uma área na qual elas já vivenciaram diversos tipos de fracassos, desvalorização e julgamentos e muitas vezes mesmo avançando e superando dificuldades esses pacientes não conseguem perceber isso e valorizar suas próprias conquistas, e o direcionamento e trabalho com o profissional auxiliará nessa percepção. O trabalho com uma criança com dificuldades na aprendizagem é multidisciplinar e envolve diversos profissionais de áreas diferentes. Cabe ao psicopedagogo delimitar claramente até onde é seu campo de atuação e em que momento outro profissional é mais indicado e preparado para lidar com aquela situação em específico, sempre visando o bem-estar e desenvolvimento de cada paciente, sem deixar de lado sua ética profissional. Todo trabalho realizado durante o atendimento psicopedagógico deve envolver também uma organização prévia da tarefa, uma graduação dos conceitos, a auto avaliação, a historicidade, a informação e a indicação. Paín (1985, pp. 83-86 adaptado por PAZETO, 2019), descreve esses pontos como: Organização prévia da tarefa: em alguns momentos, o psicopedagogo oferece ao paciente uma tarefa cujo material está preparado, sejam desenhos, problemas, frases para completar, ou relógios sem ponteiros para indicar a hora. Este material, uma vez elaborado, passa a fazer parte de uma pasta, já que 26 frequentemente volta-se a utilizá-lo como revisão ou inclusão. Esta modalidade permite que o sujeito considere seus todos os conhecimentos elaborados no transcurso da aprendizagem. Graduação: Para favorecer a autonomia intelectual é muito importante que a exigência proposta pela situação de aprendizagem esteja adequada às possibilidades reais da criança, levando em conta sua estrutura mental, suas estratégias, seus conhecimentos prévios, os imperativos culturais de seu ambiente, seus interesses pessoais e que se tenha cuidado, especialmente com a gradação correta das dificuldades sucessivas em cada tema... a solução deve vir da própria manipulação do material pelo sujeito, analisando, juntos, as estratégias propostas e as tentativas de interpretação. Autoavaliação: Toda tarefa tem uma finalidade bem determinada indicada, e tal determinação mantém-se vigente durante todo o exercício. Apenas quando o sujeito souber de antemão o que é que está tentando adquirir, poderá auto avaliar seu rendimento e, ao finalizar cada sessão, será capaz de realizar um balanço em termos de: aprendido-continuar; aprendido-revisar; não aprendido. Historicidade: a frequência do paciente as sessões de atendimento variam muito e se comparada ao tempo que ele passa os outros momentos é muito pequena. Esse transcurso forma uma pequena história chamada tratamento, e para que esse se torne significativo é fundamental que se utilize o material que a criança traz de sua vida cotidiana, atendendo às suas experiências e interesses. Também é conveniente dedicar alguns minutos da sessão ao resgate daquilo que o paciente tem pensado. Informação: informação que precisamos dar ao sujeito para que possa aplicar suas estruturas cognitivas em um nível de realidade. Esta informação só é admitida na medida que se integra com pautas e esquemas que permitiram ao sujeito construir o mundo que ele habita até o presente momento. Indicação: o psicopedagogo em alguns momentos irá explicitar verbalmente as variáveis que definem a situação de aprendizagem. Assim, se tornarão manifestas as ações do sujeito e as relações que se estabelecem entre os objetos. Essa indicação lhe permite avançar para a auto explicação. O trabalho psicopedagógico, no momento da intervenção deve então ser planejado e traçado um plano de ação descrevendo o caminho pelo qual deverá seguir para que as dificuldades de cada paciente sejam superadas. É claro que, durante os atendimentos, podem ser observadas situações e ocorrerem entraves que alterem esse caminho, porém esse olhar direcionado permite ao profissional monitorar se os seus objetivos estão sendo alcançados, assim como refletir se precisa ou não mudar de estratégia ou apresentar aquele conceito de outra forma, exigindo do psicopedagogo um envolvimento ativo e constante no processo interventivo. 27 Além desse monitoramento duas fortes aliadas devem estar bastante envolvidas e esclarecidas dos seus papéis e do quanto elas impactam a aprendizagem do sujeito, que são a família e a escola. O trabalho se tornará ainda mais efetivo e fluirá de uma maneira mais adequada, contextualizada e generalizada para o paciente se o psicopedagogo conseguir envolver essas aliadas no seu trabalho, atualizando e informando com frequência e regularidade, por meio de relatórios e visitas os avanços e retrocessos do paciente, além de estabeleceram metas e estratégias de trabalho comum. A intervenção psicopedagógica é complexa e deve envolver todos elementos que influenciam e atuam com o paciente em relação a aprendizagem, visando sempre o seu desenvolvimento de forma adequada, respeitosa e contextualizada. Chegamos ao final da Unidade 1. Nela aprendemos que: 1. A intervenção psicopedagógica com caráter preventivo tem como característica atuar antes do problema aparecer ou estar instaurado. 2. A RTI é uma das formas de intervenção preventiva, também é conhecida como modelo de atendimento em pirâmide, ou em camadas, que se divide em três níveis: atendimento em sala de aula; atendimento em pequenos grupos no contra turno e atendimento individualizado no contra turno. 28 3. O atendimento em camadas visa atender cada criança de acordo com a sua necessidade, avaliando e analisando o que ela precisa para voltar a desempenhar suas atividades como os pares da mesma idade e conseguir acompanhar o ritmo de aprendizado da sala. 4. A intervenção preventiva além de atender as crianças realiza um monitoramento de como elas estão respondendo a intervenção, para assim medir se está funcionando e sendo eficaz. 5. O não responder as intervenções também levanta o alerta de que essas crianças podem ser consideradas de risco para transtornos de aprendizado, e assim são direcionadas ao atendimento mais especializado. 6. A intervenção preventiva na escola tem como objetivo atuar com toda equipe escolar e visa compreender como naquele local se estruturam e se estabelecem os processos de aprendizagem, analisando como todos os sujeitos e componentes naquele ambiente se relaciona. 7. A intervenção psicopedagógica remediativa, ao contrário da preventiva atua quando o problema já está instaurado, quando a dificuldade não está apenas começando ou a criança sinalizando, e sim quando ela já está instaurada e bem enraizada no sujeito. 8. O psicopedagogo é procurado, não quando a dificuldade da criança está começando e sim quando ela já está com tanta defasagem que a forma de atuar acaba tendo que ser diferente para ser suficiente das demandas que o sujeito precisa. 9. A atuação remediativa acaba sendo por necessidade mais direcionada e individualizada, para que consiga atender as reais necessidades de cada sujeito e compreender os seus processos únicos de se relacionar com a aprendizagem. 10. É a avaliação que guia e que orienta a intervenção. O primeiro momento envolve testes, tarefas, entrevistas e diversos outros instrumentos, com objetivo de identificar as áreas de dificuldade de cada pessoa, de compreender os processos de aprendizagem e de estabelecer onde estão as falhas que precisam ser trabalhadas para que o avanço aconteça. 11. Já a intervençãoirá organizar todas essas informações levantadas e traçar um plano de ação. A intervenção precisa ser pensada e organizada, e o ponto de partida é o conhecimento do psicopedagogo sobre a área que ele precisa trabalhar para auxiliar a criança que está com dificuldades, e por isso a importância do estudo, da leitura de livros, de artigos, de cursos e da formação continuada. 12. O objetivo de todo processo de intervenção é desaparecer com os sintomas do não aprender para que o paciente desempenhe da melhor maneira suas relações com a aprendizagem sem que existam entraves. 13. O trabalho se tornará ainda mais efetivo e fluirá de uma maneira mais adequada, contextualizada e generalizada para o paciente se o psicopedagogo conseguir envolver a escola e a família no seu trabalho, atualizando e informando com frequência e regularidade, por meio de relatórios 29 e visitas os avanços e retrocessos do paciente, além de estabeleceram metas e estratégias de trabalho comum. Bem, esperamos que você tenha gostado deste aprendizado. Pronto(a) para encarar mais um desafio? Então, resolva os exercícios abaixo e vamos, depois, para a Unidade II, certo? Até mais! 1) A psicopedagogia é uma profissão crescente dentro do Brasil. Para sua prática existe um código de ética disponível no site da ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia). Assinale a alternativa que não está de acordo com o exercício profissional do psicopedagogo. (A) O psicopedagogo está obrigado a guardar segredo sobre fatos de que tenha conhecimento em decorrência do exercício de sua atividade. (B) Entende-se como aceitável dentro da quebra de sigilo informar sobre o cliente a escola, relatando tudo que aconteceu durante o atendimento e as situações que o paciente compartilhou. (C) Deve manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que tratem o fenômeno da aprendizagem humana. (D) Deve assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado dentro dos limites da competência psicopedagógica. (E) Deve ter uma postura ética e responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes, não compactuando desse tipo de atitude. Fonte: (CFP - 2013 - Especialista - VIII Concurso / Conselho Federal de Psicologia, adaptado por PAZETO, 2019) _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 30 Gabarito: Resposta “B”. A relação de confiança entre paciente, psicopedagogo e família é construída e estabelecida a cada sessão, e conforme o vínculo vai se fortalecendo cada vez mais o sujeito e seus responsáveis podem compartilhar de situações e concepções delicadas e particulares. Cabe ao psicopedagogo manter sigilo do que foi conversado em terapia e não compartilhar, inclusive com a escola, sobre essas conversas. Ele somente poderá abordar esse assunto se a família permitir que seja compartilhado, senão será considerado quebra de sigilo e uma atuação que foge do código de ética do Psicopedagogo. 2) Em relação aos campos de atuação e a intervenção do psicopedagogo, analise as proposições abaixo, marque V (verdadeiro) ou F (falso) e responda: I. A saúde e a educação são os principais campos de atuação do psicopedagogo. II. A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento relacionado com o processo de aprendizagem. III. O trabalho psicopedagógico é de natureza clínica e institucional, de caráter curativo e/ou remediativo. A alternativa correta é: A. V V V. B. V V F. C. V F F. D. F V V. E. F F V. FONTE: (Prefeitura do Município de Acari - RN 2016 / Cargo: Psicopedagogo) _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ 31 _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ _______________________________________________________________ Gabarito: Alternativa correta é a B. Apenas o item III está incorreto, pois foi abordado que a forma de atuação do psicopedagogo pode ser remediativa, que também é chamada de curativa ou preventiva, que tem como função atuar antes do problema acontecer. Os dois nomes apresentados nessa alternativa são sinônimos. 32 II. OS DIFERENTES ESTILOS DE JOGOS E AS DIFERENÇAS CONCEITUAIS DO JOGAR E DO BRINCAR Olá, aluno(a)! Chegamos à Unidade II onde serão abordados os diferentes estilos de jogos e as diferenças conceituais do jogar e do brincar, iniciando a discussão com a compreensão da diferença dos conceitos de jogo, brinquedo e brincadeira. Depois, serão apresentados os tipos de jogos e habilidades que eles estimulam, finalizando com os jogos tecnológicos, compreendendo o seu uso e sua função na sociedade hoje. Muito bom, não é mesmo? Vamos estudar, aprender, nos divertir e ter em mãos ótimas ferramentas para utilizarmos tanto nas escolas quanto no setting de atendimento psicopedagógico. Preparado(a)? Mãos à obra! 2.1 Compreender as diferenças dos conceitos de Jogo, Brinquedo e Brincadeira Na primeira unidade foi explicado sobre os tipos de intervenção psicopedagógica, assim como o caminho para desenvolver uma intervenção adequada e contextualizada visando auxiliar o sujeito a superar as suas dificuldades e entraves no processo de aprendizagem. Nessa unidade será abordado um dos principais recursos que o psicopedagogo utiliza durante a intervenção, que são os jogos. Porém, apesar de ser um recurso extremamente comum, muitos profissionais não sabem como diferenciar as características do que estão utilizando, assim como podem não estabelecer quais áreas e habilidades cognitivas aquele recurso desenvolve e em que momento e contexto ele irá utilizar. 33 O jogo, o brinquedo e a brincadeira são recursos diferentes que podem ser utilizados durante as sessões de atendimento psicopedagógico, só que cada um possui suas características próprias e momentos para serem implementados. Cabendo ao psicopedagogo compreender e saber diferenciar cada um desses termos, que serão abordados e mais bem descritos a seguir. O conceito de Jogo não é fácil de ser definido, pois cada pessoa ao ouvir essa palavra já traz consigo uma associação que é entendida de maneiras e formas muito diferentes do que outra pessoa que ouve o mesmo termo. Sem contar que sociedades e comunidades de lugares diferentes acabam tendo uma visão e acreditam que jogos englobam um determinado grupo de ações que em outro local já não é visto como um jogo. O jogo pode ser encarado como um fazer obrigado e profissional, por exemplo, em um jogo de basquete ou de futebol, assim como ser utilizado em um domingo de manhã por um grupo de amigos que querem apenas desfrutar o prazer de uma simples partida de futebol (KISHIMOTO, 2011). Segundo a autora o jogo pode ser definido considerando três aspectos, que podem ser visualizados na Figura 8: Figura 8: Aspectos do jogo Fonte: (KISHIMOTO, 2011 p. 18, adaptado por PAZETO, 2019) O primeiro aspecto remete ao fato de que o jogo possui um sentido dentro de um contexto específico e é o resultado de um conjunto de ações, expressões e atitudes que para aquele grupo social tem uma função. O resultado de um sistema linguístico que funciona dentro de umcontexto social; Um sistema de regras; Um objeto 34 A forma como o jogo é visto e significado em cada lugar é que auxilia na compreensão do seu papel. Por exemplo, o jogo de arco e flecha, em alguns locais pode ser utilizado como algo de prazer e para competir, mas em uma tribo indígena ele é visto como um instrumento de defesa, de caça e possui uma função social totalmente oposta ao sentido de jogar (KISHIMOTO, 2011). O que designa o seu papel é o contexto e a concepção daquela comunidade e daquele momento histórico. O jogo tem uma característica, que é a mais marcante e que diferencia ele dos temais termos que serão abordados nessa unidade, que são as regras. São elas que direcionam a estrutura, a sequência, o formato que cada jogo possui e o que diferencia um determinado jogo de outro. Por exemplo, você pode utilizar o mesmo tabuleiro para jogar dama ou xadrez ou pegar o mesmo baralho para jogar tranca, truco, cascata, buraco, entre outros jogos. O que diferencia o uso do objeto baralho nesse contexto? As regras que serão utilizadas com aquelas cartas, pois são elas que caracterizam que o jogo agora é um e não o outro. Uma simples função atribuída a uma carta especifica já altera as regras e assim se transforma em outro jogo, podendo o mesmo objeto trazer consigo as mais diversas possibilidades de utilização (KISHIMOTO, 2011). A última característica envolve o objeto em si e as variações que ele possa assumir, por exemplo, um simples pião de madeira, pode ser confeccionado de ferro, de plástico, de algum material reciclado, porém ele não deixará de ser um pião. Poderá ser utilizado em um contexto de jogo para ver quem consegue deixar ele mais tempo girando, ou se o oponente é capaz de tirar o pião do adversário do espaço delimitado, entre outros. O jogo possui então 2 funções básicas, que podem ser visualizadas na Figura 9: Figura 9: Funções dos jogos Fonte: (RAU, 2011 pp. 32-33, adaptado por PAZETO, 2019) Função lúdica • a vivência propicia a diversão, o prazer, quando escolhido voluntariamente pela criança. Função educativa • quando a prática do jogo leva o sujeito a desenvolver seus saberes, seus conhecimentos e sua visão de mundo. 35 O jogo é caracterizado por possuir regras específicas que direcionam como as pessoas deverão agir, se comportar e interagir com os objetos para que o jogo aconteça como foi estruturado. Uma simples mudança de pequenas regras já se caracteriza em outro jogo, pois mudou e alterou seus fundamentos iniciais! Ele possui uma forma explícita e direcionada de acontecer! O conceito de brinquedo, ao contrário do de jogo pressupõem a utilização do objeto sem um conjunto de regras e ações determinadas, permitindo uma interação mais livre e espontânea. Ele não é utilizado de forma direcionada para que a criança seja capaz de desenvolver habilidades especificas ou exige uma utilização explicita e única, mas sim uma flexibilidade de criação, ação e expressão, permitindo que a criança reproduza padrões e conhecimentos sobre as mais diversas situações (KISHIMOTO, 2011). Kishimoto (2011, pp. 20-21) descreve que: Admite-se que o brinquedo represente certas realidades. Uma representação é algo presente no lugar de algo. Representar é corresponder a alguma coisa e permitir sua evocação, mesmo em sua ausência. O brinquedo coloca a criança na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as construções humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los. Duplicando diversos tipos de realidades presentes, o brinquedo metamorfoseia e fotografa a realidade. Não reproduz apenas objetos, mas uma totalidade social. Hoje os brinquedos reproduzem o mundo técnico e científico e o modo de vida atual, com aparelhos eletrodomésticos, naves espaciais, bonecos e robôs. A imagem representada não é uma cópia idêntica da realidade existente, uma vez que os brinquedos incorporam características como tamanho, formas delicadas e simples, estilizadas. 36 O brinquedo estimula na criança o imaginário, o interagir com o meio e com os objetos de acordo com que ela acredita que deve ser feito, representando a sociedade e contexto no qual ela está inserida. Pois, além de poder representar esses objetos reais, ele também pode refletir desenhos, personagens fictícios, cenários de outras realidades e de possibilidades inexistentes, como monstros, aliens, tecnologias que nem existem em nossa realidade, entre os mais diversos elementos. O brinquedo reflete a cultura, mas além disso, a forma como a criança é vista e inserida dentro da sua comunidade, mostrando tratamentos e crenças em relação ao universo infantil. Em determinado momento histórico a criança chegou a ser vista como um mini adulto e, portanto, não possuía necessidades específicas ou uma forma de ser estimulada que fosse diferente, então o brinquedo não era visto nem investido da mesma forma como se têm hoje, e tudo por conta de uma visão diferente da criança (KISHIMOTO, 2011). A criança mostra suas preferências por meio dos brinquedos que escolhe, já sinalizando o que gosta e o que não gosta. Durante tempos passados os brinquedos eram confeccionados com elementos do ambiente e provinham da imaginação e do processo fértil da mente de cada criança, e disso surgiam: bonecas de pano, bonecas de espiga de milho, carros e aviões de latas, garrafas e caixas e muito mais. Esse processo criativo ainda pode e deve ser incentivado em nossas crianças, pois o acesso a esses materiais, principalmente recicláveis é fácil e variado e é um excelente recurso para a imaginação (RAU, 2011). Qualquer objeto pode ser considerado um brinquedo? Não. Um objeto é considerado um brinquedo quando atende à função lúdica, que significa propiciar momentos de diversão, de brincadeira ou de jogo, atendendo a suas características conceituais. O cuidado com essa ideia passa pela reflexão de que nem tudo o que se vê ou pega pode se transformar em brinquedo. Isso só ocorre quando há a ação lúdica (RAU, 2011, p. 49). 37 O brinquedo pode ser utilizado como um suporte a brincadeiras, quando a criança coloca o lúdico em ação e utiliza esses objetos para brincar de uma forma livre, espontânea e sem estruturação, que pode ocorrer de forma individual ou em grupo. O brincar permite que a criança vivencie papeis, utilize suas funções motoras, afetivas, cognitivas e sociais para interagir com o outro ou com seus brinquedos. É uma forma da criança lidar e compreender o mundo adulto, contextualizado a sua realidade e a sua fase do desenvolvimento (RAU, 2011). A figura 10 descreve os principais aspectos da brincadeira: Figura 10: Aspectos da brincadeira Fonte: (KISHIMOTO, 2011, adaptado por PAZETO, 2019) As brincadeiras podem ser divididas basicamente em quatro tipos (KISHIMOTO 2008; RAU, 2011 p. 51-52): Educativas: caracterizada pela ação lúdica, com fins pedagógicos. Nesse sentido, a brincadeira educativa aborda a integração das áreas de desenvolvimento e aprendizagem. Mesmo quando o professor organiza seus objetivos priorizando uma determinada área de desenvolvimento a ser estimulada, ele deve observar que outras áreas estão interligadas; nesse sentido, atingir os objetivos propostos significa observar a criança em sua totalidade. Tradicionais: manifestação livre e espontânea da cultura popular e têm por objetivo estimular diferentes formas de relações sociais e o prazer de brincar... remonta à ideia do brincar por prazer, do brincar afetivo que constitui as relações de amizade, de família, mesmo em grupos em que as crianças tenham culturas e costumes diferentes. Faz-de-conta: encontra seus alicerces na representação de papéis e tem como condição a presença da situação imaginária.Os temas expressados pelas crianças nas brincadeiras de faz de Atividade espontânea da criança, sozinha ou em grupo. Constrói uma ponte entre fantasia e realidade, como a vivência de papéis e situações não bem compreendidas e aceitas em seu universo infantil. Possibilita a criança a imitação de diferentes papéis. 38 conta são parte integrante de seu mundo social e nele estão incluídos a família, o currículo e as interações com os colegas. Construção: Os jogos de construção fazem parte das brincadeiras há décadas, na forma de tijolinhos, que são montados e desmontados continuamente e, assim, abordam o desenvolvimento afetivo e intelectual. A construção nos jogos é um elemento importante para a abstração do mundo real e nesse sentido é necessário considerar a fala e a ação da criança, que muitas vezes expressa complicadas relações de seu cotidiano. Dessa forma, enquanto constrói, a criança possibilita ao educador perceber suas representações mentais, o que se refere ao seu mundo exterior e inferior. “Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação”, é um livro composto por diversos artigos que visam refletir o papel do lúdico e sua relação com o contexto educacional e terapêutico. Os artigos incorporados no livro fazem parte dos estudos e pesquisas conduzidos pelo Grupo Interinstitucional sobre o Jogo na Educação, com sede na faculdade de Educação da USP, constituído por docentes e pesquisadores vinculados às áreas do ensino de Matemática, Educação Especial, Pré-escola, Meios de Comunicação de Ensino e Psicologia escolar. Não deixe de ler o capítulo 1 que trata sobre o “O jogo e a educação infantil! KISHIMOTO, T. M. (Org.). Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez, 2011. A figura 11 apresenta de forma exemplificada a diferença entre o jogo, o brinquedo e a brincadeira: Figura 11: Exemplos de Jogo, Brinquedo e Brincadeira 39 Fonte: (RAU, 2011 p. 46) RAU, M. C. T. D. A ludicidade na educação: uma atitude pedagógica. Curitiba. Ibpex. 2011 40 2.2 Tipos de jogos e habilidades que eles estimulam; O jogo é um recurso muito utilizado pelo psicopedagogo e ele se mostra importante pois tem sua base em conteúdos e habilidades que fazem parte do dia a dia do paciente, como por exemplo, lidar com regras, interagir com os objetos em busca de um objetivo, observar os elementos do ambiente para encontrar a saída mais adequada, lidar com os diferentes tipos de linguagens, entre outros (RAU, 2011). Como explicado anteriormente o jogo pode ter uma função lúdica e uma função educativa, dependendo apenas da maneira como ele é aplicado e utilizado. Para o psicopedagogo as duas funções são úteis e possuem sua importância dentro do processo de intervenção, sendo que a escolha de como ele será aplicado dependerá do contexto e necessidades de cada paciente e momento em específico. Muitas crianças e adolescentes chegam para a avaliação psicopedagógica com a autoestima baixa e com uma relação com o aprender bastante afetada, acreditando que não são capazes, que não conseguem e muitas vezes não querendo lidar com nenhum recurso que lembre o ambiente e as exigências da escola, e é nesse quadro situacional que os jogos entram como um grande aliado para o trabalho com esses pacientes. Por meio dos jogos é possível mostrar que eles são capazes, assim como desenvolver diversas habilidades que esse mesmo sujeito precisa para superar suas dificuldades e entraves. O trabalho ocorre sem que o paciente perceba o que o psicopedagogo está trabalhando ou quais áreas está atingindo com aquela tarefa ou situação. Rau (2011, p. 34) descreve que: Quando você entra na ação do jogo, elabora metas (seus objetivos), prepara estratégias (sua ação cognitiva e motora no jogo), escolhe caminho (elabora hipóteses), brinca de “faz de conta” (vivencia papéis), raciocina e enfrenta desafios (tenta superar os obstáculos), vivencia emoções e conflitos (alegria, ansiedade), organiza o pensamento (supera os problemas, percebe erros e acertos) e sintetiza (compreende resultados, vencendo ou perdendo). Perceberam quantas habilidades estão envolvidas e são requeridas durante o processo de jogar? Por isso esse recurso é tão rico e deve ser utilizado nos atendimentos psicopedagógicos. 41 O psicopedagogo deve selecionar previamente os jogos que utilizará, jogar ele mesmo antes, para verificar as regras, as possibilidades e se esse recurso é adequado ou não para aquele momento. A figura 12 descreve os benefícios da utilização dos jogos: Figura 12: Benefícios da utilização dos jogos Fonte: (RAU, 2011 p. 65 adaptado por PAZETO, 2019) O objetivo para a escolha do jogo deve estar claro e definido, partindo de uma reflexão de qual resultado e quais finalidades estão querendo ser atingidas e compreender que os jogos funcionam então como um recurso que tem objetivos educacionais e interventivos para que o fim seja alcançado e as áreas predeterminadas sejam trabalhadas (RAU, 2011). Aprender a lidar com a ansiedade. Refletir sobre limites. Estimular a autonomia. Desenvolver e aprimorar as funções neuro- sensório motoras Desenvolver a atenção e a concentração Ampliar a elaboração de estratégias Estimular o raciocínio lógico e a criatividade Estimular alguma habilidade cognitiva específica Trabalhar conteúdos 42 Os jogos são uma das principais ferramentas para suprir a grande necessidade de movimento que as crianças têm. Os jogos podem ser divididos em categorias, que são: educativos, regras, tradicionais, cooperativos e dinâmicas de grupo (RAU, 2011). Cada tipo de jogo possui suas próprias características e influem na reflexão por parte do psicopedagogo em primeiro compreender em qual categoria o jogo por ele se enquadra, assim como determinar se é essa área ou não que o seu paciente precisa desenvolver: Educativos: jogos que estão relacionados à produção do conhecimento, ou seja, quando o jogo assume a função educativa por meio de uma ação intencional, direcionada e focada. São jogos que podem trabalhar conceitos educacionais também como: cores, letras, números, formas, distância, altura, posição, consciência corporal, entre outros. Regras: trabalham e envolvem limites, sequencias, planejamentos e exigem um comportamento específico por parte dos participantes para que os objetivos sejam alcançados. São oportunidades para desenvolver áreas como atenção, concentração, reflexão e criticidade, que são constantemente exigidas no ambiente de sala de aula. A forma de trabalho pode ser coletiva ou individual, o que estimula o sujeito a aprender a lidar com as regras e limites em relação a si mesmo e em relação ao outro, além de trabalhar empatia, parceria, cooperação, paciência, entre outros. Tradicionais: são aqueles que fazem parte da cultura e comunidade em questão e que são transmitidos entre as gerações como uma forma de se manter determinada tradição. Um exemplo envolve alguns jogos ligados ao folclore. Cooperativos: visam desenvolver em cada pessoa a consciência de grupo e a importância da cooperação para que um objetivo seja alcançado, de forma que o agir deve acontecer junto com o outro e não um contra o outro. Esses jogos visam quebrar o padrão 43 competitivo e muitas vezes violento de alguns jogos que exigem ataque e defesa, para estimular o trabalho em grupo. Dinâmicas de grupo: são jogos que podem ser utilizados nos mais diferentes tipos de contextos, educacional, empresarial, clínico (terapêutico) entre outros, e tem como objetivo levar aquele grupo refletir sobre determinada situação, integrar e desinibir o ambiente. Geralmente possuem um facilitador que direciona como e por onde o grupo deve seguir orientando com as regras e formas do jogo acontecer. Abed (2000,p. 136 apud RAU, 2011, pp. 159-160) descreve que os jogos de regras podem ser subdivididos em quatro categorias e ressalta quais são as áreas e habilidades trabalhadas e requeridas em cada um dos tipos, que são: i) Jogos de controle: são os que requerem uma precisão no movimento, como pega-varetas e jogo de botão. Possuem um efeito relaxante, exigindo que os movimentos corporais sejam calmos e são utilizados para crianças que precisam retardar respostas impulsivas, que tentam resolver seus exercícios escolares rapidamente, sem refletir; ii) Jogos de rapidez e reflexos: nesta categoria, os jogadores necessitam de rapidez na resposta a ser dada, como, por exemplo, o jogo do tapa certo ou do lince. Possuem efeito excitante, energético, exigem uma atenção concentrada. O trabalho com esses jogos beneficia as crianças que se distraem facilmente e que precisam desenvolver a concentração, pois o jogo implica em canalizar a energia direcionada para um objetivo; iii) Jogos de ataque e defesa: são os que se caracterizam por uma dinâmica em que atacar o oponente e dele defender-se é vital para alcançar a vitória. Como exemplo, temos o pique-bandeira, o caçador ou queimada. Os jogos de ataque e defesa abrem a possibilidade de se viver intensamente as questões ligadas à agressividade, o confronto direto, o destruir e ser destruído; iv) Jogos de expressão: são aqueles que solicitam aos jogadores que passem mensagens por meio do desenho ou mímica. Nestes tipos de jogos, cria-se uma situação em que há a exigência de que o simbólico e o dramático apareçam integrados ao jogo. Esse jogo auxilia a criança que tem dificuldade de se expor, facilitando vivenciar situações lúdicas que as levam a se defrontar com esse constrangimento. 44 Atividade de Aplicação No artigo “Intervenção com jogos: estudo sobre o Tangram”, disponível em: (http://www.scielo.br/pdf/pee/v19n1/2175-3539-pee-19- 01-00013.pdf - acesso em 10/10/19), os autores apresentam diversas formas de se observar como as crianças jogam para a partir de seus erros refletir e mostrar formas de avançar e de melhorar naquela tarefa. Leia o artigo e descreva a seguir como esse jogo pode ser utilizado para intervenção e quais áreas e habilidades podem ser trabalhadas e desenvolvidas com esse recurso: __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ Cada categoria de jogo apresentado evoca no sujeito uma reação diferente e por isso por mais simples que possa parecer escolher um jogo e utilizá-lo durante o atendimento psicopedagógico, não se pode deixar de lado a responsabilidade dessa escolha. O profissional precisa refletir sobre qual área ele gostaria de estimular e se a sua escolha irá favorecer ou atrapalhar que seu http://www.scielo.br/pdf/pee/v19n1/2175-3539-pee-19-01-00013.pdf http://www.scielo.br/pdf/pee/v19n1/2175-3539-pee-19-01-00013.pdf 45 objetivo seja alcançado. Por isso o conhecimento sobre cada estilo de jogo permite que todo material seja selecionado e filtrado de acordo com as necessidades e entraves na aprendizagem de cada paciente. 2.3 Jogos tecnológicos: compreendendo o seu uso e sua função na sociedade hoje Os jogos tecnológicos, também chamados de jogos eletrônicos se tornaram um tema de grande relevância e debate em nossa sociedade atual, pois com o avanço da tecnologia e da facilidade de acesso a esses estímulos surgiu junto a preocupação sobre o uso adequado desse recurso. Existem, portanto, formas positivas e negativas de se analisar o seu uso e a sua função, dependendo basicamente do estímulo e da área que se visa desenvolver. Um jogo eletrônico, realizado em um computador, tablet ou celular não exige da criança um movimento corporal ou um envolvimento motor mais amplo, mas sim concentra sua exigência em habilidades que brincam com o cognitivo, que estimulam a linguagem, a atenção, a memória, o raciocínio, planejamento, estratégias, entre outros. Rau (2011, p.168) descreve que: Nos jogos eletrônicos, o sujeito brinca com uma tela e é estimulado nas suas habilidades cognitivas, como o raciocínio, a atenção, a concentração e a memória, bem como habilidades psicomotoras, como a coordenação motora, a lateralidade e organização espacial e temporal. Na área afetiva, o indivíduo também necessita lidar com a frustração e a alegria. Porém, é uma reflexão individual e egocêntrica, que não estimula a autonomia e a criticidade, a coragem de comunicar- se abertamente e expor seus sentimentos. Um exemplo atual é observar como as pessoas se comunicam virtualmente, por meio de e- mails e mensagens de celular. Ao enviar uma mensagem afetiva a outra pessoa, não há a possibilidade de perceber como a outra a recebeu, quais foram as suas expressões faciais e corporais, a surpresa, os sentimentos envolvidos. Porém, os aspectos positivos dos jogos eletrônicos não devem ser negados, pois possibilitam uma gama maior de acesso a informações que trazem acontecimentos importantes no mundo inteiro. Assim, a sugestão é que esse brincar também seja mediado por adultos, como os professores e familiares e também por educandos jovens que estão atentos aos recursos tecnológicos atuais. A mediação acontecerá de forma a possibilitar a interação do educando com esses jogos. 46 É fundamental a mediação de um adulto para controlar e regular o uso dos jogos e estímulos eletrônicos com as crianças e adolescentes. Atividade de Aplicação No jornal da Unicamp foi publicado um artigo intitulado de “A infância não é virtual”, disponível em: (https://www.unicamp.br/unicamp/ju/669/ infancia-não-e-virtual – acesso em 10/10/19). A autora alerta sobre a importância de a criança interagir com o mundo real e menos com as telas, ressaltando que a questão não é o uso da tecnologia em si, mas sim o que elas deixam de fazer e das áreas que deixam de estimular quando focam apenas nesse recurso. Leiam o artigo e descrevam a seguir como foi a pesquisa que ela realizou com o grupo de crianças e quais conclusões ela chegou sobre o uso da tecnologia por esse grupo. __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________ __________________________________________________________
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