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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I (Teoria Geral do Processo Civil) 2019.2 2º /Manhã Arnaldo Boson Paes 1 DISCIPLINA CPC/2015 PLANO DE ENSINO CONTEÚDO BIBLIOGRAFIA METODOLOGIA AVALIAÇÕES APRESENTAÇÃO 2 O direito é um fenômeno que está presente em todas as sociedades. Como forma de controle social, regula as mais diversas condutas humanas. Por meio do direito, são impostos modelos culturais, ideais coletivos e valores sociais. O direito coordena os interesses na vida social de modo a organizar a cooperação entre as pessoas e compor os conflitos. Há intensa relação entre direito e sociedade, por meio de uma causalidade circular, com influências recíprocas. SOCIEDADE E DIREITO 3 Na sociedade, o direito exerce duas funções básicas: 1. DIREÇÃO DE CONDUTAS, fixando pautas, tipos ou modelos de comportamento, cuja observância é condição para evitar a sanção; 2. TRATAMENTO DE CONFLITOS, com intervenção posterior, em razão do não cumprimento das normas de direção de condutas, autorizando a imposição da sanção. FUNÇÕES DO DIREITO 4 A existência do direito não é suficiente para evitar os conflitos entre pessoas ou grupos sociais. O conflito ocorre quando uma pessoa, pretendendo determinado bem, não consegue obtê-lo. Isso pode ocorrer quando aquele que poderia satisfazer a pretensão não a satisfaz. Pode ocorrer também quando o próprio direito veda a satisfação voluntária da pretensão. Isso pode gerar insatisfações, cuja permanência é fonte de tensão individual e social. Resulta daí a necessidade de tratar os conflitos, resolvendo as insatisfações. O conflito de interesses corresponde à lide ou ao mérito, caracterizado por uma pretensão resistida ou insatisfeita. CONFLITOS E INSATISFAÇÕES 5 Mas a existência de um conflito de interesses não implica sempre a existência de um processo. Isso porque a lide é um fenômeno sociológico, que pode não estar contida em um processo jurisdicional. Isso ocorre quando o litígio é solucionado diretamente pelos interessados, por meio de autotutela ou autocomposição. Há casos em que o processo não contém uma lide, podendo envolver situações não litigiosas, como se dá na jurisdição voluntária. CONFLITOS E INSATISFAÇÕES 6 A lide, quando trazida ao processo, é vista como seu mérito, como seu conteúdo. O objetivo do processo é a justa composição da lide, atuando como meio para a realização da justiça. A solução dos conflitos pode se dá pela atuação de um ou de todos os sujeitos em conflito, ou por ato de terceiro. Pode ocorrer quando um dos sujeitos concorda com o sacrifício total ou parcial do próprio interesse (autocomposição) ou impõe o sacrifício do interesse alheio (autotutela). Pode ocorrer também quando um terceiro exerce o poder de solucionar o conflito, através da arbitragem ou da arbitragem. TRATAMENTO DOS CONFLITOS 7 CLASSIFICAÇÃO 1. AUTÔNOMAS (exercidas pelas próprias partes) 1.1. Autotutela (autodefesa) 1.2. Autocomposição 2. HETERÔNOMAS (exercidas por terceiro) 2.1. Arbitragem 2.2. Jurisdição TRATAMENTO DOS CONFLITOS 8 AUTOTUTELA (autodefesa) Um dos sujeitos do conflito impõe a sua vontade sobre a do outro, com satisfação do interesse próprio em prejuízo do interesse alheio. O “juiz da causa” é um dos litigantes, sendo solução vedada, em regra, por ser resquício da “justiça pelas próprias mãos” (CP, arts. 345 e 350). Justifica-se excepcionalmente pela impossibilidade de o Estado-juiz estar presente sempre que um direito esteja sendo violado ou ameaçado de violação. O direito reconhece a validade da autotutela no estado de necessidade, legítima defesa, direito de greve, desforço incontinenti do possuidor, direito de retenção. A autotutela, quando autorizada pelo direito, está sujeita a controle jurisdicional posterior. TRATAMENTO DOS CONFLITOS 9 AUTOCOMPOSIÇÃO Ocorre pela aceitação espontânea de um dos litigantes em sacrificar o interesse próprio, no todo ou em parte, em benefício do interesse alheio. Apesar da cultura da judicialização dos conflitos, a tendência atual é de estímulo à autocomposição, que assumem três formas: 1. Transação, por atitude bilateral, por meio de concessões mútuas; 2. Renúncia, por ato unilateral, por meio de renúncia à própria pretensão; 3. Submissão, por atitude unilateral, por meio de reconhecimento à pretensão do outro. TRATAMENTO DOS CONFLITOS 10 AUTOCOMPOSIÇÃO Pode ocorrer antes do processo, com o objetivo de evitá-lo, chamada autocomposição extraprocessual. Pode ocorrer no curso de processo já instaurado, chamada autocomposição endoprocessual. Pode ocorrer após negociação entre os interessados, com ou sem o auxílio de terceiros, chamados conciliadores ou mediadores. A conciliação envolve a participação de um sujeito, o conciliador, que sugere ou induz os litigantes à solução amigável. A mediação é a própria conciliação quando conduzida sem apresentação de propostas concretas aos litigantes. Os conciliadores e os mediadores nada decidem, pois a solução do conflito dependerá da vontade e da atividade de um ou de ambos os litigantes. TRATAMENTO DOS CONFLITOS 11 AUTOCOMPOSIÇÃO O CPC dedica várias normas à autocomposição: 1. Promove e estimula a solução consensual (art. 3º, §§ 2º e 3º); 2. Dedica capítulo para regular a mediação e a conciliação (arts. 165/175); 3. Atribui como dever do juiz promover, a qualquer tempo, a autocomposição (art. 139, V) 4. Estipula a tentativa de autocomposição antes da defesa (arts. 334 e 695); 5. Permite a homologação de acordo extrajudicial de qualquer natureza (arts. 515, III, e 725, VIII); 6. Permite que, no acordo judicial, seja incluída matéria estranha ao objeto litigioso (art. 515, § 2º). Há hoje uma Política Judiciária Nacional de Tratamento dos Conflitos de Interesses, criada pela Resolução 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça. TRATAMENTO DOS CONFLITOS 12 ARBITRAGEM Os litigantes buscam em uma terceira pessoa, de sua confiança, a solução amigável e imparcial (CPC, art. 3º, § 1º e Lei 9.307/1996). Trata-se de opção conferida a pessoas capazes para solucionar problemas relacionados a direitos disponíveis, permitindo que escolham o árbitro privado. Pode ser criada por meio de um negócio jurídico, chamado convenção de arbitragem, compreendendo a cláusula compromissória e o compromisso arbitral. Cláusula compromissória é a convenção em que as partes decidem, prévia e abstratamente, que as divergências oriundas de certo negócio jurídico serão resolvidas pela arbitragem. Compromisso arbitral é o acordo de vontades para submeter uma controvérsia concreta, já existente, ao juízo arbitral, dispensando o Poder Judiciário. TRATAMENTO DOS CONFLITOS 13 CARACTERÍSTICAS DA ARBITRAGEM Possibilidade de escolha da norma de direito material aplicável (Lei nº 9.307/1996, art. 2º, §§ 1º e 2º). Opção apenas para sujeitos capazes, titulares de direitos patrimoniais e disponíveis, decorrente da autonomia privada. Árbitro deve ser pessoa física e capaz, que atua como juiz de direito e de fato (Lei nº 9.307/1996, art. 13). Desnecessidade de homologação judicial da sentença arbitral (Lei nº 9.307/1996, art. 31). Sentença arbitral é título executivo judicial (Lei nº 9.307/1996, art. 31, e CPC, art. 515, VII). Possibilidade de controle jurisdicional da sentença arbitral, mas apenas em relação à sua validade (Lei nº 9.307/1996, arts. 32 e 33, caput). TRATAMENTO DOS CONFLITOS 14 JURISDIÇÃO Decorre da evolução da arbitragem facultativa para a arbitragem obrigatória. Há transição efetiva de uma justiça privada para uma justiça pública, em que o Estado impõe, por meio dos juízes, a solução do conflito. O Estado monopoliza a solução dos conflitos e a realização do direito, podendo autorizar, por meio de lei, sua realização através da arbitragem. Na jurisdição, a decisão é tomada por um terceiro, estranho ao conflito, chamado juiz, designado pelo Estado (CF, art. 5º, XXXV). Atua para reconhecer, efetivar e proteger situações jurídicas deduzidas, por meio de decisão não sujeita a controle externo e com aptidão para tornar-se definitiva. TRATAMENTO DOS CONFLITOS15 MECANISMOS ALTERNATIVOS Modos informais, chamados equivalentes jurisdicionais, assim justificados e caracterizados: 1. Consistem principalmente em evitar as dificuldades que impedem e dificultam o acesso ao Poder Judiciário; 2. Decorrem da explosão quantitativa e qualitativa de litígios, fruto da conscientização dos direitos e facilidade do acesso à justiça; 3. Justificam-se pela onerosidade e morosidade das vias jurisdicionais, decorrente da insuficiência de recursos e do formalismo processual; 4. Correspondem a formas não definitivas, pois podem ser submetidas ao controle jurisdicional posterior; 5. São exemplos a autotutela, a autocomposição, o julgamento por tribunais administrativos e a arbitragem. TRATAMENTO DOS CONFLITOS 16 O ordenamento jurídico divide-se em dois planos distintos e autônomos, que interagem, com influências recíprocas. O direito material (substancial) é o conjunto de normas que regulam as relações jurídicas referentes aos bens da vida. Envolve, por exemplo, direito constitucional, civil, penal, administrativo, empresarial, tributário, trabalhista. O direito processual (formal) é o conjunto de normas para garantia da atuação das normas de direito material, regulando o exercício da jurisdição, da ação, da defesa e do processo. Envolve, por exemplo, direito processual constitucional, processual civil, processual penal e processual trabalhista. Todo processo traz a afirmação de ao menos uma situação jurídica, entendida como o direito material afirmado. Há entre o direito material e o direito processual uma relação circular, em que o processo serve ao direito material, mas também é servido por ele, ajustando-se às suas finalidades. DIREITO E PROCESSO 17 O direito processual atua quando algum sujeito, afirmando um direito material, propõe uma ação, dando início ao processo. Regula o processo sob duas perspectivas distintas: 1. Interna, regulando a relação jurídica processual e as posições jurídicas dos sujeitos do processo; 2. Externa, regulando o procedimento, como sequência de atos para a produção de uma decisão e sua execução. As normas jurídicas atuam no processo como critérios distintos: 1. As normas materiais servem de critério para resolver os conflitos, como normas de julgamento; 2. As normas processuais ditam a forma como eles serão resolvidos, como normas de procedimento. DIREITO E PROCESSO 18 Quatro institutos fundamentais integram o direito processual e são os seus alicerces: 1. Jurisdição, atividade estatal destinada à composição dos conflitos de interesse; 2. Ação, direito a obter um pronunciamento do juiz acerca de uma pretensão; 3. Defesa, faculdade de resistir à pretensão deduzida em juízo; e 4. Processo, método, sistema, instrumento de composição dos conflitos de interesses. DIREITO PROCESSUAL 19 O direito processual é ciência autônoma, com objeto, método e princípios próprios, fazendo parte do direito público, com raízes no direito constitucional. O direito processual comporta especificações, envolvendo o processo civil, trabalhista, eleitoral, administrativo, penal, legislativo ou mesmo não estatal. Apesar das especificações, há pontos em comum que permitem integrar todos eles, com a formação da Teoria Geral do Processo. A TGP permite identificar a essência do direito processual, reunindo e harmonizando os institutos, princípios e as garantias, compondo o sistema processual. DIREITO PROCESSUAL 20 O direito processual civil trata do exercício da jurisdição, ação e defesa com relação a pretensões fundadas em normas de direito privado (civil, comercial) e público (administrativo, tributário, constitucional). Como exemplo, o direito civil regula o direito de posse, enquanto o direito processual civil disciplina as ações possessórias. Excluem-se do âmbito do processo civil as causas de natureza penal e, em parte, os processos que tramitam na Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral, sujeitos a disciplina específica. O processo civil corresponde ao processo comum, sendo suas normas fonte supletiva e subsidiária dos demais ramos do direito processual (CPC, art. 15). DIREITO PROCESSUAL 21 1. SINCRETISTA, até meados do século XIX, em que o direito processual não era vista como ciência autônoma, confundindo-se com o próprio direito material. 2. AUTONOMISTA, de meados do século XIX até meados do século XX, em que o direito processual passa a ser visto como ciência autônoma, com formulação científica de seus principais conceitos. 3. INSTRUMENTALIDADE, a partir de meados do século XX, em que o direito processual continua sendo visto como ciência autônoma, mas se ressalva ser instrumento a serviço do direito material, que deve conferir-lhe efetividade. 4. NEOPROCESSUALISTA, em que o direito processual desenvolve-se como ciência autônoma, ainda com relação de instrumentalidade com o direito material, mas é analisado sob as bases constitucionais contemporâneas. FASES DO DIREITO PROCESSUAL 22 Fontes do direito são os canais pelos quais as normas vêm ao mundo jurídico, sendo as formas de expressão do direito positivo. 1. A Constituição Federal, que enuncia grandes princípios e garantias do direito processual, bem como pela estruturação do Poder Judiciário e definição de suas competências. 2. A lei complementar federal, aprovada por maioria absoluta do Congresso Nacional, como a LOMAN (LC nº 35/1979) e a LOMPU (LC nº 75/1993). 3. A lei ordinária federal, pois a competência para tratar da legislação processual é exclusiva da União (CF, art. 22, I), sendo a principal delas o CPC/2015 (Lei nº 13.105/2015). FONTES DO DIREITO PROCESSUAL 23 4. Os tratados, convenções ou acordos internacionais firmados pelo Brasil, como o Pacto de São José da Costa Rica, que é a Convenção Americana de Direitos Humanos, que goza de status constitucional. 5. As Constituições e leis estaduais, pois a CF (art. 125, § 1º) atribui aos Estados a competência para definir a competência dos Tribunais de Justiça e sua organização judiciária (Lei Estadual nº 3.716/1979). 6. Os regimentos internos dos tribunais, que regulam as questões interna corporis (CF, art. 96, I, “a”). 7. A jurisprudência, principalmente com a força obrigatória dos precedentes, prevista com a súmula vinculante (CF, art. 102, § 2º) e agora reforçada pelo CPC/2015. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL 24 Norma processual é o preceito jurídico regulador do exercício da função jurisdicional pelo Estado-juiz, da ação pelo autor e da defesa pelo demandado, por meio do processo, compreendendo: 1. NORMAS DE ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA, que dispõem sobre a criação, estruturação e competência dos órgãos jurisdicionais e seus auxiliares; 2. NORMAS PROCEDIMENTAIS, que regulam o procedimento e todo o conjunto de atos coordenados e destinados à produção da decisão final e seu cumprimento; 3. NORMAS PROCESSUAIS EM SENTIDO ESTRITO, que disciplinam a relação jurídica processual, atribuindo aos seus sujeitos poderes, faculdades, direitos, obrigações, deveres e ônus processuais. Geralmente são de direito público, cogentes, obrigatórias, fixadas no interesse público, prevalecendo sobre o interesse particular das partes. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL 25 A norma processual aplica-se exclusivamente no território do Estado que a edita, por regular o exercício da jurisdição, típica função estatal. Essa dimensão no espaço expressa o princípio da territorialidade das normas processuais (CPC, arts. 1º e 13) Assim, a função jurisdicional será exercida por lei nacional e jamais por lei estrangeira, aplicando-se a lex fori. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte (CPC, arts. 13 e 16). Quando o ato processual for praticado no estrangeiro, deve observar o princípio da territorialidade. Logo, são válidos os atos quando obedientes à lei do país e compatíveis com a ordem jurídica brasileira. Há um sistema de cooperação internacional (CPC, arts. 26 a 41), com necessidadede homologação de decisão estrangeira (CPC, art. 960 a 965) NORMA PROCESSUAL NO ESPAÇO 26 A eficácia no tempo da norma processual vai, em princípio, de sua entrada em vigor até sua revogação. Isso porque a lei não pode prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada (CF, art. 5º, XXXVI e LINDB, art. 6º) A nova norma processual aplica-se imediatamente, mas deve respeitar “os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada” (CPC, art. 14). Assim, os fatos ocorridos e situações já consumadas no passado não se regem pela nova norma processual. Inversamente, não se regem pela norma processual já revogada os fatos ou situações que venham a ocorrer após a sua revogação. Logo, ao entrar em vigor, em 18.03.2016, o CPC/2015 passou a aplicar-se desde logo aos processos pendentes, ficando revogado o CPC/1973 (CPC, art. 1.046). NORMA PROCESSUAL NO TEMPO 27 A sucessão no tempo das normas processuais é regulada pelo direito intertemporal, a partir de três sistemas: 1. O SISTEMA DA UNIDADE PROCESSUAL, que considera o processo uma unidade, sendo regido por uma única lei, a antiga, que impede que a lei nova retroaja. 2. O SISTEMA DAS FASES PROCESSUAIS, considerando as fases postulatória, instrutória, decisória e recursal autônomas, cada fase podendo ser regida por lei distinta. 3. O SISTEMA DO ISOLAMENTO DOS ATOS PROCESSUAIS, pelo qual a lei nova não atinge os atos processuais praticados e seus efeitos, considerando o tempus regit actum. NORMA PROCESSUAL NO TEMPO 28 Aplica-se, em regra, o SISTEMA DO ISOLAMENTO DOS ATOS PROCESSUAIS, incidindo a nova lei imediatamente aos processos pendentes. Fatos ocorridos e situações já consumadas não se regem pela lei nova, pois o tempus regit actum. Não se regem pela lei velha os fatos ou situações processuais que venham a ocorrer depois de sua revogação. Em razão do direito adquirido processual, a lei nova não pode prejudicar ato já realizado e não deve atingir o direito a praticar novo ato. NORMA PROCESSUAL NO TEMPO 29 Como regra, a lei nova não incide sobre o prazo cujo curso começou sob o império de lei antiga. Também não atinge validade/invalidade de ato já praticado sob a vigência da lei antiga. Publicada a decisão, surge o direito ao recurso, daí a lei nova não atingir sua admissibilidade nem seus efeitos. Incide, como regra, o sistema do isolamento dos atos processuais (art. 1.046, caput). Há quem defenda a inaplicabilidade da lei nova quando dificultar o acesso à justiça ou quando prejudicar a tutela do direito material. NORMA PROCESSUAL NO TEMPO 30 PROCESSO E CONSTITUIÇÃO O sistema processual e os seus institutos devem ser analisados à luz da Constituição, verificando suas recíprocas influências, considerando a tutela constitucional do processo. Por isso o processo civil é ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais da CF (CPC, art. 1º). A interpretação do direito processual é determinada pelos princípios constitucionais, daí falar-se em neoprocessualismo, produto do neoconstitucionalismo. Reconhece-se a força normativa da Constituição, a eficácia normativa dos princípios, a transformação da hermenêutica jurídica e a expansão dos direitos fundamentais. Destacam-se os princípios processuais como normas fundamentais, que estruturam o modelo do processo civil e determinam a compreensão de todas as demais normas processuais civis. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 31 DEVIDO PROCESSO LEGAL Originário do due process of law, reúne as garantias e exigências relativas ao exercício do poder, por meio de fórmula sintética que reafirma a indispensabilidade e a autoridade de cada uma. “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal” (CF, art. 5º, LIV). Trata-se de um sistema de limitações ao poder, imposto pelo próprio Estado de Direito para preservação de seus valores democráticos. Como cláusula geral, tem conteúdo aberto, complexo, que está em permanente progresso e se concretiza por meio de outras garantias processuais. Indica que a todos é assegurado o direito a um processo devido, justo, adequado, leal e efetivo, com todas as garantias correspondentes. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 32 INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL Indica que nenhuma ameaça ou lesão a direito será excluída da apreciação jurisdicional (CF, art. 5º, XXXV e CPC, art. 3º). Corresponde ao direito fundamental de ação, de provocar o exercício da jurisdição ou de acesso à justiça. É um direito abstrato, com impossibilidade de exclusão da simples alegação, independente da procedência da pretensão. Compreende as garantias de acessibilidade, adequação, tempestividade e efetividade da tutela jurisdicional. Acessibilidade como garantia de ingresso em juízo sem óbices ilegítimos para busca de reconhecimento e satisfação de pretensões. Adequação como garantia de que a técnica processual deve ser adequada à realidade do direito material. Tempestividade como garantia da prestação da tutela jurisdicional em prazo razoável (CF, art. 5º, LXXVIII e CPC, art. 4º). Efetividade como garantia de real satisfação do direito judicialmente reconhecido, com sua concretização no mundo da vida (CPC, art. 4º). PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 33 JUIZ NATURAL Significa que os atos de exercício da função jurisdicional sejam realizados por juízes instituídos pela própria Constituição e competentes segundo a lei. Por isso “não haverá juízo ou tribunal de exceção” (CF, art. 5º, XXXVII) e “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (CF, art. 5º, LIII). No processo penal, garante o julgamento por órgão já existente e já competente no momento em que praticado o ato imputado a uma pessoa. No processo civil, implica: i) julgamento por juiz integrante dos órgãos indicados na CF (art. 92); ii) preexistência do órgão, sendo vedados tribunais de exceção instituídos depois de configurado o litígio; iii) juiz competente segundo a CF e a lei. Mas a competência passará para outro órgão nas hipóteses de extinção do órgão prevento ou de superveniência de novas normas que lhe alterem a competência absoluta (CPC, art. 43). PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 34 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA O processo é um procedimento estruturado em contraditório, sendo este exigência para o O CPC, no art. 9º, dispõe que “não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida”, proibindo a decisão-surpresa. O contraditório e a ampla defesa fundiram-se, formando um par indissociável, de modo que não há contraditório sem defesa, tampouco há defesa sem contraditório. Compõe-se de duas garantias: participação e possibilidade de influência na decisão. Contém dois elementos: informação necessária e reação possível, daí a necessidade de cientificar para a prática dos atos processuais, permitindo que a parte, querendo, possa reagir. Constitui-se em direito das partes e dever do juiz, de modo que possam as partes pedir, alegar e provar e o juiz assegure o contraditório efetivo (CPC, art. 7º). PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 35 IMPARCIALIDADE DO JUIZ O juiz tem o dever de agir com imparcialidade, sem considerar seus sentimentos e interesses, devendo atuar de acordo com o direito e a justiça. Mas a imparcialidade não significa neutralidade, pois o juiz tem liberdade para interpretar e decidir segundo os valores da sociedade. Para garantir a imparcialidade, a CF prevê garantias e impõe vedações aos magistrados (CF, art. 95). Também são estabelecidos casos em que, segundo a experiência, o juiz é considerado impedido (CPC, art. 144) ou suspeito (CPC, art. 145). Nesses casos o juiz se abstém de oficiar em dado processo ou pode ser recusado pela parte (CPC, arts. 146 a 148). PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 36 BOA-FÉ PROCESSUAL Os sujeitos do processo devem comportar-se de acordo com a boa-fé, observando o dever de lealdade. “Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé” (CPC, art. 5º). A boa-fé deve ser considerada objetivamente, independentementeda existência de boas ou más intenções. Extrai-se o princípio da cláusula geral da boa-fé, com fórmula aberta, capaz de alcançar uma infinidade de situações. O CPC impõe deveres àqueles que participam do processo com a finalidade de assegurar a lealdade processual (art. 77). A parte que litiga de má-fé no processo responde por perdas e danos (CPC, art. 79). Há no CPC regras de proteção à boa-fé, indicando situações que configuram a litigância de má-fé (art. 80). Aplicável multa ao litigante de má-fé, sem prejuízo da condenação em indenização por perdas e danos (CPC, art. 81). Decorre da boa-fé o dever de cooperação, que exige a colaboração dos sujeitos do processo para alcançar solução justa e efetiva (CPC, art. 6°). PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 37 IGUALDADE O princípio geral de igualdade (CF, art. 5º, caput) penetra no processo como princípio da igualdade das partes. Indica a necessidade de não criar desigualdades e de neutralizar as existentes. “É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais...” (CPC, art. 7º). Não se trata de igualdade apenas formal, mas substancial, significando tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. Isso justifica a concessão de assistência jurídica aos necessitados, o tratamento especial às causas de interesse de idosos e o reconhecimento de prerrogativas processuais aos entes públicos. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 38 PUBLICIDADE É a projeção para o âmbito do processo do direito à informação (CF, art. 5º, XIV). “A lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem” (CF, art. 5º, LX), o que é reforçado pela CF, art. 93, IX). Por isso “Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadastodas as decisões, sob pena de nulidade” (CPC, art. 11). “Nos casos de segredo de justiça, pode ser autorizada a presença somente das partes, de seus advogados, de defensores públicos ou do Ministério Público” (CPC, art. 11, parágrafo único) “Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os processos: I - em que o exija o interesse público ou social; II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável, filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes; III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade; IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo (CPC, art. 189). “O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores” (CPC, art. 189, § 1º). PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 39 MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES O juiz tem a liberdade de formar livremente seu convencimento, mas tem o dever de motivar suas decisões. A motivação é exigência para legitimar e dar transparência ao exercício do poder do juiz, permitindo o controle pelas instâncias superiores e pela opinião pública. Está previsto na CF, art. 93, IX e em diversas normas do CPC, como no art. 489, caput e§ 1º, e no art. 371. Considera-se não motivada decisão que se omita sobre pontos de fato ou de direito cujo exame pudesse conduzir a julgamento diferente. A falta ou insuficiência de motivação constitui vício formal, caracterizando nulidade absoluta. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 40 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Decorre da estruturação do Poder Judiciário em dois ou mais graus, representados pelos juízes inferiores e pelos tribunais de várias posições (CF, art. 92 e ss). Razões diversas justificam o reconhecimento da competência dos tribunais para revisar as decisões dos juízes inferiores, permitindo o reexame do que já foi decidido. Garante-se o recurso à parte vencida, possibilitando que tenha acesso aos tribunais com suas insatisfações em relação à decisão desfavorável. Impõe-se, em regra, o processamento inicial das causas pelos juízes inferiores, para só depois, se houver recurso, legitimar-se a atuação dos tribunais. Inexiste observância obrigatória, pois pode haver decisões irrecorríveis, casos em que a parte não terá direito a novo julgamento por órgão superior. PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 41 PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO Assegura o direito à “solução integral demérito” (CPC, art. 4º). O órgão julgador deve priorizar a decisão de mérito, tendo-a como objetivo e fazendo o possível para obtê-la. Por isso todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha decisão de mérito (art. 6º). O juiz tem o dever de determinar a correção da incapacidade processual (art. 76). Deve também o juiz determinar a correção de pressupostos e o saneamento de outros vícios processuais (art. 139, IX). Quando puder decidir o mérito a favor de quem aproveita a nulidade, o juiz não a pronunciará (art. 282, § 1º). Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá conceder à parte oportunidade para corrigir o vício (art. 317). O juiz, antes de indeferir a inicial, determinará que o autor a emende ou a complete (art. 321). PRINCÍPIOS PROCESSUAIS 42 PERSPECTIVAS DA JURISDIÇÃO 1. ENQUANTO PODER, significando a capacidade de decidir imperativamente e impor decisões; 2. ENQUANTO FUNÇÃO, correspondendo ao encargo de resolver os conflitos, através do processo; 3. ENQUANTO ATIVIDADE, compreendendo o complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e a função que a lei lhe atribui. CONCEITO DE JURISDIÇÃO 43 ESCOPOS DA JURISDIÇÃO 1. COMO ESCOPO JURÍDICO, é meio de realização do direito material, garantindo a atuação das normas substanciais contidas no ordenamento jurídico. 2. COMO ESCOPO SOCIAL, é meio de promover a pacificação social e de educar as pessoas para o respeito a direitos alheios e para o exercício de seus direitos. 3. COMO ESCOPO POLÍTICO, é meio de participação política e de exercício da cidadania, contribuindo para os destinos da sociedade política. CONCEITO DE JURISDIÇÃO 44 “A jurisdição é a função atribuída a terceiro imparcial de realizar o Direito de modo imperativo e criativo (reconstrutivo), reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas concretamente deduzidas, em decisão insuscetível de controle externo e com aptidão para tornar-se indiscutível” (Fredie Didier Jr, Curso de Direito Processual Civil, v. I). CONCEITO DE JURISDIÇÃO 45 1. IMPARTIALIDADE, com exercício por terceiro, e não por parte, com amplos poderes jurisdicionais. 2. IMPARCIALIDADE, pela condição de desinteressado, que não se confunde com neutralidade, pressupondo independência, autoridade e responsabilidade. 3. SUBSTITUTIVIDADE, em que substitui as partes, formulando juízo sobre a atividade destas. 4. IMPERATIVIDADE, sendo emanada de um poder estatal e que se impõe coativamente. 5. INEVITABILIDADE, em face do estado de sujeição das partes, que não podem evitar a incidência da autoridade estatal. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO 46 6. CRIATIVIDADE JUDICIAL, criando a norma individualizada para resolver o caso concreto. 7. INÉRCIA, dependendo da provocação do interessado, ficando o órgão jurisdicional vinculado ao que foi demandado. 8. LITIGIOSIDADE, atuando principalmente em situações jurídicas litigiosas, diante de ameaça ou lesão a direito. 9. IMPOSSIBILIDADE DE CONTROLE EXTERNO, com decisão final, última, não sujeita a controle por nenhuma outra função estatal. 10. DEFINITIVIDADE, com aptidão para a coisa julgada, que se forma quando a decisão se tornou irrecorrível, alcançando a imutabilidade. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO 47 A tendência atual inclui no conceito de jurisdição, além da exercida pelo juiz estatal, a desenvolvida por meio da arbitragem, chamada de equivalente jurisdicional. Desaparece a ideia de monopólio estatal da jurisdição, embora se reconheça as diferenças entre as duas espécies de jurisdição,que não são tantas nem tão profundas. Ambas são exercidas com fundamento em um poder, mas a fonte de poder do árbitro não é o imperium soberano do Estado, mas o acordo de vontade das partes. A jurisdição arbitral também tem caráter substitutivo, mas não envolve atos de constrição sobre pessoas ou bens, podendo exigir provocação da jurisdição estatal para execução do laudo. Inexiste a inevitabilidade própria da jurisdição estatal, pois o árbitro somente atua se, quando e na medida em que aceitarem os litigantes. JURISDIÇÃO ESTATAL E JURISDIÇÃO ARBITRAL 48 1. JUIZ NATURAL, que proíbe juízo ou tribunal de exceção e o que determina que ninguém será processado senão pela autoridade competente (CF, art. 5º, XXXVII e LIII). 2. INVESTIDURA, indicando que a jurisdição será exercida pelos juízes e tribunais investidos constitucional e legalmente (CPC, art. 16). 3. TERRITORIALIDADE, dispondo que os magistrados só tem autoridade nos limites do território de sua jurisdição (CPC, arts. 236, 237 e 255). 4. INDELEGABILIDADE, estabelecendo que a função jurisdicional não pode ser delegada a outro órgão ou a outro sujeito (CF, art. 93, XIV e CPC, art. 152, VI e § 1º). PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO 49 5. INEVITABILIDADE, que coloca os jurisdicionados em estado de sujeição, submetendo-os às decisões independe da anuência. 6. INAFASTABILIDADE, que não exclui da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito (CF, art. 5º, XXXV, e CPC, art. 3º). 7. INÉRCIA, que atribui à parte a iniciativa de provocar o exercício da função jurisdicional (CPC, art. 2º). PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO 50 Não existe pluralidade de jurisdições, haja vista que o poder estatal não comporta divisões. A jurisdição é una, uma vez que o Estado só tem uma função jurisdicional. O que há na realidade é a repartição das atribuições jurisdicionais entre diferentes órgãos. Essa repartição considera diversos critérios, com o objetivo de melhor administrar a justiça. ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO 51 SEGUNDO A MATÉRIA 1. PENAL, que recai sobre pretensões punitivas, com aplicação do direito penal; 2. CIVIL, em sentido amplo, que se exerce sobre causas não penais. SEGUNDO A JUSTIÇA COMPETENTE 1. COMUM, para apreciação de causas em geral, com competência residual; 2. ESPECIAL, para apreciação de causas fundadas em ramos específicos do direito. SEGUNDO A POSIÇÃO HIERÁRQUICA DO ÓRGÃO 1. SUPERIOR, exercida pelos tribunais para apreciação de recursos ou ações originárias indicadas; 2. INFERIOR, exercida pelas Varas e Juízos para apreciação de ações originárias, aí geralmente iniciadas. ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO 52 SEGUNDO O MODO COMO O JUIZ SE COMPORTA DIANTE DO CONFLITO 1. CONTENCIOSA, regra geral, envolvendo ameaça ou lesão a direito, que atua diante de uma lide, para composição de conflitos de interesses; 2. VOLUNTÁRIA, para a prática de certos atos, considerada simples administração pública de interesses privados, mas enquadrada como atividade jurisdicional. SEGUNDO AS FONTES FORMAIS DO DIREITO 1. DE DIREITO, regra geral, destinada à aplicação do direito ao caso concreto, em atividade criativa, mas observando a ordem jurídica; 2. DE EQUIDADE, quando autorizada, destinada à criação da norma do caso concreto, adotando a solução que considerar mais conveniente ou oportuna (arts. 140,§ 1º e 719 e ss). ESPÉCIES DE JURISDIÇÃO 53 O exercício do poder pelo Estado é dividido e distribuído entre vários órgãos, por meio de um sistema de freios e contrapesos. Assim, as funções básicas do Estado (legislação, administração e jurisdição) são exercidas por órgãos diversos, resultando daí o princípio da separação dos poderes. O Poder Judiciário é uno e exerce principalmente a função jurisdicional, destinada ao o reconhecimento e à efetivação de direitos. O Poder Judiciário é nacional, sendo um único e mesmo poder que atua por meio de vários órgãos estatais, federais e estaduais. ÓRGÃOS DA JURISDIÇÃO 54 A TUTELA CONSTITUCIONAL DA ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA estabelece: 1. O elenco fechado dos órgãos jurisdicionais do país, fora dos quais não se admite o exercício da jurisdição pelo Estado; 2. Garantias institucionais do Poder Judiciário e individuais aos juízes; 3. A estrutura judiciária brasileira, constituída de órgãos distribuídos entre as diversas Justiças e órgãos superpostos a estas; 4. A composição e a competência dos órgãos de superposição; 5. A estrutura e competência de cada uma das Justiças da União, nos diversos graus jurisdicionais; 6. A observância dos princípios constitucionais pelos Estados na organização de suas Justiças, cabendo às Constituições Estaduais disciplinar a competência dos tribunais; e 7. A determinação de que leis locais de organização judiciária sejam necessariamente de iniciativa do Tribunal de Justiça. ÓRGÃOS DA JURISDIÇÃO 55 GARANTIAS INSTITUCIONAIS DO PODER JUDICIÁRIO O Poder Judiciário goza de independência, assegura-se o seu autogoverno e sua autonomia administrativa e financeira, que se desdobram em outras garantias e prerrogativas: 1. Eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos; 2. Organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos seus juízos; 3. Prover os cargos de juiz de carreira; 4. Propor a criação de novas varas judiciárias; 5. Prover os cargos necessários à administração da justiça; e 6. Conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores. ÓRGÃOS DA JURISDIÇÃO 56 GARANTIAS, IMPEDIMENTO E VEDAÇÕES DOS JUÍZES Para assegurar a independência e a imparcialidade, aos juízes são conferidas GARANTIAS (CF, art. 95, caput): 1. Vitaliciedade; 2. Inamovibilidade; e 3. Irredutibilidade de subsídio. Também são impostos IMPEDIMENTOS e VEDAÇÕES (CF, art. 95, parágrafo único): 1. Exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; 2. Receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; 3. Dedicar-se à atividade político-partidária; 4. Receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições; 5. Exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo. ÓRGÃOS DA JURISDIÇÃO 57 O art. 92 da CF relaciona os órgãos que exercem a jurisdição estatal: I - o Supremo Tribunal Federal; II - o Superior Tribunal de Justiça; III - os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV - os Tribunais e Juízes do Trabalho; V - os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI - os Tribunais e Juízes Militares; VII - os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. O Conselho Nacional de Justiça faz parte do Poder Judiciário, mas não exerce jurisdição (CF, art. 92, I-A). O CNJ faz o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. ÓRGÃOS DA JURISDIÇÃO 58 59 60 61 CONCEITO A jurisdição é exercida em todo território nacional, mas são especializados setores para exercê-la. A competência é o resultado de critérios para distribuir entre vários órgãos as atribuições para o desempenho da jurisdição. É o poder de exercer a jurisdição dentro dos limites estabelecidos por lei, sendo, portanto, o âmbito dentro do qual o juiz exerce jurisdição. Como a competência é a medida da jurisdição, cada órgão só exerce a jurisdição dentro da medida que lhe fixam as regras sobre a competência. Portanto, a competência é definida pela delimitação do exercício legítimo do poder jurisdicional. COMPETÊNCIA 62 DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA Critérios: i) constituição diferenciada de órgãos; ii) reunião da massa de causas em grupos; iii) atribuir da massa de causas ao órgãos mais idôneos. Instrumentos normativos: i) normas constitucionais; ii) normas legais; iii) normas regimentais; iv) normas negociais - foro de eleição (CPC, art. 44). A CF já distribui a competência entre os órgãos de sobreposição (STF, STJ) e as Justiças Especiais (Federal, Eleitoral, Trabalhista e Militar). A competência da Justiça Estadual é residual. Competências na CF: STF (art.102), STJ (105), Justiça Federal (109), Justiça do Trabalho (art. 114), Justiça Eleitoral (art. 121), Justiça Militar (art. 124) e Justiça Estadual (ar. 125). Os princípios da tipicidade e da indisponibilidade da competência integram o princípio do juiz natural, sendo a competência intransferível e indelegável. Há competências implícitas (implied power), de modo que, se não houver previsão explícita do órgão competente, ainda assim a causa deve ser decidida. COMPETÊNCIA 63 DETERMINAÇÃO DA COMPETÊNCIA 1. Determina-se primeiro se a justiça brasileira é competente, segundo os arts. 21 e 22 do CPC. 2. Determina-se em seguida qual o órgão jurisdicional brasileiro é competente, no âmbito de nossa competência interna. 3. Determina-se se há competência originária de órgãos de superposição, STF e STJ, segundo os arts. 102, I, e 105, I, da CF. 4. Determina-se se uma das justiças especiais é competente, segundo os arts. 109 (Federal), 114 (Trabalho), 121 (Eleitoral) e 124 (Militar) da CF. 5. Determina-se se não é da competência residual da Justiça Estadual, segundo o art. 125 da CF. 6. Determina-se se a causa é de competência originária do Tribunal ou, por exclusão, de competência originária de juízo de primeira instância. 7. Determina-se o foro competente, ou seja, a unidade territorial em que a causa deve ser julgada. 8. Determina-se, naquele foro, qual o juízo competente, conforme definido na lei de organização judiciária. COMPETÊNCIA 64 COMPETÊNCIA ABSOLUTA E RELATIVA A COMPETÊNCIA ABSOLUTA é improrrogável, com regras cogentes e indisponíveis, fixadas no interesse público: 1. Em razão da matéria, por ser aquele juízo especializado o mais idôneo para apreciá-la, considerando a natureza da relação jurídica controvertida; 2. Em razão da pessoa, também por uma questão de especialização e idoneidade, considerando as partes envolvidas; 3. Em razão do valor da causa, considerando os limites estabelecidos pelo legislador, como nos Juizados Especiais. A COMPETÊNCIA RELATIVA é prorrogável, com regras dispositivas, fixadas no interesse das partes: 1. Em razão do território, visando assegurar mais comodidade e facilidade no acesso à justiça. 2. Em razão do valor, quando o órgão pode julgar causas a partir de certo valor. COMPETÊNCIA 65 INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA Pode ser alegada a qualquer tempo, por qualquer das partes, podendo ser reconhecida ex officio (CPC, art. 64, § 1º) e alegada como preliminar de contestação pelo réu (CPC, art. 64, caput). Trata-se de defeito grave, daí por que, transitada em julgado a última decisão, ainda será possível, no prazo de dois anos, desconstitui-la por ação rescisória (CPC, art. 966, II). A regra de competência absoluta não pode ser alterada por vontade das partes, conexão ou continência. Mudança superveniente de competência absoluta impõe o deslocamento da causa para outro juízo, excetuando a perpetuação da competência. COMPETÊNCIA 66 INCOMPETÊNCIA RELATIVA Somente pode ser alegada pelo réu, na contestação, sob pena de preclusão e prorrogação da competência do juízo, não podendo ser conhecida ex officio. As partes podem modificar voluntariamente, quer pelo foro de eleição (CPC, art. 63), quer pela não alegação (CPC, art. 65, caput). Pode ser modificada por conexão ou continência. A competência territorial é, em regra, relativa, como também a competência em razão do valor, quando ficar aquém do limite legal. Mudança superveniente de competência relativa é irrelevante para o processo, mantida a perpetuação da competência. COMPETÊNCIA 67 COMPETÊNCIA INTERNACIONAL Limita o exercício da jurisdição brasileira considerando razões de relevância e de efetividade. Inexiste ordem internacional que defina os limites da jurisdição de cada país, o que é feito pela legislação nacional. Na definição dos limites, cada país exercerá sua soberania e respeitará a soberania do outro. Incide a plenitude da jurisdição do Estado em seu próprio território. As regras de jurisdição de um Estado não são oponíveis à jurisdição de outros Estados. O Estado soberano é imune ao julgamento de outro, derivando daí a imunidade de jurisdição (relativa, para atos de império, excluída a execução). É vedado o non liquet, não podendo um Estado negar a jurisdição quando não há outro competente. Havendo mais de um Estado competente, a escolha cabe à parte (forum shopping). Reconhecida a escolha abusiva, pode haver recusa do juízo escolhido (forum non conveniens). COMPETÊNCIA 68 COMPETÊNCIA INTERNACIONAL CONCORRENTE (CUMULATIVA) Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que: I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil; II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal (CPC, art. 21). Compete, ainda, processar e julgar as ações: I - de alimentos, quando: a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional (CPC, art. 22). COMPETÊNCIA 69 COMPETÊNCIA INTERNACIONAL EXCLUSIVA Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra: I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional; III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional (CPC, art. 23). COMPETÊNCIA 70 COMPETÊNCIA TERRITORIAL O foro para as ações pessoais (obrigações) e reais (domínio) sobre bens móveis é o do domicílio do réu (CPC, art. 46), observado o seguinte: 1. Se o réu tiver mais de um domicílio, pode ser acionado no foro de qualquer deles (§ 1º); 2. Se o réu tiver domicílio incerto ou desconhecido, pode ser acionado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor (§ 2º); 3. Se o réu tiver domicílio ou residência no exterior, poderá ser acionado no foro de domicílio do autor, e, se este também residir no exterior, a ação será proposta em qualquer foro (§ 3º); 4. Se houver dois ou mais réus com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor (§ 4º); 5. Se for execução fiscal, a ação será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado (§ 5º). COMPETÊNCIA 71 COMPETÊNCIA TERRITORIAL O foro para as ações reais imobiliárias será exclusivamente o da situação do bem imóvel (CPC, art. 47, caput), observado o seguinte: i) O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova (§ 1º); ii) A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa, cujo juízo tem competência absoluta (§ 2º) COMPETÊNCIA 72 OUTROS FOROS 1. Para ações de inventário, partilha, arrecadação, cumprimento de disposições de última vontade, impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu o foro competente é o domicílio do autor da herança (falecido) (CPC, art. 48). 2. Para as causas em que o incapaz for réu é competente o foro de domicílio de seu representante ou assistente (CPC, art. 50); 3. Para as ações em que a União for autora é competente o foro de domicílio do réu (CPC,art. 51); 4. Se a União for a demandada, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou no Distrito Federal (CPC, art. 51, parágrafo único); 5. Para as causas em que seja autor Estado ou Distrito Federal, é competente o foro de domicílio do réu (CPC, art. 52); 6. Se Estado ou o Distrito Federal for o demandado, a ação poderá ser proposta no foro de domicílio do autor, no de ocorrência do ato ou fato que originou a demanda, no de situação da coisa ou na capital do respectivo ente federado (CPC, art. 52, parágrafo único) COMPETÊNCIA 73 OUTROS FOROS CPC, art. 53. É competente o foro: I - para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável: a) de domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) de domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal; II - de domicílio ou residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; COMPETÊNCIA 74 OUTROS FOROS CPC, art. 53. É competente o foro: III - do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica; b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica contraiu; c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação sem personalidade jurídica; d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento; e) de residência do idoso, para a causa que verse sobre direito previsto no respectivo estatuto; f) da sede da serventia notarial ou de registro, para a ação de reparação de dano por ato praticado em razão do ofício; COMPETÊNCIA 75 OUTROS FOROS CPC, art. 53. É competente o foro: IV - do lugar do ato ou fato para a ação: a) de reparação de dano; b)em que for réu administrador ou gestor de negócios alheios; V - de domicílio do autor ou do local do fato, para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, inclusive aeronaves. COMPETÊNCIA 76 CONCEITO Ação tem vários significados, sendo utilizado para referir ao direito de ação, ao procedimento, à demanda e ao direito afirmado em juízo. Direito de ação é o direito fundamental que garante ao seu titular o poder de acessar os tribunais e exigir deles a tutela jurisdicional. Ação, também chamada demanda, decorre do exercício do direito de ação, sendo fato gerador do processo, que fixa os limites da atividade jurisdicional. Direito de ação não se confunde com o direito que se afirma em juízo, daí dizer-se que o direito de ação e o direito afirmado são distintos e autônomos. Diz-se que o direito de ação é abstrato, pois independe do conteúdo do que se afirma quando se provoca o exercício da jurisdição. A ação é o primeiro ato do procedimento jurisdicional, daí que a ação instaura o procedimento, que deve ser adequado a tutelar o direito afirmado na demanda. O procedimento, por fim, é o conjunto de atos organizados tendentes à produção de um ato final. AÇÃO 77 CONDIÇÕES O exercício da ação dispensa a existência do direito subjetivo material sustentando pelo autor. Mas depende de como em cada caso concreto o direito à sentença de mérito se relaciona com a ordem jurídica material e com a situação em que o autor se encontra em relação à sua pretensão. Enfatizou o CPC/1973 as condições da ação como requisitos para que, em que em cada situação concreta considerada, o autor tenha direito ao pronunciamento jurisdicional de mérito. Adotou o termo “condições da ação”, fixando que o processo será extinto, sem resolução de mérito, quando não concorrer quaisquer das condições (art. 267, VI). Fixou o CPC/1973 que a ausência das condições implica “carência de ação” (301, X), relacionando as seguintes condições da ação: i) possibilidade jurídica do pedido; ii) legitimidade das partes; e iii) interesse processual. AÇÃO 78 CONDIÇÕES Enfatizou o CPC/1973 as condições da ação como requisitos para que, em que em cada situação concreta considerada, o autor tenha direito ao pronunciamento jurisdicional de mérito. Adotou o termo “condições da ação”, fixando que o processo será extinto, sem resolução de mérito, quando não concorrer quaisquer das condições (art. 267, VI). Fixou o CPC/1973 que a ausência das condições implica “carência de ação” (301, X), relacionando as seguintes condições da ação: i) possibilidade jurídica do pedido; ii) legitimidade das partes; e iii) interesse processual. AÇÃO 79 CONDIÇÕES Mas o CPC/2015 não trata mais de condições da ação: o art. 485, VI não se refere à “possibilidade jurídica do pedido”, mas apenas à “legitimidade” e ao “interesse de agir”; não há mais uso da expressão carência de ação; o assunto “condições da ação” desaparece por falta de previsão legal. Assim, a “possibilidade jurídica do pedido” é examinada como caso de improcedência liminar do pedido; a legitimidade de parte e o interesse de agir passam a ser examinados como pressupostos processuais. O interesse de agir estará presente quando o provimento jurisdicional postulado for capaz de efetivamente ser útil ao demandante, operando uma melhora na sua vida comum, de modo que o interesse identifica-se com a utilidade. A legitimidade para agir, chamada ad causam, é a qualidade para estar em juízo como demandante ou demandado em relação a determinado conflito trazido ao exame do juízo, dependendo sempre de uma concreta relação entre o sujeito e a causa. AÇÃO 80 COMPLEXIDADE DO DIREITO DE AÇÃO O direito de ação não é o simples direito de demandar, de ingressar em juízo, pois tem conteúdo complexo, compreendendo: 1. Direito de provocar a atividade jurisdicional; 2. Direito às garantias do devido processo legal; 3. Direito a um procedimento adequado; 4. Direito a técnicas processuais adequadas; 5. Direito à prova; 6. Direito ao recurso; 7. Direito à tutela jurisdicional efetiva. O direito de ação garante, entre outras prestações, um processo adequado, paritário, tempestivo, leal e efetivo. AÇÃO 81 A DEMANDA E A RELAÇÃO JURÍDICA MATERIAL O termo “demanda” possui dois sentidos: 1. É o ato de ir a juízo apresentando uma postulação; 2. É também o conteúdo dessa postulação. Isso porque toda ação exercida pressupõe a existência de uma relação jurídica de direito material. Há correspondência entre os elementos da demanda, a chamada relação processual, e os elementos da relação de direito material: 1. A relação de direito material tem como elementos os sujeitos, o fato jurídico e o objeto; e 2. A demanda tem como elementos as partes, a causa de pedir e o pedido. AÇÃO 82 ELMENTOS Ao exercer o direito de ação, o autor formula um pedido em face do réu, com base em dado fundamento, daí os elementos da ação: 1. Partes (autor - aquele que pede; e réu - aquele em face de quem se pede); 2. Causa de pedir (os motivos ou fundamentos do pedido); 3. Pedido (aquilo que se pede). Os elementos da ação são extraídos a partir dos elementos da relação de direito material (sujeitos, objeto e fato): 1. As partes normalmente coincidem com os sujeitos da relação material, salvo exceções de lei; 2. O pedido recai sobre o bem objeto da relação material; e 3. A causa de pedir é o próprio fato jurídico que dá origem à relação material afirmada. AÇÃO 83 ELEMENTOS Parte processual: 1. Partes principais (autor e réu); 2. Partes auxiliares (assistente simples); Causa de pedir: 1. Próxima, que é o fundamento jurídico (direito afirmado); 2. Remota, que é o fato jurídico (do qual nasce o direito). Observações: 1. O fundamento legal é a norma que o autor sugere seja aplicada; 2. A indicação do fundamento legal não vincula o juiz, que pode invocar norma diversa; 3. Desnecessário o autor indicar o dispositivo legal em que busca enquadrar os fatos descritos. Pedido: 1. Imediato (processual), que corresponde à tutela jurisdicional pretendida; 2. Mediato (material), que corresponde ao bem jurídico pretendido. AÇÃO 84 TEORIAS SOBRE CAUSA DE PEDIR Pelateoria da substanciação, a demandada deve ser fundada na descrição dos fatos constitutivos do direito. Pela teoria da individuação, é suficiente a afirmação da titularidade do direito, independente do fato que o constitua. Aplica-se a teoria da substanciação: cabe às partes trazer os fatos; cabe ao juiz enquadrá-los, aplicando o direito ao caso O julgador somente está vinculado aos fatos, podendo atribuir-lhes a qualificação jurídica adequada. Aplicam-se os brocardos "iuri novit curia" e "mihi factum dabo tibi ius AÇÃO 85 IMPORTÂNCIA DOS ELEMENTOS DA AÇÃO Permitem a identificação e a individualização das ações, distinguindo-as. Possibilitam a comparação das ações, verificando se são idênticas, semelhantes ou diferentes. É possível verificar a configuração ou não de litispendência, coisa julgada, perempção, conexão etc. Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada (CPC, art. 337, § 1º). Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido (CPC, art. 337,§ 2º). Há litispendência quando se repete ação que está em curso (CPC, art. 337, § 3º). Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado (CPC, art. 337,§ 4º). Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir (CPC, art. 55). Os processos de ações conexas serão reunidos para decisão conjunta, salvo se um deles já houver sido sentenciado (CPC, art. 55,§ 1º). AÇÃO 86 CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO O TIPO DE TUTELA JURISDICIONAL 1. Ação de conhecimento (acertamento do direito, conhecendo da pretensão do autor e da resistência do réu, definindo a relação jurídica convertida); 2. Execução (efetivação, que tem por fim a efetivação de direito material a uma prestação, certificado em título extrajudicial, com força executiva atribuída por lei); 3. Cautelar (proteção, destinada à preservação do direito material a ser futuramente certificado e/ou efetivado, resguardando o resultado útil da tutela de conhecimento e/ou de execução). AÇÃO 87 CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO O TIPO DE TUTELA JURISDICIONAL AÇÕES DE CONHECIMENTO 1. Meramente declaratórias (certifica a existência, a inexistência ou o modo de ser de uma relação jurídica – CPC, art. 19, I - ou a falsidade ou autenticidade de documento - CPC, art. 19, II); 2. Constitutiva (certifica o direito, criando, alterando ou extinguindo relação jurídica, que se dá com a simples decisão judicial, sem a necessidade de qualquer ato material, dispensando, portanto, execução); 3. Condenatória (certifica o direito a uma prestação de fazer, não-fazer, pagar quantia ou entregar coisa, autorizando, em caso de inadimplemento, sua imediata execução. AÇÃO 88 O SINCRETISMO PROCESSUAL Com o sincretismo processual, em que não há nítida distinta da carga em relação às espécies de tutela jurisdicional, vem perdendo importância a distinção das ações conforme as modalidades de tutela. Com esse fenômeno, as ações adquiriram uma natureza sincrética, possibilitando que o provimento jurisdicional agregue diversos tipos de tutela. Assim, o objeto das ações pode reunir diversos tipos de tutela l, compreendo ações de conhecimento e de execução, cautelar e de execução e de conhecimento, cautelar e de execução do direito. Diante da natureza sincrética das ações, mesmo objetivando provimento condenatório, trazem consigo a possibilidade de adoção de meios coercitivos diretos ou indiretos. AÇÃO 89 CONCEITO O direito de defesa, ou direito de exceção, consiste em um conjunto de faculdades atribuídas ao réu para opor resistência à pretensão do autor. Há paralelismo entre a ação e a defesa, pois do mesmo modo que o autor tem o direito de provocar a atividade jurisdicional, o réu tem o direito de resistir à ação do autor. Os dois direitos estão garantidos na CF, no art. 5º, XXXV e LV, de modo que tanto o réu quanto o autor têm direito à tutela jurisdicional efetiva. Apesar do paralelismo, há diferença entre ambos, uma vez que a ação, ao conter a causa de pedir e o pedido, delimita o objeto do processo. Já na defesa o réu simplesmente resiste ao pedido do demandante, não veiculando pedido próprio, senão o de rejeição do pedido do autor. DEFESA 90 ESPÉCIES DE DEFESA i) PROCESSUAIS (questões puramente processuais, sob a forma de preliminares, discutindo a viabilidade da apreciação do mérito); ii) DE MÉRITO (impugnação à pretensão de fundo, seja para neutralizar seus efeitos, retardá-los, extingui-los ou negá-los). i) DILATÓRIA (dilata no tempo o exercício da pretensão, retando o exame, acolhimento ou a eficácia do direito do autor); ii) PEREMPTÓRIA (fulmina o exercício da pretensão, extinguindo-a). i) DIRETA (limita-se a negar a existência dos fatos constitutivos do direito do autor ou negar as consequências jurídicas pretendidas); indireta (alegação de fato novo, que impede, modifica ou extingue o direito do autor). i) INSTRUMENTAL (implica processamento autônomo, com autuação própria, como na alegação de suspeição e impedimento); INTERNA (formulada dentro dos autos em que o réu está sendo demandado). i) OBJEÇÃO (matéria de defesa que pode ser conhecida ex officio pelo juiz); EXCEÇÃO EM SENTIDO ESTRITO (consideradas pelo juiz quando suscitadas pelo réu) DEFESA 91 ESPÉCIES DE DEFESA EXCEÇÃO i) COMO INSTITUTO DE DIREITO MATERIAL – contradireito exercido pelo réu, que visa neutralizar ou extinguir a eficácia do direito afirmado pelo autor, como exceção de contrato não cumprido, direito de retenção; ii) COMO INSTITUTO DE DIREITO PROCESSUAL – qualquer defesa, e, em sentido estrito, aquela que não pode ser conhecida de ofício pelo juiz (processual – incompetência relativa e convenção de arbitragem ou substancial - compensação). OBJEÇÃO i) COMO INSTITUTO DE DIREITO MATERIAL – fato oposto pelo réu que visa a negar a própria pretensão, como decadência, pagamento. ii) COMO INSTITUTO DE DIREITO PROCESSUAL – qualquer defesa que possa ser conhecida de ofício pelo juiz (processual – incompetência absoluta, inépcia da inicial ou substancial – decadência, pagamento). DEFESA 92 RESPOSTA DO RÉU Citado o réu e frustrada a tentativa de autocomposição, abre-se ao réu a oportunidade de apresentar sua resposta à demanda: 1. Reconhecimento da procedência do pedido do autor (CPC, art. 487, III, “a”); 2. Revelia (CPC, arts. 344 a 346). 3. Contestação (CPC, arts. 335 a 337); 4. Reconvenção (CPC, art. 343); 5. Arguição de impedimento ou suspeição do juiz, membro do ministério público ou auxiliar da justiça (CPC, arts. 146 e 148); DEFESA 93 CONTESTAÇÃO É o instrumento por meio do qual o réu apresenta sua defesa, opondo-se à pretensão do autor. Pela regra da eventualidade ou da concentração, cabe ao réu formular toda sua defesa na contestação (CPC, art. 336). Assim, o réu tem o ônus de alegar tudo o quando puder, pois, caso contrário, perderá a oportunidade de fazê-lo. A regra da eventualidade autoriza o réu deduzir defesas logicamente incompatíveis, decorrência da regra da concentração da defesa. O art. 337 do CPC lista rol de defesas processuais que devem ser apresentadas na contestação, antes de o réu discutir o mérito do processo. Outras defesas podem ser alegadas após a apresentação da contestação, envolvendo direito ou fato superveniente, matéria que o juiz pode conhecer de ofício ou que por lei podem ser deduzidas a qualquer tempo. O réu tem o ônus da impugnação específica, não se admitindo a formulação de defesa genérica (CPC, art. 341). DEFESA 94 RECONVENÇÃO É demanda do réu contra o autor no mesmo processo em que está sendo demandado, típico contra-ataque. Trata-se de demanda nova em processo já existente, a fim de que o juiz resolva as duas lides. Amplia o objeto litigioso, em que um processo conterá duas lides autônomas, a ação e a reconvenção, instruídas simultaneamente e julgadas na mesma sentença. A reconvenção exige uma causa pendente, apresentação no prazo de resposta, competência do mesmo juízo, compatibilidade entre os procedimentos e conexãocom a ação ou com os fundamentos da defesa. Reconvenção e pedido contraposto são espécies do gênero demanda do réu contra o autor. São demandas que podem ser formuladas pelo réu na mesma peça em que apresenta sua defesa. Mas o pedido contraposto é uma demanda mais simplificada e distingue- se da reconvenção em razão da amplitude da cognição judicial. DEFESA 95 REVELIA É um ato-fato processual que ocorre quando o réu, citado, não aparece em juízo para apresentar a sua resposta. Também ocorre quando o réu, comparecendo em juízo, não a apresenta tempestivamente (CPC, art. 344). EFEITOS: 1. Presunção de veracidade das alegações de fato feitas pelo autor (CPC, art. 344); 2. Os prazos contra o revel fluem a partir da publicação da decisão (cpc, art. 346); 3. Preclusão do poder de alegar algumas matérias de defesa, ressalvadas as do art. 342 do CPC; 4. Possibilidade de julgamento antecipado do mérito da causa (CPC, art. 355, ii). DEFESA 96 REVELIA LIMITAÇÃO DOS EFEITOS: 1. É possível que não se presumam os fatos deduzidos contra o revel (CPC, art. 345); 2. Não implica necessariamente vitória do autor; 3. Algumas matérias podem ser alegadas após o prazo da defesa (cpc, art. 342); 4. Não pode o autor aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir (cpc, art. 329, ii); 5. O réu pode intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado atual (cpc, 345, par. Ún.); 6. Necessidade de intimação do revel com advogado nos autos. DEFESA 97 ARGUIÇÃO DE IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO É o incidente próprio para afastar o juiz, o membro do MP ou auxiliar da justiça por lhe faltar a imparcialidade. Há dois graus de imparcialidade: o impedimento (CPC, art. 144) e a suspeição (CPC, art. 145). O impedimento dá ensejo à nulidade do ato, pois há uma presunção legal absoluta de que o agente não tem condições para atuar. A suspeição também dá ensejo à nulidade do ato, mas a parte tem prazo preclusivo para arguir e pedir a nulidade. A arguição de impedimento ou suspeição do juiz é causa de suspensão do processo (CPC, art. 313, III). É feita por qualquer das partes em petição específica dirigida ao juiz da causa, com indicação dos fundamentos e provas (CPC, art. 146). O juiz acusado de suspeito ou impedido se manifesta e caso não aceite a arguição remeterá os autos ao tribunal, que instruirá e decidirá o incidente, acolhendo ou rejeitando (CPC, art. 146). DEFESA 98 CONCEITO Processo é o método de trabalho responsável pela coordenação do exercício das atividades jurisdicionais pelo juiz, da ação pelo autor e da defesa pelo réu. Compreende a disciplina dos modos, momentos e limites do exercício de poderes e faculdades pelos sujeitos do processo, com observância do devido processo legal. O poder jurisdicional, para ser exercido legitimamente, deve observar o procedimento preestabelecido, que se caracteriza como processo quando realizado em contraditório. O termo “processo” é comum a diversas ciências, integra a Teoria Geral do Direito, falando-se inclusive em processo não estatal e processo estatal, neste incluídos o legislativo, o administrativo e o jurisdicional. PROCESSO 99 CONCEITO O processo então pode ser examinado sob várias perspectivas: 1. MÉTODO DE CRIAÇÃO DE NORMAS JURÍDICAS, com observância do processo devido, com todas as garantias, considerando que a jurisdição é exercida processualmente; 2. ATO JURÍDICO COMPLEXO, como procedimento estruturado em contraditório, sob a forma de um conjunto ordenado de atos destinados a um certo fim; e 3. RELAÇÃO PROCESSUAL, como um conjunto de relações jurídicas entre os diversos sujeitos processuais, em diversas combinações, composta por múltiplas situações jurídicas ativas e passivas. PROCESSO 100 CARACTERÍSTICAS DA RELAÇÃO PROCESSUAL 1. AUTÔNOMA, pois distinta da relação de direito material, com sujeitos, objeto e pressupostos diferentes; 2. DE DIREITO PÚBLICO, eis que regula típica função estatal, permitida, no entanto, relativa adaptabilidade; 3. COMPLEXa, com diversos vínculos entre os sujeitos do processo e diversas posições ativas e passivas; 4. PROGRESSIVA, significando que o processo é dinâmico, em contínua evolução; 5. UNIDADE, indicando que os vários atos e posições se vinculam e se direcionam para o objetivo único da prestação jurisdicional; e 6. TRIANGULARIDADE, decorrente de seu caráter tríplice, de modo que os três sujeitos principais do processo estão interligados. PROCESSO 101 TIPOS DE PROCESSO O sistema processual busca criar tipos de processo adequados à tutela do direito material, estabelecendo uma variedade de processos e de procedimentos. A natureza do provimento jurisdicional requerido determina a distinção entre processo de conhecimento e processo executivo, principais espécies de processo. Processo de conhecimento veicula pretensões a uma decisão de mérito, objetivando o acertamento do direito, estruturado com alegações das partes, atos probatórios e pedidos. Processo de execução veicula pretensões a uma tutela executiva, objetivando a satisfação prática de um direito, estruturado com atos materiais tendentes à satisfação concreta do direito. O CPC/2015 reafirma o processo sincrético, dividido em várias fases, prevendo que em um só processo haja a definição do direito, a liquidação e o cumprimento da sentença. PROCESSO 102 TIPOS DE PROCEDIMENTO O sistema processual também cria diversos tipos de procedimento a fim de adequar a tutela jurisdicional às necessidades do direito material. Há o procedimento comum, padrão, geral, adotado quando a lei não disponha de modo diferente. Há os procedimentos especiais, peculiares, aplicados estritamente para as situações específicas. No processo de conhecimento, há o procedimento comum (CPC, arts. 318 e segs.) e os procedimentos especiais (CPC, arts. 539 e segs.) No processo de execução, há procedimentos para entrega de coisa (CPC, art. 806 ss), para obrigações de fazer ou de não fazer (CPC, arts. 814 ss) e por quantia certa (CPC, arts. 824 ss). PROCESSO 103 CONCEITO Para a existência e validade da relação processual, são necessários certos requisitos, chamados pressupostos processuais. Fala-se em pressupostos de existência e de validade do processo. Assim, o juiz não resolverá o mérito quando “verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo” (CPC/2015, art. 485, IV). Os pressupostos seriam exclusivamente os de existência, os requisitos que precedem ao ato e indispensáveis para sua existência. Os pressupostos de validade não seriam propriamente pressupostos, pois aí a relação processual já existe, apenas não possui condições para sua viabilidade. O termo pressupostos processuais é utilizado aqui em sentido amplo, abrangendo os de existência e os de validade do processo. O processo, como toda relação jurídica, impõe a coexistência de elementos subjetivos (sujeitos) e objetivos (fato jurídico e objeto), extraindo-se daí os pressupostos processuais. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 104 1. PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA 1.1. SUBJETIVOS 1.1.1. Juiz (Órgão investido de jurisdição) 1.1.2. Parte (Capacidade de ser parte) 1.2. OBJETIVOS 1.2.1. Existência de demanda 2. PRESSUPOSTOS DE VALIDADE 2.1. SUBJETIVOS 2.1.1. Juiz (Competência e imparcialidade) 2.1.2. Partes 2.1.2.1. Capacidade processual 2.1.2.2. Capacidade postulatória 2.1.2.3. Legitimidade ad causam 2.2. OBJETIVOS 2.2.1. Intrínsecos 2.2.1.1. Respeito ao formalismo processual 2.2.2. Extrínsecos 2.2.2.1. Negativos (inexistência de perempção, litispendênncia, coisa julgada ou convenção de arbitragem) 2.2.2.2. Positivo (interesse de agir) PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 105 PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA SUBJETIVOS ÓRGÃO INVESTIDO DE JURISDIÇÃO, pressupondo que a demandada seja ajuizada perante órgão dotado de jurisdição. AUTOR COM CAPACIDADE DE SER PARTE, com aptidão para ser sujeito da relação processual, bastando a personalidade civil, como no caso das pessoas naturais e jurídicas; OBJETIVO ATO DE PROVOCAÇÃO INICIAL, o ato de pedir, que se dá por meio do ajuizamentode uma demanda, fruto do exercício do direito de ação. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 106 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE SUBJETIVOS CAPACIDADE PROCESSUAL (de estar em juízo), aptidão genérica para atuar no processo, independente de assistência ou representação: a) pessoalmente, como ocorre com a pessoa física (CPC, art. 70); ou b) por órgão correspondente, como ocorre com as pessoas jurídicas (CPC, art. 75). O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei (CPC, art. 71). Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o processo e mandará sanar o vício (CPC, art. 76, caput). Descumprida a determinação, o processo será extinto se a providência couber ao autor, o réu será considerado revel, se a providência lhe couber, e o terceiro será revel ou excluído (CPC, art. 76, § 1º). O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob regime de separação de bens (CPC, art. 73). Exige-se que ambos os cônjuges sejam citados para determinas ações (CPC, art. 73, § 1º). A incapacidade deve ser suprida, em algumas situações, pela designação de um representante processual ad hoc chamado curador especial (CPC, art. 72). PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 107 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE SUBJETIVOS CAPACIDADE POSTULATÓRIA, jus postulandi, aptidão técnica para praticar alguns atos processuais, chamados postulatórios, em regra conferida ao membro do MP ou ao advogado inscrito na OAB (CPC, art. 103). Admite-se o jus postulandi: a) nas causas de valor inferior a 20 salários mínimos, nos Juizados Especiais; b) em habeas corpus; c) na Justiça do Trabalho, até o TRT; d) em pedido de medida preventiva feito por mulher vítima de violência doméstica (Lei nº 11.340/2006, 19, § 1º, e 27 – Lei Maria da Penha); e f) em ADIN e ADC, pelas autoridades do art. 103, I-VII, da CF. Observações: i) as pessoas não advogadas precisam nomear advogado (CPC, art. 104); ii) a procuração é o meio de representação (CPC, art. 105); iii) admite-se a postulação em causa própria (CPC, art. 106); iv) a procuração confere poderes gerais para o foro (CPC, art. 105); v) o advogado tem direito a praticar um conjunto de atos (CPC, art. 107). PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 108 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE SUBJETIVOS CAPACIDADE POSTULATÓRIA DIREITOS DO ADVOGADO O advogado tem direito a: I - examinar, em cartório de fórum e secretaria de tribunal, mesmo sem procuração, autos de qualquer processo, independentemente da fase de tramitação, assegurados a obtenção de cópias e o registro de anotações, salvo na hipótese de segredo de justiça, nas quais apenas o advogado constituído terá acesso aos autos; II - requerer, como procurador, vista dos autos de qualquer processo, pelo prazo de 5 (cinco) dias; III - retirar os autos do cartório ou da secretaria, pelo prazo legal, sempre que neles lhe couber falar por determinação do juiz, nos casos previstos em lei (CPC, art. 107, caput). RETIRADA DOS AUTOS Sendo o prazo comum às partes, os procuradores poderão retirar os autos somente em conjunto ou mediante prévio ajuste, por petição nos autos (CPC, art. 107, § 2º). Nesse caso, é lícito ao procurador retirar os autos para obtenção de cópias, pelo prazo de 2 (duas) a 6 (seis) horas, independentemente de ajuste e sem prejuízo da continuidade do prazo (CPC, art. 107,§ 3º). O procurador perderá no mesmo processo o direito se não devolver os autos tempestivamente, salvo se o prazo for prorrogado pelo juiz (CPC, art. 107, § 4º). . PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 109 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE SUBJETIVOS COMPETÊNCIA DO JUÍZO, âmbito dentro do qual o órgão investido na jurisdição pode exercê-la: 1. Incompetência absoluta, de interesse público, deve ser reconhecida de ofício, a qualquer tempo, em qualquer grau de jurisdição, até mesmo após o trânsito em julgado, nesse caso por meio de ação rescisória; 2. Incompetência relativa, de interesse das partes, não pode ser reconhecida de ofício, só podendo ser levantada pelo réu, no prazo da contestação, sob pena de preclusão e de prorrogação da competência. IMPARCIALIDADE DO JUIZ, indicando que o processo deve ser instaurado e conduzido perante juiz imparcial, sob pena de sua invalidade: 1. Impedimento (CPC, art. 144); 2. Suspeição (cpc, art. 145). PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS PRESSUPOSTOS DE VALIDADE OBJETIVO RESPEITO AO FORMALISMO PROCESSUAL, incluindo: 1. Petição inicial apta; 2. Regularidade da comunicação dos atos processuais, incluída a citação; 3. Observância do contraditório; 4. Obediência ao procedimento; 5. Escolha correta do procedimento. O formalismo é importante por determinar como funciona o processo e quais são as regras do jogo, constituindo, portanto, o regulamento da disputa. O desrespeito implica invalidade do ato ou do procedimento, daí a importância do sistema de invalidades adotado pelo CPC. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 111 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE OBJETIVO, NEGATIVO São fatos estranhos ao processo que não podem ocorrer para que o procedimento se desenvolva validamente. Como vícios insanáveis, uma vez existentes, levam à extinção do processo sem exame do mérito (CPC, art. 485, V e VII). Compreendem: 1. Inexistência de litispendência; 2. Inexistência de coisa julgada; 3. Inexistência de perempção; 4. Inexistência de convenção de arbitragem. Perempção: Se o autor der causa, por 3 (três) vezes, a sentença fundada em abandono da causa, não poderá propor nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ressalvada a possibilidade de alegar em defesa o seu direito (CPC, art. 486, § 3º). PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 112 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE LEGITIMIDADE PARA AGIR Relacionada às partes, a legitimidade desaparece no CPC/2015 como condição da ação, sendo regulada como pressuposto processual (CPC, art. 486, VI). Está previsto no art. 17 do CPC, segundo o qual “Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”. O direito de ação é assegurado a todos, mas ninguém está autorizado a demandar toda e qualquer pretensão. Deve haver um vínculo entre os sujeitos da demanda e da situação jurídica afirmada, surgindo assim a exigência de legitimidade para agir (ad causam). É a pertinência subjetiva da ação, daí a necessidade de que a parte esteja legitimada, quer dizer, autorizada, por lei, para agir como autor ou como réu. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico (CPC, art. 18). Surge assim a legitimação ordinária e a legitimação extraordinária, baseada na relação entre o legitimado e o objeto litigioso do processo. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 113 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE LEGITIMIDADE PARA AGIR Classifica-se em legitimação ordinária e legitimação extraordinária. Ordinária quando alguém defende interesse próprio em juízo, coincidindo as figuras das partes com os da relação jurídica afirmada. Extraordinária, ou substituição processual, quando alguém defende em nome próprio interesse de outro sujeito de direito. A extraordinária é excepcional e deve estar autorizada (CPC, art. 18). Legitimação extraordinária: ações coletivas (art. 5º da Lei nº 7.347/1985 e art. 82 do CDC); ii) habeas corpus (art. 654 do CPP); e iii) do MP para investigação de paternidade (art. 2º, §4º, da Lei nº 8.560/1992). Não se confunde a substituição processual com a sucessão processual, pois nesta um sujeito sucede outro no processo, assumindo a sua posição processual. Também não se confunde a substituição processual com a representação processual, considerando que nesta o sujeito está em juízo em nome alheio defendendo interesse alheio. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS 114 PRESSUPOSTOS DE VALIDADE INTERESSE DE AGIR É fato que deve existir, de modo que, se por acaso faltar interesse de agir, o pedido não será examinado. O exame do interesse de agir se faz em concreto, a partir da situação narrada na petição inicial, relacionado a uma determinada demanda. Deve ser examinado em duas dimensões: necessidade e utilidade da tutela jurisdicional.
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