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TRANSTORNOS DE ANSIEDADE (12,6%/ano). de 13,6%. Ness - (1,9%) e agorafobia (0,9%). Ansiedade pode ser definida como uma sensação desagradável de apreensão; pode ser normal ou patológica, caracterizando o transtorno de ansiedade (quando a ansiedade tem repercussões importantes na vida do paciente). Deve-se diferenciar ansiedade de: inquietação, euforia e irritabilidade. Ainda, deve-se investigar depressão, uso de drogas ou de álcool. Diagnóstico diferencial: anemia, angina, IAM, ICC, asma, hiperventilação, hipoglicemia, DM, hipertireoidismo, intoxicação por drogas (anfetaminas, cocaína), abstinência de drogas e fármacos. Os transtornos de ansiedade podem ser classificados em: de ansiedade generalizada, de pânico, de estresse pós- traumático, fóbico-ansiosos (ou ansiedade social) e obsessivo-compulsivo. A prevalência dos transtornos é de 9% nas crianças e de 15% nos adultos. Transtorno de Ansiedade Generalizada É o transtorno de ansiedade mais comum na atenção primária. Sintomas oscilam ao longo do tempo e estão presentes na maioria dos dias “ ” . N q . Manifesta-se como uma expectativa apreensiva ou preocupação exagerada. Paciente pode apresentar cansaço, dificuldade de concentração, tensão muscular, hiperatividade autonômica, insônia e sudorese. Tratamento: a abordagem não farmacológica é tão importante quanto a farmacológica e consiste em psicoterapia de apoio. Com relação à terapia farmacológica, ISRS são primeira escolha (fluoxetina, sertralina e paroxetina), juntamente com os ISRNS (venlafaxina). Tricíclicos podem ser usados, mas apresentam maiores efeitos colaterais. →T : x ç . →IMA : ç ; PA h ô h . →IRSNA: ç x ; x icos hipertensivos. →B : ô . →B - T A : ç ; ; , ocasionalmente, nervosismo. O transtorno depressivo maior é a comorbidade mais frequente no TAG e é encontrado em aproximadamente 54% dos pacientes Transtorno de Pânico Caracterizado pelo ataque de pânico → conjunto de sintomas de ansiedade de início súbito, e também sintomas físicos de duração limitada. Os primeiros ataques de pânico acontecem de forma inesperada; depois desses podem ser desencadeados por determinadas situações, tendendo a evoluir para um quadro de agorafobia, passando a evitar situações que na visão do paciente podem desencadear o ataque. Pacientes com doenças respiratórias têm incidência maior de transtorno de pânico. O ataque deve envolver 4 ou mais sintomas: Palpitações Sudorese Tremores Falta de ar Sensação de desmaio Náuseas ou desconforto abdominal Formigamentos q Critérios do DSM-V para Transtorno de Pânico A)A q . B)Pelo menos um dos ataques foi acompanhado de u : P ç q q q q ) ç ç q q x ) C) q ç ç h ). D) q . Diagnóstico diferencial: h h h ô q . – h –, fobia social, fobia e , TOC, . Tratamento: eliminar desencadeantes, como drogas e cafeína. Tricíclicos tem eficácia comprovada, mas grandes efeitos colaterais, por isso deve-se iniciar o tratamento com doses baixas. Preferir ISRS. Benzodiazepínicos devem ser usados na latência dos antidepressivos ou durante o ataque de pânico. A ç ç - e a partir da segunda semana atenuando-a; alertar o paciente sobre a possibilidade de agravamento da ansi Dor ou desconforto no peito Calafrios e sensação de calor Sentimento de irrealidade Despersonificação (sentir-se fora de si mesmo) Medo de perder o controle ou enlouquecer Medo de morrer Costuma se tornar crônico em até 50% dos casos Transtorno de Estresse Pós-Traumático Resposta retardada a um evento estressante ameaçador ou catastrófico. A revivencia dos momentos, como pesadelos e flashbacks são típicos. Ocorre embotamento emocional, retraimento social e anedonia. Os pacientes encontram-se hipervigilantes; podem apresentar insônia, depressão e ideações suicidas. Tratamento: terapia cognitivo-comportamental é efetiva na diminuição dos sintomas. ISRS são primeira escolha, seguidos dos tricíclicos. Transtornos Fóbicos-ansiosos (ansiedade social) Ocorrem em situações onde a pessoa é observada por outros, como comer, falar, escrever. Sintomas como tremores, sudorese, enrubescimento, dificuldades de concentração, palpitação, sensação de desmaio. Os sintomas terminam q ç “ x ç ” . Podem acontecer desde a infância, mas os sintomas pioram na vida adulta. Podem levar ao abuso de substâncias e a depressão. Tratamento: a psicoterapia cognitivo comportamental é melhor escolha. Podemos associar ISRS ou ISRNS. Benzodiazepínicos devem ter uso restrido. Propanolol pode ser usado 60 minutos antes de apresentações em público. Transtorno Obsessivo Compulsivo Obsessões são pensamentos e imagens repetitivos associados à ansiedade descontrolável. Compulsões são atos ou comportamentos recorrentes e repetitivos forçado a ser realizado para não desencadear a ansiedade; costumam-se apresentar como rituais, relacionados à limpeza, contagem, etc. Esse transtorno torna-se evidente no início da vida adulta. Tratamento: pacientes com sintomas leves podem se beneficiar com terapia de apoio e processo educativo. Casos mais graves devem ser encaminhados ao psiquiatra. Geralmente, o medicamento de escolha são ISRS. Após 6 a 18 meses do controle sintomático dos transtornos de ansiedade, deve-se iniciar redução da medicação com vistas a retirada A medicação demora em torno de 4 semanas para iniciar sua ação As técnicas de exposição são o tratamento de primeira linha para transtornos fóbicos Agonistas dos receptores beta-2-adrenérgicos, corticoides, hormônio tireoideano, anti-hipertensivos e digitálicos podem gerar sintomas ansiosos como efeitos colaterais TRANSTORNOS ALIMENTARES Os transtornos alimentares (TA) são síndromespsicossomáticas que acometem principalmente jovens adolescentes. Existem 3 transtornos alimentares em que há preocupação com o corpo: Anorexia – redução drástica da alimentação por recusa espontânea pela necessidade de emagrecer Bulimina – compulsão alimentar seguida de um método compensatório Transtorno da compulsão alimentar – mais comum; compulsão alimentar sem método compensatório Apresentam um alto grau de morbidade/mortalidade. Dentro dos transtornos psiquiátricos, os transtornos alimentares são os que mais matam (principalmente anorexia nervosa). As mortes são decorrentes de complicações clínicas ou suicídio. Compulsão: ingesta de grande quantidade de alimento em curto intervalo de tempo com sensação de perda de controle. Às vezes o paciente pode comer alimentos frios, congelados ou crus, e em situações extremas, comida do lixo. Epidemiologia Incidência variável de 0,5 a 5% entre os adolescentes de alguns países ocidentais, dentre os quais a bulimia é mais frequente que a anorexia. Além disso, 90 a 95% dos acometidos são as mulheres com faixa etária entre 10 e 19 anos. Nos EUA a anorexia nervosa é a terceira doença crônica mais comum entre adolescentes. Etiologia Existem fatores individuais e ambientais envolvidos nos transtornos alimentares. Fatores individuais: imagem corporal, autoestima, internalização da beleza e conhecimento ou não de práticas de alimentação saudável. Fatores ambientais: família, amigos, mídia. Anorexia nervosa A AN é uma síndrome psicossomática caracterizada pelo medo mórbido e inexplicável de ganhar peso, ou de se tornar obeso. A referida ideia é associada a uma má percepção corporal, ou seja, uma distorção na maneira como o indivíduo avalia a forma, peso e tamanho do seu corpo. O indivíduo inicia uma busca desenfreada pela magreza e, portanto, reduz voluntária e drasticamente a ingestão de alimentos, o que acarreta a perda progressiva e desejada de peso, caquexia, inanição e pode ocasionar em certos casos o óbito do paciente. A paciente anoréxica é egosintonica, ou seja, a doença é reconhecida por ela como parte de si, e não como algo que a agride. Etiologia: ainda não está completamente estabelecida, mas sabe-se que ela engloba um conjunto de fatores de ordem biológica, psicológica, familiar e sociocultural. Há uma distinção entre dois tipos de anorexia: restritivo e purgativo. No primeiro caso, o paciente diminui a ingestão de alimentos, faz dietas e exercícios físico. No segundo caso, tem episódios de compulsão e compensa com vômitos, uso de laxantes. Manifestações clínicas: Redução voluntária e drástica da ingestão de alimentos Perda progressiva de peso Hiperatividade Bradicardia Diminuição da libido no sexo masculino, bem como amenorréia em mulheres Complicações: Comprometimento cardiovascular Desidratação Distúrbios na motilidade gastrointestinal Vômitos Hipotermia Infertilidade Alterações metabólicas (principalmente hipercolesterolemia) Alterações endócrinas Déficits funções cognitivas (atenção, memória, visoconstrução e a capacidade de aprendizagem) Diagnóstico: investigação minuciosa sobre a ingestão alimentar (quantidade e qualidade), prática de exercícios físicos, bem como no que se refere aos aspectos psicopatológicos como imagem corporal e inserção social do paciente. A pesquisa de outras comorbidades psiquiátricas é importante. Tratamento: ciproeptadina (antagonista serotoninérgico e histaminérgico) e a amitriptilina mostraram-se favoráveis no ganho de peso. A fluoxetina tem apresentado resultados contraditórios, entretanto, pode ser usada para prevenção de recaídas. Prognóstico: 40% recuperaram-se, 30% apresentam melhora clínica, 20% permanecem cronicamente afetados e 10% morrem. Bom prognóstico: idade menor no início da doença, diagnóstico precoce e menor número de hospitalizações Mau prognóstico: presença de sintomas bulímicos e duração prolongada da doença Bulimia nervosa Caracteriza-se pela presença frequente de compulsão alimentar com surtos de ingestão maciça e compulsiva de alimentos, acompanhados de uma sensação de perda de controle sobre a quantidade de alimentos ingeridos e seguidos por métodos compensatórios para o controle do ganho de peso. Os métodos compensatórios são variáveis, podendo ser vômitos auto-induzidos, uso inadequado de medicamentos (como diuréticos, inibidores do apetite, enemas, laxantes), dietas, jejuns e exercícios físicos abusivos. As complicações clínicas na BN possuem uma menor gravidade quando comparadas às da NA, tendo em vista a ausência de perda de peso significativa na BN. Etiologia: a genética parece ter grande influência na gênese da doença; chega-se a estimar que a hereditariedade seja responsável por uma taxa de 31 a 83% dos casos. Manifestações clínicas: Compulsão alimentar + perda de controle sobre a quantidade ingerida + métodos compensatórios para perda de peso Esofagite, gastrite, síndrome de Barret, hipertrofia das glândulas salivares, desgaste do esmalte dentário, esvaziamento gástrico anormal, síndrome do cólon irritável – decorrentes da forma como os alimentos são eliminados Pneumotórax, pneumomediastino, fratura de costelas – devido aos vômitos vigorosos Esteatorreia, pancreatite – uso de laxantes Diminuição de funções cognitivas como atenção e funções executivas Dilatação gástrica aguda, com a possibilidade de ruptura, hipertrofia das glândulas parótidas e ruptura esofagiana são complicações potencialmente fatais. Tratamento: psicoterapias cognitivas e comportamentais são consideradas eficazes por possibilitarem a conscientização da gravidade do transtorno, ainda mais se associadas à farmacoterapia. Tricíclicos (desipramina e imipramina) e ISRS (fluoxetina) são preferenciais. →Fluoxetina: além de reduzir sintomas bulímicos, o efeito colateral produzido por esse medicamento inclui a redução do apetite e do risco de recaída →Amitriptilina: mostrou-se desfavorável →Inibidores da monoaminoxidase: podem ser considerados, mas seu uso deve ser ponderado pelas interações com fármacos e alimentos →Topiramato parece ter ótima eficácia, mas o uso deve ser evitado em mulheres em idade fértil (teratogenicidade) Prognóstico: parece ser mais favorável que o da anorexia; taxa de recuperação total entre 50% e 70%, contudo as taxas de recaída situam-se em torno de 30 a 50%. Bom prognóstico: idade menor de início da doença, motivação para o atendimento e uma boa base social de suporte Mau prognóstico: sintomatologia mais severa, alta frequência de vômitos, impulsividade, baixa auto-estima e conduta suicida Comer compulsivo Comedores compulsivos têm desejos de comer grandes quantidades de comida a cada vez ou pequenas ou grandes quantidades a todo momento. 80% das pessoas com o transtorno do comer compulsivo têm algum outro diagnóstico psiquiátrico associado (depressão, transtorno bipolar ou transtornos de ansiedade). Comedores compulsivos sentem que não podem controlar a ingestão de alimentos e sentem culpa, vergonhada ou tristeza depois de comer. Um episódio de compulsão pode chegar a 14.000 calorias de uma vez (o suficiente para manter um homem adulto alimentado por 1 semana). Sintomas: Comer mais rápido que o normal Comer além do ponto de satisfação Comer quando não está fisicamente com fome Comer às escondidas, sozinho ou em segredo Sentir-se culpado e com vergonha depois ter comido demais Compulsão ocorre ao menos uma vez por semana e durante 3 meses Pode causa hipotensão, dor, vômitos não provocados, diarreia (pelo fenômeno de dumping, devido ao excesso osmolar). Tratamento: engloba a terapia cognitivo comportamental, terapia para identificar o mecanismo de frustração e prevenir o comportamento compulsivo, antidepressivos e tratamento de doenças associadas. 27 a 47% dos pacientes fazem cirurgia bariátrica,com resultados variáveis. A FAMÍLIA E OS TRANSTORNOS ALIMENTARES Famílias com filhas com AN (anorexia nervosa) e BN (bulimia nervosa) pareciam ter características de funcionamento semelhantes, o que motivou diversos estudos nessa área. Salvador Minuchin “ ” j algumas características do funcionamento familiar influenciam no aparecimento de determinadas patologias. Esse modelo inspirou a concepção do q h “ x ”. A família psicossomática tem as seguintes características: Presença de alianças entre as gerações na família Evitação de conflitos entre todos os seus membros Repertório familiar não flexível e com pouca capacidade de resolução de problemas³. Mara Selvini Palazzoli defende que a anorexia nervosa seria a resposta da filha aos conflitos do processo intraconjugal de seus pais. Um dos estudos mais extensos já realizados nesse campo, Strober et al. postulou as seguintes hipóteses AN e BN seriam familiares Parentes de pessoas portadoras tem maiores riscos de desenvolverem o transtorno BN ou BN parcial estaria mais presente entre familiares de pessoas com AN do que entre os sujeitos controle (um risco 11 vezes maior para AN e 3 vezes maior para BN) Bryant-Waugh e Lask acreditam que existem os fatores predisponentes, que seriam o contexto no qual o transtorno ; q “ ç ”. D -se a desarmonia ç à “ ç ” ç . familiares seriam predisponentes para o aparecimento da patologia e não a sua causa isolada. Macnamara e Loveman afirmam que as meninas com BN percebem suas famílias como mais disfuncionais. As famílias de bulímicas apresentam pouco afeto entre seus membros, pouca comunicação e escassa habilidade para a resolução de conflitos; dentro de uma atmosfera caótica e de pouca afetividade, buscam a comida como forma de obtenção de gratificação. Lane e Souza apontam que indivíduos com transtornos alimentares provêem de lares disfuncionais, com mães controladoras e pais ausentes, além de frequentes histórias de traumas permeando os enredos familiares. Polivy e Herman defendem que para a emergência do transtorno são necessários outros fatores de risco individuais, como déficit de auto-estima, características específicas da personalidade, experiências interpessoais, fatores estressantes da história de vida, aspectos cognitivos, influências biológicas, além de humor depressivo e irritabilidade, entre outros. Eisler critica a base teórica da qual derivam muitas teorias sobre a dinâmica nessas famílias; defende que não seria possível saber se o fato de termos uma evitação de conflitos nessas famílias pode ser resultante do aparecimento da “ ç ” a utilizada pela família para lidar com essa condição difícil. Tratamento Muitos autores defendem a necessidade de que a família e a equipe sejam parceiras no tratamento dos TA em adolescentes. Muitos pais acham que os sintomas da filha são uma afronta direta a eles; nesse sentido, o terapeuta vai focar quase que exclusivamente nos comportamentos bulímicos e anoréxicos, mostrando para os pais a seriedade do quadro e que suas filhas não têm o controle sobre a impulsividade de seus sintomas. ___ Vigorexia: intensa atividade física; paciente busca o aumento de massa muscular (hipertrofia), uso de anabolizantes pode estar associado. Ortorexia: alimentação exclusivamente saudável, natural; paciente não se importa com a quantidade dos alimentos e nem com seu peso corporal. AUTOMUTILAÇÃO #Relato de caso: aproximadamente 6 meses atrás, uma adolescente vem apresentando quadro de isolamento, inicialmente familiar e posteriormente social, com choros constantes, irritabilidade, agressividade quando frustrada, recusa em se alimentar, com evidente perda de peso, sonolência excessiva e piora importante do desempenho acadêmico. Trata-se de um caso de automutilação. Automutilação também pode ser chamada de autolesão, autoagressão, violência autodirigida e parasuicídio. Esse comportamento também é encontrado nos suicidas, mas nesse caso, não há intenção verdadeira de tirar a própria vida. (DSM-V) A autolesão não suicida é definida como comportamento repetido do próprio individuo de infligir lesões superficiais, embora dolorosas a superfície do seu corpo. Não há sensação de prazer. Segundo Borges, autolesão refere-se à imposição de danos e/ou de dor, de forma deliberada a tecidos corporais, sem intenção suicida. A forma mais comumente encontrada são os cortes superficiais na pele, em cerca de 70% dos casos, principalmente no antebraço; à medida que o antebraço fica lesionado, os cortes são direcionados a outros lugares, como parte interna do braço, abdome, nuca, coxas. A mudança de local pode indicar aumento da gravidade dos sentimentos de dor experimentados pelo paciente. Para que se mutilar? Podem funcionar como um mecanismo de auto-regulação interna face a estados emocionais negativos ou mesmo como forma de influenciar o comportamento dos outros. Pode representar uma tentativa desesperada de cura, de estabilidade social e, em alguns casos, pode ser entendida como uma forma mórbida de autojuda, já que fornece um alivio temporário face a sintomas psicopatológicos. Visa também reduzir emoções e sentimentos negativos, tais como tensão, ansiedade e autocensura e/ou resolver uma . “A q ”. Busca paradoxal: através da dor há uma busca de se sentir vivo; a dor lembra que ele tem um corpo, que há uma existência concreta e real. Fatores de risco Depressão Transtorno bipolar do humor Uso de álcool e drogas – de maneira abusiva Transtorno de ansiedade e transtorno de personalidade borderline Histórico de abuso físico ou sexual Baixa autoestima Pressões por rendimentos excepcionais nos estudos Bullying – pode funcionar como gatilho Sentimentos de abandono físico e/ou afetivo Adolescência patológica: traduz-se por falta de esperança e incapacidade para conseguir um sentido para lidar com as emoções, ou organizar um sentido de pertença, e/ou manter um sentimento sustentado de bem-estar. Comportamentos autolesivos estão relacionados com um triplo fracasso – vertentes individual, familiar e social. Inteligência emocial: identificar o que se está sentindo para depois buscar estratégias para lidar com esses sentimentos. A AUTOLESÃO Instantes antes do ato: os adolescentes costumam relatar que sentem medo, raiva, ambivalência entre magoar alguém ou magoar a si mesmos, culpa e um forte sentimento de não pertencimento ou de não ser adequado. O paciente pode intentar se punir por alguma atitude, raiva ou em decorrência da autoestima baixa. Evidenciam um intenso mal-estar que não deve ser negligenciado. Após o ato: pode vir a culpa; vergonha e o medo da descoberta; relaxamento. O próprio adolescente não se da conta que a automutilação pode tirar sua vida. Métodos: cortes, queimaduras (com cigarro, objetos metálicos colocados no fogo), choques, bater partes do corpo contra a parede, arrancar cabelo, enfiar objetos sob a unha, anorexia, comer objetos não comestíveis. EPIDEMIOLOGIA Para cada menino que se automutila, três meninas o fazem. A SBP estima que cerca de 10% dos jovens se mutilem. A faixa de idade onde há maior prevalência é dos 12 aos 17 anos, e nos poucos estudos já realizados, não foram encontradas distinções étnicas ou socioeconômicas. 25% dos jovens na Europa têm comportamento autolesivo. Em um estudo realizado em uma UPA, 75% dos jovens atendidos com dores abdominais, possuíam transtornos ansiosos; esses transtornos aumentam a predisposição à autolesão e comportamentossuicidas. AUTOLESÃO E A ESCOLA A escola tem um papel fundamental na identificação de casos de autolesão. Cabe à instituição também, acionar os agentes que podem formar uma rede de apoio para esse adolescente. Fatores presentes na escola que podem favorecer o transtorno: rixas entre colegas, pressão por notas boas, bullying Como identificar: mudança no comportamento; roupas inadequadas para o clima da cidade, isolamento, aumento da agressividade, diminuição do rendimento escolar. Se for identificado algum caso na escola: conversar com o jovem, pedir autorização para chamar os seus pais (não é obrigatório, mas visa não quebrar a confiança do jovem) e acionar os profissionais adequados (pediatra, psiquiatra, psicólogo). Prevenção: falar sobre a autolesão é importante. Falar sobre o assunto não irá estimular mais jovens a praticarem o ato, muito pelo contrário. É importante falar mesmo que não existam casos em determinada escola. Podem-se oferecer palestras, oficinas, grupos de discussão, rodas de conversa. RELAÇÃO COM O SUICIDIO Em uma população de jovens suicidas, 60% tinham comportamento autolesivos prévios. OMS: manual de boas práticas para estabelecer e manter sistemas de vigilância para tentativas de suicídio e autolesão. https://www.who.int/mental_health/suicide-prevention/attempts_surveillance_systems/en/ _____ ARTIGO AUTOMUTILAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA https://www.who.int/mental_health/suicide-prevention/attempts_surveillance_systems/en/ Percebe-se o comportamento automutilador do adolescente como uma tentativa de aquisição de alívio e conforto para . “A q uma intensa emoção ”. O DSM-5 aponta duas teorias psicopatológicas sobre o comportamento autolesivo não suicida: a primeira embasada na teoria da aprendizagem, na qual o comportamento é mantido por reforços positivo e negativo. Na segunda, esse comportamento, pode ser visto pelo indivíduo, como uma forma de se autopunir, como forma de compensar atos que causaram sofrimentos ou danos a outras pessoas. Os indivíduos relatam sensação de alívio, podendo estar associado à urgência e fissura, quando ocorre com frequência. A automutilação encontra-se presente em diagnósticos como: Transtorno de personalidade borderline Transtornos alimentares Transtornos de estresse pós-traumático Depressão Pacientes psicóticos Intoxicação ou abstinências de substancias Transtornos neurocognitivos TOC Pode ocorrer tricotilomania, transtorno de escoriação e transtorno do masoquismo sexual. Indivíduos automutiladores demandam grande parte do tempo planejando formas de se automutilarem, aumentam a frequência e a intensidade do ato, incorrendo ao risco de desfiguração física e descontrole do comportamento. Selecionam áreas do corpo de maior acesso como braços, pernas e peito e áreas frontais do corpo, e utilizam objetos perfuro cortantes como estiletes, facas, lâminas de barbear, compassos e agulhas. Mecanismos negativos na história de vida do sujeito como trauma infantil, abuso sexual ou emocional, falta de comunicação familiar e isolamento, podem constituir motivações para o ato. Sinaliza que a inabilidade em lidar com eventos negativos e a elevada sensibilidade às emoções, conduz o indivíduo, muitas vezes, a falta de controle sobre o comportamento na intenção de dissipar a dor. Internet Estudiosos acreditam que o aumento de atos de autolesão nos adolescentes se deve em parte às redes sociais, que espalham informações a respeito desse tipo de comportamento e que ensinam a agredir seu corpo quando se sentem sós e deprimidos. Fatores intrínsecos que predispõem à pratica da automutilação Pode ser motivada pela dificuldade em expressar emoções, baixa autoestima, baixa habilidade de resolução de problemas, menor crença na auto eficácia e culpabilização. As motivações da automutilação podem estar envolvidas com: tristeza, angústia, culpa, ansiedade, raiva, medo de frustração, alívio de tensões e alívio de dor emocional. Elementos externos capazes de influenciar o comportamento autolesivo Cyberespaço Problemas psicológicos por parte de um dos pais Separação dos pais Saber que alguém do seu ciclo familiar ou de amizade se automutila Experiencias de bullying Abuso sexual ou abuso psicológico _____ PREVENÇÃO DO COMPORTAMENTO SUICIDA EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES Conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA; BRASIL, 1990, Art. 2º), criança é a pessoa com até 12 anos de idade incompletos, e adolescente é aquela entre 12 e 18 anos de idade. VIOLÊNCIA AUTOPROVOCADA Compreende ideação suicida, autoagressões, tentativa de suicídio e suicídio consumado. IDEAÇÃO SUICIDA Quando o suicídio é visto como uma saída para uma situação de sofrimento. Pode abrir as portas para um plano de suicídio. No caso de crianças e adolescentes, isso pode acontecer quando há uma depressão grave com baixa auto-estima, humor deprimido, incapacidade de ver que sua situação pode melhorar, sentimento de que não há motivos para viver ou nenhuma chance de ser feliz. AUTOAGRESSÃO Qualquer ato intencional de automutilação (com faca, aparelho de barbear, caco de vidro, etc) ou outras formas de causar dano a si mesmo (como queimar-se com cigarro), sem intenção de morte. Por vezes, crianças e adolescentes relatam que se autoagridem com o objetivo de controlar e/ou aliviar uma dor emocional. TENTATIVA DE SUICÍDIO Quando o indivíduo se autoagride com a intenção de tirar a própria vida, utilizando um meio que acredite ser letal, sem resultar em óbito. SUICÍDIO Ato deliberado de tirar a própria vida, com desfecho fatal. O suicídio representa 1,4% de todas as mortes no mundo, tornando-se, em 2012, a 15ª causa de mortalidade na população geral. Entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte. O Rio Grande do Sul é o estado brasileiro que apresentou as maiores taxas de óbito por suicídio. Fatores de risco História de tentativas de suicídio ou autoagressão (por ex., automutilação) Histórico de transtorno mental Bullying Situação atual ou anterior de violência intra ou extrafamiliar História de abuso sexual Suicídio(s) na família Baixa autoestima Uso de álcool e outras drogas Populações que estão mais vulneráveis a pressões sociais e discriminação, tais como: LGBTI+, indígenas, negros(as), situação de rua, etc. TRANSTORNO POR ABUSO DE SUBSTÂNCIAS Droga psicoativa é qualquer substância que possa alterar o funcionamento mental ou psíquico do indivíduo. O uso continuado pode levar a tolerância e a abstinência. Tolerância: diminuição ou perda de efeito causado pelo uso continuado de uma substância Abstinência: sinais e sintomas decorrentes da diminuição do uso ou suspensão da substância (quadro reverso ao uso da substância) Sinais de alerta para transtorno por abuso de substâncias Tremor leve nas extremidades sem causa aparente Aumento do volume do fígado Labilidade da PA Odor de álcool ou de outras substâncias nas roupas do indivíduo Alterações comportamentais (irritabilidade, começa a faltar o trabalho) O transtorno é classificado em leve, moderado ou grave. São 11 critérios que determinam a gravidade do quadro Leve – 2 a 3 critérios Moderado – 4 a 5 critérios Grave – a partir de 6 critérios COCAÍNA É uma droga estimulante extraída da planta Erythroxylon coca, nativa da América Andina. A pasta básica da coca é obtida através da maceração das folhas com solvente, como álcool ou benzina, ácido sulfúrico e carbonato de sódio. Múltiplas ações: anestésico local, vasoconstritor, estimulando do SNC (age bloqueando a recaptação de dopamina e bloqueia a recaptação de serotonina e noradrenalina). Crack Surgiu como resultado da mistura da pasta base de cocacom sulfato de amônio ou bicarbonato de sódio o que permitiu que a substancia pudesse ser fumada. Essa via disponibiliza a droga no cérebro de forma imediata e em maior concentração já que não realiza o metabolismo hepático. O efeito dura por alguns segundos e é seguido por um forte desejo de nova dose. Isso explica um padrão de uso mais compulsivo e intenso, conhecido como binge. Em SP, observou-se que os usuários de crack iniciaram o consumo na faixa dos 12 aos 24 anos. A procura por tratamento ocorre por volta do 6º ao 7º ano de uso, sendo mais precoce naqueles que usam crack do que naqueles em uso de cocaína. Efeitos agudos do uso de cocaína Euforia, autoconfiança elevada Aumento da energia e da cognição Aumento da vigília e estado de alerta sensorial Ansiedade Sintomas paranoides e persecutórios Aumento da FC e da temperatura Sudorese Hiperventilação Midríase Cefaleia Espasmos musculares (principalmente língua e mandíbula) Drogas de alto risco para dependência (principalmente o crack). Efeitos crônicos Tolerância, paranoia durante o consumo, depressão de rebote após o uso e fissura. Sintomas de abstinência incluem ansiedade, irritabilidade, impulsividade, fissura, letargia e sintomas depressivos. Outros sintomas relatados são sensação de água na cabeça, choques elétricos e urgência miccional. A síndrome de abstinência da cocaína é trifásica: PRIMEIRA FASE CRASH Inicia 1 hora após o consumo e dura até 3 ou 4 dias Há piora do humor com predomínio de sintomas depressivos, hipersonia, esgotamento físico e arrependimento pelo uso Ocasionada pela diminuição brusca e intensa dos neurotransmissores SEGUNDA FASE CRAVING Pode durar de 2 semanas a 3-4 meses Ocorre uma síndrome disfórica tardia com irritabilidade, alterações do afeto Há intensificação do desejo de consumo associado a dificuldade de experimentar prazer e apatia, aumentando o risco de recaída TERCEIRA FASE EXTINÇÃO Dura alguns meses ou anos Caracteriza- h “ h ” como consumo de álcool, contato com pessoas que estimulem o uso, estresse, frustração ou eforia Sintomas de anedonia, dificuldades de planejamento e assertividade podem persistir a longo prazo Critérios para o quadro de dependência Tolerância Sintomas de abstinência Uso de quantidades maiores ou por mais tempo do que pretendia Continuação do uso apesar de problemas relacionados Dificuldade para parar ou reduzir o uso Fissura O uso de cocaína e ou crack é fator de risco para doenças clínicas: IAM “ k” DSTs. O quadro pulmonar se caracteriza por quadro agudo de dor torácica, broncoespasmo, hemoptise, febre e hipóxia. Além disso, as alterações pulmonares provocadas pela inalação do crack favorecem infeccções respiratórias como a tuberculose. Tratamento O tratamento da abstinência é sintomático. quadros com manifestação de sintomas psicóticos, ideação suicida ou homicida, agitação psicomotora ou agressividade devem ser encaminhados para serviço de emergência. Benzodiazepínicos podem ser indicados para controle dos sintomas de ansiedade. Anticonvulsivantes Carbamazepina 400mg a 1200mg ao dia Valproato de sódio 500mg a 750mg ao dia Topiramato 200 a 400mg ao dia Gabapentina 900 a 1800mg ao dia Não existem muitas evidencias sobre o uso de anticonvulsivantes. Antidepressivos Dentre eles fluoxetina, sertralina, paroxetina, mirtazapina, venlafaxina e bupropiona. Não apresentam relação direta com a diminuição do uso da droga. Outros O lítio pode ser uma opção. Antipsicóticos apresentaram mesma eficácia que placebo. O dissulfiram, usado no tratamento do alcoolismo, pode ser uma opção. TRANSTORNO ALCÓOLICO Cerca de 10% da população apresenta transtorno moderado ou grave por uso de álcool. 11% dos homens e 2% das mulheres consomem álcool todos os dias. 6,5% de todas as mortes estão relacionadas ao álcool. OMS – índice seguro: 2 drinks/dia, falhando 2 dias na semana. A intoxicação aguda por álcool causa depressão do sistema nervoso central. Outros sintomas surgem em seguida Euforia Incoordenação motora Confusão e desorientação Estupor e coma Com o uso crônico, sintomas de humor, distúrbios do sono e ansiedade são relatados. Além disso, ataxia cerebelar, neuropatia, distúrbios gastrointestinais, dislipidemias. O aumento das enzimas hepáticas (TGO > 2 vezes TGP) pode indicar dano hepático resultante do uso de álcool. A elevação de GGT sinaliza dano agudo causado pela substância. Síndrome de abstinência A síndrome de abstinência pode estar presente em 50% dos pacientes usuários de álcool. É caracterizada por hiperatividade do SNC e os sintomas têm inicio dentro das primeiras 24 horas da cessação do uso e pico em 2-3 dias. Sintomas psicológicos (insônia, irritabilidade, disforia) podem persistir por 2 semanas. Os sinais (hiperatividade autonômica, distúrbios gastrointestinais e alterações neuropsicológica) podem ser classificados em complicados ou não complicados. Screening Questionário CAGE (cut down, annoyed, guilty, eye-opener). Duas ou mais respostas positivas detecta uso nocivo e dependência de álcool com sensibilidade entre 43-94% e especificidade entre 70-97%. Questionário AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test), desenvolvido pela OMS, contém 10 perguntas e detecta padrões menos graves de consumo de álcool. Tratamento a)Intoxicação aguda: manejo sintomático e expectante. Em casos graves (estupor, hipotermia, anestesia), avaliação em serviço de emergência. Deitar o paciente de lado, para que ele evite aspirar o próprio vomito e manter o monitoramento dos sinais vitais. Se necessário soro glicosado, aplicar vitamina B1 (tiamina) antes, para profilaxia da Síndrome de Wernicke. b)Uso crônico: estratégias para modificar o comportamento do paciente, baseadas no estagio de motivação de mudança no qual o paciente se encontra. O tratamento da abstinência pode ser realizado ambulatorialmente. Se o paciente tiver baixo suporte familiar, histórico de abuso de outras substancias ou sintomas de abstinência graves prévios, encaminhar para serviço especializado. Se o tratamento da abstinência for realizado na atenção primária Ambiente quieto e seguro Orientar o paciente e o cuidador quanto aos possíveis sintomas de abstinência Utilizar benzodiazepínicos (diazepam ou lorazempam são os fármacos de escolha). Benzodiazepínicos: diminuem os sintomas de abstinência, bem como o risco de convulsão. Devem ser usados por até 1-2 semanas. Lorazepam é usado quando há suspeita de dano hepático. Síndrome de Wernicke Cursa com ataxia cerebelar, nistagmo e confusão mental. Para profilaxia desse quadro, suplementar tiamina para TODOS. Fornecer tiamina antes do SG, se ele for necessário. Para pacientes subnutridos, recomenda-se que tal dose seja fornecida IM ou IV. Tiamina 100mg IM 3x/dia por 3-5 dias, após, 100-300mg VO/dia por 3 meses Quadros de abstinência que cursem com sintomas psicóticos devem ser tratados com antipsicóticos em ambiente hospitalar. Após atingir a abstinência, pode-se utilizar um medicamento para evitar recaídas, como o dissulfiram. O paciente deve ser orientado quanto aos efeitos do fármaco (antagonista da enzima metabolizadora do álcool). A naltraxona pode ser uma opção. Existem estratégias não farmacológicas, como grupos terapêuticos (alcoólicos anônimos), terapia-cognitivo comportamentais e de manejo de contingências. O paciente deve evitar locais onde cosumia a bebida. ABORDAGEM DE USUÁRIOS DE DROGAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA O estabelecimento de vínculo adequado entre o profissional de saúde e a pessoa usuária de droga pode ser considerado o pilar estruturante do tratamento desse tipo deproblema. Anamnese Na avaliação clínica inicial, é preciso abordar o padrão e o tipo de substâncias psicoativas utilizadas (comumente há mais de uma), checar se já houve tratamento anterior, pesquisar comorbidades clínicas e psiquiátricas, bem como entender o histórico familiar, delinear o perfil psicossocial do indivíduo e realizar o exame do estado mental. Exame físico Não há sinais patognomônicos a se verificar, apesar de alguns achados levantarem suspeita de uso de drogas Aceleração ou lentificação da fala e do pensamento Irritação nasal e de conjuntivas Cicatrizes de punção venosa em membros superiores Queimaduras em dedos das mãos, entre outros Exames complementares Dosagens de transaminases, hemograma e sorologias para infecções sexualmente transmitidas. Exames toxicológicos de urina são úteis quando houver dúvida relativa ao diagnóstico de intoxicação por drogas, em situações de emergência médica. Tratamento Pacientes sem critérios de gravidade e virgens de tratamento parecem se beneficiar de intervenções psicossociais breves, realizadas no próprio contexto primário de atenção à saúde. A intervenção breve é uma estratégia de abordagem estruturada por seis elementos reconhecidos pela sigla FRAMES, cujas letras representam as iniciais das seguintes palavras em inglês: Feedback (resumo das avaliações feitas até o momento sobre as repercussões da droga no paciente) Responsibility (ênfase na responsabilidade pessoal do paciente pela mudança) Advice (recomendações claras para que o paciente modifique seus hábitos) Menu of options (apresentação de um menu de opções para mudança) Empathy (empatia) Self-efficacy (reforço da autoeficácia) A estratégia é eficaz em casos de uso de drogas com gravidade leve a moderada. Pode ser aplicada com tempo limitado e tem como foco a mudança de comportamento da pessoa. O uso da intervenção breve em serviços de atenção primária, com uma consulta mensal de até 15 minutos, ao longo de 4 a 5 encontros, pode ser efetivo na redução do padrão de consumo de álcool e outras substâncias psicoativas. Convém lembrar a importância de incluir a família na abordagem dos problemas em pauta, haja vista ser habitualmente ela o contexto problema e, também, potencial recurso terapêutico. Indicações de internação hospitalar para pessoas que usam drogas Condições médicas ou psiquiátricas que exijam observação constante (estados psicóticos graves, ideação suicida ou homicida, debilitação ou abstinência grave) e complicações orgânicas devidas ao uso ou à cessação do consumo da droga Dificuldade para cessar o uso de drogas, apesar dos esforços terapêuticos no nível primário de atenção à saúde Ausência de adequado apoio psicossocial que possa facilitar o início da abstinência Necessidade de interromper uma situação externa que reforce o uso da droga TRANSTORNOS MENTAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA TRANSTORNOS DEPRESSIVOS Transtornos depressivos são caracterizados por tristeza e irritabilidade suficientemente graves ou persistentes para interferir na atividade normal ou provocar um distúrbio considerável. A etiologia da depressão em crianças e adolescentes é desconhecida, mas semelhante à etiologia em adultos; acredita- se que seja o resultado das interações de fatores de risco determinados geneticamente e estresse ambiental (particularmente privações e perdas ocorridas muito cedo na vida). Manifestações clínicas As manifestações básicas dos transtornos de depressão em crianças e adolescentes são semelhantes àquelas em adultos, mas estão relacionadas a preocupações típicas das crianças, como tarefas escolares e brincadeiras. A depressão deve ser considerada quando o desempenho próprio da idade é ruim na escola, ocorre isolamento social ou cometem atos de delinquência. Em algumas crianças com um transtorno depressivo, o estado de humor predominante é a irritabilidade em vez da tristeza (uma diferença importante entre as formas infantis e adultas). A irritabilidade associada à depressão infantil pode manifestar-se como comportamento hiperativo, agressivo e antissocial. a)Transtorno disruptivo da desregulação do humor O transtorno disruptivo da desregulação do humor envolve irritabilidade persistente e episódios frequentes de um comportamento que é muito fora de controle, com início entre os 6 a 10 anos de idade. Muitas crianças também têm outros transtornos, particularmente transtorno desafiador opositivo, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) ou transtorno de ansiedade. O diagnóstico não é feito antes dos 6 anos ou depois dos 18 anos de idade. A ç ç ≥ ≥ 3 : Explosões temperamentais recorrentes graves (p. ex., raiva verbal e/ou agressão física contra pessoas ou q x à ç q ≥ 3 / Explosões temperamentais que são incompatíveis com o nível de desenvolvimento Humor irritável e exasperado presente todos os dias na maior parte do dia e observado por outros (p. ex., pais, professores, colegas) As explosões e o humor exasperado deve ocorrer em 2 de 3 ambientes (em casa ou na escola, com colegas). b)Transtorno depressivo maior T q ≥ . crianças e 5% dos adolescentes. Transtorno depressivo maior pode primeiro ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum depois da puberdade. Para o d ≥ q período de 2 semanas: Sentir-se triste ou outras pessoas acharam que se está triste (p. ex., choroso) ou irritável Perda de interesse ou prazer em quase todas as atividade (frequentemente expressa com ar de profundo aborrecimento) A ≥ : Perda ponderal (em crianças, incapacidade de ganhar o peso esperado) ou diminuição ou aumento do apetite Insônia ou hipersonia Agitação ou atraso psicomotor observado por outros (não autorrelatado) Fadiga ou perda de energia Diminuição da capacidade de pensar, concentrar-se e fazer escolhas Pensamentos recorrentes de morte (não apenas medo de morrer) e/ou planos ou ideação suicida Sentimentos de inutilidade (i.e., sentir-se rejeitado e mal-amado) ou culpa excessiva ou inapropriada A depressão maior em adolescentes é um fator de risco para insucesso acadêmico, uso de fármacos e comportamento suicida. c)Transtorno depressivo persistente (distimia) A distimia é humor deprimido ou irritável persistente que dura a maior parte do dia na maioria dos dias do ano por mais ≥ : Baixo apetite ou comer em excesso Insônia ou hipersonia Baixa energia ou fadiga Baixa autoestima Baixa concentração Sentimentos de desespero Diagnóstico Questões fechadas específicas ajudam a determinar se os pacientes têm os sintomas exigidos para o diagnóstico da depressão maior, com base nos critérios do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-5). A história deve focar fatores causais como violência doméstica, abuso sexual, exploração e efeitos adversos de drogas. Também devem ser questionados os comportamentos suicidas (p. ex., ideia, gestos, tentativas). Uma revisão cuidadosa da história clínica e testes laboratoriais apropriados são necessários para excluir outros distúrbios (p. ex., mononucleose infecciosa, doenças da tireoide, uso de fármacos) que podem causar sintomas semelhantes. Devem ser considerados outros transtornos mentais que podem aumentar o risco e/ou modificar os sintomas depressivos (p. ex., ansiedade e transtornos bipolares). Algumas crianças que desenvolvem o distúrbio bipolar ou esquizofrenia apresentaminicialmente a depressão maior. Tratamento Geralmente antidepressivos mais psicoterapia para os adolescentes. Para os pré-adolescentes, psicoterapia seguida, se necessário, de antidepressivos. Para os adolescentes (como para os adultos), uma combinação de psicoterapia com antidepressivos funciona melhor do que tratamentos isolados. A maioria dos médicos opta por um programa de psicoterapia para crianças mais novas; entretanto, fármacos pode ser usados em crianças mais nova x ç ≥ . Quando há indicação para o uso de antidepressivos, ISRSs ( Fármacos para tratamento a longo prazo da ansiedade e transtornos relacionados) são os medicamentos escolhidos como de primeira linha. Efeitos colaterais como desinibição e estimulação comportamental podem estar associados. Antidepressivos que agem sobre os sistemas serotoninérgicos e adrenérgicos/dopaminérgicos podem ser especialmente úteis nos casos resistentes ao tratamento. Antidepressivos não serotoninérgicos como a bupropiona e desipramina também podem ser associados aos ISRS para aumentar a eficácia. As crianças e os adolescentes devem permanecer sob tratamento por pelo menos 1 ano após os sintomas terem desaparecido. C ç q ≥ . TRANSTORNOS DE ANSIEDADE Os distúrbios da ansiedade são estados de medo, preocupação ou pavor, desproporcionais com a situação, e que enfraquecem as habilidades funcionais normais da criança. A ansiedade pode resultar de problemas físicos. Algum grau de ansiedade é um aspecto normal do desenvolvimento Crianças pequenas revelam algum medo ao se separarem das mães, especialmente em ambientes não familiares Entre os 3 e 4 anos, é comum o medo do escuro, de monstros, de insetos e de aranhas Nas crianças maiores, os medos mais comuns são de agressão ou de morte As crianças maiores e os adolescentes frequentemente ficam ansiosos quando precisam apresentar um livro diante de seus colegas Tais dificuldades não devem ser encaradas como evidências de distúrbios. Entretanto, se essas manifestações de ansiedade se tornam exageradas ao ponto que prejudicam significativamente a função ou causam aflição grave e/ou evitação, transtorno de ansiedade dever ser considerado. Os transtornos de ansiedade muitas vezes surgem durante a infância e adolescência. Em algum momento durante a infância, cerca de 10 a 15% das crianças experimentam um transtorno de ansiedade. Crianças com transtorno de ansiedade têm maior risco de depressão e ansiedade mais tarde na vida. Transtornos de ansiedade envolvem disfunção no sistema límbico e hipocampo que regulam as emoções e a resposta ao medo. Estudos de hereditariedade indicam que fatores genéticos e ambientais desempenham um papel. Em mais de 30% dos casos, é útil tratar a ansiedade dos pais em conjunto com a ansiedade da criança. Manifestações clínicas Talvez a manifestação mais comum de um transtorno de ansiedade em crianças e adolescentes seja a esquiva escolar. A maioria das crianças que se recusa a ir à escola provavelmente tem ansiedade por separação, transtorno de ansiedade social, transtorno de pânico ou uma combinação destes. Mal-estar gástrico, náuseas e cefaleia aparecem com frequência em crianças ansiosas. Muitas crianças com queixas somáticas, especialmente dor abdominal, têm um transtorno de ansiedade subjacente. Tratamento Terapia comportamental (utilizando princípios preventivos de exposição e reação), às vezes associada a medicamentos. Na terapia cognitivo-comportamental baseada em exposição, a criança é exposta, gradualmente, a situações provocadoras da ansiedade. Nos casos leves, apenas a terapia comportamental é suficiente, mas a terapia medicamentosa pode ser necessária nos casos mais graves ou quando o acesso ao terapeuta comportamental for limitada. ISRSs costumam ser a primeira escolha para o tratamento a longo prazo. Os benzodiazepínicos são melhores para ansiedade aguda, mas não são preferidos para o tratamento a longo prazo. Os benzodiazepínicos com meia-vida curta (lorazepam, 0,05 mg/kg até o máximo de 2 mg em dose única) são a melhor escolha. A maioria das crianças tolera bem os ISRSs. Ocasionalmente podem ocorrer mal-estar gástrico, diarreia, insônia ou perda ponderal. Algumas crianças têm efeitos comportamentais adversos (p. ex., desinibição ou agitação); esses efeitos costumam ser leves a moderados.
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