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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA POLITÉCNICA DA USP PECE – PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA EAD – ENSINO E APRENDIZADO À DISTÂNCIA eST-103 / STR-103 HIGIENE DO TRABALHO – PARTE A ALUNO SÃO PAULO, 2018 eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. EPUSP/PECE DIRETOR DA EPUSP JOSÉ ROBERTO CASTILHO PIQUEIRA COORDENADOR GERAL DO PECE LUCAS ANTÔNIO MOSCATO EQUIPE DE TRABALHO CCD – COORDENADOR DO CURSO À DISTÂNCIA SÉRGIO MÉDICI DE ESTON VICE - COORDENADOR DO CURSO À DISTÂNCIA WILSON SHIGUEMASA IRAMINA PP – PROFESSOR PRESENCIAL SÉRGIO MÉDICI DE ESTON CPD – CONVERSORES PRESENCIAL PARA DISTÂNCIA ANDRÉ FILLIPE BEZERRA CAROLINA COSTA BATISTA EMMANUEL BARREIRA FERRARO FLÁVIA VILHENA SUTTER AFFONSO GIOVANNA CABRAL CAZALI RODRIGO TONIOLO FILMAGEM E EDIÇÃO FELIPE THADEU BONUCCI KARLA CARVALHO THALITA SANTIAGO DO NASCIMENTO IMAD – INSTRUTORES MULTIMÍDIA Á DISTÂNCIA DIEGO DIEGUES FRANCISCA FELIPE BAFFI DE CARVALHO FELIPE THADEU BONUCCI PEDRO MARGUTTI DE ALMEIDA SEIJI RENAN MICHISHITA CIMEAD – CONSULTORIA EM INFORMÁTICA, MULTIMÍDIA E EAD CARLOS CÉSAR TANAKA JORGE MÉDICI DE ESTON SHINTARO FURUMOTO GESTÃO TÉCNICA MARIA RENATA MACHADO STELLIN APOIO ADMINISTRATIVO NEUSA GRASSI DE FRANCESCO VICENTE TUCCI FILHO “Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, sem a prévia autorização de todos aqueles que possuem os direitos autorais sobre este documento” iii eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. SUMÁRIO CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO AO MUNDO OCUPACIONAL ............................................. 1 1.1 PREVENÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO ................................................................. 2 1.1.1 O INÍCIO ................................................................................................................... 2 1.1.2 OS ANOS 60 ............................................................................................................ 5 1.1.3 CONTRIBUIÇÕES EXÓGENAS À PREVENÇÃO OCUPACIONAL ....................... 7 1.1.4 O PREVENCIONISMO NO BRASIL ........................................................................ 8 1.1.5 O “NASCIMENTO” DAS PROFISSÕES OCUPACIONAIS ................................... 10 1.1.6 ALGUNS MARCOS HISTÓRICOS E LEGISLATIVOS NO BRASIL. LEGISLAÇÃO ATUAL E AS NORMAS REGULAMENTADORAS (NRS) .............................................. 12 1.2 O PROFISSIONAL OCUPACIONAL E AS LEGISLAÇÕES A CONHECER ............. 13 1.3 SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL (SGSSO) (BS 8800 E OHSAS 18001) .............................................................................................. 14 1.4 TESTES ....................................................................................................................... 16 CAPÍTULO 2. HIGIENE OCUPACIONAL – ASPECTOS HISTÓRICOS .......................... 18 2.1 HISTÓRIA E CONCEITO ............................................................................................ 19 2.1.1 EVENTOS HISTÓRICOS EM SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL ........... 20 2.1.2 OUTROS PONTOS HISTÓRICOS DE DESENVOLVIMENTO DA HIGIENE INDUSTRIAL .................................................................................................................... 22 2.2 DESENVOLVIMENTOS NA AVALIAÇÃO .................................................................. 23 2.3. PADRÕES E CRITÉRIOS .......................................................................................... 23 2.4 CONTROLE ................................................................................................................. 24 2.5 OUTROS ASPECTOS................................................................................................. 25 2.6 FORMAÇÃO, EDUCAÇÃO E ASSOCIAÇÕES .......................................................... 25 2.7 TESTES ....................................................................................................................... 27 CAPÍTULO 3. SITUANDO A HIGIENE OCUPACIONAL .................................................. 29 3.1 ESTABELECENDO CONCEITOS INICIAIS E DEFINIÇÕES .................................... 30 3.1.1 CONCEITUAÇÃO GERAL ..................................................................................... 30 3.1.2 DETALHANDO ASPECTOS BÁSICOS ................................................................. 31 3.2 ÁREAS DE INTERAÇÃO DA HIGIENE OCUPACIONAL. ......................................... 32 3.2.1 MEDICINA OCUPACIONAL. .................................................................................. 32 3.2.2 ÁREA DE GESTÃO AMBIENTAL. ......................................................................... 33 3.2.3 ERGONOMIA ......................................................................................................... 33 3.3 POR QUE É FUNDAMENTAL AGIR SOBRE O AMBIENTE? ................................... 33 3.4 CONCEITOS DA HIGIENE EM ALGUMAS REFERÊNCIAS ..................................... 34 3.5 O CONCEITO DO LIMITE DE TOLERÂNCIA / LIMITE DE EXPOSIÇÃO ................ 34 3.5.1 EXERCÍCIO DE CONSTRUÇÃO DO CONCEITO ................................................ 34 3.6 INTRODUÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS ................................................................. 35 3.7 MEDIDAS GENÉRICAS DE CONTROLE DE AGENTES AMBIENTAIS................... 36 3.7.1 MEDIDAS RELATIVAS AO AMBIENTE ................................................................ 38 3.7.2 MEDIDAS RELATIVAS AO PESSOAL .................................................................. 41 3.8 ENTIDADES E ASSOCIAÇÕES DA ÁREA ................................................................ 42 3.9 ATUAÇÃO DO HIGIENISTA OCUPACIONAL ........................................................... 42 3.10 O HIGIENISTA E AS QUESTÕES TÉCNICO-LEGAIS ............................................ 43 3.11 A HIGIENE OCUPACIONAL, SUAS “ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO” E AS FORMAÇÕES PROFISSIONAIS. ..................................................................................... 43 3.12 TEXTO COMPLEMENTAR ....................................................................................... 45 3.13 TESTES ..................................................................................................................... 47 CAPÍTULO 4. O CORPO HUMANO................................................................................... 49 4.1 A CIÊNCIA DO CORPO HUMANO ............................................................................. 50 4.1.1 A CÉLULA .............................................................................................................. 50 4.1.2 ROTAS DE ENTRADA ........................................................................................... 51 4.1.3 SISTEMAS INTERNOS .......................................................................................... 55 4.1.4 ROTAS DE SAÍDA ................................................................................................. 57 iv eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 4.2 TESTES (1) ................................................................................................................. 59 4.3 A NATUREZA DO PROBLEMA .................................................................................. 62 4.3.1 DANO CELULAR .................................................................................................... 62 4.3.1.1 CARCINOGÊNICOS ........................................................................................... 62 4.3.1.2 MUTAGÊNICOS E TERATOGÊNICOS .............................................................. 62 4.3.1.3 ROTAS DE ENTRADA ........................................................................................ 62 4.3.1.3.1INALAÇÃO ........................................................................................................ 62 4.3.1.3.2. ABSORÇÃO .................................................................................................... 63 4.3.1.3.3 INGESTÃO ....................................................................................................... 64 4.3.1.3.4. INJEÇÃO ......................................................................................................... 64 4.3.2 SISTEMAS INTERNOS .......................................................................................... 64 4.3.2.1 SISTEMA CIRCULATÓRIO ................................................................................ 64 4.3.2.2 SISTEMA NERVOSO .......................................................................................... 65 4.3.2.3 SISTEMA REPRODUTIVO ................................................................................. 65 4.3.3 ROTAS DE SAÍDA ................................................................................................. 66 4.3.3.1 O FÍGADO ........................................................................................................... 66 4.3.3.2 RINS E BEXIGA .................................................................................................. 67 4.3.4 PERÍODO DE LATÊNCIA E DOENÇA OCUPACIONAL ...................................... 67 4.3.5 EFEITOS AGUDOS E CRÔNICOS ....................................................................... 68 4.4 CASOS REAIS - O ACIDENTE DE BHOPAL ............................................................. 69 4.5 TESTES (2) ................................................................................................................. 70 4.6 LIMITES DE TOLERÂNCIA ........................................................................................ 71 4.6.1 DETERMINAÇÃO DO RISCO ASSOCIADO A SUBSTÂNCIAS .......................... 71 4.6.1.1 TESTES EM ANIMAIS ........................................................................................ 71 4.6.1.2 TESTES EM SERES HUMANOS ....................................................................... 72 4.7 FATORES INFLUENTES ............................................................................................ 75 4.7.1 TOXICIDADE .......................................................................................................... 75 4.7.2 CONCENTRAÇÃO ................................................................................................. 76 4.7.3 TEMPO DE EXPOSIÇÃO ...................................................................................... 77 4.7.4 SUSCETIBILIDADE INDIVIDUAL .......................................................................... 77 4.8 TIPOS DE LIMITES DE TOLERÂNCIA ...................................................................... 77 4.8.1 LIMITES DE TOLERÂNCIA SEGUNDO A ACGIH ................................................ 78 4.8.1.1 LIMITE DE TOLERÂNCIA MÉDIA PONDERADA - LTMAP .............................. 78 4.8.1.2 LIMITE DE TOLERÂNCIA CURTA EXPOSIÇÃO - LTCE .................................. 79 4.8.1.3 LIMITE DE TOLERÂNCIA VALOR TETO - LTVT .............................................. 80 4.8.1.4 DISTINÇÃO ENTRE LIMITES MÉDIA PONDERADA (LTMAP) E VALOR TETO (LTVT) .............................................................................................................................. 81 4.8.1.5 LIMITES SUPERÁVEIS CONDICIONALMENTE ............................................... 81 4.8.2 NORMAS CANADENSES ...................................................................................... 82 4.8.3 NORMAS BRASILEIRAS ....................................................................................... 83 4.8.4 COMPARAÇÃO ENTRE AS NORMAS BRASILEIRAS E AS SUGESTÕES DA ACGIH .............................................................................................................................. 91 4.8.4.1 CONCEITUAÇÃO ................................................................................................ 91 4.8.4.2 VISUALIZAÇÃO GRÁFICA DE LTVT E TLV-C .................................................. 91 4.8.4.3 VISUALIZAÇÃO GRÁFICA DO TLV-TWA (LTMAP) SEM EXISTÊNCIA DE TLV- STEL (LTCE) ................................................................................................................... 92 4.8.4.4 VISUALIZAÇÃO GRÁFICA DO TLV-TWA (LTMAAP) COM EXISTÊNCIA DE TLV-STEL (LTCE) ........................................................................................................... 94 4.8.4.5 O CASO DO BERÍLIO ......................................................................................... 94 4.9 METODOLOGIAS DE MEDIÇÃO ............................................................................... 95 4.9.1 MEDIÇÕES NO INDIVÍDUO .................................................................................. 95 4.10 AÇÕES CORRETIVAS ............................................................................................. 96 4.11 ESTUDO DIRIGIDO .................................................................................................. 97 4.12 TESTES (3) ............................................................................................................... 98 4.13 CASOS REAIS ........................................................................................................ 100 v eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 4.13.1 A CIÊNCIA DAS RESINAS ................................................................................ 100 4.13.2 A NATUREZA DO PROBLEMA ......................................................................... 102 4.13.2.1 COMPONENTES EPÓXI (MONÔMEROS, OLIGÔMEROS) ......................... 102 4.13.2.2 COMPONENTES AMINO ............................................................................... 102 4.13.2.2.1 COMPOSTO 2, 4, 6 TRIS-FENOL ............................................................... 102 4.13.2.2.2 COMPOSTO TRIETILENOTETRAMINA ..................................................... 103 4.13.2.2.3 COMPONENTE POLIETILENO POLIAMINA (POLÍMERO) ....................... 103 4.13.2.3 SOLVENTES (GRUPOS EPÓXI E AMINO) ................................................... 103 4.13.2.4 OUTROS COMPONENTES DA RESINA EPÓXI ADERENTE ...................... 103 4.13.2.4.1 EPICLORIDRINA.......................................................................................... 103 4.13.2.4.2 BISFENOL .................................................................................................... 103 4.13.2.4.3 CROMATOS E METAIS ............................................................................... 103 4.13.3 LIMITES DE TOLERÂNCIA ............................................................................... 103 4.13.4 METODOLOGIA DE MEDIÇÃO ......................................................................... 105 4.13.4.1 RESINAS EPÓXI ............................................................................................. 105 4.13.4.2 AMINAS ........................................................................................................... 105 4.13.4.3 SOLVENTES ................................................................................................... 105 4.13.4.4 METAIS ........................................................................................................... 105 4.13.5 RESULTADOS ................................................................................................... 106 4.13.6 AÇÕES CORRETIVAS ...................................................................................... 106 4.14 TESTES (4) ............................................................................................................. 108 CAPÍTULO 5. CONCEITOS BÁSICOS DE ESTATÍSTICA EM HIGIENE ...................... 110 5.1 A CIÊNCIA DO TRATAMENTO DE DADOS............................................................ 112 5.1.1 MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL ............................................................... 112 5.1.2 DISPERSÃO ......................................................................................................... 115 5.2 TESTES (1) ............................................................................................................... 122 5.3 A NATUREZA DO PROBLEMA ................................................................................ 126 5.3.1 VALORES MEDIDOS ........................................................................................... 126 5.3.2 ERROS ................................................................................................................. 127 5.3.3 PARÂMETROS OPERACIONAIS ........................................................................ 128 5.3.4 ESPECIFICAÇÕES DE DESEMPENHO ............................................................. 131 5.4 CASOS REAIS E EXEMPLOS .................................................................................. 131 5.4.1 DISTRIBUIÇÃO LOG NORMAL ........................................................................... 131 5.4.2 EXEMPLO OCUPACIONAL 1 – SILICOSE EM MINAS DE OURO ................... 132 5.4.3 EXEMPLO OCUPACIONAL 2 – SILICOSE EM PEDREIRAS ............................ 134 5.4.4 EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA MÉDIA GEOMÉTRICA .................................... 135 5.4.5 EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA MÉDIA HARMÔNICA ...................................... 135 5.5 LIMITES ADMISSÍVEIS............................................................................................. 136 5.5.1 O QUE SIGNIFICAM OS VALORES NUMÉRICOS ............................................ 136 5.5.2 EXEMPLO DE CÁLCULO DA EXPOSIÇÃO MÉDIA ........................................... 137 5.5.3 EXEMPLO DE EFEITOS ADITIVOS.................................................................... 138 5.6 METODOLOGIAS DE MEDIÇÃO ............................................................................. 139 5.6.1 SELEÇÃO DO LOCAL DE AMOSTRAGEM ........................................................ 140 5.6.2 ESTRATÉGIA DE AMOSTRAGEM ..................................................................... 140 5.6.3 METODOLOGIA DE AMOSTRAGEM ................................................................. 142 5.6.4 FREQUÊNCIA DE AMOSTRAGEM ..................................................................... 143 5.6.5 EXECUÇÃO DA AMOSTRAGEM ........................................................................ 143 5.6.6 TRANSPORTE E CUIDADOS COM AS AMOSTRAS ........................................ 143 5.6.7 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS ....................................................................... 143 5.6.8 ANÁLISE DAS AMOSTRAS ................................................................................. 143 5.6.9 INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ........................................................................ 143 5.6.10 APRESENTAÇÃO CUIDADOSA DOS RESULTADOS .................................... 145 5.6.11 DISTINÇÃO ENTRE PARÂMETROS DA AMOSTRA E DA POPULAÇÃO ..... 145 5.7 TESTES (2) ............................................................................................................... 146 5.8 EXERCÍCIOS ............................................................................................................. 150 vi eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 151 1 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO AO MUNDO OCUPACIONAL OBJETIVOS DO ESTUDO A higiene ocupacional faz parte das disciplinas chamadas “prevencionistas” e está inserida num contexto maior, que é o da preservação da segurança e da saúde no mundo do trabalho. O capítulo dá um histórico sintético da evolução da prevenção através dos tempos, até os dias de hoje, incluindo aspectos históricos e marcos legislativos do Brasil. Procura situar a pessoa não inserida no meio ocupacional, que pode ter sido atraída para o curso diretamente de uma área não necessariamente correlata, e que tem todo um contexto a conhecer. Ao terminar o capitulo você estará apto a: • Identificar aspectos evolutivos da questão ocupacional; • Entender o contexto onde se insere o higienista ocupacional; • Identificar as modernas escolas de prevenção; • Reconhecer os principais marcos históricos, profissionais e legislativos ocupacionais no Brasil. Nota: O conteúdo deste capítulo foi extraído das notas de aula do professor Mário Fantazzini. 2 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 1.1 PREVENÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO 1.1.1 O INÍCIO O problema dos acidentes e doenças ocupacionais não é um problema recente; pelo contrário, tem acompanhado o desenvolvimento das atividades do homem através dos séculos. Assim, o homem primitivo teve sua integridade física ameaçada e sua capacidade produtiva diminuída pelos acidentes próprios da caça, da pesca e da guerra, atividades que eram as mais importantes de sua época. Mais tarde, o caçador que habitava as cavernas, transformou-se em artesão e passou a trabalhar em minas e com os metais, gerando as primeiras doenças do trabalho, provocadas pelos próprios materiais utilizados na sua atividade laboral. As primeiras referências escritas, relacionadas com estes problemas, encontram-se num papiro Egípcio, que data de 2360 a.C., o chamado Papiro Seller II, e que dizem: “Eu jamais vi ferreiros em embaixadas e fundidores em missões. O que eu vejo sempre é o operário em seu trabalho; ele se consome nas goelas de seus fornos. O pedreiro exposto a todos os ventos, enquanto a doença o espreita, constrói sem agasalho, seus dois braços se gastam no trabalho; seus alimentos vivem misturados com os detritos, ele se come a si mesmo, porque só tem como pão os seus dedos. O barbeiro cansa os seus braços para encher o ventre. O tecelão vive encolhido, joelho ao estômago, ele não respira. As lavadeiras sobre as bordas do rio são vizinhas do crocodilo. O tintureiro fede a morrinha do peixe; seus olhos são abatidos de fadiga, suas mãos não param e suas vestes vivem em desalinho”. Em 460 a.C., Hipócrates, considerado o pai da medicina, também fala dos acidentes e doenças do trabalho. Quatro séculos mais tarde, Plínio (23-79 d.C.), após visitar alguns locais de trabalho, principalmente galerias de minas, descreve impressionado o aspecto dos trabalhadores expostos ao chumbo, ao mercúrio e às poeiras. Menciona então a iniciativa dos escravos em utilizarem à frente do rosto, à guisa de máscaras, panos ou membranas (de bexiga de carneiro) para atenuar a inalação de poeiras. Em 1556, um ano após a sua morte, Georg Bauer, mais conhecido pelo seu nome latino de Georgius Agricola, publica em latim seu livro De Re Metallica. Após estudar diversos aspectos relacionados à extração de metais argentíferos e auríferos e à sua fundição, dedica o último capítulo aos acidentes do trabalho e às doenças mais comuns entre os mineiros. Agricola dá destaque especial à chamada “asma dos mineiros”, provocada por poeiras que descreveu como “corrosivas”. A descrição dos sintomas e a evolução da doença fazem lembrar a silicose. Segundo as observações de Agricola, em algumas regiões extrativas, as mulheres chegavam a casarem-se sete vezes, roubadas que eram de seus maridos, pela morte prematura encontrada na ocupação que exerciam. Onze anos mais tarde, surge a publicação de Paracelso (Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim): “Dos Ofícios e das Doenças da Montanha”. Seu autornasceu e viveu durante muitos anos em um centro mineiro da Boêmia, e são numerosas as suas observações relacionando métodos de trabalho ou substâncias manuseadas com doenças, sendo de destacar-se, por exemplo, que, em relação à intoxicação pelo mercúrio, os principais sintomas dessa doença profissional encontram-se ali assinalados, bem como da silicose. Em 1700, era publicada em Módena, na Itália, a primeira edição do livro DE MORBIS ARTIFICUM DIATRIBA, escrito pelo médico Bernadino Ramazzini (1633 - 1714). Nesta 3 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. obra fundamental que lhe valeu o epíteto de “Pai da Medicina do Trabalho”, Ramazzini descreve com rara sensibilidade e grande erudição literária, doenças que ocorrem em trabalhadores de mais de cinquenta ocupações. Às perguntas Hipócraticas, fundamentais na anamnese, propõe Ramazzini que se acrescente mais uma: QUAL É A SUA OCUPAÇÃO? A partir do séc. XVIII, profundas alterações tecnológicas são iniciadas pela humanidade, e sua importância é de tal magnitude que foi chamada de Revolução Industrial. São inventados a máquina a vapor (James Watts - 1781) e o regulador automático de velocidade (1785), inventos estes que deram ao homem a independência das fontes localizadas de energia (rios) e o uso de uma nova forma controlável (de energia), de baixo custo e abundante. A organização das primeiras indústrias foi uma tragédia para as classes trabalhadoras, dadas as condições subumanas nas quais se desenvolviam as atividades fabris. Os acidentes do trabalho e as doenças provocadas pelas substâncias e ambientes do trabalho geravam grande número de doentes e mutilados. As primitivas máquinas de fiação e tecelagem necessitavam de força motriz para acioná-las e esta foi encontrada na energia hidráulica; daí o nome de mill, pelo qual, até hoje, são conhecidas as fiações nos países de língua inglesa. A descoberta da máquina a vapor, porém, veio permitir a instalação de fábricas em quaisquer lugares e, muito naturalmente, as grandes cidades, onde era abundante a mão de obra. Assim, galpões, estábulos, velhos armazéns eram rapidamente transformados em "fábricas", colocando- se, no seu interior, o maior número possível de máquinas de fiação e tecelagem. Como mulheres e crianças podiam cuidar das máquinas e receber menos que os homens, deram-lhes trabalho, enquanto o homem ficava em casa, frequentemente sem poder trabalhar. A princípio, os donos de fábricas compravam o trabalho das crianças pobres, nos orfanatos; mais tarde, como os salários do pai operário e da mãe operária não eram suficientes para manter a família, também as crianças que tinham casa foram obrigadas a trabalhar nas fábricas e minas. Intermediários inescrupulosos percorriam as grandes cidades inglesas, arrebanhando crianças, que lhes eram vendidas por pais miseráveis e revendidas a £ 5 (Libras Esterlinas) por cabeça, aos empregadores que, ansiosos por obter um suprimento inesgotável de mão-de-obra barata, se comprometiam a aceitar uma criança débil mental para cada 12 crianças sadias. A improvisação das fábricas e a mão-de-obra constituída principalmente por crianças e mulheres resultaram em problemas ocupacionais extremamente sérios. Os acidentes do trabalho eram numerosos e provocados por máquinas sem qualquer proteção, movidas por correias expostas e as mortes, principalmente de crianças, eram muito frequentes. Inexistindo limites de horas de trabalho, homens, mulheres e crianças iniciavam suas atividades pela madrugada, abandonando-as somente ao cair da noite; em muitos casos continuava mesmo durante a noite, em fábricas parcamente iluminadas por bicos de gás. As atividades profissionais eram executadas em ambientes fechados, onde a ventilação era precaríssima. Não é, pois, de estranhar-se que doenças de toda a ordem disseminassem entre os trabalhadores, especialmente entre as crianças (principalmente as infecto-contagiosas, como o tifo europeu, que era chamado de “febre das fábricas”, cuja disseminação era facilitada pelas más condições do ambiente de trabalho e pela grande concentração e promiscuidade dos trabalhadores). Tal dramática situação dos trabalhadores não poderia deixar indiferente à opinião pública, e por essa razão criou-se, no parlamento britânico, sob direção de sir Robert Peel, 4 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. uma comissão de inquérito que, após longa e tenaz luta, conseguiu que em 1802 fosse aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores: a “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”, que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a lavar as paredes das fábricas duas vezes por ano, e tornava obrigatória a ventilação destas. Em 1830, quando as condições de trabalho das crianças ainda se mostravam péssimas, a despeito dos diversos documentos legais, o proprietário de uma fábrica inglesa, que se sentia perturbado diante das péssimas condições de trabalho dos seus pequenos trabalhadores, procurou Robert Baker, famoso médico inglês, pedindo-lhe conselhos sobre a melhor forma de proteger a saúde dos mesmos. Baker dedicava parte do seu tempo a visitar fábricas e tomar conhecimento das relações entre trabalho e doença, o que levou o governo britânico, quatro anos mais tarde, a nomeá-lo Inspetor Médico de Fábricas. Assim, diante do pedido do empregador inglês, aconselhou-o a contratar um médico da localidade em que funcionava a fábrica de modo a visitar diariamente o local de trabalho e estudar a sua possível influência sobre a saúde dos pequenos operários, que deveriam ser afastados de suas atividades profissionais tão logo fosse notado que estas estivessem prejudicando a sua saúde. Surgia, assim, o primeiro serviço médico industrial em todo o mundo. Em 1831, uma comissão parlamentar de inquérito, sob a chefia de Michael Saddler, elaborou um cuidadoso relatório, que concluía da seguinte maneira: “Diante desta Comissão desfilou longa procissão de trabalhadores - homens e mulheres, meninos e meninas. Abobalhados, doentes, deformados, degradados na sua qualidade humana, cada um deles era clara evidência de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade do homem para com o homem, uma impiedosa condenação daqueles legisladores que, quando em suas mãos detinham poder imenso, abandonaram os fracos à rapacidade dos fortes”. O impacto deste relatório sobre a opinião pública foi tremendo, e assim, em 1833, foi baixado o Factory Act, que deve ser considerada como a primeira legislação realmente eficiente no campo da proteção ao trabalhador. Aplicava-se a todas as empresas têxteis onde se usasse força hidráulica ou a vapor; proibia o trabalho noturno aos menores de 18 anos e restringia as horas de trabalho destes, a 12 por dia e 69 por semana; as fábricas precisavam ter escolas, que deviam ser frequentadas por todos os trabalhadores menores de 13 anos; a idade mínima para o trabalho era de 9 anos e um médico devia atestar que o desenvolvimento físico da criança correspondesse à sua idade cronológica. Até a primeira guerra mundial, perdurou esta situação com alguns intentos isolados para controlar os acidentes e doenças ocupacionais, sendo que a conflagração marcou o início dos primeiros intentos científicos de proteção ao trabalhador, estudando-se as doenças dos trabalhadores, as condições ambientais, a distribuição assim como o desenho das máquinas e equipamentos, as proteções necessárias para evitar acidentes e incapacidades, etc. Este movimento prevencionista consegue a sua maturidade durante a segunda guerra mundial, quando os países em luta compreenderam que o vencedor seria aquele que tivesse uma melhor capacidade industrial e, para isto, conseguissemanter um maior número de trabalhadores em produção ativa. Como pudemos ver, o prevencionismo evoluiu lentamente através dos tempos, caracterizando-se, inicialmente, por ações eminentemente médicas. Mesmo quando as primeiras leis de amparo à infortunística foram decretadas, o seu objetivo foi restrito à reparação dos danos causados pelo trabalho; surgiu toda uma legislação social de 5 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. “reparação” de danos (lesões). Dessa forma, o seguro social (Previdência Social) realizava e realiza ações assegurando o risco de acidentes, ou melhor dizendo, o risco de lesões. Por outro lado, já no nosso século, iniciaram-se as ações complementares e necessariamente básicas do prevencionismo, ou seja, era óbvio, como ainda hoje nos é, que além de se reparar os danos causados pelos acidentes, era necessário evitar a sua ocorrência. 1.1.2 OS ANOS 60 A preocupação com todos os tipos de acidentes e as considerações econômicas. O avanço da prevenção nos anos de guerra aperfeiçoou ao máximo a prevenção “operacional” dos riscos, desenvolvendo-se as aplicações de engenharia básica, como a proteção de máquinas, de incêndios, dos riscos elétricos, etc., ou seja, toda a prevenção de acidentes que hoje chamaríamos de tradicional (não se deixe enganar pelo nome - todas essas atividades são fundamentais na prevenção). Essa época também impulsionou muito a Higiene Ocupacional, observe-se. Até então, a preocupação era limitada à prevenção dos acidentes-tipo, ou acidentes pessoais, ou simplesmente acidentes, pois não havendo lesão, não existia o conceito (do ponto de vista legal, também não existe o acidente sem acidentado). Surgiram então, teorias que foram e ainda são importantes, mostrando que ao se fechar os olhos para os acidentes sem lesão (apenas com danos materiais), perdem-se em prevenção, pois o que é realmente aleatório deste fato chamado acidente, é o seu resultado (só lesão, só dano material, só dano econômico ou qualquer combinação destes). O acidente não é aleatório na sua chance de ocorrer, pois persistindo riscos, ele ocorrerá. O acidente é, porém, aleatório no momento de sua ocorrência e na tipologia dos danos consequentes. A vantagem em se estudar todos os tipos de acidentes era justamente poder detectar um maior espectro de riscos, e assim aperfeiçoar a prevenção. As teorias buscavam também, com razão, seduzir o empresário para a prevenção, mostrando que as perdas materiais e econômicas dos acidentes eram muito maiores do que se imaginava e que sua redução era possível. Mais ainda, tal redução passava pela tecnologia da Engenharia de Segurança, aliada à nova visão que as teorias planejavam adicionar. As duas principais teorias surgidas na década foram: 6 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. Quadro 1.1. Controle de Danos. Controle de Danos - Em 1966, o norte americano Frank Bird Jr. concluiu um estudo de 90.000 acidentes (75.000 com danos à propriedade), ocorridos em uma empresa metalúrgica durante 7 anos, e que serviram de base para sua teoria chamada “Controle de Danos”. Um programa de Controle de Danos requer a identificação, registro e análise de todos os acidentes com danos à propriedade, cujos custos devem ser determinados e cuja análise deve desencadear ações preventivas. O programa tinha uma vertente forte na mudança de cultura (ou seja, acidentes sem lesionados passariam a ser considerados acidentes), além de provisões para o levantamento dos custos (essencialmente, os custos de manutenção e reparos causados por acidentes, normalmente diluídos e irreconhecíveis na contabilidade das empresas). Como não havia a informatização, os controles eram feitos por etiquetas apostas aos itens a sofrer manutenção, ou através do uso da letra “A” nas ordens de serviço, para posterior controle (manual) dos custos. Pode agora parecer simples ou até bisonho, mas foi uma revolução para os pensamentos da época. É claro que o programa previa todas as outras ferramentas da prevenção tradicional. 7 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. Controle Total de Perdas - Partindo também da premissa de que os acidentes que resultam em danos às instalações, equipamentos e materiais têm as mesmas causas básicas que aqueles que resultaram em lesões, o canadense John A. Fletcher propôs, em 1970, o estabelecimento de “Programas de Controle Total de Perdas”. Desde já se observa que permanece grande o apelo desta denominação e de seus objetivos nos dias de hoje. Esta teoria, que deve ser mostrada com detalhe nos cursos de engenharia de segurança, pode ser resumida como segue: Segundo a proposta de Fletcher, o PCP deve ser idealizado de modo a eliminar todas as fontes de interrupção de um processo de produção, querem elas resultem de lesão, dano à propriedade, incêndio, explosão, roubo, vandalismo, sabotagem, poluição ambiental, doença ocupacional ou defeito do produto. Trata-se de uma visão mais abrangente do conceito de “perda” de Bird. Os passos de implantação previam: o levantamento do perfil dos programas de prevenção existentes, a definição de prioridades e a elaboração de planos de ação (usando-se as ferramentas tradicionais da prevenção). Particularmente interessante é o levantamento dos perfis de prevenção, baseado em perguntas chave, com um sistema de pontos. Tratava-se do embrião dos sistemas de auditoria de segurança, levantando deficiências a serem sanadas nos planos de ação. 1.1.3 CONTRIBUIÇÕES EXÓGENAS À PREVENÇÃO OCUPACIONAL 1.1.3.1 TECNOLOGIAS DE PREVENÇÃO: TÉCNICAS DE ANÁLISE DE RISCOS As técnicas estruturadas de análise de riscos, ou “Técnicas de Análise de Riscos”, como agora as conhecemos, têm sua origem em duas grandes vertentes: a área de processos (indústrias de processo) e a militar/bélico/aeroespacial (onde se configurou a disciplina “Engenharia de Segurança de Sistemas”). Ao final da segunda grande guerra, nascia uma indústria de armas mais sofisticadas, os mísseis. Em todas as áreas militares norte-americanas (aeronáutica, marinha, exército) já surgiam técnicas embrionárias de análise de riscos, visando reduzir a ocorrência de acidentes operacionais catastróficos, por uma ação antes dos mesmos, ou seja, preventiva. Essas técnicas foram se fortalecendo e se desenvolvendo dentro da indústria de mísseis, de forma a serem desenvolvidos sistemas mais seguros, com menos falhas e riscos de operação. Esse movimento foi se configurando numa disciplina que se consolidou com a corrida aeroespacial (que tinha a necessidade de alta confiabilidade, erro “zero”), chamada Engenharia de Segurança de Sistemas. A maioria das técnicas atuais provém desta área. Muitas delas surgiram como resposta a riscos inadmissíveis no desenvolvimento de sistemas, ou a catástrofes concretas. A APR (Análise Preliminar de Riscos), por exemplo, foi desenvolvida e tornou-se obrigatória após os acidentes com o sistema de mísseis Atlas. As árvores de falhas, pelos riscos de um lançamento não autorizado dos mísseis Minuteman. Na área de processos, a busca por plantas mais seguras foi alavancada e consolidada por acidentes sérios, como Flixborough, Seveso, Bhopal. As técnicas mais importantes que daí surgiu foram o HAZOP (Estudo de Riscos e Operabilidade) e o What If (Técnica E SE...). É importante observar que as técnicas, especialmente as de segurança de sistemas, foram gradualmente passando para a área “civil” de riscos já nos anos sessenta. Os primeiros artigos em revistas de segurança do trabalho foram provavelmente os de Recht, em 1966, na National Safety News norte-americana. A forma mais técnicae estruturada de se analisar riscos, a maior objetividade e a sistematização eram fatos novos no mundo 8 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. prevencionista, e, aos poucos, as técnicas se disseminaram nas empresas. Elas também geraram variantes mais simples ou adaptações que podem ser identificadas em estudos ocupacionais, como a ART (Análise de Riscos no Trabalho) e a própria “Árvore de Causas”, uma aplicação ocupacional da técnica SR (Série de Riscos). Observe-se que na Segurança de Sistemas há mais de 20 técnicas disponíveis, algumas muito específicas (ver referências bibliográficas, Willie Hammer). Em 1979, Mario Fantazzini e Francesco De Cicco lançaram pela Fundacentro a primeira obra em língua portuguesa no Brasil sobre Segurança de Sistemas, com as ferramentas de Análise de Riscos supracitadas e outros conceitos. 1.1.3.2 ANÁLISE DE RISCOS E GERÊNCIA DE RISCOS É necessário relatar que a gerência de riscos não possui uma conceituação universalmente aceita. Sem alongar demasiadamente o tema, observamos essencialmente que a linha que temos seguido é a da consideração ampla dos vários processos da gerência de riscos, como abaixo descritos, devidamente municiados pelas técnicas de análise de riscos. Os processos básicos são: • Identificação de riscos; • Análise de riscos; • Avaliação de riscos; • Tratamento de riscos. • prevenção • eliminação • redução • financiamento • retenção (auto adoção ou auto-seguro) • transferência (através ou não de seguro) As técnicas subsidiam todos os processos, pois em forma geral não só identificam os riscos, analisam suas causas e efeitos, avalia quantitativamente os mesmos, como também geram medidas de prevenção e controle e permitem (nas técnicas quantitativas) estabelecer estudos de custo-benefício quanto a investimentos de controle e de financiamento (discussão de taxas de seguro frente à probabilidade de ocorrência dos danos, por exemplo). 1.1.4 O PREVENCIONISMO NO BRASIL Embora em menores proporções, não seria despropósito afirmar que o período vivido pelo Brasil, basicamente Rio de Janeiro e São Paulo, de 1880 a 1920, guarda grande similitude com o período da “Revolução Industrial” da Inglaterra de cem anos antes. Nos seus aspectos positivos, mas também na repetição dos problemas desencadeados pela industrialização. De acordo com o relatório de Dean, “as condições de trabalho eram duríssimas, muitas estruturas que abrigavam as máquinas não haviam sido originalmente destinadas à essa finalidade, além de mal iluminadas e mal ventiladas não dispunham de instalações sanitárias. As máquinas se amontoavam ao lado umas das outras, e suas correias e engrenagens giravam sem proteção alguma”. Os acidentes se amiudavam porque os trabalhadores cansados, que trabalhavam por vezes além do horário sem aumento de 9 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. salário, ou quando trabalhavam aos domingos, eram multados por indolência ou pelos erros cometidos caso fossem adultos, ou surrados se fossem crianças. Cita-se o exemplo de cardadores da indústria têxtil que trabalhavam 16 horas por dia, das 5 às 22 horas, com uma hora para a refeição, e nos domingos, até às 15 horas. Os primeiros passos do prevencionismo brasileiro tiveram origens reais nos primeiros anos da década de 1930, depois da criação do ministério do trabalho. Desta década datam as primeiras tentativas para despertar os responsáveis pelo desenvolvimento industrial do Brasil, autoridades, empresários e trabalhadores, para a prevenção dos acidentes e doenças do trabalho. O país contava desde 1919 com uma lei de acidentes do trabalho, a qual foi reformulada em 1934, mas apesar da reformulação, ambas as leis foram deficientes no aspecto prevencionista, preocupando-se de preferência com a compensação ao acidentado, ou seja, atuava uma vez que o acidente acontecia. Surge nessa época, através da Lei 185, de 14 de janeiro de 1936, o adicional de insalubridade, experiência abandonada depois de comprovadamente ruim na revolução industrial inglesa. A partir de então, o trabalhador brasileiro, exposto aos riscos ambientais, tinha direito a um acréscimo salarial de até 50%. Posteriormente, essa lei foi regulamentada pela Portaria SMC 51, de 13/04/1939, do Ministério da Indústria, Comércio e Trabalho, criando os “quadros das indústrias insalubres”. Essa prática perversa de comprar a saúde dos trabalhadores tem se perpetuado até a presente data, completando em 2006, setenta anos de existência. Em abril de 1938, foi apresentado um projeto de lei, para modificar a parte que se referia aos acidentes do trabalho do Decreto nº. 22.872, de criação do Instituto dos Marítimos. Nesse anteprojeto, posteriormente transformado no Decreto lei nº. 3.700 de 9 de outubro de 1941, foi incluído um capítulo dedicado à prevenção de acidentes do trabalho. Em 1940, os adicionais de insalubridade foram subdivididos em percentuais de 40, 20 e 10% para três níveis de insalubridade, máximo, médio e mínimo. No Governo Getúlio Vargas foi implantada a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho – em 1943, com um capítulo (V) para a segurança e higiene do trabalho. Foi também prevista a eliminação da insalubridade através de medidas de controle e por consequência o não pagamento dos respectivos adicionais. Neste mesmo ano, o Governo resolveu estender às outras classes operárias as medidas de proteção ao trabalho; nesse ano o ministro do trabalho, Sr. Marcondes Filho, lançou as bases da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho, que até hoje vem se desenvolvendo. Junto com o desenvolvimento progressivo da legislação foram aparecendo diversas entidades, algumas de origem privada e outras de caráter oficial, tendo por objetivo o ensino, divulgação e pesquisas no âmbito da segurança, higiene e medicina do trabalho. A primeira destas entidades no nosso meio foi a ABPA (Associação Brasileira para a Prevenção de Acidentes) fundada em 21 de maio de 1941, constituindo-se numa das primeiras organizações desse tipo na América do Sul. A entidade nacional de maior importância e responsabilidade na área é a FUNDACENTRO, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. 10 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 1.1.5 O “NASCIMENTO” DAS PROFISSÕES OCUPACIONAIS O fim dos anos 60 e início da década de 70 foram marcados por grande crescimento industrial e econômico. Falava-se no “milagre brasileiro” e as taxas de crescimento eram de até 10% ao ano. Isto, naturalmente, quer dizer também que não havia formação profissional que suprisse adequadamente trabalhadores devidamente treinados, não só para as tarefas requeridas, mas também para a prevenção. Somando a isso um crescimento relativamente desordenado das empresas, o resultado só poderia ser um: muitos acidentes. A evolução dos índices oficiais pode ser observada na Tabela 1.1. Tabela 1.1. Evolução dos índices oficiais de % de acidentados Ano* Trabalhadores Acidentes Doenças Total Acidentes % Típico Trajeto 1970 7.284.022 1.199.672 14.502 5.937 1.220.111 16,75 1971 7.553.472 1.308.335 18.138 4.050 1.330.523 17,61 1972 8.148.987 1.479.318 23.389 2.016 1.504.723 18,47 1973 10.956.956 1.602.517 28.395 1.784 1.632.696 14,90 1974 11.537.024 1.756.649 38.273 1.839 1.796.761 15,57 1975 12.996.796 1.869.689 44.307 2.191 1.916.187 14,74 1976 14.945.489 1.692.833 48.394 2.598 1.743.825 11,67 1977 16.589.605 1.562.957 48.780 3.013 1.614.750 9,73 1978 16.638.799 1.497.934 48.511 5.016 1.551.461 9,32 1979 17.637.1271.388.525 52.279 3.823 1.444.627 8,19 Média Anos 70 12.428.828 1.535.843 36.497 3.227 1.575.566 12,68 1980 18.686.355 1.404.531 55.967 3.713 1.464.211 7,84 1981 19.188.536 1.215.539 51.722 3.204 1.270.465 6,62 1982 19.476.362 1.117.832 57.874 2.766 1.178.472 6,05 1983 19.671.128 943.110 56.989 3.016 1.003.115 5,10 1984 19.673.915 901.238 57.054 3.233 961.575 4,89 1985 21.151.994 1.010.340 63.515 4.006 1.077.861 5,10 1986 22.163.827 1.129.152 72.693 6.014 1.207.859 5,45 1987 22.617.787 1.065.912 64.830 6.382 1.137.124 5,03 1988 23.661.579 926.354 60.202 5.025 991.581 4,19 1989 24.486.553 825.081 58.524 4.838 888.443 3,63 Média Anos 80 21.077.804 1.053.909 59.937 4.220 1.118.071 5,30 1990 23.198.656 632.012 56.343 5.217 693.572 2,99 1991 23.004.264 579.362 46.679 6.281 632.322 2,75 1992 22.272.843 490.916 33.299 8.299 535.514 2,40 1993 23.165.027 374.167 22.709 15.417 412.293 1,78 1994 23.667.241 350.210 22.824 15.270 388.304 1,64 1995 23.755.736 374.700 28.791 20.646 424.137 1,79 1996 23.830.312 325.870 34.696 34.889 395.455 1,66 11 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. Ano* Trabalhadores Acidentes Doenças Total Acidentes % Típico Trajeto 1997 24.104.428 347.482 37.213 36.648 421.343 1,75 1998 24.491.635 347.738 36.114 30.489 414.341 1,69 1999 24.993.265 326.404 37.513 23.903 387.820 1,55 Média Anos 90 23.648.341 414.886 35.618 19.706 470.210 1,99 2000* 26.228.629 304.963 39.300 19.605 363.868 1,39 2001* 27.189.614 282.965 38.799 18.487 340.251 1,25 2002* 28.683.913 323.879 46.881 22.311 393.071 1,37 2003* 29.544.927 325.577 49.642 23.858 399.077 1,35 (*) São dados preliminares e não incluem todos os Estados da Federação Observação: considerando-se apenas os números oficiais do INSS que engloba apenas trabalhadores com carteira profissional assinada. Em 1972, quase 1/5 da força de trabalho formal (inscrita na previdência) havia se acidentado. Considerando-se ainda: • a grande quantidade de trabalho informal; • que o índice é médio, ou seja, para as atividades de alto risco as cifras seriam ainda mais altas; • e a eventual sub-notificação de acidentes; ... pode-se perceber o quanto calamitosa era a situação. Tratava-se não apenas de um grande holocausto de vítimas fatais, mutilados e alijados da sociedade produtiva, mas também uma sangria imensa do PIB, pelas horas não produtivas, perdas econômicas e recursos de previdência desviados necessariamente para fazer frente a indenizações e pensões. Um grande drama humano, mas também uma perda de riqueza do país, que poderia ser dirigida a outras prioridades. Era necessário fazer-se algo e depressa. Assim, foram virtualmente “criadas” novas categorias ocupacionais, para, em caráter emergencial, passar a atuar na reversão da situação. As novas profissões foram: • O Engenheiro de Segurança; • O Médico do Trabalho; • O Enfermeiro do Trabalho; • O Auxiliar de Enfermagem do Trabalho; e • O Técnico de Segurança do Trabalho (então chamado Supervisor de Segurança do Trabalho). Observe-se que naqueles tempos, não havia formação de segurança no país. Os que a tinham, haviam estudado no exterior ou eram autodidatas. A preocupação com a segurança havia, mas era restrita às CIPAs. O Sistema SENAI também sempre se preocupou em formar com segurança os aprendizes e as empresas, especialmente as estrangeiras aqui radicadas, com honrosas exceções locais, também tinham cuidados oriundos das matrizes. A criação veio decretada, a partir da Portaria 3237, de 1972, dentro do que se chamou de PNVT - Plano Nacional de Valorização do Trabalhador. 12 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. Tal era a urgência, que as profissões foram criadas no âmbito do Ministério do Trabalho, que outorgava a profissão, o que perdurou até os anos 80, quando passaram para a esfera do Ministério da Educação. O então “Supervisor de Segurança”, nos primeiros tempos, poderia formar-se apenas com o ginásio, atualmente conhecido como ensino fundamental, sendo exigido posteriormente o 2o grau (atualmente ensino médio). Vale salientar que já na CLT de 1943 aparecia a denominação “segurança e higiene do trabalho”. Na Constituição Brasileira de 1988 a higiene do trabalho ou ocupacional é um direito dos trabalhadores, conforme o artigo 7 °. Na revisão do Capítulo V da CLT, em 1977, criou-se o binômio Segurança e Medicina do Trabalho, desprezando a importância da disciplina que estuda os riscos ambientais. 1.1.6 ALGUNS MARCOS HISTÓRICOS E LEGISLATIVOS NO BRASIL. LEGISLAÇÃO ATUAL E AS NORMAS REGULAMENTADORAS (NRs) Os marcos históricos e legislativos podem ser apresentados cronologicamente da seguinte forma: • 1917 - primeira greve geral operária em São Paulo; • 1919 - primeira Lei de Seguros de Acidentes do Trabalho; • 1923 - caixas de aposentadorias e pensões; • 1930 - criação do Ministério do Trabalho (Getúlio Vargas); • 1933 - transformação das caixas em Institutos (IAPC, IAPI, etc.); • 1943 - promulgação da CLT; • 1960 - lei orgânica da previdência social (centralização dos institutos); • 1966 - INPS; • 1966 - criação da Fundacentro, que só iria operar em 1969; • 1967 - estatização e monopólio do seguro acidente de trabalho (SAT), que era privado. Havia a tarifação individual; • 1972 - Plano Nacional de Valorização do Trabalhador / SESMTs obrigatórios / criação dos profissionais ocupacionais; • 1976 - taxação fixa do SAT (1, 2 ou 3% da folha de salários); • 1977 - alteração do cap. V, título II da CLT. (lei 6514); • 1978 - regulamentação da Lei 6514 e criação das Normas Regulamentadoras – NRs; • 1994 - Fundação da ABHO – Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais; • 1994 - obrigatoriedade de Programas Prevencionistas (PPRA, PCMSO, PCMAT, PPR, etc); • 2004 - reformulação da legislação previdenciária, introduzindo a obrigatoriedade de normas técnicas da Fundacentro. As Normas Regulamentadoras foram criadas a partir das alterações da lei 6514, com novidades conceituais (por exemplo, os Limites de Tolerância), e com o intuito de consolidar toda uma legislação fragmentada e esparsa, uma miríade de portarias, que existia até então. Houve um esforço de revisão e de ordenação, dentro de um formato que vem se mantendo até aqui. Atualmente existem 36 Normas Regulamentadoras básicas. 13 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. As normas versam sobre todos os tópicos de segurança, higiene e medicina do trabalho. A Tabela 1.2. apresenta uma listagem de algumas das NRs, com os respectivos comentários. Tabela 1.2. Comentários sobre algumas das Normas Regulamentadoras NR CARACTERÍSTICAS E OBSERVAÇÕES 1 - Disposições Gerais • define atribuições da SSST, DRTs , dá definições e obrigações de empregadores e trabalhadores. 2 - Inspeção Prévia • para novos estabelecimentos; • define o CAI - Certificado de Aprovação de Instalações. 3 - Embargo ou Interdição • a partir de risco grave e iminente; • pode ser pedido pela DRT, DTM, fiscais ou entidades sindicais. 4 - Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho • define os quadros dos profissionais ocupacionais, a partir do grau de risco e número de trabalhadores. 5 - CIPA • uma das normas mais modificadas e de gestação lenta na instância da CTPP (“NR 0”). 7- Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional • juntamente com o PPRA (NR-9), inaugurou a era dos Programas Ocupacionais, atividades permanentes a serem desenvolvidas pelas empresas. 9 - Programa de Prevenção de Riscos Ambientais • é um Programa de Higiene Ocupacional , a ser desenvolvido permanentemente. Incluiu novos conceitosna legislação. Exige novas abordagens de controle pela inspeção do trabalho. Impulsionou a criação de outros programas. 15 - Atividades e Operações Insalubres • uma das mais extensas, com 14 anexos abordando todas as situações ambientais da insalubridade. Introduziu, ao regulamentar a lei 6514, os Limites de Tolerância, reduzindo em muito a insalubridade apenas qualitativa. 16 - Atividades e Operações Perigosas • outra norma de importância nas empresas, define a periculosidade e as áreas de risco, assim como aqueles que deverão perceber o adicional. Originalmente apenas para inflamáveis e explosivos, ganhou inclusões de eletricidade e radiações ionizantes. Em conjunto com a NR-15, uma das principais causas de questões trabalhistas. 17 - Ergonomia • ganhou reformulação nos anos 90 para abrigar a questão das lesões por esforços repetitivos, hoje chamados DORT. 18 - PCMAT • segue a linha de programas ocupacionais na construção civil. 1.2 O PROFISSIONAL OCUPACIONAL E AS LEGISLAÇÕES A CONHECER O higienista se move num contexto técnico-legal. Deve conhecer várias legislações, com graus diferenciados de aprofundamento e especificidade: 14 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. Quadro 1.2. TRABALHISTA É a que mais deve saber. Essencialmente, as Normas Regulamentadoras, mas também na própria CLT há pontos que o dia -a - dia irá requerer atenção. As portarias da SSST (Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho), que alteram as NRs, devem ser conhecidas na íntegra. Possui acesso pela Internet. PREVIDENCIÁRIA É a segunda mais importante, pois se relaciona (muitas vezes mal) com a trabalhista. Define os eventos resultantes dos acidentes, as prestações econômicas derivadas e, especialmente, a questão das aposentadorias especiais e dos laudos a serem emitidos para tal. Em alguns casos, pode ser uma das tarefas preponderantes do profissional. Devem-se esperar grandes necessidades de envolvimento. AMBIENTAL A legislação ambiental não pode passar despercebida, pois há vários pontos de interseção. Lembrar que o ruído da empresa, após ser um problema ocupacional, escapa aos limites da planta e vai ser um problema ambiental (por exemplo). NÍVEIS LEGISLATIVOS Em todos os campos, deve-se estar atento não apenas à legislação federal, mas também às estaduais e municipais. Atenção, por exemplo em São Paulo, com a “lei do PSIU” - Programa de Silêncio Urbano”. 1.3 SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL (SGSSO) (BS 8800 E OHSAS 18001) Os sistemas de gestão se mostraram forma eficiente de se implementar ideias, ou, melhor dizendo, novos valores culturais às culturas empresariais. 15 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. Assim fazendo, permite-se que ações efetivas venham a ocorrer, mudanças se operem e o projeto corporativo enunciado se realize. Tal tem ocorrido com os sistemas de gestão da qualidade (sistema 9000) e, mais recentemente, com os sistemas de gestão da qualidade ambiental (sistema 14000). Assim, para realizar adequadamente a qualidade, que não é obrigação legal, mas sim fator de competitividade por requisitos mercadológicos e exigência de clientes, as empresas estabelecem sistemas de gestão. Eles permitem que todos na empresa possuam um repertório comum, atribuições, competências e responsabilidades e que o novo valor cultural seja efetivamente incorporado. Um cliente que deseje um produto ou serviço de qualidade, não precisa vir visitar seu exportador, pois sabe que o mesmo possui um sistema verificável de gestão, normalizado, que avaliza as propriedades desejadas e garante seus requisitos. Assim, o cliente exige tal característica de seus fornecedores. Como resultado do sistema de gestão, a qualidade efetivamente se instala e permeia pela organização. Hoje, um passo além nessa cadeia de exigências de clientes (e o cliente é soberano), é a certificação ambiental. Assim, o cliente comprará meu produto, mas quer estar certo (os seus acionistas querem saber) de que meu sistema produtivo não agride o meio-ambiente; isto pode ser evidenciado porque eu possuo um sistema de gestão de qualidade ambiental. Assim, a venda de qualquer produto ou serviço pode estar sendo crescentemente condicionada a aspectos que inicialmente não aparentam ser essenciais à produção, como a gestão ambiental. Isto já é uma realidade. Um terceiro nível nesta questão é a demanda por sistemas de gestão de segurança e saúde ocupacional (SGSSO). Os motivos que alicerçam a implementação estratégica dos SGSSO nas empresas, podem ser: • atendimento a clientes importadores, que passarão a exigir o conhecimento de como seu fornecedor gerencia a saúde e segurança de seus trabalhadores; • obter, no horizonte da privatização do seguro - acidente, indicadores de excelência que permitam negociar taxas mais favoráveis que as empresas “comuns” com os futuros operadores. Observar que neste caso, pela primeira vez de forma explícita, a prevenção “se paga” e a atividade prevencionista mostra evidente relação favorável de custo - benefício. Este pode ser um dos motivos mais fortes; • por valorizar os sistemas de gestão, desejando agregar a questão ocupacional (o que se faz facilmente nas empresas que já possuem outros sistemas de gestão); • para melhorar o seu desempenho em segurança e saúde de forma eficiente e definitiva. Os sistemas de gestão possuem características poderosas que irão permitir a efetiva implementação dos melhores padrões ocupacionais. 16 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 1.4 TESTES 1. Quando e onde foram escritas as primeiras referências relacionadas aos problemas dos acidentes e doenças ocupacionais? a) 1720 a.C, Índia. b) 1230 a.C, China. c) 1450 a.C, Grécia. d) 2360 a.C, Egito. e) N.d.a. Feedback: item 1.1.1. 2. Quem é o “Pai da Medicina do Trabalho”? a) Hipócrates. b) Ramazzini. c) Agrícola. d) Paracelso. e) N.d.a. 3. Qual o livro que delegou o título de “Pai da Medicina do Trabalho” ao seu autor? a) De Re Metallica. b) De Morbis Artificium Diatriba. c) Dos Ofícios e das Doenças das Montanhas. d) Acidentes e Doenças Ocupacionais. e) N.d.a. Feedback: item 1.1.1. “Em 1700, era publicada em Módena, na Itália, a primeira”. 4. Qual item não se encontrava na “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”? a) Proibição do trabalho para menores de 14 anos. b) Lavagem das paredes duas vezes por ano pelos empregadores. c) Limite de 12 horas de trabalho diário. d) Proibição do trabalho noturno. e) N.d.a. 5. Qual item não se aplica ao Factory Act de 1833? a) Primeira legislação eficiente no campo da proteção ao trabalhador. b) Idade mínima para o trabalho era de 9 anos. c) Escolas nas próprias fábricas que deveriam ser frequentadas por todos trabalhadores menores de 13 anos. d) Limite de 10 horas de trabalho diário. e) N.d.a. 17 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional. eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 6. As teorias “Controle Total de Perdas” e “Controle de Danos” surgiram a partir de qual década do século XX? a) A partir da década de 30, durante a 1a Guerra Mundial. b) A partir da década de 40. c) A partir da década de 50, após 2a Guerra Mundial. d) A partir da década de 60. e) A partir da década de 70. Feedback: item 1.1.2. 7. Considere as informações abaixo sobre as “Técnicas de Análise de Riscos”: I. Tem origem em duas grandes vertentes: área de processos e a militar/bélico/aeroespacial; II. A maioria das técnicas atuais provém da área chamada de “Engenharia de Segurança de Sistemas”, consolidadacom a corrida aeroespacial; III. Essas técnicas se intensificaram após a 2a Grande Guerra, com o surgimento das indústrias dos mísseis; IV. A busca por plantas mais seguras foi alavancada e consolidada por acidentes sérios, como Flixborough, Seveso e Bhopal; Com base nas informações acima, qual alternativa é a correta? a) Apenas I e III são verdadeiras. b) Apenas III é incorreta. c) Apenas I e IV são verdadeiras. d) Apenas II é incorreta. e) Todas são verdadeiras. Feedback: item 1.1.3.1. 8. Qual é a legislação que o Higienista mais deve ter conhecimento? a) Ambiental. b) Judicial. c) Trabalhista. d) Previdenciária. e) Níveis Legislativos. Feedback: Quadro 1.2. Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 18 CAPÍTULO 2. HIGIENE OCUPACIONAL – ASPECTOS HISTÓRICOS OBJETIVOS DO ESTUDO Este capítulo situa a evolução da HO como disciplina ocupacional e dá sua conceituação básica. Reposiciona a evolução da prevenção dentro da visão da disciplina. Relata pontualmente a evolução dos meios de avaliação e controle dos riscos ambientais. Apresentam dados informativos complementares. Ao terminar este capítulo você deverá estar apto a: • Situar e descrever o surgimento da HO; • Enunciar e dar características básicas dos objetivos da HO; • Enunciar o conceito de atuação da HO. Nota: O conteúdo deste capítulo foi extraído das notas de aula do professor Mário Fantazzini. Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 19 2.1 HISTÓRIA E CONCEITO Vamos deixar a conceituação da Higiene Ocupacional para o final. Deixemos que o leitor mesmo construa sua conceituação, a partir deste resumo do interessante texto de Vernon Rose [Capítulo I do White Book da AIHA]. A identificação da origem da prática da higiene industrial é difícil, ou impossível. Como antigos cronistas de riscos ocupacionais e medidas de controle, que podem ser considerados fundadores, temos: • Agricola, em 1556, descreveu as doenças e acidentes na mineração, fundição e refino de metais, com medidas de controle, incluindo ventilação; • Plinius Secundus (Plínio, o Velho), antes ainda, no século I, escreveu que os fundidores envolviam as faces com bexigas de animais, para não inalar as poeiras fatais; • Outros que, (apenas) identificaram os problemas, merecem menção, como Hipócrates (séc. IV a.C.), com as primeiras menções de doenças ocupacionais (intoxicações por chumbo); • Também deve ser lembrado o trabalho de Bernardino Ramazzini (1713), um tratado completo de doenças ocupacionais. Entretanto, o reconhecimento de um vínculo causal entre os riscos dos ambientes de trabalho e as doenças foi o passo fundamental no desenvolvimento da prática da Higiene Industrial. As observações médicas, de Hipócrates a Ramazzini e estendendo-se ao século XX, da relação entre trabalho e doença, são os fundamentos da profissão. Mas, o reconhecimento de riscos sem a intervenção e o controle, isto é, sem a prevenção da doença, não qualifica um indivíduo como um higienista industrial. As leis reativas ao desastre ocupacional da revolução industrial trataram de tentar disciplinar o combate aos novos perigos ocupacionais. O Factory Act de 1864 requeria o uso de ventilação diluidora para reduzir os contaminantes, e o de 1878 especificava o uso de ventiladores para exaustão. O divisor de águas para higiene e a medicina industrial veio com o Factory Act britânico de 1901, que iniciou a regulamentação das ocupações perigosas. As regulamentações criaram ímpeto para a investigação dos riscos dos locais de trabalho e fiscalização de medidas de controle. Tem sido sugerido, também, que a higiene industrial não emergiu como um campo individualizado de atuação até que as avaliações quantitativas do ambiente tornaram-se disponíveis. Nos Estados Unidos destaca-se, em 1910, a Dra. Alice Hamilton como pioneira no campo da doença ocupacional, campo que era totalmente inexplorado até então. O seu trabalho individual, que compreendia não só o reconhecimento da doença, mas a avaliação e o controle dos agentes causadores deveriam ser considerados como o início da prática da higiene industrial nos EUA. Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 20 Deve ser observado que muitos dos praticantes iniciais de higiene industrial eram médicos, que não estavam interessados apenas na diagnose e tratamento da doença, mas também no controle dos riscos, para prevenir casos futuros. Esses médicos trabalhavam com engenheiros e outros cientistas interessados em saúde pública e riscos ambientais. Dessa forma, iniciaram um processo incubado desde Hipócrates, visando deliberadamente modificar os ambientes de trabalho com o objetivo de prevenir doenças ocupacionais. Se entendermos a filosofia básica da profissão - a proteção da saúde e do bem estar de trabalhadores através da antecipação, reconhecimento, avaliação e controle dos riscos oriundos do ambiente de trabalho - podemos imaginar como sua presença permeou através da História... Começou quando uma pessoa reconheceu um risco e tomou providências não só para si, mas também para os companheiros. Esta é a origem e a essência da profissão de higiene industrial. Nota: Como tônica deste texto, é importante acompanhar o desenvolvimento nos EUA, pois coincide basicamente com o desenvolvimento da própria Higiene Ocupacional, não só em termos de progresso, mas também como atuação técnico-legal e das organizações públicas. Isto não retira méritos de outros países, especialmente europeus, mas, principalmente nas primeiras décadas do século, o desenvolvimento nos EUA é uma medida boa do andamento global da disciplina. 2.1.1 EVENTOS HISTÓRICOS EM SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL DATAÇÃO CONDIÇÃO OU EVENTO 1 M AC • Os Australopitecus usavam pedras como ferramentas e armas. Havia cortes e lesões oculares. Os caçadores de Bisões contraíam antraz. 10 K AC • O homem Neolítico iniciou a produção de alimentos e a revolução urbana na Mesopotâmia. Ao final da idade da pedra, havia a confecção de ferramentas de pedra, chifre, ossos e marfim; fabricação de cerâmicas e de tecidos. Inicia-se a história das ocupações. 5 K AC • Idade do bronze e do cobre. Os artesãos de metais são libertados da produção de alimentos. Há uma especialidade que surge: a metalurgia. 370 AC • Hipócrates cuida da saúde de cidadãos, mas não de trabalhadores; todavia, identifica o envenenamento por chumbo de mineiros e metalúrgicos. 50 • Plínio, o Velho, identifica o uso de bexigas de animais para evitar a inalação de poeiras e fumos. 200 • Galen visita uma mina de cobre, mas suas discussões sobre saúde pública não incluem doenças de trabalhadores. Idade Média • Não existe nenhuma discussão documentada sobre doenças ocupacionais. 1473 • Ellenborg reconhece que os vapores de alguns metais eram perigosos e descreve os sintomas de envenenamento ocupacional por mercúrio e chumbo, com sugestões de medidas preventivas. Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 21 1500 • No livro De Re Metallica, Georgius Agricola descreve a mineração, fusão e refino de metais, com doenças e acidentes correntes e meios de prevenção, incluindo a necessidade de ventilação; • Paracelso (1567) descreve as doenças respiratórias entre os mineiros com uma precisa descrição do envenenamento pelo mercúrio. Lembrado como o pai da toxicologia, diz: “Todas as substâncias são venenos... é a dose que os diferencia entre venenos e remédios”. 1665 •Em Ídria, a jornada dos mineiros de mercúrio é reduzida. 1700 • Bernardino Ramazzini, pai da medicina ocupacional, publica De Morbis Artificum Diatriba (Doenças dos Artífices) e descreve as doenças (com excelente precisão) e “precauções”. Introduz na anamnese médica a pergunta: “Qual é a sua ocupação?”. 1775 • Percival Lott descreve o câncer ocupacional entre os limpadores de chaminé na Inglaterra, identificando a fuligem e a falta de higiene como causa do câncer escrotal. O resultado foi a Lei dos Limpadores de Chaminé de 1788; • Os trabalhadores de chaminés alemães não apresentavam casos de câncer escrotal. Suas roupas eram melhor ajustadas ao corpo do que os colegas ingleses, e tinham escopo de EPIs. 1830 • Charles Thackrah é autor do primeiro livro sobre doenças ocupacionais na Inglaterra. Suas observações sobre doenças e prevenção ajudam na criação de legislação ocupacional. A inspeção médica e a compensação assistencial do Estado foram estabelecidas em 1897. 1900’s • Alice Hamilton investiga várias ocupações perigosas e causa tremenda influência nas primeiras leis ocupacionais nos Estados Unidos. Em 1919 ela se torna a primeira mulher em Harvard e escreve “Explorando as Ocupações Perigosas”. 1902 – 1911 • Início de legislação compensatória federal e no estado de Washington. Em 1948 todos os estados cobriam as doenças ocupacionais. Massachusetts designa inspetores de saúde. 1911 • Primeira conferência nacional sobre doenças industriais nos EUA. 1912 • O congresso cria taxa proibitiva para o uso de fósforo branco na fabricação de fósforos. 1913 • Organiza-se o National Safety Council. New York e Ohio estabelecem os primeiros grupos (agências) de Higiene Estaduais. 1914 • O serviço nacional de saúde pública (USPHS) organiza a divisão de Higiene Industrial. 1922 • Harvard estabelece graduação em higiene industrial. 1928-1932 • O Bureau of Mines conduz pesquisa toxicológica de solventes, vapores e gases. 1936 • A lei Walsh-Healy exige de fornecedores do Governo medidas de higiene e segurança industrial. 1938 • Forma-se a ACGIH, então chamada National Conference of Governmental Industrial Hygienists. 1939 • Forma-se a AIHA (American Industrial Hygiene Association). A ASA (American Standards Association, hoje ANSI) e a ACGIH preparam a primeira lista de “Concentrações Máximas Permissíveis” (MACs) para substâncias químicas na indústria. 1941-1945 • Expandem-se os programas de higiene industrial nos estados. Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 22 1941 • O Bureau of Mines é autorizado a inspecionar minas. 1960 • O American Board of Industrial Hygiene (ABIH) é organizado pela AIHA e pela ACGIH. 1970 • OSHA - Occupational Safety and Health Act - lei maior de prevenção, é promulgada. 2.1.2 OUTROS PONTOS HISTÓRICOS DE DESENVOLVIMENTO DA HIGIENE INDUSTRIAL • Um estudo de trabalhadores siderúrgicos mostrou a incidência de câncer de rim nos trabalhadores de coqueria. A denominação Coal Tar Pitch Volatiles (CTPV) foi criada para envolver o risco a ser controlado. O excesso de mortalidade dos coqueiristas levou à criação de lei específica para fornos de coque; Quadro 2.1. Amianto • O segundo maior estudo epidemiológico focou-se no amianto, cujos dados de doenças começaram a se acumular a partir de 1906. Em 1938 a USPHS estudou trabalhadores de tecelagens de asbestos e recomendou um limite tentativa para a indústria têxtil de 5 milhões de partículas por pé cúbico, com amostragem através de impinger. Um limite da OSHA só veio em 1971 (provisório) e 1972 (definitivo), após estudos na Inglaterra, desde 1940, sobre cânceres bronquiais em porcentagem acima da população em geral. Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 23 Hoje em dia, os esforços da Higiene Ocupacional nos EUA são guiados pela consideração das condições perigosas (hazards), mais do que pelas doenças. 2.2 DESENVOLVIMENTOS NA AVALIAÇÃO • No início, o que havia era a avaliação qualitativa por identificação pelos sentidos (visão, olfato, paladar). A transição para uma ciência, todavia, requeria algo mais; • Em 1917, Harvard desenvolveu um dos primeiros métodos, que era o tubo detector colorimétrico (dispositivo de indicação colorimétrica) para a avaliação ambiental de monóxido de carbono; • Em 1922, Greenber e Smith desenvolveram o impinger. Em 1938, Littlefield e Schrenk modificaram o projeto e desenvolveram o impinger miniaturizado (midget impinger). Com uso de bombas manuais, os impingers criaram as primeiras avaliações ambientais de zona respiratória; • O filtro de membrana para a avaliação de partículas foi usado pela primeira vez em 1953, permitindo a avaliação em massa/volume, e não em contagem de partículas; • Em 1970, houve uma revolução na avaliação, com o desenvolvimento, pelo NIOSH, do tubo de carvão ativo. Também foi dado suporte financeiro para o desenvolvimento da bomba de amostragem pessoal a baterias; • Em 1973, Palme desenvolveu um monitor passivo para dióxido de nitrogênio; • Começou e desenvolveu-se em paralelo à amostragem, a aplicação de química analítica à saúde ocupacional. Nos anos 30, artigos descreviam o uso de cromatografia gasosa para vapores orgânicos; • Hoje, os higienistas usam absorção atômica, plasma, cromatografia líquida e outros métodos sofisticados em sua instrumentação. 2.3. PADRÕES E CRITÉRIOS Quadro 2.2. • Em 1929, vários higienistas do USPHS recomendaram valores máximos para poeira de quartzo, baseados em estudos na indústria de granito de Vermont; • Em 1939, a primeira lista de valores permissíveis (MACs) é divulgada pela ACGIH e ASA (ANSI). Essa lista é publicada em obras médicas e tem 140 substâncias, possuindo também as razões dos valores adotados; Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 24 • Em 1947, a ACGIH inicia a publicação das listas. Em 1948, a denominação passa a ser a atual, TLVs. 2.4 CONTROLE • O controle dos riscos necessita da abordagem tecnológica, ou seja, medidas de engenharia, complementadas por outras administrativas e pessoais; • O conceito de controle na fonte, no ambiente (trajetória) e no trabalhador, foi introduzido pela primeira vez, de forma abrangente, por Ulrich Ellenborg, em 1473; • A história da ventilação industrial e da proteção respiratória é de particular interesse para os higienistas; • Agricola, em 1561, enfatizou a necessidade de ventilação das minas incluindo ilustrações de dispositivos para forçar o ar terra abaixo; • O primeiro projeto de ventilação registrado foi o de D’Arcet no início dos 1800. Havia um captor em uma fornalha, ligado a uma chaminé alta que tinha uma forte tiragem (vazão por diferença natural de densidade); • A lei inglesa das fábricas de 1864 exigia ventilação “suficiente”, mas só em 1867 os inspetores tiveram poder de exigir ventiladores e outros meios mecânicos; • Em 1951, a ACGIH publica a primeira edição do Industrial Ventilation, a "bíblia" da ventilação industrial de controle para a higiene ocupacional. Sua importância nunca poderá ser devidamente enfatizada; • Quanto à proteção respiratória, nota-se desde Leonardo da Vinci (1452-1519), com a recomendação de tecidos umedecidos contra os agentes químicos de guerra; Capítulo 2. Higiene Ocupacional – Aspectos Históricos eST – 103 - Higiene do Trabalho – Parte A / PECE, 1o Ciclo de 2018. 25 • Nos 1800, a compreensão das separações entre partículas e gases permitiu avanços. Em 1814 desenvolveu-se o precursor do filtro de partículas dentro de
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