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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA POLITÉCNICA DA USP LACASEMIN – LABORATÓRIO DE CONTROLE AMBIENTAL, HIGIENE E SEGURANÇA NA MINERAÇÃO EAD – ENSINO E APRENDIZADO À DISTÂNCIA eHO-101 INTRODUÇÃO À HIGIENE OCUPACIONAL E LEGISLAÇÃO OCUPACIONAL ALUNO SÃO PAULO, 2020 EPUSP/LACASEMIN CURSO: ESPECIALIZAÇÃO EM HIGIENE OCUPACIONAL EDIÇÃO/ANO: 1/2020 CRÉDITOS: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - EPUSP DIRETORA: LIEDI LEGI BARIANI BERNUCCI Programa de Educação Continuada - PECE COORDENADOR GERAL: LUCAS ANTÔNIO MOSCATO Laboratório de Controle Ambiental, Higiene e Segurança na Mineração - LACASEMIN COORDENADOR: SÉRGIO MÉDICI DE ESTON VICE – COORDENADOR: WILSON SHIGUEMASA IRAMINA ASSESSORIA TÉCNICA E ADMINISTRATIVA: MARIA RENATA MACHADO STELLIN PP – PROFESSOR PRESENCIAL - SÉRGIO MÉDICI DE ESTON - LEÔNIDAS PANDAGGIS - CRISTIANE QUEIRÓZ B. LIMA Equipe Técnica Conversores Presencial para distância (CPD) - CAROLINA COSTA BATISTA - LUCAS BICUDO TING - KARLA JULIANE DE CARVALHO Filmagem e Edição (FE) - THALITA SANTIAGO DO NASCIMENTO Instrutores Multimídia à distância - IMAD (TUTORIA) - DIEGO DIEGUES FRANCISCA - FELIPE BAFFI DE CARVALHO - RENATA JULIANA LEMOS MARINHO Equipe Administrativa - NEUSA GRASSI DE FRANCESCO - CRISTIANE FIDELIS SOARES RIOS - FERNANDA GABRIELA DE CAMARGO LOPES - RAFAEL DA SILVA CRUZ ASSESSORIA DE NOVOS PROJETOS EDUCACIONAIS: VICENTE TUCCI FILHO Equipe Financeira - GUSTAVO SIQUEIRA DO NASCIMENTO ANTONIO - MADALENA EIKO HASEGAWA Equipe de Divulgação - NATALIA FIRMINO GUCCIONI “Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, sem a prévia autorização de todos aqueles que possuem os direitos autorais sobre este documento”. SUMÁRIO eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. i SUMÁRIO CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO AO MUNDO OCUPACIONAL ......................................... 1 1.1. PREVENÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO ............................................................ 2 1.1.1. O INÍCIO ........................................................................................................... 2 1.1.2. OS ANOS 60 ..................................................................................................... 5 1.1.3. CONTRIBUIÇÕES DE ÁREAS EXÓGENAS À PREVENÇÃO OCUPACIONAL 6 1.1.3.1. TECNOLOGIAS DE PREVENÇÃO: TÉCNICAS DE ANÁLISE DE RISCOS 6 1.1.4. ANÁLISE DE RISCOS E GERÊNCIA DE RISCOS ............................................ 7 1.1.5. O PREVENCIONISMO NO BRASIL .................................................................. 8 1.1.6. O “NASCIMENTO” DAS PROFISSÕES OCUPACIONAIS ................................ 9 1.1.7. ALGUNS MARCOS HISTÓRICOS E LEGISLATIVOS NO BRASIL. LEGISLAÇÃO ATUAL E AS NORMAS REGULAMENTADORAS (NRS) ...................12 1.1.8. O PROFISSIONAL OCUPACIONAL E AS LEGISLAÇÕES A CONHECER .....12 1.1.9. SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL (SGSSO) (BS 8800 E OHSAS 18001) ........................................................................13 1.2. TESTES .................................................................................................................15 CAPÍTULO 2. ASPECTOS HISTÓRICOS DA HIGIENE OCUPACIONAL .................... 17 2.1. HISTÓRIA E CONCEITO .......................................................................................18 2.2. EVENTOS HISTÓRICOS EM SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL ..............19 2.3. OUTROS PONTOS HISTÓRICOS DE DESENVOLVIMENTO DA HIGIENE INDUSTRIAL .................................................................................................................21 2.4. DESENVOLVIMENTOS NA AVALIAÇÃO ..............................................................21 2.5. PADRÕES E CRITÉRIOS ......................................................................................22 2.6. CONTROLE ...........................................................................................................22 2.7. OUTROS ASPECTOS ...........................................................................................23 2.8. FORMAÇÃO, EDUCAÇÃO E ASSOCIAÇÕES ......................................................23 2.9. TESTES .................................................................................................................25 CAPÍTULO 3. SITUANDO A HIGIENE OCUPACIONAL .............................................. 27 3.1. ESTABELECENDO CONCEITOS INICIAIS E DEFINIÇÕES .................................28 3.1.1. CONCEITUAÇÃO GERAL ................................................................................28 3.1.2. DETALHANDO ASPECTOS BÁSICOS ............................................................29 3.1.2.1. Antecipar é... ...............................................................................................29 3.1.2.2. Reconhecer é... ..........................................................................................30 3.1.2.3. Avaliar é... ...................................................................................................30 3.1.2.4. Controlar é... ...............................................................................................30 3.2. ÁREAS DE INTERAÇÃO DA HIGIENE OCUPACIONAL .......................................31 3.2.1. MEDICINA OCUPACIONAL .............................................................................31 3.2.2. ÁREA DE GESTÃO AMBIENTAL .....................................................................31 3.2.3. ERGONOMIA ...................................................................................................31 3.3. POR QUE É FUNDAMENTAL AGIR SOBRE O AMBIENTE? ................................31 3.4. CONCEITOS DA HIGIENE EM ALGUMAS REFERÊNCIAS ..................................32 3.5. O CONCEITO DO LIMITE DE TOLERÂNCIA / LIMITE DE EXPOSIÇÃO ..............32 3.5.1. EXERCÍCIO DE CONSTRUÇÃO DO CONCEITO ............................................32 3.5.2. CATEGORIAS DOS LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL ....................34 3.6. INTRODUÇÃO AOS AGENTES FÍSICOS# ............................................................34 SUMÁRIO eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. ii 3.7. MEDIDAS GENÉRICAS DE CONTROLE DE AGENTES AMBIENTAIS ................35 3.7.1. MEDIDAS RELATIVAS AO AMBIENTE ...........................................................36 3.7.1.1. Substituição do Produto Tóxico ou Nocivo ..................................................36 3.7.1.2. Mudança ou Alteração do Processo ou Operação ......................................36 3.7.1.3. Encerramento ou Enclausuramento da Operação ......................................36 3.7.1.4. Segregação da Operação ou Processo ......................................................37 3.7.1.5. Ventilação Geral Diluidora ..........................................................................37 3.7.1.6. Ventilação Local Exaustora .........................................................................38 3.7.1.7. Manutenção ................................................................................................38 3.7.1.8. Ordem e Limpeza .......................................................................................39 3.7.2. MEDIDAS RELATIVAS AO PESSOAL .............................................................39 3.7.2.1. Equipamento de Proteção Individual (EPI) ..................................................39 3.7.2.2. Educação e Treinamento ............................................................................39 3.7.2.3. Controle Médico ..........................................................................................40 3.7.2.4. Limitação da Exposição..............................................................................40 3.8. ENTIDADES E ASSOCIAÇÕES DA ÁREA ............................................................40 3.9. ATUAÇÃO DO HIGIENISTA OCUPACIONAL ........................................................41 3.10. O HIGIENISTA E AS QUESTÕES TÉCNICO-LEGAIS .........................................41 3.11. A HIGIENE OCUPACIONAL, SUAS “ÁREAS DE CONCENTRAÇÃO” E AS FORMAÇÕES PROFISSIONAIS ..................................................................................41 3.12. TEXTO COMPLEMENTAR ..................................................................................42 3.13. TESTES ...............................................................................................................46 CAPÍTULO 4. O CORPO HUMANO ............................................................................. 48 4.1. A CIÊNCIA DO CORPO HUMANO ........................................................................49 4.1.1. A CÉLULA ........................................................................................................49 4.1.2. ROTAS DE ENTRADA .....................................................................................50 4.1.2.1. Inalação ......................................................................................................51 4.1.2.2. Absorção ....................................................................................................53 4.1.2.3. Ingestão ......................................................................................................54 4.1.2.4. Injeção ........................................................................................................54 4.1.3. SISTEMAS INTERNOS ....................................................................................55 4.1.3.1. Sistema Circulatório ....................................................................................55 4.1.3.2. Sistema Nervoso ........................................................................................55 4.1.3.3. Sistema Reprodutivo ...................................................................................56 4.1.4. ROTAS DE SAÍDA ...........................................................................................56 4.1.4.1. O Fígado .....................................................................................................56 4.1.4.2. Os rins ........................................................................................................56 4.2. TESTES (1) ............................................................................................................58 4.3. A NATUREZA DO PROBLEMA .............................................................................62 4.3.1. DANO CELULAR ..............................................................................................62 4.3.1.1. Carcinogênicos ...........................................................................................62 4.3.1.2. Mutagênicos e Teratogênicos .....................................................................62 4.3.1.3. Rotas de entrada ........................................................................................62 4.3.1.4. Inalação ......................................................................................................63 4.3.1.5. Absorção ....................................................................................................63 4.3.1.6. Ingestão ......................................................................................................64 SUMÁRIO eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. iii 4.3.1.7. Injeção ........................................................................................................64 4.3.2. SISTEMAS INTERNOS ....................................................................................65 4.3.2.1. Sistema Circulatório ....................................................................................65 4.3.2.2. Sistema Nervoso ........................................................................................65 4.3.2.3. Sistema Reprodutivo ...................................................................................66 4.3.3. ROTAS DE SAÍDA ...........................................................................................66 4.3.3.1. O Fígado .....................................................................................................66 4.3.3.2. Rins e Bexiga ..............................................................................................67 4.3.4. PERÍODO DE LATÊNCIA E DOENÇA OCUPACIONAL. ..................................68 4.3.5. EFEITOS AGUDOS E CRÔNICOS ..................................................................68 4.4. CASOS REAIS - O ACIDENTE DE BHOPAL .........................................................69 4.5. TESTES (2) ............................................................................................................70 4.6. LIMITES DE TOLERÂNCIA ....................................................................................71 4.6.1. DETERMINAÇÃO DO RISCO ASSOCIADO A SUBSTÂNCIAS .......................71 4.6.1.1. Testes em Animais .....................................................................................71 4.6.1.2. Testes em Seres Humanos .........................................................................72 4.6.1.3. Testes Mutagênicos ....................................................................................75 4.6.2. FATORES INFLUENTES .................................................................................77 4.6.2.1. Toxicidade ..................................................................................................77 4.6.2.2. Concentração .............................................................................................78 4.6.2.3. Tempo de Exposição ..................................................................................78 4.6.2.4. Suscetibilidade Individual ............................................................................79 4.6.3. TIPOS DE LIMITES DE TOLERÂNCIA ............................................................79 4.6.3.1. Limites de Tolerância segundo a ACGIH ....................................................80 4.6.3.2. TLV – TWA .................................................................................................80 4.6.3.3. Limite TLV – STEL ......................................................................................80 4.6.3.4. TLV - C .......................................................................................................82 4.6.3.5. Distinção entre limite média ponderada (TLV – TWA) e limite nunca superável (TLV – C).................................................................................................83 4.6.3.6. Limites Superáveis Condicionalmente (Limites de Digressão) ....................83 4.6.3.7. Normas Canadenses ..................................................................................84 4.6.3.8. Normas Brasileiras......................................................................................85 4.6.3.9. Limite de Tolerância Valor Teto – LTvt........................................................86 4.6.3.10. Limite de Tolerância Média Aritmética Ponderada - LTmap ......................86 4.6.3.11 Comparação entre as normas brasileiras e as sugestões da ACGIH .........94 4.7. METODOLOGIAS DE MEDIÇÃO ...........................................................................98 4.7.1. MEDIÇÕES NO INDIVÍDUO .............................................................................98 4.7.1.1. Espirometria................................................................................................99 4.7.1.2. Raios X .......................................................................................................994.7.1.3. Excreções ...................................................................................................99 4.7.1.4. Teste de Dosagem Corporal .......................................................................99 4.7.1.5. Audiometria............................................................................................... 100 4.7.2. RESUMO DOS MÉTODOS ............................................................................ 100 4.8. AÇÕES CORRETIVAS ........................................................................................ 100 4.9. ESTUDO DIRIGIDO ............................................................................................. 101 4.10. TESTES (3) ........................................................................................................ 102 SUMÁRIO eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. iv 4.11. CASOS REAIS ................................................................................................... 104 4.11.1. A CIÊNCIA DAS RESINAS ........................................................................... 104 4.11.2. A NATUREZA DO PROBLEMA .................................................................... 106 4.11.2.1. Componentes Epóxi (monômeros, oligômeros) ...................................... 106 4.11.2.2. Componentes Amina .............................................................................. 106 4.11.2.3. Solventes (grupos epóxi e amina) ........................................................... 107 4.11.2.4. Outros Componentes da Resina Epóxi Aderente .................................... 107 4.11.3. LIMITES DE EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL ................................................. 108 4.11.4. METODOLOGIA DE MEDIÇÃO ................................................................... 109 4.11.4.1. Resinas Epóxi ......................................................................................... 109 4.11.4.2. Aminas .................................................................................................... 110 4.11.4.3. Solventes ................................................................................................ 110 4.13.4.4. Metais ..................................................................................................... 110 4.11.5. RESULTADOS ............................................................................................. 110 4.11.6. AÇÕES CORRETIVAS ................................................................................. 111 4.12. TESTES (4) ........................................................................................................ 112 CAPÍTULO 5. CONCEITOS BÁSICOS DE ESTATÍSTICA EM HIGIENE ................... 113 5.1. A CIÊNCIA DO TRATAMENTO DE DADOS ........................................................ 114 5.1.1. MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL .......................................................... 114 5.1.1.1. Média ........................................................................................................ 114 5.1.1.2. Mediana .................................................................................................... 116 5.1.1.3. Moda ........................................................................................................ 116 5.1.1.4. Outras médias .......................................................................................... 118 5.1.2. DISPERSÃO .................................................................................................. 119 5.1.2.1. Amplitude (domínio de variação) ............................................................... 119 5.1.2.2. Variância ................................................................................................... 119 5.1.2.3. Desvio padrão ........................................................................................... 121 5.1.2.4. Quartis e percentis .................................................................................... 121 5.1.2.5. Agrupamento de dados ............................................................................. 122 5.1.2.6. Gráficos de barras e distribuições de frequência ...................................... 124 5.1.2.7. Formas de curvas ..................................................................................... 124 5.2. TESTES (1) .......................................................................................................... 129 5.3. A NATUREZA DO PROBLEMA ........................................................................... 133 5.3.1. VALORES MEDIDOS ..................................................................................... 133 5.3.2. ERROS .......................................................................................................... 134 5.3.3. PARÂMETROS OPERACIONAIS .................................................................. 135 5.3.3.1. Exatidão (“accuracy”) ................................................................................ 136 5.3.3.2. Ajuste (“calibration”) .................................................................................. 136 5.3.3.3. Calibração ................................................................................................ 136 5.3.3.4. Interferência (“interference”) ..................................................................... 136 5.3.3.5. Ruído (“noise”) .......................................................................................... 137 5.3.3.6. Precisão (“precision”) ................................................................................ 137 5.3.3.7. Domínio (“range”) ..................................................................................... 139 5.3.3.8. Confiabilidade (“reliability”) ........................................................................ 139 5.3.3.9. Estabilidade (“stability”) ............................................................................. 139 5.3.3.10. Tempo de resposta (“response time”) ..................................................... 139 SUMÁRIO eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. v 5.3.3.11. Sensibilidade (“sensitivity”) ..................................................................... 139 5.3.3.12. Alteração de origem da escala (“zero drift”) ............................................ 139 5.3.4. ESPECIFICAÇÕES DE DESEMPENHO ........................................................ 140 5.4. CASOS REAIS E EXEMPLOS ............................................................................. 140 5.4.1. DISTRIBUIÇÃO LOG NORMAL ..................................................................... 140 5.4.2. EXEMPLO OCUPACIONAL 1 – SILICOSE EM MINAS DE OURO ................ 141 5.4.3. EXEMPLO OCUPACIONAL 2 – SILICOSE EM PEDREIRAS ......................... 143 5.4.4. EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA MÉDIA GEOMÉTRICA ................................ 145 5.4.5. EXEMPLO DE APLICAÇÃO DA MÉDIA HARMÔNICA .................................. 145 5.5. LIMITES ADMISSÍVEIS ....................................................................................... 146 5.5.1. O QUE SIGNIFICAM OS VALORES NUMÉRICOS ........................................ 146 5.5.2. EXEMPLO DE CÁLCULO DA EXPOSIÇÃO MÉDIA ....................................... 146 5.5.3. EXEMPLO DE EFEITOS ADITIVOS ............................................................... 148 5.6. METODOLOGIAS DE MEDIÇÃO ......................................................................... 148 5.6.1. SELEÇÃO DO LOCAL DE AMOSTRAGEM ................................................... 149 5.6.2. ESTRATÉGIA DE AMOSTRAGEM ................................................................ 149 5.6.2.1. Amostragem não aleatória ........................................................................150 5.6.2.2. Amostragem aleatória ............................................................................... 150 5.6.3. METODOLOGIA DE AMOSTRAGEM ............................................................ 152 5.6.4. FREQUÊNCIA DE AMOSTRAGEM................................................................ 152 5.6.5. EXECUÇÃO DA AMOSTRAGEM ................................................................... 152 5.6.6. TRANSPORTE E CUIDADOS COM AS AMOSTRAS .................................... 153 5.6.7. PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS.................................................................. 153 5.6.8. ANÁLISE DAS AMOSTRAS ........................................................................... 153 5.6.9. INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ................................................................... 154 5.6.10. APRESENTAÇÃO CUIDADOSA DOS RESULTADOS ................................. 155 5.6.11. DISTINÇÃO ENTRE PARÂMETROS DA AMOSTRA E DA POPULAÇÃO ... 156 5.7. TESTES (2) .......................................................................................................... 157 CAPÍTULO 6. CONCEITUAÇÃO E DISPOSITIVOS LEGAIS REFERENTES À HIGIENE OCUPACIONAL .......................................................................................... 162 6.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 163 6.2. A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E O TRABALHO ................................................................... 165 6.3. DEFINIÇÕES ....................................................................................................... 165 6.3.1. DIREITO ......................................................................................................... 165 6.3.2. LEI .................................................................................................................. 165 6.3.3. A HIERARQUIA DAS NORMAS JURÍDICAS ................................................. 166 6.4. A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E O TRABALHO .................................................................................................................................... 166 6.5. A CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO E A SEGURANÇA E SAÚDE DOS TRABALHADORES .................................................................................................... 178 6.6. ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS DO ENGENHEIRO DE SEGURANÇA DO TRABALHO E DO TÉCNICO DE SEGURANÇA DO TRABALHO ............................... 191 6.7. A REGULAMENTAÇÃO EM SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO .............. 195 6.9. TESTES ............................................................................................................... 205 SUMÁRIO eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. vi CAPÍTULO 7. RESPONSABILIDADES CIVIL E CRIMINAL / ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM HIGIENE OCUPACIONAL ........................................................ 208 7.1. A RESPONSABILIDADE CIVIL E CRIMINAL PELO ACIDENTE DO TRABALHO .................................................................................................................................... 209 7.1.1. A AÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ............................................................. 209 7.1.2. A RESPONSABILIDADE CIVIL ...................................................................... 210 7.1.3. RESPONSABILIDADE PENAL ....................................................................... 215 7.1.4. JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................ 218 7.1.4.1. Legítima Defesa ........................................................................................ 218 7.2. ATUAÇÃO PROFISSIONAL EM HIGIENE OCUPACIONAL ................................ 221 7.3. TESTES ............................................................................................................... 224 CAPÍTULO 8. CONVENÇÕES DA OIT, LEGISLAÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DO TRABALHADOR, DISPOSIÇÕES DA PREVIDÊNCIA SOCIAL ................................. 227 8.1. PRINCIPAIS CONVENÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT QUE ENVOLVEM A HIGIENE OCUPACIONAL RATIFICADAS PELO BRASIL ............................................................................................................. 228 8.1.1. CONVENÇÃO Nº. 174 – PREVENÇÃO DE ACIDENTES MAIORES, 1993 ... 229 8.1.2. CONVENÇÃO Nº. 170 – SEGURANÇA NA UTILIZAÇÃO DE PRODUTOS QUÍMICOS, 1990 ..................................................................................................... 231 8.1.3. CONVENÇÃO Nº. 162 – CONVENÇÃO SOBRE O ASBESTO, 1986 ............ 232 8.1.4. CONVENÇÃO Nº. 155 – SEGURANÇA E SAÚDE DOS TRABALHADORES, 1981. ........................................................................................................................ 234 8.1.5. CONVENÇÃO Nº. 148 – MEIO AMBIENTE DE TRABALHO (CONTAMINAÇÃO DO AR, RUÍDO E VIBRAÇÕES), 1977 .................................................................... 236 8.1.6. CONVENÇÃO Nº. 139 – CÂNCER PROFISSIONAL, 1974 ............................ 237 8.1.7. CONVENÇÃO Nº. 136 – BENZENO, 1971 ..................................................... 237 8.1.8 CONVENÇÃO Nº. 115 – PROTEÇÃO CONTRA RADIAÇÕES, 1960 ............. 238 8.2. CONVENÇÃO Nº. 148 - CONVENÇÃO SOBRE A PROTEÇÃO DOS TRABALHADORES CONTRA OS RISCOS PROFISSIONAIS DEVIDOS À CONTAMINAÇÃO DO AR, AO RUÍDO E ÀS VIBRAÇÕES NO LOCAL DE TRABALHO .................................................................................................................................... 239 8.3. LEGISLAÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DO TRABALHADOR ................................... 246 8.4. DISPOSIÇÕES DA PREVIDENCIA SOCIAL ........................................................ 255 8.4.1 BENEFÍCIOS CONCEDIDOS PELA PREVIDENCIA SOCIAL ........................ 257 8.4.2 ACIDENTE DO TRABALHO E DOENÇA PROFISSIONAL OU DO TRABALHO ................................................................................................................................. 258 8.4.2.1. Comunicação de acidente de trabalho e da doença profissional ou do trabalho ................................................................................................................. 259 8.4.3. AUXÍLIO-DOENÇA ......................................................................................... 260 8.4.4. AUXÍLIO DOENÇA ACIDENTÁRIO ................................................................ 261 8.4.5. AUXÍLIO-ACIDENTE ...................................................................................... 261 8.4.6. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ ............................................................. 262 8.4.7. APOSENTADORIA ESPECIAL ...................................................................... 262 8.5. TESTES ............................................................................................................... 264 CAPÍTULO 9. NORMAS REGULAMENTADORAS DO MINISTÉRIO DO TRABALHO RELACIONADAS À HIGIENE OCUPACIONAL: NR 04; NR 05 ................................. 268 SUMÁRIO eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. vii 9.1. NR 4 – SERVIÇOS ESPECIALIZADOS EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA E EM MEDICINA DO TRABALHO (SESMT) ......................................................................... 269 9.2. COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES – CIPA ..................... 277 9.3. NR 5 – COMISSÃO INTERNA DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES ..................... 278 9.4. TESTES ............................................................................................................... 315 CAPÍTULO 10. NORMAS REGULAMENTADORAS RELATIVAS À SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO: NR 07, NR 09, E NR 15 .....................................................318 10.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 319 10.2. NR 7 – PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL – PCMSO ....................................................................................................................... 320 10.3. NR 09 – AVALIAÇÃO E CONTROLE DAS EXPOSIÇÕES OCUPACIONAIS A AGENTES FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS ..................................................... 323 10.4. NR 15 – ATIVIDADES E OPERAÇÕES INSALUBRES ...................................... 326 10.5. TESTES ............................................................................................................. 333 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 335 Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 1 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO AO MUNDO OCUPACIONAL OBJETIVOS DO ESTUDO A higiene ocupacional, juntamente com a segurança e a medicina ocupacional, faz parte das disciplinas chamadas do núcleo prevencionista e está inserida num contexto maior, que é o da preservação da saúde no mundo do trabalho. Este capítulo dá um histórico sintético da evolução da prevenção através dos tempos, até os dias de hoje, incluindo aspectos históricos e marcos legislativos do Brasil. Ainda procura situar a pessoa não inserida no meio ocupacional, que pode ter sido atraída para o curso diretamente de uma área não necessariamente correlata, e que tem todo um contexto a conhecer. Ao terminar o capítulo você estará apto a: • Identificar aspectos evolutivos da questão ocupacional; • Entender o contexto onde se insere o higienista ocupacional; • Identificar as modernas escolas de prevenção; • Reconhecer os principais marcos históricos, profissionais e legislativos ocupacionais no Brasil. Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 2 1.1. PREVENÇÃO: HISTÓRICO E EVOLUÇÃO 1.1.1. O INÍCIO O problema dos acidentes e doenças ocupacionais não é um problema recente; pelo contrário, tem acompanhado o desenvolvimento das atividades do homem através dos séculos. Assim, o homem primitivo teve sua integridade física ameaçada e sua capacidade produtiva diminuída pelos acidentes próprios da caça, da pesca e da guerra, atividades que eram as mais importantes de sua época. Mais tarde, o caçador que habitava as cavernas, transformou-se em artesão e passou a trabalhar em minas e com os metais, gerando as primeiras doenças do trabalho, provocadas pelos próprios materiais utilizados na sua atividade laboral. As primeiras referências escritas, relacionadas com estes problemas, encontram-se num papiro Egípcio, que data de 2360 a.C., o chamado Papiro Seller II, e que dizem: “Eu jamais vi ferreiros em embaixadas e fundidores em missões. O que eu vejo sempre é o operário em seu trabalho; ele se consome nas goelas de seus fornos. O pedreiro exposto a todos os ventos, enquanto a doença à espreita, constrói sem agasalho, seus dois braços se gastam no trabalho; seus alimentos vivem misturados com os detritos, ele se come a si mesmo, porque só tem como pão os seus dedos. O barbeiro cansa os seus braços para encher o ventre. O tecelão vive encolhido, joelho ao estômago, ele não respira. As lavadeiras sobre as bordas do rio são vizinhas do crocodilo. O tintureiro fede a morrinha do peixe; seus olhos são abatidos de fadiga, suas mãos não param e suas vestes vivem em desalinho”. Em 460 a.C., Hipócrates, considerado o pai da medicina, também fala dos acidentes e doenças do trabalho. Quatro séculos mais tarde, Plínio (23-79 d.C.), após visitar alguns locais de trabalho, principalmente galerias de minas, descreve impressionado o aspecto dos trabalhadores expostos ao chumbo, ao mercúrio e às poeiras. Menciona então a iniciativa dos escravos em utilizarem à frente do rosto, à guisa de máscaras, panos ou membranas (de bexiga de carneiro) para atenuar a inalação de poeiras. Em 1556, um ano após a sua morte, Georg Bauer, mais conhecido pelo seu nome latino de Georgius Agrícola, publica em latim seu livro De Re Metallica. Após estudar diversos aspectos relacionados à extração de metais argentíferos e auríferos e à sua fundição, dedica o último capítulo aos acidentes do trabalho e às doenças mais comuns entre os mineiros. Agrícola dá destaque especial à chamada “asma dos mineiros”, provocada por poeiras que descreveu como “corrosivas”. A descrição dos sintomas e a evolução da doença fazem lembrar a silicose. Segundo as observações de Agrícola, em algumas regiões extrativas, as mulheres chegavam a casar sete vezes, roubadas que eram de seus maridos, pela morte prematura encontrada na ocupação que exerciam. Onze anos mais tarde, surge a publicação de Paracelso (Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim): “Dos Ofícios e das Doenças da Montanha”. Seu autor nasceu e viveu durante muitos anos em um centro mineiro da Boêmia, e são numerosas as suas observações relacionando métodos de trabalho ou substâncias manuseadas com doenças, sendo de destacar-se, por exemplo, que, em relação à intoxicação pelo mercúrio, os principais sintomas dessa doença profissional encontram-se ali assinalados, bem como da silicose. Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 3 Em 1700, era publicada em Módena, na Itália, a primeira edição do livro De Morbis Artificum Diatriba, escrito pelo médico Bernadino Ramazzini (1633 - 1714). Nesta obra fundamental que lhe valeu o epíteto de “Pai da Medicina do Trabalho”, Ramazzini descreve com rara sensibilidade e grande erudição literária, doenças que ocorrem em trabalhadores de mais de cinquenta ocupações. Às perguntas Hipócraticas, fundamentais na anamnese, propõe Ramazzini que se acrescente mais uma: QUAL É A SUA OCUPAÇÃO? A partir do séc. XVIII, profundas alterações tecnológicas são iniciadas pela humanidade, e sua importância é de tal magnitude que foi chamada de Revolução Industrial. São inventados a máquina a vapor (James Watts - 1781) e o regulador automático de velocidade (1785), inventos estes que deram ao homem a independência das fontes localizadas de energia (rios) e o uso de uma nova forma controlável (de energia), de baixo custo e abundante. A organização das primeiras indústrias foi uma tragédia para as classes trabalhadoras, dadas as condições sub-humanas nas quais desenvolviam-se as atividades fabris. Os acidentes do trabalho e as doenças provocadas pelas substâncias e ambientes do trabalho geravam grande número de doentes e mutilados. As primitivas máquinas de fiação e tecelagem necessitavam de força motriz para acioná-las, e esta foi encontrada na energia hidráulica; daí o nome de “mill”, pelo qual, até hoje, são conhecidas as fiações nos países de língua inglesa. A descoberta da máquina a vapor, porém, veio permitir a instalação de fábricas em quaisquer lugares e, muito naturalmente, as grandes cidades, onde era abundante a mão de obra. Assim, galpões, estábulos, velhos armazéns eram rapidamente transformados em "fábricas", colocando-se, no seu interior, o maior número possível de máquinas de fiação e tecelagem. Como mulheres e crianças podiam cuidar das máquinas e receber menos que os homens, deram-lhes trabalho, enquanto o homem ficava em casa, frequentemente sem poder trabalhar. A princípio, os donos de fábricas compravam o trabalho das crianças pobres, nos orfanatos; mais tarde, como os salários do pai operário e da mãe operária não eram suficientes para manter a família, também as crianças que tinham casa foram obrigadas a trabalhar nas fábricas e minas.Intermediários inescrupulosos percorriam as grandes cidades inglesas, arrebanhando crianças, que lhes eram vendidas por pais miseráveis, e revendidas a £ 5 (Libras Esterlinas) por cabeça, aos empregadores que, ansiosos por obter um suprimento inesgotável de mão-de-obra barata, se comprometiam a aceitar uma criança débil mental para cada 12 crianças sadias. A improvisação das fábricas e a mão-de-obra constituída principalmente por crianças e mulheres resultaram em problemas ocupacionais extremamente sérios. Os acidentes do trabalho eram numerosos, provocados por máquinas sem qualquer proteção, movidas por correias expostas, e as mortes, principalmente de crianças, eram muito frequentes. Inexistindo limites de horas de trabalho, homens, mulheres e crianças iniciavam suas atividades pela madrugada, abandonando-as somente ao cair da noite; em muitos casos continuava mesmo durante a noite, em fábricas parcamente iluminadas por bicos de gás. As atividades profissionais eram executadas em ambientes fechados, onde a ventilação era precaríssima. Não é, pois, de estranhar-se que doenças de toda a ordem disseminassem entre os trabalhadores, especialmente entre as crianças (principalmente as infectocontagiosas, como o tifo europeu, que era chamado de “febre Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 4 das fábricas”, cuja disseminação era facilitada pelas más condições do ambiente de trabalho e pela grande concentração e promiscuidade dos trabalhadores). Tal dramática situação dos trabalhadores não poderia deixar indiferente a opinião pública, e por essa razão criou-se, no parlamento britânico, sob direção de sir Robert Peel, uma comissão de inquérito que, após longa e tenaz luta, conseguiu que em 1802 fosse aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores: a “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”, que estabelecia o limite de 12 horas de trabalho por dia, proibia o trabalho noturno, obrigava os empregadores a lavar as paredes das fábricas duas vezes por ano, e tornava obrigatória a ventilação destas. Em 1830, quando as condições de trabalho das crianças ainda se mostravam péssimas, a despeito dos diversos documentos legais, o proprietário de uma fábrica inglesa, que se sentia perturbado diante das péssimas condições de trabalho dos seus pequenos trabalhadores, procurou Robert Baker, famoso médico inglês, pedindo-lhe conselhos sobre a melhor forma de proteger a saúde dos mesmos. Baker dedicava parte do seu tempo a visitar fábricas e tomar conhecimento das relações entre trabalho e doença, o que levou o governo britânico, quatro anos mais tarde, a nomeá-lo Inspetor Médico de Fábricas. Assim, diante do pedido do empregador inglês, aconselhou-o a contratar um médico da localidade em que funcionava a fábrica de modo a visitar diariamente o local de trabalho e estudar a sua possível influência sobre a saúde dos pequenos operários, que deveriam ser afastados de suas atividades profissionais tão logo fosse notado que estas estivessem prejudicando a sua saúde. Surgia, assim, o primeiro serviço médico industrial em todo o mundo. Em 1831, uma comissão parlamentar de inquérito, sob a chefia de Michael Saddler, elaborou um cuidadoso relatório, que concluía da seguinte maneira: “Diante desta Comissão desfilou longa procissão de trabalhadores – homens e mulheres, meninos e meninas. Abobalhados, doentes, deformados, degradados na sua qualidade humana, cada um deles era clara evidência de uma vida arruinada, um quadro vivo da crueldade do homem para com o homem, uma impiedosa condenação daqueles legisladores que, quando em suas mãos detinham poder imenso, abandonaram os fracos à capacidade dos fortes”. O impacto deste relatório sobre a opinião pública foi tremendo, e assim, em 1833, foi baixado o Factory Act, que deve ser considerada como a primeira legislação realmente eficiente no campo da proteção ao trabalhador. Aplicava-se a todas as empresas têxteis onde se usasse força hidráulica ou a vapor; proibia o trabalho noturno aos menores de 18 anos e restringia as horas de trabalho destes, a 12 por dia e 69 por semana; as fábricas precisavam ter escolas, que deviam ser frequentadas por todos os trabalhadores menores de 13 anos; a idade mínima para o trabalho era de 9 anos, e um médico devia atestar que o desenvolvimento físico da criança correspondesse à sua idade cronológica. Até a primeira guerra mundial, perdurou esta situação com alguns intentos isolados para controlar os acidentes e doenças ocupacionais, sendo que a conflagração marcou o início dos primeiros intentos científicos de proteção ao trabalhador, estudando-se as doenças dos trabalhadores, as condições ambientais, a distribuição assim como o desenho das máquinas e equipamentos, as proteções necessárias para evitar acidentes e incapacidades, etc. Este movimento prevencionista consegue a sua maturidade durante a segunda guerra mundial, quando os países em luta compreenderam que o vencedor seria aquele Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 5 que tivesse uma melhor capacidade industrial, e para isto, conseguisse manter um maior número de trabalhadores em produção ativa. Como pudemos ver, o prevencionismo evoluiu lentamente através dos tempos, caracterizando-se, inicialmente, por ações eminentemente médicas. Mesmo quando as primeiras leis de amparo à infortunística foram decretadas, o seu objetivo foi restrito à reparação dos danos causados pelo trabalho; surgiu toda uma legislação social de “reparação” de danos (lesões). Dessa forma, o seguro social (Previdência Social) realizava e realiza ações assegurando o risco de acidentes, ou melhor dizendo, o risco de lesões. Por outro lado, já no nosso século, iniciaram-se as ações complementares e necessariamente básicas do prevencionismo, ou seja, era óbvio, como ainda hoje nos é, que além de se reparar os danos causados pelos acidentes, era necessário evitar a sua ocorrência. 1.1.2. OS ANOS 60 A preocupação com todos os tipos de acidentes e as considerações econômicas. Até então, a preocupação era limitada à prevenção dos acidentes-tipo, ou acidentes pessoais, ou simplesmente acidentes, pois não havendo lesão, não existia o conceito (do ponto de vista legal, também não existe o acidente sem acidentado). Surgiram então, teorias que foram e ainda são importantes, mostrando que ao se fechar os olhos para os acidentes sem lesão (apenas com danos materiais), perde-se em prevenção, pois o que é realmente aleatório deste fato chamado acidente é o seu resultado (só lesão, só dano material, só dano econômico ou qualquer combinação destes). O acidente não é aleatório na sua chance de ocorrer, pois persistindo riscos, ele ocorrerá. O acidente é, porém, aleatório no momento de sua ocorrência e na tipologia dos danos consequentes. A vantagem em se estudar todos os tipos de acidentes era justamente poder detectar um maior espectro de riscos, e assim aperfeiçoar a prevenção. As teorias buscavam também, com razão, atrair o empresário para a prevenção, mostrando que as perdas materiais e econômicas dos acidentes eram muito maiores do que se imaginava e que sua redução era possível. Mais ainda, tal redução passava pela tecnologia da Engenharia de Segurança, aliada à nova visão que as teorias planejavam adicionar. As duas principais teorias surgidas na década foram: • Controle de Danos: Em 1966, o norte americano Frank Bird Jr. concluiu um estudo de 90.000 acidentes (75.000 com danos à propriedade), ocorridos em uma empresa metalúrgica durante 7 anos, e que serviram de base para sua teoria chamada “Controle de Danos”. Um programa de Controle de Danos requer a identificação, registro e análise de todos os acidentes comdanos à propriedade, cujos custos devem ser determinados e cuja análise deve desencadear ações preventivas. O programa tinha uma vertente forte na mudança de cultura (ou seja, acidentes sem lesionados passariam a ser Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 6 considerados acidentes), além de provisões para o levantamento dos custos (essencialmente, os custos de manutenção e reparos causados por acidentes, normalmente diluídos e irreconhecíveis na contabilidade das empresas). Como não havia a informatização, os controles eram feitos por etiquetas apostas aos itens a sofrer manutenção, ou através do uso da letra “A” nas ordens de serviço, para posterior controle (manual) dos custos. Pode agora parecer simples ou até bisonho, mas foi uma revolução para os pensamentos da época. É claro que o programa previa todas as outras ferramentas da prevenção tradicional. • Controle Total de Perdas: Partindo também da premissa de que os acidentes que resultam em danos às instalações, equipamentos e materiais têm as mesmas causas básicas que aqueles que resultaram em lesões, o canadense John A. Fletcher propôs, em 1970, o estabelecimento de “Programas de Controle Total de Perdas”. Desde já se observa que permanece grande o apelo desta denominação e de seus objetivos nos dias de hoje. Esta teoria, que deve ser mostrada com detalhe nos cursos de engenharia de segurança, pode ser resumida como segue: Segundo a proposta de Fletcher, o PCP deve ser idealizado de modo a eliminar todas as fontes de interrupção de um processo de produção, querem elas resultem de lesão, dano à propriedade, incêndio, explosão, roubo, vandalismo, sabotagem, poluição ambiental, doença ocupacional ou defeito do produto. Trata-se de uma visão mais abrangente do conceito de “perda” de Bird. Os passos de implementação previam: o levantamento do perfil dos programas de prevenção existentes, a definição de prioridades e a elaboração de planos de ação (usando-se as ferramentas tradicionais da prevenção). Particularmente interessante é o levantamento dos perfis de prevenção, baseado em perguntas chave, com um sistema de pontos. Tratava-se do embrião dos sistemas de auditoria de segurança, levantando deficiências a serem sanadas nos planos de ação. 1.1.3. CONTRIBUIÇÕES DE ÁREAS EXÓGENAS À PREVENÇÃO OCUPACIONAL 1.1.3.1. TECNOLOGIAS DE PREVENÇÃO: TÉCNICAS DE ANÁLISE DE RISCOS As técnicas estruturadas de análise de riscos, ou "Técnicas de Análise de Riscos”, como agora as conhecemos, têm sua origem em duas grandes vertentes: a área de processos (indústrias de processo) e a militar/bélico/aeroespacial (onde se configurou a disciplina "Engenharia de Segurança de Sistemas"). Ao final da segunda grande guerra, nascia uma indústria de armas mais sofisticadas, os mísseis. Em todas as áreas militares norte-americanas (aeronáutica, marinha, exército) já surgiam técnicas embrionárias de análise de riscos, visando reduzir a ocorrência de acidentes operacionais catastróficos, por uma ação antes dos mesmos, ou seja, preventiva. Essas técnicas foram se fortalecendo e se desenvolvendo dentro da indústria de mísseis, de forma a serem desenvolvidos sistemas mais seguros, com menos falhas e riscos de operação. Esse movimento foi se configurando numa disciplina que se consolidou com a corrida aeroespacial (que tinha a necessidade de alta confiabilidade, erro “zero”), chamada Engenharia de Segurança de Sistemas. A maioria das técnicas atuais provém desta área. Muitas delas surgiram como resposta a riscos inadmissíveis no desenvolvimento de sistemas, ou a catástrofes concretas. A APR Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 7 (Análise Preliminar de Riscos), por exemplo, foi desenvolvida e tornada obrigatória após os acidentes com o sistema de mísseis Atlas. As árvores de falhas, pelos riscos de um lançamento não autorizado dos mísseis Minuteman. Na área de processos, a busca por plantas mais seguras foi alavancada e consolidada por acidentes sérios, como Flixborough, Seveso, Bhopal. As técnicas mais importantes, que daí surgiram, foram o HAZOP (Estudo de riscos e operabilidade) e o What If (Técnica E SE...). É importante observar que as técnicas, especialmente as de segurança de sistemas, foram gradualmente passando para a área “civil” de riscos já nos anos sessenta. Os primeiros artigos em revistas de segurança do trabalho foram provavelmente os de Recht, em 1966, na “National Safety News” norte-americana. A forma mais técnica e estruturada de se analisar riscos, a maior objetividade e sistematização eram um fato novo no mundo prevencionista, e, aos poucos, as técnicas se disseminaram nas empresas. Elas também geraram variantes mais simples ou adaptações que podem ser identificadas em estudos ocupacionais, como a ART (análise de riscos no trabalho) e a própria “Árvore de Causas”, uma aplicação ocupacional da técnica SR (Série de Riscos). Observe-se que na Segurança de Sistemas há mais de 20 técnicas disponíveis, algumas muito específicas (ver referências bibliográficas, Willie Hammer). Em 1979, Mario Fantazzini e Francesco De Cicco lançaram pela Fundacentro a primeira obra em língua portuguesa no Brasil sobre Segurança de Sistemas, com as ferramentas de Análise de Riscos supracitadas e outros conceitos. 1.1.4. ANÁLISE DE RISCOS E GERÊNCIA DE RISCOS É necessário relatar que a gerência de riscos não possui uma conceituação universalmente aceita. Sem alongar demasiadamente o tema, observamos essencialmente que a linha que temos seguido é a da consideração ampla dos vários processos da gerência de riscos, como abaixo descritos, devidamente municiados pelas técnicas de análise de riscos. Os processos básicos são: • Identificação de riscos; • Análise de riscos; • Avaliação de riscos; • Tratamento de riscos. • Prevenção • eliminação • redução • Financiamento • retenção (auto adoção ou autosseguro) • transferência (através ou não de seguro) As técnicas subsidiam todos os processos, pois em forma geral não só identificam os riscos, analisam suas causas e efeitos, avaliam quantitativamente os mesmos, como também geram medidas de prevenção e controle e permitem (nas técnicas quantitativas) estabelecer estudos de custo-benefício quanto a investimentos de controle e de financiamento (discussão de taxas de seguro frente à probabilidade de ocorrência dos danos, por exemplo). Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 8 1.1.5. O PREVENCIONISMO NO BRASIL Embora em menores proporções, não seria despropósito afirmar que o período vivido pelo Brasil, basicamente Rio de Janeiro e São Paulo, de 1880 a 1920, guarda grande similitude com o período da “Revolução Industrial” da Inglaterra de cem anos antes. Nos seus aspectos positivos, mas também na repetição dos problemas desencadeados pela industrialização. De acordo com o relatório de Dean, as condições de trabalho eram duríssimas: muitas estruturas que abrigavam as máquinas não haviam sido originalmente destinadas a essa finalidade, além de mal iluminadas e mal ventiladas, não dispunham de instalações sanitárias. As máquinas se amontoavam ao lado umas das outras e suas correias e engrenagens giravam sem proteção alguma. Os acidentes se amiudavam porque os trabalhadores cansados, que trabalhavam às vezes, além do horário sem aumento de salário ou trabalhavam aos domingos, eram multados por indolência ou pelos erros cometidos, se fossem adultos, ou surrados, se fossem crianças. Cita-se exemplo de cardadores da indústria têxtil que trabalhavam 16 horas por dia, das 5 às 22 horas, com uma hora para a refeição,e nos domingos, até as 15 horas. Os primeiros passos do prevencionismo brasileiro tiveram origens reais nos primeiros anos da década de 1930, depois da criação do ministério do trabalho. Desta década datam as primeiras tentativas para despertar os responsáveis pelo desenvolvimento industrial do Brasil, autoridades, empresários e trabalhadores, para a prevenção dos acidentes e doenças do trabalho. O país contava desde 1919 com uma lei de acidentes do trabalho, a qual foi reformulada em 1934, mas apesar da reformulação, ambas leis foram deficientes no aspecto prevencionista, preocupando-se de preferência com a compensação ao acidentado, ou seja, atuava uma vez que o acidente acontecia. Surge nessa época, através da Lei 185, de 14 de janeiro de 1936, o adicional de insalubridade, experiência abandonada depois de comprovadamente ruim na revolução industrial inglesa. A partir de então, o trabalhador brasileiro, exposto aos riscos ambientais, tinha direito a um acréscimo salarial de até 50%. Posteriormente, essa lei foi regulamentada pela Portaria SMC 51, de 13/04/1939, do Ministério da Indústria, Comércio e Trabalho, criando os “quadros das indústrias insalubres”. Essa prática perversa de comprar a saúde dos trabalhadores tem se perpetuado até a presente data, completando em 2006, setenta anos de existência. Em abril de 1938, foi apresentado um projeto de lei, para modificar a parte que se referia aos acidentes do trabalho do Decreto nº. 22.872, de criação do Instituto dos Marítimos. Nesse anteprojeto, posteriormente transformado no Decreto lei nº. 3.700 de 9 de outubro de 1941, foi incluído um capítulo dedicado à prevenção de acidentes do trabalho. Em 1940, os adicionais de insalubridade foram subdivididos em percentuais de 40, 20 e 10% para três níveis de insalubridade, máximo, médio e mínimo. No Governo Getúlio Vargas foi implantada a CLT – Consolidação das Leis do Trabalho – em 1943, com um capítulo (V) para a segurança e higiene do trabalho. Foi também prevista a eliminação da insalubridade através de medidas de controle e por consequência o não pagamento dos respectivos adicionais. Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 9 Neste mesmo ano, o Governo resolveu estender às outras classes operárias as medidas de proteção ao trabalho. Nesse ano, o ministro do trabalho, Sr. Marcondes Filho, lançou as bases da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho, que até hoje vem se desenvolvendo. Junto com o desenvolvimento progressivo da legislação foram aparecendo diversas entidades, algumas de origem privada e outras de caráter oficial, tendo por objetivo o ensino, divulgação e pesquisas no âmbito da segurança, higiene e medicina do trabalho. A primeira destas entidades no nosso meio foi a ABPA (Associação Brasileira para a Prevenção de Acidentes) fundada em 21 de maio de 1941, constituindo-se numa das primeiras organizações desse tipo na América do Sul. A entidade nacional de maior importância e responsabilidade na área é a FUNDACENTRO, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho. 1.1.6. O “NASCIMENTO” DAS PROFISSÕES OCUPACIONAIS O fim dos anos 60 e início da década de 70 foram marcados por grande crescimento industrial e econômico. Falava-se no “milagre brasileiro”, e as taxas de crescimento eram de até 10% ao ano. Isto, naturalmente, quer dizer também que não havia formação profissional que suprisse adequadamente trabalhadores devidamente treinados, não só para as tarefas requeridas, mas também para a prevenção. Somando isso a um crescimento relativamente desordenado das empresas, o resultado só poderia ser um: muitos acidentes. A evolução dos índices oficiais pode ser observada na Tabela 1.1. Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 10 Tabela 1.1. Evolução dos índices oficiais de % de acidentados. Ano* Trabalhadores Acidentes Doenças Total % Típico Trajeto Acidentes 1970 7.284.022 1.199.672 14.502 5.937 1.220.111 16,75 1971 7.553.472 1.308.335 18.138 4.050 1.330.523 17,61 1972 8.148.987 1.479.318 23.389 2.016 1.504.723 18,47 1973 10.956.956 1.602.517 28.395 1.784 1.632.696 14,90 1974 11.537.024 1.756.649 38.273 1.839 1.796.761 15,57 1975 12.996.796 1.869.689 44.307 2.191 1.916.187 14,74 1976 14.945.489 1.692.833 48.394 2.598 1.743.825 11,67 1977 16.589.605 1.562.957 48.780 3.013 1.614.750 9,73 1978 16.638.799 1.497.934 48.511 5.016 1.551.461 9,32 1979 17.637.127 1.388.525 52.279 3.823 1.444.627 8,19 Média Anos 70 12.428.828 1.535.843 36.497 3.227 1.575.566 12,68 1980 18.686.355 1.404.531 55.967 3.713 1.464.211 7,84 1981 19.188.536 1.215.539 51.722 3.204 1.270.465 6,62 1982 19.476.362 1.117.832 57.874 2.766 1.178.472 6,05 1983 19.671.128 943.110 56.989 3.016 1.003.115 5,10 1984 19.673.915 901.238 57.054 3.233 961.575 4,89 1985 21.151.994 1.010.340 63.515 4.006 1.077.861 5,10 1986 22.163.827 1.129.152 72.693 6.014 1.207.859 5,45 1987 22.617.787 1.065.912 64.830 6.382 1.137.124 5,03 1988 23.661.579 926.354 60.202 5.025 991.581 4,19 1989 24.486.553 825.081 58.524 4.838 888.443 3,63 Média Anos 80 21.077.804 1.053.909 59.937 4.220 1.118.071 5,30 1990 23.198.656 632.012 56.343 5.217 693.572 2,99 1991 23.004.264 579.362 46.679 6.281 632.322 2,75 1992 22.272.843 490.916 33.299 8.299 535.514 2,40 1993 23.165.027 374.167 22.709 15.417 412.293 1,78 1994 23.667.241 350.210 22.824 15.270 388.304 1,64 1995 23.755.736 374.700 28.791 20.646 424.137 1,79 1996 23.830.312 325.870 34.696 34.889 395.455 1,66 1997 24.104.428 347.482 37.213 36.648 421.343 1,75 1998 24.491.635 347.738 36.114 30.489 414.341 1,69 1999 24.993.265 326.404 37.513 23.903 387.820 1,55 Média Anos 90 23.648.341 414.886 35.618 19.706 470.210 1,99 2000* 26.228.629 304.963 39.300 19.605 363.868 1,39 2001* 27.189.614 282.965 38.799 18.487 340.251 1,25 2002* 28.683.913 323.879 46.881 22.311 393.071 1,37 2003* 29.544.927 325.577 49.642 23.858 399.077 1,35 (*) São dados preliminares e não incluem todos os Estados da Federação Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 11 Observação: considerando-se apenas os números oficiais do INSS que engloba apenas trabalhadores com carteira profissional assinada. Em 1972, quase 1/5 da força de trabalho formal (inscrita na previdência) havia se acidentado e isso foi a pior marca na história acidentária do Brasil. Considerando-se ainda: • A grande quantidade de trabalho informal; • Que o índice é médio, ou seja, para as atividades de alto risco as cifras seriam ainda mais altas; • E a eventual subnotificação de acidentes. ... pode-se perceber a quão calamitosa era a situação. Tratava-se não apenas de um grande holocausto de vítimas fatais, mutilados e alijados da sociedade produtiva, mas também uma sangria imensa do PIB, pelas horas não produtivas, perdas econômicas e recursos de previdência desviados necessariamente para fazer frente a indenizações e pensões. Um grande drama humano, mas também uma perda de riqueza do país, que poderia estar sendo dirigida a outras prioridades. Era necessário fazer-se algo, e depressa. Assim, foram virtualmente “criadas” novas categorias ocupacionais, para, em caráter emergencial, passar a atuar na reversão da situação. As novas profissões foram: • O Engenheiro de Segurança; • O Médico do Trabalho; • O Enfermeiro do Trabalho; • O Auxiliar de Enfermagem do Trabalho; e • O Técnico de Segurança do Trabalho (então chamado Supervisor de Segurança do Trabalho). Observe-se que naqueles tempos, não havia formação de segurança no País. Os que a tinham, haviam estudado no exterior ou eramautodidatas. A preocupação com a segurança havia, mas era restrita às CIPAs. O Sistema SENAI também sempre teve preocupação de formar com segurança os aprendizes, e as empresas, especialmente as estrangeiras aqui radicadas, com honrosas exceções locais, também tinham cuidados oriundos das matrizes. A criação veio decretada, a partir da Portaria 3237, de 1972, dentro do que se chamou de PNVT – Plano Nacional de Valorização do Trabalhador. Tal era a urgência, que as profissões foram criadas no âmbito do Ministério do Trabalho, que outorgava a profissão, o que perdurou até os anos 80, quando passaram para a esfera do Ministério da Educação. O então “Supervisor de Segurança”, nos primeiros tempos, poderia formar-se apenas com o ginásio, atualmente conhecido como ensino fundamental, sendo exigido posteriormente o 2° grau (atualmente ensino médio). Vale salientar que já na CLT de 1943 aparecia a denominação “segurança e higiene do trabalho”. Na Constituição Brasileira de 1988 a higiene do trabalho ou ocupacional é um direito dos trabalhadores, conforme o artigo 7°. Na revisão do Capítulo V da CLT, em 1977, criou-se o binômio Segurança e Medicina do Trabalho, desprezando a importância da disciplina que estuda os riscos ambientais. Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 12 1.1.7. ALGUNS MARCOS HISTÓRICOS E LEGISLATIVOS NO BRASIL. LEGISLAÇÃO ATUAL E AS NORMAS REGULAMENTADORAS (NRS) Os marcos históricos e legislativos podem ser apresentados cronologicamente da seguinte forma: • 1917 – Primeira greve geral operária em São Paulo; • 1919 – Primeira Lei de Seguros de Acidentes do Trabalho; • 1923 – Caixas de aposentadorias e pensões; • 1930 – Criação do Ministério do Trabalho (Getúlio Vargas); • 1933 – Transformação das caixas em Institutos (IAPC, IAPI, etc); • 1943 – Promulgação da CLT; • 1960 – Lei orgânica da previdência social (centralização dos institutos); • 1966 – INPS; • 1966 – Criação da Fundacentro, que só iria operar em 1969; • 1967 – estatização e monopólio do seguro acidentem de trabalho (SAT), que era privado. Havia a tarifação individual; • 1972 – Plano Nacional de Valorização do Trabalhador / SESMTs obrigatórios / criação dos profissionais ocupacionais; • 1976 – Taxação fixa do SAT (1, 2 ou 3% da folha de salários); • 1977 – Alteração do capítulo V, título II da CLT. (lei 6514); • 1978 – Regulamentação da Lei 6514 e criação das Normas Regulamentadoras – NRs. • 1994 – Fundação da ABHO – Associação Brasileira de Higienistas Ocupacionais. • 1994 – Obrigatoriedade de Programas Prevencionistas (PPRA, PCMSO, PCMAT, PPR, etc) • 2004 – Reformulação da legislação previdenciária, introduzindo a obrigatoriedade de normas técnicas da Fundacentro. As Normas Regulamentadoras foram criadas a partir das alterações da lei 6514 de 22 de dezembro de 1977, com novidades conceituais (por exemplo, os Limites de Tolerância), e com o intuito de consolidar toda uma legislação fragmentada e esparsa, uma miríade de portarias, que existia até então. Houve um esforço de revisão e de ordenação, dentro de um formato que vem se mantendo até aqui. Atualmente existem 36 Normas Regulamentadoras básicas. As normas versam sobre todos os tópicos de segurança, higiene e medicina do trabalho. 1.1.8. O PROFISSIONAL OCUPACIONAL E AS LEGISLAÇÕES A CONHECER O higienista se move num contexto técnico-legal. Deve conhecer várias legislações, com graus diferenciados de aprofundamento e especificidade: Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 13 TRABALHISTA É a que mais deve saber. Essencialmente, as Normas Regulamentadoras, mas também na própria CLT há pontos que o dia - a - dia irá requerer atenção. As portarias da SSST (Secretaria de Segurança e Saúde no Trabalho), que alteram as NR’s, devem ser conhecidas na íntegra. Possui acesso pela Internet. PREVIDENCIÁRIA É a segunda mais importante, pois se relaciona (muitas vezes de forma negativa) com a trabalhista. Define os eventos resultantes dos acidentes, as prestações econômicas derivadas e, especialmente, a questão das aposentadorias especiais e dos laudos a serem emitidos para tal. Em alguns casos, pode ser uma das tarefas preponderantes do profissional. Deve-se esperar grandes necessidades de envolvimento. AMBIENTAL A legislação ambiental não pode passar despercebida, pois há vários pontos de interseção. Lembrar que o ruído da empresa, após ser um problema ocupacional, escapa aos limites da planta e vai ser um problema ambiental (por exemplo). NÍVEIS LEGISLATIVOS Em todos os campos, deve-se estar atento não apenas à legislação federal, mas também às estaduais e municipais. Atenção, por exemplo, em São Paulo, com a “lei do PSIU” – Programa de Silêncio Urbano”. 1.1.9. SISTEMAS DE GESTÃO DE SEGURANÇA E SAÚDE OCUPACIONAL (SGSSO) (BS 8800 E OHSAS 18001) Os sistemas de gestão se mostraram forma eficiente de se implementar ideias, ou, melhor dizendo, novos valores culturais às culturas empresariais. Assim fazendo, permite-se que ações efetivas venham a ocorrer, mudanças se operem e o projeto corporativo enunciado se realize. Tal tem ocorrido com os sistemas de gestão da qualidade (sistema 9000) e, mais recentemente, com os sistemas de gestão da qualidade ambiental (sistema 14000). Assim, para realizar adequadamente a qualidade, que não é obrigação legal, mas sim fator de competitividade por requisitos mercadológicos e exigência de clientes, as empresas estabelecem sistemas de gestão. Eles permitem que todos na empresa possuam um repertório comum, atribuições, competências e responsabilidades, e que o novo valor cultural seja efetivamente incorporado. Um cliente que deseje um produto ou serviço de qualidade, não precisa vir visitar seu exportador, pois sabe que o mesmo possui um sistema verificável de gestão, normalizado, que avaliza as propriedades desejadas e garante seus requisitos. Assim, o cliente exige tal característica de seus fornecedores. Como resultado do sistema de gestão, a qualidade efetivamente se instala e permeia pela organização. Hoje, um passo além nessa cadeia de exigências de clientes (e o cliente é soberano), é a certificação ambiental. Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 14 Assim, o cliente comprará meu produto, mas quer estar certo (os seus acionistas querem saber) de que meu sistema produtivo não agride o meio-ambiente; isto pode ser evidenciado porque eu possuo um sistema de gestão de qualidade ambiental. Assim, a venda de qualquer produto ou serviço pode estar sendo crescentemente condicionada a aspectos que inicialmente não aparentam ser essenciais à produção, como a gestão ambiental. Isto já é uma realidade. Um terceiro nível nesta questão é a demanda por Sistemas de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional (SGSSO). Os motivos que alicerçam a implementação estratégica dos SGSSO nas empresas, podem ser: • Atendimento a clientes importadores, que passarão a exigir o conhecimento de como seu fornecedor gerencia a saúde e segurança de seus trabalhadores; • Obter, no horizonte da privatização do seguro-acidente, indicadores de excelência que permitam negociar taxas mais favoráveis que as empresas “comuns” com os futuros operadores. Observar que neste caso, pela primeira vez de forma explícita, a prevenção “se paga” e a atividade prevencionista mostra evidente relação favorável de custo-benefício. Este pode ser um dos motivos mais fortes; • Por valorizar os sistemas de gestão, desejando agregar a questão ocupacional (o que se faz facilmente nas empresas que já possuem outros sistemas degestão); • Para melhorar o seu desempenho em segurança e saúde de forma eficiente e definitiva. Os sistemas de gestão possuem características poderosas que irão permitir a efetiva implementação dos melhores padrões ocupacionais. Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 15 1.2. TESTES 1. Quando e onde foram escritas as primeiras referências relacionadas a problemática dos acidentes e doenças ocupacionais? a) 1720 a.C, Índia. b) 1230 a.C, China. c) 1450 a.C, Grécia. d) 2360 a.C, Egito. e) 2130 a.C, Prússia. Feedback: item 1.1.1. 2. Quem é considerado o “Pai da Medicina do Trabalho”? a) Hipócrates. b) Bernardino Ramazzini. c) Georgius Agrícola. d) Auredus Theophrastus Bombastus von Hohenheim. e) Plínio. Feedback: item 1.1.1. 3. Qual o livro que delegou o título de “Pai da Medicina do Trabalho” ao seu autor? a) De Re Metallica. b) Papiro Seller II. c) Dos Ofícios e das Doenças das Montanhas. d) Acidentes e Doenças Ocupacionais. e) De Morbis Artificum Diatriba. Feedback: item 1.1.1. 4. Qual item não se encontrava na primeira lei de proteção aos trabalhadores: “Lei de Saúde e Moral dos Aprendizes”? a) Proibição do trabalho para menores de 14 anos. b) Lavagem das paredes das fábricas duas vezes por ano. c) Limite de 12 horas de trabalho diário. d) Proibição do trabalho noturno. e) Obrigatória a ventilação das fábricas. Feedback: item 1.1.1. 5. Qual item não se aplica ao “Factory Act” de 1833? a) Primeira legislação eficiente no campo da proteção ao trabalhador. b) Idade mínima para o trabalho de 9 anos. c) Existência de escolas nas próprias fábricas que deveriam ser frequentadas por todos trabalhadores menores de 13 anos. d) Limite de 10 horas de trabalho diário para menores de 18 anos. e) Proibição do trabalho noturno aos menores de 18 anos. Feedback: item 1.1.1. Capítulo 1. Introdução ao Mundo Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 16 6. As teorias “Controle Total de Perdas” e “Controle de Danos” surgiram em qual década do século XX? a) Na década de 30, durante a 1a Guerra Mundial. b) Na década de 40. b) Na década de 50, após 1a Guerra Mundial. d) Na década de 60. e) Na década de 80. Feedback: item 1.1.2. 7. Considere as informações abaixo sobre as “Técnicas de Análise de Riscos”: I – Tem origem em duas grandes vertentes: área de processos e a militar/bélico/aeroespacial. II – A maioria das técnicas atuais provém da área chamada de “Engenharia de Segurança e de Sistemas”, consolidada com a corrida aeroespacial. III – Essas técnicas se intensificaram após a 1a Grande Guerra, com o surgimento das indústrias dos mísseis. IV – A busca por plantas mais seguras foi alavancada e consolidada por acidentes sérios, como Flixborough, Seveso e Bhopal. Com base nas informações acima, qual alternativa é a correta? a) Apenas I e III são verdadeiras. b) Apenas III é incorreta. c) Apenas I, IV são verdadeiras. d) Apenas II é incorreta. e) Apenas I, II e IV estão incorretas. Feedback: item 1.1.3. 8. Qual é a legislação mais utilizada pelo Higienista no seu dia a dia? a) Ambiental. b) Judicial. c) Trabalhista. d) Previdenciária. e) Empresarial. Feedback: item 1.1.8. 9. Quando foram criados os adicionais de insalubridade no Brasil? a) Em 1978, pela Portaria n°. 3214. b) Em 1977, pela lei n°. 6514. c) Em 1943, pela CLT. d) Em 1936, pela lei n°. 185. e) Em 2006, pela MP 231. Feedback: item 1.1.5. Capítulo 2. Aspectos Históricos da Higiene Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 17 CAPÍTULO 2. ASPECTOS HISTÓRICOS DA HIGIENE OCUPACIONAL OBJETIVOS DO ESTUDO Este capítulo situa a evolução da HO como disciplina ocupacional e dá sua conceituação básica. Reposiciona a evolução da prevenção dentro da visão da disciplina. Relata pontualmente a evolução dos meios de avaliação e controle dos riscos ambientais. Apresenta dados informativos complementares. Ao terminar este capítulo você deverá estar apto a: • Situar e descrever o surgimento da HO; • Enunciar e dar características básicas dos objetivos da HO; e • Enunciar o conceito de atuação da HO. Capítulo 2. Aspectos Históricos da Higiene Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 18 2.1. HISTÓRIA E CONCEITO Vamos deixar a conceituação da Higiene Ocupacional para o final. Deixemos que o leitor mesmo construa sua conceituação, a partir deste resumo do interessante texto de Vernon Rose, Capítulo I do White Book da AIHA. A identificação da origem da prática da higiene industrial é difícil, ou impossível. Como antigos cronistas de riscos ocupacionais e medidas de controle, que podem ser considerados fundadores, temos: • Agrícola, em 1556, descreveu as doenças e acidentes na mineração, fundição e refino de metais, com medidas de controle, incluindo ventilação; • Plinius Secundus (Plínio, o Velho), antes ainda, no século I, escreveu que os fundidores envolviam as faces com bexigas de animais, para não inalar as poeiras fatais; • Outros, que (apenas) identificaram os problemas, merecem menção, como Hipócrates (séc. IV a.C.), com as primeiras menções de doenças ocupacionais (intoxicações por chumbo); • Também deve ser lembrado o trabalho de Bernardino Ramazzini (1713), um tratado completo de doenças ocupacionais. Entretanto, o reconhecimento de um vínculo causal entre os riscos dos ambientes de trabalho e as doenças foi o passo fundamental no desenvolvimento da prática da Higiene Industrial. As observações médicas, de Hipócrates a Ramazzini e estendendo-se ao século XX, da relação entre trabalho e doença, são o fundamento da profissão. Mas, o reconhecimento de riscos sem a intervenção e o controle, isto é, sem a prevenção da doença, não qualifica um indivíduo como um higienista industrial. As leis reativas ao desastre ocupacional da revolução industrial trataram de tentar disciplinar o combate aos novos perigos ocupacionais. O Factory Act de 1864 requeria o uso de ventilação diluidora para reduzir os contaminantes, e o de 1878 especificava o uso de ventiladores para exaustão. O divisor de águas para higiene e a medicina industrial veio com o Factory Act britânico de 1901, que iniciou a regulamentação das ocupações perigosas. As regulamentações criaram ímpeto para a investigação dos riscos dos locais de trabalho e fiscalização de medidas de controle. Tem sido sugerido, também, que a higiene industrial não emergiu como um campo individualizado de atuação até que as avaliações quantitativas do ambiente se tornaram disponíveis. Nos Estados Unidos destaca-se em 1910 a Dra. Alice Hamilton, como pioneira no campo da doença ocupacional, campo que era totalmente inexplorado até então. O seu trabalho individual, que compreendia não só o reconhecimento da doença, mas a avaliação e o controle dos agentes causadores, deveria ser considerada como o início da prática da higiene industrial nos EUA. Deve ser observado que muitos dos praticantes iniciais de higiene industrial eram médicos, que não estavam interessados apenas na diagnose e tratamento da doença, mas também no controle dos riscos, para prevenir casos futuros. Esses médicos trabalhavam com engenheiros e outros cientistas interessados em saúde pública e riscos Capítulo 2. Aspectos Históricos da Higiene Ocupacional eHO – 101- Introdução à Higiene Ocupacional e Legislação Ocupacional / 1o ciclo de 2020. 19 ambientais. Dessa forma, iniciaram um processo incubado desde Hipócrates, visando deliberadamente modificar os ambientes de trabalho com o objetivo de prevenir
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