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Gabriella Grabikoski Fonte: Porto - 7ª edição Síndromes neurológicas Hipertensão intracraniana A pressão intracraniana é avaliada pela medida direta por sensor colocado dentro do crânio, por meio de trepanação, ou pela punção lombar com o paciente em decúbito lateral, em que a pressão normal é de 10 a 20 em de H20. Na maioria dos pacientes, está em torno de 15 em de H20. Entre conteúdo e continente, existe perfeito e constante equilíbrio, o qual pode ser rompido, transitória ou definitiva- mente, de acordo com vários fatores, destacando-se os seguin- tes: aumento da massa cerebral, bloqueio do fluxo venoso, bloqueio da circulação ou da reabsorção do liquor, presença de sangue no interior do parênquima nervoso, no espaço subaracnóideo ou nos demais espaços. A síndrome de hipertensão intracraniana, resultante de aumento da pressão intracraniana, pode exteriorizar-se de modo agudo ou lento, dependendo da etiologia. Quando a evolução é gradual, caracteriza-se pelos sintomas mencionados a seguir: Cefaleia Ocasional, moderada e localizada na fase inicial, mais frequente pela manhã, passando a constante, intensa e global com a evolução do quadro clínico. Pode agravar-se pela tosse ou esforço físico. É um sintoma praticamente constante e de- corre da compressão ou tração das estruturas intracranianas sensíveis, como as leptomeninges, as artérias, as veias calibrosas e os seios venosos. Vômitos Bastante frequentes, ocorrem habitualmente depois de transcorrido algum tempo de doença. Predominam pela ma- nhã, quando o paciente passa da posição deitada para a sentada ou de pé; não têm relação com alimentação. Costumam ser denominados "vômitos cerebrais" ou, impropriamente, "vômitos em jato". Distinguem-se dos vômitos de origem digestiva por não apresentarem o período nauseoso que os ante- cedem. Os "vômitos cerebrais" ocorrem conforme a irritação dos centros eméticos bulbares. Vertigens Não muito frequentes, surgem habitualmente pela movimentação abrupta da cabeça. São mais comuns nas neo- plasias da fossa posterior. Convulsão Pouco frequente, ocorre mais em crianças e quando a hipertensão intracraniana evolui de modo rápido. Quase sem- pre é generalizada; quando focal, pode significar que o agente causal situa- se em área cerebral correspondente. Gabriella Grabikoski Fonte: Porto - 7ª edição Paralisia de nervos cranianos Na maioria dos casos, o VI nervo (nervo abducente) é o comprometido. Pode ser uni ou bilateral, e as manifestações que denunciam seu comprometimento são o estrabismo convergente e a diplopia. Transtornos psíquicos Mais comuns nas fases avançadas, caracterizam-se por irritabilidade, raciocínio lento, indiferença, confusão, desatenção, falta de iniciativa; ou seja, um conjunto de alterações que traduzem embotamento global das funções mentais. Distúrbios autonômos Na fase avançada da hipertensão intracraniana, observam-se com frequência bradicardia e hipertensão arterial. A respiração pode mostrar-se alterada, tanto na frequência (taquipneia) quanto no ritmo (respiração de Cheyne- Stokes ou de Biot), ou com períodos irregulares de apneia. Edema de papila Frequente, mas não obrigatório, em especial nas fases iniciais. Excepcionalmente, é unilateral e pode ser assimétrico. Eventualmente, alcança grande intensidade, sem prejuízo para a acuidade visual, no seu início. Contudo, sua evolução determina o aparecimento de atrofia do nervo óptico, levando à amaurose definitiva. Macrocrania Ocorre apenas em crianças de baixa idade, antes da consolidação definitiva das suturas cranianas. Um dado clínico simples, mas de grande significado, é a presença de abaulamento da fontanela anterior, quando aberta. A hipertensão intracraniana determina, também, uma série de eventos reconhecidos à fundoscopia, ou seja, desapareci- mento do pulso venoso, turgência venosa, focos hemorrágicos e atrofia papilar pós-edema. As causas mais comuns de hipertensão intracraniana são: tumores, abscessos, meningite, hidrocefalia, hemorragia (cerebral ou subaracnóidea), traumatismo (com ou sem hematoma), tromboflebite cerebral, uso de medicamentos em crianças (tetraciclinas, vitamina A, ácido nalidíxico), estenose congênita do aqueduto silviano, neurocisticercose. Gabriella Grabikoski Fonte: Porto - 7ª edição Sindrome do 1º neurônio motor ou síndrome piramidal Decorre da interrupção, anatômica ou funcional, da via corticoespinal, cuja origem é nas células do córtex motor pré-rolândico, e os seus axônios terminam em sinapse com os neurônios situados na coluna ventral da medula. A síndrome compreende sintomas deficitários ou negativos e sintomas de liberação ou positivos. Sinais e sintomas deficitários ou negativos Perda ou diminuição da motricidade, que acomete globalmente os membros, sobretudo a musculatura antigravitária (paresias ou paralisias); diminuição ou abolição dos reflexos cutaneo- abdominais e cremastéricos, que pode ser definitiva ou transitória; e atrofia muscular, habitualmente moderada, afetando globalmente o segmento paralisado. Cumpre ressaltar que a atrofia aparece somente de- pois de decorrido muito tempo e é consequência do desuso da musculatura ou, segundo alguns estudiosos, causada por um mecanismo transináptico. Sinais e sintomas de liberação ou positivos Os sinais e sintomas de liberação ou positivos são: sincinesias, que correspondem a movimentos associados anormais e se evidenciam nos membros deficitários quando o paciente executa determinado movimento no lado não comprometido (p. ex., a mão do lado hemiplégico se contrai quando o paciente fecha fortemente a mão do lado normal); sinal de Babinski, que é formado pela extensão do hálux ao estímulo cutaneoplantar; exagero do reflexo de automatismo ou de defesa, representado pela tríplice flexão do membro inferior ao estímulo nociceptivo - tocando o pé, o mesmo flexiona; hiperreflexia profunda, às vezes policinesia (mais de uma resposta a um único estímulo) e/ou sinreflexia (resposta ao estímulo também do lado oposto); e espasticidade, que é a hipertonia elástica e seletiva. Convém ressaltar que, nas lesões agudas da via piramidal, é comum a verificação de paralisia, hipotonia e arreflexia. Após um período de tempo variável, que vai de dias ou semanas a alguns poucos meses, a paralisia regride parcialmente, enquanto o tônus e os reflexos profundos aumentam, ou seja, vão surgindo sinais de liberação. As causas mais importantes da síndrome piramidal são os acidentes vasculares cerebrais, as neoplasias, as doenças desmielinizantes (esclerose múltipla), os processos degenerativos (esclerose lateral amiotrófica), os traumatismos e as infecções. Sindrome do 2º neurônio motor Nas lesões do 2º neurônio motor (corpo celular ou axônio), que se localizam no como anterior da medula espinal ou nos núcleos dos nervos cranianos do tronco cerebral, os impulsos motores que partem do centro não chegam à periferia. Em consequência, todos os atos motores (voluntários, automáticos e reflexos) são abolidos, aparecendo os seguintes sintomas e sinais: paralisia, frequentemente segmentar, assimétrica, interessando o grupamento muscular inervado pelos neurônios lesados; hipotonia, traduzida por aumento da passividade e da extensibilidade musculares; arreflexia, superficial e profunda; fasciculações, decorrentes dos processos crônicos de degeneração e regeneração nos músculos comprometidos; e atrofia da musculatura comprometida, que se instala mais ou menos precocemente. Gabriella Grabikoski Fonte: Porto - 7ª edição As causas principais da síndrome do 2º neurônio motor incluem poliomielite anterior aguda, esclerose lateral amiotrófica, amiotrofia espinal progressiva, siringomielia, polineuropatia periférica, radiculopatias, mononeuropatia e neuropatia múltipla. Sindrome cerebelar É constituída de alterações da coordenação e do tônus muscular. Podem-se identificar os sintomas próprios da lesãodo vermis e dos hemisférios cerebelares. As alterações dependentes das lesões hemisféricas se refletem nos membros e são sempre do mesmo lado; as de- correntes da lesão do vermis localizam-se de modo predominante no tronco. Os sinais e sintomas que constituem essa síndrome são: alterações dos movimentos ativos (ataxia) e alterações do tônus (hipotonia). Alterações dos movimentos ativos (ataxia): As alterações dos movimentos ativos são: - Dismetria: constitui um distúrbio na medida do movimento, verificável pelas provas dedo- nariz, calcanhar-joelho e das linhas horizontais - Dis ou adiadococinesia: é a dificuldade ou a incapacidade de realizar movimentos rápidos e alternados, como fazer alternadamente supinação e pronação da mão - Tremor: chamado tremor intencional, cinético ou cerebelar. Ocorre quando o paciente executa um movimento e reflete sua descontinuidade - Dis ou assinergia: é a dificuldade ou a incapacidade para efetuar um conjunto de movimentos que representam determinado ato. Assim, na mudança da posição deitada para a sentada, o paciente eleva demasiadamente os membros inferiores, fazendo com que esse ato seja difícil ou impossível - Disartria: é caracterizada pela fala lenta, monótona e explosiva - Disgrafia: as letras tornam-se maiores (macrografia) e muito irregulares - Distúrbios dos movimentos oculares: representados pela lentidão e descontinuidade dos movimentos, além da instabilidade na fixação dos olhos - Disbasia: marcha do tipo embrioso ou em zigue-zague, com ampliação da base de sustentação. Alterações do tônus (hipotonia) - Exagero do balanço das extremidades distais dos membros - Aumento da passividade - Aumento da extensibilidade - Reflexos patelar e tricipital pendulares. É conveniente ressaltar que, não obstante a dificuldade para manter o equilíbrio, o sinal de Romberg é negativo, porque o desequilíbrio não se modifica significativamente quando se fecham os olhos. As principais causas da síndrome cerebelar são: neoplasias, infecções, distúrbios vasculares (isquemia, hemorragia), intoxicações exógenas (álcool), uso de medicamentos (hidantoinato, piperazina), doença desmielinizante (esclerose múltipla), doenças heredodegenerativas e traumatismos. Gabriella Grabikoski Fonte: Porto - 7ª edição Sindrome radiculocordonal posterior Compreende um conjunto de manifestações decorrentes de lesão do cordão ou funículo posterior da medula e das raízes que o constituem, que são condutoras da sensibilidade proprioceptiva. Os sinais e sintomas que constituem a síndrome radiculocordonal posterior são: - Disbasia do tipo ataxo-talonante - Aumento da base de sustentação, para a manutenção do equilíbrio, quando na posição vertical Prova de Romberg positiva - Ataxia nas provas habituais, tipo erro de direção - Hipotonia bem evidente - Abolição dos reflexos profundos - Abolição de todas as modalidades sensitivas que transitam pelas fibras calibrosas (vibratória, cinético-postural e tátil epicrítica). As causas mais importantes da síndrome radiculocordonal posterior são a sífilis nervosa (tabes), a doença de Friedreich (ataxia espinocerebelar), a degeneração combinada (mielose funicular) e a esclerose múltipla. Síndrome de Brown-Séquard ou hemissecção transversa lateral da medula A secção de uma metade da medula espinal interrompe algumas vias diretas e outras cruzadas, resultando nas seguintes manifestações: Do lado da lesão: - Síndrome piramidal, destacando-se a paralisia - Síndrome cordonal posterior, evidenciada pela abolição das sensibilidades vibratória e cinético-postural Do lado oposto da lesão: - Síndrome sensitiva, caracterizada pela abolição da sensibilidade superficial. As causas mais importantes dessa síndrome são os traumatismos- em especial por projétil de arma de fogo-, as neoplasias, as infecções e as hemorragias. Sindrome meníngea As meninges e as raízes nervosas por elas envolvidas podem ser acometidas por um processo irritativo, causado principalmente por infecção (meningite), ou hemorragia (meníngea ou subaracnóidea), que se exterioriza por uma síndrome clínica cujos componentes dominantes dependem da causa do processo. Na hemorragia meníngea, o quadro instala-se sempre de modo súbito e inesperado, enquanto na meningite os sinto- mas aparecem rapidamente, como nas meningites purulentas, ou mais gradativamente, como é o caso das meningites não purulentas. Suas principais características semiológicas podem ser agrupadas em 3 outras síndromes: hipertensão intracraniana, síndrome radicular (constituída de hiperestesia sensitiva e sensorial, fotofobia, cefaleia, raquialgia, postura antálgica, habitualmente em decúbito lateral e com os membros inferiores semifletidos, rigidez da nuca, positividade das provas de Kernig, Brudzinski e Lasegue) e síndrome infecciosa - quando estiver presente a meningite -, que inclui febre, prostração, astenia, anorexia e taquicardia. Gabriella Grabikoski Fonte: Porto - 7ª edição Sindrome de compressão medular Essa síndrome é caracterizada por uma série de manifestações medulares e radiculares que surgem de modo agudo ou gradativo, na dependência de com- pressão súbita ou lenta exercida por processo expansivo intrarraquidiano ou intramedular. Constituem os sinais e sintomas dessa síndrome, em sua modalidade lenta: Distúrbios da sensibilidade: - Alterações subjetivas: a primeira queixa do paciente costuma ser dor do tipo radicular, irradiando-se em forma de cinta e piorando com movimentos súbitos toracoabdominais (tosse, espirro). Parestesias, traduzidas pela sensação de formigamento ou dormência, de distribuição nos membros, frequentemente iniciadas nos pés, acompanham a dor - Alterações objetivas: dependendo da extensão da lesão e do período evolutivo, pode-se encontrar desde uma leve diminuição das várias modalidades de sensibilidade até a sua perda total, cujos limites superiores denunciam fielmente o nível da lesão medular Distúrbios da motricidade: a paresia inicial de grupos musculares é agravada progressivamente até alcançar o grau de paralisia completa dos membros Distúrbios dos reflexos: são comuns o sinal de Babinski e reflexos profundos hiperativos, além do exagero dos reflexos de automatismo e de defesa Distúrbios do tônus: paralelamente à gradativa paresia, observa-se aumento do tônus nos membros acometidos, com o caráter de espasticidade Outros distúrbios: de acordo com o período evolutivo, é habitual a necessidade imperiosa ou urgência da micção, bem como a incontinência retovesical, precedida ou não por retenção. Esses distúrbios se acompanham, no homem, de impotência para a ereção e incapacidade de ejaculação. Nas fases avançadas, são frequentes as escaras tróficas ou de decúbito, cujos locais preferenciais são a região sacra, os tornozelos e os calcanhares. Não se deve esquecer que o comprometimento dos membros superiores e inferiores, ou, então, exclusivamente destes últimos, depende de a lesão situar-se na medula cervical ou toracolombar, respectivamente, configurando, afinal, o quadro clínico da tetraplegia ou paraplegia sensitivo- motora, com distúrbios esfincterianos e tróficos. Gabriella Grabikoski Fonte: Porto - 7ª edição
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