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Thaís Pires 1 Problema 7 1. Rever anatomia do intestino grosso e reto; • Intestino Grosso – é o ÚLTIMO órgão do tubo digestório, portanto recebendo um resíduo altamente digerido com poucos nutrientes, que, geralmente, sofre uma digestão por ação bacteriana. A principal função do intestino grosso é absorção de ÁGUA e ELETRÓLITOS, o que resulta em fezes semissólidas. o Macroscopia – o intestino grosso EMOLDURA o intestino delgado em três lados e meio, formando um retângulo aberto em torno do ID – ele será dividido em CECO, APÊNDICE VERMIFORME, COLO, RETO e CANAL ANAL, sendo relativamente mais LARGO que o ID, porém menor em comprimento. Dentre as características do IG, destacam-se: ▪ Tênias do Colo – são três fitas longitudinais espaçadas igualmente em torno do ceco e do colo – são espessamentos da camada LONGITUDINAL MUSCULAR, mantendo um tônus constante que será responsável por “franzir” o ID em SACULAÇÕES = HAUSTRAÇÕES ▪ Haustros – Saculações ▪ Apêndices Omentais do Colo (epiploicos) – são pequenas coleções lipídicas do peritônio visceral que ficam suspensas no intestino o Ceco – É o ponto de início do ID, é uma BOLSA SEM SAÍDA na FID. Existe uma comunicação entre o CECO e o ÍLEO, que é feita por meio do ÓSTIO ILEAL, uma região elevada da mucosa que é circundada por um ESFÍNCTER no íleo – a abertura do óstio ocorre quando o alimento chega ao estômago! A medida que o CECO SE ENCHE, as paredes são alongadas, o que traciona as paredes do ceco e FECHA O ÓSTIO ILEAL, impedindo o refluxo das fezes. o Apêndice Vermiforme – um tubo sem saída que se abre na PAREDE POSTERIOR do ceco (essa anatomia varia). Esse apêndice apresenta massas de tecido linfático nas suas paredes o Colo – possui vários segmentos distintos, sendo, a partir do ceco, iniciado pelo CÓLON ASCENDENTE, que “ascende” RETROPERIONEALMENTE até o nível do RD, onde faz uma volta de 90° = FLEXURA HEPÁTICA, e dá origem ao CÓLON TRANSVERSO. Essa porção se estende INTRAPERITONEALMENTE para a esquerda até a região anterior do baço, onde faz uma volta de 90° = FLEXURA ESPLÊNICA, e desce retroperitonealmente como CÓLON DESCENDENTE. O cólon descendente se torna INTRAPERITONEAL novamente e entra na PELVE VERDADEIRA como CÓLON SIGMOIDE! o Reto – Superiormente se une ao sigmoide e desce RETROPERITONEALMENTE ao longo da metade inferior do sacro. A camada muscular longitudinal aqui não dá origem a tênias, mas sim é bem desenvolvida para realizar as CONTRAÇÕES de defecação. Internamente apresenta várias CURVAS FECHADAS, denominadas PREGAS TRANSVERSAS DO RETO (válvulas retais), que evitam a eliminação das fezes junto aos flatos Thaís Pires 2 o Canal Anal – É a última porção do IG e é composto pelo local o qual o RETO ATRAVESSA O MÚSC. LEVANTADOR DO ÂNUS, estando localizado fora da cavidade abdominopélvica. Esse músculo é o responsável por manter o ÂNGULO DE JUNÇÃO ANORRETAL, que é responsável por ajudar a manter a continência fecal. Esse canal apresenta, na metade superior, pregas longitudinais na mucosa, que são as COLUNAS ANAIS – essas colunas contém as porções terminais da ARTÉRIA E VEIA RETAIS SUPERIORES = HEMORROIDAS. Inferiormente, as colunas confluem em PREGAS TRANSVERSAS, as VÁLVULAS ANAIS, que apresentam superiormente pequenos “bolsos” denominados SEIOS ANAIS, responsáveis por liberar MUCO quando comprimidos pelas fezes. Imediatamente das válvulas anais, está a LINHA PECTINADA, que delimita as regiões do canal anal, sendo, superiormente a ela, uma região com INERVAÇÃO SENSITIVA VISCERAL, relativamente insensível a dor. Abaixo da linha, a inervação é feita por NERVOS SOMÁTICOS, portanto sensível a dor. ▪ Esfíncteres – São dois esfíncteres no canal anal: o ESFÍNCTER INTERNO (MUSC. LISO), que é um espessamento da camada circular da muscular e o EXTERNO (ESQUELÉTICO), um músculo diferente. O interno contrai involuntariamente para impedir que as fezes saiam do ânus entre as defecações e para inibir a defecação durante o estresse emocional. o Vascularização e Inervação – Até 2/3 do cólon transverso, a vascularização é feita pelos VASOS MESENTÉRICOS SUPERIORES e a inervação simpática pelos plexos MESENTÉRICOS SUPERIORES E CELÍACOS e parassimpática pelo NERVO VAGO. A metade distal do IG até a parte proximal do reto é suprida pelos VASOS MESENTÉRICOS INFERIORES. A parte distal do reto e do canal anal recebem ramos RETAIS DOS ILÍACOS INTERNOS. A inervação simpática da metade distal do IG ocorre pelos PLEXOS MESENTÉRICOS INFERIOR E HIPOGÁSTRICO, enquanto a inervação parassimpática é feita pelos nervos ESPLÂNCNICOS e PÉLVICOS. Abaixo da linha pectinada, a inervação é SOMÁTICA, como o nervo pudendo. o Microscopia – a parede do IG assemelha-se ao ID em alguns aspectos e difere em outros. ▪ Mucosa – epitélio simples prismático com os mesmos tipos de células do ID. As células caliciformes são mais ABUNDANTES no IG, uma vez q secretam muco para facilitar a passagem de fezes em direção ao fim do tubo digestório. Apresenta COLONÓCITOS = CÉLULAS ABSORTIVAS. ▪ Não apresenta vilosidades ▪ Glândulas – glândulas tubulares simples com muitas células caliciformes ▪ Lâmina Própria e Submucosa – repleta de tecido linfático, muito mais que qualquer outra região 2. Estudar o reflexo da defecação e a influência do hábito alimentar no ritmo intestinal; • Reflexo da Defecação – é um reflexo coordenado pela MEDULA SACRAL, que consiste no RELAXAMENTO DO EAI e CONTRAÇÃO DO EAE, que tem início a partir dos MOVIMENTO DE MASSA em resposta aos reflexos ortostático, gastrocólico e gastroileal. Esse movimento de massa é um movimento do tipo PROPULSIVO que pode percorrer desde a região proximal-distal do cólon, conduzindo o conteúdo para o RETO! Quanto aos reflexos desencadeadores, o ortostático é um aumento da motilidade frente à mudança de posição horizontal → vertical, já o gastrocólico e gastroileal ocorrem devido ao aumento da motilidade gástrica pela chegada do alimento após o jejum. Thaís Pires 3 o Inervação – No cólon proximal, o nervo VAGO atua coordenando o reflexo e o NERVO PÉLVICO no cólon DISTAL o Início – quando as fezes chegam ao RETO pelos movimentos de massa, há DISTENSÃO PASSIVA DAS PAREDES – caso a distensão seja SUFICIENTEMENTE GRANDE, o reflexo da defecação é iniciado pela DISTENSÃO ATIVA DO RETO! Essa distensão PASSIVA inicial causa um AUMENTO DA PRESSÃO, que é o fator que desencadeia a sua CONTRAÇÃO para aumentar ainda mais a PRESSÃO (mas agora de forma ativa). Esse aumento da pressão ativo é acompanhado de REDUÇÃO DA PRESSÃO DO EAI (que relaxa) e de AUMENTO DA PRESSÃO DO EAE (que contrai)... como esse mecanismo é progressivo, i.e., as fezes continuam entrando no reto, as pressões no EAI diminuem de amplitude e no EAE aumentam. o Involuntário + Voluntário - A distensão do reto é acompanhada do reflexo da defecação e da CONSCIENTIZAÇÃO DA NECESSIDADE DE EVACUAÇÃO. Se o ambiente não for propício para a evacuação, esse ato pode ser postergado e os esfíncteres retomam ao TÔNUS NORMAL + retropropulsão das fezes para o SIGMOIDE. Caso haja LESÃO NA MEDULA SACRAL, a defecação pode ocorrer todas as vezes em que o reto for distendido, causando INCONTINÊNCIA FECAL! ▪ Involuntário – o controle do reflexo da defecação se encontra na MEDULA SACRAL – vias parassimpáticas colinérgicas → o SIMPÁTICO NÃO PARTICIPA DA DEFECAÇÃO ▪ Voluntário – exercido pelo NERVO SOMÁTICO PUDENDO, que inerva o EAE e o MÚSCULO PUBORRETAL o Efetivação da Evacuação – ocorre o RELAXAMENTO VOLUNTÁRIO DO EAE e RELAXAMENTO DO MÚSC. PUBORRETAL, o que retifica o cólon sigmoide em relação ao reto, facilitando a expulsão das fezes. No âmbito extraintestinal, participam desse processo a MOV. DO DIAFRAGMA para baixo, fechamento da glote, o que aumenta a PRESSÃO INTRATORÁCICA E ABDOMINAL. • Alimentação na Defecação o Fibra - A fibra alimentar, também denominada fibra dietética, é resistenteà ação das enzimas digestivas humanas. Os efeitos positivos da fibra alimentar estão relacionados, em parte, ao fato de que uma parcela da fermentação de seus componentes ocorre no intestino grosso, o que produz impacto sobre a velocidade do trânsito intestinal, sobre o pH do cólon e sobre a produção de subprodutos com importante função fisiológica. Uma dieta rica em fibras alimentares constitui o mais satisfatório agente profilático da constipação intestinal. Também beneficia os pacientes que não podem fazer esforço, como cardíacos. A industrialização dos alimentos, que proporcionou maiores teores nutricionais e de conservação aos mesmos, teve como conseqüência o refinamento, e portanto, menores porcentagens de fibras alimentares, ocasionando dessa forma, diminuição nos estímulos propulsivos no intestino grosso para expulsar os dejetos fecais Thaís Pires 4 ▪ Solúveis - As fibras podem ser classificadas quanto a sua solubilidade em água em fibras solúveis e insolúveis. A fibra alimentar solúvel é composta por pectinas, beta-glicanas, gomas, mucilagens e algumas hemiceluloses. As fibras solúveis retardam o esvaziamento gástrico, a absorção da glicose e reduzem o colesterol no soro sanguíneo, em torno de 5%. ▪ Insolúveis - As fibras insolúveis aceleram o trânsito intestinal, aumentam o peso das fezes, contribuindo assim, para a redução do risco de doenças do trato gastrointestinal. 3. Estudar constipação intestinal crônica funcional (adulto e criança) - etiologia, fisiopatologia, quadro clínico, diagnóstico e tratamento; • Constipação – baseado nos critérios de ROMA III/IV, sendo definida, clinicamente, pelas EVACUAÇÕES INFREQUENTES/DIFICULTOSAS e ALTERAÇÕES NA CONSISTÊNCIA (endurecida ou em cíbalo). Essa constipação pode ser SECUNDÁRIA a outro fator etiológicos ou FUNCIONAL quando não há etiologia estrutural, metabólica ou farmacológica que seja explicada no quadro clínico ou no exame físico. Considera-se normal a frequência de evacuação de, no mínimo, três vezes por semana o Prevalência – em estudos populacionais ocidentais, a prevalência varia entre 2 a 28% - essa grande variação é decorrente da adoção de DIFERENTES CRITÉRIOS para constipação, além do fato de que vários indivíduos se autodenominam constipados, embora não preencham critérios. Em estudos na cidade de Pelotas (RS), há uma prevalência de 26,9% de acordo com os critérios de Roma III – há uma prevalência maior nas MULHERES e nos de nível socioeconômico mais BAIXO o Fatores de Risco ▪ Idade – o risco de constipação é maior quanto MAIS AVANÇADA A IDADE, afetando até 20% dos indivíduos acima de 65 anos; essa porcentagem chega até a 41% quando se fala de idosos HOSPITALIZADOS – Nesse grupo, o principal sintoma é o ESFORÇO EVACUATÓRIO. O maior risco nessa faixa etária não está relacionado diretamente ao processo de envelhecimento, mas sim da maior quantidade de FATORES DE RISCO, como o baixo nível de atividade física, uso de medicamentos constipantes e a doença de Parkinson. ▪ Sexo Feminino – predomínio de 1,5 a 3x mais ▪ Nível Socioeconômico – menores níveis ▪ Estilo de Vida ▪ Ingestão de Fibras – um estudo norte americano demonstrou que mulheres que ingeriam menores quantidades de fibra apresentavam maior risco de comparação quando comparadas as que ingeriam em média 20g fibras/dia. Outro estudo demonstrou que 85% dos constipados com motilidade normal (colônica e anorretal) MELHORARAM ou SE CURARAM da constipação após suplementação de fibras na dieta por pelo menos 6 semanas. ▪ Ingestão de Líquidos – estudos que avaliaram a ingesta hídrica em pacientes constipados demonstraram RESULTADOS CONFLITANTES – alguns atestam a relação entre menor ingestão hídrica e constipação, enquanto outros acreditam que não há como tratar constipação com o aumento de líquidos, a não ser que o paciente esteja desidratado. Thaís Pires 5 ▪ Baixo nível de atividade física – embora ainda faltem estudos comprovatórios de metodologia adequada, sabe-se que a atividade física afeta a MOTILIDADE COLÔNICA; estudos populacionais indicam uma menor frequência de constipação entre aqueles que praticam atividade física, embora uma relação causal direta não possa ser estabelecida. ▪ Gravidez – estima-se que 11 a 38% das gestantes apresentem constipação, havendo uma etiologia multicausal – aumento dos níveis de progesterona, diminuição na atividade física, uso de suplementos com atividade constipante (sulfato ferroso, cálcio) o Constipação Funcional – A constipação intestinal crônica funcional (CICF) é uma entidade clínica frequente na infância E que se caracteriza pela ausência de causas orgânicas definidas, detectáveis pelos métodos de investigações atualmente disponíveis. No Brasil, estudos demonstram prevalências que variam de 14,7 a 38,4%, representando a queixa principal em 10 e 25% das consultas em gastroenterologia pediátrica. O consenso de roma IV classificou a constipação funcional a partir dos sintomas e a partir MECANISMOS FISIOLÓGICOS que determinariam: trânsito normal, trânsito lento, evacuação obstruída, INÉRCIA COLÔNICA, disfunção do assoalho pélvico – podem estar associados entre si. ▪ Trânsito Normal – Em um estudo com 1009 pacientes constipados, 59% apresentaram trânsito colônico normal, sem evidencia de obstrução. Esses pacientes com trânsito normal costumam melhorar com AUMENTO DE FIBRAS NA DIETA ou com LAXANTES OSMÓTICOS. Grande parte dos pacientes com o trânsito normal preenche critérios para SII. ▪ Trânsito Lento – Caracterizada por uma lentificação do trânsito colônico relacionada a atividade motora ainda não identificada em sua totalidade – esse termo pode dar lugar a INÉRCIA COLÔNICA, que é observada quando não ocorre aumento da motilidade depois das refeições, sendo uma condição GRAVE em que o paciente fica mais de 10 dias sem evacuar. Pacientes com esse tipo de constipação costumam te início na INFÂNCIA ou ADOLESCÊNCIA, período o qual a orientação dietética NÃO SURGIU EFEITO. Esse trânsito lento/inércia pode ser explicado pela DIMINUIÇÃO DOS PLEXOS MIOENTÉRICOS e das CÉLULAS DE CAJAL, diminuindo o peristaltismo. São indivíduos com distúrbios psicossociais frequentes, e queixam-se também de desconforto abdominal e flatulência ▪ Evacuação Obstruída/Anismo/discinesia assoalho pélvico – evacuação retal prejudicada com trânsito colônico NORMAL OU LENTO, geralmente em consequência da alteração de FORÇAS PROPULSORAS DO RETO ou por um AUMENTO DA RESISTÊNCIA À EVACUAÇÃO. Por exemplo, pode haver a CONTRAÇÃO MUSCULAR PÉLVICA que obstrui o canal anal e impede a evacuação. o Clínica - O primeiro e mais importante cuidado na avaliação do paciente constipado é excluir a presença de causas secundárias, seguido da investigação cuidadosa de sinais de “alarme” ou “alerta”, como emagrecimento, hemorragia, febre, anorexia e anemia, que podem nos orientar para uma causa anatômica Thaís Pires 6 ▪ Exames Laboratoriais e de Imagem – de acordo com a Sociedade Americana de Gastroenterologia, na ausência de sinais e sintomas acompanhando a constipação, deve ser solicitado somente um HEMOGRAMA COMPLETO. Não é recomenda a realização de outros exames laboratoriais a não ser que a avaliação clínica seja sugestiva de doença orgânica. ▪ Colonoscopia – indicada para pacientes com SINAIS DE ALARME, > 50 anos e aqueles que não foram submetidos a exames para rastreio do câncer colorretal após o início da constipação ▪ Testes Funcionais para estudo do trânsito colônico – são solicitados nos casos de constipação refratária ao tto clínico convencional (fibras e laxantes) e tem como objetivo identificar EVACUAÇÃO OBSTRUÍDA ou INÉRCIA COLÔNICA o Estudo do tempo de trânsito colônico – o pct ingere cápsulas contendo MARCADORES RADIOPACOS e é realizada uma radiografia simples do abd após 5 dias de ingestão dos marcadores – se houver retenção de MAIS DE 20% do marcador, considera-setrânsito lento; o Manometria Anorretal, teste de expulsão do balão e defecografia – utilizados para o diagnóstico da EVACUAÇÃO OBSTRUÍDA. ▪ Expulsão do Balão – introdução de um balão no reto e solicita-se para expelir ▪ Manometria anorretal – mede as pressões de repouso e contração voluntária do canal anal ▪ Defecografia – estudo da dinâmica da evacuação – na técnica com o RX, contraste baritado é introduzido no reto; o pct permance sentado em uma cadeira e é solicitado que evacue enquanto são realizadas RX da pelve o Qual a ordem? Inicialmente, depende da disponibilidade no serviço – segundo a Sociedade Americada de Gastro, deve-se iniciar investigando a presença de EVACUAÇÃO OBSTRUÍDA, deixando o estudo do trânsito colônico para depois (50% dos pcts com evacuação obstruída também podem ter trânsito colônico lento). Assim, o primeiro exame a ser realizado é o TESTE DE EXPULSÃO e a MANOMETRIA ANORRETAL, que podem confirmar o diagnóstico de evacuação obstruída. Caso os resultados sejam inconclusivos, pode-se utilizar a DEFECOGRAFIA. o Tratamento – depende da avaliação clínica e da própria percepção do pct sobre a gravidade dos seus sintomas. A constipação crônica traz com o paciente uma história de inúmeros médicos, exames complementares e medicamentos. ▪ Medidas Gerais – São recomendadas mudanças no estilo de vida, embora faltem estudos de qualidade avaliando a eficácia dessas medidas no tto. ATIVIDADE FÍSICA REGULAR deve ser estimulada por aumentar o trânsito. É importante orientarmos nossos pacientes para a necessidade de uma dieta rica em fibras, em especial vegetais os mais variados, e de uma hidratação adequada (30 a 50mL/ kg/dia), dependente de sua atividade e do clima onde reside. Um ponto relevante na terapêutica da constipação intestinal é a reeducação dos hábitos de evacuação, estimulando-se a disciplina de horário e a obediência ao reflexo evacuatório. É bastante comum, especialmente entre mulheres e homens por demais apressados, não responder ao estímulo evacuatório imediatamente, o que causa a perda progressiva desse reflexo. ▪ Fibras – Com a ingestão suplementar de fibras aumenta-se o volume fecal, diminui-se a consistência das fezes e estimula-se fisiologicamente a evacuação. As fibras retêm água em sua estrutura e, por isso, os pacientes devem ingerir volume hídrico adequado a PRIMEIRA etapa do tto deve ser o AUMENTO DA INGESTÃO DE FIBRAS e, caso necessário, pode se fazer a SUPLEMENTAÇÃO DE FIBRAS. Estas podem ser divididas em INSOLÚVEIS, como o farelo de trigo, que tem como efeito colateral o aumento da flatulência e a distensão abdominal, que são efeitos evitáveis pelo uso de FIBRAS SOLÚVEIS, como psyllium e a policarbofila cálcica. ▪ Laxantes Osmóticos – Agem fluidificando as fezes por meio de substâncias osmoticamente ativas, que “roubam” água do organismo humano através da mucosa digestiva - quando não há resposta para as fibras, indica-se os LAXANTES OSMÓTICOS – polietilenoglicol (PEG) e lactulose – cada um com uma indicação específica. O uso do PEG tem efeito tanto agudo como crônico. A experiência mundial aponta o PEG como o laxativo de eleição, pois é eficaz, isento de paraefeitos, tem absorção Thaís Pires 7 desprezível, não é metabolizado, não é calórico e nem teratogênico, podendo ser utilizado, inclusive, para a constipação da gravidez ▪ Laxantes Estimulantes – grande parte tem como princípio ativo o PICOSSULFATO DE SÓDIO e o BISACODIL, que atuam estimulando a INIBIÇÃO DE REABSORÇÃO DE ÁGUA, SÓDIO e CLORO. Estudos de evidência moderada recomendam o uso do PICOSSULFATO DE SÓDIO e do BISACODIL, enquanto não existem evidências científicas para o sene. • Efeito Colaterais – laxantes estimulantes podem causar HIPOPOTASSEMIA, DOR ABDOMINAL e DIARREIA ▪ Laxantes Irritativos - Agem provocando aumento da contração da musculatura lisa intestinal por meio de estímulo ao plexo mioentérico. A grande vantagem é a ação rápida, em torno de seis a 12 horas; no entanto, seu uso crônico pode provocar lesão no plexo mioentérico, levando à dismotilidade colônica. São a exceção. ▪ Laxantes Lubrificantes – óleo mineral e parafina – os poucos estudos que avaliaram os efeitos benéficos dos laxantes lubrificantes no tto da constipação foram CONTRADITÓRIOS – o uso crônico de óleo mineral pode levar à má absorção de vitaminas lipossolúveis ▪ Laxantes Procinéticos - Por fim, merecem menção os laxativos procinéticos, que agem aumentando o trânsito intestinal de maneira mais fisiológica. Dentre estes se destacam a cisaprida, que, por sua cardiotoxicidade, se encontra fora de uso comercial em todo o mundo; a domperidona, pouco efetiva ▪ Supositórios e Enemas – não existem estudos controlados sobre o uso crônico de supositórios e enemas no tto da constipação. SUPOSITÓRIOS DE GLICERINA parecem diminuir a consistência das fezes e estimularem o reflexo da defecação. Os enemas induzem a evacuação pela DISTENSÃO DOS CÓLONS e pela LAVAGEM MECÂNICA. ▪ Agonistas Receptores 5-HT4 – a prucaloprida é um agonista seletivo que ESTIMULA O TRÂNSITO – evidência científica moderada ▪ Agentes Pró-secretores – NÃO BRASIL – melhoram a frequência das evacuações e a consistência das fezes; a constipação pode ser um efeito colateral desses medicamentos • Lubiprostona – age ativando os canais de CLORO presentes na membrana apical do epitélio gastrintestinal – aumenta fluido intraluminal • Linaclotida – agonista da GUANIL-CICLASE ▪ Probióticos – Dados na literatura insuficientes ▪ Biofeedback – técnicas de fisioterapia do assoalho pélvico – tto de escolha para a dissinergia do assoalho pélvico ▪ Toxina Botulínica – opção para o anismo – curta duração dos efeitos (3-6 meses) Thaís Pires 8 4. Entender o problema da retenção fecal em suas diversas formas de intensidades e fazer o diagnóstico diferencial de constipação, encoprese, incontinência fecal e escape fecal. • Retenção Fecal - O desencadeante mais frequente da obstipação é uma dejeção dolorosa que pode resultar de fezes muito duras ou de uma fissura anal. Na criança pequena, uma dejeção dolorosa leva frequentemente à evitação desses locais. Na criança mais velha verifica-se frequentemente indisponibilidade para defecar, ou por querer continuar a brincar, ou por recusa em utilizar casas-de-banho fora de casa. O medo de defecar e o seu adiamento conduzem a RETENÇÃO FECAL VOLUNTÁRIA, da qual resulta estagnação fecal mantida. Estas fezes sofrem reabsorção progressiva de água, adquirindo dimensões maiores → duras. Neste ponto instala- se um CICLO VICIOSO que agrava a retenção fecal. A distensão progressiva do reto e das suas terminações nervosas leva à perda da sensibilidade defecatória. Como consequência, quando se dá o reflexo de relaxamento do esfíncter anal interno (em resposta às contrações retais), ocorre fuga involuntária de fezes. Habitualmente, são fezes mais recentes, pouco consistentes, que passam entre a parede retal e as fezes impactadas. Alguns autores chamam “soiling” a esta perda involuntária de fezes líquidas que sujam a roupa interior o Estas fezes retidas são difíceis de serem eliminadas e podem deixar o ESFÍNCTER ANAL INTERNO CRONICAMENTE DISTENDIDO, assim a criança torna incapaz de perceber o escape fecal. De fato, na manometria anorretal, essas crianças podem apresentar o reflexo retoanal apenas após a insuflação do balão retal com volumes maiores que o necessário, em relação a crianças que não apresentam megarreto. • Constipação Fecal • Encoprese - Apesar da encoprese não acometer apenas crianças, estudos demonstram a estreita relação entre a encoprese e a aprendizagem do controle esfincteriano na infância. A Associação de Psiquiatria Americana (APA, 2002) descreve a encoprese como defecações e/ou evacuações realizadas em lugares impróprios, de forma voluntária ou não, em crianças que apresentem idade igual ou maior a quatro anos, oudesenvolvimento aproximado desta faixa etária. Além disso, é necessário que tal comportamento seja apresentado no mínimo uma vez por mês, por pelo menos três meses, e não pode estar relacionado a fatores fisiológicos. É mais freqüente em meninos, na proporção de 3-4:1 o Outra Definição - Nesse consenso Roma II a encoprese é denominada escape fecal funcional sem retenção e está incluída no grupo G4d. Por esse critério define-se encoprese como uma manifestação decorrente de um distúrbio emocional, geralmente na idade escolar. A inclusão de uma criança no diagnóstico de encoprese deve preencher os seguintes requisitos: evacuações em local e momento inadequado; ausência de doença estrutural e inflamatória; e ausência de sinais de retenção fecal. É uma condição ainda pouco estudada em nosso meio, sendo definida como incontinência repetida e involuntária de fezes nas roupas, sem a presença de qualquer causa orgânica. o Fisiopatologia - A deficiência no controle esfincteriano associada à encoprese é decorrente da perda da sensibilidade dos estímulos orgânicos que sinalizam a necessidade de defecação, pois a pessoa com encoprese passa a ignorar estes estímulos e reter as fezes. Em relação às classificações, a encoprese diferencia-se em Thaís Pires 9 ▪ (1) noturna ou diurna; ▪ (2) primária – casos em que nunca houve controle de esfíncter, ou secundária – o controle adquirido anteriormente; e, ▪ (3) retentiva – há retenção das fezes, ou não retentiva – existe um padrão diarreico • Incontinência Fecal - Incontinência é a incapacidade de controlar a eliminação, pelo ânus, de gases ou fezes de consistência líquida, pastosa ou sólida até o momento desejado. Varia desde pequenas perdas de gás ou líquido até acidentes de grande monta. Cerca de 90% dos casos de incontinência fecal são secundários a obstipação funcional com impactação fecal. Nesta situação as fezes eliminadas são habitualmente mais moles e ocorrem habitualmente durante o dia. Frequentemente, a criança mais velha sente-se envergonhada, evitando situações em que poderá ficar mais exposta como ir a acampamentos ou à escola. • Escape Fecal/Soiling - Na Literatura, com frequência “SOILING” E ENCOPRESE são apresentados como sinônimos, diferentemente do conceito preconizado em nosso meio, em que “soiling” é chamado de escape fecal e está associado à constipação intestinal!!! Em geral o termo encoprese vem sendo utilizado indistintamente para todo tipo de perda fecal, tanto para perda de origem psicogênica, como para a secundária à constipação intestinal crônica, acarretando muita confusão. o Torna-se importante distinguir os dois tipos de perda fecal, visto que a encoprese é decorrente de um distúrbio de origem psicogênica com fezes pastosas, sem constipação intestinal. Por outro lado, o escape fecal (soiling) ocorre pela constipação.
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