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PROJETOS CULTURAIS CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO ESSA P UBLICA ÇÃO NÃO P ODE S ER COME RCIALI ZADA GRATU ITA 1 M Ó D U LO 1 Copyright © 2020 Fundação Demócrito Rocha FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo Diretor Administrativo-Financeiro Marcos Tardin Gerente Geral Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Chico Marinho Gerente TV O POVO Aurelino Freitas, Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Viviane Pereira Gerente Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Educacional CURSO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS Raymundo Netto Coordenador Geral, Editorial e Estabelecimento de Texto Daniele Torres Coordenadora de Conteúdo Emanuela Fernandes Assistente Editorial Andrea Araujo Projeto Gráfico e Edição de Arte Carlos Weiber Designer Gráfico Guabiras Ilustrador Lílian Martins Roteirista, Locutora e Mediadora (radioaulas) Luísa Duavy Produtora Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 fdr.org.br fundacao@fdr.org.br C977 Coleção Capacitação de Agentes Culturais: Estratégias de Cultura e Arte para o Futuro / vários autores ; organizado por Raymundo Netto ; ilustrado por Guabiras. - Fortaleza, CE : Fundação Demócrito Rocha, 2020. 192 p. : il. ; 25,5cm x 29,5cm. - (Coleção Capacitação de Agentes Culturais ; 12v.). ISBN: 978-65-86094-49-7 (Coleção) ISBN: 978-65-86094-47-3 (Fascículo 1) 1. Cultura. 2. Projetos Culturais. 3. Captação de Recursos. 4. Marketing Digital. 5. Direitos Culturais. 6. Mecanismo de Financiamento. I. Netto, Raymundo. II. Guabiras. III. Título. IV. Série. CDD 306.0951 2020-2472 CDU 316.7 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Índice para catálogo sistemático: 1.Projetos Culturais 306.0951 2.Projetos Culturais 316.7 Este fascículo é parte integrante do projeto Estratégias de Cultura e Arte para o futuro: capacitação de agentes culturais, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza (SecultFOR), sob o nº 02/2020. 2 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste APRESENTAÇÃO A escrita de um projeto é como contar uma história: tem come-ço, meio e fim, e passa uma men-sagem para um público específi- co, sendo que o conteúdo e gênero é você que escolhe. Pode ser história de terror, de amor e romance, ou documentário históri- co, e você pode comunicá-la por meio de livro, espetáculo de dança, show de músi- ca, peça de teatro, web série, entre tantas outras possibilidades. Outro ponto importante é que a ela- boração de uma ideia em forma de texto também pode ter diferentes motivações e/ ou finalidades: o lançamento de um edital para sua área artística, a inscrição em uma lei de incentivo fiscal, a comemoração de 5 anos de um coletivo artístico na qual haverá um festival celebratório, um novo número circense a ser criado, a necessi- dade de conferir expressão a um grupo de artistas ou a um grande artesão de uma comunidade em situação de vulnerabili- dade social ou somente porque esta ideia, esta história acabou de “aparecer” e agora precisa sair do mundo dos pensamentos e materializar-se em papel. Agora, independentemente do seu porquê, está na boa elaboração de um projeto a base para o sucesso de sua posterior execução e suas chances de continuidade. E todas realizações de ideias, todas as contações de histórias, vão gerar um impacto, pois têm um pro- pósito. As execuções de projetos devem trazer resultados, devem ter força para mudar o cenário, a realidade, devem im- pactar positivamente a sociedade. Com isso em mente, o nosso convite para você é o seguinte: nas próximas páginas po- derá encontrar um roteiro básico, uma série de passos práticos, para poder contar a sua história, ou seja, elaborar o seu projeto, cha- mando-lhe a atenção para pontos específi- cos da sua narrativa, como a importância de escrever de forma objetiva e coeren- te com o contexto, e ter sempre em mente para quem você quer contar a sua história, ou seja, quem é o seu público. Claro que não existe um padrão único para escrita da sua ideia, mas o intuito deste fascículo é preparar um caminho, mostrar coordenadas e dicas básicas para que seja possível seguir em frente com a elaboração de maneira equilibrada, com organização e tempo. Este é apenas um fascículo introdutório, pois escrever projetos implica seguir estu- dando sobre a produção e a gestão cultural, os mecanismos de financiamento, a capta- ção de recursos e contrapartidas, relatórios e prestação de contas, e assim por diante. Quem começa nessa área tem sempre a sede do saber, do buscar mais, de experi- mentar, de se qualificar sempre e, importan- te, de trocar ideias e estar antenado com o que os colegas, independentemente da lin- guagem artística, estão aprontando por aí. O estudo e compreensão de uma parte significa a revisão e potencial melhoria do todo, e isso se aplica à escrita. Assim, retor- ne a esse fascículo sempre que necessário, e se atente às notificações de continuidade de temas que seguirão. Desejamos a você uma ótima leitura, bons estudos e sucesso, pois a sua jornada começa aqui! 1 PARA REFLETIR Todo projeto tem que apresentar os resultados esperados, ou seja, os benefícios concretos após a sua realização. Esses resultados são consequências diretas e tangíveis das atividades de seu projeto e são relacionados diretamente a seus objetivos específicos. 3 PROJETOS CULTURAIS O QUE SÃO PROJETOS 2 D iferentes autores sugerem que a palavra projeto deriva do latim projectus, que significa “projetar para frente, lançar para frente”. Em Aurélio, encontramos que é “a ideia que se forma de executar algo no futuro, um plano, um empreendimento”. É possível definir que projetos são instru- mentos técnicos, pensados para ter co- meço, meio e fim, e que são a projeção de ações que devem acontecer em um tempo futuro. São ideias que serão executadas a partir de um ponto de vista, cumprirão com objetivos em um prazo determina- do, e que, portanto, tem um custo espe- cífico. O projeto é uma ferramenta de co- municação da sua ideia a se realizar, é uma maneira de contar sua ideia mostrando ao leitor da sua história como e por que você pretende colocá-la em prática. Assim, a elaboração de planos futuros não é algo apenas do mercado (ou indús- tria) cultural, mas, sim, das mais diversas in- dústrias, como a automobilística, que pode desenvolver um projeto de um carro elétri- co; da indústria farmacêutica, que pode ter a ideia de pesquisar um novo medicamento para doenças cardíacas; da construção civil, que pretende construir um prédio energeti- camente autossustentável etc. O que todas essas indústrias têm em comum é o intuito de comunicar uma ideia de um empre- endimento futuro, um planejamento de algo que se busca realizar. Projetar ideias para o futuro e pretender que elas se reali- zem é algo inerente ao ser humano, que en- controu na forma de projetos a condição de comunicar essas ideias. Há uma nomenclatura referente à es- crita no mercado cultural de leis de incen- tivo, editais e prêmios que normalmente se repete. São as palavras: objetivos, jus- tificativa, cronograma, ficha técnica, orçamento, público-alvo e contraparti- das. Isso, porque para traçar o “começo, meio, fim” da ideia (a sua história) a ser executada existe uma organização, um roteiro. E esse roteiro quer respostas às seguintes perguntas: a) O que será realizado? b) Quandoacontecerá? c) Quem são os responsáveis pela exe- cução? d) Quanto custa realizar essa ideia? e) Que tipo de benefícios a concreti- zação dessa ideia oferecerá para as pessoas e para a sociedade? Saber que existe um roteiro básico de perguntas que cria uma organização da sua ideia é o 1º passo da escrita, e a pala- vra-chave aqui é organização. PARA REFLETIR Não existe modelo único de projeto cultural. Os projetos, conforme diversos fatores ou fins, dependerão de muitos aspectos, entre eles, do produto, do serviço ou do bem a ser produzido, além de seu tamanho, extensão, complexidade e do público que será beneficiado por ele. Bom mesmo é você aprender o conceito, pois assim estará preparado para preencher qualquer formulário, independentemente de sua origem. Por isso, estamos aqui. PARA REFLETIR Você já elaborou um projeto alguma vez? Se sim, faça o teste: leia o texto de seu projeto e veja se nele você respondeu às perguntas do roteiro: O que será realizado? Quando acontecerá? Quem executará? Quanto custa? Quem serão os beneficiados? SAIBA MAIS A Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo difere Proposta de Projeto Cultural. Para que você, usuário e proponente, possa receber os benefícios da Lei Federal de Incentivo à Cultura, deverá apresentar uma proposta cultural. Ela será encaminhada para a fase de admissibilidade e poderá receber diligências solicitando esclarecimentos sobre ela. Apenas quando essa fase é concluída e sua proposta receber o número de registro no Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), é que ela é convertida em projeto cultural. 4 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste 3 ETAPAS: OS 4 P´S DA ELABORAÇÃO DE PROJETOS A lém de um roteiro pré-determinado de perguntas a serem respondidas (que é a sua organização básica), a escrita da sua ideia, aquela que vai ganhar corpo em seu projeto, também exige a dedicação do seu tempo em 4 etapas, a saber: a) Pesquisa; b) Planejamento; c) Processo de escrita; e d) Pós-produção e ao público do seu projeto. 3.1. Pesquisa É importante, antes de qualquer coisa, que você se dedique a pesquisar (primeiro “P”) quais outros projetos da mesma área ou linguagem artística já existem, como eles foram escritos, que resultados tiveram, quais as suas dificuldades, entre outras características que podem contribuir bastante para a escrita de seu projeto. Pode e deve ler essas e outras histórias. A leitura e estudo de outros projetos proporciona um melhor entendi- mento da sua própria ideia, pois lhe fornecerá uma base de dados comparativos que despertarão a sua reflexão e crítica, e que, portanto, gerará questionamentos positivos, como: será que devo realizar meu projeto em espaço aberto ou fechado? Lembrei de colocar os cachês de ensaio no meu orçamento? Contabilizei o tempo de ensaios no meu cronograma? Como posso fazer para conseguir alcançar melhores resultados na mi- nha ação? Entre tantos outros questionamentos auxiliados pela experiência desses projetos e pela sua própria. Um dos objetivos por trás da pesquisa é a busca por inspi- ração por outras possibilidades para o seu projeto. A partir de pontos de vista distintos, seja do seu segmento artístico ou não, poder estudar e entender as diversas oportunidades que exis- tem de realização da sua ideia. Note que, por mais que a ideia seja sua, e por isso autêntica, ou seja, é a sua história que vai ser contada, já existiram outras pessoas que contaram histórias semelhantes, às vezes utilizan- 5 PROJETOS CULTURAIS do outras técnicas, outros meios, e é po- sitivo e necessário que se debruce sobre esses projetos, os conheça, assim como essas outras histórias. Fazer pesquisa para elaborar seu pro- jeto significa aprender com os acertos e erros de outras pessoas, e, dessa forma, não cometer e prevenir os mesmos erros e potencializar os acertos e, por consequ- ência, os seus resultados e impactos. Nesta etapa é necessário questionar o tema do seu projeto. Por exemplo, se for um projeto de natureza musical, para poder iniciar a pesquisa é preciso defi- nir se será sobre música popular autoral ou tratará de regravação de sucessos de outro gênero. Outros questionamentos possíveis: se deterá à música instrumen- tal ou cantada? Contemporânea ou, por exemplo, da chamada época de ouro do samba? E por aí vai... Assim, com essas re- flexões, é possível encontrar projetos se- melhantes e estabelecer as conexões e se aprofundar no tema escolhido. Acredite: questionar-se ao longo da elaboração de um projeto é fundamental. 3.2 Planejamento O nosso segundo “P”, o de planeja- mento, é o momento em que se inicia o estudo de viabilidade do projeto, ou seja, quando você organiza as informa- ções da sua pesquisa, feita em primeiro plano, juntamente com o que já pensou sobre essa ideia/tema para entender como pode ser viável a sua execução. Nesta fase, novos questionamentos deverão acontecer, e desta vez serão para o aprofundamento sobre o que realmente será realizado, sobre como e qual a me- lhor maneira de concretizar a sua ideia (estratégias de ação). Serão perguntas sobre qual o propósito da execução des- te empreendimento? Ou seja, você passa a entender o que você fará e o porquê de se fazer, os objetivos do seu projeto co- meçam a ser desenhados, assim como a sua justificativa e, consequentemente, a noção do público (alvo, estratégico) que será beneficiado por ele. O meio pelo qual você contará a sua história também deve ser tema de inda- gação: será através da publicação de um livro, por uma web série, um documen- tário? Serão apresentações de dança ou por realização de um festival multilingua- gens? Quem sabe por meio de um curso a distância, hein? A(s) resposta(s) a essa pergunta é o que melhor se encaixa para assumir o posto de produto cultural re- sultante da realização de seu plano. Saber quais são os objetivos do pro- jeto, qual o produto (ou ativo) cultural resultante e o público (alvo, estratégico) a ser contemplado por ele o(a) levará, au- tomaticamente, a refletir sobre as formas de comunicação da ideia, ou seja, quais são as maneiras mais eficazes de divulgar essa(s) ação(ões) para as pessoas, princi- palmente, claro, aquelas que pertencem a seu público. Essa comunicação se dará pe- las redes sociais, por anúncios de jornais, rádio e/ou TV ou com carros de som e distribuição de panfletos em bairros espe- cíficos? Atualmente temos muito mais op- ções do que antigamente, inclusive muitos meios gratuitos e de grande alcance. Entretanto, outros questionamentos anteriores se fazem necessário. Ora, se você já sabe o que vai fazer, como e para quem, deve reunir recursos para concretizar seu plano, entre eles, os recursos humanos, ou seja, os profissio- nais (equipe técnica) que executarão o seu projeto. Vamos lá: Já tenho o contato de um designer e/ou de um editor? Quan- to custa o serviço de uma assessoria de imprensa na minha cidade? Quanto tem- po um marceneiro levará para construir a maquete? E a costureira para confeccio- nar os adereços de figurino? Que outros profissionais eu irei precisar em todas as etapas da execução de meu projeto? Importante mencionar que ao se pla- nejar para responder às perguntas da- PARA CURIOSOS A base de dados pública da Lei Rouanet é um ótimo espaço virtual para pesquisa. Acesse www.versalic. cultura.gov.br e procure em “projetos” as ideias de outras pessoas que já foram aprovadas para tentar a captação de recursos. Lembre-se de pesquisar pelo tema (música instrumental, dança popular, festival de artes cênicas etc.). Não é objetivo fazer plágio de textos, essa pesquisa é para se inspirar, conhecer novas ideias, observar padrões de escrita, fontes de dados, entre outros. Viabilidade Realizável, característica daquilo que pode ter êxito e/ ou bom resultado. 6 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste quele roteiro doqual falamos anterior- mente, você deve decidir se você mesmo escreverá todo o projeto, cumprindo todo o roteiro exigido, ou se convidará outras pessoas para fazê-lo com você. De qualquer forma, é recomendável contar com outras pessoas para ler a sua histó- ria antes de submetê-la aos leitores finais (pareceristas, técnicos, analistas etc.). E nesse momento, além de iniciar os con- tatos com os integrantes de sua equipe técnica, fazendo os convites para que façam parte do projeto, é possível pedir que o leiam para compreenderem bem a sua ideia (o que é, como vai ser feito, para quem é feito e onde você quer chegar) e, talvez, contribuírem com sugestões, críti- cas e intervenções, afinal, o que importa é prevenir o máximo de erros e alcançar o sucesso de seu empreendimento. Até aqui você já deve ter percebido que planejar e ver adiante, é prever o futuro, é lançar o seu olhar do início ao final de tudo. É preciso imaginação, objetividade e segurança (pés no chão). Claro, um pouqui- nho de experiência facilita tudo, mas mes- mo quem hoje tem essa experiência (experti- se) precisou começar um dia do ZERO. O planejamento, note bem, novamen- te está ligado à sua organização, e significa quanto tempo você precisará para pesqui- PARA REFLETIR Uma vez que você já sabe que precisará de tempo para pesquisar, planeje espaços de tempo na sua rotina para iniciar a pesquisa e a posterior escrita do seu projeto. Crie uma rotina, determine um tempo diário ou semanal para pesquisar. Por exemplo: ler 2 projetos do seu segmento artístico por semana para encontrar inspirações ou mesmo se atualizar do que acontece no mercado. Junto com o planejamento e pesquisa é muito importante estabelecer seu material de trabalho. É importante que tenha atualizado seu portfólio, seu currículo, documentos principais digitalizados (RG, CPF, comprovante Portfólio É um documento (importante o seu efeito visual e design) que reúne os seus projetos ou de sua empresa/ organização. Com ele, sendo físico ou digital, o apoiador consegue imaginar o potencial de sua ação, a credibilidade, a sua capacidade de execução. É importante que seja sucinto, que traga as informações relevantes Clipagem Coleção de recortes e/ou sinopses de matérias publicadas em jornais e revistas a respeito de seu trabalho ou do trabalho de sua organização. Aqui também vale guardar posts de eventos nos quais participou, fotos nesses eventos, vídeos, atestados de capacitação técnica, certificados, entre outras comprovações. de endereço, clipagem etc.) Lembre-se que hoje em dia a maioria das inscrições de projetos se dá por meio digital: são formulários on- line com limites de caracteres e exigências de envio de arquivos em formatos e tamanhos específicos (ex.: arquivos de até 5MB, extensões ou formatos aceitos .pdf., .jpg, .doc etc.). Assim, o recomendado é que você escreva seu projeto em arquivo separado, e não diretamente nos formulários on-line, pois a conexão com a internet pode cair e você pode perder todo o trabalho já feito. Crie e nomeie uma pasta no seu computador a partir do ano de elaboração do seu projeto, por exemplo, 2020_Projeto Festival Artes, e nesta pasta tenha os arquivos de texto e as planilhas de orçamento e cronograma, juntamente com todas as suas fontes de pesquisa. 7 PROJETOS CULTURAIS sar, fazer análise do que encontrou, con- centrar-se em pontos específicos e realizar a escrita do projeto respondendo a um ro- teiro de perguntas/questões. E nesta fase, ao juntar a pesquisa com o planejamento, o tópico oportunidades de financiamen- to para execução do plano (traduzido para “quem vai pagar a conta?”) também deve lhe surgir. Isso porque a pesquisa também apresentará para você os diferentes meca- nismos de financiamento (editais, leis de incentivo federais, estaduais, municipais etc.) e, a partir da análise entre “tema do projeto versus financiamento”, é possível você ter mensurar quais mecanismos me- lhor se encaixam para custear o seu pro- jeto/empreendimento. O tema dos diversos mecanismos de financiamento será tratado mais profun- damente em um próximo módulo, mas mantenha-se vigilante sobre os poten- ciais financiadores do projeto quando es- tiver realizando o planejamento. Aliás, no futuro, mais experiente, quando você esti- ver pensando em um novo projeto, acre- dite, o patrocinador/financiador/apoiador aparece automaticamente na sua cabeça. 3.3. Processo de escrita O 3º “P” é o do Processo de escrita. É importante que você se prepare para responder às perguntas do roteiro e crie uma metodologia (estratégia de ação) para tal tarefa. Note que aqui você utiliza- rá os documentos de textos e planilhas criadas para seguir com sua escrita. E quais são as perguntas básicas do roteiro que você deve se preparar para responder? O QUÊ? POR QUÊ? | ONDE? | QUANDO? QUANTO? | QUEM FARÁ? PARA QUEM (PÚBLICO)? | COMO AVALIAR? QUEM FINANCIARÁ? 8 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste VAMOS DETALHAR UM POUCO MAIS: O QUE será realizado? Responda quais são os objetivos (geral e específicos): Por exemplo, realizar um festival de literatura infantil exclusivamente com autoras brasileiras. POR QUÊ? Inicie a escrita da justificativa do seu projeto, ou seja, por que é importante realizar um festival de literatura infantil e por que apenas com escritoras brasileiras? Por que nesse momento? Existe alguma data comemorativa (efeméride: dia da literatura infantil, dia do escritor, data de nascimento de uma escritora brasileira de relevância)? E por que deve ser financiado através de determinado mecanismo (que você já deve ter pensado)? ONDE? Refere-se ao local/sede de realização do projeto. Pode ser um ou pode ser vários, em forma de circuito, por exemplo. Lembre-se que mesmo que seja para realização on-line, é necessário responder a essa pergunta, pois ela é crucial para a elaboração do seu orçamento e do detalhamento de sua produção/execução. QUANDO? Trata-se do cronograma do seu projeto. Por meio dele, o analista/parecerista saberá o tempo/prazo de realização de seu projeto (ex.: 3 meses de pré-produção e 2 semanas de realização). O período em que vai ser realizado pode favorecer muito o apoio a seu projeto. Por exemplo, ações que serão realizadas em datas festivas, que atraem público diverso, como apresentações de Maracatu no Carnaval, festival de quadrilhas nas Festas Juninas, corais em período natalino ou, como nos exemplos acima, poderia ser um festival realizado no mês de março, para ser celebrado no Dia Internacional da Mulher. QUANTO custa? É o orçamento do seu projeto, ou seja, é a realização precisa de todas as rubricas necessárias para a execução de sua ideia/ projeto, juntamente com seus respectivos custos, valores unitários, parciais e total: recursos humanos (equipe técnica), serviços de terceiros (pessoa física ou pessoa jurídica), materiais (de consumo ou permanente e equipamentos), entre outros. QUEM fará? É a ficha técnica do projeto, ou seja, os profissionais que você convidará e contratará para dar vida ao seu projeto. Na ficha técnica você não precisar nomear e colocar o currículo de todos que trabalharão nele, mas deve demonstrar que o núcleo principal (curadores, coordenadores de produção, de programação, de designer – identidade visual/projeto gráfico/campanha –, consultores, artistas etc.) da execução já foi estabelecido. Uma atenção necessária: caso o projeto dependa de algum profissional específico, é importante ter, no momento da proposição dele para seu potencial apoiador, uma Carta de Anuência desse profissional, que será anexado ao projeto. Usando o exemplo do festival acima citado, a de autoras brasileiras: supondo que a autora brasileira Ruth Rocha será homenageada e convidada a dar uma palestra em seu festival. Para poder citar o nome dela na ficha técnica é preciso comprovarque ela tem ciência do convite e está disposta a participar de sua ação. A Carta de Anuência, assinada pelo(a) profissional citado(a), é um instrumento importante, pois além de comprovar o conhecimento dela a respeito de seu projeto e a disposição em participar, pode conferir um peso maior para a sua proposta, tornando-a mais atrativa. Claro, se isso não acontecer pode ser péssimo para você. PARA QUEM será feito? Desde o início você deve saber quem serão os beneficiados do seu projeto. Muitas vezes os denominamos de público-alvo ou público estratégico. Esse público é a razão principal de seu projeto. O projeto existe para eles. Podem ser crianças, jovens e/ou adultos. Segmentados por faixa etária, por ocupação, por localização, linguagem artística ou não. Pode se resumir a determinada comunidade ou classe. Enfim, saber responder a essa pergunta é crucial para a elaboração e a execução de seu projeto, afinal de contas, sem público não há projeto. COMO AVALIAR a execução do seu projeto? O propósito de elaborar um projeto é realizá- lo! Nada mais triste do que um projeto mofando em gavetas... Por outro lado, o que comprova a sua realização é a prestação de contas, a etapa final do seu projeto. Junto com a prestação de contas, que pode ser física-financeira (recolhimento e apresentação de notas fiscais, contratos etc.) ou apenas de execução do objeto do projeto (fotos, vídeos, folhas de frequência, pesquisa de satisfação, matérias de jornais referentes ao seu projeto, por exemplo), é importante avaliar como foi a execução, criar indicadores qualitativos e quantitativos. Essas 2 etapas ocorrem durante a chamada pós-produção do projeto ou, simplesmente, para nós, o “P” que faltava. Por se tratar da finalização do projeto, a pós-produção é, por vezes, negligenciada no cronograma e no orçamento, mas não pode ser assim, pois é uma etapa de grande relevância que pode ser o diferencial para uma renovação de patrocínio, a continuidade do projeto em novas edições ou uma grande dor de cabeça futura. Indicadores Peter Drucker já afirmava: “O que pode ser medido pode ser melhorado”. Os indicadores são ferramentas utilizadas para medir o desempenho e processo de gestão e de execução de seu projeto, seja de maneira quantitativa (avaliação numérica) ou qualitativa (avaliação de qualidade). Esses indicadores, portanto, indicam o que pode ser melhorado nos processos para assegurar melhores resultados e cumprimento de metas. 9 PROJETOS CULTURAIS 3.4 Atenção ao público Saber com precisão qual o público de seu projeto é de extrema importância duran- te a sua escrita, não só por que a maioria dos editais e leis de incentivo questionam esse item, mas por que é o elemento de ligação entre todas as perguntas/roteiro do projeto. Note que quando você cria os objeti- vos, naturalmente você descreve a quan- tidade de público e o especifica. Na justi- ficativa, você deve explicar o porquê de o projeto beneficiar tal público, qual a sua importância para ele, uma vez que a exe- cução da ideia só acontecerá plenamente se tiver pessoas presentes ou beneficia- das e que serão impactadas positivamen- te pela ação que propõe. No seu cronograma, o público reflete se o projeto é mais longo ou mais curto, pois para alcançar o número de público descrito no objetivo se faz necessário mais ou menos tempo. A quantidade de público também afeta a ficha técnica, uma vez que a equi- pe precisará ser maior ou menor de acordo com o volume de pessoas envolvidas, além de funções específicas que podem ser ne- cessárias. Por exemplo, um projeto de for- mação de público em escolas do Ensino Fundamental I pode precisar de duplas de arte-educadores para cada 10 alunos, e es- sas funções devem ser previstas dentro dos recursos humanos para realização da ideia. Podemos ver que todo o orçamento é vinculado ao público. Por exemplo, o nú- mero de apresentações de um espetáculo de teatro está intimamente ligado ao es- paço onde será apresentado, que, por sua vez, tem um público frequente e número específico de assentos. Perceba que conhecer, quantificar e qualificar o seu público está intimamen- te ligado a conhecer melhor sobre toda a cadeia de realização do projeto. Perguntar qual o seu público significa poder responder sobre o local de realização, compreender as necessidades específicas (como a contratação de seguros ou a loca- ção de banheiros químicos, por exemplo), o tempo de execução, o tamanho e as funções da equipe e, principalmente, sobre os im- pactos da realização, pois, ao final, o obje- tivo é atender as necessidades deste público específico e beneficiá-lo da melhor maneira possível com o seu produto cultural. Novamente a atenção ao público sig- nifica fazer questionamentos sobre o pro- jeto. Serão perguntas cada vez mais es- pecíficas e detalhadas que irão contribuir com todas as respostas do roteiro básico de elaboração. 3.5. Pós-produção A pós-produção, acredite, é um item extremamente subestimado e que pre- cisa ser mais valorizado, uma vez que a continuação de um projeto depende de uma boa prestação de contas, da entrega de relatórios objetivos e da comprova- ção da presença de público e, principal- mente, de sua satisfação. Além disso, é o momento de poder mensurar todos os demais resultados positivos do projeto, como os impactos sociais e econômicos da execução do empreendimento. Agora, se não for dada a devida aten- ção à pós-produção na hora da elabora- ção do projeto e desde o início de suas atividades (ela deve acontecer paralela- mente à execução), o resultado é que não haverá tempo no cronograma ou verba no orçamento para realizá-la. Por isso é que dizemos que esses são os 2 “Ps” que precisam de mais atenção quando da revisão durante a elabora- ção do projeto: certifique-se de contem- plar itens orçamentários para realizar a pós-produção, atentar a produção de to- dos os itens comprometidos, bem como saiba especificamente quem é o público que se beneficiará das ações do projeto e quais são os meios pelos quais você po- derá avaliar a sua satisfação. SE LIGA! O projeto só é realmente dado por finalizado após a APROVAÇÃO DE SUA PRESTAÇÃO DE CONTAS. Ela é definitiva e deve ser levada a sério e pensada desde as primeiras atividades de pré-produção. Lembre-se que o seu projeto pode ser o melhor do mundo, mas o analista o avaliará racionalmente e não emotiva ou sentimentalmente. Caso não sejam cumpridas as regras estabelecidas de Prestação de Contas de seu apoiador/ financiador, você pode ter problemas. Mas para prevenir é fácil: leia os regulamentos, editais, manuais e guias de prestação de contas. As regras são claras e pré-estabelecidas. Basta cumprir o solicitado da forma exigida. Simples! 10 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste Quadro de Resumo 4 Ps da Elaboração de Projetos 1. PESQUISA 5 Leia e estude sobre outros projetos da mesma área artística para ter inspiração; 5 Através de perguntas, defina especificamente o tema do projeto. 2. PLANEJAMENTO 5 Inicie o estudo de viabilidade, entendendo como responder a perguntas sobre o produto cultural, seus objetivos, plano de comunicação, recursos humanos etc. 3. PROCESSO DE ESCRITA 5 Responda às perguntas do roteiro; 5 Crie sua metodologia de escrita; 5 Revise os textos. 4. PÚBLICO E PÓS-PRODUÇÃO 5 Defina o público beneficiário do projeto (idade, hábitos de lazer, de comunicação); 5 Lembre-se de planejar o tempo e a verba necessários para realizar a pós-produ- ção do projeto. PARA REFLETIR Quando pensamos no público de um projeto, devemos pensar na sua ACOLHIDA. Assim, para entender qual o público, comece por entender o local de realização: é espaço aberto ou fechado? O público ficará sentado ou em pé? O que o local precisa oferecer para ACOLHER BEM as pessoas? Banheiros? Internet wi-fi? Água e/ ou café? Um coffe- break? Conhecendo seu público, você saberá de suasnecessidades nos momentos antes e depois do seu evento/ ação e o acolherá da melhor forma. Por isso, pesquise os comportamentos e necessidades desse público desejado, os hábitos e as formas de comunicação. É de extrema importância esse conhecimento também para montar a estratégia de comunicação do seu projeto. 11 PROJETOS CULTURAIS 4 PARA REFLETIR A partir da elaboração dos objetivos do projeto é possível começar a entender os riscos possíveis durante a realização do projeto. Isso porque o entendimento sobre o público vai se tornar mais específico. Utilizando o exemplo acima, da apresentação de circo: o projeto será realizado em uma praça, para 100 pessoas por apresentação, o que significa que é em espaço público, aberto, e que a autorização de seu uso pelo órgão municipal responsável, o quantitativo de cadeiras/ arquibancadas, banheiros químicos, equipe de segurança e outras necessidades de execução do projeto e da acolhida do público devem ser providas pelo projeto. Além disso, o espaço público tem a circulação não apenas dos beneficiários pretendidos, mas também de todos que estiverem de passagem pelo local. Então, ao saber em que local o projeto será realizado, inicia-se o estudo das condições do espaço de realização, o que por sua vez trará à tona os riscos e, consequentemente, as providências (planejamento de mitigação de riscos) que devem ser tomadas para uma realização eficiente e segura do evento. PARA REFLETIR Para a escrita da justificativa do seu projeto encontre fatos de fontes confiáveis, como agências de pesquisa e dados, portais da transparência, legislação, entre outros. O lema para a elaboração de sua justificativa é: “Contra fatos não há argumentos.” Lembre-se: justificar o projeto significa trazer dados que embasem a realização da sua ideia. A maioria dos editais, das leis de incentivo e das chamadas pú-blicas ou privadas à inscrição de projetos exigem o preenchimen- to de algum tipo de formulário ou campos de informações preliminares. Esses formu- lários representam, no todo, a organização das perguntas do que denominamos, des- de o começo desse fascículo, de roteiro (O quê? Onde? Quando? Quanto? etc.). A sequência desse roteiro é: a) Descrição (ou identificação/resu- mo de seu projeto) b) Objetivos (geral e específicos) c) Justificativa d) Cronograma e) Orçamento f) Público-alvo g) Democratização de Acesso e Acessi- bilidade (pode aparecer ao lado ou como “Contrapartidas Sociais”) h) Plano (estratégias) de Comunicação. Outras sequências você irá encontrar, certamente, mas tomaremos esse roteiro como modelo explicando o que deve ser res- pondido em cada uma dessas etapas: Descrição Usualmente, a descrição é o resumo do que o projeto vai realizar. Quando for o caso, limite-se a descrevê-lo em até 5 linhas (o que significa no máximo 2 pará- grafos – ou 500 a 800 caracteres com espa- ROTEIRO BÁSICO DA ESCRITA ço). Você, claro, vai seguir o que o formu- lário permitir. Alguns solicitam um resumo mais extenso e descrevem o número de caracteres máximo. Outra possibilidade é que a descrição seja o momento de descrever todas as atividades principais para a execução da sua ideia. Se esta for a situação, faça um texto em prosa, explicando quais ações serão realizadas (5 e 8 parágrafos, entre 1.500 a 2.000 caracteres). Uma dica importante: deixe para se deter à descrição (identificação/resumo) apenas após o preenchimento dos obje- tivos, da justificativa e da metodologia de seu projeto, ou seja, quando a sua exe- cução e finalidades estiverem bem firme em sua cabeça, de maneira a resumi-la de forma mais assertiva. Lembre-se que essa apresentação é a porta de entrada de seu projeto e pode ser o item que, “por nocaute”, pode deixar acesa a curiosida- de de seu analista/financiador. Objetivo(s) Geralmente esses objetivos vêm dividi- dos em “objetivo geral” e “objetivos específi- cos”. O que se deve responder aqui são quais ações o projeto pretende realizar. Ou seja, são verbos, pois serão colocados em prática durante a realização do plano. São verbos que serão conjugados quando da execução da ideia, são ações que serão colocadas em movimento quando o projeto for executado. E os objetivos contém as metas, e, portanto, devem ser quantificáveis. Por exemplo: rea- lizar 5 apresentações do espetáculo circen- 12 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste OBJETIVO DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES PARA REALIZAÇÃO DO OBJETIVO PESSOAS ENVOLVIDAS FASE DO PROJETO se “Nas Alturas” para 100 pessoas na praça Francisco José do Nascimento, totalizando 500 pessoas beneficiadas (lembre-se da importância do “P” de Público!). Uma metodologia possível é fazer uma lista dos objetivos, iniciando pelos quan- tificáveis e tangíveis, para depois enume- rar os mais subjetivos, que serão também os mais genéricos, como: fomentar a arte circense brasileira, valorizar a cultura cir- cense, estimular o surgimento de novas gerações de artistas etc. Para saber qual o objetivo geral, olhe para a lista e pergunte-se: sem qual ob- jetivo não há projeto? A resposta a essa questão é o objetivo geral. Em relação a quantificar os objetivos, portanto, em relação às metas, lembre-se da sigla ESMART, pois as metas devem ser ESpecíficas, Mensuráveis, Atingíveis, Re- levantes e Temporais. Justificativa Justificar o porquê da necessidade de re- alização do projeto significa oferecer dados concretos para que o analista/parecerista/ patrocinador/apoiador entenda a relevân- cia da história que você está contando. Significa explicar, de maneira objetiva, e bem argumentada, a ligação entre a reali- zação do empreendimento e os benefícios para o público estratégico (alvo). A intenção é criar um texto que de- monstre a necessidade da sua realiza- ção, trazendo argumentos que sejam embasados em estudos e/ou fatos, e não apenas a sua opinião. Por exemplo, se a execução do projeto vai gerar 100 empregos para jovens entre 23 e 35 anos em um bairro com alto nível de de- semprego/vulnerabilidade socioeconômica para essa faixa etária, essa é uma justifica- tiva plausível, baseada em um fato. Perceba que é um benefício específico e mensurá- vel para uma parcela da população também definida, isto significa que está sendo consi- derado o público, os beneficiários (diretos e indiretos). Além de buscar dados concretos e argumentar a favor do público que será be- neficiado, a justificativa deve estar alinhada aos objetivos do mecanismo de financia- mento escolhido. Por exemplo: a Lei Federal de Incentivo à Cultura, também conhecida como Lei Rou- anet, diz em seu texto, na letra da lei, que um de seus objetivos, através do inciso III é a “preservação e difusão do patrimô- nio artístico, cultural e histórico, mediante item d) proteção do folclore, do artesanato e das tradições populares nacionais”. Por- tanto, se você pretende desenvolver um projeto de publicação de uma coletânea de literatura de cordel, pode argumentar que a justificativa de pleitear o financiamento por meio da referida lei é a de cumprir o exigido em seu inciso III. Ou seja, sua ideia não é apenas porque você adora cordel, por que acha que as pessoas deveriam ler mais, mas, sim, por que a lei exige! Que ótimo argumento, não é? Cronograma O cronograma do seu projeto reve- la em quanto tempo os objetivos se- rão cumpridos. Para elaborar esse cronograma você criará uma linha do tempo lógica, inician- do pela pré-produção (tudo aquilo que antecede a realização do objetivo princi- pal, como a pesquisa de campo, a contra- tação de equipe), seguida da produção propriamente dita (a realização das ativi- dades vinculadas ao objetivo principal, a operacionalização, como a realização de apresentações, oficinas, palestras etc.), en- cerrando com a pós-produção (período de elaboração da prestação de contas, entre- ga de relatórios, de clipagem etc.). Para a maioria das leis deincentivo, edi- tais e chamamentos públicos, é importante montar o cronograma sem nomear me- ses (janeiro, fevereiro, março...), pois isso é pouco prático e atrapalha a avaliação do projeto (o próprio tempo destinado à ava- liação e análise já deixa o seu cronograma “caducar”). Então, a DICA é separar os pe- ríodos de pré-produção, produção e pós- -produção em mês 1, mês 2, ou semana 1, semana 2, e assim por diante. Aliás, já na elaboração do cronograma, podemos criar um Plano de Trabalho. Basta elencar as atividades para realização de cada objetivo, ao lado da pessoa responsável por realizá-la, e assim criar uma tabela, como esta, a seguir (rodapé da página): Orçamento O orçamento do projeto deve refletir to- dos os custos para alcançar as metas esta- belecidas nos objetivos e no prazo previsto no cronograma. Por isso, é de extrema im- portância que sejam enumerados todos os recursos humanos, financeiros e materiais necessários para realizar os objetivos do projeto em todas as suas etapas. Lembre- -se do aluguel de arquibancadas e/ou da sede do evento, do cachê dos artistas, do seguro-viagem, hospedagens, alimenta- ção, remuneração da equipe técnica, dos assistentes administrativo, jurídico e/ou do contador. Para auxiliar na organização do orçamento, siga as divisões do cronograma e trabalhe por etapas: pré-produção, pro- dução e pós-produção. Importante mencionar que a maioria dos editais trabalha com um valor máximo de orçamento, ou seja, você encontra descrito no texto do edital um limite do custo total do projeto para a inscrição, enquanto algumas leis de incentivo normalmente trabalham com porcentagens máximas para algumas etapas, como custos administrativos, divul- gação e captação de recursos. Outro ponto é que, quando se trata de inscrição do projeto junto a um investidor 13 PROJETOS CULTURAIS PARA REFLETIR Pré-produção: todos os serviços e atividades iniciais que darão suporte à execução do projeto; Produção: atividades associadas à sua execução; Pós-produção: todas as atividades necessárias para a avaliação, a consolidação dos resultados alcançados e o encerramento do projeto. ATENÇÃO! O orçamento deve ser apresentado em forma de planilha (tabela/itens) e nunca em texto corrido. Deve conter: item, valor unitário, quantidade e valor total, entre outros. direto, o orçamento se parece mais como uma proposta comercial, com a parte fi- nanceira bem explicada, em forma de um plano de cotas e contrapartidas, e sem o detalhamento de rubricas. Assim, o mais importante, como já cha- mamos atenção, é que LEIA bem o edital, a lei, o chamamento público, pois as regras do jogo estão lá. É certo que muitos são desclas- sificados ou inabilitados, simplesmente, por não lerem o que está escrito. Público-Alvo ou Público Estratégico Essas são as pessoas que serão bene- ficiadas pela realização da sua ideia. Esse público é que define, ao final, se seu projeto tem resultados e/ou impactos exitosos. O número de envolvidos, ou seja, os fatores quantitativos, é muito importante, pois revela dados sugestivos ao seu rela- tório. Mas não devemos tratar apenas de quantidade. É necessário também qualifi- car esse público, ou seja, definir especifica- mente de qual parcela da população você está se referindo. Por isso não basta dizer que será “toda a população de uma cida- de ou de um bairro”, e, sim, de identificar para qual faixa etária é destinada a ação, de qual localidade específica, qual a sua rea- lidade socioeconômica e/ou cultural, entre outras características que caracterizem, com a máxima precisão, que beneficiários são esses. Quanto mais específica for essa caracterização sobre o público contempla- do (alvo), mais precisa será a definição da melhor metodologia a ser empregada para alcançar suas metas e resultados. Democratização de Acesso, Acessibilidade e Contrapartidas Sociais Uma parte muito importante dessa sua “história contada” é explicar como o público esperado terá acesso ao ativo cultural, ou seja, ao produto do projeto. Por vezes, essa parte dos formulários é chamada de “democratização de acesso” ou de “contrapartidas sociais”. Não são necessariamente as mesmas coisas, mas em alguns formulários podem ser vistos as- sim. Para a Lei Federal de Incentivo à Cultura (Rouanet), por exemplo, são coisas distintas. Democratizar o acesso é, simplesmen- te garantir o acesso a um maior número de pessoas, o que pode acontecer em ativida- des ou disponibilizações gratuitas ou por meio de preços populares. Contrapartida, em si, é algo que se dá em troca de algu- ma coisa. Assim, uma contrapartida social pode ser vista, a grosso modo, como aquilo que você oferece à sociedade (uma recom- pensa, garantia) em troca do apoio ao seu projeto. Muitas vezes essas contrapartidas são pontos-chaves para a aprovação do projeto apresentado. Sabendo disso, continuemos: quando estiver preenchendo seu formulário de inscrição de projeto, responda às ques- tões que garantam o acesso do público- -alvo ao produto cultural. Digamos que esse produto seja um show, a gratuidade do ingresso é vista como uma característica facilitadora, mas isso não bas- ta, uma vez que é necessária uma comunica- ção efetiva, pois de nada adianta o show ser gratuito se o público não souber disso, não é? Ações de atração/aproximação do públi- co devem ser inseridos durante a criação de seu projeto. Os ensaios abertos, debates e palestras com artistas (ações formativas cul- turais destinadas principalmente para co- munidades e/ou grupos em vulnerabilidade social, assim como para estudantes da rede pública) também devem estar elencados nessa parte. Pense em todas as atividades do projeto que signifiquem a aproximação e a oportunidade do público de contato com os realizadores ou com os artistas, por exemplo. Oficinas de qualificação profissio- nal e capacitação também são atividades de democratização de acesso (assim como po- dem ser contrapartidas sociais), juntamente com todas as outras oportunidades de expe- rimentar o objeto do projeto, de aproximar o público da experiência cultural. Outra questão extremamente impor- tante a ser lembrada durante a elabora- ção do projeto é a Acessibilidade. Ora, se 14 Fundação Demócrito Rocha Universidade Aberta do Nordeste SAIBA MAIS Você que se inscreveu em nosso curso, fique bem atento aos próximos 2 fascículos que irão detalhar a elaboração de cronogramas e orçamentos. E nos fascículos sobre editais e captação de recursos, a diferença entre orçamento, plano de cotas e contrapartidas será especificada. Não perca tempo e estude bem. Vem com a gente! PARA REFLETIR Falar de público-alvo é falar de dados, portanto, utilize a pesquisa e os fatos levantados para a elaboração da justificativa para entender sobre as pessoas beneficiadas (os beneficiários) e oferecer informações específicas sobre elas. o projeto visa a atender à sociedade, ele também se obriga a acolher àqueles que apresentam mobilidade reduzida ou de- ficiências (intelectual, visual e/ou aditi- va). Assim, é importante que seu projeto contemple (hoje, cada vez mais, isso é exigido) medidas de acessibilidade (físi- ca e de conteúdo), ou seja, que garantam, com segurança, que essas pessoas pos- sam usufruir dos bens e serviços culturais, principalmente, quando essas ações são financiadas com recursos públicos. O importante é se questionar se, por exemplo, o local de realização possui ram- pas de acesso, banheiros adaptados, ele- vadores, espaço reservados para idosos ou para cadeiras de rodas na plateia, eliminar ao máximo a presença de obstáculos, en- tre outros, pois é necessário dar condições a essas pessoas de serem incluídas so- cialmente. Você pode ir ainda mais longe: como uma pessoa surda poderia experien- ciar o seu show de música ou a um espe- táculo de teatro? Que tal disponibilizar intérpretes de LIBRAS? Pode usar equipa- mentos de legendagem ou audiodescriçãode cenários, figurinos e de personagens? Textos em Braile? É um mundo de possibi- lidades. Procure conhecê-las. Plano de Comunicação Uma vez que o projeto só acontece com a presença ou a participação (mesmo que não presencialmente) de um público, conseguir que os potenciais beneficiários compareçam ou participem de seu projeto é uma necessidade básica para a plena reali- zação do projeto. Sendo assim, após definir qual o público a ser beneficiado, é possível também estruturar o plano de comunica- ção do seu projeto. Nesse plano, serão definidos os meios mais efetivos para se chegar (comunicar-se) a esse público. Questões relacionadas ao uso de mídias digitais (Com impulsionamento? Apenas Orgânico? Pelo Instagram, Twitter, Facebook? etc.), cartazes, carros de som, fo- lheteria (folders, panfletos), newsletter, convi- te eletrônico, adesivos, hotsites, banners (digi- tais e/ou físicos), busdoor, outdoor, anúncios em rádios (spots), revistas ou em TV (teaser), blimp, entre outros, surgirão nesse momento da escrita. É importante lembrar-se de con- sultar profissionais da área, como assessores de imprensa/marketing, criadores de conte- údo e designers, social media, entre outros, que podem ser decisivos na sua tomada de decisão nesse âmbito. Referências AURÉLIO, Dicionário: Disponível em: < https:// www.dicio.com.br >. Acesso em: 12/10/2020. Brant, L. Mercado Cultural: panorama crítico e guia prático para gestão e captação de recursos. Ed. Escrituras e Instituto Pensarte. CEREZUELA, D.R. Planejamento e Avaliação de Projetos Culturais: da ideia à ação. Edições SESC. DRUCKER, Peter. O essencial de Drucker: uma seleção das melhores teorias do pai da gestão. Editora Actual. MALAGODI, M. E.; CESNIK, F. S. Projetos Culturais: elaboração, administração, aspectos legais e busca de patrocínio. Ed. Escrituras. SEBRAE. Projetos Culturais: como elaborar, executar e prestar contas. Instituto Alvorada Brasil/Sebrae. Brasília, 2014. TEIXEIRA, H.J.; SALOMÃO, S. M.; TEIXEIRA C.J. Fundamentos da Administração: a busca do essencial. Editora Elsevier, 2010. 15 PROJETOS CULTURAIS Larissa Biasoli (Autora) É bacharel em Artes Cênicas (Unicamp) com especialização em Gestão Cultural e Políticas Culturais pelo Goldsmiths College – University of London. Teve diferentes experiências em produção, que incluem trabalhos com Les Commediens Tropicales, Boa Companhia e o Grupo Matula Teatro, além de trabalhos com produção de eventos corporativos. Desde 2013 está à frente da Sorella Produções Artísticas e atua em diferentes frentes, como produtora executiva, gerente de projetos culturais e sociais, além da coordenação de programas e festivais de teatro. Trabalhou com o Grupo Barracão Teatro de Campinas, Alecrim Produções Artísticas e Instituto Bem Cultural do DF, Bons Ventos Produtora de Campinas, Zózima Trupe e Labor Educacional. Desde 2017 é captadora de recursos para o Centro Cultural Aliança Francesa de São Paulo, e, desde 2018, trabalha com o Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais (Promac) da cidade de São Paulo. Guabiras (Ilustrador) É cartunista, autor de histórias em quadrinhos e de muitos personagens. Publicou mais de 5 mil tirinhas em veículos como jornais, fanzines, livros (antologias), revistas (MAD-SP, Gibi Quântico-SP, Tarja Preta-RJ, entre outras) e na web, entre eles, no jornal EXTRA de Nova York (EUA) e na obra Marcatti 40 (Ugra/SP). Recebeu, em parceria, 3 troféus HQMIX e o Troféu Ângelo Agostini de “Melhor Cartunista de 2016”, as maiores comendas de quadrinhos do país. REALIZAÇÃOAPOIO CAPACITAÇÃO DE AGENTES CULTURAIS ESTRATÉGIAS DE CULTURA E ARTE PARA O FUTURO
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