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Atitudes dos Gramáticos do século XVI Tendência para vernaculizar (Exemplos de Fernão d’Oliveira, Grammatica, 1536) � “Das letras por si já dissemos quanto esta pequena obra pode consentir: agora saybamos como se ajũtão em syllabas: onde falãdo primeiro dos ditõgos faremos não os mesmos nẽ todos os da lingua latina: mas tãbẽ alghũs outros & mais ẽ numero: porque as vozes da nossa lingua os tẽ: & quintiliano assi mãda escreuer qualquer lĩgua como soa: & não somente a ortografia e diuersa ẽ diuersas linguas mas tãbẽ em hũa mesma lingua se muda cõ o costume.” (OGR018 25 31- 18 26 7) Atitudes dos Gramáticos do século XVI � Tendência para vernaculizar � “Poys se alguem me dixer que podemos dizer como temos muytos vocabolos latinos & que isto alcanção os homẽs doutos que sabem lingua latina: como candea que vem de candela vocabolo latino: & mesa que vem de mensa /…/ Preguntarlhey então que nos fica a nos? ou se temos de nosso alghũa cousa? & os nossos homẽs pois são mais antigos que os latinos nessa conuersação que teuerão cõ os latinos: porque tãbem não ensinarião? porque serião em tudo e sempre ensinados? eu não quero ter tam bayxo espirito & cuidar que deuo tudo : mas sempre afiirmarey que poys Quintiliano no primeyro liuro confessa que os latinos vsauão de vocabolos emprestados quãdo lhos seus faltauão que tãbẽ da nossa lĩgua tomarão alghũs, como nos tomamos da sua: os quaes como nossos os auemos de tratar & pronunçiar & cõformar ao som da nossa melodia: & ao sentido das nossas orelhas: & tambem os que forem alheos como alheos lhe daremos o que seu for” � (OGR0 31 41 16- 29) Atitudes dos Gramáticos do século XVI � Tendência para vernaculizar E esses estudos fazem mais durar a glória da terra em que florecem, porque Grecia e Roma só por isto ainda vivem: porque quando senhoreavam o mundo mandavam a todas as gentes a elles sojeitas aprender suas línguas, e em ellas escreviam muitas bõas doutrinas; e não somente o que entendiam escreviam nellas, mas também trasladavam par’ellas todo o bo que liam em outras. E desta feição nos obrigaram a que ainda agora trabalhemos em aprender e apurar o seu esquecendo-nos do nosso. Não façamos assi; mas tornemos sobre nós, agora que é tempo e somos senhores, porque milhor é que ensinemos a Guiné ca que sejamos ensinados de Roma, ainda que ella agora tevera toda sua valia e preço. E não desconfiemos da nossa lingua porque os homens fazem a lingua e não a lingua os homens. E é manifesto que as linguas grega e latina primeiro foram grosseiras; e os homens as poseram na perfeição que agora têm. (O GR IV) Atitudes dos Gramáticos do século XVI Tendência para latinizar: “ [as palavras] tomamos emprestadas de outras gentes não somente para supprir a necessidade de explicarmos o que queremos, mas para copia e ornamento por não repetirmos hũas mesmas palauras muitas vezes: o que aos que ouuem ou leem traz sempre nojo & fastio: Alem disso há nas linguas alheas algũs termos que não há na nossa, para declarar o que sentimos ou ensinamos. Polo que cada dia os tomamos das lingoas latina ou Grega, por terem para isso seus termos sabidos & notos a todos. Polo que quem quisesse tratando de Dialectica em lingoa Portuguesa (porque as sciencias não tem lingoa propria, & em qualquer se pode ensinar e saber)/…/ não se daria bem a entender. E o que tratasse de cosmographia melhor se daria a entender pelas palauras longitudo & latitudo, que são termos notos & magistraes, que pellas palauras longura & largura nossas, posto que mui claras.” Testemunho de Duarte Nunes de Leão, Obras: Origem e Orthographia, 1576 e 1606. Atitudes dos Gramáticos do século XVI Tendência para latinizar: “ Para o que não se deue ouuir hũa secta de homẽs, que querem que o que se falla ou escreue seja per palauras costumadas & antigas, & que os homẽes do vulgo entendão sem innouar vocabulos, que he razão de homẽs de pouco discurso & sem erudição. Porque se esta regra se guardara/…/ estiuera a ligoa Portugesa, & as outras mais de Hespanha, na torpe rudeza em que a principio estauão. E os que daquella opinião são tãto mõta como quererẽ que despois de achado o trigo, & os mãjares que oje temos, tornemos a comer a lãde & bolotas, & fruttos syluestres”. (LRI0 25) Atitudes dos Gramáticos do século XVI � Tendência para latinizar: � “Sendo pois a lingoa Portuguesa na origem Latina, & reformada muitas vezes, & ampliada de vocabulos latinos, de que careciamos por a corrupção que os Godos nella fizerão sem nenhum pejo, & com mais honra nossa nos deuemos aproueitar della, como filhos, que dos bens paternos se ajudão mais sem afronta sua, o que não farião dos estranhos. E por a muita semelhança que a nossa lingoa tem com ella, que he a maior que nenhũa lingoa tem com outra, & tal que em muitas palauras & piriodos podemos fallar, que sejão jũtamẽte latinos & Portugueses, como muitos curiosos já mostrarão em algũs poemas & orações: de que he hũa este hymno que fez um Religioso principal mui docto nas letras diuinas & humanas, & noticia das lingoas, & mo mandou com hũs elegantes versos que tudo diz assi: «De quem senhor honrastes.tantas vezes /Aceitai estes versos peregrinos, /Que lidos em latim, serão latinos,/ Lidos em Português, são Portugueses./Das lingoas a Latina he mui prezada, /E quanto mais a imita a Lusitana/ Tanto seu preço fica mais subido./ Agora ficara mais estimada, /Que descobrindo as fontes donde mana,/ Descobris seu valor não conhecido»”( LRI0 25) � Atitudes dos Gramáticos do século XVI Tendência para latinizar: Afirma João de Barros: “Vocábulos gregos, hebraicos e latinos que foram as três linguagẽẽs a que podemos chamar princesas do mundo /…/ principalmente a latina que foy a derradeira que teue a monarchia cuios filhos nós somos”. Atitudes dos Gramáticos do século XVI Tendência para latinizar: � “ A my muito me contentam os termos que se confórmam com o latim, dádo que seiam antigos…Nã sómẽte os que achamos per escrituras antigas, mas muitos q~ se usam antre Douro e Minho, conservadora da semente portuguesa: os quáes algũus indoutos desprezam, por nam saberem a raiz donde náçẽ” O séc. XVI Relatinização A relatinização do idioma (o fenómeno de divergência). PLANU- > chão Dois significados: solo/ sem elevações Ex: terreno chão, vila chã. Palavra do séc XVI: plano. FACTU- > feito (acontecimento /ato valoroso). Palavra do séc XVI: facto. DIRECTU- > direito (retilíneo / sem interrupções, sem desvios) Palavra do séc XVI: direto Ex: A Rua Direita. O séc. XVI Relatinização � Na língua do século XVI verifica-se a adoção e uso de palavras latinas, importadas diretamente e que, por não terem sofrido alterações fonéticas significativas, mantém um caráter latinizante. Foi relevante o papel de diversos autores renascentistas, nomeadamente o de Camões e particularmente em Os Lusíadas, pela frequência com que os usou. O séc. XVI Relatinização Alguns exemplos de palavras relatinizadas: � fruito, dição, contrairo, corruto, corrução, dino, benino, dano, douto, doutor,bautismo, imigo, auga, calidade, cantidade, alevantado, pendença, sanha, ledo/ ditoso. Foram substituídas por: � fructo, dicção, contrário,corrupto, corrupção, digno, benigno, dapno, docto, doctor, baptismo, inimigo, água, qualidade, quantidade, levantado, penitência, ira, feliz. O séc. XVI Relatinização Damião de Góis escreve epse em vez de esse André de Resende escreve nocte, septe, oclhos, nunqua e hacte (até) O séc. XVI Relatinização � Elevado número de palavras eruditas de origem latina entraram na língua. Ex de Os Lusíadas: Acumular, adamantino, adjacente, admirar, admiração, admitido, adornar, adulação, adultério, aéreo, agreste, alabastro, altíssono, aluno, ambição, ambicioso, ameno, antártico, antídoto, aplauso, apto, aquático, aquoso, ara, arquétipo, árduo, arenoso, arguto, árido, arrogante, artífice, artefício, arteficioso, astrolábio, astúcia, astuto, astutamente, atónito, atroz, audaz, aura, áureo, aurífero, auspício,austero, austral, etc. E também: ira, malévolo, máquina, moderno, etc. Os superlativos em –íssimo. � A maior parte continua a pertencer ao português. � Mas não architector ou armígero. O séc. XVI Relatinização � Um número importante de formas eruditas, ou de formas alatinadas, importadas diretamente dos textos latinos, introduziu-se assim, no século XVI. � Desde então, integram o léxico do português. O séc. XVI Relatinização � No último quartel do século XVI o gramático Duarte Nunes de Leão elabora uma obra – Orthogaphia da Lingoa Portuguesa em que propõe uma lista de correções. � “REFORMAÇÂO de algũas palavras que a gente vulgar usa & escreve mal” � Mas quem é que pronuncia e escreve mal? � Nas formas relatinizadas porque consideradas erradas por Duarte Nunes de Leão figuram algumas usadas por João de Barros, Fernão de Oliveira e até Camões: � Dino, benino, acupar , carónica, esprito, olifante, avoar, agabar, alevantar, são substituídas e passam a digno, benigno, ocupar, crónica, espírito, elefante, voar, gabar, levantar. Mas dano não será dapno. Nem fruito, fructo ou doutor, doctor. O processo de relatinização resulta geralmente, mas nem sempre. ERRADAS EMENDADAS ERRADAS EMENDADAS Acolá Aquolá Ca, aduerbio local Qua Acupar Occupar Ca, por quia Qua Agabar Gabar Calidade Qualidade Antre Entre Cantidade Quantidade Apoupar Poupar Cinco Cinquo Avoar Voar Disforme Deforme Baixo Baxo Impunar Impugnar Barrer Varrer Joelhos Geolhos ERRADAS EMENDADAS ERRADAS EMENDADAS Nunca Nunqua Rendição Redempção Praceiro Parceiro Rezão Razão Precurador Procurador Salmo Psalmo Precuração Procuração Somana Semana Pregunta Pergunta Tabalião Tabellião Preguntar Perguntar Teima Thema Preimatica Pragmatica Titor Tutor Prove Pobre Trelado Traslado Pruuico Publico Tribulo Thuribulo Pruuicar Publicar Visorei Vicerei De alguns vocábulos que usam os plebeus ou idiotas que os polidos não devem usar. Só ajuntaremos aqui a sombra de palavras antigas que se também não devem usar.: Adergar - por acertar. Agastura - por agastamento. Assente - por repousado. Atabafar - por encobrir com engano. Atermar - por assinar termo. Barafustar - por relutar. Betar - por quadrar. Batocar - por bater. Chapado - por assinalado. Compeçar - por começar. Cenreira - por birra ou teima. Corriqueira – cousa por vulgar ou costumada. Cuspido a seu pai – por esculpido ou semelhante. Definhar - por agastar-se ou acabar-se. Dança - por negócio (andar em dança). Destrinçar – por declarar. Dissingular - dissimular. Elegante – por solteiro ou livre. Bibliografia � Paiva, M. H.; Os Gramáticos Portugueses Quinhentistas e a fixação do Padrão Linguístico. Porto: Faculdade de Letras , 2002
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