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aula7 epidemiologia

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Disciplina: Fundamentos da Epidemiologia
Aula 7: Situação Atual da Pesquisa Epidemiológica no Brasil e as
Perspectivas para uma Epidemiologia Brasileira
Apresentação
Nesta aula,vamos abordar o desenvolvimento da pesquisa epidemiológica no Brasil e
sua relação com a institucionalização da Epidemiologia. A situação atual desta
pesquisa e suas perspectivas futuras estão intimamente relacionadas com sua
institucionalização.
Os principais eixos temáticos da pesquisa epidemiológica no Brasil serão evidenciados
para que você possa reconhecer o crescimento da produção científica nacional em
Epidemiologia e o seu impacto mundial.
Objetivos
Relacionar o desenvolvimento da pesquisa epidemiológica no Brasil com a
institucionalização da Epidemiologia;
Verificar a contribuição da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva (ABRASCO) no desenvolvimento da pesquisa epidemiológica no Brasil;
Identificar as principais revistas nacionais e internacionais que publicam artigos
sobre Epidemiologia;
Medir o contexto histórico da criação dos principais Centros de Pesquisa em
Epidemiologia;
Analisar os principais eixos temáticos da pesquisa epidemiológica no Brasil e as
práticas acadêmicas e profissionais;
Reconhecer o crescimento da produção científica nacional em Epidemiologia e
seu impacto mundial.
Tropicalismo na Epidemia
A situação atual da pesquisa epidemiológica no Brasil e suas perspectivas
futuras estão intimamente relacionadas com sua institucionalização. Como
vimos anteriormente, no Brasil, a Medicina Tropical representou um marco na
história da Epidemiologia e na sua institucionalização.
Os tropicalistas na época associavam as doenças tropicais à pobreza, à
desnutrição, à ausência de saneamento básico e às más condições de vida de
uma forma geral, descartando a hipótese miasmática, ainda usada naquela
época.
 (Fonte: khlungcenter / Shutterstock)
A importância da
institucionalização da
Epidemiologia no Brasil para o
desenvolvimento da pesquisa
epidemiológica
1866
A Escola Tropicalista Baiana, criada em meados do século XIX, ainda
que não tenha se constituído em uma instituição formal de ensino,
dedicou-se à prática médica e à pesquisa da Etiologia das doenças
tropicais. Dentro desse contexto, é importante destacar que as
descobertas do grupo de pesquisadores, publicadas na Gazeta Médica da
Bahia, fundada em 1866, contribuíram para questionar o ensino médico
oferecido pelas tradicionais faculdades de medicina na Bahia e do Rio de
Janeiro, que ainda utilizavam a teoria miasmática para explicar a
Etiologia das doenças. Os pesquisadores da Escola Tropicalista Baiana,
chamados de tropicalistas, utilizavam as técnicas mais avançadas da
medicina europeia, como a análise de fluidos corporais, a Parasitologia e
a Microscopia.
1900
Na primeira metade do século XX, duas instituições de pesquisa e
formação especializada no campo da saúde pública foram criadas: a
Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro e a Faculdade de Saúde
Pública da Universidade de São Paulo. A inauguração do Instituto
Soroterápico Federal, em 25 de maio de 1900, para a fabricação de
soros e vacinas contra a peste bubônica, marcou o início da criação da
Fundação Oswaldo Cruz.
1902
O jovem bacteriologista Oswaldo Cruz, assumiu a direção geral do
Instituto.
1903
O Presidente da República Rodrigues Alves, nomeou o médico
Oswaldo Cruz, recém-egresso do Instituto Pasteur, para a Diretoria
Geral de Saúde Pública com a tarefa de sanear o Rio de Janeiro -
capital do país - e combater as principais epidemias que assolavam a
cidade: peste bubônica, febre amarela e varíola. A campanha contra a
febre amarela foi estruturada nos moldes militares, sendo impostas
medidas rigorosas, como a aplicação de multas, entre outras. A batalha
contra a peste bubônica se deu através da notificação compulsória dos
casos, combate aos ratos da cidade, entre outras.
1904
O Rio de Janeiro sofreu uma grave epidemia de varíola o que
desencadeou a vacinação obrigatória contra a doença. Como também
vimos na aula passada, a forma autoritária da vacinação gerou grande
insatisfação popular, o que, aliado às demolições realizadas pelo Prefeito
Pereira Passos, deu origem ao movimento conhecido como a Revolta da
Vacina, que durou uma semana.
1905
Carlos Chagas conseguiu controlar um surto de malária no interior de
São Paulo, sendo reconhecido internacionalmente.
1908
O Instituto Soroterápico passou a ser chamado de Instituto Oswaldo
Cruz.
1960
As campanhas de erradicação da varíola, e da poliomielite, anos depois,
aliadas à grave epidemia de doença meningocócica, contribuíram para
consolidar o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica no
Brasil.
1970
Foi instituída formalmente a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz),
reunindo inicialmente: 
 
• o Instituto Oswaldo Cruz; 
 
• a Fundação de Recursos Humanos para a Saúde, que depois passou a
ser chamada de Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP); e 
 
• o Instituto Fernandes Figueira (IFF).
2004
Foi a partir deste ano que, intensificou-se a construção de novas teorias,
enfoques e métodos da Epidemiologia, além de investigações concretas
buscando a aplicação de métodos das ciências sociais, que na América
Latina e no Brasil recebeu o nome de Saúde Coletiva.
De acordo com Paim e Almeida Filho (2000):
 
A saúde coletiva compreende um campo acadêmico de
produção de conhecimentos científicos e tecnológicos e
um âmbito de saberes e práticas. 
 
Do ponto de vista acadêmico, contempla o desenvolvimento de atividades de
investigação sobre o estado sanitário da população, a natureza das políticas
de saúde, a relação entre os processos de trabalho e doenças e agravos, bem
como as intervenções de grupos e classes sociais sobre a questão sanitária.
Nessa perspectiva, a saúde coletiva pode ser definida como um campo de
conhecimento de natureza interdisciplinar cujas matérias básicas são
Planejamento/Administração de Saúde, Ciências Sociais em Saúde, e que tem
como eixo estruturante a Epidemiologia.
 1970 
 
No início do século XX, o desenvolvimento da Epidemiologia em
nosso país foi impulsionado pelo êxito das ações em saúde. No
processo de constituição do movimento de saúde coletiva, na
década de 1970, diversos núcleos de pesquisa e pós-graduação em
saúde foram criados e consolidados nas principais instituições de
ensino e pesquisa do Brasil, com a participação da primeira geração
de epidemiologistas brasileiros.
 1979 
 
Nesse contexto, em 1979, foi criada a Associação Brasileira de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO), cujo objetivo embora
fosse a pós-graduação, sempre atuou nas questões acadêmicas e
nos serviços de saúde, incluindo com destaque os temas de
pesquisa, formação e intervenção da Epidemiologia.
 1984 
 
Foi realizada em Nova Friburgo, Rio de Janeiro, a I Reunião Nacional
sobre Ensino e Pesquisa na Epidemiologia. Nesse encontro, foram
aprovados a constituição e os objetivos da Comissão de
Epidemiologia da ABRASCO.
 1986 
 
Neste ano ocorreu na Bahia o Seminário “Perspectivas da
Epidemiologia frente à reorganização dos serviços de saúde”. Nesse
evento, foi discutida a influência da Epidemiologia na unificação do
sistema de saúde para a melhoria das condições de vidada
população. Demonstrou a preocupação dos epidemiologistas com a
reorganização dos sistemas de saúde e o engajamento no
movimento de Reforma Sanitária, que estava em curso no país e
teve seu ápice na época da VIII Conferência Nacional de Saúde —
marco da criação do SUS — conforme abordado na aula anterior.
 1989 
 
Logo após a promulgação da Constituição Brasileira, foi realizado o
seminário “Estratégias para o desenvolvimento da Epidemiologia no
Brasil”, sendo elaborado o I Plano Diretor para o Desenvolvimento
da Epidemiologia no Brasil, envolvendo instituições acadêmicas e
serviçosde saúde e questões tanto nas áreas de ensino de
graduação, pós-graduação e pesquisa, quanto nas ações dos
serviços de saúde.
 1990 
 
O ano de 1990 constituiu um marco para a Epidemiologia brasileira
devido à realização do I Congresso Brasileiro de Epidemiologia e a
criação do CENEPI. O Congresso foi realizado em Campinas e reuniu
aproximadamente 1.500 participantes. O tema foi “Epidemiologia e
Desigualdade Social: os desafios do final do século”. O Centro
Nacional de Epidemiologia (CENEPI), órgão vinculado ao Ministério
da Saúde, era responsável pelo desenvolvimento de ações voltadas
para a promoção e a disseminação do uso da Epidemiologia em
todos os níveis do SUS.
 1992 
 
Foi realizado o II Congresso Brasileiro de Epidemiologia, em Belo
Horizonte, com o tema “Qualidade de vida: Compromisso histórico
da Epidemiologia”.
 1995 
 
Em Salvador, ocorreram três eventos: o III Congresso Brasileiro de
Epidemiologia, organizado em conjunto com o II Congresso Íbero-
Americano e o I Congresso Latino-Americano de Epidemiologia. O
tema desse grande encontro foi “Epidemiologia na busca da
equidade em saúde”, que se constituiu no primeiro evento de
caráter internacional realizado no Brasil. Nesse congresso, foi
lançado o II Plano Diretor para o Desenvolvimento da Epidemiologia
no Brasil, onde se criticava a prática epidemiológica setorizada,
preconizando a adoção de um enfoque mais global na definição dos
perfis saúde-doença da população.
 1998 
 
O IV Congresso Brasileiro de Epidemiologia foi realizado no Rio de
Janeiro, em 1998, com o tema “Epidemiologia em perspectiva:
novos tempos, pessoas e lugares”. Neste mesmo ano foi lançada a
Revista Brasileira de Epidemiologia, representando um marco na
divulgação científica na área. Atualmente, essa revista se encontra
indexada nas bases do LILACS (Index MedicusLatinoamericano) e do
SciELO (Scientific Eletronic Library Online).
 2000 
 
Foi lançado o III Plano Diretor para o Desenvolvimento da
Epidemiologia no Brasil.
 2002 
 
Neste ano, em Curitiba, foi realizado o V Congresso Brasileiro de
Epidemiologia com o tema “A Epidemiologia na Promoção da Saúde”,
sendo submetidos mais de 2.800 resumos de trabalhos. O VI
Congresso Brasileiro de Epidemiologia com o tema “Um olhar sobre
a cidade” foi realizado em Recife e contou com a inscrição de 3.800
trabalhos, mantendo-se o aumento progressivo da produção
científica em Epidemiologia,tanto nas universidades e centros de
pesquisa quanto nos serviços de saúde do Brasil.
 2005 
 
A Comissão de Epidemiologia da ABRASCO lançou, em 2005, o IV
Plano Diretor para o Desenvolvimento da Epidemiologia no Brasil,
demonstrando que a pesquisa no campo da saúde pública estava se
expandindo e refletindo o desenvolvimento da pesquisa
epidemiológica, cuja orientação tem como objetivo os problemas de
saúde de grande impacto social e suas relações com os
determinantes políticos, sociais, econômicos e culturais. 
 
Um ponto que merece destaque no relatório do IV Plano Diretor é o
relacionado à pesquisa epidemiológica, sendo discutidos os
seguintes tópicos: 
 
• a produção do conhecimento em Epidemiologia; 
 
• a divulgação científica; 
 
• a difusão do conhecimento; 
 
• a ética na pesquisa; 
 
• teoria e metodologia da pesquisa em Epidemiologia.
 2008 
 
Ocorreu no Brasil o VII Congresso Brasileiro de Epidemiologia e o
XVIII IEA World Congress of Epidemiology organizados pela
ABRASCO e pela International Epidemiological Association (IEA). Na
ocasião, o congresso elegeu o epidemiologista brasileiro César
Gomes Victora para a presidência da IEA, na gestão 2011 a 2014; e
o Brasil, com seus 4.273 congressistas, pode mostrar com alegria e
profissionalismo a Epidemiologia Brasileira. O tema do evento foi:
“Epidemiologia na construção da saúde para todos: métodos para
um mundo em transformação.”
 2011 
 
Em São Paulo, ocorreu o VIII Congresso Brasileiro de Epidemiologia,
trazendo como tema central a “Epidemiologia e seu papel na
definição de políticas públicas” articulado ao conjunto das demais
disciplinas do campo da Saúde Coletiva. Os congressos oferecem a
oportunidade para atualizar e rever as contribuições da
Epidemiologia para os diversos temas em saúde que interessam à
sociedade brasileira, além de promover a interação entre a pesquisa
realizada tanto no meio universitário quanto nos serviços de saúde.
Atualidade sobre a pesquisa
epidemiológica no Brasil
A pesquisa em Epidemiologia no Brasil vem crescendo e adquirindo
reconhecimento científico em âmbito mundial.
O Brasil está entre os seis países de maior produção
científica da América Latina.
Segundo Guimarães, Lourenço e Cosac (2001), citados por Ameida
Filho e Barreto (2011),no ano de 2000, havia 363 pesquisadores com
título de doutor realizando pesquisa epidemiológica no país.
Barreto (2006) analisou a produção científica em Epidemiologia no Brasil em
comparação com o total de publicações indexadas na base bibliográfica
MEDLINE/PubMed, no período de 1985 a 2004.
Do total de 211.727 artigos identificados na base, 1.925 (0,9%) eram
referentes ao Brasil.
▶
O autor observou que no período de 1985 a 1989, 91 artigos foram
publicados.
▶
E no período de 2000 a 2004 foram publicados 1.096, representando um
crescimento de 12 vezes na quantidade de artigos.
De acordo com os resultados do estudo, o crescimento da produção científica
no Brasil foi mais acelerado do que o crescimento mundial nas duas décadas
analisadas, evidenciando o avanço da pesquisa epidemiológica no
Brasil. Dentro desse contexto, é importante destacar que a pesquisa
epidemiológica brasileira vem se consolidando de forma consistente e sendo
reconhecida mundialmente.
Dentro desse contexto, é importante destacar que a pesquisa epidemiológica
brasileira vem se consolidando de forma consistente e sendo reconhecida
mundialmente. Como reconhecimento da contribuição nacional à ciência
epidemiológica, em âmbito internacional, os editores-chefe de dois periódicos
científicos que estão entre os melhores do mundo na área são brasileiros:
Maurício Barreto 
do Journal of Epidemiology and Community Health
Moysés Szklo 
do American Journal of Epidemiology
Comentário
A pesquisa epidemiológica no Brasil tem sido conduzida, basicamente,
para dois eixos temáticos bem peculiares, caracterizando-se pela dupla
inserção na abordagem do processo saúde-doença.
Esta propriedade da disciplina de desenvolvimento, relativamente recente,
frente à história das ciências em saúde está consolidada, podendo ser vista no
impressionante crescimento da produção acadêmica e pela sua crescente
utilização dos serviços de saúde. Por um lado, a Epidemiologia Brasileira tem
demonstrado significativo interesse em desenvolver aplicações para o
planejamento e a gestão de sistemas e serviços de saúde.
Por outro lado, os epidemiologistas nacionais têm investigado principalmente
os problemas de saúde de grande importância social, estudando amplamente
determinantes sociais da saúde. Dentro desse contexto, torna-se importante
destacar que o Brasil tem se consolidado como o principal produtor de
conhecimento epidemiológico legitimado, metodologicamente, sobre os
determinantes sociais da saúde.
Atividade
1. Vamos fazer um teste para ver se você é capaz de identificar os
principais eixos temáticos da pesquisa epidemiológica no Brasil?
Marque as principais linhas de pesquisa em Epidemiologia que,
em sua opinião, estão sendo desenvolvidas no Brasil.
 a) Epidemiologia Genética.
 b) Farmacoepidemiologia.
 c) Gestão de Sistemas de Saúde.
 d) Adaptação Fisiológica e Metabólica.
 e) Determinantes Sociais da Saúde.
Referências
ALMEIDA FILHO, Naomar de; BARRETO, Maurício Lima. Epidemiologia & Saúde:
fundamentos, métodos, aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
ALMEIDA FILHO, Naomar de; ROUQUAYROL,Maria Zélia. Introdução à
Epidemiologia. 4ª ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006.
PEREIRA, Maurício Gomes. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.
ROUQUAYROL, Maria Zélia; ALMEIDA FILHO, Naomar de. Epidemiologia e saúde.
6ª ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003.
Próximos Passos
Epidemiologia aplicada ao SUS;
Políticas Públicas de Saúde;
Ações, estratégias, planos e programas de Prevenção de Doenças e Promoção de
Saúde.
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