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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ MBA EM GESTÃO DE PROJETOS Resenha Crítica de Caso Monica Pinheiro Trabalho da disciplina Gerenciamento de prazos Tutor: Prof. Sueli Rio de Janeiro 2020 http://portal.estacio.br/ BAE AUTOMATED SYSTEM (A): SISTEMA DE MANEJO DE BAGAGEM DO AEROPORTO INTERNACIONAL DE DENVER Referências: LYNDA M. APPLEGATE; RAMIRO MONTEALEGRE; H. JAMES NELSON E CARIN ISABEL KNOOP O projeto de construção do aeroporto de Denver surgiu da necessidade de uma demanda política, de crescimento econômico e de rota operacional das companhias aéreas que na época utilizavam a cidade para fazerem os seus hubs. Os gerentes do projeto recomendaram a inclusão de um amplo sistema integrado de manejo de bagagem para melhorar a eficiência da entrega de bagagens depois que o aeroporto já estava sendo construído há 2 anos. Sabemos que essas inclusões fora do planejamento inicial podem causar sérios problemas no gerenciamento de custos e no prazo de entrega dos projetos em geral. O design inicial do projeto não incorporava um sistema de bagagem para todo o aeroporto; o aeroporto esperava que as companhias construíssem individualmente seus próprios sistemas como na maioria dos outros aeroportos americanos. Como isso, não aconteceu, porque as empresas aéreas não tomaram nenhuma atitude a esse respeito (exceto a United que tinha contratado a BAE), os planejadores do aeroporto e os consultores começaram a escrever as especifica ções para lançar uma licitação para atender a essa demanda. A BAE Automated Systems Inc., uma empresa de manufatura e de consultoria de engenharia, bastante conceituada no mercado mundial no design e implementação de sistemas de manejo de materiais, tinha condições de desenvolver um sistema automatizado de bagagens em Denver e ganhou o contrato. A estrutura organizacional da empresa apresentava a tipologia estruturação por projetos (“o departamento de engenharia era estruturado em função dos principais projetos. Cada projeto tinha um gerente de projetos alocado que respondia diretamente ao presidente da empresa”). Nesse caso, o gerente de projetos tem efetiva autoridade sobre toda a estrutura que se desdobra a partir dele, o que lhe permite priorizar especificamente o projeto do qual é dependente. Cita o texto que entre 1972 e 1994, a empresa tinha projetado, fabricado e instalado com sucesso quase 70 sistemas de manejo de bagagens em grandes aeroportos nos EUA, o que comprova decididamente que tinha competência e experiência suficiente para realizar o trabalho. Entretanto, certas situações nesse projeto não lhe favoreciam êxito: 1. contratação tardia- dois anos depois que a obra tinha se iniciado; 2. modificação da sua linha de trabalho para se adaptar as condições impostas por outros parceiros no projeto (“A BAE teve de mudar sua estrutura de trabalho para se adequar a estrutura de gestão de projetos do DIA”); 3. tempo exíguo de entrega, o que não lhe favoreceria a realização de testes; 4. atendimento as demandas das companhias aéreas com diversas modificações (eliminação de trilhos, adição de dispositivos para esquis e elevadores para bagagens não convencionais, sistemas automatizados de triagem de bagagem, dentre outras, algumas das quais foram solicitadas faltando apenas 6 meses para a data da primeira inauguração do aeroporto). Sabemos que quanto mais tardia e mais próxima da entrega for a mudança solicitada, mais dispendiosa será a realização dessa alteração, além de apresentar maior dificuldade devido os seus impactos nas outras áreas do projeto; 5. uso de tecnologia recente, o que trazia um alto grau de incerteza nas definições técnicas e de projeto; 6. grande número de entidades a serem atendidas pelo mesmo sistema; 7. o gerente da área ao qual a empresa respondia não tinha experiência com construção de aeroportos e nem com tecnologia do sistema de bagagens; 8. perda da autonomia para tomada de decisões (“havia um gerente sênior para cada uma das asas e um gerente para o termi- nal principal. O sistema de bagagem, no entanto, permeava todos eles. Se eu tives- se de argumentar sobre a melhor maneira de fazer alguma coisa eu tinha de convencer todos os gerentes porque eu estava cruzando todos os quatro reinos”); 9. encurtar distâncias geográficas relevantes dentro do próprio aeroporto de uma ponta a outra de maneira simultânea e por meio de sistema automatizados de bagagens e deslocamentos de passageiros por meio de túneis para diminuir o tempo de operações de hub, tempo de permanência em solo e com diminuição do manejo de bagagens era por si só um grande desafio a ser cumprido em um projeto com gerenciamento repartido, comunicação prejudicada e espaços compartilhados onde a execução de suas tarefas poderiam ficar atravancadas pelos trabalhos de outras empresas (“uma mecânica da BAE deparou com um caminhão da Hensel Phelps, o empreiteiro da asa C, bloqueando seu local de trabalho. Ela pediu a alguém paratirar o caminhão ou deixar as chaves para que fosse retirado. De acordo com um supervisor da BAE disseram a ela que aquele não era um trabalho da BAE e eles podiam estacionar onde quisessem”); 10. enfrentaram uma greve trabalhista o que ajudou a atrasar ainda mais os serviços a serem prestados; 11. relacionamento com a equipe gerencial era muito ruim e isso prejudica o andamento do projeto Pelos motivos, expostos acima, as chances de insucesso da BAE eram grandes nesse projeto. As multas impostas a BAE e a atribuição a ela da responsabilidade de arcar com os custos do sistema de backup de bagagens foram provavelmente insuficientes para compensar todos os transtornos causados a cidade pelo atraso da entrega do novo aeroporto. A alocação de uma nova tecnologia num projeto complexo merecia um estudo mais pormenorizado, com um calendário menos apertado que possibilitasse a realização de testes, antes da entrega do serviço ao cliente. Não houve um estudo prévio em relação ao fornecimento de energia para funcionamento do sistema proposto (não foi verificada a sustentabilidade do sistema), ele representava uma revolução de mercado, mas não se fez nenhuma diligência a respeito da rede elétrica da região, existe no texto o registro de que ocorreu curto em centenas de motores, projetou-se a correção dessa situação por meio de filtros, mas somente depois de 2 anos é que se conseguiu reverter o problema em função de um cancelamento de contrato sem análise criteriosa do gestor onde estariam previstos os filtros de correção que seriam utilizados. O tempo de correção extrapolou até a necessidade mandatória de solução do problema. A empresa colocou e risco sua reputação ilibada de mercado por ter assumido a responsabilidade de correr um alto risco em um projeto eivado de vícios. Provavelmente o dinheiro recebido desse contrato não deve ter compensado todos os problemas dele oriundos. Embora o título do texto se refira ao sistema de manejo de bagagem do Aeroporto Internacional de Denver, especificamente a situação da BAE, identificamos durante a leitura do mesmo que existiram outros problemas também relevantes durante o início, planejamento e execução do projeto que contribuíram para dificuldade no seu encerramento e encarecimento de custos. Notamos que ocorreram: 1. retrabalho (“mudanças substanciais tiveram de serem feitas no design do terminal como um todo e uma parte da construção já feita teve que ser demolida e refeita para acomodar o sistema expandido e paredes tiveram que ser demolidas e um novo piso instalado no prédio terminal para sustentar o novo sistema”); 2. aumento de custos (diversas partes do texto comprovam a elevação de custo, entretanto citaremos apenas um deles: “dispositivos para esquis eelevadores para bagagens não convencionais adicionado sem quatro das seis seções do terminal acrescentaram $1,61 milhões ao custo do sistema”); 3. perda do prazo de entrega da obra (“problemas na construção não permitiram que o aeroporto fosse inaugur ado na data programada em outubro de 1993” e a ainda a passagem descrita no texto: “na sequência, problemas com a implantação do sistema de bagagens forçaram atrasos na inauguração do aeroporto por outras três vezes em sete meses”); 4. alocação equivocada da mão de obra (“a força de trabalho no canteiro de obras excedeu 2.500 trabalhadores por um período de 15 a 18 meses começando na metade de 1991 e teve seu pico entre 9.000 e 10.000 na metade de 1992”); 5. desgaste da imagem dos políticos da cidade (“em maio de 1994, sob crescente pressão dos acionistas, da comunida- de empresarial, dos moradores de Denver, dos comissários da Federal Aviation Administration (FAA), e das companhias aéreas e concessionárias inquilinas, o prefeito de Denver, Wellington Webb anunciou que estavam contratando a empresa alemã Logplan para ajudar a avaliar o estado do sistema automatizado de bagagens”, além disso, Webb, passou seu mandato sem cumprir a inauguração do aeroporto”); 6. comprometimento da imagem das empresas envolvidas no projeto; 7. falta de comunicação entre as partes interessadas (“...apesar da forte deterioração da comunicação e frequente hostilidade.”; os canais de comunicação entre a cidade, a equipe de gestão do projeto e os consultores não eram bem definidos e controlados”); 8. faltou integração entre as etapas do trabalho que estavam sendo desenvolvidas; 9. falta de conhecimento profundo do segundo engenheiro da obra sobre a construção que estava sendo realizada (ela não foi preparada para substituir o engenheiro líder na sua falta e teve seu poder decisório limitado; “a morte de Slinger... teve um impacto significativo no projeto”; “sua substituta Gail Edmond... tinha um entendimento sobre como o projeto estava organizado e quem eram os principais atores, mas não sabia muito sobre a construção”; “além disso a Câmara dos Vereadores não deu a ela a autonomia a autoridade que Slinger tinha” ); 10. documentação em demasia de uma parte da obra (“o engenheiro residente alertava o empreiteiro e documentava tudo”; “o engenheiro residente tinha aproximadamente cinco a oito gavetas cheias de documentação, sem falar na documentação do gerente da área”; havia pelo menos quatro a seis cópias de tudo”). E será que havia uma gestão integrada desses documentos? 11. projeto subdividido em outros subprojetos sem gerenciamento precoce feito através de algum programa para interligar o que estava sendo concretizado; 12. a economia na época também não favorecia a operação de um projeto complexo dessa monta que requeria um alto investimento (“a economia capenga”; ingresso de Denver em uma política sem precedentes de obras públicas maciças para salvar a região”); 13. não colocou todos os stakeholders para analisar as suas necessidades no início do projeto (porque as três companhias aéreas só aderiram ao projeto quando ele já estava sendo realizado; “a cidade não reuniu as companhias aéreas ou perguntou o que elas queriam ou precisavam para operar”); 14. ocorreu muito otimismo na escolha da construção do novo aeroporto com superestimação de retorno que não aconteceu porque o projeto não foi concebido dentro de uma condição realística; 15. não houve gerenciamento de riscos com suas contingências; 16. cada empresa envolvida na obra tocou o seu trabalho como se não houvesse um fim comum (uma entrega a ser feita em conjunto) e não teve uma estratégia coletiva para seguimento de um escopo planejado por exemplo de custo e tempo (exemplo extraído do texto: “com os empreiteiros cada um por si, a anarquia reinava”; “cada um cuidava do seu pedaço”); 17. o período prolongado de avaliação e negociação antes da aprovação final do projeto, e o plano financeiro escolhido, prejudicou a realização da obra ; 18. o prefeito Webb teve que aprovar um sistema substituto para o da BAE, o que implicou em custos adicionais, além da contratação de uma empresa alemã para verificação do sistema inicial e outra para operacionalizar o sistema de backup (sistema substituto); 19. o nível de atividade aérea em Denver foi superestimado (premissa falsa); 20. mudanças no projeto sem acompanhamento integrado (“um dos maiores problemas nossos era acompanhar todas as mudanças”; ... “cada um tinha desenvolvido seu próprio sistema de acompanhamento antes do início do projeto”; ... “não tinha como pegar cada um desses sistemas divergentes e transformá-los em um relatório consistente”; ... “três anos para implantar o sistema de acompanhamento”; “nós tínhamos de estar pessoalmente envolvidos para entender o que estava acontecendo”; “não havia ninguém para ligar todos os pontos e sobrepor todos esses efeitos porque a organização básica pressupunha gerenciar essas áreas separadamente” “era um pandemônio”; “quem está no comando?”) 21. o estudo inicial recomendava a expansão da capacidade de Stapleton, mas eles preferiram construir um novo aeroporto; 22. faziam durante a obra reuniões periódicas, porém ineficazes (“tínhamos reuniões regulares para endireitar as coisas, mas nem sempre funcionava”); 23. a sequência a ser seguida deveria ter sido planejar, preparar e depois executar, até porque o projeto era bastante complexo, mas em função da pressa de concluir a obra partiram para o planejamento/construção conjunta e foram acertando os detalhes com o projeto em movimento o que aumenta a incidência de riscos, custos e atraso de entregas; 24. projeto fracionado por muitas empresas simultaneamente e sem controle, para o mesmo segmento da obra tinham várias empresas fazendo o trabalho (“cinco diferentes firmas projetavam as pistas e quatro o terminal”); 25. os administradores do projeto para contemplar todos os stakeholders tinham que equilibrar demandas administrativas, políticas e sociais; 26. coordenação compartilhada do projeto: “ficou evidente que estávamos duplicando esforços, o que era ineficiente” Entretanto, nem todas as etapas do projeto foram feitas de maneira aleatória, algumas estratégias por eles adotadas puderam ser identificadas como boas práticas, entre elas podemos citar: 1. a cidade de Denver encomendou um estudo junto ao Denver Regional Council of Governments para avaliar as necessidades do aeroporto; 2. a BAE construiu um protótipo do sistema automatizado de manejo de bagagens; 3. contrataram-se os melhores consultores em layout de pistas, impactos sonoros, layout de terminal, sistema viário interno e externo, estimativa de custos, análise financeira, e planejamento; 4. uso pela equipe de trabalho do brainstorming gerando o máximo possível de alternativas de layout; 5. reuniões foram realizadas para discutir e descartar alternativas em sessões conjuntas periódicas de trabalho; 6. foi formado um subcomitê técnico com objetivo de amealhar contribuições dos futuros usuários do aeroporto, das companhias aéreas, dos pilotos e da FAA 7. foi realizada previamente a seleção do local; plano master; avaliação ambiental; e desenvolvimento de apoio ao projeto, informando ao público sobre os seus benefícios econômicos; 8. planejaram a data da DBO e depois planejaram 6 meses extras, caso houvesse um atraso na inauguração, o que permitiu criar uma estabilidade junto ao mercado; 9. financiaram de maneira conservadora e encheram cada conta de reserva ao máximo; 10. tomaram emprestado o máximo de dinheiro que puderam a uma taxa de juros mais baixa, reduzindo o custo da dívida como imaginaram; 11. os interessados procuraram opiniões especializadas (“a câmara de comércio, os vereadores, o prefeito e os deputadosestaduais participaram de discussões informais com outras cidades que tinham construídos aeroportos recentemente”; a cidade de Denver consultou o Strauss Airport de Munique que tinha um sistema automatizado de bagagem, mas bem menos complexo do que o do DIA ); 12. maximização dos negócios locais e também do emprego da mão de obra da região 13. foram fechados os marcos do projeto: “o design não poderia ser mudado além de uma data combinada e haveria uma série de datas-limite para definição do design mecânico, do design do software, dos requisitos permanentes de energia e coisas afins e as provisões consideravam principalmente acesso total, término de certas áreas dentro do prazo, provisão de energia permanente, provisão de salas de computadores”. Por fim, chegamos a conclusão que a BAE teve sua responsabilidade no atraso da entrega do aeroporto na data estipulada, mas mesmo se ela tivesse feito a sua parte corretamente provavelmente a obra não teria sido inaugurada por outro motivo concorrente, já que o projeto estava eivado de vícios que comprometiam seu sucesso na íntegra e de imediato. A BAE foi penalizada, mas por baixo desse iceberg existiam situações mais robustas tais como: falta de cautela no planejamento detalhado do projeto, falhas na execução por falta de um comando integrado, ausência de monitoramento e controle dos processos, o que por si só, encareceu muito a obra e causou a perda do prazo. Outros fatores que também comprometeram o projeto foram a ausência de escolha de uma metodologia e\ou de um conjunto de Boas Práticas que favorecessem o gerenciamento do projeto diminuindo a chance de fracasso.
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