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Thaís Silva PATOLOGIA (caso 2) MEDICINA – 3º SEMESTRE 2020 Doenças exantemáticas Parvovírus B19 Os parvovírus (Eritrovírus B19) estão entre os menores DNA vírus já identificados (cerca de 22nm de diâmetro) e sendo não envelopados. Vírus da família Parvoviridae e gênero eritrovírus. Único parvovírus patogênico humano conhecido. Transmissão: aérea, transplacentária. Ampla variedade de manifestações da doença que dependente do status imunológico e hematológico do hospedeiro. Patogênese Depende de células mitoticamente ativas para replicação. Tem uma faixa de células alvo muito estreita por conta dessa dependência e pode ser propagado apenas em células progenitoras eritróides humanas (ou primatas, em condições experimentais). Os seres humanos são o único hospedeiro conhecido do parvovírus B19. Nas células eritróides humanas, a suscetibilidade ao parvovírus B19 aumenta com a diferenciação - as principais células-alvo são progenitores eritróides (células capazes de dar origem a colônias eritróides in vitro) e eritroblastos. A infecção pelo parvovírus B19 é citotóxica devido à expressão de proteína não estrutural nas células infectadas. As culturas de células infectadas são caracterizadas pela presença de pronormoblastos gigantes (25 a 32 μm de diâmetro), vacuolização citoplasmática, cromatina imatura e grandes corpos de inclusão nuclear eosinofílica (rosados). Por microscopia eletrônica, partículas de vírus são vistas no revestimento do núcleo e da membrana citoplasmática e as células infectadas mostram cromatina com margens, formação de pseudópodes e vacuolização citoplasmática, características típicas de células submetidas à apoptose. A especificidade eritriode do parvovírus B19 se deve à distribuição tecidual do receptor celular do vírus, também conhecido como antígeno do grupo sanguíneo P, que é encontrado em progenitores eritróides, eritroblastos e megacariócitos. Também está presente nas células endoteliais, que podem ser alvos de infecção viral envolvida na patogênese da transmissão transplacentária, possivelmente vasculite e erupção cutânea da quinta doença (Eritema infeccioso) e nas células miocárdicas fetais. Indivíduos que carecem geneticamente de antígeno P nos eritrócitos são resistentes à infecção por B19 e sua medula óssea não pode ser infectada nem in vitro. Patogênese da erupção cutânea no Eitema infeccioso e na poliartropatia: É mediada por complexo imune, lesão de células endoteliais em vaso infectado. Estes sinais apareceram quando a viremia de individuos com alto título não é mais detectável e coincidia com uma resposta imune detectável. Achados semelhantes foram relatados em indivíduos infectados cronicamente que receberam terapia com imunoglobulina. Proteína não estrutural B19, além de induzir apoptose nas células hospedeiras, também induz a ativação da interleucina6, o que poderia contribuir in vivo para a artropatia induzida por B19, produção de anticorpos autoimunes. Medula óssea de lactente infectado com parvovírus B19. As setas apontam para dois precursores eritroides com grandes inclusões intranucleares homogêneas e borda periférica de cromatina residual. A cromatina do núcleo é empurrada para a borda. Hidropisia fetal: Acúmulo de líquido (edema) no feto durante o crescimento intrauterino por HF não imune, sendo característico também de anemia hemolítica (HF imune – ex. eritroblastose fetal) e HFs não-imunes Thaís Silva PATOLOGIA (caso 2) MEDICINA – 3º SEMESTRE 2020 O efeito citotóxico do parvovírus B19 sobre os eritrócitos pode acarretar anemia fetal e hidropsia decorrente da anemia, ainda que seja uma intercorrência rara. Níveis fetais de hemoglobina inferiores a 2g/dL estão associados ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca congestiva. O vírus também pode infectar células do miocárdio, contribuindo para o agravamento do quadro. Trombocitopenia também pode ser observada em cerca de 37% dos fetos com hidropsia. ERITEMA INFECCIOSO (associação da infecção das células endoteliais com uma resposta imune) Os sintomas começam com uma doença prodrômica inespecífica, que geralmente não é reconhecida. Pode haver sintomas de febre, coriza, dor de cabeça e dificuldade gastrointestinal leve, incluindo náusea e diarreia. Dois a cinco dias depois aparece erupção cutânea clássica nas bochechas, uma erupção vermelha ardente na bochecha, acompanhada de palidez circum-oral. Essa erupção pode evoluir para uma erupção segundo estágio dentro de alguns dias, um exantema maculopapular eritematoso no tronco e nos membros; quando essa erupção desaparece, produz uma aparência rendada (partes brancas e escuras). Sintomas dermatológicos: a bochecha “estapeada” clássica é muito mais comum em crianças do que adultos; a erupção do segundo estágio pode variar de um eritema muito fraco e quase imperceptível a um exantema florido; e a erupção cutânea pode ser transitória ou recorrente por semanas. No eritema infeccioso, as lesões não evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas, permanecem nas manchas vermelhas baixas e vão clareando, desaparecendo. Artralgia é geralmente simétrica, envolvendo principalmente pequenas articulações das mãos e pés, e dura de 1 a 3 semanas, embora possa persistir ou recorrer por meses ou até anos. Tem semelhança com artrite reumatoide: Na ausência de história de erupção cutânea, os sintomas podem ser confundidos com os da AR aguda. Chikungunya Manifesta-se clinicamente de três formas Aguda Subaguda Crônica Fase aguda: sintomas aparecem de forma brusca; febre alta (acima de 38ºC); artralgia intensa (predominantemente nas extremidades e nas grandes articulações), cefaleia e mialgia. É frequente a ocorrência de exantema maculopapular, de 2 a 5 dias após o início da febre em aproximadamente 50% dos doentes. Os sintomas costumam persistir por 7 a 10 dias, e a dor nas articulações pode durar meses ou anos e, ou ainda, converter-se em uma dor crônica incapacitante. O período médio de incubação da doença é de 3 a 7 dias (podendo variar de 1 a 12 dias). Fisiopatologia CHIKV possui uma rota estabelecida de infecção em humanos, com certos tipos de células sendo particularmente suscetíveis à infecção: células epiteliais e endoteliais humanas, fibroblastos primários e macrófagos derivados de monócitos. Células linfóides e monocitóides, linfócitos e monócitos primários e células dendríticas derivadas de monócitos não demonstraram replicação de CHIKV. Resposta imune Após a primeira rodada de replicação, há uma resposta imune do hospedeiro, o vírus vai para os linfonodos e depois para outros tecidos. A replicação em outros tecidos leva à fase virêmica da doença, que é adicionalmente quando os mosquitos podem transmitir a doença através do sangue. Os linfócitos T CD8 + são encontrados em erupções cutâneas em pacientes na fase aguda, enquanto as células T CD4 + estão associadas a células articulares. Thaís Silva PATOLOGIA (caso 2) MEDICINA – 3º SEMESTRE 2020 Essa evidência foi apoiada por experimentos que descobriram que havia uma ativação das células T CD8 + no início da infecção, seguida pela apoptose induzida por CHIKV das células T CD4 +, com partes posteriores do estágio agudo demonstrando uma contagem mais alta de células CD4 +. O BST-2 (antígeno estroma da medula óssea 2) pode proteger os tecidos linfáticos e regular as respostas inflamatórias do hospedeiro induzidas por CHIKV. Há evidências de que a inflamação decorrente da infecção pelo CHIKV tem consequências para a proliferação e função dos osteoblastos e osteoclastos, o que pode contribuir para os efeitos do CHIKV crônico. Várias das citocinas associadas à infecção, como TNF-α, IL-6 e IL-1, promovem a atividade osteoclástica e foram associadas à osteoclastogênese. Sintomas neurológicos podem ser graves, principalmente em neonatos, mas são incomuns. Patologia Histopatologia em humanos: casos fatais são raros e ocorrem principalmente em partes remotas do mundo, onde o acesso à saúde é mais difícil. O que se observa com os poucos casos avaliados é que se tem uma ativação intensa de cascata inflamatória de citocinas, incluindo o TNF-α, interleucinas e outros mediadores, que aumentam a permeabilidade endotelial vascular e desencadeiam outras lesões teciduais, daí, observa-se: - Pulmões: edema alveolar generalizado sem infiltrados inflamatórios - Rins: edema glomerular e nefrite intersticial tubular, além de necrose tubular em alguns casos - Coração: pericardite aguda e incipiente com infiltrados inflamatórios mononucleares - Fígado: necrose hepatocelular não-confluente coagulativa - Baço: congestão com plasmocitose reativa. Zica O período de incubação é estimado entre 3 a 14 dias. A maioria das pessoas infectadas pelo vírus Zika não desenvolve sintomas. Os sintomas são geralmente leves, incluindo febre, erupção cutânea, conjuntivite, dores musculares e articulares, mal-estar e dor de cabeça e geralmente duram de 2 a 7 dias. - Existem três formas principais de transmissão do Zika Vírus: Transmissão pela picada do mosquito Aedes Aegypti, sexual, e de mãe para o feto durante a gravidez. No caso do feto ser infectado durante a gestação, este pode desenvolver lesões cerebrais irreversíveis e ter comprometida, definitivamente, toda a sua estrutura em formação. As doenças neurológicas, especialmente nas crianças com a doença congênita (infectados no útero materno), têm sequelas de intensidade variável, conforme cada caso. Gatilho da síndrome de Guillain-Barré, neuropatia e mielite, principalmente em adultos e crianças mais velhas. o SGB -Síndromes neurológicas não-congênitas -Polirradiculoneuropatia autoimune pós-infecciosa que ocorre após um estímulo antigênico (ex. bactéria ou vírus) -Geralmente, todos os pacientes com SGB possuem anticorpos neutralizantes para ZIKV. Febre do zika Quando os sintomas ocorrem, eles tipicamente compreendem uma síndrome leve e autolimitada, com duração inferior a 2 semanas. Febre baixa, erupção cutânea, artralgias e conjuntivite (não purulenta) bilateral, com dor retro orbital, mialgias, linfadenopatia, dor de garganta, úlceras aftosas e sintomas geniturinários e gastrointestinais menos relatados. - A erupção cutânea geralmente é pruriginosa, eritematosa e maculopapular, e se espalha de maneira descendente da face para as extremidades. Histologia: inflamação cutânea enespecifica linfocítica perivascular leve a moderada Thaís Silva PATOLOGIA (caso 2) MEDICINA – 3º SEMESTRE 2020 Artralgias frequentemente envolvem as articulações das mãos e pés e podem ser acompanhadas de edema periarticular. Pode estar presente leucopenia, trombocitopenia e enzimas hepáticas elevadas. Raramente, pode ocorrer doença grave e até fatal por ZIKV, particularmente em situações de trombocitopenia grave ou doença subjacente. - 20% dos adultos infectados apresentam algum alteração. - Durante a gestação o momento dessa infecção faz toda a diferença, sendo mais grave no primeiro trimestre que no segundo e terceiro. Erupção cutânea maculopapular Úlceras aftosas no lábio Inflamação linfocítica perivascular em pele Síndrome congênita do zika Pode incluir: desproporção craniofacial, espasticidade, convulsões, irritabilidade e disfunção do tronco cerebral, incluindo dificuldades alimentares, anormalidades oculares e achados em neuroimagem, como calcificações, distúrbios corticais e ventriculomegalia - A maioria dos bebês com CZS nasce de mães com febre sintomática do zika no primeiro trimestre; algumas (70%) das mães de bebês microcefálicos tiveram erupção cutânea no primeiro trimestre. Microcefalia: circunferência da cabeça occipitofrontal 2 ou mais DP (desvio padrão) abaixo da média para sexo e idade gestacional ao nascimento, e é categorizada como grave se a circunferência da cabeça for 3 ou mais DP abaixo da média. Pode revelar calcificações cerebrais, afinamento cortical com dilatação ventricular, padrões giros simplificados e hipoplasia cerebelar, afinamento da ponte e do tronco cerebral. Rarefação periventricular e da substância branca com infiltrados macrofágicos, infiltrados linfocitários perivasculares, proliferação e ativação microglial e nódulos gliais são variavelmente relatado. Estreitamento cortical Apoptose / necrose de células neurais corticais (setas) Calcificações corticais (setas). Varicela Também conhecida como catapora, é uma doença infecciosa e altamente contagiosa causada pelo vírus Varicela-Zoster, que se manifesta com maior frequência em crianças. Thaís Silva PATOLOGIA (caso 2) MEDICINA – 3º SEMESTRE 2020 A principal característica é o polimorfismo das lesões cutâneas, que se apresentam nas diversas formas evolutivas (máculas, pápulas, vesículas, pústulas e crostas), acompanhadas de prurido. Causa mal estar, cansaço, dor de cabeça, perda de apetite e febre baixa. - Transmissão: contato com o líquido da bolha ou por tosse, espirro, saliva (e objetos contaminados). Ocorre entre 1 a 2 dias antes do aparecimento das lesões de pele e até 6 dias depois, quando todas as lesões estiverem na fase de crostas. As bolhas surgem inicialmente na face, no tronco ou no couro cabeludo, se espalham e se transformam em pequenas vesículas cheias de um líquido claro. Em poucos dias o líquido escurece e as bolhas começam a secar e cicatrizam. Esse processo causa muito prurido, e eleva o risco de infeções secundárias. PERÍODO PRODRÔMICO – inicia-se com febre baixa, cefaleia, anorexia e vômito, podendo durar de horas até 3 dias. Incomum na infância, sendo o exantema o primeiro sinal da doença. Em crianças imunocompetentes, o início é repentino, apresentando febre moderada durante 2 a 3 dias, sintomas generalizados inespecíficos e erupção cutânea. PERÍODO EXANTEMÁTICO – as lesões aparecem em surtos sucessivos de máculas que evoluem para pápulas, vesículas, pústulas e crostas. Tendem a surgir mais nas partes cobertas do corpo, podendo aparecer no couro cabeludo, na parte superior das axilas e nas mucosas oral e das vias aéreas superiores. Em adultos imunocompetentes, a doença cursa de modo mais grave do que em crianças (menos frequente, cerca de 3% dos casos). A febre é mais elevada e prolongada, o estado geral é mais comprometido, o exantema mais pronunciado e as complicações mais comuns podem levar a óbito, principalmente devido à pneumonia primária. Síndrome de Reye: Ocorre em crianças e adolescentes que fazem uso do ácido acetilsalicílico (AAS) durante a fase aguda. Vômitos após o pródromo viral, seguido de irritabilidade, inquietude e diminuição progressiva do nível da consciência, com edema cerebral progressivo. Resultado do comprometimento hepático agudo, seguido de comprometimento cerebral. Vírus Varicela-Zoster (VZV) Infecta inicialmente o trato respiratório ou o epitélio conjuntival, onde se reproduz e se espalha pelo sangue e sistema linfático. O envolvimento da pele domina o quadro clínico. Espalha-se do endotélio capilar para a epiderme, onde sua replicação destrói as células basais com isso, as camadas superiores da epiderme se separam da camada basal para formar vesículas. Durante a infecção primária, o VZV estabelece infecção latente nas células satélites perineuronais dos gânglios da raiz do nervo dorsal. A transcrição de genes virais continua durante a latência, e o DNA viral pode ser demonstrado anos após a infecção inicial. essa reativação é a herpes zoster. Herpes zoster: replicação do vírus nas células ganglionares e o agente viaja pelo nervo sensitivo, infecta a epiderme, produzindo uma erupção vesicular dolorosalocalizada. A imunidade mediada por células prejudicada aumenta o risco de reativação do VZV. o Morfologia: o vírus infecta queratinócitos e causa lesões vesiculares, que, diferentemente da varicela, são associadas a prurido intenso, queimação ou dor aguda. Essa dor é intensa quando os nervos trigêmeos estão envolvidos; raramente, o núcleo geniculado está envolvido, causando paralisia facial (síndrome de Ramsay Hunt). o Histologia: gânglios sensoriais contêm um denso infiltrado predominantemente mononuclear, com inclusões intranucleares herpéticas nos neurônios e em suas células de suporte. O VZV raramente se repete em indivíduos imunocompetentes (em apenas 1-4% dos indivíduos infectados), mas as pessoas imunossuprimidas ou mais velhas podem ter várias recorrências de VZV. Por esse motivo, a vacinação para prevenção de herpes zoster é agora recomendada em todos os pacientes acima de 60 anos e em adultos mais jovens com distúrbios crônicos que podem prejudicar a imunidade. Thaís Silva PATOLOGIA (caso 2) MEDICINA – 3º SEMESTRE 2020 Complicações Infecção bacteriana secundária (Streptococus ou Stafilococus) das vesículas, causando celulite ou, raramente, fasciite necrotizante ou choque tóxico por estreptococos Pneumonia: pode complicar a doença grave em adultos, recém-nascidos e pacientes imunocomprometidos de todas as idades, mas não é comum em crianças jovens imunocompetentes. Lesões pulmonares necróticas disseminadas e focais, pneumonia intersticial. As inclusões virais são nucleares, eosinofílicas e refratárias e estão rodeadas por um halo claro. Multinucleação pode ocorrer. Miocardite, hepatite e complicações hemorrágicas. Ataxia cerebelar pós-infecciosa aguda é uma das complicações neurológicas mais comuns. Em adultos, encefalite possivelmente fatal ocorre em 1 a 2/1.000 casos de catapora. MORFOLOGIA Erupção cutânea ocorre 2 semanas após a infecção respiratória. As lesões aparecem em múltiplas ondas centrífugas do tronco para a cabeça e extremidades. Cada lesão progride rapidamente de uma mácula para uma vesícula que se rompe, cria crosta e cura por regeneração, sem deixar cicatrizes. A infecção bacteriana das vesículas rompidas por trauma pode levar à destruição da camada epidérmica basal e cicatrizes residuais. HISTOLOGIA Vesículas intra-epiteliais, com inclusões intranucleares em células epiteliais na base das vesículas. Presença de neutrófilos Efeito citopático característico, com homogeneização nuclear e inclusões intranucleares (Cowdry tipo A). As inclusões são grandes e eosinofílicas e são separadas da membrana nuclear por uma zona clara (halo). Células multinucleadas são comuns. Seta reta: célula multinucleada/ Seta curva: inclusão nuclear Gânglio da raiz dorsal com infecção pelo vírus varicela- zoster. Observe a necrose das células ganglionares e a inflamação associada
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