Buscar

A ESCRITA 2

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 12 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FICHAMENTO DE CITAÇÃO
A escrita (pp. 95 – 146). Terceiro Capítulo
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Lingüística. São Paulo: Scipione 2008.
A ESCRITA
O mundo da escrita
“O ensino do português tem sido fortemente dirigido para escrita, chegando mesmo a se preocupar mais com a aparência da escrita do que com o que ela realmente faz e representa” (p.96); 
“Um dos objetivos mais importantes da alfabetização é ensinar a escrever. A escrita é uma atividade nova para a criança, e por isso mesmo requer um tratamento especial na alfabetização. Espera-se que a criança, no final de um ano de alfabetização, saiba escrever e não que saiba escrever tudo e com correção absoluta. Esse é um ponto importante e que relega a um plano secundário a preocupação com a ortografia durante o primeiro ano escolar” (p.96); 
“Até mesmo a forma gráfica da escrita não é bem compreendida pela escola. Dissemos, sem pestanejar, que usamos um sistema alfabético. Na verdade, esse sistema não possui uma forma e nem é completamente alfabético” (p.96);
“Historicamente, sabemos que á medida que um sistema alfabético é utilizado por um número grande de pessoas em lugares diferentes, para usos diversos, as formas das letras do alfabeto, que era única, passa admitir variantes. No mundo antigo, as variantes das letras se restringiam a uns poucos casos. O latim, por exemplo, não tinham as letras minúsculas. A escrita cursiva vai aparecer só na Idade Média, mas nessa o latim já era escrito com muitos tipos de letras: hoje, mesmo numa única folha da cartilha, encontramos uma variedade de tipos de alfabetos” (p.96, 97); 
“Quando a criança começa a aprender a escrever, ninguém lhes diz isso e, muitas vezes, ela fica admirada diante das coisas que a professora (os adultos) fazem com as letras. Com o tempo acaba aprendendo indiretamente o que a escola pretende. O grande problema nesse caso é que a escola ensina a escrever sem ensinar o que é escrever, , joga com as crianças sem lhe dizer as regras do jogo” (p.97);
“Alguns métodos de alfabetização ensinam a escrever pela escrita cursiva, chegando mesmo a proibir a escrita de forma” (p.97);
“A escrita de forma á muito mais fácil de aprender e reproduzir que a cursiva. Além disso, é a escrita de forma que aparece nos livros (exceto nas cartilhas). A escrita cursiva tem um uso muito particular, individual, mesmo nos dias de hoje” (p.97, 98);
“Além disso, o sistema cursivo é o mais complicado dos sistemas de escrita que existem no mundo, porque varia enormemente, seguindo as idiossincrasias de cada usuário. Para uma criança que esta começando a ler, ler o que escreveu ou, pior ainda, o que escreveu o colega, é algo terrivelmente difícil” (p.98); 
“Seria muito mais fácil e simples aprender a escrever e a ler, em primeiro lugar, através da escrita de forma maiúscula. Depois a criança aprenderia a escrita cursiva” (p.98);
“A escrita de forma, por exemplo, comporta pelo menos dois tipos: o maiúsculo e o minúsculo. E a diferença pictórica entre A e a é tão grande quanto a que existe entre um triangulo e um círculo” (p.98);
“A escrita de forma maiúscula se presta melhor para a fase de alfabetização” (p.98);
“Alguns professores fazem muita questão de enfatizar o uso da escrita cursiva e esquecem de verificar o que a escrita representa para a criança” (p.99);
“É preciso ouvir das criança o que é escrever, para que serve a escrita, valorizando as opiniões que cada uma possa apresentar. Por exemplo: uma criança pode representar seu nome por um conjunto de rabiscos e outra pode utilizar uma sequencia de letras” (p.99);
“O aluno no primeiro exemplo sabe que se usam sinais para representar a fala, mas desconhece que no nosso sistema de escrita usamos letras. O segundo sabe que se usam letras e não qualquer desenho, mas não sabe que existe um uso convencional e geral, na comunidade, para o emprego dessas letras” (p.99); 
“Enfim, é preciso não camuflar a complexidade da língua. Se refletirmos, por um momento, sobre o processo de aquisição da linguagem oral, veremos que as crianças aprendem a falar naturalmente” (p.100); 
“Quando as suas tentativas não são bem-sucedidas, os falantes adultos, de vários modos, atuam como mediadores entre a criança e o modelo, de tal modo que ela acaba construindo naturalmente o seu sistema linguístico de maneira adequada” (p.100);
“Mas, com relação á escrita, o que vemos é a imposição de um modelo, sem qualquer possibilidade, espacial ou temporal para a experimentação, tentativas e descobertas de cada criança, que se limita, como tarefa, a fazer cópias de vários traçados, num verdadeiro exercício de treinamento manual” (p.100); 
“Preocupada demais com a ortografia, a escola por vezes esquece que o principal, num primeiro momento, é que as crianças transportem suas habilidades de falantes para os textos escritos. Aos poucos se cuidará da ortografia, mas isso deve ser feito de uma forma que não amedronte quem ainda não sabe escrever” (p.100); 
O ato de escrever 
“Antes de apresentar um estudo mais detalhado a respeito do sistema de escrita do português e de seus problemas no ensino é preciso fazer algumas considerações a respeito da escrita em geral e do próprio ato de escrever” (p.100,101);
“Em muitas famílias de classe social baixa, escrever pode se restringir apenas a assinar o nome ou, no máximo, a redigir listas de palavras e recados curtos” (p.101);
“Porém, os que vivem num meio social onde se leem jornais, revistas, livros, onde os adultos escrevem frequentemente e as crianças, desde muito cedo, têm seu estojo cheio de lápis, canetas, borrachas, régua etc. acham muito natural o que a escola faz, por que, na verdade, representa uma continuação do que já faziam e esperavam que a escola fizesse” (p.101);
“Portanto, alfabetizar grupos sociais que encaram a escrita como uma garantia de sobrevivência na sociedade é diferente de alfabetizar grupos sociais que acham que a escrita, além de necessária, é uma forma de expressão individual de arte, de passatempo” (p.101);
“Escrever é também uma forma de expressão artística e até um passatempo. As crianças podem ficar muito motivadas para escrever; por outro lado, se elas não tiverem uma motivação real, poderá ser inútil mostrar-lhes toda a parafernália de letras e rabiscos própria da alfabetização” (p.102);
“A maneira como a escola trata o escrever leva facilmente muitos alunos a detestar a escrita e em consequência a leitura, o que é realmente um irreparável desastre educacional” (p.102);
“A arte literária não é motivação para a escrita para todas as pessoas, pelo contrário, penso que é de fato para poucas” (p.102);
A escrita
“A escrita, seja ela qual for, tem como objetivo primeiro permitir a leitura. A leitura é uma interpretação da escrita que consiste em traduzir os símbolos escritos em fala. Alguns tipos de escrita se preocupam com a expressão oral e outras simplesmente com a transcrição de significados específico, que devem ser decifrados por quem é habilitado” (p.103); 
“Uma placa com um triângulo tem uma palavra-chave atribuída convencionalmente à sua interpretação: preferencial. Porém, essa placa pode ser lida de outras maneiras, todas elas exprimindo exatamente o que a placa significa: […].” (p.103); 
“A placa se constitui numa escrita que procura não ter relação direta com a expressão sonora linguística, apresentando compromisso apenas com o valor semântico da mensagem. Por essa razão, esse sistema pode ser usado internacionalmente, de maneira igual, em regiões de cultura e línguas completamente diferentes” (p.103,104);
“Nesse momento a escrita sai de expressão linguística, referindo-se a um pensamento não necessariamente de natureza linguística” (p.104);
“Algo semelhante pode acontecer quando se dá o inverso, ou seja, quando a escrita representa o significante sem revelar nada do significado” (p.104);
“Um desenho não participa necessariamente de um tipo de escrita. A escrita, para ser qualificada com tal, precisa de um objetivo bem definido, que é fornecer subsídios para que alguém leia” (p.104);
“A escrita deve ter como objetivoessencial o fato de alguém ler o que está escrito” (p.104);
“Ler é condicionado pela escrita, mesmo que a restrição seja somente semântica. É exprimir um pensamento estruturado por outra pessoa, não pelo leitor falante” (p.104);
“A simples indicação é uma representação semiótica, mas não é escrita. Escrita se refere especificamente ao signo linguístico e à atividade de fala” (p.105);
“Quando se faz um desenho de uma casa para representar o objeto-casa, não se produz uma escrita. Mas, ao desenhar uma casa para que se diga casa, então está se escrevendo a palavra casa, Aí está claramente exemplificada a diferença entre desenhar e escrever” (p.105); 
“É importante que, logo de início, a professora vá esclarecendo os alunos a respeito das distinções entre fala, escrita e desenho” (p.106);
A história da escrita 
“A história da escrita vista no seu conjunto, sem seguir uma linha de evolução cronológica de nenhum sistema especificamente, pode ser caracterizado como tendo três fases distintas: a pictórica, a ideográfica e a alfabética” (p.106);
“A fase pictórica se distingue pela escrita através de desenhos ou pictogramas. Estes aparecem em inscrições antigas, mas podem ser vistos de maneira mais elaborada nos cantos Ojibwa da América do norte, na escrita asteca […] e mais recentemente nas histórias em quadrinhos” (p. 106); 
“Os pictogramas não estão associados a um som, mas à imagem do que se quer representar. Consistem em representações bem simplificadas dos objetos da realidade” (p.108);
“A fase ideográfica se caracteriza pela escrita através de desenhos especiais chamados ideogramas. Esses desenhos foram ao longo de sua evolução perdendo alguns dos traços mais representativos das figuras retratada e tornaram-se uma simples convenção de escrita” (p.108);
“As escritas ideográficas mais importantes são a egípcia (também chamada de hieroglífica), a mesopotâmica (suméria), as escritas da região do mar egeu (por exemplo, a cretense) e a chinesa (de onde provém a escrita japonesa)” (p.108);
“A fase alfabética se caracteriza pelo uso de letras. Estas tiveram sua origem nos ideogramas, mas perderam o valor ideográfico, assumindo uma nova função de escrita: a representação puramente fonográfica. O ideograma perdeu seu valor pictórico e passou a ser simplesmente uma representação fonética” (p.109);
“Antes que o alfabeto tomasse a forma que conhecemos atualmente, passou por inúmeras transformações” (p.109);
“Os fenícios utilizaram vários sinais da escrita egípcia formando um inventário muito reduzido de caracteres, cada qual escrevendo um som consonantal” (p.110); 
“Os gregos adaptaram o sistema de escrita fenícia, ao qual juntaram as vogais, uma vez que, em grego, as vogais têm uma função linguística muito importante na formação e no reconhecimento de palavras. Assim, os gregos escrevendo consoantes e vogais, criaram o sistema de escrita alfabeto” (p.110);
“Posteriormente, a escrita grega foi adaptada pelos romanos, e esta forma modificada constitui o sistema alfabético greco-latino, de onde provém o nosso alfabeto” (p.110);
“Os caracteres dos sistemas de escrita pictográficos e ideográficos podem se basear na representação semântica correspondente as unidades morfológicas e, mais raramente, a unidades maiores ou mesmos de que as palavras[…]” (p.111);
“Apenas os caracteres do sistema alfabético conseguem formar sistemas fonográficos, representando os sons da fala em unidade menores do que a sílaba: é, portanto, o sistema mais detalhado quanto à representação fonética” (p.111);
“Nem todos escrevem da esquerda para a direita e de cima para baixo, como nós, embora esse seja um modo muito comum entre os sistemas de escrita” (p.111);
“A escrita, seja ela qual for, sempre foi uma maneira de representar a memória coletiva religiosa, mágica, científica, política, artística e cultural” (p.112);
“Os jornais e revistas são hoje comuns quanto a comida. Para a maioria das pessoas, além de aprender a andar e a falar, é comum aprender a ler e a escrever” (p.112);
“Mais recentemente apareceram o rádio, o cinema e a televisão. A memória coletiva dos povos passou a ter outros meios de materialização” (p.113);
“Os instrumentos de escrita também têm se transformado muito ao logo do tempo, indo desde o pincel, o cinzel, o estilete, o lápis, a caneta, até as teclas das máquinas de escrever e dos computadores” (P.114);
“È curioso notar atualmente uma preocupação, talvez a mais séria da História, com relação à alfabetização do tipo tradicional, num momento em que breve está considerado analfabeto quem não conseguir operar as maquinas e computadores: […]” (p.114);
O sistema de escrita
“Os sistemas de escrita podem ser divididos em dois grandes grupos. Os sistemas de escrita baseados no significado (escrita ideográfica) e os sistemas baseados no significante (escrita fonográfica)” (p.114);
“Os sistemas baseados nos significados são, em geral, pictóricos, iconicamente motivados pelos significados que querem transmitir, e dependem fortemente dos conhecimentos culturais em que operam. Por outro lado, esse tipo de escrita não depende de uma língua específica” (p.114);
“uma escrita ideográfica traz consigo em geral significados mais abrangentes do que outros sistemas de escrita. Pelo que tenho observado, a unidade semântica menor que esse sistema de escrita traduz é a palavra (morfema)” (p.115);
“O outro tipo de sistema de escrita é o baseado no significante e depende essencialmente dos elementos sonoros de uma língua para poder ser lido e decifrado. Esse tipo depende crucialmente da ordem linear de escrita, que vem assinalada de uma maneira padronizada” (p.115);
“Todo sistema de escrita tem um compromisso direto ou indireto com os sons de uma língua, e como as línguas inexoravelmente mudam com o tempo, transformando a forma fônica das palavras, a escrita começa a ser de difícil leitura” (p.115);
“O contrário também acontece quando sistemas alfabéticos procuram representações escritas silábicas, morfológicas e até, além disso, em geral por necessidade de simplificação do excesso de detalhes que a escrita alfabética produz, em certas circunstâncias, para palavras de uso muito específico” (p.115); 
 “A variação linguística histórica levou os sistemas ideográficos ao alfabético, mas a variação sociolinguística puxa os sistemas alfabéticos para se tornarem mais ideográficos” (p.116);
“A escrita, para ser lida por outra pessoa, é apresentada geralmente em caracteres que facilitam a leitura. A caligrafia sempre foi uma arte que a mais avançada tecnologia não despreza” (p.116);
“As escritas ideográficas jogam muito com a habilidade lexical do leitor, e as escritas fonográficas com o poder de interpretação semântica” (p.116);
O sistema de escrita do português 
“Em primeiro lugar, as letras têm um uso alfabético, isto é, a uma letra corresponde um segmento fonético, como em pata [pata], faca [faka], vaca [vaka] etc.; p, a, t, f, c, v nos exemplos são letras e o sistema de escrita é o alfabeto propriamente dito” (p.117); 
“As letras podem perder a relação uma a uma entre símbolo e som, deixando de ter um uso propriamente alfabético, no sentido segmental, e adquirindo às vezes um valor silábico” (p.117);
“É preciso observar, por exemplo, que o nome da letra é pê, mas em apto seu valore [pi]. O valor silábico não provém só do nome das letras. Essa extensão do valor de uma letra pode ir além de uma sílaba” (p.117);
“Usamos ás vezes recursos especiais da escrita para representar alguns sons da fala, como o caso da utilização de duas letras para representar um som (dígrafos), por exemplo: ch em chá” (p.117);
“Na escrita do português existem também alguns sinais gráficos que confere um valor sonoro especial a letras ou conjunto de letras: são os chamados sinais diacríticos: acento agudo, acento grave, til, acento circunflexo, trema e, ainda, ponto de interrogação, ponto de exclamação, ponto final, reticências, aspas etc, sendo que esses últimos são sinais modificadores da entonação da fala” (p.118);
“Também é muito comum um uso morfológico de letras,sobretudo de grupos de letras, formando abreviaturas ou siglas” (p.118);
“Algumas abreviaturas e siglas, com o tempo, passam a ser consideradas com vida própria, distintas das palavras a que se referiam antigamente” (p.118);
“Apesar de nossa escrita conter números, siglas, sinais, ideográficos etc, ela é fundamentalmente alfabética, tendo com base a letra. Isso precisa ser bem claro, porque é uma prática comum, nas classes de alfabetização, usar a sílaba como base, trazendo confusões e dificuldades para a criança” (p.119);
“Existem fatos fonéticos da fala que o nosso sistema de escrita não dispõe de recursos para representar. Esses aspectos precisam ser recuperados pelo leitor. Se ele não souber fazê-lo de maneira adequada, nunca será um bom leitor” (p.119);
“Nosso sistema de escrita não dá indicação para: • sílaba: algumas palavras escritas podem ter na fala um número variável de sílabas; • duração relativa de cada sílaba: a palavra batata, por exemplo, tem uma sílaba breve, uma longa, outra breve, mas, pela escrita, isso não pode ser identificado; • acento atômico: o sistema de escrita não representa as sílabas tônicas da fala” (p.119, 120);
“A escrita tem que criar, com palavras, o ambiente não linguístico que serve de contexto para quem fala” (p.120);
A produção de textos 
“Num primeiro momento, a criança pequena tenta escrever rabiscos, em geral pequenos, e misturando linhas retas e curvas nem sempre faz o rabisco e depois interpreta; às vezes tenta escrever algo que pensou. O resultado é uma escrita cifrada cujo significado só o autor conhece” (p.120);
“A maioria das escolas, porém, não permite que a criança faça o seu aprendizagem de escrita como fez o da fala. Ela não tem liberdade para tentar, perguntar, errar, comparar, corrigir; tudo deve ser feito “certinho”, desde o primeiro dia de aula” (p.121);
“Nada impede que o professor vá introduzindo propostas de trabalho que considere necessárias e que, em sua prática, revelaram-se eficientes; por exemplo, a partir de reconhecimento das letras e de sua escrita, iniciar a montagem de um quadro de famílias silábicas que irá se completando no decorrer do trabalho” (p.122);
“Para começar a escrever, as crianças não precisam estudar gramática, pois já dominam a língua portuguesa na sua modalidade oral. A dificuldade está simplesmente no fato de as crianças não conhecerem a forma ortográfica das palavras após seus primeiros contatos com o alfabeto” (p.122);
“Algumas atitudes da escola com relação a produção de textos são desastrosas. Minha opinião é que as crianças devem escrever o que quiserem , como quiserem. A professora deve orientar quanto à forma do que se vai escrever, um bilhete, uma história, uma carta etc” (p123);
“Pode-se dizer que a escrita continua sendo entendida como aparelho da fala, e um texto bem escrito ainda continuam a ser considerado como aquele que não tem erro ortográfico.” (p.123);
“Somando-se a essa postura o desconhecimento da realidade linguística da criança, pode se entender melhor por que a escola custa tanto a ensinar, e o aluno sofre tanto para aprender.” (p.123);
“Deixar que os alunos escrevam redações espontâneas não dando muita atenção aos erros ortográficos e apostando na capacidade das crianças de escrever e se autocorrigir com relação à ortografia é de fato um estímulo e um desafio que o aluno sente ao trabalha[…]” (p.124);
 
A produção de textos espontâneos pelas crianças
“Inicialmente a professora pode transcrever histórias contadas pelas criança. Estas histórias podem ser colecionadas e permitem que a criança observe a relação que existe entre um texto oral e escrito, de forma mais natural e agradável, através de assuntos que vão ao encontro de seus interesses” (p.125);
“Texto é texto. A professora não deve usar o texto como pretexto para corrigir ortografia, concordância, regência, caligrafia etc, mas deve usá-las como fonte de informação a respeito de seus alunos, de seus progressos e dificuldades” (p.126);
“Uma boa prática, depois que as criança adquirem um certo desembaraço para escrever, é escrever com elas sobre a sua produção e conforme o caso, perguntar” (p.127);
“As histórias dos alunos podem ser lidas na classe pela professora, que tomará todo o cuidado em relação aos textos das crianças, respeitando-os e lendo-os no dialeto” (p.127);
“Essa capacidade para pensar e formar escrita em relação à fala é muito mais ativa nas crianças do que nos adultos, incluindo obviamente as próprias professoras de alfabetização” (p.128);
“A função da escrita deve ser trabalhada. Para isso é preciso que sejam lidos para crianças livros de literatura infantil, jornais, revistas, cartas, bilhetes, avisos etc” (p.129);
“Não se deve esquecer que nesta fase de desenvolvimento a criança precisa brincar. Todas as atividades devem ser feitas com prazer, utilizando jogos de diversos tipos de letras e palavras” (p.130);
Análise dos “erros” ortográficos dos textos 
“Um aluno, por exemplo, pode escrever algo como “élalevãotou” (ela levantou), que é um modo de escrever não-ortográfico, mas não tão “maluco” quanto alguém que não conheça o que ele faz possa imaginar” (p.137);
“Os alunos levam muitíssimo a sério (mesmo brincando) a tarefa de aprender a escrever e põem nisso um grande trabalho de reflexão, quando estimulados a se autodesenvolverem e não a fazerem um trabalho mecânico repetitivo, simplesmente” (p.138);
“Poderíamos analisar palavra por palavra dos textos dos alunos, mas agruparemos todos os casos em categorias:” (p.138);
Transcrição fonética 
“É interessante notar que esta categoria apresenta o maior número de casos, representando um quarto do total das amostras que tenho estudado, pois o erro mais comum dos alunos é caracterizado por uma transcrição fonética da própria fala” (p.138);
“•O aluno escreve i em vez de e, porque fala [i] e não [e]; por exemplo: dici (disse)” (p.139);
Uso indevido de letras
“O uso indevido de letras se caracteriza pelo fato de o aluno escolher uma letra possível para representar um som de uma palavra quando a ortografia usa outra letra. Por exemplo, o som [s] pode ser representado por s (sapo), por z (luz), por ss (disse), por ç (caça) etc” (p.140); 
Hipercorreção 
“A hipercorreção é muito comum quando o aluno já conhece a forma ortográfica de determinadas palavras e sabe que a pronuncia destas é diferente. Passa a generalizar esta forma de escrever; […]” (p.141);
Modificação da estrutura segmental das palavras
“Alguns erros ortográficos não refletem um a transcrição fonética nem de fato se relacionam diretamente com a fala. São erros de troca, suspensão, acréscimo e inversão de letras. Exemplo: a) troca de letras: save (sabe); b) supressão e acréscimo de letras: macao (macaco)” (p.142);
Juntura intervocabular e segmentação 
“Quando a criança começa a escrever textos espontâneos, verifica-se que costuma juntar todas as palavras. Exemplos: “eucazeicoela” (“eu casei com ela”), “mimatou” (“me matou”)” (p.142);
Forma morfológica diferente
“Alguns erros ortográficos acontecem porque, na variedade dialetal que se usa, certas palavras têm características próprias que dificultam o conhecimento, a partir da fala, de sua forma ortográfica: adepois (depois)” (p.143);
Forma estranha de traçar as letras 
“A escrita cursiva apresenta grandes dificuldade, não só para que escreve como para quem lê. […]. É o caso do aluno que escreve sabe de tal modo que quem lê vê escrito save (sabe)” (p.143); 
Uso indevido de letras maiúsculas e minúsculas
“Aprendendo que devem escrever os nomes próprios com letras maiúsculas, alguns alunos passam a escrever os pronomes pessoais também com letras maiúsculas; por exemplo, Eu. Normalmente as letras minúsculas são mais utilizadas” (p.144);
Acentos gráficos 
“A marcação de acentos gráficos, em geral, não é ensinada no inicio da aprendizagem da escrita e, portanto, esses sinais diacríticos estão em grande parte ausente dos textos espontâneos” (p.144);
Sinais de pontuação
“Estes sinais também não são ensinados logo no inicio e raramente ocorrem nos textos espontâneos”(p.144); 
Problemas sintáticos 
“Alguns erros de escrita que aparecem nos textos revelam problemas de natureza sintática, isto é, de concordância, de regência, mas que na verdade denotam modos de falar diferentes do dialeto privilegiado pela ortografia” (p.145);
Acertos
“No conjunto, vemos que certos textos aparentemente “horríveis”, contém uma quantidade de acertos superior à de erros […]. Na verdade o que em geral incomoda o professor é o tipo de erro; ele não admite que se escrevam coisas como pecoa em lugar de pessoa. Mas, como vimos, esses erros não se dão ao acaso” (p.146);
“É absolutamente indispensável que o professor faça um levantamento das dificuldades dos alunos, isso não pode ser visto através de palavras e frases já treinadas de cópias e atividades dirigidas. É preciso deixar os alunos escreverem textos livres, espontâneos, contarem histórias como quiserem” (p.146).