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Intoxicação: processo causado por substâncias endógenas ou exógenas, que levam a alterações fisiológicas que se manifestam por meio de sinais e sintomas variados A intoxicação medicamentosa é um dos principais motivos de procura pelos serviços de emergência e, mais de 75% envolvem envenenamento intencional para fins suicidas Intoxicação é um agravo de notificação compulsória que deve ser feita em até 1 semana após a ocorrência, com exceção dos casos de TS (tentativa de suicídio), cuja notificação deve ocorrer em até 24h Medicamentos são a maior parte da causa de intoxicação no Brasil; intoxicação exógena é o meio utilizado em mais de 50% das TSs notificadas no Brasil, sendo as mulheres quase 70% do total; quando se trata de suicídio propriamente dito, intoxicação é a 2ª causa mais comum, sendo enforcamento em primeiro lugar Abordagem clínica diante da suspeita de intoxicação: Identificar o paciente e suas condições atuais Investigar se há uso contínuo de medicamentos Identificar os agentes tóxicos Apurar a quantidade ingerida Determinar o horário do evento Verificar via e local de exposição Descobrir motivo/circunstância da exposição Perguntas a serem feitas: Questionar as substâncias Quantidade ingerida Tempo desde a ingestão Se houve utilização de outros produtos (álcool, cocaína, anfetaminas) Se alguma medida foi tomada após a intoxicação (provocar êmese, ingerir leite ...) Exame físico: avaliar nível de consciência, sinais vitais, pupilas e alterações neuromusculares Exames laboratoriais: identificar complicações e auxiliar no manejo; hemograma, teste de glicemia, gasometria arterial, dosagem de eletrólitos (sódio, potássio, magnésio, cloro), avaliação da função renal, teste de enzimas hepáticas, CPK e ECG Suporte: o aspecto mais importante no tratamento dos pacientes intoxicados, pois são suficientes para efetuar a recuperação completa do paciente (sem procedimentos específicos ou invasivos). Seu objetivo principal é estabilizar os sinais vitais, em alguns casos, há necessidade de medidas individualizadas (aplicação de antídotos) LÍTIO É a terapia mais eficaz nos transtornos de humor, depressão e mania, além de ter ação antissuicida de longo prazo em pacientes com transtorno bipolar. No entanto, os riscos de intoxicação são altos, por isso os médicos sempre prescrevem menos do que deveriam Fatores de risco para intoxicação por lítio: Medicamentos que alteram a função renal (IECAs, diuréticos, AINEs, outros) Infecções virais com febre ou gastroenterites com diarreia e vômitos Desidratação por baixa ingestão hídrica ou sudorese excessiva Portadores de insuficiência renal Sexo feminino População idosa Tratamento: Suspensão imediata do lítio Estabilização das vias aéreas, respiração e circulação Administração de fluidos via intravenosa e reposição da perda hídrica. Hidratação intravenosa deve ser fornecida com solução salina isotônica e, em caso de diabetes insípido nefrogênico os níveis de sódio precisam ser monitorados para evitar hipernatremia Recomenda-se também irrigação intestinal completa com polietilenoglicol nos casos de uso de lítio de liberação prolongada (doses variam de 500mL a 2L/h e devem ser administrados até que não haja mais resíduos fecais). As contraindicações para irrigação intestinal, incluem obstrução mecânica, íleo paralítico, perfuração e sangramento gastrointestinal Não recomenda-se carvão ativado Hemodiálise deve ser realizada: o Litemia > 4, independente do estado clínico do paciente o Litemia > 2,5, se houver sintomas neurológicos ou naqueles portadores de insuficiência renal prévia ou IC (uma vez que tais patologias restringem a administração vigorosa de líquidos) BENZODIAZEPÍNICOS Sedativo-hipnóticos; devido as suas funções na psiquiatria, são bastante prescritos e existem mais de 50 agentes diferentes disponíveis; são indicados em casos de convulsões, abstinência álcool ou outras drogas, insônia, contração muscular, ansiedade, distúrbios do sono e agitação São comumente associados a outros medicamentos para sedação e raramente prescritos em monoterapia. Em altas doses, podem causar depressão respiratória letal, com uma taxa de 3 a 7,9 mortes para cada milhão de prescrições Utilização de dose excessiva está frequentemente associada a sedação, sonolência, diplopia, disartria, ataxia e confusão mental. Também pode ocorrer depressão respiratória, hipotensão arterial, de intensidade leve a grave. Excitação paradoxal pode surgir em alguns indivíduos, sobretudo em crianças e idosos. Intoxicação por etanol, barbitúricos, hidrato de cloral e monóxido de carbono, produzem sintomas semelhantes, assim como algumas condições clínicas: hipoglicemia, AVE, meningite, encefalite e traumatismo crânioencefálico Suporte: inicialmente monitorização respiratória e manutenção dos sinais vitais Flumazenil é um antídoto específico para a intoxicação por BZD e é indicado em casos graves (seu mecanismo de ação é por ligação em GABA, competindo com os BZD). É contraindicado quando a dose ingerida não foi definida, se houve concomitância de ingesta com outras substâncias desconhecidas, na presença de convulsões ou de o intervalo QRS for prolongado (ECG). Dose inicial de 0,2mg ao longo de 15seg. Abordagem sugerida e mais cautelosa é em doses de 0,01mg/kg a cada minuto, podendo chegar no máximo a 1mg ou até que a intoxicação esteja resolvida (pode ser necessário repetir dosagem/infusão) ANTIPSICÓTICOS São divididos em 2 grandes grupos: primeira (típicos) e segunda (atípicos) geração. Os de primeira são haloperidol, trifluoperazina, pimozida e tioridazina, já os de segunda são quetiapina, clozapina e olanzapina. Esses últimos se tornaram os de primeira linha em razão da sua maior tolerabilidade e efetividade quando comparados aos outros agentes Ambos os grupos compartilham algumas características: altamente lipossolúveis e rapidamente absorvidos pelo TGI, alcançando rapidamente o SNC. Além disso, possuem grande afinidade por proteínas plasmáticas, levando a um alto volume de distribuição. Sua meia-vida varia entre 6 e 24h. Eles atuam bloqueando receptores de dopamina em diversas áreas do cérebro, como córtex, gânglios da base e hipotálamo. (Ação desses medicamentos na esquizofrenia se deve justamente ao bloqueio dos receptores D2 na via mesolímbica, que promove melhora das alucinações e delírios) Estes AP bloqueiam outros receptores no SNC e são responsáveis por alguns dos principais efeitos colaterais indesejáveis (exemplo do sistema túbero- infundibular que pode promover hiperprolactinemia). Ao bloquear os receptores de dopamina na via nigroestriatal, ocorrem distúrbios de movimento que se assemelham aos da doença de Parkinson (rigidez muscular, tremor, alteração de marcha e hipomimia, que compõe a Síndrome Extrapiramidal (SEP). Além disso, tem a síndrome neuroléptica maligna (SNM), é uma condição potencialmente fatal caracterizada por febre alta, confusão mental e parkinsonismo. O bloqueio de receptores anticolinérgicos muscarínicos ocasiona boca seca, obstipação, retenção urinária e taquicardia. Bloqueio dos receptores alpha1 leva a hipotensão ortostática Antagonismo dos receptores de histamina1 (H1) causa sedação Tioridazina, pode alterar a condução cardíaca, mediante retardo do influxo de potássio, que provoca atraso na repolarização cardíaca (alteração detectada no ECG pelo prolongamento de QT e, em casos extremos, provoca arritmia do tipo torsaides de pointes) ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS: Tem ação como antagonistas dos receptores de serotonina 5HT2A, que ocorre em paralelo ao bloqueio de D2. Garantem uma menor ocorrência de SEP e melhor ação nos sintomas de humor. Cada agente atípico tem um perfil farmacodinâmico único, no entanto, a maioria apresenta antagonismo de múltiplosreceptores (serotoninérgicos, alpha1, histamina e muscarínico), o que contribui tanto para suas ações terapêuticas quanto para seus efeitos colaterais Intoxicação por AP Típicos: Pupilas mióticas, midriáticas ou normais Podem ocorrer ou não, sintomas anticolinérgicos, como boca seca, visão turva, rubor facial, agitação, delirium, redução de peristaltismo e retenção urinária Intoxicação por AP Atípicos: Overdose causa maior sedação e depressão do SNC Relatos de flutuações rápidas entre sedação e agitação na superdosagem com a olanzapina Incidência de convulsões está mais associada à clozapina Suporte: Medidas gerais de desintoxicação do TGI (lavagem gástrica) Uso de carvão ativado Não deve realizar hemodiálise devido à alta lipossolubilidade Monitoração de sinais vitais e suporte cardiorrespiratório (intubação ortotraqueal em casos de rebaixamento do nível de consciência) Infusão salina (em caso de hipotensão) Solicitar de dosagem de sódio, potássio e magnésio e ECG Caso o paciente apresente hipertermia, rigidez muscular, disautonomia e oscilação do nível de consciência, deve-se suspeitar de SNM (rara e muito grave) (apesar de não ser dose dependente, doses altas constituem um fator de risco, podendo levar a insuficiência renal, trombose venosa profunda e pneumonia aspirativa). Caso a SNM seja confirmada, é necessário solicitar dosagem de eletrólitos, CPK e avaliação de função renal, além de um suporte clínico adequado, com manejo da hipertermia e das funções cardíaca, respiratória e renal. Pode ser útil fazer uso de BZD para tratar agitação psicomotora e rigidez muscular ANTIDEPRESSIVOS Estudos comprovam que a taxa de letalidade é maior para os tricíclicos e menor para os inibidores seletivos da receptação de serotonina (ISRSs) TRICÍCLICOS: Rapidamente absorvidos pelo TGI Lipossolúveis Alto volume de distribuição Metabolismo é predominantemente hepático Meia-vida varia de 6 a 36h nas dosagens terapêuticas, mas pode aumentar para 72h na intoxicação, devido a motilidade intestinal reduzida Mecanismo de ação é o bloqueio da receptação de serotonina e noradrenalina, porém os medicamentos dessa classe também são antagonistas dos receptores de histamina H1, alpha1-adrenérgicos e colinérgicos muscarínicos Na intoxicação, podem existir sintomas relacionados ao SNC e ao sistema cardiovascular Comum haver sonolência, porém também podem gerar agitação, confusão mental, delírios e alucinações (Ação anticolinérgica) podem gerar hipertermia, rubor facial, midríase, íleo paralítico e retenção urinária Maior preocupação na overdose potencial cardiotóxico, que pode promover distúrbios de condução. Prolongamento de QRS e de QT, estão relacionados a ocorrência de arritmias potencialmente fatais. Achado mais comum nesse ECG é taquicardia sinusal ISRS São os antidepressivos mais prescritos na atualidade (fluoxetina, paroxetina, sertralina). Intoxicação por ISRS tem aumentado, devido ao aumento das prescrições Sua probabilidade de causar cardiotoxicidade é menor, porém há maior associação do citalopram/escitalopram com efeitos adversos cardíacos em relação aos outros ISRS, devido ao prolongamento de QT Rapidamente absorvidos e atingem uma concentração sérica máxima dentro de 6h Alto grau de ligação às proteínas séricas Meia-vida longa (atividade biológica sustentada pelos metabólitos ativos) (exceção da fluvoxamina e paroxetina que não possuem metabólitos) Mecanismo de ação é a receptação da serotonina nos neurônios, com menor capacidade de antagonizar os receptores muscarínicos, histamínicos e adrenérgicos, diminuindo a ocorrência de efeitos colaterais Pode causar síndrome de excreção inapropriada de hormônio diurético (SIADH), causando hiponatremia A ingesta excessiva associada com outras substâncias que tenham o mesmo mecanismo de ação, pode provocar síndrome serotoninérgica (SS), condição que aumenta a transmissão de serotonina no SNC e estimula os receptores pós- sinápticos 5HT1A e 5HT2 (devido a isso, não se deve associar dois ISRS). É descrita pela tríade alterações do estado mental, hiperatividade autonômica e anormalidades neuromusculares. São relatados sintomas como diaforese, taquicardia, hipertermia, hipertensão, vômitos, diarreia, tremor, rigidez muscular, mioclonia e hiper- reflexia (dois últimos os mais comuns) INIBIDORES DA MONOAMINOXIDASE (IMAOs) Antidepressivos clássicos; seu mecanismo de ação é a inibição (reversível ou não) da enzima que metaboliza a serotonina, a dopamina e a noradrenalina (MAO). A fenelzina, tranilcipromina e isocarboxazida são inibidores irreversíveis da enzima, ou seja, a atividade enzimática bloqueada por eles só retorna após a síntese de novas enzimas (2-3 semanas) (apenas a tranilcipromina é indicada para tratamento de transtorno depressivo, principalmente, o resistente) A prescrição envolve importantes restrições dietéticas e considerações sobre interações medicamentosas. Isso se deve aos riscos de SS, principalmente se associado a outro fármaco serotoninérgico, além de poder desencadear crise hipertensiva (IMAO+fluoxetina/sertralina...). O risco dessas crises é maior quando há ingestão de alimentos ricos em tiramina (laticínios), pois esse aa aumenta a noradrenalina, em decorrência da inibição do metabolismo das monoaminas pelo IMAO, elevando a PA ISRS+IMAO Aumento da PA e da FC (estímulo noradrenérgico dose-dependente) Na overdose arritmias e crise hipertensiva, sendo necessário monitoração de sinais vitais e ECG Manejo das intoxicações por ADs: Medidas de descontaminação do TGI (lavagem gástrica e carvão ativado) Suporte cardiovascular, respiratório e ECG precoce Intoxicação por ADT uso de bicarbonato de sódio em pacientes hipotensos e/ou com arritmias (prolongamento de QRS) Em caso de convulsão, tratar com BZD Intoxicação concomitante com BZD evitar flumazenil por diminuir o limiar convulsivo Intoxicação por ISRS suporte clínico, exames laboratoriais gerais, dosagem de eletrólitos e ECG (principalmente em casos por citalopram/escitalopram) Em casos de prolongamento de QT, deve-se usar sulfato de magnésio para evitar torsades de pointes Paciente deve permanecer em observação e monitoração cardiorrespiratória, até normalizar o ECG Caso o paciente esteja com SS, deve-se solicitar exames de função renal, CPK, perfil hepático e coagulograma Suspensão dos agentes serotoninérgicos e fornecimento de O2 para saturação >94%, além de cristaloides intravenosos para tratar hipovolemia e hipertermia BZD é importante para manejo de agitação, pois é preferível a contenção química à física, devido ao risco das contrações musculares, piora da hipertermia e possíveis lesões durante a contenção física Controle da febre elevada é essencial e depende da melhora da atividade muscular, pois a ocorrência dela na SS não está relacionada à alteração hipotalâmica, mas sim a atividade muscular excessiva Se a temperatura estiver acima de 41,1ºC, deve-se realizar o bloqueio neuromuscular, de preferência com o brometo de vecurônio (antagonista de Ach, ligando-se competitivamente aos receptores colinérgicos da placa motora, bloqueando a transmissão neuromuscular, causando paralisia dos músculos esqueléticos) (essas medidas devem ser acompanhadas de intubação orotraqueal e sedação) Overdose por IMAO medidas de descontaminação do TGI, suporte clínico e atenção especial as possibilidades de SS e crise hipertensiva, com monitoração cardiorrespiratória e avaliação de sinais vitais Evitar fármacos com atividade serotoninérgica e agentes com ação simpaticomimética, que podem elevar a PA Crise hipertensiva deve ser manejada com a redução gradual da PA, na maioria dos casos
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