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UM NOVO OLHAR ESTRUTURAL SOBRE AS REVOLUÇÕES SKOCPOL, Theda. Estado e revoluções sociais: análise comparativa da França, Rússia e China. Lisboa: Editorial Presença, 1985 (Prefácio e Introdução). Em seu livro, Theda Skocpol busca analisar algumas transformações sócio-revolucionárias na história do mundo moderno de forma recente e contemporânea. A autora analisa como as revoluções se formam em uma sociedade e como elas acontecem em cada Estado, definindo-as como um poder transformador, sobre as organizações de Estado, estruturas de classe e ideologias dominantes, que dão origem a uma nação cujo poder e autonomia excedem o seu próprio passado revolucionário, com impacto e repercussão internacional. Analisando as Revoluções Francesa (1787-1800), Russa (1917-1921) e Chinesa (1911-1949), Skocpol investigará o cerne das crises e conflitos dessas revoluções e as estruturas do Estado e de classe das mesmas. A autora tece sua crítica sobre a maneira que as teorias das revoluções são desenvolvidas, concluindo que estas são rasas e genéricas, com aplicabilidade histórica particular, necessitando então de outra abordagem metodológica. Assim, Skocpol se utilizará da análise histórica comparativa, baseando-se em pontos de vistas secundários para uma maior compreensão do contexto e aprimorando as teorias revolucionárias apresentadas. Para fundamentar seu método sobre o processo das revoluções, Skocpol introduz as teorias gerais da revolução já existentes: a análise marxista, de Karl Marx; a teoria de psicologia das massas, de Ted Gurr, acerca da sequência causal fundamental para a existência e concretização da Revolução; a teoria da homogeneidade dos sistema, de Chalmers Johnson, sobre a desorientação generalizada e revoluções ideológicas; a teoria do conflito político, de Tilly, que concentra seus esforços teóricos no combate das forças revolucionárias entre o poder institucional vigente. A crítica estabelece-se porque as três teorias assumiram como questão fundamental da Revolução a consciência de classe e organização partidária, a partir de uma visão voluntarista, sem referência sistemática às estruturas internacionais e o contexto mundial. Skocpol por fim define claramente a problemática de situações revolucionárias serem “feitas” e não espontaneamente geradas, e das teorias e análises que objetivam o processo revolucionário aos sujeitos, e não se constituem além propriamente das relações entre grupos e sociedades, precisando-se de uma leitura estrutural da realidade histórico-social. Esta perspectiva é fundamentada a partir das ações dentro do grupo nação e também das relações transnacionais estabelecidas, as quais influenciam a contexto nacional o curso dos acontecimentos, enquanto mantêm as conjunturas revolucionárias através da competitividade e desigualdade de países dentro dos sistemas de Estado, contribuindo para moldar as estruturas de classe e políticas de qualquer nação. Ainda nesse sentido, ao perpassar entre os marxistas clássicos e teóricos do conflito político, a autora reitera que estes não encaram o Estado como sendo uma estrutura autônoma, mas o veem como um sistema de coerção, funcionando para sustentar a posição/interesses de supremacia das classes ou grupos dominantes sobre grupos subordinados. Em contraponto, recentes concepções marxistas deslocaram-se à uma linha argumentativa divergente, segundo a qual o Estado não é visto como uma mera criação manipulada pelas classes prevalecentes e vai além de uma simples arena onde se disputam interesses e lutas socioeconômicas. O Estado seria, assim, um conjunto de organizações administrativas, policiais e militares, encabeçadas. Afirma que só é possível compreender as transformações sociais-revolucionárias se considerando-o enquanto uma macroestrutura. Assim, a respeito da metodologia, a autora defende que se façam explicações que revelem modelos gerais de causas e consequências das revoluções sem ignorar as características específicas de cada uma e do seu contexto. Para isso, o adequado seria utilizar a análise histórica comparativa, apropriada para interpretar fenômenos macro-históricos, tentando estabelecer relações entre estes e suas causas potenciais. Esse método, contudo, não tenta provar que as revoluções possuem trajetórias semelhantes. Assim, a premissa do trabalho de Skocpol é a de que China, Rússia e França tiveram sim semelhanças em seus processos revolucionários e em suas consequências. No entanto, a autora também se atenta às características próprias de cada uma delas.
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