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TEORIAS CONTEMPORANEAS DAS RI - AULA 3

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27/08/2021 UNINTER - TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 1/17
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIAS CONTEMPORÂNEAS
DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
AULA 3
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Natali Hoff
27/08/2021 UNINTER - TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 2/17
CONVERSA INICIAL
Esta aula da disciplina será dedicada a mais uma abordagem teórica pertencente ao chamado
quarto debate das Relações Internacionais (Nogueira; Messari, 2005), momento de inflexão na
disciplina por meio da introdução de contribuições oriundas de outras áreas, como a Sociologia, a
História e a Filosofia. A partir desse debate, os pressupostos epistemológicos e a concepção de
ciência típicos do positivismo – e que embasavam as teorias dominantes – passaram a ser
questionados, dando lugar a uma pluralização teórico-metodológica de cunho pós-positivista.
A chamada teoria crítica, em Relações Internacionais, procura romper com a separação
positivista entre “teoria e prática” ou entre “explicação e prescrição”, defendendo uma postura
abertamente normativa por parte da pesquisa: isso significa que caberia à ciência – e, portanto, à
disciplina de Relações Internacionais – não apenas descrever e explicar o funcionamento da realidade
internacional, mas fazer a crítica dela, mostrando formas alternativas e possíveis de reorganização
dessa realidade.
Inserindo-se na tradição marxista, essa teoria subscreve o argumento de Karl Marx (1818-1883)
de que o trabalho intelectual deve ter como meta a transformação da realidade, visando à
emancipação humana e à destruição dos mecanismos de dominação e exclusão. Os autores inseridos
nessa abordagem, como Robert Cox e Andrew Linklater, procuram levar essa preocupação a um
campo pouco explorado por ela: o das relações entre os Estados, lugar do estabelecimento de formas
específicas de exclusão, como aquelas nascidas das fronteiras nacionais e dos nacionalismos em
geral.
A aula está organizada da seguinte maneira: no Tema 1, serão abordadas as bases teóricas da
teoria crítica, como Marx, Gramsci e a Escola de Frankfurt. O fundamental aqui é compreender o que
se entende por “crítica” e como essa noção afasta essa abordagem de outras presentes na área (em
particular, o realismo e o liberalismo). No Tema 2, serão apresentados alguns dos pressupostos
fundamentais dessa teoria, como o da necessidade de se romper com a separação analítica entre as
políticas domésticas e a política internacional. Nos Temas 3 e 4, serão apresentados os dois principais
representantes da teoria crítica: respectivamente, Robert Cox e Andrew Linklater. Por fim, no Tema 5,
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serão sumarizadas algumas das principais contribuições desses autores ao desenvolvimento posterior
da área.
TEMA 1 – POR QUE “CRÍTICA”? AS BASES TEÓRICAS DA TEORIA
CRÍTICA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
A teoria crítica, em Relações Internacionais, se inspira na tradição do materialismo histórico, um
tipo de filosofia da história associada à obra original dos intelectuais e ativistas políticos alemães Karl
Marx (1918-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). Em resumo, tal perspectiva sobre a história salienta
o papel da dimensão econômica da vida social para a explicação do caráter geral que uma sociedade
adquire em dado momento do tempo, bem como para a explicação de suas transformações.
Por dimensão econômica, Marx entende a produção material da existência humana, quer dizer,
os processos de trabalho por meio dos quais as diferentes sociedades transformam a natureza a fim
de obter sustento e sobrevivência. Para levar a cabo essa transformação, as sociedades organizam-se
de acordo com uma divisão social do trabalho – ou “relações sociais de produção” –, que determina a
diferentes grupos – as classes sociais – funções específicas dentro desses processos de produção
material. Marx salienta, contudo, que essas relações sociais de produção não podem ser analisadas
simplesmente como relações de complementaridade, mas sim como relações de dominação, já que
o produto coletivo do trabalho é desproporcionalmente apropriado por um grupo social minoritário
– a chamada classe dominante (Marx, 1988). 
No caso específico do modo de produção capitalista, típico das sociedades modernas, as
relações sociais de produção caracterizam-se pela venda da força de trabalho – por parte da classe
dominada ou proletariado – em troca de um salário, pago por aqueles que detêm os meios de
produção (as terras, as máquinas, as indústrias, o capital de investimento etc.) – a classe dominante
ou burguesia. Por conta dessa forma específica de organização das relações de produção – baseadas
no trabalho assalariado e na propriedade privada dos meios produtivos –, o capitalismo moderno
distingue-se de outros modos de organização econômica, presentes ao longo da história, como o
das sociedades escravistas da Antiguidade ou das sociedades feudais da Idade Média.
Além de representarem a maneira como uma sociedade garante sua sobrevivência, as relações
sociais de produção são também, de acordo com Marx, a chave explicativa para o entendimento da
“totalidade social”, quer dizer, para a explicação dos aspectos não diretamente econômicos da vida
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social, como as formas específicas de organização política, jurídica e cultural. No conhecido Prefácio à
contribuição à crítica da economia política, escrito em 1859, Marx sintetiza essa concepção por meio
de uma metáfora arquitetônica: as sociedades poderiam, argumenta ele, ser pensadas em analogia a
uma edificação, cujos alicerces ou infraestrutura seriam representados pela produção econômica e
pelas relações sociais (a estrutura de classes) a que ela dá forma. Sobre essa base, elevar-se-ia uma
superestrutura (os vários “andares” dessa edificação”), representada pelas formas político-jurídicas de
organização da vida coletiva – o tipo de Estado, a natureza do Direito – e pelas formas de consciência
– as ideias ou, simplesmente, a cultura predominante de uma época (Marx, 1988).
Uma noção importante presente nessa metáfora arquitetônica é a que diz respeito à maneira
como esses diferentes níveis se relacionam: como fica claro no recurso à expressão infraestrutura (os
“alicerces”), Marx atribui uma força causal predominante ao aspecto material ou econômico das
sociedades humanas. Isso significa que a esfera da produção impõe a sua estrutura (a divisão de
classes, por exemplo) a todos os demais níveis (político, jurídico e cultural), fazendo com que esses
possam ser analisados como uma espécie de “tradução” das dinâmicas inerentes à base material ou
econômica.
Dessa forma, uma análise baseada no materialismo histórico encarará o Estado, o Direito ou a
cultura sempre a partir da chave explicativa das classes sociais e de seus antagonismos internos:
nessa leitura, o Estado, em vez de organização política visando ao bem comum, é compreendido
como um instrumento de dominação; o Direito, como legitimação formal da ordem desigual de
exploração econômica; a cultura, como ideologia, quer dizer, como a visão de mundo particular da
classe economicamente dominante, que é então imposta às demais classes (Marx, 1988).
Ainda que se possa depreender uma visão mais sutil e complexa das relações entre a economia e
os demais aspectos sociais a partir da própria obra de Marx, a verdade é que o esquema
“infraestrutura/superestrutura” consagrou-se como a interpretação mais popular a respeito do
materialismo histórico. Boa parte dos esforços teóricos daqueles que, já no século XX, se propuseram
a utilizar a teoria marxista clássica foram ligados justamente à tentativa de repensar o lugar da
política e das ideias na compreensão da vida social sob o modode produção capitalista. Esse foi o
caso, por exemplo, tanto da obra do italiano Antonio Gramsci (1891-1937) quanto dos trabalhos
oriundos da chamada Escola de Frankfurt, influências diretas dos autores vinculados à teoria crítica
nas Relações Internacionais.
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Gramsci, influência teórica principal de Robert Cox, defendia uma reformulação da metáfora
arquitetônica proposta pelo marxismo clássico, dando maior atenção aos efeitos das ideias e da
cultura para a manutenção ou transformação da ordem de dominação. De acordo com o autor
italiano, a interação recíproca entre ideias, política e economia deveria ser pensada em conjunto,
como formadoras de um “bloco histórico”, a fim de explicar a dominação de uma classe por outra
(Cox, 1986, p. 250).
No caso específico do capitalismo, isso significaria deixar de reduzir a dominação burguesa ao
mero controle do Estado, pensado pelo marxismo clássico como um instrumento de repressão. Seria
preciso, segundo Gramsci, analisar também o papel das instituições da sociedade civil – o sistema de
ensino, as organizações religiosas, os meios de comunicação e a intelectualidade – na disseminação
de ideias e crenças de aceitação e legitimação da ordem capitalista, tal como o individualismo ou
mesmo o nacionalismo, responsáveis, respectivamente, por atomizar e dividir a classe proletária. Seria
por meio do controle de tais instituições – quer dizer, por exercer “hegemonia” sobre a sociedade
civil – que a burguesia manteria sua condição de classe dominante (Pereira, 2016, p. 114).
A noção gramsciana de “hegemonia”, aproveitada por Cox em sua análise da ordem
internacional, chama a atenção para a dimensão consensual que sustenta as relações de dominação
de classe, em que ideias e crenças disseminadas podem tornar o uso da força até prescindível (Cox,
1986, p. 163). Ela também obriga a que se pense o Estado em sua conexão com as instituições da
sociedade civil, formando o já mencionado “bloco histórico”, ideia que Cox também utilizará como
unidade de análise para sua teoria crítica.
Imbuído desse novo enfoque sobre a relação entre ideias e política ou entre os aspectos
coercitivo e consensual da dominação classista, Gramsci procura também reformular a estratégia
revolucionária do proletariado: se, para o marxismo clássico, ela consistia primordialmente na tomada
do Estado, para o autor italiano ela deveria se concentrar também na construção da hegemonia da
classe proletária sobre a sociedade civil, quer dizer, sobre as instituições culturais da sociedade.
Como já mencionado, além de Gramsci – influência principal do tipo de teoria crítica
desenvolvida por Robert Cox nas Relações Internacionais –, os intelectuais associados à chamada
Escola de Frankfurt também se propuseram reformular alguns dos argumentos do marxismo clássico,
a fim de elaborar uma teoria social crítica, apta a analisar os desenvolvimentos históricos do
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capitalismo no século XX, e que influenciaria outra abordagem importante das Relações
Internacionais, aquela associada a Andrew Linklater.
A expressão Escola de Frankfurt se refere ao círculo de intelectuais cujos trabalhos e debates
estiveram ligados ao Instituto para a Pesquisa Social, instituição acadêmica criada na década de 1920,
na cidade alemã de Frankfurt, e dirigida inicialmente por Max Horkheimer (1895-1973). Foi
justamente Horkheimer quem elaborou o programa mais detalhado do que seria uma teoria crítica
da sociedade, em textos como o clássico Teoria tradicional e teoria crítica, publicado originalmente
em 1937.
Nesse trabalho, Horkheimer caracteriza as teorias tradicionais (incluindo aí a ciência e a filosofia
contemporâneas) como produções intelectuais incapazes de se enxergar como parte da totalidade
social, ou seja, como práticas que levam as marcas de sua condição social de produção: as da divisão
social do trabalho e da estrutura de classes. Isso significa, continua ele, que a teoria, para ser “crítica”,
precisa romper com a dicotomia tradicional entre “teoria” e “prática”, que nada mais seria do que a
expressão, típica do capitalismo, da dicotomia entre o trabalho intelectual e o trabalho manual.
Sendo uma forma de ação sobre o mundo, toda teoria está, portanto, fadada a produzir efeitos
de conservação ou de transformação desse mundo: daí a necessidade de se adotar um objetivo
normativo emancipatório como guia para a produção teórica, em vez de adotar as premissas
positivistas que apregoam uma suposta suspensão da normatividade (quer dizer: das crenças e dos
valores do analista). Na visão de Horkheimer e da Escola de Frankfurt, a pretensa “objetividade” das
teorias tradicionais seria uma forma de “conservadorismo”, uma aceitação irrefletida de problemas e
objetos de pesquisa oriundos de uma realidade histórica particular (Horkheimer, 2003).
Como se verá adiante no texto, autores como Cox e Linklater foram responsáveis por transportar
tais preocupações críticas – oriundas do marxismo clássico, de Gramsci e da Escola de Frankfurt –
para a análise das relações internacionais, questionando o caráter conservador e a-histórico das
teorias tradicionais da área, como o realismo e o liberalismo.
TEMA 2 – PRESSUPOSTOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA CRÍTICA
NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS
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A teoria crítica nas Relações Internacionais contrapõe-se às teorias dominantes da área, em
especial aos pressupostos positivistas em que elas se embasam. A crítica a esses pressupostos segue
a linhagem argumentativa do marxismo clássico e do já citado texto de Horkheimer: realismo e
liberalismo seriam teorias “tradicionais”, no sentido de serem incapazes de problematizar a própria
atividade de teorização, pertencente – como todas as atividades humanas – ao processo global de
produção material da vida e, também, à constituição de uma certa ordem social.
Nesse sentido, Robert Cox nomeia as teorias tradicionais da área como teorias de solução de
problemas, ou seja, como produções intelectuais que se deixam guiar de maneira irrefletida por
problemas e questões de pesquisa oriundos do senso comum ou de uma visão naturalizada acerca
da realidade internacional. De maneira intencional ou não, argumenta Cox, elas acabariam por
sustentar a ordem existente, ao reproduzir, de maneira acrítica, pressupostos e vieses oriundos do
próprio objeto a ser estudado (Cox, 1986).
Tal tendência pode ser notada em teorias como o neorrealismo de Kenneth Waltz, que naturaliza
e, por essa via, eterniza, características – do comportamento dos Estados e da estrutura da realidade
internacional – que são na verdade o produto de processos históricos específicos e que podem,
portanto, ser alteradas no futuro. Essa incapacidade de incorporar a dimensão histórica à análise faz
com que tais teorias não consigam explicar nem prever satisfatoriamente as mudanças da realidade
internacional, como as que ocasionaram o fim da Guerra Fria e da União Soviética no final dos anos
1980 e começo dos 1990. Mesmo no caso de teorias que fazem uso de exemplos históricos, como o
realismo de Hans Morgenthau, estes são utilizados como ilustrações de regularidades e padrões
comportamentais dos atores: o recurso ao passado, nesse caso, serve à argumentação de que o
futuro será semelhante a ele (Cox, 1986).
Nessa perspectiva, o neorrealismo de Waltz também sofreria do mesmo problema: os
comportamentos dos Estados – baseados em uma racionalidade egoísta focada na segurança e na
sobrevivência e pouco afeita à cooperação – são vistos como fixos e naturais, pois são condicionados
por uma estrutura imutável: a da anarquia do sistema internacional. Os teóricos críticos, ao contrário,
procuram demonstrarque as características da ordem internacional são históricas, ou seja, mutáveis,
já que produzidas pelas decisões e ações tomadas pelos Estados, eles próprios entidades sujeitas à
mudança (Cox, 1986).  
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A ênfase na mudança, por parte dos teóricos críticos, vem da concepção de história inerente ao
materialismo histórico, desenvolvido por Marx e Engels, que compreende as transformações dos
Estados como resultado de alterações no processo de produção material – expressão utilizada para
designar o esforço coletivo de transformação da natureza por meio do trabalho humano. Ainda que
partam de um materialismo histórico já reinterpretado – pelas obras de Gramsci e dos autores da
Escola de Frankfurt –, deixando de lado o economicismo e dando mais ênfase às ideias, à cultura e à
política, Cox e Linklater encaram a ordem internacional como sendo o produto de processos vindos
“de baixo”, ou seja, oriundos da dinâmica social e material presente nas políticas internas ou
domésticas dos países. Cox, em particular, afirma que a atuação dos Estados na arena internacional
só pode ser compreendida quando se analisa a relação interna ou doméstica que mantêm com as
sociedades civis: o já mencionado “bloco histórico”, conceito gramsciano que designa o complexo
Estado/sociedade civil (Cox, 1986, p. 216).  
Em resumo, as premissas básicas da teoria críticas nas Relações Internacionais podem ser
agrupadas da seguinte forma: (I) a análise da estrutura da ordem mundial deve incorporar a pesquisa
histórica e a ênfase nos processos de mudança – como, por exemplo, na natureza dos Estados; (II)
essa estrutura histórica constitui-se de condições materiais, mas também de padrões de pensamento
e de instituições criadas pelos atores. A análise dela, portanto, deve ser feita “a partir de baixo”,
olhando para os processos socioeconômicos e para as dinâmicas internas dos países, cujos efeitos
produzem mudanças na ordem internacional; (III) as teorias produzidas na área serão sempre
relativas a determinado tempo e lugar, carregando, de maneira mais ou menos explícita, uma visão
de mundo ou normatividade inerentes (Pereira; Blanco, 2021).
Estando salientadas as premissas básicas comuns à teoria crítica, cabe agora mostrar as
particularidades de seus dois autores principais, Robert Cox e Andrew Linklater. O primeiro lança mão
de conceitos gramscianos a fim de realizar os objetivos da abordagem crítica; o segundo, por sua vez,
ancora-se na Escola de Frankfurt e, sobretudo, na maneira como um dos teóricos ligados a ela,
Jürgen Habermas, repensou o projeto original de Horkheimer.        
TEMA 3 – ROBERT COX       
A abordagem crítica associada a Robert Cox é bastante influenciada pela obra de Gramsci, sendo
por isso conhecida como uma vertente neogramsciana da teoria crítica (Pereira, 2016, p. 135). Ela se
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assenta em conceitos importantes do autor italiano – como bloco histórico e hegemonia –, mas
repensados para a utilização nas Relações Internacionais.
Cox compreende a ordem mundial como uma “estrutura histórica”, quer dizer, como um
conjunto de relações, entre atores internacionais, que muda ao longo do tempo. A mudança na
ordem mundial é dependente de transformações na natureza dos Estados que a compõem, bem
como de processos socioeconômicos que transcendem as fronteiras nacionais (tal como a
internacionalização da produção capitalista). De acordo com Cox, a mudança nas formas de Estado –
como a passagem de um Estado de bem-estar social a um Estado liberal – deriva dos arranjos
dinâmicos por meio dos quais Estado e sociedade civil se articulam: alterações na estrutura de classe
e nos processos produtivos funcionam como motores de transformações no plano das ideias e das
instituições políticas, gerando efeitos sobre a forma do Estado. Vê-se, assim, que essa abordagem
não considera, ao contrário da tradição realista, os Estados como entidades monolíticas e estáticas:
eles possuem uma dinâmica conflituosa interna e mudam ao longo do tempo (Pereira; Blacno, 2021).
Voltando ao conceito de “estrutura histórica”, Cox a pensa como a integração de três forças
distintas: as capacidades materiais; as ideias e as instituições. As capacidades materiais designam os
potenciais produtivos e destrutivos dos Estados: os recursos naturais disponíveis a eles, o
desenvolvimento industrial, bem como as capacidades tecnológicas e militares. O plano das ideias é
pensado como o dos significados compartilhados intersubjetivamente pelos atores internacionais e
podem se referir à (I) natureza das relações entre eles (qual comportamento esperar de cada Estado,
por exemplo) ou à (II) ordem da qual fazem parte (qual a legitimidade das relações de poder
existentes, como se pensa as noções de justiça ou de bem público etc.) (Cox, 1986, p. 219).
Por último, a terceira força que molda a estrutura histórica da ordem mundial, interagindo com
as outras duas, é a das instituições: elas são pensadas como “amálgamas particulares de ideias e
capacidades materiais, as quais por sua vez influenciam o desenvolvimento de ideias e capacidades
materiais” (Cox, 1986, p. 219). Essas instituições formalizam-se por meio de arranjos jurídico-políticos
(organismos internacionais, tratados, convenções etc.) que se tornam o palco privilegiado de disputas
entre os Estados, contribuindo para estabilizar e perpetuar as relações de poder entre eles. Além
disso, as instituições são também propagadoras de ideias, que servem à legitimação e manutenção
dessas mesmas relações, cooptando as elites dos países periféricos e neutralizando ideias contra-
hegemônicas (Pereira, 2016, p. 138).
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Cox chama a atenção, portanto, para o fato de que as relações entre os Estados não podem ser
resumidas à dimensão das capacidades materiais de cada um: as instituições e as ideias criam meios
para que os Estados possam administrar conflitos com um menor uso da força. O conceito
gramsciano utilizado por Cox para compreender essa utilização das ideias e da institucionalidade
internacional como formas de manutenção das hierarquias entre os Estados é o de “hegemonia”
(Pereira; Blanco, 2021). Quando aplicado à análise das relações internacionais, ele se refere a essa
ordem nascida mais da persuasão e do consenso entre os atores do que da coerção: nesse sentido, a
dominação pela via da capacidade material pode ser condição necessária, mas não é condição
suficiente para a hegemonia de um Estado sobre outros.
Comparando o domínio britânico, no século XIX, ao domínio estadunidense, no século XX, pode-
se notar que este último é mais institucionalizado do que o primeiro, contando com um processo
histórico de criação de instituições internacionais ao fim da Segunda Guerra Mundial (como o
chamado sistema Bretton Woods, por exemplo). A crise da hegemonia estadunidense, que vem sendo
debatida desde a década de 1970, resulta, na visão de Cox, de transformações no processo de
produção capitalista, cada vez mais internacionalizado. Essa internacionalização da produção traz
consequências para a estrutura de classes dos países, alterando as dinâmicas internas ao Estados (a
articulação sociedade civil/Estado) e instaurando novas fontes de conflito e possibilidades de
mudança.  
Ainda segundo Cox, uma outra consequência dessa alteração global do capitalismo, a partir da
década de 1970, é a da formação de uma “estrutura global de classes”, nascida das interações entre
forças sociais que ultrapassam cada vez mais os limites de cada Estado. Nessa estrutura emergente,
forma-se uma “classe social transnacional”, formada por executivos de grandes corporações
multinacionais, funcionários de alto escalãode organismos internacionais e gerentes locais de
empresas associadas aos sistemas de produção internacional, capazes de influir coletivamente sobre
o funcionamento das instituições internacionais – como o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional (FMI) – e sobre a natureza das ideias e políticas disseminadas por essas instituições.    
Pode-se concluir que, de acordo com a abordagem crítica desenvolvida por Cox, a compreensão
das mudanças na estrutura histórica da ordem mundial demanda a análise das determinações
mútuas entre esses três níveis: o primeiro, correspondente aos processos de produção material e aos
conflitos ali gerados; o nível dos Estados, dotados de formas políticas que se alteram a partir da
articulação com os conflitos oriundos da produção material; e a ordem mundial, cuja
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institucionalidade se transforma a partir da generalização das mudanças na forma política dos
Estados (Cox, 1986, p. 220).       
TEMA 4 – ANDREW LINKLATER
Enquanto Cox baseia-se em um conjunto de conceitos gramscianos a fim de construir um
modelo analítico que busca descrever e explicar o funcionamento e, sobretudo, as transformações da
ordem mundial – salientando as possibilidades de construção de ordens alternativas –, a teoria crítica
de Linklater dedica-se, como ponto de partida, a questões de caráter normativo. Sua preocupação
fundamental é a de imaginar, por meio do diálogo com a Teoria Política e com as Relações
Internacionais, uma outra realidade internacional, em que os princípios de emancipação universal se
encontrem realizados em novas institucionalidades.  
Mais especificamente, Linklater preocupa-se com a possibilidade de formação de uma
comunidade global regida por uma ética cosmopolita. O “cosmopolitismo” designa a defesa
filosófica de uma cidadania ligada ao pertencimento à espécie humana, e não mais baseada no
pertencimento a um Estado nacional. Entre seus defensores, encontram-se desde filósofos da Grécia
antiga (em especial aqueles ligados ao cinismo e ao estoicismo) até autores modernos, como
Immanuel Kant (1724-1804). Foi este último que deu ao cosmopolitismo sua defesa mais notória,
definindo-o como um senso de responsabilidade perante a violação de direitos em geral, ainda que
esta ocorra fora dos limites do Estado nacional de determinado cidadão. Kant projeta, com isso, o
ideal de uma comunidade universal de indivíduos, cujos direitos de cidadania seriam assentados
sobre o pertencimento a uma humanidade comum (Held, 1995).
Retornando à teoria do cosmopolitismo, Linklater problematiza a tradicional separação, no seio
da disciplina de Relações Internacionais, entre duas esferas de análise: a política doméstica e a
política internacional. Tal separação teórica acarreta, segundo o autor, consequências práticas
importantes, sobretudo em relação à garantia dos direitos humanos e à gestão de problemas globais
urgentes, como as crises ambiental e migratória. Atingindo a totalidade da espécie humana, esses
problemas não podem ser satisfatoriamente enfrentados por uma institucionalidade internacional
baseada em Estados e organizações intergovernamentais, demandando, ao contrário, a constituição
de uma autêntica comunidade mundial capaz de exercer uma governança humana dos riscos globais
(Pereira; Blanco, 2021).
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A premissa, aqui, é de que a crescente interconexão política, econômica e ambiental entre os
Estados produz efeitos que podem afetar potencialmente a toda a humanidade, sendo, portanto,
imprescindível que se pense em uma nova institucionalidade internacional em que os cidadãos de
todos os países tenham o direito de influenciar os processos decisórios que afetam suas vidas. A fim
de investigar a possibilidade de constituição de uma tal comunidade global de cidadãos, Linklater
salienta a importância de que as Relações Internacionais se unam a outras disciplinas, como a
História e a Sociologia Política, com o objetivo de analisar como diferentes sistemas de Estados
puderam constituir “convenções cosmopolitas de dano”, capazes de proteger pessoas de maneira
universalista, não importando diferenças de nacionalidade, religião, língua ou etnia (Linklater, 2007, p.
4).
A noção de “dano”, segundo Linklater, pode servir como um ponto de partida para a
constituição de uma ética cosmopolita, ao estabelecer deveres negativos e positivos vinculando os
cidadãos de diferentes Estados nacionais. Na sua versão negativa, essa ética prescreve a obrigação de
“não causar dano” ao cidadão estrangeiro, o que historicamente tem embasado as legislações
internacionais sobre guerra e sobre o banimento de práticas produtoras de “sofrimento ou crueldade
desnecessária”, como no caso da tortura ou do ataque a alvos civis. Mas tais obrigações negativas
são ainda insuficientes para a constituição de um cosmopolitismo robusto, já que a evitação do
“dano” aos “de fora” demanda também deveres positivos, como as ações de protesto contra a
exploração de mão de obra estrangeira por empresas multinacionais ou ainda contra a destruição
ambiental por parte de Estados ou empresas (Linklater, 2002).
De acordo com Linklater, há um claro avanço na direção de uma comunidade e de uma ética
cosmopolitas nas últimas décadas, como poder ser visto no estabelecimento de leis internacionais
sobre direitos humanos ou na constituição de tribunais para crimes de guerra. Também são exemplos
disso a criação de redes transnacionais de organizações não governamentais em diferentes áreas de
atuação, como no caso do meio ambiente ou dos direitos da mulher. Ainda assim, o cosmopolitismo
tem sido visto mais como uma maneira de melhorar e pacificar as relações entre Estados do que
como uma alternativa séria à institucionalidade internacional tal como presentemente constituída
(Linklater, 2002).
A fim de levar adiante o projeto de uma comunidade e ética cosmopolitas, continua o autor, é
preciso produzir uma cidadania global ou pós-nacional substantiva, quer dizer, garantir o direito e a
capacidade de que todas as pessoas, independentemente da nacionalidade, possam efetivamente
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participar das tomadas de decisão sobre questões que afetem suas vidas, especialmente a fim de
evitar fontes próximas ou distantes de “dano”. Para tal, a concepção de democracia também deve
avançar para além dos limites colocados pelos Estados, a fim de criar uma governança humana da
interdependência política e econômica global (Linklater, 2007, p. 5).
 A expansão da comunidade política para além das fronteiras nacionais e a construção de uma
institucionalidade cosmopolita que a sustente traz necessariamente a reflexão sobre as diferenças
morais e culturais entre as diversas sociedades, bem como dos procedimentos dialógicos para lidar
com tais diferenças. Daí o recurso de Linklater à Escola de Frankfurt, em particular à chamada teoria
da ação comunicativa, de Jürgen Habermas. Juntando a problemática marxista clássica aos estudos
sobre linguagem, Habermas defende que a produção da vida material por meio do trabalho não seja
vista como o eixo fundamental do desenvolvimento histórico – como para o marxismo. Ao lado do
“trabalho”, a “comunicação” é também uma dimensão fundamental da existência humana, que não
poderia se sustentar sem o esforço – sobretudo linguístico – de compreender (o outro) e de se fazer
compreender (Honneth, 1999).
O foco da teoria de Habermas recai, portanto, sobre o papel da comunicação para a
sociabilidade humana e sobre a racionalidade específica que emerge das interações comunicativas:
ao nos comunicarmos, produzimos regras de entendimento e de validade para o que é comunicado;
produzimos, portanto, acordose sentidos comuns. Normativamente, Habermas se preocupa em
particular com a formalização de uma “ética do diálogo”, capaz de aplicar a razão comunicativa
humana ao esforço de conciliar perspectivas morais e políticas distintas: “a ética do discurso
estabelece os procedimentos a serem seguidos para que os indivíduos sejam igualmente livres para
expressar suas diferenças morais e possam proceder para resolvê-las, quando possível” (Linklater,
2007, p. 56).
Fundamental para essa ética do diálogo é o reconhecimento de que não há nenhuma
perspectiva cultural superior às demais, assim como a aceitação de que todas as escolhas e
preferências estão sujeitas a críticas. Com base nisso, os indivíduos devem se orientar não pelos
argumentos de autoridade, mas pela autoridade do melhor argumento, sendo o consentimento de
todos e de todas o único critério de validade e legitimidade para a elaboração de normas (Linklater,
2007, p. 56). A comunidade cosmopolita só poderá ser construída, portanto, por meio do diálogo
crescentemente inclusivo entre comunidades políticas expandidas para além de suas fronteiras
nacionais, configurando, por essa via, um novo tipo de cidadania, global ou pós-nacional.
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TEMA 5 – PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA CRÍTICA ÀS
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Como dito, os teóricos críticos possuem em comum a negação da epistemologia e da concepção
de ciência oriundas do positivismo: negam, sobretudo, a suposta neutralidade normativa defendida
pelas teorias dominantes na disciplina de Relações Internacionais, como o realismo e o liberalismo.
Ao aceitar uma problemática produzida pela própria realidade que pretendem analisar, tais teorias
apenas ratificam e naturalizam características que são na verdade históricas e, portanto, variáveis ao
longo do tempo. Essa recuperação da importância da história para a disciplina, assim como o
questionamento da normatividade implícita a todas as teorias estão entre as grandes contribuições
da teoria crítica. Autores como Charles Beitz, Mervyn Frost e Michael Walzer têm dedicado atenção
especial a tais temas: Beitz e Frost, em particular, procuram avaliar as implicações da primazia teórica
e prática da “soberania estatal” para a discussão sobre direitos humanos e justiça global (Beitz, 1979;
Frost, 1996).  
A obra de Linklater, informada pela perspectiva habermasiana, expande a agenda de pesquisa a
respeito de diversas formas de exclusão no cenário internacional: (I) exclusões de base étnica ou
racial; (II) de gênero; e também (III) as oriundas de conflitos e de guerras, como no caso de
refugiados. Ela abre também a possibilidade de se pensar a democracia e o direito em uma
perspectiva cosmopolita ou pós-nacional.
Os trabalhos de Robert Cox, por outro lado, permitem a análise das interações existentes entre
economia, classes sociais, política doméstica, ideias e política internacional, por meio de conceitos
inspirados na teoria gramsciana, como “hegemonia” ou “bloco histórico”. Tais trabalhos ajudaram a
oxigenar as agendas de pesquisa concernentes às transformações do capitalismo global e ao papel
das instituições e das ideias nessas transformações. Tal pespectiva, chamada por alguns de
neogramsciana, tem sido seguida por outros importantes autores da área (ver Gill, 2007), como
Stephen Gill e A. Claire Cutler.
NA PRÁTICA
De acordo com a vertente neogramsciana da teoria crítica, a manutenção de uma ordem
hegemônica mundial baseia-se, sobretudo, na produção de consensos, mais do que no recurso à
força. Para tal, segundo Cox, as organizações internacionais – e as ideias por elas disseminadas –
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desempenham um papel fundamental, descrito pelo autor nos seguintes termos: (I) as organizações
internacionais incorporam as regras que facilitam a expansão da ordem hegemônica mundial; (II)
essas organizações são, elas próprias, o produto da ordem hegemônica mundial; (III) elas legitimam
ideologicamente as normas dessa ordem, além de (IV) cooptar as elites dos países periféricos e (V)
absorver ideias contra-hegemônicas (Cox, 2007).
Tendo isso em mente, selecione uma organização internacional e pesquise a respeito de sua
gênese e trajetória, procurando aplicar a chave interpretativa proposta por Cox.
FINALIZANDO
Nesta aula, foram abordadas as contribuições da teoria crítica para a área de Relações
Internacionais, a partir das obras de dois de seus principais representantes: Robert Cox e Andrew
Linklater. O primeiro desenvolve uma vertente gramsciana da teoria crítica, procurando utilizar
conceitos marxistas para a compreensão das transformações do capitalismo global. O segundo
dedica-se a desenvolver um projeto normativo de comunidade global cosmopolita, baseada na
expansão das comunidades políticas para além das fronteiras dos Estados nacionais: a noção de
cidadania pós-nacional sintetiza o direito de todas as pessoas a participar das tomadas de decisão
que possam gerar “dano” em suas existências, sejam elas internas ou externas a seu Estado de
origem.
Acima de tudo, a teoria crítica oferece instrumentos teórico-metodológicos para a compreensão
das transformações globais do capitalismo e do sistema internacional, incorporando fortemente a
contribuição de outras áreas do conhecimento, como a Teoria Política e a História, a fim de
desnaturalizar e historicizar as categorias utilizadas pelas teorias dominantes, como Estado, soberania
e cidadania.
REFERÊNCIAS
Beitz, C. Political theory and international relations. Princeton: Princeton University, 1979.
Cox, R. Social Forces, States and World Orders: Beyond International Relations Theory. In:
Keohane, R. (Ed.). Neorealism and its critics. New York: Columbia University, 1986.
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Frost, M. Ethics in International Relations: a constructive theory. Cambridge: Cambridge
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Gill, S. (Org.). Gramsci, materialismo histórico e relações internacionais. Rio de Janeiro: UFRJ,
2007.
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Unesp, 1999.
HORKHEIMER, M. Teoría Crítica. Buenos Aires: Amorrortu, 2003.
Linklater, A. Cosmopolitan Political Communities in International Relations. International
Relations, v. 16, n. 1, 2002.
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York: Routledge, 2007.
Marx, K. Infraestrutura e superestrutura. In: Ianni, O. (Org.). Marx: Sociologia. São Paulo: Ática,
1988.
Nogueira, J. P.; Messari, N. Teoria das relações internacionais: correntes e debates. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2005.
PEREIRA, A.; BLANCO, R. Teorias contemporâneas das Relações Internacionais. Curitiba:
Intersaberes, 2021.
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