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Direito Administrativo - O que é direito administrativo?

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Prévia do material em texto

MATERIAL DE APOIO1 
 
Fernando do Rego Barros Filho2 
Leonardo Evangelista de Souza Zambonini3 
 
Introdução 
 
 Esta será uma série de doze cursos que 
abordarão temais iniciais de Direito Administrativo, 
tais como regime jurídico de direito público, 
contratos, servidores, responsabilidade civil, dentre 
outros temas. Qual o objetivo de fazermos esses 
comentários? Dar suporte aos jurisdicionados em 
conceitos básicos utilizados na Administração 
Pública, aproxima-los dos demais cursos que 
oferecemos em nosso site e oferecer um primeiro 
contato com as principais decisões proferidas pelo 
TCE-PR. 
 Neste primeiro curso, apontaremos o que 
representa o Direito Administrativo. A partir da 
demonstração didática de como se constitui o 
Estado contemporâneo, descreveremos as funções 
estatais básicas e organizaremos a atividade 
administrativa de forma fácil e compreensível. 
 À consideração de que o Direito 
Administrativo cuida das relações em que o Estado 
atua, é importante compreendermos o que é Estado, 
correto? 
Aqui, não vamos nos ater às infindáveis 
definições, muitas vezes contraditórias, dadas ao 
termo pela Sociologia, Filosofia, História ou Ciência 
Política. Isso só causaria confusão e não nos ajudaria 
a progredir. Nesta aula, eu quero que você entenda 
a essência do que é Estado apenas refletindo sobre 
ele. 
Pense comigo sobre todos os Estados que 
você conhece ou de que já ouviu falar, atuais ou 
passados, o que eles têm em comum? Você talvez 
tenha pensado que todos eles existem 
soberanamente sobre um determinado território. 
De fato, é uma constatação correta. Não há Estado 
sem um território em que possa atuar. Sério? Sim, 
 
1 Este material não possui a função de esgotamento do tema, mas tão somente servir como apoio às aulas em vídeo que constam no curso. 
2 Analista de Controle do Tribunal de Contas do Estado do Paraná. Currículo na plataforma lattes disponível em 
<http://lattes.cnpq.br/1039825565487153>. 
3 Analista de Controle do Tribunal de Contas do Estado do Paraná. 
um Estado precisa atuar, de forma soberana, sobre 
uma determinada área, sob pena de se reduzir a uma 
mera organização sem fins lucrativos ou, pior, em 
uma milícia. Você, aliás, já deve ter ouvido a 
expressão Estado paralelo , regiões em que grupos 
paramilitares, em conflito com um governo central, 
tentam impor coercitivamente sua vontade ao povo 
local, normalmente sem sucesso a longo prazo. 
Isso, aliás, nos remete à segunda 
característica, ou elemento constitutivo, de um 
Estado, a saber, um povo, afinal, o poder estatal 
deve reger, submeter o comportamento de um 
povo, porquanto o Estado é uma organização 
política. Sintetizando, o segundo elemento de um 
Estado é um povo, cujo comportamento é informado 
pelo Estado, que é uma entidade política. 
Calma, vamos entender melhor tudo isso. 
Imaginemos uma ilha deserta, no meio do oceano, 
completamente isolada. Imaginou? Agora introduza 
um único morador nessa ilha, mais ou menos como 
no livro de Daniel Defoe, Robinson Crusoé . Nesse 
contexto que criamos, parece a você necessária a 
existência de um Estado, para coordenar as atitudes 
de nossa personagem? Não, né? Mas por que não? 
Simplesmente porque na nossa ilha não há como 
haver Política, ou, em outras palavras, entre uma 
pessoa e si mesma, não há espaço para Política. E o 
que é política? Bom, novamente temos uma ideia 
sobre a qual inúmeras grandes mentes já se 
debruçaram e, até o momento, não há consenso, um 
único conceito sobre ela. Então vamos raciocinar um 
pouco mais. 
Se não há política em uma ilha habitada por 
apenas uma pessoa, haveria política se duas pessoas 
a habitassem? Digamos que, agora, um homem e 
uma mulher habitem essa ilha, e que ambos sejam 
pessoas pacíficas, afeitas ao diálogo racional. Eles, 
muito espertos, já perceberam que, nos meses de 
 
junho e julho, sua ilha é açoitada por fortes 
tempestades, e que, portanto, seria interessante 
que ambos tivessem um local para protegerem-se da 
chuva. 
Em conversa, o homem propõe que eles se 
utilizem de uma caverna conhecida, no sopé de uma 
montanha. A mulher, por outro lado, ponderando 
que a caverna é habitada por insetos e muito úmida, 
afirma que seria melhor que eles construíssem uma 
casa, no meio das árvores, onde não bate muito 
vento. 
Depois de algum tempo, eles decidem que a 
casa é o melhor caminho a ser seguido, ao menos 
nessa primeira vez, e dão início à construção. 
Quando as tempestades chegam, o local já 
está pronto, e ambos não sofrem com as 
intempéries do tempo. 
Tudo dá tão certo que, a partir daquele 
momento, eles decidem, entram em consenso, que 
a mulher ficará responsável pelas decisões que se 
relacionem com abrigo, notadamente com a casa 
recém-construída. Ou seja, desde então, a mulher 
decidirá, deliberará a respeito da moradia de ambos, 
ao que o homem acatará. 
Veja, o homem, no nosso exemplo, está 
abdicando de parte de sua autonomia, de sua 
liberdade, em benefício de uma relação que ele 
entende vantajosa para si. Daquele momento em 
diante, ele não precisa se preocupar com a melhor 
estratégia para proteger-se das chuvas e dos insetos, 
ele deixa essa decisão a cargo de sua companheira e, 
assim, pode empregar seu tempo e energia em 
outros projetos, como caçar ou pescar mais. Ele não 
faz isso em virtude de uma lei que o obrigue, faz 
porque entende que é bom pra si. 
Chegamos aqui ao cerne da questão. Perceba 
que as decisões da mulher influenciam no 
comportamento do homem, são decisões que tem o 
PODER de balizar as atitudes do seu companheiro, 
em benefício de ambos. São, enfim, decisões 
políticas. 
Esse nosso simples exemplo nos mostra, 
ainda que de relance, a essência do que seja política, 
enquanto prática de induzir, coordenar ou mesmo 
coibir comportamentos alheios, por meio do 
consenso. 
Claro, você poderia me perguntar em que 
isso se diferencia de uma relação econômica, em 
cujo âmbito há troca consensual de recursos. Pois eu 
explico. Na relação política, não há intercâmbio de 
mercadorias nem interesses contrapostos, como em 
uma relação de compra e venda. Na política, os 
interesses são comuns e não há troca de liberdades, 
a autonomia de alguns, normalmente da maioria, é 
mitigada em benefício de todos. 
Continuando, extrapole nossa relação 
imaginada para nosso país, o Brasil. O que o 
presidente da república faz? Ora, ele decide os 
rumos da nação, o caminho que o país, que você, eu, 
todos nós enquanto povo, devemos seguir em nosso 
próprio benefício comum. É, como você já deve ter 
percebido, uma versão maior e mais complexa da 
nossa pequena ilha. 
Claro, a política pode ser desvirtuada e o é 
frequentemente e esse benefício conjunto pode 
ser preterido por interesses particulares, escusos. 
Contudo, nada disso altera o significado, a essência 
subjacente ao que seja política, a saber, arte de atuar 
sobre o comportamento alheio em prol do bem 
comum. 
Mas voltando ao nosso tema principal. 
Descobrimos que um Estado atua sobre um 
território e um povo, mas de que forma? Ora, ele 
atua politicamente, por meio de um governo, cuja 
natureza, por sua vez, vai dar o tom do nosso Estado. 
Fácil, não? Estado, portanto, é um amálgama de 
território, povo e governo soberano, o qual pode 
assumir várias formas. 
 
Estado Democrático de Direito 
 
Você já deve ter ouvido falar que o ser 
humano é gregário, certo? Pois então, o homem 
sempre nasceu e viveu em comunidades, grandes ou 
pequenas. A menor delas é a família. 
Para variar, não há consenso sobre o tema, 
mas estudos científicos robustos tendem a 
comprovar a tese de que nossa espécie vive, desde 
seu surgimento, em grupos familiares, compostos no 
mínimo por genitores e seus filhos. Não se sabe se, e 
por quanto tempo, a organização social limitou-se 
apenas a núcleos familiares. Contudo, é certo que as 
comunidades, com o passar do tempo, tornaram-se 
 
mais complexas, congregando pessoas que, à priori, 
não mantinham vínculos familiares entre si.O que é certo também é que todo esse 
processo aconteceu de forma natural, ou seja, à 
míngua de um arquiteto que dispusesse socialmente 
as pessoas segundo um ou outro modelo. Tudo 
aconteceu conforme a natureza humana, 
predisposta à convivência estruturada. 
É natural, portanto, e você já deve ter 
pensado sobre isso, que surgissem diferentes 
espécies de organização social politicamente 
estruturadas. Umas mais ou menos hierarquizadas, 
outras mais ou menos centralizadas, algumas mais 
ou menos autoritárias. Esses são, em linhas gerais, os 
princípios de cada comunidade segundo os quais as 
formas de governo e os regimes políticos foram 
criados. 
Enfim, nesse mar de possibilidades, uma 
espécie de regime político destacou-se entre as 
demais. Foi uma forma revolucionária de 
compreender o poder, a política, e surgiu em uma 
pequena comunidade, no sul do Continente 
Europeu, especificamente em uma região que hoje 
conhecemos por Grécia. Sim, você já deve saber do 
que estou falando. Refiro-me à Democracia. 
Em um universo repleto de oligarquias, 
aristocracias e tiranias, em Atenas, cidade-estado 
situada na Ática, região da Grécia continental, 
floresceu uma ideia nova, que via no povo, ou 
melhor dizendo, nos cidadãos, a fonte do poder 
exercido pelo Estado sobre a comunidade. Não mais 
a política seria baseada no prestígio ou na força de 
poucos, mas no consenso dos cidadãos em benefício 
dos quais, então, concedia-se o direito e o dever de 
atuar na condução do governo, ou seja, de 
influenciar o comportamento de toda a comunidade, 
em benefício comum. 
Mas esse tipo de responsabilidade 
demandava que esses cidadãos detivessem direitos 
não apenas contra uns e outros, mas contra o 
Estado, que não lhes poderia mais usurpar a 
liberdade de deliberação. Em outras palavras, os 
esboços do que hoje entendemos por sujeito de 
direitos começaram ser traçados. 
De lá para cá, o regime democrático sofreu 
mudanças, foi objeto de aperfeiçoamentos. 
Contudo, a essência permaneceu a mesma. Ainda 
hoje, entendemos que o poder político emana do 
povo, que o exerce diretamente ou por meio de seus 
representantes nos dias atuais, normalmente por 
formas de governo republicanas, em que o poder 
político do chefe de Estado é depositado sobre 
pessoas eleitas periodicamente, em contraposição à 
monarquia, em que esse papel é passado ao longo 
da linha sucessória da família real. 
Em linhas gerais, e para simplificarmos, 
grosso modo, um assunto a respeito do qual há 
muita discussão, podemos dizer que o sistema 
político diz com a criação de leis, ou mais 
precisamente, com a fonte de que emana o poder 
para editar normas de cunho geral, de natureza 
político-jurídica. De seu turno, forma de governo 
relaciona-se com a titularidade do papel de 
execução dessas leis e com como esse papel é 
transmitido. 
Pois bem, como falávamos, um desses 
aperfeiçoamentos foi a ideia de que o Estado como 
um todo, incluindo o governo exercido pela maioria, 
deveria se submeter a regras gerais, uniformes, de 
cunho constitucional, que prestigiassem o direito de 
cada indivíduo, contra eventuais desmandos 
políticos. Surge, assim, o Estado Democrático de 
Direito. Não entendeu? Calma, vamos explicar. 
Voltemos para Atenas. Imagine todos os 
cidadãos reunidos na ágora, a praça onde os 
assuntos públicos eram postos em pauta para 
deliberação. Esse grupo de pessoas é responsável 
por inúmeras obrigações, entre elas debater as 
questões do dia e votar as leis. 
Suponhamos que, entre eles, haja um cidadão muito 
esperto, ótimo orador, que tenha um desafeto. Para 
resolver o problema, ele propõe que o colegiado 
promulgue uma lei para condenar seu inimigo à 
morte, de forma sumária, sem direito a julgamento, 
ao fundamento de que teria cometido um terrível 
crime. 
Como seu poder de convencimento é alto, 
nosso ardiloso cidadão consegue fazer com que a lei 
seja aprovada e, finalmente, cumprida, levando ao 
fim o motivo de sua inimizade, pela execução da 
pena imposta. 
Ora, esse tipo de atitude parece justo? Veja, 
a lei foi proposta regularmente e aprovada pelos 
cidadãos reunidos, assim que por quem de direito, 
sem que tenha havido qualquer tipo de coação. A 
deliberação, portanto, foi formalmente válida. 
Roney Schaskos
Na ciência política, oligarquia é a forma de governo em que o poder político está concentrado num pequeno número pertencente a uma mesma família, um mesmo partido político ou grupo econômico ou corporação.
Roney Schaskos
Aristocracia, a palavra que pode ser traduzida literalmente como “o governo dos melhores”, e que era uma forma de governo na qual o poder político era exercido por nobres, pessoas de confiança dos Monarcas ou dos Regentes iniciados na visão filosófica e política de Aristóteles.
Roney Schaskos
Tirania era uma forma de governo usada em situações excepcionais na Grécia em alternativa à democracia. Nela, o chefe governava com poder ilimitado, embora sem perder de vista que deveria representar a vontade do povo.
 
Contudo, pergunto novamente, a você 
pareceu adequada a medida? Pois então, a mim 
também não. 
E justamente para evitar que isso ocorresse é 
que se desenvolveu a ideia de Estado Democrático 
de Direito, um Estado em que as leis são elaboradas 
pelo povo, direta ou indiretamente, em benefício de 
todos, mas sempre em respeito aos direitos 
humanos, segundo uma constituição, limite da 
coerção estatal justa. A propósito, consta do art. XVI 
da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, 
aprovada na França em , que Toda sociedade 
na qual a garantia dos direitos não está assegurada, 
nem a separação dos poderes determinada, não tem 
Constituição . 
Nesse contexto, é possível percebermos que 
a separação de poderes é outra ideia de grande 
importância para as liberdades individuais, preceito 
básico de organização do Estado. 
 
A atividade administrativa 
 
Os primórdios da separação de poderes 
podem ser encontrados em Aristóteles, em cuja obra 
A Política já se faz referência aos riscos e injustiças 
de atribuir-se a um único homem todas as funções 
estatais. 
Contudo, é apenas no XVII que a doutrina da 
separação de poderes é sistematizada, com John 
Locke, cujas ideias apontavam para a necessidade de 
que as funções do Estado fossem desempenhadas 
por dois órgãos distintos: a) Legislativo, a cargo do 
Parlamento; b) Executivo, titulado pelo rei. 
Apesar dessa evolução, a concepção clássica, 
e mais adotada, de separação de poderes, entre 
Legislativo, Executivo e Judiciário foi elaborada 
apenas posteriormente, por Montesquieu, o qual, na 
obra Do Espírito das Leis, compreendeu que o Estado 
desempenha três espécies de funções 
completamente diversas entre si, ainda que 
confiadas a uma mesma pessoa ou órgão, e defendia 
que cada uma dessas funções deveria ser 
desempenhada por titulares distintos, como forma 
de assegurar as liberdades individuais. 
Perceba que toda essa construção teórica 
ocorreu no âmbito de um movimento intelectual 
que nutria contra o Estado profundas suspeitas, 
reflexos de tempos absolutistas em que a maior 
parte dos indivíduos não detinha ferramentas para 
opor direitos contra a vontade real. Foi, portanto, 
uma tradição que visava a reduzir os poderes 
estatais ao mínimo necessário para manter a ordem 
social. 
Pode parecer estranho, diante das diversas 
atribuições que se acometeram modernamente ao 
Estado, que se quisesse limitar o poder dos 
governantes a ponto de que suas funções ficassem 
resumidas à manutenção da coesão da sociedade, 
mas pense que todos esses autores viveram as 
agruras de sistemas autoritários, muitos de cunho 
absolutista, nos quais as funções públicas, os 
poderes fundamentais do Estado, depositavam-se 
nas mãos geralmente de apenas um homem, o rei, 
cujo poder, assim, não enfrentava resistência 
interna, pondo à mercê dele todos os demais 
indivíduos. 
Construiu-se, então, o sistema de separação 
de poderes, em virtude do qual esses poderes 
limitariam uns aos outros, por meio de umaintrincada rede de freios e contrapesos, baseada na 
dicotomia dos atos estatais, divididos, então, em 
atos gerais e atos especiais. 
Você deve estar se perguntando que atos são 
esses. Calma, é assunto que você já conhece, apenas 
concebido com outras palavras. 
Os atos gerais, a cargo geralmente de um 
parlamento, são aqueles que não têm um 
destinatário específico, regulam a vida em sociedade 
de forma geral, impessoal, consubstanciando 
mandamentos em tese. Ficou mais claro? Isso deve 
ter te lembrado de algo bastante familiar... Pois é, 
atos gerais são leis. 
Sim, você já deve ter se deparado com uma 
lei, regra abstrata emitida pelo Poder Legislativo 
para regular as relações sociais de forma geral, não 
tendo um destinatário específico. Claro, no nosso 
ordenamento, há algumas exceções a essa definição, 
mas vamos nos ater, nesta aula, à essência do ato 
geral, ou seja, uma norma cujos efeitos concretos 
sobre destinatários determinados não é conhecida a 
priori, no momento de sua emissão, características 
pensada a fim de que os titulares da legislatura, ou 
seja, as pessoas que criam as leis, atuem em 
benefício do bem comum, por meio de leis que 
Roney Schaskos
Roney Schaskos
 
sejam sempre elaboradas de boa-fé, sob pena de 
que eles próprios, ou seus interesses, sejam 
eventualmente prejudicados pelas leis ruins que 
criarem. 
De seu turno, o ato especial, ou de efeitos 
concretos, a cargo do Poder Executivo, é balizado 
pelo ato de cunho geral, que lhe retira a 
discricionariedade, impondo que a atuação estatal 
ocorra de forma impessoal, sempre em prestígio do 
bem da coletividade, fim último da lei promulgada. 
Em outras palavras, atos especiais são atos 
administrativos, normalmente proferidos pelo Poder 
Executivo segundo os limites dados pela lei. 
Por fim havendo conflito entre poderes ou 
indivíduos, e papel do Poder Judiciário dirimir a 
disputa, à luz dos atos gerais emitidos pelo Poder 
Legislativo e segundo os efeitos concretos dos atos 
especiais executados pelo Poder Executivo, 
promovendo pacificação social. 
Percebeu como as leis amarram a atuação 
estatal, de todos os poderes? 
Essa é, em linhas gerais, a divisão de poderes 
adotada na maior parte dos países democráticos. 
Embora seja uma teoria há muito criticada e, em 
certos pontos, até superada, como é o caso do 
sistema adotado pelo próprio Brasil, cujo Estado não 
se reduz a apenas essas três espécies de poder, 
como faz exemplo o Ministério Público, por vezes 
denominado de quarto poder, ainda hoje é nela, 
nessa teoria, que reside a fundamental separação de 
poderes responsável pela manutenção das 
liberdades individuais, que nos são tão caras. 
Para resumir, a teoria de separação de 
poderes relega ao Poder Legislativo a prerrogativa 
de elaborar leis, ao Poder Executivo o dever de 
executá-las e ao Poder Judiciário a obrigação de 
dirimir conflitos à luz delas. Por essa disposição, 
todos os poderes submetem-se à lei, à sua execução 
e à sua afirmação, de sorte que cada poder 
contrabalanceia os demais, tudo, naturalmente, à 
luz de uma constituição. 
 
Organizações da atividade administrativa 
 
Como vimos, a atividade típica ao Poder 
Executivo diz com atos especiais, de cunho 
específico, baseados na lei, a qual, por sua vez, e 
como também já dissemos, tem natureza geral. 
Contudo, mesmo esses atos diferenciam-se entre si, 
a depender da carga política de que desfrutem. 
Aqui, é importante que tenhamos em mente que 
a cúpula de todos os poderes detém, em maior ou 
menor grau, natureza política, em virtude da qual 
seus titulares desfrutam de maior liberdade para 
atuar, propondo, por exemplo, a aprovação de 
políticas públicas de longo prazo ou a forma como 
repartir as verbas públicas. 
Claro, essa liberdade não é total, baliza-se pelas 
normas contidas nas constituições e pelos direitos 
fundamentais previstos pelas teorias aceitas e 
integradas às sociedades. Contudo, nesses casos, as 
amarras legislativas são menores. Se você não 
compreendeu, vamos pensar juntos. 
Pensemos em um governador de determinado 
estado brasileiro. Havendo dinheiro em caixa, ele 
pode, por exemplo, decidir que é importante 
conceder aumento aos professores da rede estadual 
de ensino, medida que entende necessária para 
melhorar os índices de alfabetização das crianças 
matriculadas. Contudo, ele também poderia 
entender que o montante desses recursos seria 
melhor gasto se investido na ampliação da rede de 
saneamento básico de determinada comunidade 
carente, não? 
Pois é, são duas políticas que, aparentemente, 
condicionam-se a um fim público, ou seja, visam a 
atender necessidades justas da população. Cabe, 
portanto, aos governos decidir, segundo suas 
convicções pessoais, à margem de qualquer 
obrigação legal prévia, onde investir os respectivos 
recursos. 
Percebeu como a decisão é, até certo ponto, 
discricionária? Nesse contexto, temos aqui decisões 
tomadas pela Administração Pública em seu sentido 
amplo, integrada pelos órgãos de governo de função 
política. 
Pois bem, em contraste, a atividade voltada à 
execução dessas decisões que acabamos de 
mencionar, de cunho político, vincula-se 
estritamente à lei, não havendo margem de 
discricionariedade para os respectivos agentes. Aqui, 
estamos falando do que se tem por atividade 
eminentemente administrativa, desempenhada por 
entidades, órgãos e agentes que, por sua vez, 
Roney Schaskos
 
compõem a Administração Pública em sentido 
estrito, de que estão à margem os órgãos de 
natureza política, ou seja, são integradas apenas por 
quem tenha atribuição cuja natureza diga 
estritamente com a execução das decisões tomadas 
pelas autoridades políticas. 
Para simplificar, vamos a outro exemplo. 
Imaginemos que a decisão do prefeito determine 
que uma escola seja construída em determinado 
bairro da sua cidade. Lembre-se, por ser a decisão 
política, um hospital público poderia ter sido 
escolhido em detrimento da escola, mas a escola, 
enfim, sagrou-se vencedora do embate. Sendo você 
o agente público responsável pela construção, não 
lhe cabe decidir se levantará ou não os muros, por 
achar mais importante que no local se construísse 
uma creche. Não, você deve, segundo suas 
obrigações legais, iniciar e entregar as obras. Você é, 
enfim, o responsável pela execução daquela escolha. 
Percebeu a diferença entre ambos os atos? 
Resumindo, um é de quase livre deliberação, tem 
caráter político, e pertence às cúpulas da 
Administração Pública em sentido amplo; em 
relação ao outro, quase não há discricionariedade, 
tem natureza executória, e põe-se interno à esfera 
da Administração Pública em sentido estrito. 
Mas como essa Administração Pública em 
sentido estrito organiza-se? Ora, muito fácil. 
A primeira divisão de Administração Pública 
nessa acepção se dá entre Administração Pública 
Direta e Indireta. A primeira é composta pelos 
órgãos que integram determinada pessoa política e 
que, no entanto, desempenham atividades de cunho 
administrativo estrito. É o caso, por exemplo, da 
Receita Federal do Brasil, órgão submetido ao 
Ministério da Fazenda, ligado ao Poder Executivo, 
responsável, entre outras, pela cobrança dos 
tributos federais. De seu turno, a Administração 
Pública Indireta é integrada por autarquias, 
fundações públicas, empresas públicas e sociedades 
de economia mista. 
Mas, você pode estar se perguntando, por que 
apenas essas entidades compõem a Administração 
Pública? Eu respondo, a divisão subjetiva da 
Administração Pública é estritamente formal, ou 
seja, é Administração Pública o que a lei diz que é, 
independentemente da função que os respectivos 
órgãos ou entidades desempenhem, tanto que, 
normalmente, empresas públicas e sociedades de 
economia mista não exercem atividade 
administrativa em sentido estrito, mas de cunho 
empresarial, lucrativo, que só indiretamente atende 
às necessidades públicas. 
Ué, então no que a atividade desses entes se 
diferencia da ação das empresas comuns?Bom, 
quando tomadas em conjunto, não há um liame 
material entre elas. Contudo, a doutrina tem uma 
ideia do que seja atividade administrativa, qual seja, 
a atividade que se desenvolve, majoritariamente, 
sob regime de direito público, voltando-se à 
satisfação de interesses coletivos. Pode ser dividida 
em (na tela): 
 
a) Serviços públicos, que consubstanciam, 
diretamente, utilidades prestadas à 
população, tal como água tratada ou 
asfaltamento de ruas; 
b) Fomento, quando se incentiva determinada 
iniciativa privada que seja de interesse 
público. Como exemplo, podemos citar o 
setor de tecnologia, beneficiário de 
incentivos fiscais; 
c) Polícia administrativa, que é todo 
condicionamento ou restrição opostos a 
determinada atividade privada, de que é 
exemplo a restrição de funcionamento de 
casas noturnas abertas após determinado 
horário, em prestígio da paz dos vizinhos; e 
por fim 
d) Intervenção, havida sempre que o Estado 
regula a atividade privada ou vale-se da 
propriedade de particulares para fins 
coletivos, como no caso de desapropriações. 
 
Notaram como todas essas atividades dizem 
diretamente com um interesse da coletividade, em 
benefício do qual, geralmente, um interesse 
particular é relativizado? Pois é, o Estado atua assim, 
a fim de promover, em última instância, o bem 
comum. 
Depois dessa última constatação, chegamos 
ao fim de nosso módulo introdutório. Não se 
preocupe se algum conceito não ficou claro ou 
determinada ideia não foi abordada com a 
profundidade necessária, eles serão tratados 
novamente no transcorrer de nosso curso. Nessas 
 
aulas iniciais, esperamos que você tenha apreendido 
concepções amplas a respeito do que seja Estado, 
Direito Administrativo e Administração Pública.

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