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PROPAGAÇÃO DE FERMENTO Por Diogo Henrique Hendges Este texto tem por objetivo esclarecer algumas questões básicas sobre como se dá a propagação de fermento para produção de cerveja. Ele possui caráter técnico-científico, porém sem aprofundar as questões acerca desse assunto. Quando estamos produzindo nossa cerveja, os microrganismos (leveduras) realizam a fermentação, que é, basicamente, a produção dióxido de carbono (CO2 – gás carbônico) e etanol (C2H5OH – álcool etílico). Porém, quando se deseja apenas a propagação do fermento, há a necessidade que tenhamos um maior número de células e não de etanol e gás carbônico. Nesse processo, as células crescem em número utilizando os nutrientes (neste caso o mosto: açúcares, proteínas, nitrogênio, etc.), e também o oxigênio como um dos principais nutrientes, produzindo, basicamente, gás carbônico e água, processo esse chamado de respiração. Para tanto, é importante que a oxigenação seja efetiva, pois o nutriente oxigênio é fator limitante de crescimento, neste caso. Assim, qualquer processo de propagação deve ser aerado. Isso pode ser feito por meio de agitação contínua até o final do processo, suprimento de oxigênio através de aeradores (ar comprimido), ou a união desses dois métodos (o que é melhor). Os três parágrafos acima falam sobre a produção de células em grandes quantidades. Entretanto, quando se quer poucas células, apenas com a intenção de poder ter o fermento à mão, quando necessário, há outros processos mais simples que podem ser realizados. Pode-se propagar o fermento como citado anteriormente, só que em volumes muito pequenos e armazenar refrigerado, ou propagar as leveduras em tubos de ensaio. Os principais processos serão descritos a seguir. OBS.: é importante esclarecer que os procedimentos descritos a seguir são básicos. 1) Propagação por aumento de volume de inóculo - Prepare uma quantidade de mosto, de no mínimo 50 a 100x maior que a quantidade de fermento descrita no envelope. Ex.: envelope possui 10 gramas – volume mínimo de mosto = 500 a 1000mL; - Transfira para um frasco com tampa, que agüente ser esterilizado em panela de pressão (temperatura aproximada de 121ºC); - Oxigene; - Feche o frasco deixando a tampa levemente frouxa, para que as pressões dentro da panela de pressão se equiparem; - Esterilize em panela de pressão. Após a panela começar a chiar, conte 15 minutos; - Desligue. Deixe a pressão da panela diminuir naturalmente até que você possa retirar o frasco. Retire, feche a tampa firmemente e resfrie até atingir a temperatura de fermentação. Oxigene. A oxigenação se dá de melhor forma em temperaturas mais baixas; - Sob condições assépticas, despeje o conteúdo do envelope de fermento no frasco contendo mosto esterilizado já resfriado a temperatura da fermentação que será realizada; - Deixe o fermento crescer por aproximadamente 24 horas (depende do fermento: pode ser mais ou menos tempo), a temperatura da fermentação que será realizada. Você deve realizar agitações para incorporação de oxigênio durante o crescimento do fermento, ou adaptar um sistema de aeração (dentro do frasco) que seja esterilizável; - Transfira esse mosto fermentado, para um frasco com volume mínimo de mosto esterilizado que equivale a, no mínimo, de 50 a 100x mais que a quantidade do mosto anterior. Você deve realizar agitações para incorporação de oxigênio durante o crescimento do fermento; - Siga esses passos até obter um volume de 10% do volume final que irá fermentar para elaborar sua cerveja. Ex.: se for produzir 100 L de cerveja, 10 L são de fermento e 90 L de mosto. - IMPORTANTE: o tempo desse procedimento pode ser influenciado por vários fatores: - Temperatura; - Tipo de mosto: açúcares, nutrientes, etc.; - Oxigenação, etc. Avalie esse procedimento com uma cerveja mais barata. Se funcionar bem, evolua! - Pode-se utilizar esse processo para produzir pequenos volumes de fermento e armazenar em geladeira. Abaixo segue um esquema do processo descrito acima. 2) Propagação em tubos de ensaio - Prepare um mosto simples, ou o mosto que pretende utilizar; - Com o mosto ainda quente, dissolva uma quantidade de 2% (2g em 100 mL de mosto) e agar-agar (uma espécie de gelatina que solidificará quando for resfriada); - Transfira para um frasco com tampa, que agüente ser esterilizado em panela de pressão (temperatura aproximada de 121ºC); - Oxigene; - Feche o frasco deixando a tampa levemente frouxa, para que as pressões dentro da panela de pressão se equiparem; - Esterilize em panela de pressão. Após a panela começar a chiar, conte 15 minutos; - Desligue. Deixe a pressão da panela diminuir naturalmente até que você possa retirar o frasco. Retire, feche a tampa firmemente e resfrie até atingir a temperatura de aproximadamente 40ºC. A solução não pode solidificar; Figura 1. Propagação de fermento por aumento de volume de inóculo. - Sob condições assépticas, distribua o conteúdo em tubos de ensaio esterilizados; - Feche-os com uma bucha de algodão hidrófobo e gaze já esterilizada (pode fazer uma bolinha com o algodão por dentro da gaze); - Apóie-os de modo que a solução fique inclinada dentro do tubo de ensaio (Figura 2); - Deixe solidificar (resfriar a temperatura ambiente); - Com o auxílio de um fio metálico (esterilizado), transfira algumas células do fermento que você deseja propagar, para o tubo de ensaio com a solução já solidificada, fazendo uma estria a partir da base do tubo para a boca; - Feche o tubo de ensaio com a bucha; - Deixe crescer por aproximadamente 24 horas, a 25ºC; - Vede o tubo com a bucha utilizando filme de PVC; - Armazene refrigerado (4ºC) por até 6 meses; - Vencido o “prazo de validade”, refaça o procedimento utilizando o fermento presente no tudo descrito acima, retirando algumas células e transferindo para um tubo novo. OBS. 1: neste procedimento pode-se combinar o mosto e o fermento que utilizará em produções futuras de cervejas. Pode-se também propagar o fermento no tubo de ensaio, como descrito anteriormente, sob as condições da fermentação que fará para a produção da cerveja, refrigerando posteriormente. OBS. 2: com o tempo e a repetição do processo após os “prazos de validade”, as leveduras podem sofrer mutações genéticas (comum nos microrganismos), podendo adquirir características indesejáveis. - Utilize o fermento propagado aqui para aumento do volume de propagação, descrito no processo 1. Abaixo é apresentado um esquema desse processo. Figura 2. Tubo de ensaio contendo a solução de mosto e agar-agar. Figura 3. Processo de propagação em tubo de ensaio e sua utilização para aumentar o volume para posterior utilização na fermentação.