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CLÍNICA CIRÚRGICA Talita B. Valente ATM 2023A 1 LITÍASE BILIAR ANATOMIA DO SISTEMA BILIAR Aparelho ductal extra-hepático: • Ductos hepáticos direito e esquerdo. • Ducto hepático comum + ducto cístico = ducto biliar comum ou ducto colédoco. o 8 - 11,5 cm de comprimento o 6 - 10 mm de diâmetro Vesícula biliar: • Tem formato de pêra. • Capacidade 30-60 mL. • Dividida em: fundo, corpo, colo e infundíbulo. • Nutrição: artéria cística. • Retorno venoso: veia cística. • Inervação: o Motora - fibras nervo vago + pós- ganglionares gânglio celíaco. o Sensitiva - fibras nervos simpáticos através gânglio raiz posterior T8 T9 lado D. Variações anatômicas: CLÍNICA CIRÚRGICA Talita B. Valente ATM 2023A 2 BILE Composição: • Água - 82% • Ácidos biliares - 12% • Lecitina e outros fosfolipídeos - 4% • Colesterol não esterificado - 0,7% pH = De 5,7-8,6 Volume = 500-1000 mL/dia CIRCULAÇÃO ÊNTERO-HEPÁTICA • Circuito percorrido por biomoléculas que são secretadas pelo fígado como constituintes da bile (sais biliares), reabsorvidas nos intestinos e levadas pela circulação porta de volta ao fígado para serem usadas novamente. • Fígado: Faz a síntese de cerca de 600 mg/dia. • Ocorre transporte ativo no íleo distal com reabsorção, indo para circulação porta. • Perdas fecais: 300-600 mg/dia. • Taxa máxima de síntese: 5g/dia. LITÍASE BILIAR Definição: É a presença de cálculos biliares na vesícula biliar e/ou na via biliar principal intra ou extrahepática. Incidência: • EUA: 20% mulheres, 8% homens (observadas em necrópsias de pessoas maiores de 40 anos) • 16 a 20 milhões de americanos têm cálculo • 1 milhão de novos casos/ano Tipos de cálculos: • Colesterol e mistos - 80% • Pigmento (bilirrubinato de cálcio) - 20% Formação dos cálculos: • Cálculos de colesterol: o Bile supersaturada de colesterol -> Aumento do colesterol e redução de sais biliares. o Estágio físico com precipitação de colesterol em cristais § Agregados de cristais + muco -> lama biliar § Alterações da mobilidade da vesícula -> estase § Cáculos CLÍNICA CIRÚRGICA Talita B. Valente ATM 2023A 3 § Cálculos crescem de 2 a 5 mm/ano - Levam de 5 a 20 anos para levar ao aparecimento de sintomas. FATORES DE RISCO: • Cálculos de colesterol e mistos: Aumento da secreção de colesterol na bile: o Idade o Sexo o Obesidade o Multiparidade o História familiar o Predisposição étnica o Perda de peso abrupta o Anticoncepcional oral Diminuição dos sais biliares: o Doença ileal o Doença de Crohn o Cirrose biliar primária Estase de vesícula: o Vagotomia o Jejum prolongado o Gravidez o Discinesia o Diabetes o Nutrição parenteral total • Cálculo de bilirrubina Cálculo preto: o Cirrose alcoólica o Hemólise o Nutrição Parenteral Total o Infecção biliar crônica Cálculo marrom: o Divertículo de duodeno o Estenose biliar o Parasitos o Cisto de colédoco CLASSIFICAÇÃO DOS CÁLCULOS BILIARES Colesterol Pigmentar negro Pigmentar marron Localização Vesícula Vesícula Ductos biliares 90% Vesícula 10% Número Únicos ou múltiplos Múltiplos Únicos ou múltiplos Tamanho Variável Geralmente < 1cm variável Cor Variável Preto Marron Consistência Dura (cristalóide) Dura (cristalóide) Mole (“barro”) Patogenia Hipersecreção biliar de colesterol Aumento da produção de bilirrubina e redução da motilidade da vesícula Obstrução e infecção biliar Radiodensidade 10-15% radiopaco 70% radiopaco 100% radiotransparente QUADRO CLÍNICO: História natural: • 70-80% nunca vão desenvolver sintomas • Sintomas aparecem nos primeiros 5 anos do aparecimento do cálculo • Cólica biliar em 2/3 dos sintomáticos • Problemas agudos: colecistite, pancreatite, colangite - 1/3 • Quando se iniciam os sintomas, 50% de complicações ocorrem no primeiro ano Queixas principais: • Dor em cólica no hipocôndrio direito ou epigástrio • Intolerância a alimentos gordurosos • Náuseas e/ ou vômitos • Dispepsia e flatulência Exame físico: • Pode não haver expressão no exame físico • Dor à palpação profunda do ponto cístico • Massa palpável • Icterícia, colúria, acolia CLÍNICA CIRÚRGICA Talita B. Valente ATM 2023A 4 Cólica biliar: • Resulta do espasmo do esfíncter de Oddi - irritação da mucosa da vesícula ou impactação de cálculo no ducto cístico ou colédoco • Recorrência de 20 a 50% em 12 meses • Dos pacientes com litíase biliar, 2 a 3 % ao ano têm cólica biliar Exames de imagem: • Ultrassonografia: o Especificidade = 99% o Sensibilidade = 95-98% o Precisão = 96-98% • Colangioressonância magnética: o Sensibilidade 95-98% o Não é o exame de escolha por questões de preço e praticidade. o Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) o Colangiografia por dreno no colédoco • Tomografia computadorizada: o Sensibilidade = 40% o Apenas 10% dos cálculos são radiopacos. • Outros: o USG endoscópica o Colangiotomografia helicoidal o Colecistograma oral o Radiografia simples do abdome - cálculo de bilirrubinato de cálcio COMPLICAÇÕES DA COLELITÍASE • Colecistite aguda • Empiema da vesícula • Gangrena e perfuração • Hidropsia • Fístula e íleo biliar • Câncer de vesícula • Coledocolitíase DA COLEDOCOLITÍASE • Pancreatite aguda • Colangite • Fístula e íleo biliar • Hepatite e cirrose biliar • Câncer do colédoco • Estenose da papila duodenal Colecistite aguda: • Obstrução do cístico por cálculo e isquemia da parede da vesícular. • Ocorre em 15% dos sintomáticos - mais comum em mulheres. • Dos pacientes com litíase biliar, 0,2% ao ano terão colecistite aguda. • Ausência de cálculo em 5 a 9% - mais comum em homens. 50% associado a outras doenças - sepse, cirurgia, falência de múltiplos órgãos. Gangrena e perfuração + freqüente. Fístula e íleo biliar: • 15% das fístulas são do tipo colecistocólicas • Íleo biliar causa 1a 2% das obstruções mecânicas de intestino delgado - mortalidade menor que 10% • Patologias associadas: diabetes: 50%; distúrbios cardiovasculares: 58% • Estudo de 176 fístulas causadas por cálculos biliares: duodeno envolvido em 101, cólon 33, estômago 7, múltiplos locais 11. • Obstrução: de 154 casos, duodeno 6, jejuno 14, íleo proximal 6, íleo médio 31, íleo terminal 88, cólon 3, reto 2. CLÍNICA CIRÚRGICA Talita B. Valente ATM 2023A 5 Estágios avançados de colecistite: • Vesícula em ampulheta: malformação complicada por colelitíase e inflamação ou lesão adquirida. • Vesícula em porcelana: porções calcificadas em contraste com tecido marrom-escuro remanescente. Pode ser palpada como uma massa firme. • Gangrena: paredes edemaciadas e friáveis, mucosa irregularmente ulcerada. • Periarterite nodosa: oclusão das artérias da parede, degeneração fibrinóide, infiltração leucocitária. Síndrome de Mirizzi • Obstrução do ducto hepático comum causada por compressão extrínseca de um cálculo impactado no ducto cístico ou infundíbulo da vesícula biliar. Fístula e íleobiliar CLÍNICA CIRÚRGICA Talita B. Valente ATM 2023A 6 Obstrução biliar extra-hepática: • Obstrução do canal cístico: bile é absorvida, vesícula fica repleta e é distendida por material mucoso = hidrópsia • Icterícia: causada somente se a obstrução estiver entre a confluência dos ductos hepáticos direito e esquerdo e a papila de Vater Coledocolitíase: • Ocorre em 10 a 20% dos pacientes que vão a cirurgia de vias biliares. • Clínica: dor, icterícia, infecção. • Bactérias culturadas no sistema biliar: 90% E. coli. • Complicação mais comum: icterícia obstrutiva, que pode evoluir para a colangite. • Pancreatite é a complicação potencialmente mais grave na coledocolitíase. Colangite: • Infecção bacteriana ascendente da via biliar causada por uma obstrução. • Tríade de Charcot = febre/calafrio + dor abdominal + icterícia. • Pêntade de Reynolds = tríade de Charcot + choque + alteração de consciência Pancreatite aguda biliar: • Passagem de cálculo biliar na ampola de Vater (união do ducto pancreático com o ducto colédoco, localizada na papila maior do duodeno). • Lesão secundária do pâncreas • Aumento temporário da pressão intraductal pancreática • Normalmente autolimitada. • Se cálculo ainda presente -> CPRE (Colangiopancreatografia retrógrada) EXAMES LABORATORIAIS Colelitíase • Exames normais Colecistite aguda • Leucocitose (10-15000 leuc.) com desvio para esquerda. • Aumento de bilirrubina em 45%. • Aumento das aminotrasferases (< 5x) em 25%. Coledocolitíase • Aumento da fosfatase alcalina, gama-GT e bilirrubina. Colangite • Leucocitose, desvio para esquerda, aumento da fosfatase alcalina, gama-GT (mais fidedigno) e bilirrubina. CLÍNICA CIRÚRGICA Talita B. Valente ATM 2023A 7 TRATAMENTO Colelitíase assintomática • 70% dos casos • Definição: o Ausência de dor (‘cólica biliar”) ou complicações relacionadas a litíase (colecistite aguda, colangite, pancreatite). o Sintomas inespecíficos (dispepsia, desconforto, flatulência, intolerância à alimentos gordurosos) não são consideradas manifestações clínicas da litíase. Pode até melhorar com a remoção, mas não tem relação. • Tratamento: o A maioria dos pacientes com litíase biliar assintomática permanece assintomática durante toda a vida. o Conduta expectante para a maioria dos pacientes com litíase biliar assintomática. o Colecistectomia profilática: § Durante outras opções abdominais. § Candidatos a transplantes de órgãos e de medula óssea. § Vesícula calcificada (maior índice de Ca). § Nutrição parenteral total prolongada. § Anemia falciforme. § Estilo de vida e desejo do paciente. § Diabete melito. § Celecistograma oral negativo (O colecistograma oral é um método radiológico que permite estudar a anatomia e a função da vesícula biliar, analisando o conteúdo, capacidade de concentração e contração dela. Após 15 horas da tomada do contraste, quando ele está sendo excretado, deverá ser feita uma radiografia da região biliar que registrará o estado da vesícula e dos ductos biliares). § Tamanho e número de cálculos. § Idade: + jovem + indicado. Colelitíase sintomática: • Tratamento cirúrgico. • Colecistite aguda: o Tratamento clínico: ATB + sintomáticos -> “esfriar o processo” e operar tardiamente. o Tratamento cirúrgico: ATB/profilático + Cirurgia em 72 h. Colecistite alitiásica: • Inflamação da vesícula biliar sem a evidência de cálculos no seu interior. • Mecanismo pouco conhecido. • Fatores de risco: o Idade avançada o Doente crítico o Trauma o Grande queimado o NPT prolongada o DM o Imunossupressão • Diagnóstico difícil • Alta suspeição • Diagnóstico por exames de investigação de febre na UTI • Tratamento: o Cirurgia o Drenagem percutânea COLESCISTECTOMIA ABERTA: • Incisão subcostal direita. • Visualização direta da via biliar. • Cirurgia segura. • Maior tempo de internação e maior índice de complicações em relação a técnica VLP. CLÍNICA CIRÚRGICA Talita B. Valente ATM 2023A 8 COLECISTECTOMIA VIDEOLAPAROSCÓPICA: • Quatro portais. • Cirurgia segura. • Menor tempo de internação. • Índice de complicação menores que a técnica aberta. • Possibilidade de conversão para técnica aberta. • Esteticamente melhor. • Complicações: o Lesão iatrogênica de vias biliares (classificação de Strasberg na imagem ao lado) o Cálculo “perdido” o Dor pós colecistectomia o Cálculo residual o Fístula biliar COLEDOCOLITÍASE: • Tipos de cálculos: o Cálculo secundário - São a maioria e provém da vesícula. o Cálculo primário • Tratamento: o Endoscópico –CPRE o Cirurgia o Radiologia intervencionista
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